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CAPÍTULO 3 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender a importância da preparação física, técnica, tática e psicológica para atletas das modalidades coletivas; Planejar o treinamento de acordo com as competências dos jogadores dos esportes coletivos em seus aspectos físicos, técnicos, táticos e psicológicos. 78 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos 7979 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo determina as competências do jogador nos quatro aspectos fundamentais para a formação completa de um jogador para os esportes coletivos. Neste momento acontece um aprofundamento detalhado das competências física, técnica, tática e psicológica e suas particularidades, dentro de sugestões ordenadas para cada competência. Na proposta deste Caderno, veremos as quatro competências de maneira distinta e resumida. Fatores de evolução física, técnica, tática e psicológica são discutidos aqui, lembrando que cada fator tem infl uência no seguinte, sendo um complemento ou compensação do outro de acordo com as necessidades de evolução para o esporte ou em situações específi cas de jogo. COMPETÊNCIAS DO JOGADOR DE ESPORTES COLETIVOS Para atingir o alto nível esportivo, o jogador demanda vários anos de prática, inúmeras repetições de um fundamento, grande capacidade criativa e inteligência tática, além de ter o biotipo adequado à função em quadra ou campo. Deve ter tido um bom treinador, apoio da família, condições educacionais e fi nanceiras. Aspectos sociais, como a interação, o trabalho em grupo e obtenção de performance em união, também são exigências de personalidade dos melhores atletas. O jogador completo deve ter a sua formação baseada na relação ideal de quatro competências (Competências Técnicas, Táticas, Físicas e Psicológicas). Cada um destes fatores abrange situações que infl uenciam no aprendizado e desenvolvimento completo do jogador. Essas exigências estão determinadas e divididas propriamente no auxílio do entendimento de cada passo a ser adquirido e observado para a consolidação de uma preparação completa e ideal. Para entender, de forma visual, quais são as competências dos jogadores de esportes coletivos, defi nimos os quatro aspectos que devem ser considerados na formação. A fi gura a seguir exemplifi ca as funções e competências básicas de um jogador completo: Competências Técnicas, Táticas, Físicas e Psicológicas. 80 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Figura 9 - Competências básicas de um jogador Fonte: O autor. Todos os aspectos da formação (física, técnica, tática e psicológica) são importantes, e a falta de aprofundamento em um deles poderá rotular o jogador como despreparado ou limitado em sua carreira futura. Essas competências estarão melhor defi nidas na sequência deste capítulo. Para entender a fi gura 9, você precisa defi nir quais as características de cada esporte e, assim, as competências dos jogadores para o esporte. Atividade de Estudos: 1) Considerando a fi gura anterior, sobre as competências do jogador completo, preencha a fi gura abaixo de acordo com o seu esporte e as quatro competências presentes no esporte escolhido. Instruções de preenchimento - Identifi que e classifi que na fi gura a seguir as: 1) competências físicas (Capacidades físicas mais importantes); 2) as táticas individuais e coletivas apresentadas (caracterizadas no seu esporte); 3) os 8181 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 fundamentos do esporte; 4) os aspectos psicológicos mais relevantes para um jogador completo para o seu esporte. Assim, preencha os espaços: A PREPARAÇÃO FÍSICA PARA OS ESPORTES COLETIVOS A preparação física é a parte mais importante do treinamento desportivo, pois desenvolve as capacidades físicas necessárias e inerentes aos esportes e pode transformar jogadores comuns em grandes atletas. A preparação física serve de base para a evolução dos atletas, uma vez que dá condição para o desenvolvimento das capacidades físicas que interferem diretamente no progresso das habilidades técnicas, consciência tática e segurança psicológica que o atleta deve possuir para competir com efi ciência e efi cácia. A evolução técnica depende da condição física do jogador. Quanto mais apurado seja o nível em que se atua, mais importante será a elevação de sua condição física. A falta de condição física ideal interfere na execução 82 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos dos fundamentos, na manutenção do nível técnico e tático alto durante os treinamentos e partidas, e diminui o poder de atenção e percepção. Capacidades motoras são as primeiras a serem trabalhadas nos iniciantes. Exercícios variados, inicialmente sem a bola, que desenvolvam a agilidade, os deslocamentos, são importantes na postura básica do jogador e no desenvolvimento posterior da posição de expectativa e de outros fundamentos do jogo. Nas idades iniciais, os exercícios com objetivos de promover a capacidade orgânica não precisam ser necessariamente cansativos ou monótonos. Pelo contrário, o treinador deve fazer uso de jogos e atividades recreativas com e sem bola para desenvolver a qualidade física de maneira natural e interessante para o iniciante. Nas fases iniciais de desenvolvimento, a preparação física é importante, porém menos signifi cante do que nas fases de adulto ou alto rendimento. A maioria das equipes menores tem um tempo semanal reduzido de treinamentos e procura utilizá-lo essencialmente na preparação técnica e tática, deixando em segundo plano a preparação física. Esta é uma decisão inteligente, uma vez que normalmente as partidas das categorias menores são disputadas em menor tempo. O jogo é mais lento e pausado, não exigindo enormes esforços. Algumas federações estabelecem em regra que as equipes devem utilizar vários jogadores durante a partida. Esta rotatividade oportuniza o esporte para mais crianças e, ao mesmo tempo, descansa outras (MÜLLER, 2009). Os atletas dos esportes coletivos utilizam várias capacidades físicas, de acordo com as características de cada esporte. Weineck (1999) divide as capacidades em coordenativas ou condicionais, sendo as capacidades condicionais referentes aos processos energéticos e as coordenativas se referem às reguladoras do sistema nervoso central (SNC). O autor ainda aponta que a capacidade de desempenho esportivo se manifesta por meio de uma sequência de movimentos, signifi cando que a qualidade está relacionada aos aspectos coordenativos (SNC) e a quantidade está relacionada aos aspectos condicionais (sistema energético). A Figura 10, a seguir, apresenta um resumo das capacidades condicionais e coordenativas na visão de Gundlach (1968), Weineck (1999) e Dantas (2003). Capacidades em coordenativas ou condicionais. Qualidade está relacionada aos aspectos coordenativos (SNC) e a quantidade está relacionada aos aspectos condicionais (sistema energético). 8383 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Figura 10 - Capacidades condicionais e coordenativas Fonte: Adaptado de Gundlach (1968), Weineck (1999) e Dantas (2003). Diferente de esportes em que existe apenas uma capacidade predominante, como a velocidade na prova de 100 metros do atletismo, ou a resistência aeróbica como predominante na maratona, os esportes coletivos agregam várias capacidades, tanto coordenativas quanto condicionais. 84 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Para treinar uma equipe, você deve conhecer as exigências físicas específi cas do seu esporte e da posição de cada jogador. Para que alcanceeste patamar, o esporte em questão deve ser analisado e as capacidades físicas entendidas em mais ou menos importantes e inclui-las na periodização. Dentro da periodização, você pode dividir o treinamento físico em fases distintas, na busca de um resultado aprimorado ao longo da temporada. Para Plantonov e Bulatova (2003), a preparação física se divide da seguinte forma: • Preparação física geral: Abrange as qualidades motoras essenciais, tais como: aumentar os níveis de resistência, força, aprimorar a velocidade, melhorar a fl exibilidade e a coordenação, obtendo, assim, um desenvolvimento integral para a modalidade em questão. • Preparação física específi ca: Procura desenvolver as qualidades específi cas de acordo com as exigências intervenientes da modalidade, como, por exemplo: tempo de reação, equilíbrio, aumento da massa muscular, força específi ca como potência, resistência muscular, entre outras. Assim, a preparação geral melhora os níveis cardiopulmonar e neuromuscular, enquanto a preparação específi ca ajuda o jogador a condicionar-se às exigências impostas durante o jogo, além de manter ou melhorar os níveis de habilidades técnicas/táticas. Para entendermos um pouco mais sobre as características/capacidades de cada esporte e, ainda, de cada posição, devemos utilizar ferramentas que nos ajudem a melhor compreender o esporte. Essas ferramentas estão disponíveis na forma de testes e avaliações, além da observação da modalidade escolhida. Bompa (2005) indica que para perceber quais capacidades devem ser treinadas, o treinador deve avaliar o esporte em questão por meio de padrões de análise, que devem considerar: a) Análise do tempo-movimento – analisar as características predominantes do esporte, como os deslocamentos, corridas lentas ou velozes, saltos, quedas e, em especial, os fundamentos técnicos de cada posição ou do esporte como um todo. A partir disso, entender quais são as exigências maiores em relação ao consumo energético, ou a Ergogênese (colapso energético). Por exemplo: Qual o sistema energético predominante em cada modalidade como um todo e para cada posição em campo ou quadra? A partir disso, entender quais são as exigências maiores em relação ao consumo energético, ou a Ergogênese (colapso energético). 8585 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Tabela 1 - A ergogênese dos esportes coletivos em percentual de utilização ERGOGÊNESE PROPORÇÃO DE UTILIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENERGIA EM PERCENTUAL (%) Sistema Energético/ Desporto Sistema Alá- tico Sistema Lático Sistema Aeróbico Basquetebol 30% 40% 30% Futebol 15% 15% 70% Futsal 30% 30% 40% Handebol 20% 30% 50% Voleibol 40% 10% 50% Fonte: Adaptado de Bompa (2005). A Tabela 1 apresenta uma noção global da utilização energética nos esportes coletivos. Como exemplo e melhor entendimento, a Tabela 1 considera o futebol como um esporte de predominância aeróbica, devido a duração longa de uma partida e, também, um esporte de características anaeróbicas láticas, devido a momentos de intensidade alta e de curta duração, como um contra- ataque. Já o Quadro 13 apresenta as características por posição, no qual os jogadores têm algumas características em comum, mas também existem particularidades que devem ser treinadas de forma específi ca. Quadro 13 - O sistema de energia dominante por posição no futebol POSIÇÃO ATP/CP Ácido Lático Oxigênio Goleiro X Defensor X X Meio-campista X X Atacante X X X Fonte: Bompa (2005). b) A distância percorrida por jogo – Específi ca por posição e pelas características de cada esporte. Bompa (2005) continua no futebol, como exemplo, e descreve que um meio-campista irá correr de 10km a 15km por jogo, enquanto um zagueiro difi cilmente irá correr mais do que 8km, passando pelo goleiro para o qual correr não é uma característica da posição. No basquete, o pivô irá correr maiores distâncias entre as 86 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos extremidades da quadra, em que deve defender e atacar “dentro” do garrafão, enquanto o armador irá correr no centro da quadra em distâncias totais menores. c) A intensidade do jogo – Este fator está ligado às qualifi cações dos jogadores. Quanto mais alto o nível da competição, maior a intensidade do jogo. O ritmo do jogo, o nível de condicionamento dos jogadores, a temperatura, a altitude e a umidade do ar são fatores que interferem no estresse fi siológico. A alta intensidade do jogo é percebida pela perda de peso dos atletas (de 1 a 2kg), a frequência cardíaca excedendo a 180bpm e a concentração de ácido lático no sangue em níveis de 8 a 12mmol. d) Fontes de energia – Na maioria dos esportes coletivos utilizamos as três fontes de energia, o aeróbico (intensidade leve ou moderada, com longa duração) e o anaeróbico, que se divide em alático (intenso e muito curto, até cerca de 20 segundos de execução e não tendo a produção de ácido lático como produto fi nal) e o lático (intenso e curto, de 10 segundos até 2 minutos, tendo a produção de ácido lático como produto fi nal). Em situações de intensidade máxima e pouco tempo de execução, como um salto, utilizamos o sistema alático ou fosfogênio. Quando a intensidade é submáxima e a duração maior, de 30 segundos a 2 minutos (um longo rali no vôlei, utilizamos o sistema anaeróbico lático, com grande presença de ácido lático, que causa fadiga acentuada, mas que tem recuperação rápida). Quando mantemos o movimento prolongado, de forma contínua e com baixa ou média intensidade, aumentamos o consumo de oxigênio e, portanto, utilizamos o sistema aeróbico. e) Capacidades físicas dominantes – Além das capacidades aeróbicas e anaeróbicas, os jogadores de esportes coletivos utilizam e devem desenvolver capacidades físicas inerentes à sua prática. Essas capacidades, também chamadas de intervenientes, devem ser defi nidas e separadas para o treinamento diário, de acordo com as necessidades de cada esporte. Resta a você determinar quais capacidades o seu esporte exige de forma imprescindível e como e quando se deve treiná- las. Posteriormente, neste capítulo, apresentaremos as capacidades intervenientes para melhor entendimento. É importante percebermos que todos os sistemas energéticos ou as qualidades físicas dominantes podem ser treinadas, tanto dentro da periodização, na fase de preparação física de forma geral, como também na fase de preparação específi ca. 8787 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Ótimos livros sobre preparação física nos esportes coletivos: BOMPA. T. Treinando atletas de desporto coletivo. São Paulo: Phorte. 2005. WEINECK, J. Treinamento ideal. Tradução de Beatriz Maria Romano Carvalho. São Paulo: Manole. 1999. AS CAPACIDADES FÍSICAS INTERVENIENTES Os esportes coletivos possuem características em comum em relação às qualidades ou capacidades físicas e que devemos catalogar. Para o nosso propósito, devemos defi nir quais são as principais CF mais presentes nos esportes coletivos. Assim, Dantas (2003) relaciona e defi ne as principais encontradas em comum nas modalidades como futsal, futebol, handebol, basquetebol e o voleibol, que são: • Agilidade – Qualidade física que permite a mudança de direção do movimento ou a posição do corpo em menor tempo possível. • Velocidade – Capacidade de executar uma ação no menor tempo possível. Velocidade nos esportes coletivos é necessária em ambas as formas: Velocidade ou Tempo de Reação compreende a resposta a um estímulo e a Velocidade de Movimento compreende a rapidez de execução de uma contração muscular. • RML – A Resistência Muscular Localizada refere-se à capacidade de um músculo ou grupo muscular de suportar repetidas contrações. • Resistência Anaeróbica – Capacidade que possibilita o organismo a exercícios de alta intensidade em pequena duração. Alta intensidade físicaentre saltos e deslocamentos em um tempo curto e que raramente ultrapassam a 40 segundos de duração. • Resistência Aeróbica – Capacidade que possibilita o organismo a exercícios de intensidade baixa ou moderada em um longo tempo de duração. • Força Explosiva – Força é a principal exigência física do atleta no voleibol moderno. Força é uma qualidade que permite o músculo ou grupo muscular de opor-se a uma resistência. Força Explosiva é a combinação entre força e velocidade. • Equilíbrio – Capacidade de manutenção da projeção do centro de gravidade dentro da área de superfície de apoio. Equilíbrio Dinâmico é 88 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos aquele mantido durante o movimento (O deslocamento da passada de ataque) e o Equilíbrio Recuperado é o que se situa no ponto que ocorre a transição entre o repouso e o movimento ou vice- versa. • Flexibilidade – Qualidade física expressa pela maior amplitude possível do movimento voluntário de uma articulação ou articulações num determinado sentido. Quando treinamos um esporte, devemos considerar quais são as qualidades ou capacidades físicas (CF) com que devemos nos preocupar e treinar de forma mais específi ca e quais não devemos considerar. Dantas (2003) descreve que para cada esporte temos as CF que são Imprescindíveis (IP), Importantes (IM), Secundárias (S) ou, ainda, Não Participa (NP). Resta a nós relacionarmos quais das CF do esporte em que atuamos irão interferir na performance de forma IP (devo treiná-las em maior volume e intensidade), de forma IM (devo treiná-las, mas sem muita intensidade ou dependendo da necessidade do grupo de atletas disponíveis) e de forma S (não devo me preocupar com estas capacidades). Exemplifi cando de modo simples e sem considerar o nível dos jogadores disponíveis: Se o meu esporte coletivo, como o futsal, possui características de gasto energético predominantemente aeróbico, mas com momentos anaeróbicos, além de várias repetições de um movimento (corridas ou passes), devo considerar a Resistencia Aeróbica/Anaeróbica e a Resistência Muscular Localizada (RML) dos membros inferiores e prepará- los para o alto número de repetições, como imprescindíveis. Posso trabalhar a Força Explosiva como Importante, para melhora do chute e não preciso trabalhar o Ritmo, considerado, neste exemplo, como uma CF Secundária. A partir da avaliação precisa de quais CF serão treinadas de forma IP, IM ou S, devemos considerar a proporção de tempo para cada uma delas. Nesta parte, devemos, ainda, determinar a localização exata do gesto desportivo principal, segmento corporal ou grupo muscular, no desporto considerado, para, então, preparar uma série de treinos para este segmento, respeitando, assim, o princípio da especifi cidade no treinamento desportivo. Dantas (2003) demonstra a importância do estudo detalhado do desporto no planejamento da preparação física por meio do seguinte esquema: Imprescindíveis (IP), Importantes (IM), Secundárias (S) ou, ainda, Não Participa (NP). 8989 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Figura 11 - Estudo detalhado do desporto como base do planejamento da preparação física Fonte: Dantas (2003). As CF intervenientes podem ser percebidas pela avaliação e conhecimento do esporte. Além disso, podemos utilizar uma tabela para classifi car as CF do esporte em forma de scout. Dantas (2003) sugere que se faça um controle por meio de uma tabela, preenchendo-a com as CF a serem treinadas. No Quadro 14, a seguir, há uma sugestão de identifi cação das CP utilizando o Polo Aquático como exemplo: Quadro 14 - Identifi cação das qualidades físicas intervenientes no Polo Aquático CAPACIDADES FISICAS Membros Superiores Membros Inferiores Tronco Geral Forma Física PreparaçãoNeuromuscular Flexibilidade Força Dinâmica Força Estática Força Explosiva IM IP RML IP IP 90 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Preparação Cardiopulmonar Resistência Anaeróbica IM Resistência Aeróbica Habilidade Motora Velocidade Movimento IP IP Velocidade Membros IP Velocidade Reação IP Agilidade IP Equilíbrio S Descontração S Coordenação IP (IM) Imprescindível (IP) Importante (S) Secundaria Fonte: Dantas (2003). Assim, levando em conta o exemplo acima, o treinador deverá treinar de forma mais consistente a capacidade anaeróbica e a força explosiva de membros superiores. Também deverá treinar de forma prioritária as três velocidades, a agilidade, a RML e a coordenação. E deverá treinar, mas sem muita ênfase, o equilíbrio e a descontração. Atividade de Estudos: 1) Diante do que foi estudado sobre diagnóstico das CP para os esportes, preencha o quadro abaixo de acordo com o seu esporte e as qualidades físicas intervenientes. Instruções de preenchimento – Fazendo um estudo detalhado do seu esporte, identifi que e assinale no quadro abaixo a correspondência das CP e a sua importância no esporte que você escolheu. Assinale “IM” para as CP Imprescindíveis, “IM” para as CP Importantes, “S” para as Secundárias e “NP” para as Não Participa: 9191 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 PREPARACAO FÍSICA CAPACIDADES FÍSICAS MembrosSuperiores Membros Inferiores Tronco Forma Física Preparação Neuromuscular Flexibilidade Força Dinâmica Força Estática Força Explosiva RML Preparação Cardiopulmonar Resistência Anaeróbica Resistência Aeróbica Habilidade Motora Velocidade Movimento Velocidade Membros Velocidade Reação Agilidade Equilíbrio Descontração Coordenação A própria característica dos treinamentos com bola, que exigem uma demanda física de atletas, pode ser enquadrada como parte da preparação física, fi cando a critério dos treinadores o controle de seu volume e intensidade, de acordo com as fases de preparação defi nidas na periodização da equipe. 92 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Por outro lado, na musculação podem-se criar exercícios com carga que repetem o gesto técnico exigido, que além de trabalharem os grupos musculares específi cos, contribuem na melhora da própria técnica necessária, uma vez que são executados dentro de uma cinesiologia ideal. Na musculação igualmente se pode trabalhar o fortalecimento muscular para grupos musculares específi cos com o intuito da prevenção às lesões de over use (lesões de fadiga causadas por excessos de repetição) ou na recuperação articular e muscular individual, tão comum aos atletas de handebol, futebol, basquetebol e voleibol, como ombros, cotovelos, coluna, joelhos e tornozelos. O fator preventivo é considerado imprescindível na busca da formação de jogadores em longo prazo. Over use é o excesso de movimento realizado pelo mesmo grupo muscular e que pode levar à fadiga. Outra preocupação importante é a segurança em treinamentos físicos ou técnicos para proteger os atletas das lesões por acidente ou por over use. Para tanto, é prudente utilizar-se de meios de análise e acompanhamento corretivos. Por exemplo, quando da postura na execução de um exercício na musculação (ergonomia), a análise do movimento (cinesiologia) na educação ou reeducação do gesto desportivo para preservar uma ou várias articulações. Além dos detalhes citados acima, é dever do treinador proteger seus atletas com aconselhamentos da importância da proteção para o esporte (tênis adequados e proteções como tornozeleiras, joelheiras, munhequeiras) ou com a utilização dos espaços e materiais adequados para os trabalhos técnicos ou físicos, como o piso apropriado, tapetes para saltos, boa iluminação, ventilação e limpeza. Os esportes coletivos solicitam esforços repetitivos e a boa dosagem destes pode preservar aspectos físicos e psicológicos dos jovens atletas. É coerente respeitar a evolução física do jogador e pensar em longo prazo. Com a intençãode melhorar suas equipes, alguns treinadores e preparadores físicos extrapolam nos conceitos fundamentais do treinamento desportivo, ultrapassando os limites da condição física. Nas fases iniciais, o trabalho físico mal orientado ou descomedido pode levar à fadiga, ao over training e ao consequente desinteresse do jovem jogador pelo esporte. Muitos jovens talentos têm seu futuro comprometido e até interrompido pela precocidade das sobrecargas nos treinamentos (CORDEIRO, 1997). 9393 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Over training é o excesso de treinamento que pode causar lesões e estresse mental. Vimos, aqui, que a preparação física pretende aprimorar os aspectos físicos, essenciais ao desempenho esportivo, mas sempre dentro dos limites de cada ser humano, para que tenhamos sucesso em longo prazo e não abreviarmos as carreiras em virtude dos excessos cometidos devido ao over training. Agora que vimos detalhes fundamentais sobre a preparação física, iremos destacar os aspectos técnicos no próximo assunto. A PREPARAÇÃO TÉCNICA PARA OS ESPORTES COLETIVOS Os fundamentos dos esportes são executados de forma a respeitar uma técnica específi ca. Assim, a técnica é a maneira pela qual uma habilidade é desempenhada e a qualidade deste desempenho tem se relaciona com a efi ciência do jogador e da equipe. Bompa (2005) determina que a técnica diferencia um jogador de outro, além de ser um conjunto de procedimentos que, por meio de forma e conteúdo, assegura e facilita o movimento para determinada função ou utilização no esporte. De acordo com Cordeiro (1996), técnica é uma conduta objetiva e econômica para obtenção de um alto rendimento. Mais do que isso, a técnica, na busca de um modelo considerado ideal, deve ser objetivo principal no treinamento de futuros jogadores e no aperfeiçoamento contínuo de jogadores mesmo em alto nível. Os iniciantes devem entender isso como um princípio de treinamento evolutivo e terem a condição de perceber a execução de suas técnicas condicionadas a um padrão ideal para uma correção posterior. Não raramente jogadores de alto rendimento percebem seus defeitos técnicos logo após a execução de uma determinada ação, sem a necessidade da intervenção do treinador. Esse princípio deve ser explorado na iniciação sempre que possível, para que o jogador entenda desde cedo a importância do gesto técnico bem executado e suas variáveis. O conhecimento técnico deve ser discutido com os jogadores para que se transforme num hábito na busca da autocorreção, viabilizando a evolução e o entendimento do jogo. Os detalhes técnicos de determinado fundamento devem ser ensinados após a execução básica deste. Por exemplo, inicialmente o jogador de futsal deve executar um domínio da bola com o pé, após o passe próximo de maneira ideal, para, depois, aumentar a distância do passe e executar o domínio e, A técnica é a maneira pela qual uma habilidade é desempenhada e a qualidade deste desempenho tem se relaciona com a efi ciência do jogador e da equipe. A técnica, na busca de um modelo considerado ideal, deve ser objetivo principal no treinamento de futuros jogadores e no aperfeiçoamento contínuo de jogadores mesmo em alto nível. 94 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos assim, sucessivamente, até realizar o domínio com outras partes do corpo com a bola recebida no chão, a meia altura ou alta. Bompa (2005) explica que a técnica de jogo pode ser utilizada como um sistema de movimentos e habilidades integrados e automatizados, usado para atingir um objetivo técnico, tanto ofensivo quanto defensivo. Para melhor entender a técnica, sua importância e utilização nos esportes, devemos primeiramente defi nir alguns termos relacionados à técnica, a partir de Bompa (2005): • Elementos Técnicos – partes fundamentais que constituem toda a técnica usada nos esportes e dentro das regras. Exemplo: driblar, chutar, roubar a bola; • Procedimentos Técnicos – são as diversas maneiras de executar um elemento técnico. Por exemplo: o arremesso do basquete é um elemento técnico, porém o arremesso com salto e a bandeja são procedimentos técnicos derivados de um elemento técnico. Os procedimentos técnicos podem ser divididos em ações motoras simples ou complexas: – Procedimentos técnicos simples – Procedimentos de aprendizado e execução simples, como o lance livre no basquete, o pênalti no futebol ou a rebatida no beisebol, e têm em comum três partes distintas: 1) posição inicial; 2) ação técnica e 3) posição fi nal; – Procedimentos técnicos complexos – combinam vários fatores e movimentos dentro de uma técnica. São mais difíceis de aprender e executar, pois envolvem variáveis como o adve rsário, a velocidade da bola, etc. Exemplo: driblar, chutar em deslocamento; • Habilidades de velocidade baixa – realizadas lentamente na busca de uma melhor solução tática, para uma posterior velocidade alta; • Habilidades de velocidade alta – realizadas com baixa amplitude, mas grande explosão, especialmente para surpreender o adversário. Esta habilidade depende taticamente: 1) do tempo e percepção espacial; 2) rapidez e 3) domínio da habilidade; • Fintas – habilidades técnicas individuais usadas com a intenção de enganar ou confundir o adversário, tanto no ataque quanto na defesa. Usadas para superar uma marcação e podem ser realizadas com bola ou sem bola. Cardinal (1995 apud CORDEIRO, 1997) determina que os ensinamentos técnicos devem seguir um esquema operacional no qual as etapas de treinamento, seus conteúdos, condições, meios e exigências de tarefas de cada etapa respeitem uma proposta sequencial para o desenvolvimento dos jogadores para a competição, sugerindo nesta ordem: 9595 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 • Ensino da mecânica de um fundamento; • Estabilização de um fundamento; • Desenvolvimento da inteligência tática; • Integração do jogador / utilização do fundamento no sistema de jogo; • Monitorização da efi ciência do fundamento na competição (scout). Por outro lado, Weineck (1999) sugere que o aprendizado das técnicas esportivas seja dividido em quatro fases distintas: 1. Fase de Informação e Aquisição – Fase inicial em que o jogador tem o primeiro contato com a técnica a ser aprendida e desenvolve os requisitos básicos para a execução. A boa aquisição da técnica é infl uenciada por: a. Sua experiência motora anterior (repertório motor); b. Seu nível inicial de coordenação motora; c. Sua capacidade de observação, compreensão e correção do movimento. 2. Fase da Coordenação Grosseira – Fase na qual acontece a experiência inicial da execução prática e por informações verbais simples. Ao fi nal desta fase, o jogador deve absorver o movimento, pelo menos de forma ampla ou grosseira. Os principais erros percebidos nesta fase e que demandam correção importante para o desenvolvimento da técnica são: a. Emprego excessivo da força; b. Problemas rítmicos; c. Execução não fl uente (aos trancos); d. Movimentos insufi cientemente abrangentes; e. Velocidade não adequada (demasiadamente lento ou muito rápido); f. Falta de precisão. 3. Fase da Coordenação Fina – Fase onde se busca a melhoria da técnica executada com precisão. Maior compreensão das informações verbais e o aumento da precisão dos movimentos. Os principais fenômenos observados são: a. Mobilização adequada da força; b. Ritmo e abrangência adequados; c. Fluência dos movimentos. 4. Fase de Fixação, Complementação e Disposição dos Movimentos – Fase onde a utilização das técnicas é feita com perfeição e em situações pouco habituais. O movimento é realizado com: a. Precisão; b. Constância; c. Harmonia. A preparação técnica segue as fases de desenvolvimento que foram sugeridas aqui por meio dos cuidados com o aprendizado de forma 96 Treinamento Aplicado aosEsportes Coletivos pedagógica, ou seja, do simples ao mais complexo. Estas fases também foram apresentadas no capítulo 1 deste Caderno e devem ser revistas. Continuamos o assunto, destacando a formação de jogadores para os esportes coletivos, só que agora em seus aspectos táticos. A PREPARAÇÃO TÁTICA PARA OS ESPORTES COLETIVOS Tática é uma das capacidades fundamentais dos jogadores dos esportes coletivos e parte importante das características do próprio esporte, merecendo defi nições a seu respeito. Tática é a capacidade que um jogador deve ter na aplicação de suas funções e atribuições, nas variáveis situações que acontecem em uma partida. Greco (1998) explica que o desenvolvimento das capacidades táticas serve de base ao atleta na busca de soluções para as tarefas-problemas que a situação do jogo exige, sendo que a capacidade de solucionar situações-problema depende das capacidades coordenativas. A tática pode ser defi nida também como o repertório de ações ou recursos que o jogador utiliza e possui. Quanto maior o repertório de ações e mais recursos, maiores serão suas chances de sucesso (BOJIKIAN, 2002). Com a combinação entre as habilidades técnicas, físicas, táticas e psicológicas, o jogador terá a condição de “ver” e “ler”, em uma percepção completa, ilimitada e criativa, as opções que o jogo proporciona. Ele pode perceber e antecipar situações específi cas e isso só é possível devido à avançada inteligência tática dos jogadores. “Ver” detalhes para “ler” o que irá acontecer e antecipar. Existe a tática coletiva e a tática individual. Ambas devem ser assimiladas pela equipe e por cada componente dela. Por exemplo: Um jogador de voleibol, em um ataque, utiliza a técnica da cortada, que exige capacidades físicas, como força explosiva para saltar e para atacar a bola com velocidade de membros. Porém este jogador deve ter a condição de decidir “onde”, “como” e “por que” irá atacar. Para tomar a decisão este jogador precisa ter desenvolvido sua capacidade tática individual. A situação leva em consideração a ação adversária (bloqueio e posição de defesa) e a decisão se torna tática e não apenas física ou técnica. Por sua vez, a equipe está utilizando um sistema coletivo (recepção e ataque) para que o atacante possa atacar com maiores chances de sucesso. Esta condição está relacionada com a tática coletiva. Tática é a capacidade que um jogador deve ter na aplicação de suas funções e atribuições, nas variáveis situações que acontecem em uma partida. Jogador deve ter a condição de decidir “onde”, “como” e “por que” irá atacar. 9797 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Durante a partida, a aplicação do plano de jogo depende de componentes táticos de defesa e de ataque. Colibaba e Bota (1997 apud BOMPA, 2005) sugerem que o treinamento do plano de jogo seja feito: a) Para o Ataque (alguns conceitos são gerais para todos os esportes e outros são específi cos para os esportes de invasão): Figura 12 - Componentes do treinamento tatico no ataque Fonte: Colibaba e Bota (1997 apud BOMPA, 2005). 98 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos b) Para a Defesa (alguns conceitos são gerais para todos os esportes e outros são específi cos para os esportes de invasão): Figura 13 - Componentes do treinamento tático na defesa Fonte: Colibaba e Bota (1997 apud BOMPA, 2005). Como foi visto aqui, a tática está muito presente e tem grande importância nos esportes coletivos. Contudo, e apesar de estarmos discutindo os esportes praticados em equipe, as ações e as decisões dos jogadores acontecem de forma individual. Portando, devemos discutir agora a formação da tática individual. 9999 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 a) Tática Individual Entende-se como tática individual a análise, a decisão e a resposta de um jogador a uma situação de jogo, visando à obtenção do melhor resultado em um tempo disponível (CORDEIRO, 1996). Por meio dos treinamentos e competições, os jogadores são capazes de desenvolver uma boa e rápida compreensão da situação real do jogo (O que está acontecendo?) e buscar uma solução adequada (O que eu devo fazer?). Por outro lado, os treinadores devem perceber os fatores que infl uenciam na solução mental para os problemas táticos que são mais comuns, e os jogadores devem estar preparados a solucioná-los. De acordo com Cardinal (1995), tais problemas se baseiam em: • A velocidade de execução limita o tempo disponível para tomar a decisão apropriada; • A qualidade da percepção afeta a leitura rápida das circunstâncias em situações táticas específi cas; • O conhecimento tático e o alto número de repetições afetam o resultado; • A memória, as lembranças de soluções efi cientes para problemas táticos parecidos, incrementam as habilidades táticas; • O estado psicológico do jogador afeta a solução tática escolhida. A qualidade de ações táticas de um jogador vai depender não somente de seu nível técnico, físico e psicológico, mas também da capacidade cognitiva, da compreensão de elementos básicos do jogo, do grau de experiência, da velocidade de reação e da condição de cooperação e sacrifício. A combinação da habilidade tática será enfatizada quando o jogador obtiver um grande repertório de habilidades motoras. O atleta adulto tem o seu repertório de soluções muito infl uenciado pela vivência motora experimentada na infância e pela intensidade com que as capacidades coordenativas foram desenvolvidas, quer em quantidade, quer em qualidade (BOJIKIAN, 2002). O jogador com boa habilidade motora irá utilizar esta qualidade em situações específi cas do jogo e a aplicação correta dessa habilidade é o alicerce de um time efi ciente (MAHLO apud CARDINAL, 1995). Nos esportes coletivos, a sequência de habilidades motoras é utilizada baseada em situações que envolvam soluções de habilidades táticas. Para atingir um nível de soluções táticas, o jogador deve seguir uma sequência de habilidades motoras que envolvem: • Percepção do problema ou situação tática. Isso é possível por meio da “leitura” de uma situação específi ca que indica intenções de ações por parte dos colegas de equipe e jogadores do time adversário. Por meio dos treinamentos e competições, os jogadores são capazes de desenvolver uma boa e rápida compreensão da situação real do jogo (O que está acontecendo?) e buscar uma solução adequada (O que eu devo fazer?). 100 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos • Solução mental para resolver o problema tático e escolha da habilidade motora adequada para a situação. • Execução perfeita da técnica requerida. Toda a jogada cria um problema tático para o time e o jogador envolvido na ação. Como consequência, a situação tática é o resultado de cada jogada e a resposta tática para resolver um problema tático temporário irá provocar novas e sucessivas variáveis, caracterizadas pelas ações com a bola (BAACKE, 1994). Na prática, treinadores devem criar situações similares às encontradas em partidas ofi ciais. Para isso, devem: • Desenvolver a autonomia do jogador; • Utilizar exercícios e atividades que promovam efi ciência com menor esforço; • Desenvolver a percepção do jogador; • Controlar as incertezas dos jogadores; • Utilizar exercícios dos mais simples aos mais complexos, com e sem oponentes; • Modifi car as alternativas do jogo. A inteligência tática é adquirida por meio de execução e entendimento de exercícios e suas aplicações no jogo. Atividades devem seguir os princípios básicos, das simples para as mais complexas. O treinador é responsável pela melhora das habilidades de seus atletas com o incremento gradual de difi culdades nos treinamentos programados. Para desenvolver a inteligência tática, o treinador deve criar exercícios nos quais o jogador é desafi ado a resolver umou vários problemas de jogo dentro de um processo de tomada de decisão (MÜLLER, 2009). A inteligência tática é fator crucial que afeta a performance dos jogadores. É função do treinador assegurar-se de que o jogador consiga um nível elevado de desempenho. Para isso, deve ser competente na escolha e elaboração de exercícios que estimulem a inteligência tática. Deve, também, perceber erros táticos e corrigi-los, infl uenciando, assim, no desenvolvimento tático ideal do jogador. A defi nição da resposta motora ideal, feita pelo jogador, deve estar de acordo com a sua utilização em situação de jogo específi ca, e precisa levar em consideração a “leitura” de “pistas” importantes, demonstradas durante o jogo. De acordo com a apropriada relação de funções entre os jogadores de sua equipe e a boa leitura dos jogadores adversários, o bom jogador pode tomar a melhor decisão em resposta a uma situação específi ca enfrentada no jogo. O treinador é responsável pela melhora das habilidades de seus atletas com o incremento gradual de difi culdades nos treinamentos programados. 101101 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Quanto maior a inteligência tática, maiores as chances de ler e perceber as ações de defesa e ataque. Greco (1995) relaciona a estreita semelhança entre as capacidades táticas e os processos cognitivos, exemplifi cando processos cognitivos envolvidos na execução de uma ação: percepção para elaborar as informações, seleção de sinais relevantes, reconhecimento para localizá-las, recordação para compará- las com as já gravadas na memória, representação para poder imaginar e antecipar a futura ação, conceituação da escolha da ação e a continuidade do gesto motor. b) Tática Coletiva A importância da tática individual deve ser aperfeiçoada e bem desenvolvida pela tática coletiva na busca da formação completa do jogador. Como estamos tratando dos esportes coletivos e não individuais, o grande desafi o do treinador é moldar os jogadores individuais em uma equipe efi ciente. O objetivo fi nal é uma união coesa, que pode orquestrar os talentos coletivos a serviço da equipe contra um oponente. O sucesso de uma equipe esportiva está relacionado com a habilidade dela em se ajustar e reagir às situações espontâneas assim que elas ocorram (NEVILLE, 1990). Na fase de trabalho de equipe, o jogador deve buscar um bom relacionamento com os outros membros, em respeito às táticas de equipe e sistemas de jogo adotados por ela, uma vez que, de acordo com Baacke (1994), o sistema de jogo é usado na distribuição de funções, posições e áreas muitas bem defi nidas pelo treinador para todos os jogadores em todas as formações, nas fases ofensivas e defensivas, com o objetivo de facilitar as ações do jogo. Além disso, existem vários subsistemas de ataque, defesa e outros, dentro um sistema principal. Os jogadores devem entender as formações e combinações táticas da equipe para confrontar as situações e as tendências de jogo com competência. As ações nos esportes demandam uma boa interdependência entre os jogadores. Mesmo o único fundamento técnico independente do jogo, realizado sem a infl uência direta de colegas e adversários, o saque, possui uma continuidade tática a qual, de acordo com a sua execução, irá antecipar ou determinar uma ação específi ca de bloqueio e defesa da equipe sacadora. Cada ação de jogo, seja ofensiva, seja defensiva, requer uma boa relação entre todos os jogadores da equipe, afetando no resultado da ação enfrentada. 102 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Sendo assim, é função do treinador decidir qual é o melhor sistema de jogo a ser usado de acordo com as condições técnicas, táticas, físicas e psicológicas de seu grupo de jogadores. c) Desenvolvimento da Inteligência Tática A inteligência tática tem grande importância não só em situação específi ca do jogo, como também na evolução dos jogadores. O jogador completo deve possuir técnica refi nada, capacidade física privilegiada e controle mental excelente e, em momentos cruciais do jogo, deve igualmente ter as habilidades táticas para fazer decisões apropriadas. As limitações das habilidades táticas trarão complicações na busca do máximo nível de realização das técnicas necessárias, transformando o jogador em previsível. O conceito de desenvolvimento ideal da tática do jogador deve levar em consideração a maneira como isso é transmitido ao iniciante. Tanto em aulas de Educação Física quanto no treinamento propriamente dito, o atleta iniciante deve buscar respostas de “o que fazer?” e “quando fazer?” ao invés de somente “como fazer?”. Geralmente os treinadores ensinam o “como?” antes do “por quê?”. É reconhecidamente bem maior o interesse do iniciante quando este é auxiliado e encorajado a tomar decisões corretas, baseado na consciência e no conhecimento tático que possui do jogo (BUNKER; THORPE, 1986). Neste momento, a criança começa a perceber a importância da tomada da melhor decisão na solução de um problema tático, a relevância da decisão e a escolha da técnica ou habilidade ideal que a situação apresentada requer. Essa percepção pode ser ensinada pelo professor/treinador na busca de um nível de performance elevado. Cada criança deve ser capaz de participar no processo de tomada de decisão, baseando-se no conhecimento tático, aumentando seu interesse e envolvimento pelo jogo. Esse processo didático, denominado de modelo de currículo para o ensinando do “teaching to understanding” (entendimento do jogo), foi sugerido em um estudo realizado por Bunker e Thorpe (1986), no qual o jogo é o objetivo inicial e, ao mesmo tempo, fi nal do processo de aprendizado, passando pela vital etapa de tomada de decisão, como exposto abaixo. Observe que o “Aprendiz” é colocado como central no processo ensino-aprendizado e deve ter toda a atenção individual pelo treinador/professor. Outro ponto importante é a mão-dupla entre a execução técnica e a tomada de decisão (tática). Este conceito ambíguo não se caracteriza em retroceder o processo evolutivo, mas sim a constante busca da escolha do gesto técnico ideal que se busca aperfeiçoar e a melhor decisão de como utilizá-lo taticamente. Atleta iniciante deve buscar respostas de “o que fazer?” e “quando fazer?” ao invés de somente “como fazer?”. 103103 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 Teaching to understanding - Quanto mais se entende do jogo mais inteligente será a ação. Figura 14 - O modelo de currículo de ensinamento do jogo Fonte: Bunker e Thorpe (1986). De acordo com o estudo de Bunker e Thorpe (1986), estas seis etapas de aprendizado do currículo do jogo envolvem aspectos cruciais na formação de atletas taticamente preparados. Cada etapa deve ser cumprida, avaliada e recomeçada como uma possibilidade cíclica, a saber: 1 – JOGO – A criança em processo inicial de aprendizado deve experimentar inúmeras variações do jogo, respeitando a sua idade e limitações. Basicamente diminuindo o tamanho da quadra, a altura da rede/tabela e o peso da bola, aumentando o tamanho do gol e mostrando os espaços da quadra/campo adversária, bem como diminuindo os espaços da sua quadra. A utilização dos jogos pré-desportivos se torna imprescindível para crianças entre 10 e 12 anos, pois carrega uma semelhança próxima à versão adulta do jogo e se pode trabalhar conceitos de ataque e defesa, com alvos distintos, de acordo com a posição da bola e as posições dos jogadores do time e do time adversário. Seis etapas de aprendizado do currículo do jogo envolvem aspectos cruciais na formação de atletas taticamente preparados. Diminuindo o tamanho da quadra, a altura da rede/tabela e o peso da bola, aumentando o tamanho do gol e mostrando os espaços da quadra/campo adversária, bem como diminuindo os espaços da sua quadra.104 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos 2 – APRECIAÇÃO PELO JOGO – O “gosto” pelo esporte deve ser preparado por meio do conhecimento e entendimento das regras básicas do jogo pelo iniciante. Pelo mesmo princípio anterior de se usar os jogos pré- desportivos, a criança deve buscar o jogo de forma prazerosa, em que as difi culdades sejam amenizadas. Nesse sentido, a bola deve estar em jogo o maior tempo possível, possibilitando a repetição dos fundamentos, a leitura tática do iniciante e estimulando o interesse pelo esporte. Não raramente, regras são alteradas para que este repertório tático e o interesse aumentem ainda mais. A alteração da regra também pode ser utilizada no estímulo de soluções táticas dos jogadores. 3 – CONSCIÊNCIA TÁTICA – O entendimento das regras deve ser então adicionado ao conhecimento ou à consciência tática por meio do conhecimento do jogador de suas virtudes e limitações, de sua equipe e da equipe oposta. A escolha do tipo de ação, da opção de ataque, da armação do jogo para um ou outro atacante, entre outros, deve seguir o princípio da melhor opção de acordo com a situação do jogo. Essa consciência é trabalhada individualmente para, então, seguir para o coletivo, e deve ser estimulada pelo treinador e não apenas respondida por ele. Primeiramente, o jogador completo deve ter a condição de solucionar os problemas de forma unilateral e poder reconhecer se a decisão tomada foi ou não a melhor escolha e por quê. 4 – TOMADA DE DECISÃO – Os esportes coletivos são de prática extremamente rápida e exigem de seus praticantes soluções imediatas para problemas diversos. Esse processo decisório pode ser considerado o grande fator de distinção na formação de atletas de ponta ou atletas ordinários. O jogador e o treinador devem entender as diferenças entre o “o que fazer?” e o “como fazer?” para reconhecer defeitos e virtudes na escolha da opção. 4.1. “O que fazer?” – Por meio da consciência tática, o atleta deve buscar a solução do problema aparente e buscar a tomada de decisão ideal de acordo com (1) as “pistas” que são perceptíveis, (2) antecipar a situação-problema e (3) prever os resultados possíveis. Por exemplo, no basquete, o armador arrisca em uma assistência mais difícil, que apesar dos riscos, poderá promover um ataque mais efi ciente em relação ao posicionamento da defesa adversária. 4.2. “Como fazer?” – Tomada a decisão de “o que fazer?”, o jogador deve, então, ter a condição de realizar o fundamento da melhor maneira, sendo que esta escolha interfere criticamente na resposta apropriada. Por exemplo: O goleiro, no handebol, percebendo a intenção do atacante adversário de executar o ataque no lado esquerdo, abre esta possibilidade, dando espaço ao atacante e, depois, movimenta os braços no sentido do ataque, “fechando” a opção primeira. O jogo de forma prazerosa. Solucionar os problemas de forma unilateral e poder reconhecer se a decisão tomada foi ou não a melhor escolha e por quê. Buscar a tomada de decisão ideal de acordo com (1) as “pistas” que são perceptíveis, (2) antecipar a situação- problema e (3) prever os resultados possíveis. Tomada a decisão de “o que fazer?”, o jogador deve, então, ter a condição de realizar o fundamento da melhor maneira, sendo que esta escolha interfere criticamente na resposta apropriada. 105105 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 5 – HABILIDADE TÉCNICA – A execução da habilidade técnica depende do nível do atleta e do “leque” de técnicas que ele(a) possui. Deve incluir aspectos qualitativos entre a efi ciência mecânica do movimento e a sua relevância de escolha em uma situação particular do jogo. 6 – PERFORMANCE – O grau de performance deve ser observado por meio dos resultados medidos em comparação de critérios considerados ideais ou de alto rendimento e depende de cada aprendiz. Em níveis de performance (que variam entre escolar e internacional) pode-se classifi car iniciantes como bons ou maus jogadores e deve ser medida de acordo com a conveniência da resposta, assim como a efi ciência da técnica efetuada. Resumindo esta parte, podemos exemplifi car em um quadro cada etapa do aprendizado para os esportes. Então, utilizaremos o voleibol como esporte modelo para a iniciação: Quadro 15 – Etapas do aprendizado para os esportes ETAPAS DO APRENDIZADO EXEMPLO 1. JOGO Minivolei (Pré-desportivo em trios) 2. APRECIAÇÃO PELO JOGO Disputa em minijogos, sets de apenas 5 pontos e quem vence continua na quadra 3.CONSCIÊNCIA TÁTICA “Ace” vale 2 pontos 4. TOMADA DE DECISÃO Modifi car a recepção adversária para que o sacador encontre os espaços vazios 5. HABILIDADE TÉCNICA Saque sem erro efetivo 6. PERFORMANCE Qual trio se manteve maior tempo jogando?Discussão ao fi nal do treino. Fonte: O Autor. Atividade de Estudos: 1) Você aprendeu sobre o currículo tático de um jogador. Agora para descrever cada uma das etapas e exemplos, você deve utilizar as características do seu esporte para, então, completar o quadro: Efi ciência mecânica do movimento e a sua relevância de escolha em uma situação particular do jogo. Resultados medidos em comparação de critérios considerados ideais ou de alto rendimento e depende de cada aprendiz. 106 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos ETAPAS DO APRENDIZADO EXEMPLO 1. JOGO 2. APRECIAÇÃO PELO JOGO 3.CONSCIÊNCIA TÁTICA 4. TOMADA DE DECISÃO 5. HABILIDADE TÉCNICA 6. PERFORMANCE Outros conceitos táticos são importantes e devem também ser usados como referência na base quando se busca desenvolver o entendimento tático dos jogadores. Entre eles estão: Autonomia, Efi ciência e Efi cácia, Percepção e Alternâncias: • Autonomia –é um importante fator no desenvolvimento tático dos jogadores, uma vez que constitui a capacidade do indivíduo de tomar uma decisão racional e assumir a responsabilidade por suas ações. O jogador deve seguir um planejamento estratégico e as orientações determinadas pelo treinador. Contudo, deve, também, ter a condição de jogar livremente e tomar decisões constantes para um melhor rendimento tático. Quando se fala em autonomia se pensa em independência, liberdade. O jogador deve ter esta liberdade para criar e tomar decisões em situações táticas que o jogo oferece constantemente, tomando decisões de maior ou menor risco. Como ele pode sair de uma situação complicada e tomar uma decisão positiva, irá depender de sua autonomia de melhor escolha. Não podemos confundir autonomia com excesso de liberdade na escolha da melhor opção. Nesse sentido, fatores como experiência, habilidade técnica e a condição física determinarão e infl uenciarão na decisão. • Efi ciência/Efi cácia – Efi ciência é o adjetivo ao atleta que se encaixa na postura de estar realizando o seu trabalho de maneira capaz e hábil. Já Efi cácia é o adjetivo ao atleta que produz o resultado esperado. Acertar simplesmente um saque se enquadra na ação técnica do jogador efi ciente, enquanto fazer um “ace” se encaixa no exemplo de efi cácia. A combinação dos dois adjetivos deve ser o objetivo maior de todos os atletas e a efi cácia depende basicamente da efi ciência. • Percepção – A palavra percepção se encaixa na defi nição de que o jogador se torna ciente de um pensamento ou de uma sensação que ele antecipa de acordo com pistas em relação aos dados que uma ação proporciona (TANI 107107 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 et al., 2004). A altura e a trajetória da bola em relação ao deslocamento ou ao uso de uma técnica específi ca, o gesto técnico do adversário, as falhas de posicionamento, entre outros, são casos onde a percepção pode fazer a diferença na execução de uma decisão tática. • Alternâncias – O bom jogador de voleibol tem a característica de buscar novas opções de adaptação aojogo de acordo com as exigências de um dado fundamento ou momento da partida. Um exemplo clássico que podemos usar é quando o atacante, no voleibol, utiliza diferentes tipos de ataques (fortes, fracos, largadas, colocados, explorando, paralela, diagonal, etc.), confundindo o bloqueio e defesa adversário. As alternâncias são importantes no alto rendimento em momentos de defi nição dos sets. Um jogador com uma capacidade de alternar nestes momentos provavelmente será o escolhido para defi nir a partida em um saque ou ataque decisivo. No caso do levantador, a alternância tem importância ainda maior por se tratar de um regente da atuação da equipe e de seus atacantes. Cabe a ele alternar os levantamentos, evitando o bloqueio marcado na maioria das situações. Alternar as bolas rápidas com bolas altas, combinar jogadas de ataque de rede e de fundo de quadra, além de promover a melhor opção de ataque contra uma defi ciência de bloqueio adversário, é o trabalho tático condicionado ao levantador completo. Os treinamentos destes aspectos táticos devem ser incorporados ao treinamento diário de acordo com os objetivos específi cos de cada treino. O treinamento tático deve estar conectado com o treinamento técnico. O primeiro proporciona o “conhecimento” do jogo. O segundo proporciona a “condição” de executar uma ação específi ca durante o jogo. Contudo, a maioria dos treinadores gasta mais tempo e energia treinando e aprimorando aspectos técnicos e a minoria usa o tempo de treinamento aperfeiçoando seus atletas na busca de melhores performances nas táticas dos esportes. Quando pensamos sobre esportes, devemos incluir a tática como fator fundamental no desenvolvimento de atletas completos. Não podemos desenvolver atletas competitivos levando em conta apenas aspectos técnicos, físicos ou psicológicos. Jogadores devem ser “formados” com a aquisição de todas as capacidades e aspectos com o mesmo grau de importância. A união de todas essas capacidades em um nível de utilização elevado irá classifi car o atleta como completo ou limitado. A tática compreende vários aspectos de caráter individual e coletivo. Além disso, para cada tipo de ação envolve o entendimento do jogo, respeito as regras e uma conduta ideal. Devemos incluir a tática como fator fundamental no desenvolvimento de atletas completos. 108 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Na sua prática como treinador, escolha alguns de seus jogadores e pergunte a eles sobre situações que envolvam decisões táticas para determinada ação no jogo. Assim, você pode conhecer melhor as decisões e o nível de inteligência tática de seus jogadores. Por exemplo, questione o porquê: • De preferir chutar a gol ao invés de passar a bola ao colega melhor colocado? • De ter sacado em determinada posição? • De não arremessar de três pontos? • De ....? A PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA OS ESPORTES COLETIVOS O trabalho psicológico deve ser feito por especialistas nesta área difícil do desenvolvimento humano. Treinadores, contudo, fazem uma parte fundamental na função de estimular seus comandados na busca de um maior rendimento. Em muitos casos, não dispomos de um psicólogo do esporte para nos auxiliar na construção psíquica de nossos atletas. Mesmo assim, podemos, com o treinamento, aprimorar as faculdades cognitivas, emocionais ou sociais, por meio do treinamento técnico, físico e, principalmente, tático da equipe. O esporte abre as portas para inseguranças, medos, ansiedades, estresses, agressões humanas e somatizações. Por essas e por outras, o atleta vive na fronteira do desequilíbrio emocional. O trabalho do psicólogo é fazer com que o atleta busque o equilíbrio, tanto físico quanto mental. O psicólogo do esporte trabalha no sentido de desenvolver no atleta maior percepção de seu corpo e mente. Os resultados são muitos, como aumento da concentração durante jogos, diminuição do estresse, automatização de cuidados básicos, velocidade de raciocínio para melhores respostas durante o jogo, entre outras (ANDRADE, 2010). A preparação psicológica é tão importante quanto a preparação física, técnica ou tática dos jogadores. A maioria dos erros dos jogadores durante as partidas acontece por questões de desatenção, ansiedade ou descontrole psicológico. Na busca da formação completa do jogador, não podemos esquecer deste fator que, por muitas vezes, faz a diferença entre a evolução 109109 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 total do atleta ou sua limitação, por meio da motivação necessária ou desmotivação limitadora. O trabalho do treinador deve ser de transformar a motivação de seus atletas iniciantes em resultado na busca da melhoria das condições gerais para o esporte, além de voltar-se às técnicas de treinamento na busca da própria motivação. Para isso, o treinador deve fazer uso de uma práxis consciente, na qual o iniciante sofra o estímulo e esteja preparado para outro, mantendo sempre o seu nível motivacional alto. É vital ao técnico promover treinamentos em que estimule o nível de atenção e de concentração do atleta, além de deixar claro quais são os objetivos gerais e específi cos do trabalho a ser realizado. Para os jogadores, aspectos da formação psicossocial contribuirão na construção de um atleta formado para o esporte. Esses aspectos fundamentais são: • Percepção - Ato, efeito ou faculdade de perceber; recepção, pelos centros nervosos, de impressões colhidas pelos sentidos. É a faculdade de perceber pelos sentidos, pela consciência, que é dada imediatamente após as percepções adquiridas e suas consequentes deduções imediatas (MICHAELIS, 2016). • Concentração – Capacidade com a qual o indivíduo foca e seleciona estímulos. No esporte, vários estímulos acontecem ao mesmo tempo, como a bola, os companheiros, o adversário, o público, a arbitragem, entre outros. Nesse caso, a concentração irá defi nir qual estímulo é o mais importante. O nível de concentração depende do grau de solicitação e atuação do estímulo, levando a uma melhor focalização da fonte estimuladora. Depende da capacidade motivacional e da condição física do atleta. • Imaginação – De acordo com o dicionário Michaelis (2016), e traduzido para a linguagem de interesse do assunto deste livro, imaginação tem utilização construtiva, embora não necessariamente de feição criadora, de experiências perceptivas anteriores; reorganização de elementos dessa espécie. No caso do jogador de voleibol, a imaginação irá depender, portanto, da experiência anterior. Estas experiências, se positivas ou criativas, irão estimular o desenvolvimento total ou ideal do poder criativo e imaginário do jogador. • Motivação - Nada mais importante ao esporte do que a motivação, uma vez que esta determina a razão da própria prática. Segundo Green (1994), motivação é uma espécie de energia psicológica ou tensão que põe em movimento o organismo humano, determinando um dado comportamento. 110 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Além disso, é o processo de caráter social em que acontece a iniciação de uma ação consciente e voluntária. Green (1994) completa dizendo que a motivação se refere à iniciação, à direção, à intensidade e à persistência no comportamento humano. Dentro disso, percebe-se que a iniciação, a progressão e a manutenção esportiva dependem primeiramente do nível motivacional do jogador. Os aspectos psicológicos são tão ou mais importantes do que os outros aspectos para o desenvolvimento e melhora da performance dos jogadores dos esportes coletivos. Outras características estão explicadas no capítulo 4 deste caderno, que apresenta aspectos de preparação psicológica antes, durante e depois dos jogos. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Toda a aprendizagem motora deve seguir uma sequência pedagógica e hierárquica. O aprendizado e fi xação de um gesto técnico deve ser positivo para, então, criar variaçõese difi culdades adicionais. A aquisição das habilidades pelo jogador é de responsabilidade do treinador e compõem um processo hierárquico que se inicia na elaboração da prática (planejamento e defi nição dos objetivos), na apresentação da prática (instruções e orientações a serem seguidas pelos atletas), na estrutura da prática (como será o treinamento propriamente dito), assim como a correção da prática, por meio do feedback. O jogador deve ter a sua formação baseada na relação ideal de quatro competências (Competências Técnicas, Táticas, Físicas e Psicológicas). Cada um destes fatores abrange situações que infl uenciam no aprendizado e desenvolvimento completo do jogador. Essas exigências estão determinadas e divididas propriamente no auxílio do entendimento de cada passo a ser adquirido e observado para a consolidação de uma preparação completa e ideal. Cada competência tem a sua importância e somente a boa relação entre elas, em sua plenitude, dará a perspectiva de determinar a condição de um jogador estar ou não apto a atuar em alto nível ou na categoria adulta. Cada fator tem infl uência no seguinte. Um complementa ou compensa o outro, de acordo com as necessidades de evolução para o esporte ou em situações específi cas de jogo. É vital ao progresso dos jogadores que cada fundamento, treinado individualmente, tenha progressão em uma atividade que o combine com a realidade do jogo. Muitos treinadores preparam seu treinamento de passe, por 111111 A PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA, TÁTICA E PSICOLÓGICA DOS ESPORTES COLETIVOS Capítulo 3 exemplo, e trabalham este fundamento por vários minutos, com a intenção de aprimorá-lo ou corrigi-lo. Contudo, após o treinamento técnico, acontece o treinamento com o jogo ou a simulação do jogo. Neste momento, aquele determinado fundamento, passe, deve estar em evidência, promovendo, assim, uma progressão de importância e a manutenção do nível de atenção e correção do atleta. Alguns treinadores, quando entram na parte principal do treinamento, não exigem ou não progridem neste conceito, limitando, desse modo, a evolução do fundamento proposto. Em outras palavras, apesar de vários minutos e repetições na busca de uma correção e aprimoramento do fundamento, é na situação real do jogo que aquela correção deve aparecer e ser entendida como evolutiva para o atleta e para a equipe como um todo. REFERÊNCIAS ANDRADE. Ana. 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