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LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL Conceito: Calcificação heterotópica sobre matriz orgânica não previamente preparada. A calcificação patológica constitui um processo mórbido de origem nas alterações metabólicas celulares. Essas alterações induzem a uma deposição anormal de sais de cálcio e outros sais minerais heterotopicamente, ou seja, em locais onde não é comum a sua deposição. Em outras palavras, a calcificação patológica é assim definida por se localizar fora do tecido ósseo ou dental, em situações de alteração da homeostase e da morfostase. O mecanismo das calcificações patológicas segue o mesmo princípio das calcificações normais, ou seja, sempre deve se formar um núcleo inicial, principalmente de hidroxiapatita, que no caso é heterotópico. Esse núcleo pode, por exemplo, iniciar-se nas mitocôndrias, sede celular dos depósitos normais de cálcio na célula, quando esta entra em contato com grandes concentrações desse íon no citosol ou no líquido extracelular. Dependendo da situação envolvida em cada alteração funcional ou morfológica do tecido, podem-se distinguir três tipos de calcificação heterotópica: distrófica, metastática e por calculose (ou litíase). CALCIFICAÇÃO DISTRÓFICA “Incrustração de sais em tecidos previamente lesados, com processos regressivos ou necrose”. Como o próprio conceito enfatiza, a calcificação distrófica se relaciona com áreas que sofreram agressões e que apresentam estágios avançados de lesões celulares irreversíveis ou já necrosadas. Nesse último caso, por exemplo, é comum observar calcificações distróficas nas paredes vasculares de indivíduos senis com ateroesclerose, cujo processo se caracteriza por presença de necrose no endotélio vascular devido à deposição de placas de ateroma. A patogenia da calcificação distrófica ainda não está bem estabelecida; algumas teorias foram criadas em função dos fatores que regulam as calcificações normais, como a teoria dos sabões, aplicável para a ateroesclerose. Esses fatores geralmente implicam a formação exagerada ou a secreção aumentada de fostato de cálcio e carbonato de cálcio, os quais são responsáveis pela formação inicial dos núcleo de calcificação. Os mais bem estudados são: Fosfatase alcalina: Comumente observada nos processos normais de calcificação. Nos tecidos lesados é aumentada a sua liberação, o que facilita a formação de fosfato de cálcio. CALCIFICAÇÃO PATOLOGICA http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecom.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecal2.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecal3.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecal4.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecom.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecom.htm http://patoartenec.htm/ http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoarteles.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartedeg4.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecalA.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecal2A.htm LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL Alcalinidade: nos tecidos necrosados, a alcalinidade está aumentada, provocando uma diminuição da solubilidade do carbonato de cálcio. Este, agora menos solúvel, precipita-se mais facilmente. Presença de proteínas extracelulares: acredita-se que algumas proteínas, como o colágeno, possuem afinidade pelos íons cálcio, principalmente nos processos normais de calcificação. Em tecidos necrosados, essas proteínas podem estar "descobertas", mais livres para associação com o cálcio, estimulando a deposição destes sobre essa matriz protéica. Sendo comum em áreas necrosadas, portanto sem função, a calcificação distrófica não traz maiores conseqüências para o local. É, antes de tudo, um sinal da existência de uma lesão prévia. Se, porém, ocorrer em locais com funções com mobilidade (por exemplo, as articulações sinoviais), pode comprometer essa atividade. Além disso, sua presença nos casos de ateroesclerose provoca deformações nos vasos, induzindo à trombose. A calcificação distrófica pode estar presente no tecido pulpar com alterações regressivas. Essa situação é observada em casos de dentes com cáries, mal restaurados ou com doença periodontal. A calcificação nesses casos pode ser nodular ou difusa; em algumas situações, pode haver a formação de cálculos pulpares a partir desse núcleo inicial de calcificação distrófica. Clinicamente, a presença dessas calcificações no tecido pulpar podem levar a complicações irreversíveis, levando à extirpação total deste, como é o caso da figura ao lado CALCIFICAÇÃO METASTATICA “Calcificação heterotópica provocada pelo aumento da calcemia em tecidos onde não exista necessariamente lesão prévia”. calcificação metastática não tem sua causa primária fundamentada nas alterações regressivas teciduais, mas sim em distúrbios dos níveis sanguíneos de cálcio, ou seja, da calcemia. A calcificação metastática é originada de uma hipercalcemia. Essa situação pode ser devida à remoção de cálcio dos ossos (comum em situações de cânceres e inflamações ósseas, imobilidade, hiperparatireoidismo) ou à dieta excessivamente rica desse íon. Aumentando os níveis de cálcio, imediatamente a relação desse íon e o fosfato é desequilibrada, o que contribui para a combinação de ambos e para a sua posterior precipitação nos tecidos que entram em contato com essas altas concentrações calcêmicas. Os tecidos calcificados metastaticamente — como pulmão, vasos sanguíneos, fígado e mucosa gástrica — podem ter sua função comprometida. Entretanto, a situação de hipercalcemia é mais preocupante clinicamente do que a calcificação em si. http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoarteles.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecom2.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoarteles.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecal3A.htm LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL CALCULOSE OU LITÍASE “Calcificação em estruturas tubulares diferentes de vasos sangüíneos”. A calculose ou litíase não difere muito dos padrões de formação da calcificação distrófica. Sua particularidade reside no fato de se localizar em estruturas tubulares diferentes dos vasos sanguíneos, mantendo, ainda, a característica de heterotopia inerente às calcificações patológicas. A patogenia de formação dos cálculos se resume, iniciamente, na formação de um núcleo calcificado de forma distrófica; esse núcleo se desloca para a luz do ducto, onde cresce devido a sucessivas incrustrações ao redor de sua estrutura. Todo o mecanismo é facilitado pelos fatores já citados anteriormente, isto é, principalmente pela presença de pH alcalino e pela concentração de carbonato de cálcio e de fosfato de cálcio no local. A calculose pode levar à obstrução, à lesão ou à infecção de ductos, principalmente do pâncreas, da glândula salivar, da próstata e dos tratos urinário e biliar. SÍNDROME DE EAGLE (SÍNDROME ESTILOIDE; SÍNDROME DA ARTÉRIA CAROTÍDEA; ESTILALGIA) CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS A síndrome de Eagle afeta preferencialmente adultos. O paciente apresenta dor facial vaga, principalmente quando deglute, quando vira a cabeça ou abre a boca. Outros sintomas que podem estar presentes são disfagia, disfonia, otalgia, cefaleia, tontura e síncope transitória. O alongamento do processo estiloide ou a mineralização do complexo ligamentar estilo- hioideo pode ser observado na radiografia panorâmica ou radiografia lateral da mandíbula (Fig. 1-45). A mineralização do complexo ligamentar estilo- http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecal2.htm http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartecom2.htm LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL CALCIFICAÇÃO PULPAR A calcificação do tecido pulpar é uma ocorrência bastante comum. Embora as estimativas sobre a incidência deste fenômenovarie amplamente, é seguro dizer que uma ou mais calcificações pulpares estão presentes em pelomenos 50% dos dentes. Na poupa coronária, a calcificação geralmente ocorre na forma de cálculos pulpares discretos, enquanto na polpa radicular tende a ser difusa. Alguns altores acreditam que a calcificação pulpar é um processo patológico relacionado a varias formas de injurias ao passo que outros consideram-na um fenômeno natural. Apresentam-se em tamanho variados, desde partículas microscópicas ate formações mineralizadas que ocupam quase toda a câmara pulpar. Histologicamente, dois tipos de cálculos são reconhecidos: os esféricos ou ovoides com superfices lisas e laminações concêntricas e os que não apresentam formas especificas, carecem de laminações e tem superfícies irregulares. Ambos os tipos possuem uma matriz orgânica composta principalmente de fibras de colágenos, nas quais estão embutidos cristais de hidroxiapatita. Os cálculos laminados parecem crescer pela adição de fibras de colágeno à sua superfície, enquanto os cálculos não- laminados se desenvolvem através da mineralização de feixes de fibras colagens pré-formadas. Neste ultimo tipo a frente de mineralização parece expandir-se ao longo das fibras rudimentares, fazendo com que a superfície dos cálculos tenha aparência encrespada.frequentemente estes feixes de fibras rudimentares parecem ter sofrido hialinizaçao, assemelhando-se a uma cicatriz antiga no tecido. Os cálculos poupares que se formam em torno das células epiteliais (remanescentes da bainha radicular epitelial de Hertwig) denominam-se dentículos. Presumivelmente, os restos epiteliais induzem células mesenquimais adjacentes a se diferenciarem em odontoblastos. Estes cálculos pulpares são encontrados, de maneira característica, próximos ao radicular, e contêm túbulos dentinários. Com bastante frequência, observam-se pequenas mineralizações em associação com as paredes das arteríolas, mesmo em polpas normais de dentes jovens. Tais depósitos usualmente se projetam para fora da parede do vaso e não invadem o seu interior. A causa da calcificação pulpar é desconhecida. A calcificação pode ocorrer ao redor de um nicho de células em degeneração, trombos sanguíneos ou fibras colágenas. Muitos autores acreditam que isso representa um forma de calcificação distrófica. Nesse tipo, o cálcio e depositado nos tecidos na areal em que as alterações degenerativas estão ocorrendo. Quando as células degeneram, cristais de fosfato de cálcio podem nelas depositar-se, inicialmente no interior da mitocôndrias, devido LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL à elevada permeabilidade da membrana ao cálcio, resultante de uma deficiência em manter os sistemas de transporte ativos nas membranas celulares. Assim, as células em degeneração, que servem com um nicho, podem iniciar a calcificação de um tecido. Na ausência de degeneração tissular evidente, a causa de calcificação pulpar é inexplicável. É muitas vezes difícil atribuir o termo calcificação distrófica aos cálculos pulpares, uma vez que eles ocorrem com frequência em polpas aparentemente saudáveis.por exemplo, a calcificação pulpar foi relatada em dentes que não haviam irrompido, indicando que o esforço funcional não precisa estar presente para que ocorra a calcificação. Admite-se, com frequência, que a calcificação na polpa madura esta relacionada com o processo de envelhecimento. Todavia, em um estudo envolvendo 52 caninos impactados de pacientes entre 11 e 76 anos de idade, Nitzan e cols. constataram que os dentículos concêntricos demonstram uma incidência constante para todos os grupos etários, indicando não haver relação com a idade. As calcificações difusas, por outro lado, aumentaram em incidência ate os 25 anos e, daí em diante, permaneceram constantes. Apesar de, usualmente, o colágeno não se calcificar, não é absolutamente incomum encontrar calcificação no tecido de cicatriz antiga hialinizada na pele. Isso pode ser causado pelo aumento de magnitude da ligação crusada entre as moléculas de colágeno, pois presume-se que a ligação cruzada ampliada intensifica a tendência à calcificação das fibras de colágeno. Pode haver, portanto, uma relação entre as alterações patológicas nas moléculas de colágeno no interior da polpa e a calcificação pulpar. A calcificação difusa é encontrada com mais frequência na adventícia perivascular e paredes vasculares no interior da polpa radicular. Esta forma de calcificação pulpar intensifica-se com a idade e parece acompanhar a diminuição na vascularidade e inervação, fatores que, talvez, representam as alterações na polpa provocadas pela idade. A calcificação substitui os componentes celulares da polpa e pode atrapalhar o suprimento sanguíneo, porém, não existem evidencias a respeito. A dor tem sido frequentemente atribuída à presença de cálculos pulpares; porém, em virtude da calcificação ocorrer com frequência em polpas patologicamente envolvidas, é difícil estabelecer uma relação de causa e efeito, sobreudo porque os cálculos pulpares são frequentemente observados em dentes que não apresentam história de dor. (Talvez a sua maior importância endodôntica seja o fato de dificultarem a instrumentação do canal radicular.) SIALOLITÍASE (TAMBÉM CHAMADO DE CÁLCULO SALIVAR OU PEDRAS SALIVARES): LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL Conceito: Os sialólitos são estruturas calcificadas que se desenvolvem dentro do sistema ductal salivar. Os pesquisadores acreditam que eles surgem através da deposição de sais de cálcio ao redor de um ninho de debris na luz do ducto. Os debris podem incluir um muco espesso, bactéria, células do epitélio do ducto ou corpos estranhos. A causa dos sialólitos é incerta, mas, sua formação pode ser provocada pela sialadenite crônica e pela obstrução parcial. Seu desenvolvimento não está relacionado a nenhum transtorno sistêmico do cálcio ou do metabolismo do fósforo. Características Clínicas:Na maioria das vezes o sialólito se desenvolve dentro do sistema ductal da glândula submandibular. A formação das pedras dentro do sistema da glândula parótida é caracteristicamente menos frequente. O longo, tortuoso e ascendente ducto da glândula submandibular (Wharton), bem como a sua secreção mucóide e espessa, podem ser responsáveis pela maior tendência de formação de cálculo salivar. Os sialolitos também podem se formar dentro das glândulas salivares menores, mais comumente nas glândulas do lábio superior e da mucosa jugal. Os cálculos salivares podem ocorrer em qualquer faixa etária, porém, ocorrem mais comumente em adultos jovens e de meia-idade. A sialolitíase das glândulas salivares maiores com muita frequência causa episódios de dor ou aumento de volume na glândula afetada, particularmente durante as refeições. A gravidade dos sintomas é variada, dependendo do grau de obstrução e da quantidade de pressão negativa resultante produzida dentro da glândula. Se o cálculo estiver localizado próximo à porção terminal do ducto, um aumento de volume duro pode ser palpado logo abaixo da mucosa. Características Radiográficas:Ao exame radiográfico, a sialolitíase tipicamente se apresenta como uma massa radiopaca. Entretanto, nem todos os sialolitos são visíveis em radiografias convencionais provavelmente devido ao grau de calcificação de algumas lesões. Tais lesões podem ser descobertas em qualquer localização ao longo do ducto ou dentro da própria glândula. Aumento de volume duro no orifício do ducto de Wharton. LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL As pedras na porção terminal do ducto submandibular são mais bem demonstradas com radiografias oclusais. Nas radiografias panorâmicas ou periapicais, a calcificação pode aparecer superposta à mandíbula, e deve-se tomar muito cuidado para não confundi-las com lesões intraósseas (Fig. 11- 15). Múltiplaspedras na parótida podem mimetizar radiograficamente linfonodos parotídeos calcificados, como os observados na tuberculose. A sialografia, a ultrassonografia e a tomografia computadorizada podem ser úteis no estudo imaginológico da sialolitíase. A sialolitíase das glândulas salivares menores geralmente é assintomática, mas pode produzir aumento de volume local ou dor na glândula afetada. Aumento de volume radiopaco localizado no ângulo esquerdo da mandíbula. Radiografia periapical mostrando uma discreta radiopacidade (seta) superposta ao corpo da mandíbula. Deve-se ter muito cuidado para não confundir tais lesões com patologias intra-osseas. Radiografia oclusal do mesmo paciente demonstrando o cálculo radiopaco no ducto de Wharton. LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL Pequena radiopacidade geralmente pode ser demonstrada através de uma radiografia bem contrastada para tecido mole. Características Histopatológicas Na análise macroscópica, o sialolito se apresenta como duros aumentos de volume de formato arredondado, oval ou cilíndrico. Tipicamente, apresentam coloração amarelada, embora possam ser brancos ou marrons-amarelados. Os sialolitos submandibulares tendem a serem maiores quando comparados aos da glândula parótida ou das glândulas menores. Os sialolitos usualmente são solitários, embora ocasionalmente duas ou mais pedras possam ser descobertas durante a cirurgia. Microscopicamente, os aumentos de volume calcificados exibem laminações concêntricas que podem circundar um ninho amorfo de debris (Fig. 11-17). Caso o ducto associado também seja removido, geralmente ele irá exibir uma metaplasia escamosa, oncocítica ou mucosa. Também é evidente a inflamação periductal. A obstrução ductal está frequentemente associada a uma sialadenite aguda ou crônica da glândula associada. Tratamento e Prognóstico Sialolito na glândula salivar menor apresentando-se como um aumento de volume endurecido no lábio superior. Radiografia do tecido mole da mesma lesão revelando um aumento de volume calcificado concêntrico. Aumento de volume calcificado intraductal exibindo calcificações concêntricas. O ducto exibe metaplasia escamosa. LEONARDO DE SOUZA LIMA @LSLREAL Os sialólitos pequenos das glândulas maiores podem, algumas vezes ser tratados de forma conservadora com massagens na glândula e esforço para expelir a pedra através do orifício do ducto. Os sialogogos (drogas que estimulam o fluxo salivar), a aplicação local de calor e o aumento da ingestão de líquidos também podem promover a saída da pedra. Os sialólitos grandes usualmente necessitam de remoção cirúrgica. Caso ocorra um dano inflamatório significativo dentro da glândula, esta também deverá ser removida. Os sialólitos das glândulas salivares menores são mais bem tratados por excisão cirúrgica, incluindo a glândula associada. A litotripsia de ondas de choque (extracorpórea ou intracorpórea), a endoscopia da glândula salivar e a remoção guiada radiograficamente são técnicas novas que têm se mostrado efetivas na remoção dos sialólitos das glândulas salivares maiores. Estas técnicas são minimamente invasivas, têm baixa morbidade e podem impedir a necessidade da remoção da glândula.