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Linguística Descritiva e Textual

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APRESENTAÇÃO 
 
Vício na fala 
 
Para dizerem milho dizem mio 
Para melhor dizem mio 
Para pior pio 
Para telha dizem teia 
Para telhado dizem teiado 
E vão fazendo telhados 
(Oswald de Andrade) 
 
 
Antes de mais nada, gostaria que atentasse para o poema acima, pois nele se configura 
uma das temáticas de que tratamos na disciplina Linguística Descritiva e Textual, a 
fonética e a fonologia 
 
Esse conteúdo é abordado em diversos momentos do curso de Letras, pois o estudo e 
a compreensão da linguística são fundamentais para a formação do professor, portanto, 
não estranhe a constante retomada de conceitos e conteúdos nos primeiros momentos 
dessa disciplina e outras disciplinas que abortem a linguística ☺ 
 
O poeta Oswald de Andrade retratou, nos versos, peculiaridades de nossa fala, ou seja, 
características que nós, falantes do português, temos, ao pronunciarmos determinadas 
palavras. Tomemos, por exemplo, o verso: Para pior pio. Quem nunca falou ou ouviu 
alguém dizer canta para cantar; ama para amar; bebe para beber? Tenho certeza de 
que a resposta será afirmativa, pois a perda do erre final das palavras é um fenômeno 
comum entre os falantes da Língua Portuguesa. 
 
Ainda sobre o poema, atente para os versos: Para dizerem milho dizem mio/ Para telha 
dizem teia/ Para telhado dizem teiado. Como se observa, em lugar de lh, alguns falantes, 
mas não todos, pronunciam um som i. Deixando de lado as especificidades da fala 
retratadas no poema, há que se destacar que, mesmo como vício na fala, como nas 
palavras do poeta, o povo vai fazendo telhados, entendido como a construção de uma 
nação. 
 
Poemas à parte, vamos ao que nos interessa: Fonética e Fonologia, foco da primeira 
parte de nossos encontros. 
 
Os estudos da Linguística Textual apresentam-se como possibilidades de entendimento 
do texto e de ensino de Língua Portuguesa. O objeto de estudo da Linguística Textual é 
o texto, entendido como unidade linguística com propriedades estruturais específicas e 
não como sequência de frases isoladas. A Linguística Textual, para o estudo do texto, 
aborda dois elementos básicos: a coerência e a coesão. 
 
A Coerência diz respeito ao sentido do texto. É profunda e seu estabelecimento depende 
de vários fatores. É considerando os fatores de coerência que um enunciado como: “Era 
inverno. Fazia um calor terrível” é perfeitamente coerente, principalmente, se 
considerarmos o contexto e a situação em que foi dita. Em um país como o Brasil, cujas 
estações do ano não são bem definidas, em cujo inverno observamos veranicos com 
temperaturas de 30 graus, há que se classificar tal enunciado como coerente, embora 
possa não sê-lo na Europa, por exemplo, onde inverno é inverno e verão é verão. 
 
A coesão, obtida por meio de elementos da gramática e do léxico, diferentemente, se 
dá na superfície textual e seus estudos enfocam como as frases se organizam na 
expressão de proposições. 
 
 
 
Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Massoni Xavier da Silva 
PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
EMENTA: Objeto da Fonética e da Fonologia. Fonética articulatória. Fonologia. Fonema 
e traços distintivos. Fonemas e variantes. Arquifonema. Estrutura da sílaba em português. 
Variação fonológica e mudança. Fases da Linguística Textual. Dos conceitos de coerência 
e de coesão. Coerência textual: fatores. Coerência e texto conversacional. Coesão. Tipos 
de coesão: referencial e sequencial. 
 
OBJETIVOS: Estudar conceitos fundamentais de Fonética e Fonologia e sua importância 
na prática profissional; Analisar mecanismos responsáveis pela produção e diferenciação 
dos sons da fala (fonação e articulação); Estudar os principais fenômenos de variação 
fonética. Explicitar os conceitos de coerência e coesão; Estudar os fatores de coerência; 
Propiciar conhecimentos sobre coesão textual. 
 
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS: Fonética, fonologia e fonema; Anatomia e fisiologia do 
aparelho fonador; Transcrição fonética e transcrição fonológica; Classificação das vogais; 
Grupos vocálicos e consonânticos; Estrutura silábica e tonicidade.; Traços distintivos das 
vogais; Traços distintivos das consoantes; Situando a Linguística Textual; conceitos de 
coerência e de coesão; Fatores de Coerência; Coerência e Texto Conversacional; Coesão 
Referencial; Coesão Sequencial; Sequenciação Frástica; O Encadeamento Textual: 
Justaposição e Conexão 
 
METODOLOGIA: Adotamos para a disciplina Linguística Descritiva e Textual uma 
metodologia que alia a teoria à prática, propiciada por meio de atividades que permitam, 
a partir de exemplos, a reflexão sobre os pressupostos básicos dos conteúdos 
abordados. 
 
AVALIAÇÃO: No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, 
entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação 
presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-
determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as 
atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de 
estabelecimento de prazos. 
 
A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes 
instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 
1) Trabalhos avaliativos realizados diretamente no AVA; 
2) Provas semestrais realizadas presencialmente; 
 
As estratégias de recuperação incluirão: 
1) Retomada eventual dos conteúdos abordados nas unidades, quando não 
satisfatoriamente dominados pelo aluno; 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
CALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
1993. 
CÂMARA JR. J. Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Vozes: 1970. 
FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 2000 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
BASTOS, L. K.; MATTOS, M. A. A produção escrita e a gramática. 2. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1992. 
BORBA, F. da Silva. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Nacional, 1984. 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Elementos de Fonética do Português Brasileiro. 1a. Ed. São Paulo: 
Paulistana, 2007. 
CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs. Fonética e Fonologia do Português: Roteiro de Estudos e 
Guia de Exercícios. 9a. Ed. São Paulo: Contexto, 2007. 
DUBOIS, J. et al. (Org.). Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1999. 
FARIA, E. Fonética histórica do latim. 2. ed. Rio de Janeiro, Acadêmica, 1970. 
FIORIN, J. L. (Org.). Introdução à linguística: I: objetos teóricos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 
2005. 
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: 
Contexto, 1997. 
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 17. ed. São Paulo: Contexto, 2002. 
MORI, A. C. Fonologia. IN: MUSSALIN, F. & BENTES, A. C. Introdução à Linguística: 
Domínios e Fronteiras. São Paulo Cortez, 2001. 
MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Org.) Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2001. vol. 
1: domínios e fronteiras. 
SOUZA, P. C.& SANTOS, R. S. Fonologia. IN: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à Linguística 
II. Princípios de Análise. São Paulo: Contexto, 2003. 
____ Fonética. IN: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à Linguística II. Princípios de Análise. São 
Paulo: Contexto, 2003. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
UNIDADE 01 - DOS CONCEITOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA ............................................................ 7 
UNIDADE 02 – AS ABORDAGENS FONÉTICAS ..............................................................................................11 
UNIDADE 03 - CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS ..........................................................................................14 
UNIDADE 04- O PONTO DE ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES ...............................................................18 
UNIDADE 05 - AS CAVIDADES BUCO-NASAL E AS CORDAS VOCAIS. .......................................................21 
UNIDADE 06 - AS VOGAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA ................................................................................24UNIDADE 07 - VOGAIS E SEMIVOGAIS OU SEMICONSOANTES? ...............................................................28 
UNIDADE 08 – FONOLOGIA ...........................................................................................................................31 
UNIDADE 09 - FONEMAS E VARIANTES ........................................................................................................37 
UNIDADE 10 - DISTRIBUIÇÃO COMPLEMENTAR, NEUTRALIZAÇÃO E ARQUIFONEMA ...........................40 
UNIDADE 11- PROCESSOS FONOLÓGICOS .................................................................................................42 
UNIDADE 12 - SITUANDO A LINGUÍSTICA TEXTUAL ....................................................................................44 
UNIDADE 13 - DISCUTINDO OS CONCEITOS DE COERÊNCIA E DE COESÃO ...........................................49 
UNIDADE 14 - FATORES DE COERÊNCIA: ELEMENTOS LINGUÍSTICOS, CONHECIMENTO DE MUNDO, 
CONHECIMENTO PARTILHADO, INFERÊNCIAS ..................................................................... 57 
UNIDADE 15 - FATORES DE COERÊNCIA: CONTEXTUALIZAÇÃO, SITUACIONALIDADE, 
INFORMATIVIDADE E FOCALIZAÇÃO .................................................................................... 64 
UNIDADE 16 - FATORES DE COERÊNCIA: INTERTEXTUALIDADE, INTENCIONALIDADE E CONSISTÊNCIA E 
RELEVÂNCIA ............................................................................................................................. 71 
UNIDADE 17- COERÊNCIA E TEXTO CONVERSACIONAL ............................................................................79 
UNIDADE 18 - COESÃO: DISCUTINDO CONCEITOS ....................................................................................87 
UNIDADE 19 - COESÃO REFERENCIAL ..........................................................................................................93 
UNIDADE 20 - COESÃO SEQUENCIAL ........................................................................................................ 101 
UNIDADE 21- SEQUENCIAÇÃO FRÁSTICA ................................................................................................. 105 
UNIDADE 22- O ENCADEAMENTO TEXTUAL: JUSTAPOSIÇÃO ................................................................ 110 
UNIDADE 23 - ENCADEAMENTO: CONEXÃO ............................................................................................ 113 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
UNIDADE 01 - DOS CONCEITOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Introduzir o aluno nos conceitos básicos de Fonética e Fonologia; Explicitar o 
objeto de estudo da Fonética e da Fonologia. 
 
Fonética e Fonologia são ramos da Linguística, cujo objetivo maior é o estudo dos sons 
da fala. Bom, você poderia me questionar: se esses dois ramos possuem um único objeto, 
em que consiste a diferença entre eles? Boa pergunta. Embora possuam o mesmo 
objeto, fonética e fonologia diferem, pois cada uma toma o som da fala, sob uma 
perspectiva diferente. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
A Fonética tem como função descrever as possibilidades de articulação dos sons. Assim, 
cabe à Fonética o estudo dos sons, enquanto entidades físico-articulatórias. 
Diferentemente, à fonologia cabe o estudo do ponto de vista funcional. 
 
Em outras palavras, a Fonética descreve os sons da linguagem humana e os analisa, a 
partir de suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas. 
 
A Fonologia estuda os sons do ponto de vista de suas diferenças intencionais, distintivas 
a que se vinculam diferenças de significação. Nada como um bom exemplo para 
explicitarmos o afirmado. Partimos de palavras como pata e bata. Do ponto de vista 
fonético, para a produção do som / p /, o ar que vem dos pulmões sofre uma oclusão, 
isto é, um fechamento súbito e momentâneo, para, em seguida, ser pronunciado. Para 
isso, há a necessidade de juntarmos os dois lábios. Procedimento análogo ocorre para a 
emissão do som / b /. 
8 
 
Esses dois sons, entretanto, possuem uma diferença: um é surdo: não ocorre vibração 
das cordas vocais, que se encontram abertas; o outro é sonoro, ocorre vibração das 
cordas vocais. É, portanto, surdez e sonoridade o traço que distingue esses dois sons. 
Vale dizer, ainda, que a troca de um som por outro produz significados (palavras) 
diferentes, já que enfocados do ponto de vista fonológico. 
 
Em essência, a Fonologia, a partir da descrição fonética dos sons, procura interpretá-los 
e explicar, por exemplo, por que os falantes da Língua Portuguesa reconhecem como 
um mesmo fonema as realizações [ d ] e [ dƷ ] “djê”, possíveis nas palavras dá e dia, 
respectivamente, não obstante sejam articulados de maneira fonética completamente 
diferentes. 
 
De acordo com o abordado acima, pode-se afirmar que a Fonética é descritiva, 
enquanto a Fonologia é explicativa, interpretativa. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Tradicionalmente, distinguem-se dois ramos da Fonética: a Fonética Articulatória, cujo 
enfoque é o estudo dos movimentos dos órgãos articuladores por ocasião da produção 
da mensagem e a Fonética Acústica, que estuda a transmissão da mensagem pelas 
vibrações do ar e o modo como ela chega ao ouvido do receptor. De maneira mais 
simples, a fonética articulatória, preocupa-se com a produção dos sons pelo aparelho 
fonador, enquanto a acústica refere-se ao resultado dessa produção em relação à 
percepção do ouvinte. 
 
Claro que, para um estudo de fonética acústica, há a necessidade de aparelhos 
especializados. 
 
9 
 
A fonologia, diferentemente, tem como meta o estudo dos sons, considerando-se sua 
função no sistema de comunicação linguística. Vamos entender isso? É simples, a meta 
da fonologia é explicar os elementos que distinguem, em uma mesma língua, duas 
mensagens com sentidos diferentes. Assim, por exemplo, tomando-se as palavras “bala” 
e “mala”, a fonologia dedica-se ao estudo dos elementos / b / e / m / responsáveis pela 
produção de palavras diferentes na língua portuguesa. Faz parte de seu estudo também, 
verificar a diferença em relação à posição do acento, como ocorre nas palavras “sábia, 
sabia, sabiá”, o que abordaremos em unidades posteriores. 
 
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO 
Para saber mais, sugerimos que ouça o poema ‘No meio do 
Caminho’, declamado por Drummond. Reflita sobre as 
pedras com que a sociedade se depara na atualidade. 
Agora pense nas pedras do seu caminho. 
a) Agora, deixe as pedras do caminho de lado e destaque do poema palavras em que não 
ocorra correspondência entre fala e escrita. 
b) Retire uma palavra em que o som [ t ] é produzido diferentemente do observado em tatu. 
 
Após ouvirmos Drummond, na voz do próprio Drummond, 
ouçamos Cecília Meireles declamando a poesia Retrato. Para isso, 
clique ao lado. 
 
Você já deve ter percebido meu gosto pela poesia. No texto Retrato, é possível opormos 
dois tempos: o passado e o presente. Como Cecília trabalha essa oposição? É simples 
ao negar o passado: Eu não tinha (...), ela afirma o presente, ou seja, se no passado ela 
não tinha o rosto triste, magro, implica que o tem no presente. Em essência, o que se 
depreende no poema é a constatação do passar do tempo, afetando a imagem física e 
psicológica (Nem estes olhos tão vazios/ nem o lábio amargo/ Coração que nem se 
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm
http://www.yotube.com/watch?v=dPJUCdhTSNQ.
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm
http://www.yotube.com/watch?v=dPJUCdhTSNQ.
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm
http://www.yotube.com/watch?v=dPJUCdhTSNQ.
http://www.yotube.com/watch?v=dPJUCdhTSNQ.
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm
http://www.yotube.com/watch?v=dPJUCdhTSNQ.
http://www.yotube.com/watch?v=dPJUCdhTSNQ.10 
 
mostra/ lábios ama) do ser humano. Daí o questionamento observado: Em que espelho 
ficou perdida a minha face? 
a) Ouça novamente o poema e responda como se dá a produção do som 
 / l / da palavra fácil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gabarito 
1- 
a) Que, cuja pronúncia é “qui”; 
b) Na palavra tinha, o / t / é pronunciado “tch” 
 
2 O som / l / é pronunciado “ u” 
11 
 
UNIDADE 02 – AS ABORDAGENS FONÉTICAS 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Detalhar os pressupostos da Fonética Articulatória. 
 
Falar é tão natural quanto qualquer outro sentido: olfato, tato, visão e paladar. No 
entanto, só nos atemos à explicação e exame de seu funcionamento em caso de 
privação. O que possibilita esse ato tão comum é o que veremos nesta unidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Os estudos fonéticos podem ser realizados, adotando-se três pontos de vista: 
a) A partir da forma como os sons são produzidos. Nessa perspectiva, abordam-se os 
movimentos do aparelho fonador humano, os órgãos desse aparelho que concorrem 
para a produção de sons. Trata-se da Fonética Articulatória, objeto de estudos 
posteriores; 
b) Do ponto de vista dos efeitos físicos que os sons provocam no ouvido do destinatário 
dos signos: Fonética Auditiva; 
c) Do ponto de vista das propriedades físicas das ondas sonoras que se propagam no 
ar. Trata-se da Fonética Acústica. 
 
Em decorrência de as outras abordagens fonéticas necessitarem de aparelhos 
especializados, nosso foco será a fonética articulatória. 
 
Vale dizer que a linguagem humana é distinta dos outros sistemas simbólicos por ser 
segmentável em unidades menores, com número finito, mas que possibilitam a formação 
de inúmeras mensagens, pelo fato de combinarem-se, recombinarem-se para expressar 
ideias diferentes. Assim, observando-se a palavra “Roma”, por exemplo, a troca de seus 
segmentos fônicos permite-nos formar a palavra “amor”, o mesmo ocorre com as 
12 
 
palavras “alma”, cuja troca dos elementos forma a palavra “lama”. Entendeu o que é 
combinação e recombinação a que nos referimos. 
 
Embora o ser humano seja capaz de produzir inúmeras variedades de sons, nem todos 
são empregados para fins linguísticos de compor palavras. Como exemplo, citamos o 
“arroto” que, em algumas culturas, significa plenitude após as refeições e, na nossa 
expressa, falta de educação, de etiqueta. 
 
Fonética Articulatória tem dois sentidos: um mais amplo, que descreve qualquer som 
produzido pelo aparelho fonador humano; outro mais restrito que esmiúça os 
mecanismos existentes nas línguas humanas e que concorrem para a enunciação 
(produção de enunciados). 
 
Os sons são produzidos por um mecanismo fisiológico específico, convencionalmente, 
chamado de aparelho fonador 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Aparelho Fonador Humano 
O aparelho fonador humano é formado por 
três conjuntos de órgãos. Para conhecê-lo, 
observe a imagem ao lado. 
 
O primeiro conjunto é o respiratório, formado 
pelos pulmões, cuja função é fornecer a 
corrente de ar para a produção do som. 
 
O Conjunto Energético é formado pela laringe onde estão situadas a glote e as cordas 
vocais. 
13 
 
Finalmente, há o conjunto ressonador, formado pela faringe, órgãos bucais (língua, 
dentes, palato, véu palatino, lábios e úvula) e fossas nasais. 
 
Você sabe o que é um som? Som é uma coluna de ar em movimento, que se inicia nos 
pulmões, na fase expiratória do processo de respiração, percorre todo o aparelho 
fonador. 
 
Na laringe, saliência que existe no pescoço e que no homem é mais realçada (pomo de 
Adão), encontram-se as cordas vocais, que têm a forma de dois lábios e tecido elástico. 
Elas são responsáveis pela produção dos sons surdos (o ar passa livremente, pois elas 
estão abertas) e sonoros (as cordas estão fechadas, o ar força a passagem, fazendo-as 
vibrar). 
 
A Boca e as Fossas Nasais são responsáveis pela produção de sons orais e nasais. Para 
saber a diferença entre um som oral e nasal, pronuncie as palavras cato (do verbo catar: 
pegar) e canto (do verbo cantar). Em canto, há o som nasal / ã /, pois o ar escoa parte 
pela boca e parte pelo nariz. Já em cato, o som / a / é oral, pois escoa apenas pela boca. 
 
Sabe o que impede a passagem de ar pelo nariz? É a úvula ou comumente chamada de 
campainha. É ela que fecha a passagem do ar (som oral) e da comida pelo nariz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
UNIDADE 03 - CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar os critérios de articulação dos fonemas 
 
Antes de mais nada, há fonemas consonantais e fonemas vocálicos. Vogais e consoantes 
diferem entre si, pois as vogais são fonemas mais livres, uma vez que o ar vindo dos 
pulmões não é obstruído em nenhum ponto da boca. 
 
Diferentemente, para a produção de consoantes, a corrente de ar sofre algum tipo de 
bloqueio na boca. Para perceber bem isso, diga o som / a /. Disse? Você deve ter 
percebido que a boca ficou meio aberta e não houve contato de órgão algum dentro 
da boca, ou seja, o ar escoou livremente. Agora diga o som / p /. Percebeu o que 
ocorreu? Para pronunciá-lo, tivemos que juntar os dois lábios, o que significa dizer que 
houve bloqueio. Além dessa distinção, as vogais são o centro da sílaba em português. 
Isso significa que não existe sílaba sem vogal. 
 
Para a classificação das consoantes, há quatro critérios: Modo de Articulação, Ponto de 
Articulação, Papel das Cavidades Bucal e Nasal e Papel das Cordas Vocais, porém, nesta 
unidade abordaremos apenas o modo de articulação. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Modo de Articulação das Consoantes 
 
A corrente de ar que provém dos pulmões, chegando à boca, poderá ser comprimida 
de vários modos, resultando uma obstrução total ou parcial. Vamos entender o que é 
isso. Pronuncie o som / p /. O que aconteceu? O ar proveniente dos pulmões foi 
totalmente interrompido, justamente porque você juntou os dois lábios. Agora, diga o 
som / f / (não é efe, é f). Disse? O que você percebeu? Provavelmente, você percebeu 
15 
 
que a corrente de ar foi um pouquinho interrompida, pois você uniu os dentes superiores 
aos lábios inferiores. Do mesmo modo, a pronúncia da consoante / l / resulta de uma 
interrupção parcial do ar. Essa interrupção ocorre, quando você coloca a língua nos 
alvéolos (as nervurinhas que se encontram pertos dos dentes do lado interno). 
 
Vejamos agora, os diferentes modos de articulação das consoantes em português. 
1- Fonemas Oclusivos- resultam de uma interrupção total e momentânea (se não o 
for, o som não sai) da corrente de ar em alguma parte da boca. São Oclusivas: 
 
a) / P / /T/ /K/ ( o / k / é dito quê e não c (letra) 
b) / B / /D / / G / 
 
Observação: Sabe como guardar as consoantes oclusivas? Basta lembrar as palavras: 
PeTeCa e BoDeGa. 
 
2- Fonemas Constritivos- são resultantes do efeito de atrito a que a corrente de ar 
se submete, cujo trajeto é parcialmente desviado e, por isso, se desvia pelo canal 
formado pela língua. Vejam bem, é a língua que exerce a função de desviar parcialmente 
o som. Os fonemas resultantes desse modo de articulação são denominados, também, 
de chiantes, porque o som realmente é um chiado, tal qual na palavra chuva, ou de 
sibilantes, porque produzem um som semelhante ao barulho da cigarra (SSSSSSSSSS). 
São constritivos os fonemas: 
 
a) / F / / S / / ʃ / 
 
b) / V / / Z / / Ʒ / 
 
16 
 
Vocês devem estar se perguntando que sons são esses em azul. É simples o / ʃ /equivale 
às letras x (xadrez) e ch (chuva), enquanto o / Ʒ / se refere às letras g (gente) e j (jeito). 
 
Observação: o / f / e o / v / são consoantes de sopro; o / s / e o / z / são sibilantes, já o 
/ ʃ / e o / Ʒ / são as chiantes. 
 
Sabem como memorizar os fonemas constritivos? Basta reter as palavras: FeCHa-Se e 
VaZaGem. 
 
Quando abordamos os sons / ʃ / e / Ʒ /, que podem, respectivamente,ser representados 
pelas letras x e ch; g e j, dá para se ter uma ideia do quanto sofre nosso aluno: um 
mesmo som, representado por letras diferentes. Então, percebemos que a letra 
(ortografia) é diferente do fonema (som). 
 
3- Fonemas Laterais- São resultantes da obstrução da corrente de ar, no centro da boca. 
Uma vez, bloqueado, no centro, o ar escoa pelas laterais. São laterais os fonemas 
a) / L / (não é ele –letra, é Lê mesmo) e / ʎ / . 
 
Vocês devem estar dizendo: “Meu Deus! O que é esse Y de ponta cabeça? Nada mais, 
nada menos do que a letra lh de velho, telha. 
 
4- Vibrantes- São resultantes de brevíssimos e repetidos bloqueamentos parciais da 
corrente de ar, provocados por movimentos vibratórios da língua, ao encostar nos 
dentes. Em português há dois tipos de vibrantes: 
 
a) Vibrante simples / r /, presente na palavra caro (também denominado tepe, ou 
seja, caracteriza-se por uma batida rápida da ponta da língua nos alvéolos) 
b) Vibrante múltipla / R /, presente na palavra carro. 
17 
 
5- Nasais- Resultam da passagem de parte do ar pela boca e parte pelas fossas nasais. 
São nasais os fonemas: 
 
a) / m / (não é eme-letra, é me mesmo) / n / (não é ene- letra; é ne) e / Ƞ /. Loucura! 
o que é / Ƞ / ? Não se espantem, é a letra nh. 
 
Observações: Massini e Cagliari (2001) introduzem os sons africados, conceituando-os 
como sons que apresentam bloqueio completo da corrente de ar na boca, em seu início 
e obstrução que produz o barulho semelhante a uma fricção, no final de sua articulação, 
como ocorre com os sons / tʃ / e / dƷ / presentes nas palavras tia, dia, pote, pode. 
 
Os autores classificam ainda como sons retroflexos aqueles produzidos por uma 
obstrução da corrente de ar produzido pelo encurvamento da ponta da língua para cima 
e para trás. Trata-se do nosso erre caipira / r /. 
 
Resumo: As consoantes podem ser oclusivas, constritivas, laterais, vibrantes e nasais, 
quanto ao modo como são articuladas, isto é, quanto ao que acontece, na boca, com a 
corrente de ar vinda dos pulmões: ou ele é totalmente bloqueado, ou parcialmente 
bloqueado. 
 
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO 
Para aprender mais acesse o site www.youtube.com/watch?v=FH-LxGklco, ouça a música 
Chuva, Suor e Cerveja e faça o que se pede. 
a) A repetição de um determinado som produz um som que imita um fenômeno 
da natureza. Que som é esse? Qual é o fenômeno? 
 
 
 
Resposta: È o som ch que reproduz o barulho da chuva. 
18 
 
UNIDADE 04- O PONTO DE ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Descrever e explicar o ponto de articulação dos fonemas consonantais. 
 
O ponto de articulação diz respeito ao local exato, na cavidade bucal, em que se produz 
o contato dos articuladores. Vamos estudá-los e aprender onde são pronunciadas, na 
boca, as consoantes de nossa língua. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Os articuladores são os órgãos que obstruem, total ou parcialmente, a corrente de ar 
oriunda dos pulmões. 
 
Esses órgãos são de dois tipos: articuladores ativos, pois se movimentam e são 
constituídos pelos lábios, língua, véu palatino, úvula (campainha) e articuladores passivos, 
não se movimentam, cujos integrantes são dentes, palato (céu da boca) e alvéolos. Para 
a localização desses órgãos, examine a imagem abaixo, 
 
 
19 
 
Denomina-se ponto de articulação as diferentes áreas em que dois articuladores entram 
em contato. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
De acordo com o ponto exato, na boca, em que as consoantes são pronunciadas, há a 
seguinte classificação: 
a) Bilabiais- Resultantes da junção dos dois lábios. São elas: 
/ P / / B / / M / 
b) Labiodentais- Contato firme do lábio inferior com os dentes incisivos superiores. Nesse 
caso, as consoantes são: 
/ F / / V / 
c) Linguodentais- Caracterizam-se pelo contato do ápice (ponta) da língua com os 
dentes superiores, tais como as consoantes: 
/ T / /D / / N / 
d) Linguoalveolares- Contato do ápice da língua nos alvéolos superiores. Nesse ponto 
de articulação, observamos as consoantes: 
/ L / / r / (de caro) / S / / Z / 
e) Linguopalatais- Contato do dorso (meio) da língua com o palato (céu da boca). As 
consoantes produzidas nesse ponto são: 
/ ʎ / (lh) / Ƞ / (nh) / ʃ / (X, CH) / Ʒ / (G e J) 
f) Velares- Contato entre a parte mais próxima da raiz da língua com o véu palatino 
(parte mole do céu da boca, fica bem lá no fundo). Nesse ponto de articulação, 
observamos as consoantes: 
/ K / / G / / R / (de carro) 
 
 
 
 
20 
 
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO 
Escreva sobre o travessão o nome da consoante que corresponde ao ponto de 
articulação descrito 
a) Lábio inferior aproximando-se dos dentes superiores_________ 
b) Lábio contra lábio________________________________. 
c) Raiz da língua contra véu palatino____________________. 
d) Dorso da língua contra o céu da boca__________________. 
e) Língua aproximando-se dos alvéolos ou neles tocando__________. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gabarito 
a- Labiodentais 
b- Bilabiais 
c- Velares 
d- Linguopalatal 
e- Linguoalveolares 
21 
 
UNIDADE 05 - AS CAVIDADES BUCO-NASAL E AS CORDAS VOCAIS. 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar o modo de produção de sons orais e nasais e das consoantes surdas 
e sonoras; verificar como se produzem sons surdos e sonoros e sons orais e nasais. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Cavidade Bucal e Cavidade Nasal 
Essas cavidades têm grande importância quando falamos e precisamos produzir certos 
fonemas. 
 
Ao expirar o ar, ele cria uma corrente vinda dos pulmões que encontra o véu palatino 
abaixado e a passagem nasofaríngea aberta, isso acarreta em um desvio de parte desse 
ar que acaba saindo pela boca e pelas fossas nasais ao mesmo tempo, criando sons 
nasais. São fonemas nasais em português: 
/ m / / n / / Ƞ / (nh) 
 
Já os sons orais encontram a passagem naso-faríngea fechada pela elevação do véu 
palatino depois de passar pela glote, assim, escoam pela cavidade bucal sem ‘dividir’ a 
corrente de ar. Exceto os fonemas nasais citados anteriormente, as demais consoantes 
são orais. 
 
Callou e Leite (1993) apresentam distinções entre os sons nasais e os sons nasalizados, 
pois, nos sons nasais, além do abaixamento de véu palatino, há também uma obstrução 
na cavidade bucal, como podemos verifica na pronúncia das consoantes: / m /, / n /, / 
Ƞ /., ou seja, o fechamento dos lábios ao final do som. Já na pronúncia dos sons 
nasalizados não tem obstrução da corrente de ar na cavidade bucal. Sons nasalizados 
são as vogais nasais da língua portuguesa, pois, ao serem emitidas não ocorre junção 
dos órgãos da boca. 
22 
 
Cordas Vocais 
Na região da laringe, está um importante órgão para a fonação: as cordas ou pregas 
vocais. As cordas vocais se assemelham à forma de dois lábios e são constituídas do 
músculo tireo-cricóide, um tecido elástico denominado ligamento. Observe a imagem 
das cordas vocais abaixo. 
 
GLOTE ABERTA GLOTE FECHADA 
• Cordas vocais separadas 
• O ar passa livremente 
• Produz consoantes surdas 
• Sons desvozeados 
• Cordas vocais unidas 
• O ar passa vibrando 
• Produz consoantes sonoras 
• Sons vozeados 
 
De acordo com o exposto, em português, há fonemas surdos e fonemas sonoros. 
 
São fonemas surdos as consoantes: 
/ P / / T / / K / e / F / / ʃ / / S / 
 
Observação: Lembram-se da dica: PeTeKa e FeCHa-Se? A peteca e o fecha-se são 
fonemas surdos. Todas as demais consoantes da Língua Portuguesa são sonoras. 
 
 
 
 
23 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 
Quadro Geral de Classificação das Consoantes 
Abaixo explanamos o quadro geral dos fonemas consonantais da Língua Portuguesa. 
 
Modo de 
Articulação 
Papel das 
cordas 
vocais 
Ponto de Articulação 
 Bilabiais Labiodentais Linguodentais Linguo-
alveolares 
Linguo-
palatais 
Velares 
 Surdas / P / / T / / K / 
Oclusivas 
 Sonoras / B/ / D / / G / 
 
 Surdas / F / / S / ʃ 
Constritivas 
 Sonoras / V / / Z / Ʒ 
 
Laterais Sonoras / L / ʎ 
 
Vibrante 
Simples 
Sonora / r / 
 
Vibrante 
Múltipla 
Sonora / R / 
 
Nasais Sonoras / M / / N / Ƞ 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
UNIDADE 06 - AS VOGAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Descrever e classificar as vogais em Língua Portuguesa. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
As vogais são fonemas produzidos pela passagem livre da corrente de ar pela boca, 
diferente do que ocorre com as consoantes o ar não é bloqueado em nenhum ponto da 
boca e desse modo, podemos dizer que as vogais são os fonemas mais limpos da língua 
portuguesa. Como o ar não é interrompido pelos dentes ou lábios quando produzimos 
vogais, a boca tem o papel de caixa de ressonância para o som produzido. 
 
As vogais possuem três propriedades, que lhes são inerentes: 
a) Apresentam maior abrimento dos órgãos articulatórios: a boca fica normalmente 
aberta ou entreaberta, ao se pronunciar uma vogal. Diga, por exemplo, a vogal / a /. 
Disse? Viu como a boca fica aberta? 
b) Apresentam maior número de vibrações das cordas vocais, isto é, têm maior 
frequência. 
c) São os únicos fonemas do português a integrarem o centro da sílaba. 
 
As vogais são classificadas usando quatro critérios: 
• posição da língua; 
• altura da língua; 
• posição dos lábios; 
• papel das cavidades buco-nasais. 
 
 
 
 
25 
 
Classificação das vogais quanto à posição da língua 
Prestemos atenção na posição da língua em nossa boca. Para isso, digam a vogal / a /. 
Disseram? Como ficou o corpo da língua? Percebeu que ficou em posição de repouso? 
Quietinha na base da boca, tocando os dentes inferiores, certo? 
 
Façam o mesmo para a vogal / e /. Para pronunciar o / e / a língua fez um leve 
movimento para frente. Agora o fonema / o /. O movimento da língua foi ligeiramente 
para trás, não foi? 
 
Muito bem, a partir da posição da língua, nós podemos classificar as vogais em: 
 
a) Central- A língua fica em posição de repouso, abaixada, tocando os dentes 
inferiores. A vogal resultante dessa posição é / a /; 
b) Anteriores- A língua executa um ligeiro movimento para frente. As vogais 
anteriores são: 
/ E / (como o é de pé ) / e / ( como o ê de você); e / i /; 
c) Posteriores- A língua faz um ligeiro e gradativo recuo. São posteriores as vogais: 
/ ɔ / (esse fonema equivale à letra ó da palavra avó); / o / (como o ô de avô) e / u /. 
 
O número de fonemas vocálicos é maior que o número de letras, as vogais grafadas na 
língua portuguesa são cinco, mas, na realidade a língua falada apresenta sete fonemas 
vocálicos: 
/ a / / E / , / e / , / i / , / ɔ / / o / , / u /. 
 
 
 
 
 
26 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Classificação das Vogais quanto à Altura da Língua 
Classificaremos, agora, as vogais considerando a língua em seu movimento vertical, a 
altura. Fale as vogais / a /; / e /; / i /. Diga novamente a vogal / a / e, em seguida, as 
vogais / o / e / u /. 
 
Na pronúncia, a língua, para a vogal / a /, ficou bem embaixo, tocando os dentes 
inferiores. Para as vogais / e / e / o /, você deve ter percebido que ela se elevou um 
pouquinho. Diferentemente, nas vogais / i / e / u /, a língua se eleva ao máximo, quase 
tocando os dentes superiores, não é? 
 
De acordo com o exposto, quanto à altura da língua, as vogais são classificadas em: 
c) Baixa – Língua embaixo, junto aos dentes inferiores. Trata-se da vogal / a / 
b) Médias- Uma elevação gradual da língua, ou seja, a língua fica no meio, entre os 
dentes inferiores e os posteriores. São vogais médias: / E / (de pé) / e / (de fez), / ɔ / (de 
avó) e / o / (de avô). 
c) Altas- A língua eleva-se de tal forma que toca os dentes superiores. Nesse caso, as 
vogais são: / i / e / u /. 
 
Classificação das vogais quanto à posição dos lábios 
Na pronúncia das vogais, os lábios exercem papel crucial. Vejamos a pronúncia dos sons 
/ a /, / E /, / e /, / i /. Como ficaram os seus lábios? Com certeza, estendidos, não é? 
Agora diga os fonemas / ɔ / , / o /, / u /. Nesses fonemas, os seus lábios devem ter ficado 
arrendondados, não é? É isso mesmo, quanto à posição dos lábios, as vogais são: 
a) Não-arredondadas – Os lábios ficam estendidos. São as vogais / a /, / E /, / e / , / i /. 
 
b) Arredondadas- Ocorre um ligeiro arredondamento dos lábios. São vogais desse tipo: 
/ ɔ /, / o / / u /. 
27 
 
Classificação das Vogais quanto ao Papel das Cavidades Bucal e Nasal 
Você já sabe o que é um som nasal: o ar sai parte pela boca e parte pelas fossas nasais. 
Para entender, vamos opor certas palavras: 
Lá x Lã 
Vê x Vem 
Vi X Vim 
Do (nota música) x Dom 
Tuba x Tumba 
 
São sons completamente diferentes, não é? As vogais orais são sete, mas as vogais nasais 
são cinco, a saber: / ã /, /ë /, / ï /, / ö /, / ü / 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
UNIDADE 07 - VOGAIS E SEMIVOGAIS OU SEMICONSOANTES? 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Discutir as semivogais da Língua Portuguesa; Discutimos a imprecisão 
terminológica a respeito dos “glides”. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Iniciamos nossa discussão, definido “glides”, termo empregado para designar os fonemas 
que integram a posição assilábica e que formam os ditongos e tritongos da língua 
portuguesa. 
 
A gramática tradicional emprega usualmente o termo semivogal, para assinalar os 
fonemas integrantes dos ditongos e tritongos. Em linguística, o tratamento desses 
fonemas não encontra acordo, pois alguns autores consideram-nos semivogais; outros, 
semiconsoantes. Você poderia me questionar sobre as consequências dessa imprecisão 
terminológica. Ora, é simples, em se considerando semiconsantes, haveria uma 
ampliação do quadro desses fonemas, pois seriam introduzidos / y / e / w/; ao serem 
entendidos como semivogais, acarretaria uma alteração na estrutura silábica. 
 
Câmara Jr. (1970) parece dar-nos uma posição mais coerente para o tratamento desses 
fonemas. Para tanto, recorremos aos estudos que faz sobre a estrutura da sílaba em 
português. 
 
Segundo o autor citado, as sílabas podem vir representadas pelas vogais, centro da sílaba 
(V) e pelas consoantes (C), elementos que integram as margens da sílaba. Com base 
nessas considerações, estabelece os seguintes esquemas silábicos: 
 
V- sílaba simples- quando há uma só vogal, como, por exemplo, a sílaba a- da palavra 
“asa”; 
29 
 
CV- sílaba complexa crescente, aberta, como “pá”, por exemplo; 
 
VC- sílaba complexa crescente- decrescente, fechada ou travada, como ocorre em “ar”; 
 
CVC- sílaba complexa, travada, como “par”. 
 
Retomando nosso questionamento, se consideramos os fonemas / y / e / w / como 
semivogais, teríamos para “pauta” um novo sistema silábico “CVV”; caso a consideremos 
como semiconsoantes, teríamos: CVC. No primeiro caso, ocorreria sílaba aberta; no 
segundo, fechada. 
 
Mattoso considera que os fonemas / i / e / u /, quando juntos a outra vogal, formando 
uma só sílaba, devem ser considerados como vogais assilábicas, isto é, devem ser 
representados ao lado das vogais a que se juntam. Assim, em “peito” e pauta, por 
exemplo, teríamos "peị to” e “ pau ta” 
 
Nas palavras de Mattoso, as semivogais são quase vogais e devem, portanto ser 
indicadas como letras exponenciais “i; u”. Se consideradas semiconsoantes, são 
representadas pelos fonemas / y / (i) e / w / (u). 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Mattoso questiona a existência de ditongos na Língua Portuguesa, indagando se a 
sequência denominada ditongo não poderia ser interpretada como hiato (encontro de 
duas vogais em sílabas separadas). 
 
30 
 
Na sua discussão, o autor recorre à existência de pares opositivos, tais como sai e saí, 
explicitando tratar-se, respectivamente de vogal tônica seguida de átona e vogal átona 
seguida detônica. 
 
Mattoso destaca que só são aceitáveis ditongos na Língua Portuguesa, quando um dos 
elementos vocálicos for tônico, pois dois átonos permitem variação livre, isto é, como 
ditongo ou hiato. Assim enumera onze ditongos decrescentes e um muito restrito 
crescente. Vamos conhecê-los? 
 
Ditongos Decrescentes: 
/ ai /: sai; 
/ au /: pau; 
/ éi /: papeis 
/ ei /: lei; 
/ iu /: riu; 
/ ói /: mói; 
/ oi /: boi; 
/ ou /: vou 
/ ui /: fui. 
 
Como ditongo crescente considera apenas os formados pelos grupos qu e gu, como 
água; quase, por exemplo. 
 
Ditongos como glória, ciência, série, considerados pela gramática como crescentes, 
segundo Mattoso, podem ser sentidos como ditongos: uma só emissão, ou hiatos. 
 
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO 
Classifique os encontros vocálicos em: ditongo, tritongo, hiato 
a- Coração 
b- Enxaguou 
c- Quieto 
d- Olham 
 
 
 
Reposta 
a- Ditongo decrescente 
b- Tritongo 
c- Hiato 
d- Ditongo 
Cuidado: palavras como bem, ama. 
Em qual, há um tritongo: / kwaw/ 
31 
 
UNIDADE 08 – FONOLOGIA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Explicitar o conceito de Fonema; Conceituar e explicitar os traços prosódicos 
e distintivos. 
 
Já tivemos oportunidade de assinalar a diferença entre a fonética e fonologia. 
Retomamos essa distinção, assinalando que o objeto de estudo da Fonologia é o 
fonema, cujos conceitos explicitamos abaixo. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
A partir de 1930, o conceito de fonema passou a ser formulado com mais precisão: 
fonemas são unidades da língua; sons, por sua vez, são unidades da fala. 
 
Trubetzkoy entende o fonema como unidade distintiva do sistema de som, sendo, 
portanto, a menor unidade funcional da língua. Bloomfield o definiu como unidade de 
traço fônico distintivo, indivisível. Para Jakobson, “fonema é um feixe de traços 
distintivos”. 
 
Pode-se afirmar que fonema é um som, que, no sistema fônico, tem valor diferenciador 
de vocábulos 
 
Para deixar bem clara a definição de fonema, vamos recordar um pouco. Nas aulas de 
Fundamentos de Linguística Geral, abordamos a Dupla Articulação da Linguagem. 
Vamos revê-la? 
 
Nossa fala não se concretiza em blocos, mas por sequências lineares, que podem ser 
segmentadas até que nenhuma outra divisão seja possível. Estamos falando da 1ª e da 
2ª articulação. 
32 
 
 
Vamos entender bem isso. O enunciado “A casa é branca”, é possível dividirmos em 
segmentos como: a- casa – é- branca. Outra divisão pode ser feita: o a (em negrito) da 
palavra casa é uma vogal temática que classifica os substantivos terminados em a; é- 
verbo ser, conjugado na 3ª pessoa do singular; o outro a da palavra branca é também 
uma vogal temática. Vejam bem. Nessa segmentação, ainda lidamos com elementos 
mínimos portadores, de significado. Esses elementos são denominados morfemas. 
 
Outros exemplos: em menina, o a é um morfema de gênero que indica as palavras 
femininas, como doutora; médica, dentre outras. Na palavra patada, o segmento pat 
significa parte inferior do membro animal, diferentemente, o ada significa golpe, daí 
patada ter o significado de golpe dado com uma pata e facada ter o significado de golpe 
dado com uma faca. 
 
Os exemplos acima ilustram a 1ª articulação da língua, isto é, divisão dos segmentos das 
palavras em elementos mínimos com significado. 
 
As divisões que efetuamos acima não são as únicas possíveis, pois diante da palavra pata, 
podemos segmentá-la em / p /; / a /; / t /; / a /. Cada elemento resultante dessa divisão 
não tem significado, isto é, o que é um p sozinho? Estamos diante dos fonemas, 
elementos da língua sem significado. Entretanto, os fonemas têm uma função: 
distinguem signos, palavras. Por exemplo, se trocarmos o fonema / p / da palavra pata 
pelo fonema / b / teremos outra palavra: bata. 
 
Essa divisão da palavra em segmentos menores, até que nenhuma outra divisão seja 
possível, é que denominamos 2ª articulação da linguagem. 
33 
 
É isso aí. Fonema é o elemento mínimo, indivisível, da segunda articulação. Embora seja 
um elemento sem significado, o fonema tem uma função: distinguir signos (palavras) da 
língua. Vamos ver como isso funciona? 
 
Um som / b / ocorre em palavras como bata e bingo, enquanto que em pata e pingo, 
há outro som / p /. Há diferenças entre esses dois fonemas. Trata-se de uma diferença 
fonológica, pois distingue duas palavras diferentes na língua portuguesa, mas há pontos 
comuns entre eles: são sons produzidos pelo aparelho fonador humano; são oclusivos e 
bilabiais. A única diferença é que o / p / é surdo e o / b / é sonoro. Daí estarmos diante 
do traço distintivo (traço que difere, distingue um fonema de outro): surdez e 
sonoridade. 
 
Para o estudo fonológico, há dois tipos de traços: distintivos e prosódicos. 
 
Traços prosódicos não são fonemas, mas exercem função distintiva. Entenderam? Acho 
que não, mas vamos lá. 
 
Leia os enunciados abaixo e explique a diferença entre eles: 
a) Não, desisti do negócio 
b) Não desisti do negócio 
 
Em a e b, observamos, exatamente, as mesmas palavras, porém, você deve ter percebido 
que o sentido é diferente. Em outras palavras, a vírgula inserida após o advérbio de 
negação não indica uma pausa, uma parada. É essa pausa que me faz ler o dito, em a, 
como alguém que vai desistir do negócio. Diferentemente, em b, o sentido que se 
depreende é que esse alguém vai realizar o negócio, ou seja, ele não desistiu de fazer o 
negócio. Então, a pausa é um traço prosódico que exerce a função, nesses enunciados 
de estabelecer diferentes significados. 
34 
 
Os tipos de Traços Prosódicos são: 
a) Entonação- importante para diferenciar sentidos, pois tem a função de distinguir 
frases afirmativas, exclamativas e interrogativas 
Você vai. 
Você vai? 
Você vai! 
 
b) Acento- é o realce de uma sílaba na palavra. Pelo acento somos levados a 
distinguir palavras como sábia, sabia e sabiá. Observe, agora, o trava-língua: Você 
sabia que o sabiá sabia assobiar? A diferença entre os signos sabia e sabiá é 
decorrente do acento, já que os fonemas são os mesmos. 
 
c) Função demarcatória do acento e das pausas- Nas línguas, onde a previsão do 
acento é imprevisível, a demarcação de fronteiras entre as sílabas e as unidades 
lexicais apresenta dificuldade. Assim, uma sílaba átona final e a sílaba inicial 
concorrem para a delimitação de vocábulos como: de leite x deleite; de vida x 
devida; defenda x dê fenda; amá-la x a mala. Como você deve ter observado, as 
palavras dos pares são pronunciadas da mesma maneira. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Os Traços Distintivos são denominados funcionais, porque distinguem significados. Os 
traços distintivos articulatórios ou acústicos vão caracterizar um fonema em relação ao 
outro. Trata-se de uma diferença mínima de uma unidade em relação a outra. Assim, ao 
opormos os fonemas / p / e / b /, o primeiro passo é sua descrição, isto é, o / p / é 
consoante oclusiva, bilabial surda; o / b / é oclusiva, bilabial, sonora. Ora, comparando-
se a descrição dos dois fonemas, observamos que o traço diferenciador é a sonoridade, 
já que um é surdo e o outro é sonoro. O mesmo se dá em relação aos fonemas / f / e / 
35 
 
v /; / t / e / d /, já que todos possuem o mesmo modo e ponto de articulação, porém, / 
t / e / f / são surdos e / f / e / v / são sonoros. 
 
E quanto às vogais, você sabe como verificar o traço distintivo? É simples. Vamos retomar 
a fonética articulatória, mais precisamente, a classificação das vogais. Um som / ɔ / se 
opõe ao / o /, pois temos pares opositivos: avó e avô. Os dois fonemas são posteriores, 
orais, porém o traço distintivo entre eles é que em avó o fonema é aberto e, em avô, é 
fechado. Daí dizermos que o traço distintivo é abertura/fechamento das vogais. 
 
Tomando-se, agora, os sons / o / e / u /, o traço que os diferencia é que / o / é média 
e / u / é alta. 
 
É bom saber que, parareconhecermos os fonemas de uma língua, necessitamos aplicar 
o método da segmentação, isto é, divisão da linha de expressão até a unidade mínima 
sem significado: o fonema. Vamos segmentar? Tome a palavra saca / saka /. A 
segmentação permite-nos detectar os seguintes fonemas: / s / a / k / a /. 
 
A partir daí, aplicamos a comutação, isto é, troca de um fonema por outro, no mesmo 
ponto da cadeia. Por exemplo, no ponto 1, comutamos (trocamos) o / s / por / m /; no 
2, o / a / por / e /; no 3, o / k / por / l / e, no 4, o / a / por / e /. Vamos visualizar os 
resultados? 
 / s / / a / / k / / a / “saca” / m / a / / k / / a / “maca” 
 1 2 3 4 1 2 3 4 
 
/ s / / a / / k / / a / “saca” / s / e / / k / / a / “seca” 
 1 2 3 4 1 2 3 4 
 
/ s / / a / / k / / a / “saca” / s / a / / l / / a / “sala” 
 1 2 3 4 1 2 3 4 
 
36 
 
/ s / / a / / k / / a / “saca” / s / a / / k / / e / “saque” 
 1 2 3 4 1 2 3 4 
 
A cada substituição efetuada, há o surgimento de um novo signo da língua portuguesa 
e, no contexto, que nos serviu de exemplo, detectamos os seguintes fonemas do 
português: / s / a / k / m / e / l / 
 
Os mecanismos de segmentação e comutação, como observamos acima, permitem-nos 
detectar os fonemas de uma língua. Assim, ao trocarmos um fonema por outro, o 
resultado é um novo signo da língua. Vale dizer que, se são fonemas diferentes, ocorre 
oposição. Isso se evidencia a partir de pares mínimos, como podemos observar abaixo. 
 Lá x Lã- a oposição que subjaz a esse par é oralidade (lá) versus nasalidade (lã) do 
fonema / ã / 
 
Vela x Velha- a diferença entre essas palavras reside na oposição entre o fonema / l / 
(lateral, linguoalveolar) e / ʎ /- lateral linguopalatal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
UNIDADE 09 - FONEMAS E VARIANTES 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar a diferença entre fonemas e variantes; Conceituar os tipos de 
variantes. 
 
Na unidade anterior, abordamos como detectar os fonemas de uma língua. Neste 
momento, vamos tratar das variantes ou alofones. Certamente, você já ouviu duas 
pessoas conversando e percebeu que elas não falam, exatamente, iguais. Vamos precisar 
bem isso. O que estou dizendo é que as pessoas pronunciam as consonantes de forma 
diferente. Atente para os artistas da televisão. Você já prestou atenção, como 
determinados atores falam o erre e o esse? Muito bem, os cariocas, principalmente, têm 
uma forma peculiar de realizar esses fonemas. Isso é o que chamamos variantes. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Sabemos que os fonemas de uma língua permitem distinguir significados, ou seja, são 
responsáveis pela criação de palavras na língua, a partir do momento que trocamos um 
fonema por outro, produzimos novos signos, novas palavras. 
 
No entanto, é bom dizer que um mesmo fonema permite realizações diferentes. Estamos 
diante do conceito de variantes ou alofones: realizações diferentes de um mesmo 
fonema, isto é, falo de forma diferente, mas refiro-me à mesma palavra. Entenderam? 
Parece complicado, mas é muito simples, se observarmos dados concretos. Na Unidade 
1, especificamente, no item Aprofundando o Conhecimento, e tenho certeza de que 
despertei sua curiosidade para ouvir a voz do poeta Drummond, você deve ter percebido 
que para tinha, ao invés de o poeta dizer o fonema / t / ele realiza esse som como / t /. 
Agora, atente bem: dizer / t / ou / tʃ / para tinha não implica a criação de uma nova 
palavra, mas expressa, unicamente, maneiras diferentes de se dizer uma mesma coisa. A 
38 
 
isso denominamos alofones ou variantes. Fato análogo ocorre quando dizemos / meys 
/; / mey / ou / mês / para a palavra mês, em que se observam maneiras diferentes para 
nos referirmos a uma mesma realidade, a um mesmo signo da língua. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Tipos de Alofones ou Variantes 
As variantes são de vários tipos: posicionais (contextuais), livres e estilísticas. Vamos 
entendê-las? 
 
Variantes posicionais ou contextuais são as realizações condicionadas pelo contexto 
fônico em que aparecem. Em português, é comum os fonemas / t / e / d / realizarem-
se, respectivamente, como / tʃ / e / dƷ /. Assim, eu posso dizer / tʃ i ra / ou / tira /, assim 
como posso dizer / dƷ ita / ou / dita /, para referir-me, respectivamente, aos mesmos 
signos. Resta saber por que / tʃ / e / dƷ / são variantes posicionais ou contextuais. Essas 
variantes só ocorrem, quando o / t / e / d / estiverem diante de / i /. É por essa razão 
que ninguém diz, por exemplo, / tʃ a tʃ u / para a palavra “tatu”. 
 
Você poderia me questionar por que as variantes são / tʃ / e / dƷ / e não / t / e / d /. É 
muito simples, pois o que se considera é o maior número de realizações, ou seja, / t / e 
/ d / combinam-se com maior número de vogais: / a /; / e /; / E /; / i /; / o /; / ɔ /; / u /. 
 
Outro exemplo de variante posicional é o fonema / s / que, em final de palavra se realiza 
como / s /, como em / ´belas /. Em posição não final e antes de consoantes surdas 
também são ditos / s /, como em: / ´tEs ta /, porém em posição final de sílaba, antes de 
consoantes sonoras seguida de vogal, possuem som de / z /. Pronuncie a palavra 
“mesmo”. Pronunciou? Se o fez, deve ter percebido que o som aí produzido é / z /: / 
´mezmu /. 
39 
 
Vamos estudar os alofones do fonema / a /. Para isso, pronuncie as palavras “pá” e 
“caso”. Pronunciou? Percebeu que, para falar o / a /, você abriu bem a boca? Agora, fale, 
lentamente, as palavras “bela” e “menina”. Você deve ter observado que o / a / dessas 
palavras foi pronunciado com uma abertura menor da boca. Neste caso, há que se 
observar que o / a / apresenta os seguintes alofones: [ a ], posição tônica, cuja pronúncia 
é bem aberta; / ɐ / posição átona, cuja pronúncia se dá com menor abertura e / ɐ
͂
 /, 
quando nasal, pois é realizado com abertura da boca menor que a tônica oral. Compare 
as palavras: “pá”, “pampa”, percebeu como a oral é mais aberta? 
 
Variantes livres não são condicionadas pelo contexto fônico, 
mas dependem única e exclusivamente dos hábitos 
articulatórios do falante. Se atentarmos, por exemplo, para o 
falar nordestino, observaremos a tendência de abertura das vogais. Assim, para 
“menino”, dizem / ´mE ni nu/, para “coração”, dizem / k ɔ ra´ sãw /. Outro exemplo de 
variação livre é a realização do / r / e do / s / carioca, pois, para “mas”, dizem / ´mayʃ /. 
 
Vale dizer ainda que as variantes livres, segundo Labov (1996), são determinados fatores 
extra e intra-linguísticos de forma previsível. Embora o pesquisador não possa predizer, 
quando o falante vai realizar uma ou outra variante, quando ditas, é possível mostrar 
que elas são empregadas em consonância com a classe social a que pertence o falante, 
ao sexo e à faixa etária. 
 
Variação Estilística são realizações que dependem da intencionalidade emotiva do 
falante. É comum o falante despender maior intencionalidade e um determinado 
fonema, como, por exemplo, / mi´ni: nu/. Pode-se afirmar que na música “Pelados em 
Santos” do grupo ‘Mamonas Assassinas’ ocorre uma variação estilística, pois para 
“doidão”, o grupo diz / dƷ o y ´d Ʒ ã w /. 
 
O apóstrofe ( ´) indica que 
a sílaba seguinte é a 
tônica. 
Os dois pontos introduzidos na palavra menino 
indicam um prolongamento da vogal: miniiinu. 
40 
 
UNIDADE 10 - DISTRIBUIÇÃO COMPLEMENTAR, NEUTRALIZAÇÃO E ARQUIFONEMA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar os conceitos de distribuição complementar, neutralização e 
arquifonema. 
 
Até esta etapa de nossos estudos, observamos que os fonemas permitem variação, no 
tocante a sua realização. Nesta unidade, vamos aprender novos conceitos importantes 
para os estudos de fonética e de fonologia. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Vejamoso conceito de Distribuição Complementar. Para os estudiosos, a distribuição 
complementar caracteriza-se por dois fones (fonemas) diferentes que não se encontram 
jamais no mesmo contexto fônico. Assim, dizemos que a lateral linguoalveolar / l /, 
presente nas palavras “lama” e “alma”; a lateral vocalizada / w /, presente em / ´awma /; 
a lateral velarizada / ɫ /, comum no Rio Grande do Sul e que ocorre fechando sílaba 
como em / ´a ɫ ma / e / ´k a ɫ da/, por exemplo. 
 
A distribuição complementar se dá, porque uma variante não ocorre em lugar da outra. 
Vamos entender bem isso. 
 
O / l / realiza-se como / l /, linguoalveolar, sempre que iniciar sílaba; fechando sílaba, 
sua realização é vocalizada / w / ou velarizada / ɫ /, no Rio Grande do Sul. Neste caso 
específico, ninguém diz, por exemplo, / a ́ wadu /, para a palavra, “alado”. Analogamente, 
não dizemos / mal / para “mal”. 
 
Você deve ter percebido que as variantes posicionais ou contextuais são casos de 
distribuição complementar. 
 
41 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Já observamos que o que caracteriza fonemas diferentes na língua é o traço opositivo o 
distintivo. Assim, se tomarmos, por exemplo, as vogais anteriores, observamos que / e / 
e / i / são anteriores, orais, não arredondados, mas são diferentes, porque um é médio 
e o outro alto, respectivamente. No entanto, sempre que o / e / for átono, ele é realizado 
como / i /, não havendo, então, a oposição: média/ alta, como se observa em: [ ´ʃ a ve / 
´ʃ a vi] = chave. Nessa perspectiva, cessa a oposição como a que se constata, por 
exemplo, nas palavras “vê-la” e “vila”. 
 
Fato análogo ocorre com as vogais posteriores, pois / o / e / u / apresentam, o traço 
distintivo médio e alto, respectivamente, mas, na fala, essa oposição é neutralizada, pois 
/ o / é pronunciado / u /, como se observa em / ´bo lu /. Então, neutralização é a perda 
do traço distintivo entre dois fonemas. Em outras palavras, a oposição média e alta 
desaparece, quando das realizações de / e / - / i / e / o /- / u /. 
 
Essa variação da fala, no sistema fonológico, dá origem ao arquifonema que nada mais 
é do que a soma de um feixe de traços pertinentes comuns a dois fonemas, que são os 
únicos a apresentarem tais traços, excluídos os opositivos que os oporiam um ao outro. 
O arquifonema é registrado com letra maiúscula, que implica a junção de traços 
pertinentes a dois fonemas, como podemos verificar abaixo. 
 
ARQUIFONEMA 
 / i / vogal anterior alta 
 / I / 
 / e / vogal anterior média 
 
ARQUIFONEMA 
 / U / Vogal Posterior Alta 
 / U / 
/ o / Vogal Posterior Média 
42 
 
UNIDADE 11- PROCESSOS FONOLÓGICOS 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre os processos fonológicos. 
 
Como sabemos a língua sofre alterações e modificações. Além disso, vale dizer que, todo 
momento, criam-se expressões novas, palavras novas, acarretando modificações 
determinadas por fatores fonéticos, morfológicos sintáticos. Fatores prosódicos: 
entonação, pausa, por exemplo, também devem ser levados em conta. Como ilustração, 
podemos citar que as vogais não acentuadas, átonas, por serem mais débeis, propiciam 
o fenômeno da neutralização, como abordamos na unidade anterior. Vamos conhecer, 
agora, os principais processos fonológicos da língua portuguesa. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Para Callou e Leite (1993), existem três processos fonológicos básicos: Processos que 
acrescentam traços ou mudam a especificação dos traços; Processos que inserem 
segmentos e Processos que apagam segmentos. 
 
Nos processos que acrescentam traços ou mudam a especificação dos traços, podemos 
incluir: 
a) Assimilação- termo genérico referente a qualquer processo em que um som 
adquire características ou traços de outros que o rodeia. Por exemplo, um 
segmento pode assumir o ponto de articulação de outro vizinho. Neste caso, a 
nasalização é um bom exemplo. Sabe o que é nasalização? É simples: vogal que 
precede consoante nasal se nasaliza. Como exemplo, podemos citar as palavras 
cama, tema, time, dono, rumo. 
Palatização- uma consoante realiza-se como palatal, quando diante de vogal 
anterior. Por exemplo, o fonema / t / de “tira” é classificado como oclusivo, 
linguodental, mas, diante do / i / é pronunciado / tʃ / 
43 
 
Harmonização vocálica- ação assimilatória da vogal tônica sobre a pretônica. 
Como exemplo, “minino; filiz, furmiga”. 
Metafonia- ocorre a ação assimilatória da átona para a tônica. Um exemplo são 
os plurais com metafonia, como formoso, formosos; povo, povos. 
 Nos Processos que inserem segmentos, merecem destaque: 
 
a) Ditongação- processo em que se insere uma semivogal. Como exemplo temos 
“mês” [ meys]; rapaz [Rapays] 
b) Epêntese- processo em que se insere uma vogal, como ocorre em: ad(i)vogado; 
ab(i)soluto. 
 
Nos processos que apagam segmentos, merecem destaque: 
a) Síncope- há perda de fonemas no interior do vocábulo. Por exemplo, “xicra” 
(xícara), “oclus” (óculos). 
b) Aférese- supressão no início do vocábulo: “pêra” por espera; “tá” por estar. 
c) Apócope- queda de fonema no final da palavra: “fala” por falar; “bebe”, por 
beber. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
É bom lembrar que a relação grafema / som não se dá uma a uma, mas, pode ocorrer 
a necessidade de mais de uma letra para a produção de um único som. Assim, para um 
som / ʃ /, podem ocorrer duas leras ch, como, por exemplo, na palavra chapéu. Estamos 
diante dos famosos dígrafos. 
 
Vale dizer ainda que as letras não são o som, mas representações dos sons e que nosso 
alfabeto é ortográfico e não fonético. Daí dizermos / kaza / e, ortograficamente 
registramos casa; dizermos / ´sapu /, /´naser / e registramos, na escrita, sapo e nascer, 
em que se observa um único som, representado por letras diferentes. 
44 
 
UNIDADE 12 - SITUANDO A LINGUÍSTICA TEXTUAL 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar os três momentos da Linguística Textual. 
 
Nesta unidade enfocamos as fases pelas quais a Linguística Textual passou até se firmar 
como ciência. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Os estudos da língua, no passado, eram calcados na palavra isolada. Sabe o que isso 
significa? Tenho certeza de que já estudou a língua a partir da palavra isolada. 
Normalmente, tomava-se uma palavra qualquer, enquadrava-a em uma classificação 
gramatical: artigo, substantivo, verbo, advérbio, por exemplo, e com isso, acreditava-se 
estudar a língua. Não que não se deve abordar a palavra isolada, mas mais do que 
classificá-la em uma categoria gramatical há que se atentar para sua formação na 
produção de sentido. 
 
Vamos examinar as construções abaixo: 
A) Aqui está a lista 
B) Aqui está uma lista 
C) Um menino chegou. Um menino estava chorando 
D) Um menino chegou. O menino estava chorando 
 
Nas estruturas A, B, C e D, podemos destacar o artigo definido, em A, e o indefinido B, 
C e D. 
 
Gramaticalmente, o artigo definido indica algo conhecido pelo falante e pelo ouvinte; 
diferentemente, o indefinido expressa algo desconhecido dos interlocutores. No entanto, 
45 
 
o mais importante é saber que nos exemplos A e B há implicações de sentido. Em outras 
palavras, ao dizer “Aqui está a lista”, significa afirmar que falante e ouvinte sabem de que 
lista estamos nos referindo, mas em B, o interlocutor não conhece a lista. 
 
No exemplo C, ao empregarmos o indefinido um, nas duas orações, significa falarmos 
de meninos diferentes. 
 
Em D, observamos tratar-se do mesmo menino. Eis a função dos artigos: o indefinido 
introduz o elemento novo pela primeira vez no texto. Sua retomada deve ser feita por 
meio do artigo definido. 
 
É normal o professor estudar os verbos por meio de memorização de tempos. No 
entanto, há que se lembrar que uma forma verbal de futuro, por exemplo, pode indicar 
modo imperativo e não tempo, como se observa em: 
Não matarás 
Honrarás pai e mãe.Com o advento do estruturalismo, principalmente, a partir dos estudos de Saussure, que 
concebia a língua como um sistema, um conjunto de elementos organizados, 
estruturados, a unidade de estudo da língua passou a ser a frase e não mais a palavra 
isolada. Então, a frase é a maior unidade de estudo da língua. 
 
Vale lembrar que, para o estruturalismo, a língua é uma grandeza imanente, isto é, basta 
em si e por si mesma, isto é, excluem-se dos estudos da língua quaisquer fatores externos 
a ela. 
 
 
 
46 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
A Linguística textual é bastante recente e pode-se afirmar, conforme Fávero e Koch 
(1988), que passou por três momentos distintos: análise transfrástica; construção das 
gramáticas textuais e elaboração de uma teoria de texto. 
 
A análise transfrástica parte da frase isolada e preconiza a relação entre as frases, isto é, 
a relação entre frases e períodos. 
 
Esse momento foi motivado por perceberem que havia fenômenos não explicáveis pelas 
teorias sintáticas e/ou semânticas. Assim, ao dizermos: “Pedro foi a São Paulo. Ele adorou 
a capital”, observamos que o “ele” é mais do que um pronome do caso reto de terceira 
pessoa. Vamos entender isso. Para a gramática tradicional, os pronomes são substitutos 
dos nomes, mas, para a Linguística Textual, a relação que o pronome estabelece não é 
de pura substituição, mas fornece ao ouvinte/leitor instruções de conexão entre o 
predicado (adorou a capital) e o próprio SN, considerado como aquele sobre o qual já 
se disse algo: foi a São Paulo. 
 
Não é apenas pela concordância que concluímos que “ele” refere-se a Pedro, mas pelo 
fato de esse elemento possuir duas predicações: ir a São Paulo e Adorar a capital. Trata-
se da correferenciação. 
 
Outros estudos fizeram parte desse momento, destacando-se a função textual dos 
artigos, como já abordamos anteriormente, e a relação entre os enunciados com ou sem 
conectores, como se verifica, nos exemplos abaixo. 
A- Não fiz a tarefa. Não sabia os conceitos teóricos. 
B- Não fiz a tarefa. Fui reprovado na disciplina 
C- Não fiz a tarefa. Justifiquei-me com o professor 
47 
 
Mesmo os conectores não estando explícitos nas frases acima, é possível o 
estabelecimento de relações. Assim, em A, observamos relação de causa e consequência: 
Não fiz a tarefa, porque não sabia os conceitos teóricos; em B, há a relação lógica: Não 
fiz a tarefa, logo fui reprovado na disciplina; em C, há uma relação de oposição: Não fiz 
a tarefa, mas justifiquei-me com o professor. 
 
O que se pode concluir dos dados acima é que o leitor deve estabelecer as relações. 
Então, além do conhecimento da língua, há que se considerar a intuição do falante e 
também os contextos em que ocorrem os enunciados. 
 
O segundo momento refere-se à elaboração das gramáticas textuais. Tentou-se 
evidenciar que o texto possuía propriedades referentes à própria língua. O texto passou 
a ser considerado modelo mental, sistema uniforme e isso significa que todo falante 
nativo sabe o que é um texto. 
 
Nesse momento, Charolles (1989) postula três capacidades textuais básicas do falante: 
a- Capacidade formativa- permite ao falante produzir e compreender um número 
elevado e ilimitado de textos inéditos e ainda perceber se os textos são bem ou 
mal formados; 
b- Capacidade transformativa- o falante possui capacidade para reformular, 
parafrasear, resumir um texto dado; 
c- Capacidade qualitativa- o falante tem capacidade para tipificar os textos, isto é, 
dizer se o texto é narrativo, descritivo ou dissertativo, dentre outros; 
 
Há que se salientar que a elaboração da gramática de texto não deu conta de todas as 
variedades de textos existentes. 
 
48 
 
O terceiro momento caracteriza-se por considerar o texto como unidade maior e, como 
tal, passou a ser estudado, considerando-se o seu contexto pragmático, isto é, o texto 
se estende para o contexto (conjunto de condições externas da produção/recepção e 
interpretação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
UNIDADE 13 - DISCUTINDO OS CONCEITOS DE COERÊNCIA E DE COESÃO 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Discutir os conceitos de coerência e coesão. 
 
A todo momento dizemos ou ouvimos alguém dizer: “Você não é coerente”. Mas o que 
é ser coerente? O que faz com que um texto seja coerente? Como se processa a coesão 
textual? Essa é a temática de nossa unidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Para iniciarmos nosso estudo proponho o texto Canção, de Cecília Meireles, cujas 
estrofes estão, propositalmente, colocadas fora de ordem. Vamos a elas? 
 
Minhas mãos ainda estão molhadas 
do azul das ondas entreabertas, 
e a cor que escorre dos meus dedos 
colore as areias desertas 
 
Chorarei quanto for preciso, 
para fazer com que o mar cresça, 
e o meu navio chegue ao fundo 
e o meu sonho desapareça. 
 
O vento vem vindo de longe, 
a noite se curva de frio; 
debaixo da água vai morrendo 
meu sonho, dentro de um navio... 
Depois, tudo estará perfeito: 
praia lisa, águas ordenadas, 
meus olhos secos como pedras 
e as minhas duas mãos quebradas. 
 
Pus o meu sonho num navio 
e o navio em cima do mar; 
depois, abri o mar com as mãos 
para o meu sonho naufragar. 
 
Seu trabalho, agora é colocar as estrofes em ordem. Pense um pouco e numere a ordem 
correta das estrofes. Numerou? Agora, vamos ver se você acertou. 
 
50 
 
 
Pus o meu sonho num navio 
e o navio em cima do mar; 
depois, abri o mar com as mãos 
para o meu sonho naufragar. 
 
Minhas mãos ainda estão molhadas 
do azul das ondas entreabertas, 
e a cor que escorre dos meus dedos 
colore as areias desertas 
 
O vento vem vindo de longe, 
a noite se curva de frio; 
debaixo da água vai morrendo 
meu sonho, dentro de um navio... 
 
Chorarei quanto for preciso, 
para fazer com que o mar cresça, 
e o meu navio chegue ao fundo 
e o meu sonho desapareça. 
 
Depois, tudo estará perfeito: 
praia lisa, águas ordenadas, 
meus olhos secos como pedras 
e as minhas duas mãos quebradas. 
 
Se você acertou, então é um bom começo para o entendimento da coerência, que diz 
respeito à interpretação e envolve o leitor. 
 
A primeira coisa a assinalar é que a relação entre a primeira e a segunda estrofe diz 
respeito ao conhecimento pragmático. Ora, se abri o mar com as mãos, obviamente, 
implica elas estarem molhadas. 
 
Falei que a função do artigo indefinido é introduzir o elemento novo pela primeira vez 
no texto: Pus o meu sonho num navio. A retomada de navio se dá a partir do artigo 
definido o “e o navio em cima do mar”. 
 
O conhecimento de mundo também é ativado para a colocação do texto em ordem. 
Assim, sabemos o que é sonho, mas a autora nos fala de algo novo: querer matar o 
sonho. Daí a construção do mundo para que o sonho morra. 
51 
 
Na terceira estrofe, a autora nos afirma que os sonhos estão morrendo, mas devagar. 
Daí o emprego do presente contínuo: o vento vem vindo, vai morrendo, em que o 
gerúndio indica uma ação em processo. O processo de matar o sonho é lento, gradativo. 
Por essa razão, na quarta estrofe, observamos uma projeção para o futuro: chorarei 
quanto for preciso. Ora, sabemos que chorar implica lágrimas, então quanto mais 
lágrimas no navio, mais pesado ele fica e mais rápido ele afunda. Então, as lágrimas são 
para aumentar o mar, para que ele adquira força (ou mais força) para matar o sonho 
mais rápido e eficazmente. 
 
Finalmente, na última estrofe, observamos: “depois tudo estará tranquilo” em que 
“depois”, de certa maneira, retoma todos os versos anteriores: colocar o navio no mar, 
abri-lo com as mãos, chorar e ele afundar. 
 
Na verdade, podemos afirmar que afundar os sonhos é matar o amor. 
 
Pelo que você observou, na análise, trabalhamos com coerência, pois abordamos o 
princípio de interpretação, mas não excluímos a coesão, ligação entre as passagens do 
texto, elementos dasuperfície que nos permitiu a colocação do texto em ordem. 
 
A coerência, então, diz respeito à interpretação; a coesão à ligação entre os elementos 
na superfície textual. 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Koch, em todas as suas obras sobre coerência, assinala-nos a dificuldade de definir, com 
precisão, o termo. No entanto, apresenta-nos alguns conceitos que nos auxiliam a definir 
coerência. Vamos a eles? 
52 
 
Num primeiro momento, devemos conceber coerência como “boa formação textual”. 
No entanto cabem, aqui, algumas considerações. O que você entende por boa formação 
textual? Você poderá ser tentado a afirmar que boa formação textual tem a ver com um 
texto escrito certinho, conforme apregoa a gramática normativa. Mas não é bem assim. 
Para entender bem isso, observe os exemplos abaixo. 
 
Texto A 
As flores são bonitas. 
Elas dão alegria para nós. 
Eu gosto muito de flores. 
Na minha casa tem muitas flores. 
Nós devemos cuidar das flores. 
 
Texto B 
Eu e meu til a genti fomu compra flores pra ponha no tumlo da vó. O homi falô qui num tinha mais e 
nóis fico tristi e meu til falô que a genti ia rezá e e´la ficava com tenti. 
 
Se você atentar para o texto A, certamente, tenderá a afirmar tratar-se de um texto com 
boa formação textual. Mas será que é? Para responder a isso passemos ao texto B. 
 
O texto B apresenta-se com enormes problemas linguísticos na superfície textual. Há 
empregos de palavras, concordância totalmente fora dos padrões gramaticais da norma 
culta. O texto A, diferentemente, encontra-se em perfeita harmonia com tais padrões. 
Não há desvios gramaticais. 
 
Vale dizer, no entanto, que o texto B apresenta boa formação textual. A que se deve 
essa afirmação? É simples, neste texto, observamos unidade de sentido. Trata-se de uma 
narração, cujas categorias encontram-se manifestadas no texto. A saber: 
 
Introdução- comprar flores para levar para a avó 
Complicação- Não ter flores 
Desenvolvimento- ficar triste por não ter flores 
Clímax- rezar 
Conclusão- a avó ficar contente 
53 
 
No texto A, diferentemente, em termos de interlocução, não observamos a unidade de 
sentido, apenas uma série de informações sobre flores. 
 
Então, boa formação textual nada tem a ver com normas gramaticais, mas com 
interlocução: o texto deve levar o outro a um agir. 
 
Coerência tem a ver com o princípio de interpretabilidade textual. Nesse sentido, ela 
depende do leitor que transfere, no ato da leitura, todo seu conhecimento de mundo. 
Então, a interpretação do texto não depende só do texto, mas do leitor também, que 
incorpora aos conhecimentos expressos no texto, o seu conhecimento de mundo. 
 
 
O texto acima foi publicado na Folha de S. Paulo, em 1 de abril de 2001. Trata-se de 
uma charge, cujo cenário ao fundo apresenta Brasília. O texto verbal faz referência ao 
gênero enciclopédico, cujo efeito de sentido é propiciar maior objetividade e 
neutralidade por parte de seu produtor. 
 
A interpretação desse texto exige do leitor determinados conhecimentos de mundo, tais 
como: a corrupção no Brasil é antiga, desde a época de seus colonizadores; a corrupção 
54 
 
maior encontra-se no Planalto Central, Brasília, e se espalha por todo Brasil. Se o leitor 
não possuir esse conhecimento de mundo, a leitura do texto fica comprometida. 
 
A coerência diz respeito à unidade e continuidade de sentido. Isso implica dizer que 
todos os elementos do texto devem estar ligados entre si. Mas devemos atentar que essa 
ligação não é apenas do tipo lógico, mas também relacionada a elementos sócio-
culturais. Nesse sentido, concorrem os processos cognitivos e interpessoais. 
 
Os processos cognitivos permitem a criação de um mundo textual. Vamos ver como isso 
se dá. Para tanto, observe o texto de Dalton Trevisan. 
Apelo 
(Dalton Trevisan) 
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para 
dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de 
esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato 
na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. 
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio 
aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da 
escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não 
dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite 
eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a 
todas as aflições do dia. 
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. 
Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e 
elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou 
o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: 
bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor. 
 
O leitor, para a compreensão do texto acima, deve fazer inferências, que completem as 
informações do texto, principalmente, sobre o passado do personagem e das situações 
em que a mulher tudo lhe fazia. 
 
Vamos tomar para análise o elemento “e” presente no texto. 
 
“Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham” 
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Em princípio, a considerar que plantas necessitam água para se manter, então, esse “ e” 
significa “mas”, oposição, contrariando a lógica: mais água; mais vida. Vale dizer, no 
entanto, que as violetas não necessitam de muita água. Se eu tiver esse conhecimento 
de mundo, o “e” deixa de ter sentido de oposição e passa a implicar o sentido de “então”, 
ou seja, por colocar muita água nas violetas, elas murcham. 
 
Na verdade, como o eu poético está perdido sem a sua senhora, que fazia tudo na casa, 
ele está sem saber o que fazer com as violetas, pois não conhece que muita água faz 
mal a elas. 
 
Os processos interpessoais dizem respeito à influência do falante na situação de 
comunicação. São as intenções comunicativas do falante colocadas em jogo no texto. 
Imagine a seguinte situação: 
 
Você tem uma visita em sua casa. Ela não resolve ir embora e já é tarde. Então, você 
olha no relógio e diz: 
“Nossa! onze horas, já” 
 
Ora, sua intenção não é informar a hora, mas, provavelmente dizer à visita que já está 
na hora de ir embora. 
 
Coerência está relacionada à semântica e à pragmática. O que é isso? Vejamos: 
semântica relaciona-se ao sentido do texto e pragmática à situação de uso do texto, 
situação de comunicação. Assim, os enunciados devem estar em consonância com a 
situação de comunicação. Um enunciado pode ser pertinente em dada situação e 
provocar equívoco em outra. 
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Coerência é global e hierarquizadora dos elementos do texto. Isso significa que o texto 
não é, simplesmente, a soma de suas partes, mas cada parte deve relacionar-se com 
outras com vistas à produção de sentido. 
 
Dos vários conceitos de coerência, pode-se afirmar que: 
1- Coerência é o princípio de interpretabilidade do texto. Liga-se, portanto, à 
produção, pois à medida que leio um texto, produzo também. 
2- Coerência é diz respeito ao sentido do texto, o que implica afirmar que o usuário 
tem competência textual e comunicativa. 
 
O que dizer da coesão? A coesão revela-se por meio de marcas linguísticas, índices 
formais na estrutura superficial do texto. 
 
A coesão é o elo de ligação disseminado na superfície textual. É linear, pois se manifesta 
na organização sequencial do texto. É sintática e gramatical. 
 
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO 
À primeira vista, o texto ao lado parece não 
ter sentido. Considerando os conceitos de 
coerência, explique como ela se estabelece 
no texto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESPOSTA 
Cada estrofe aparece com um subtítulo, além da imagem gráfica 
ao lado de cada uma delas. Na verdade, o texto aborda as fases 
da vida de uma pessoa e suas características: infância, 
adolescência, maturidade

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