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A questão dos paradigmas

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A QUESTÃO DOS PARADIGMAS 
"É tão fácil dizer não a uma ideia nova. Afinal ideias novas causam mudanças, elas destroem o 
status quo, elas criam incertezas, e é sempre muito mais fácil fazer como sempre fizemos. É mais fácil 
talvez; mais perigoso, com certeza. Ideias novas são repelidas em diretorias e linhas de montagem no 
mundo inteiro. Ideias boas são derrubadas por pessoas que supõem que o futuro é uma simples 
continuação do passado, que as ideias que nos trouxeram até onde estamos hoje, são as mesmas ideias 
que irão nos levar até o amanhã. Meu nome é Joel Barker, eu sou um futurista, trabalho com 
corporações e instituições pelo mundo inteiro, ajudando a melhorar suas habilidades de avaliar ideias 
novas e de prever mudanças. Há quase vinte anos venho estudando a mudança e, em particular, tenho 
estudado a resistência à mudança que tanto impede uma grande ideia nova de ser aceita. E nunca foi 
nada diferente. Mesmo se a ideia for um modo melhor de se conduzir uma empresa ou uma descoberta 
científica, as pessoas têm sempre resistido à mudança. 
Em Veneza, no século XVI, este era o problema de Galileu. Ele era defensor da teoria de 
Copérnico de que era o Sol e não a Terra o centro do sistema solar. Para provar esta teoria aos líderes 
da época, ele os levou ao topo da torre de São Marcos, e lá, usando um novo telescópio que 
desenvolvera, ele lhes mostrou as novas descobertas que havia feito no céu noturno de que a Terra 
girava em torno do Sol e não justamente o contrário. Bom, em poucas palavras, esta era uma ideia 
revolucionária, contradizia as observações óbvias. De fato antagonizava tanto as vozes das autoridades 
que Galileu foi ameaçado de tortura para fazê-lo se retratar de sua afirmação. E vocês pensam que é 
difícil vender suas ideias? No final as ideias de Galileu venceram! Mas a grande dúvida aqui é: por que 
a resistência, seja no século XVI ou no século XX. O que será que nos impede de ver, aceitar e 
compreender ideias novas? Pensem em algumas das ideias novas que vimos nas últimas duas décadas, 
de minorias lutando por seus direitos básicos e estes direitos serem garantidos por lei, de computadores 
de grande porte custando milhões de dólares a computadores laptop igualmente poderosos que quase 
todos podem comprar, de uma atitude de que a qualidade era um luxo para poucos, a qualidade sendo 
uma expectativa de todos. Estas mudanças e centenas de similares são mais do que simples melhorias, 
elas são revoluções, elas estão mudando o mundo para sempre. Estão nos fazendo reavaliar os velhos 
modos de se fazer as coisas, estão abrindo as portas a possibilidades que não poderíamos ter visto 
antes, estão nos libertando de limitações. Mesmo assim, cada uma destas ideias encontrou bastante 
resistência em pessoas sensatas. Deixe-me perguntar de novo: o que é que nos impede de aceitar novas 
ideias? Eu sei a resposta a esta pergunta e, quando vocês a souberem, estarão mais abertos a inovações, 
mais capazes de conduzir mudanças, estarão prontos para descobrir o futuro. Percebem, tudo tem a ver 
com os Paradigmas. 
Paradigma é uma palavra meio incomum, não se ouve todo dia. Eu a encontrei há quase vinte 
anos durante meus estudos sobre descoberta científica. Era o termo que Thomas Kuhn usava para 
descrever o conceito em seu livro: A Estrutura das Revoluções Científicas. Se vocês olharem 
paradigma no dicionário, verão que significa padrão ou modelo. Deixem-me propor outra definição: 
Paradigmas são conjuntos de regras e regulamentos que fazem duas coisas: primeiro, estabelecem 
limites. De certo modo é o mesmo que o padrão faz, nos dá os cantos, as fronteiras. Segundo, estas 
regras e regulamentos então vão lhe dizer como ter sucesso resolvendo problemas dentro destes 
limites. Em seu livro, Thomas Kuhn examinava como os cientistas mudavam seus paradigmas em 
física, química ou biologia e o que acontecia quando o faziam. O que ele descobriu pode explicar por 
que tantas vezes deixamos de prever grandes e significativas descobertas. Suas conclusões podem 
ajudar a você e a mim a lidar com a mudança com mais eficácia. Bom e o que ele descobriu? Kuhn 
descobriu que os paradigmas agem como filtros que retêm dados que vêm à mente do cientista. Dados 
que concordem com o paradigma do cientista têm acesso fácil ao reconhecimento. De fato os cientistas 
veem estes dados incrivelmente bem, com muita clareza e compreensão. Isso é bom! Mas Kuhn 
descobriu também o efeito negativo e espantoso. Com alguns dos dados os cientistas tinham uma 
tremenda dificuldade. Por quê? Porque esses dados não combinavam com as expectativas criadas pelos 
seus paradigmas. E, de fato, quanto mais inesperados fossem os dados, mais dificuldades os cientistas 
tinham de percebê-los. Em alguns casos simplesmente ignoravam os dados inesperados e às vezes 
distorciam esses dados até que se ajustassem ao paradigma em lugar de reconhecer que eram exceções 
às regras. E em casos extremos Kuhn descobriu que os cientistas, literalmente, fisiologicamente, eram 
incapazes de perceber os dados inesperados. Para qualquer propósito prático aqueles dados eram 
invisíveis. Colocados em termos genéricos os paradigmas filtram a experiência que chega. Estamos 
vendo o mundo através de nossos paradigmas o tempo todo. Constantemente selecionamos do mundo 
aqueles dados que se ajustam melhor a nossas regras e regulamentos e tentamos ignorar o resto. Como 
resultado, o que pode ser perfeitamente óbvio para uma pessoa com um paradigma, pode ser 
totalmente imperceptível para alguém com o paradigma diferente. Eu chamo este fenômeno de efeito 
paradigma. E eu já vi muitas vezes que o que Kuhn descreve para cientistas se aplica a qualquer um 
que tenha sólidas regras e regulamentos em sua vida. E quem não os tem! Trabalhando com empresas 
em todo o mundo, já vi este efeito paradigma cegar empresários para novas oportunidades, fazer 
vendedores não verem novos mercados, obstruir estratégias eficazes à gerência e isto é capaz de cegar 
todos e qualquer um de nós a soluções criativas para problemas difíceis. Seja no exército ou no 
movimento ecológico, a Associação Médica Brasileira ou a Liga das Mulheres Cristãs, seja o City 
Bank ou a IBM, o jeito que o treinador chuta a bola ou que mamãe limpa a cozinha, lidamos com 
paradigmas todo o tempo. E eu acredito que são nossas regras e regulamentos que nos impedem de 
acertar ao prever o futuro, porque nós tentamos descobrir o futuro procurando por ele com nossos 
velhos paradigmas (...) 
Exemplos concretos de como os paradigmas influenciam no nosso modo de vermos o mundo: 
Exemplo das cartas de baralho (...) e outros (... ) 
Há uma verdade profunda e crucial escondida atrás de todos os exemplos de paradigmas que 
mostrei. Eu a chamo de regra de volta a zero e se não se lembrarem de mais nada, lembrem-se disto: 
quando um paradigma muda, todo o mundo volta a zero. E não importa o tamanho de sua fatia de 
mercado ou como é a sua reputação, ou como você é bom com o velho paradigma. Com o novo, você 
volta para o zero. Seu sucesso passado não garante nada. Bom, podem achar que estou exagerando, 
então deixem-me ilustrar. Que nação dominava o mundo da relojoaria em 1968? É claro, a Suíça! 
Renomada por mais de cem anos de sua experiência em relojoaria. Em 1968 eles detinham 65% do 
mercado mundial e segundo estimativas confiáveis mais de 80% dos lucros. Isso é dominar o mercado! 
Mas 10 anos depois, a fatia de mercado havia mergulhado abaixo de 10% e nos três anos seguintes 
tiveram que demitir 50.000 dos seus 65.000 relojoeiros. Hoje, que nação domina a relojoaria no 
mundo? Japão. Em 1968 eles não tinham virtualmente nenhum mercado. Como puderam os suíços, 
que dominaram a indústria dos relógios durante o século XX inteiro, que eram famosos pela sua 
excelência e inovação de seus produtos ser tão rapidamente derrotados? A resposta é dolorosamente 
simples, eles voltaram a zero com a mudança de paradigma. Muitos estão usando esse novo paradigma 
em seus pulsosagora: o relógio movido a quartzo. Pensem bem: totalmente eletrônico, mil vezes mais 
preciso do que os relógios mecânicos que substituiu, movido a bateria, incrivelmente versátil, ele 
merece ser o novo paradigma de marcação do tempo. Uma ideia tão brilhante! E gostariam de saber 
quem inventou este relógio maravilhoso? Alguns de vocês sabem a resposta, mas os que não sabem 
vão ter uma surpresa! O relógio a quartzo foi inventado pelos próprios suíços, em seus laboratórios de 
pesquisa. Mas quando os pesquisadores apresentaram essa ideia aos fabricantes de relógios suíços em 
1967, ela foi rejeitada. Afinal ele não tinha nenhum mancal, não tinha engrenagens e nem tinha mola 
mestra, nunca poderia ser o futuro dos relógios! Tanta confiança os fabricante tinham nesta conclusão 
que nem patentearam a ideia. Assim, mais tarde, naquele ano os pesquisadores mostraram o relógio ao 
mundo no congresso anual de relojoaria. A Texas Instrumentos da América e a Seiko do Japão foram 
lá, deram uma olhada e o resto é história. Bom e por que os suíços não perceberam esta fantástica 
invenção que sua própria gente havia criado? É a força dos paradigmas de novo. Eles ficaram 
ofuscados com o sucesso do seu velho paradigma e de todos os seus investimentos nele e, quando 
confrontados com mundo totalmente novo e diferente de continuar o seu sucesso futuro adentro, eles o 
rejeitaram, porque ele não se ajustava às regras em que eles já eram tão bons. Mas não se esqueçam de 
que esta história não é só sobre suíços. E uma história sobre qualquer um, qualquer organização, 
qualquer nação que suponha que o que teve sucesso no passado, terá de continuar para ter sucesso no 
futuro. Deixe-me lembrá-los novamente: quando o paradigma muda, todo o mundo volta a zero. Seu 
passado não garante nada no futuro se as regras mudarem. Nem mesmo os melhores relojoeiros do 
mundo podem parar o tempo. De fato, se não tomar cuidado, seu passado glorioso bloqueará sua visão 
do futuro. E é por isso que é preciso desenvolver uma abertura para novas ideias, uma disposição para 
explorar modos diferentes de fazer coisas, porque somente com esse tipo de tolerância você pode 
manter abertas suas portas para o futuro. Eu poderia lhes dar mais e mais exemplos, tenho mais de 350 
nos meus arquivos, o que importa aqui é: paradigmas afetam dramaticamente nosso discernimento e 
nossa tomada de decisões, influenciando nossas percepções. E ficou claro pra mim que, se quisermos 
tomar boas decisões para o futuro, prever o futuro acertadamente, precisamos ser capazes de identificar 
nossos paradigmas atuais e estar prontos para ir além deles. Vejam: o paradigma é uma faca de dois 
gumes, quando você o usa de um jeito ele corta as informações que concordam com ele em detalhes 
muito finos e precisos; mas quando o usa de outro jeito, ele isola você dos dados que contrariam o 
paradigma. Você vê melhor o que se supõe que veja, exatamente como os suíços, e você vê mal ou 
nem percebe os dados que não se encaixam no paradigma. 
Deixem-me compartilhar com vocês algumas observações básicas sobre paradigmas: 
 I. Paradigmas são comuns, nós os temos em quase todos os aspectos da vida, seja 
profissional ou pessoal, espiritual ou social. 
 2. Paradigmas são úteis, vocês podem achar que eu não goste de paradigmas por tudo o 
que eu disse deles, mas não é o caso. De fato eles nos mostram o que é importante e o que 
não é, eles nos ajudam a achar problemas importantes e então continuam para nos dar 
regras sobre como resolver esses problemas. Concentram nossa atenção e isso é bom! 
 3. Às vezes o seu paradigma pode se tornar "o paradigma", o único modo de fazer uma 
coisa e, quando você se depara com uma ideia alternativa, você a rejeita de imediato. Mas 
isso pode levar a uma disfunção e chamo essa disfunção de "paralisia de paradigma". 
Paralisia de paradigma é uma doença fatal de certeza e é fácil de contrair e há muitas 
instituições que já foram destruídas por ela. E é exatamente o que aconteceu com os 
fabricantes de relógios suíços em 1968. Isto me lembra uma frase: Aqueles que dizem que 
não dá para fazer, devem sair do caminho daqueles que estão fazendo. 
 4. As pessoas que criam novos paradigmas costumam ser gente de fora. Elas não fazem 
parte da comunidade do paradigma estabelecido, mas elas podem ser jovens ou idosas, a 
idade parece ser irrelevante, mas fica claro que elas não estão amarradas ao velho 
paradigma, portanto não têm nada a perder se criarem um novo. E isto tem um significado 
especial para você, porque se quiser encontrar os novos paradigmas em desenvolvimento 
na sua área, terá de olhar além do centro para as bordas. Porque quase sempre as novas 
regras são escritas nos limites. Foi onde a Xerox começou, foi onde Apple Computer 
começou, foi onde o movimento feminista começou. Todos eles nos limites. 
 5. Os praticantes do velho paradigma que resolverem mudar para um novo paradigma em 
suas etapas iniciais, e eu os chamo de pioneiros do paradigma, terão de ser muito corajosos, 
porque as provas oferecidas pelo novo paradigma ainda não demonstraram que é isso que 
devem fazer. Agora, deixem-me citar Thomas Kuhn, porque foi ele quem descreveu 
melhor essa situação: "A pessoa que abraça um novo paradigma logo no início, muitas 
vezes precisa fazê-Io desafiando as provas oferecidas pela solução dos problemas. Ele 
precisa, portanto, ter fé que o novo paradigma terá sucesso apesar dos muitos problemas 
que enfrenta, sabendo apenas que o paradigma anterior falhou um pouco. Uma decisão 
deste tipo só pode ser tomada com o velho. Os sinais do verdadeiro pioneiro do paradigma 
são a grande coragem e confiança em suas ideias.” 
 6. Você pode decidir mudar suas regras e regulamentos. Os seres humanos não são 
geneticamente programados em sua forma de ver o mundo. Você pode resolver jogar fora um 
paradigma e adotar um novo paradigma. Você pode decidir ver o mundo diferente. E é por isso que 
sou tão otimista quanto ao futuro. 
Bom, para desafiá-los a mudar seus paradigmas, vou lhes fazer a pergunta da mudança de 
paradigmas. Sempre que estou em uma organização ou empresa sempre faço esta pergunta: O que hoje 
é impossível fazer em sua empresa, mas se pudesse ser feito, mudaria radicalmente o que fazem? 
Pensem bem nisso! A fundo, façam a pergunta, brinquem com ela, mas façam-na regularmente, por 
toda a parte em sua organização, porque as respostas a essa pergunta os levarão aos limites de seu 
paradigma, e quando estiverem lá, vocês terão meios de ver os próximos paradigmas chegando. 
Lembrem-se, o que é impossível hoje pode ser o padrão amanhã. E o seu desafio é fazer com que isso 
aconteça e estar pronto para ser o pioneiro. (...) 
Narrativa do rapaz que dirigindo seu carro cruzou com uma moça que lhe gritou PORCO! e ele 
respondeu VACA e, ao fazer a curva, atropelou um porco. (...) Acredito que os próximos dez anos vão 
estar cheios de gente vinda de curvas cegas e gritando coisa a vocês. E se tiverem flexibilidade de 
paradigmas o que ouvirão serão oportunidades, mas se tiverem paralisia de paradigmas, o que irão 
ouvir se parecerá mais com ameaças. A escolha será toda de vocês.(...)" 
 
(Texto transcrito do vídeo Discovering the future - The business of Paradigms - de Joel A. Barker distribuído no Brasil 
pela Síamar. ) Prof. Waldemar Milanez. 
 
 Como se dá a passagem de um paradigma para outro? 
 Vejamos a resposta de Thomas Kuhn: 
"(...) a transição entre paradigmas em competição não pode ser feita passo a passo, por 
imposição da Lógica e de experiências neutras. Tal como a mudança da forma (Gestalt) visual, a 
transição deve ocorrer subitamente (embora não necessariamente num instante) ou então não ocorre 
jamais. 
Como, então, são os cientistas levados a realizar essa transposição? Parte da resposta é que 
frequentemente não são levados a realizá-la de modo algum. O copernicismo fez poucos adeptos 
durante quase um século, após a morte de Copérnico.A obra de Newton não alcançou aceitação geral, 
especialmente no continente europeu, senão mais de meio século depois do aparecimento dos 
Principia
6
. Priestley nunca aceitou a teoria do oxigênio; Lorde Kelvin, a teoria eletromagnética e assim 
por diante. As dificuldades da conversão foram frequentemente indicadas pelos próprios cientistas. 
Darwin, numa passagem particularmente perspicaz, escreveu: "Embora esteja plenamente convencido 
da verdade das concepções apresentadas neste volume... não espero, de forma alguma, convencer 
naturalistas experimentados cujas mentes estão ocupadas por uma multidão de fatos, concebidos 
através dos anos, desde um ponto de vista diametralmente oposto ao meu... (Mas) encaro com 
confiança o futuro - os naturalistas jovens que estão surgindo, que serão capazes de examinar ambos os 
lados da questão com imparcialidade".
7
 Max Planck, ao passar em revista sua carreira no seu Scientific 
Autobiography, observou tristemente que "uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus 
oponentes e fazendo com que vejam a luz, mas porque seus oponentes finalmente morrem e uma nova 
geração cresce familiarizada com ela".
8
 
 
6
 COHEN, I. H. Franklin and Newton: An Inquiry into Speculative Newtonian Experimental Science and 
Franklin's Work in Electricity as an Example Thereof (Filadélfia, 1956), pp. 93-94 
7
 DARWIN, Charles. On the Origin ofspecies...( ed. autorizada, confonne a 6. ed. inglesa: Nova York, 1889), II, 
pp. 295- 296 
8
 PLANCK, Max. Scientific Autobiography and Other Papers, (Nova York, 1949), pp. 33-34, trad. F. Gaynor. 
 
Esses e outros fatos do mesmo gênero são demasiadamente conhecidos para necessitarem de 
maior ênfase. Mas necessitam de reavaliação. No passado foram seguidamente considerados como 
indicadores de que os cientistas, sendo apenas humanos, nem sempre podem admitir seus erros, 
mesmo quando defrontados com provas rigorosas. Ao invés disso, eu argumentaria que em tais 
assuntos, nem prova, nem erro estão em questão. A transferência de adesão de um paradigma para 
outro é uma experiência de conversão que não pode ser forçada. A resistência de toda uma vida, 
especialmente por parte daqueles cujas carreiras produtivas comprometeram-nos com uma tradição 
mais antiga da ciência normal, não é uma violação dos padrões científicos, mas um índice da própria 
natureza da pesquisa científica. A fonte dessa resistência é a certeza de que o paradigma antigo acabará 
resolvendo todos os seus problemas , e que a natureza pode ser enquadrada na estrutura proporcionada 
pelo modelo paradigmático. Inevitavelmente, em períodos de revolução, tal certeza parece ser 
obstinação e teimosia e em alguns casos chega realmente a sê-lo. Mas é também algo mais. 
É essa mesma certeza que torna possível a ciência normal ou solucionadora de quebra-cabeças. E 
somente através da ciência normal que a comunidade profissional de cientistas obtém sucesso; 
primeiro, explorando o alcance potencial e a precisão do velho paradigma e então isolando a 
dificuldade cujo estudo permite a emergência de um novo paradigma. 
‘Contudo, afirmar que a resistência é inevitável e legítima e que a mudança de paradigma não 
pode ser justificada através de provas não é afirmar que não existem argumentos relevantes ou que os 
cientistas não podem ser persuadidos a mudar de ideia. Embora algumas vezes seja necessário uma 
geração para que a mudança se realize, as comunidades científicas seguidamente têm sido convertidas 
a novos paradigmas. Além disso, essas conversões não ocorrem apesar de os cientistas serem 
humanos, mas exatamente por que eles o são. Embora alguns cientistas, especialmente os mais velhos 
e mais experientes, possam resistir indefinidamente, a maioria pode ser atingida de uma maneira ou 
outra. Ocorrerão algumas conversões de cada vez, até que, morrendo os últimos opositores, todos os 
membros da profissão passarão a orientar-se por um único - mas já agora diferente - paradigma. (...) " 
KUHN , Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. S3 ed. São Paulo, Ed. Perspectiva, 
1997. pp. 191-192.

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