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Resenha Crítica Nise, o coração da Loucura (C)

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Resenha crítica do filme “Nise: O Coração da Loucura”
O filme Nise: O Coração da Loucura se trata de um filme produzido no Brasil em 2015 e lançado no ano de 2016. A história do filme se passa na década de 50, e relata a história da trajetória de uma médica psiquiatra conhecida como Nise da Silveira que, ao ser inserida em um hospital psiquiátrico nos anos 50, se depara com as intenções cruéis dos médicos em aplicar certos tratamentos altamente desumanos e danosos aos pacientes internados. 
Naquele contexto os tratamentos eram por meio de lobotomia, tratamentos à base de ópio e, na mesma época, estudava-se a inserção da chamada “eletroconvulsoterapia”. Quando Nise adentra às dependências do hospital, ela se depara com cenas que a tocam, de pacientes sendo agredidos, trancafiados, com direito apenas a banhos de sol que lhes dividiam entre grupos de baixa, média e alta “periculosidade”, um modo operante digno dos grandes presídios de detenção máxima. 
O enredo do filme conta com atores que trabalham com performances claramente estudadas em laboratório de teatro – uma espécie de pesquisa de campo para melhor conexão com a história e os personagens reais. Os atores e atrizes interpretam coerentemente com base na intenção real do filme, que é mostrar a história de importância social, científica e evolutiva do trabalho de Nise da Silveira como provedora de uma nova visão e forma de lidar e tratar os pacientes psiquiátricos da época, indo de encontro antagônico às visões segregadoras, dolosas e oportunistas dos tratamentos utilizados naquela década. 
Quando em contato constante e também participante com aqueles internados – que a mesma exigiu que fossem chamados de CLIENTES ao invés de pacientes – Nise começa a perceber comportamentos vinculados às experiências individuais de cada sujeito ali. Logo então, ela começa a participar destes comportamentos de forma ativa, interagindo com cada um deles, produzindo novos tratamentos individuais para a forma singular de cada membro se comportar. 
Nise, ainda neste mecanismo de atuação, resolveu inserir, junto a um cooperador a arte-terapia, conduzindo os sujeitos a expressarem suas visões de vida e mundo através de pinturas que, mais à frente, foram reconhecidas como obras magnânimas pelos grandes nomes das artes em pinturas. Nise inseriu também – mesmo com dificuldades – animais naquele meio; animais que trouxeram grandes evoluções nos quadros clínicos de cada paciente, através do contato com os bichos. 
O filme, em toda a sua duração, retrata bem a importância de se observar, de escutar o que não está sendo dito só através de palavras e, quando dito em palavras, ouvidos com atenção e respeito pela informação que o sujeito traz. Afinal de contas, os aspectos mais marcantes da vida de uma pessoa, a história que machuca, o acontecimento que modifica a vida do ser humano, tudo isso na maioria das vezes não consegue ser expressado através de palavras, pois as palavras possuem significados muito claros, e a nudez psíquica das pessoas não é fácil de ser aceita ou compreendida com empatia por uma sociedade engessada no literal “normal”. 
As condutas sociais normativas são muitas vezes avassaladoras para os que descumprem a lei do “normal”. Partindo deste pressuposto, a expressão emocional das experiências modificadoras, marcantes de cada sujeito, pode passar a ser expressa através de uma linguagem quase que oculta, por uma mensagem subliminar inserida numa música, numa pintura, num comportamento, ou até mesmo na própria fala, que é muitas vezes tida como desconexa, sem nexo, irrelevante; e foi nadando contra essa maré que Nise da Silveira se posicionou, atuou e modificou as formas de percepção e tratamento para com estes CLIENTES a quem ela – como a mesma dizia – SERVIA. 
O filme mostra toda essa reviravolta nascida da atuação de Nise, trazendo-a à margem do que o – chamado no filme – movimento reacionário utilizou como discurso, tratamento e convívio com os ditos “loucos” da época. O filme é encerrado com imagens de Nise da Silveira real e cada cliente – também reais -, como o internado de nome Elídgio, que se destacou no filme por ser citado como paciente que voltou para casa, para o convívio em sociedade, mesmo continuando em tratamento do lado de fora dos muros e portões do hospital psiquiátrico que dividia as pessoas denominadas “normais” dos que, em sua normalidade subjetiva, eram tidos como loucos. 
Referência:
NISE: O coração da loucura. Direção: Roberto Bliner. Produção: Lorena Bondarovsky, Rodrigo Letier. Brasil, 2016. Youtube Brasil.

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