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Lei de Abuso de Autoridade

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Olá, pessoal! Eu sou o Leonardo Castro, professor do Ceisc das disciplinas de Direito Penal, Processo
Penal e Legislação Penal Especial! Hoje, trouxe pra vocês um dos temas mais cobrados em provas de
concursos que cobram Legislação Penal: a Lei de Abuso de Autoridade! Como a lei foi integralmente
alterada em 2019, o novo texto é uma grande pedida nas próximas provas e, por isso, comentei artigo por
artigo e espero que vocês aproveitem ao máximo este e-book!
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Professor Leonardo Castro
Advogou pela Defensoria Pública. Aprovado, dentro
das vagas, em alguns concursos - dentre eles, o de
analista judiciário e o de delegado de polícia. Escritor
das editoras Saraiva, Rideel e Impetus, com mais de
uma dezena de livros publicados. Atualmente,
professor e funcionário público.
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Nem sempre o abuso de autoridade é cometido no exercício das funções. Um bom exemplo é a infame
carteirada, quando o indivíduo age, a pretexto de exercer sua função pública, em prol de interesse próprio,
particular. Por isso, os crimes da Lei de Abuso de Autoridade (LAA) também podem ser cometidos pelo agente
em férias ou em licença. Por outro lado, não se pode dizer o mesmo do aposentado, pois não mais mantém
vínculo com o Estado.
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Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor
ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe
tenha sido atribuído.
 
 
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Enquanto estava tramitando o projeto da nova LAA, o Ministério da Justiça emitiu parecer contrário à aprovação,
pois teria identificado diversos elementos que podem inviabilizar tanto a atividade jurisdicional, do MP e da
polícia. Muitos outros órgãos e autoridades se manifestaram no mesmo sentido, mas há um certo exagero nessa
forma de pensar. Digo isso porque, para que fique caracterizado o delito de abuso de autoridade, a LAA exige a
presença de dolo específico, em seu art. 1º, § 1º, consistente em: (a) prejudicar outrem; (b) beneficiar a si
mesmo ou a terceiro; (c) satisfação de interesse pessoal ou mero capricho. Portanto, para o crime do art. 9º, por
exemplo, não basta que a autoridade decrete medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade
com as hipóteses legais. Tem de existir o dolo específico, sob pena de atipicidade da conduta. O ônus de provar
o dolo específico é da acusação, sendo vedada qualquer presunção por inexistência de previsão legal que a
autorize. Importante destacar que as finalidades do § 1º são alternativas. Não precisam ser cumuladas.
 
O § 2º traz previsão desnecessária. Evidentemente, não há abuso de autoridade quando um indivíduo diverge
dos seus pares ao interpretar a lei ou avaliar fatos ou provas. Pode um juiz entender que, em determinada
hipótese, deve ser decretada a prisão preventiva, enquanto a instância superior discorda e revoga a ordem.
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§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de
autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade
específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
 
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e
provas não configura abuso de autoridade. 
 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor
ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não
se limitando a:
 
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
 
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.
 
CAPÍTULO II
DOS SUJEITOS DO CRIME
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Na antiga LAA, o conceito de autoridade estava em seu art. 5º, que tinha a seguinte redação: considera-se
autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou
militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.
 
(5) Os crimes da LAA são próprios, pois só podem ser praticados por agente público, que pode ser servidor
público ou não. A redação do caput e do parágrafo único do art. 2º é semelhante àquela do art. 327 do CP, que
dispõe sobre quem pode ser sujeito ativo de crime funcional.
 
(6) Particulares podem ser responsabilizados por crime de abuso de autoridade, quando praticada a conduta em
concurso com agente público, e desde que conheçam essa condição pessoal do coautor – veja o art. 30 do CP.
 
(7) Sem qualquer utilidade prática, o art. 2º traz um rol exemplificativo de quem pode ser responsabilizado por
abuso de autoridade.
 
(8) O parágrafo único conceitua agente público para fins de incidência da LAA. Perceba que, em conjunto com o
caput, o art. 2º faz com que a lei alcance qualquer pessoa que, de alguma forma, exerça atividade de natureza
pública. Pouco importa se não há remuneração (ex.: jurados), se o vínculo é temporário ou com a administração
indireta. Por essa razão, volto a dizer: o rol trazido no art. 2º é desnecessário, afinal, o caput e o parágrafo único
estendem a LAA a todos os agentes públicos.
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OL E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. 
 
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal,
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a
todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. 
 
 
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data
em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia. 
CAPÍTULO III
DA AÇÃO PENAL
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O Presidente da República havia vetado o art. 3º. Não por discordar de que
os delitos da LAA devem ser de ação penal pública incondicionada, mas pelo
fato de que, no silêncio da lei, é a regra que se impõe – portanto, ao não se
dizer nada, saberíamos qual o tipo de ação penal. O mesmo ocorre com os
parágrafos 1º e 2º, que apenas repetem imposições existentes no Código de
Processo Penal, que deve ser aplicado quando do processo e julgamento dos
delitos da LAA (art. 39). O Congresso Nacional derrubou o veto.
 
Preocupado com eventual complacência dolosa de membro do Ministério
Público em relação ao indivíduo que comete abuso de autoridade, entendeu
o legislador pela necessidade de dispor, na LAA, acerca da ação penal
privada subsidiária da pública. No entanto, não havia motivo, afinal, já existe
disposição nesse sentido no Código de Processo Penal (art. 29), por força de
imposição constitucional (art. 5º, LIX), aplicável aos crimes de abuso de
autoridade, como determina o art. 39 da LAA.
 
A decadência da ação penal privada subsidiária da pública é tratada no art.
38 do CPP. Importante destacar que esse prazo de seis meses não influencia
na prescrição, mas apenas no prazo para o oferecimento da queixa-crime.
Ultrapassado o prazo decadencial, o Ministério Público poderá oferecer
denúncia a qualquertempo, enquanto não ocorrer a prescrição.
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L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Art. 4º São efeitos da condenação: 
 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a
requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; 
 
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1
(um) a 5 (cinco) anos;
 
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
 
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são
condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são
automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença. 
CAPÍTULO IV
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
Seção I
Dos Efeitos da Condenação
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O art. 92 do Código Penal estabelece, em seu inciso I, os efeitos da condenação criminal para o agente público que
pratica crime contra a administração pública. Para a prática de delito de abuso de autoridade, a nova LAA traz
regramento próprio, em seu art. 4º.
 
O inciso I estabelece a fixação de valor mínimo de indenização na hipótese de condenação por crime de abuso de
autoridade, em redação semelhante à do art. 387, IV, do CPP. No entanto, a LAA impõe como condição o requerimento
da vítima – seu silêncio não importa em renúncia ao direito à indenização, que pode ser pleiteada na esfera cível.
 
Na antiga LAA, era imposta a inabilitação pelo prazo de até três anos (art. 6º, § 3º, “c”). Na atual redação, o prazo foi
ampliado para cinco anos, devendo ser observado o prazo mínimo de um ano. Importante destacar que a inabilitação
é aplicada apenas na hipótese de reincidência específica – quando praticado o delito, tem de existir outra
condenação, transitada em julgado, por abuso de autoridade. Ademais, não se trata de efeito automático da
condenação, devendo ser motivado pelo juiz sentenciante.
 
 A condenação por crime de abuso de autoridade pode gerar a perda do cargo, mandato ou função pública, desde
que: (a) o réu seja reincidente específico; (b) o juiz motive sua decisão.
 
 A inabilitação e a perda de cargo, mandato ou função pública não são efeitos automáticos da condenação por crime
de abuso de autoridade. Deve o juiz motivar o porquê da imposição, com base no caso concreto – a gravidade em
abstrato não é motivação idônea. Além disso, são medidas aplicáveis apenas se presente a reincidência específica. Ou
seja: na época em que praticou o delito de abuso de autoridade, o indivíduo já tinha em seu desfavor condenação
criminal transitada em julgado pela prática de crime da mesma natureza, observado o art. 64 do CP.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
 
 
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas
nesta Lei são:
 
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
 
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6
(seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens; 
 
III - proibição de exercer funções de natureza policial ou militar no Município em que tiver
sido praticado o crime e naquele em que residir ou trabalhar a vítima, pelo prazo de 1 (um)
a 3 (três) anos.
 
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou
cumulativamente.
Seção II
Das Penas Restritivas de Direitos
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, em
alternativa ao encarceramento. São autônomas por terem estrutura e finalidades próprias,
desvinculada da pena de prisão, e substitutivas, pois não são aplicadas cumulativamente à pena
privativa de liberdade.
 
Como a LAA não estabelece os requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, devemos utilizar aqueles estabelecidos no art. 44 do CP.
 
A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas também está prevista no rol de penas
restritivas de direitos do Código Penal (art. 43, IV). Em razão do silêncio da LAA, que não estabelece
regras de cumprimento da pena, deve ser observado o disposto no art. 46 do CP.
 
 É importante não confundir a pena do inciso II do art. 5º com o afastamento cautelar do art. 319, VI,
do CPP. Na hipótese de suspensão do cargo, função ou mandato, por ser sanção, o condenado nada
recebe – senão, seriam férias remuneradas. Quando o afastamento se dá de forma cautelar,
contudo, o recebimento dos proventos é mantido. A suspensão tem l: de um a seis meses.
 
O inciso III tinha a mesma redação do art. 6º, § 5º, da antiga LAA, que punia com mais rigor o abuso de
autoridade praticado por policial. O Presidente da República entendeu pela violação ao princípio da
isonomia e vetou o inciso, posicionamento mantido pelo Congresso Nacional.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de
natureza civil ou administrativa cabíveis. 
 
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional
serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração.
CAPÍTULO V
DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
A LAA ressalta a independência entre as esferas penal, civil e administrativa. Portanto, para a instauração de
processo administrativo disciplinar (PAD) contra agente público por abuso de autoridade, é prescindível a
existência de ação penal para a persecução penal pelo mesmo motivo. Da mesma forma, nada impede o
ajuizamento de ação de indenização para a reparação dos danos causados pela conduta criminosa.
 
 Em caso de abuso de autoridade, deve o agente público ser punido tanto na esfera criminal quanto na
administrativa. Por isso, a autoridade que tomar conhecimento da prática de delito da LAA deve comunicar o
fato à autoridade administrativa competente para a apuração do ocorrido.
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Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da
criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a
autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo
criminal. 
 
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-
disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em
estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Em razão da independência entre as esferas criminal, administrativa e civil, a princípio, a decisão em uma delas não
afeta as demais. A ressalva está no art. 7º: quando, em sentença proferida por juízo criminal, ficar demonstrado, de
forma inquestionável, que o fato nunca existiu ou que o réu não é o autor, a materialidade e a autoria não poderão ser
mais discutidas3+ em ação civil ou em processo administrativo disciplinar. Importante ressaltar que nem todas as
hipóteses de absolvição se enquadram no disposto no art. 7º. Explico: no art. 386 do CPP, a inexistência de autoria está
nos incisos IV e V. Naquele, não existe dúvida de que o acusado não é o autor; neste, há dúvida. Por isso, quando
absolvido o agente pelo art. 386, IV, a autoria não pode mais ser discutida, o que não acontece em relação ao inciso V.
Em resumo, ter sido absolvido não significa automática incidência do art. 7º.
 
Quando o juízo criminal entender que a conduta foi praticada em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito (vide arts. 23 a 25 do CP), causas excludentes da ilicitude,
a sentença absolutória fará coisa julgada nas esferas cível e administrativa.
 
Quanto às dirimentes, excludentes da culpabilidade (ex.: inimputabilidade), o art. 8º não faz referência. Isso porque,
quando presente uma dessas causas, embora não possa o indivíduoser punido na esfera criminal, nada impede que
tenha de indenizar na esfera cível ou que seja punido na administrativa, afinal, a ilicitude está presente.
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Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as
hipóteses legais: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (30)Parágrafo único. Incorre na
mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: 
 
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; 
 
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade
provisória, quando manifestamente cabível;
 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível. 
CAPÍTULO VI
DOS CRIMES E DAS PENAS
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O art. 9º havia sido vetado pelo Presidente da República. Para ele, por ser um tipo penal aberto, o
dispositivo gera insegurança jurídica – o legislador não especificou quais critérios devem ser
utilizados para aferir se a decisão está ou não em manifesta desconformidade com as hipóteses
legais. O Congresso Nacional derrubou o veto.
 
 A consumação ocorre quando decretada a medida de privação da liberdade, que não precisa ser,
necessariamente, cumprida. Crime formal, portanto. A tentativa, em regra, não é viável, salvo
quando possível o fracionamento do iter criminis.
 
Embora o caput fale em decretar, não parece correto o entendimento de que apenas magistrados
podem ser sujeito ativo do delito, afinal, a prisão em flagrante não é de competência exclusiva dos
juízes (vide art. 301 do CPP). Entretanto, em relação à prisão preventiva, à prisão temporária e à
internação, que dependem de decisão judicial, o delito fica restrito aos membros do Poder
Judiciário.
 
A pena mínima é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95, art. 89).
 
A figura equiparada do parágrafo único tem como sujeito ativo apenas magistrados. Trata-se de
crime omissivo próprio, consistente em deixar de fazer algo. Portanto, incompatível com a tentativa.
 
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Inicialmente, o art. 9º foi vetado por se tratar de tipo penal aberto, que depende de interpretação da
norma pelo julgador. Ao dizer prazo razoável, o parágrafo único adotou fórmula imprecisa. Qual
seria esse prazo? Não há como responder de forma objetiva.
 
Seja qual for a prisão, quando ilegal, deve ser cassada, relaxada (CF, art. 5º, LXV). A lei não
estabelece prazo, afinal, deve a decisão ser imediata, assim que o magistrado esteja ciente da
ilegalidade. Na prática, consigo visualizar a incidência do parágrafo único do art. 9º em situações
teratológicas, como no caso do juiz que, sabendo da ilegalidade da prisão, demora vários dias para
determinar a soltura da pessoa presa.
 
A prisão preventiva deve ser decretada para a garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova
da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado (CPP, art. 312). Ocorre que, a depender das circunstâncias do caso concreto, estes
objetivos podem ser alcançados por meio de medidas menos gravosas, diversas da prisão (vide art.
319 do CPP). Por isso, se, por exemplo, a garantia da ordem pública puder ser assegurada pelo
comparecimento periódico em juízo (CPP, art. 319, I), não há razão para ser decretada a prisão
cautelar, a mais gravosa das medidas. O parágrafo único criminaliza a conduta do juiz que, em
tempo razoável, não determina a substituição.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
 
 
Não sendo hipótese de decretação da prisão preventiva, deve ser concedida liberdade provisória.
Caso o magistrado não a conceda em prazo razoável, quando manifestamente cabível, pode ficar
caracterizado o delito, desde que o faça dolosamente e presente, no mínimo, uma das finalidades
específicas do art. 1º, § 1º.
 
 O HC deve ser concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (vide art. 5º, LXVIII, da CF
e 647 do CPP). Pode ser responsabilizado por abuso de autoridade o magistrado que, dolosamente,
não defere liminar ou ordem de HC, quando manifestamente cabível.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
A condução coercitiva consiste em levar alguém, compulsoriamente, à presença de determinada autoridade (ex.: magistrado).
Por limitar a liberdade de locomoção, afinal, a pessoa é conduzida independentemente de sua vontade, a medida deve ser
utilizada com cautela e apenas quando imprescindível.
 
É possível a condução coercitiva quando, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado
ao lugar determinado pela autoridade competente (CPP, art. 218) – por exemplo, ao fórum, para depor em audiência de
instrução e julgamento.
 
A condução coercitiva de acusado está prevista no art. 260 do CPP. O dispositivo tem a seguinte redação: se o acusado não
atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. Para o STF, a expressão para o interrogatório não foi recepcionada pela
Constituição Federal. Portanto, não se pode fazer a condução coercitiva do investigado ou réu com o objetivo de submetê-lo
ao interrogatório sobre os fatos, embora seja possível a medida para outros fins (vide ADPF 395/DF e ADPF 444/DF).
 
Ainda que seja possível a condução coercitiva do ofendido (CPP, art. 201, § 1º), o art. 10 não o menciona, sendo vedada a
analogia. Ou seja: se a condução indevida for da vítima, não há crime de abuso de autoridade.
 
 A pena mínima é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95, art. 89).
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado
manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento
ao juízo:
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Art. 11. Executar a captura, prisão ou busca e apreensão de pessoa que não esteja em
situação de flagrante delito ou sem ordem escrita de autoridade judiciária, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei, ou de condenado
ou internado fugitivo:
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O artigo foi vetado pelo Presidente da República. Ele entendeu que o dispositivo geraria insegurança jurídica,
notadamente aos agentes da segurança pública, tendo em vista que há situações que a flagrância pode se
alongar no tempo e depende de análise do caso concreto. O Congresso Nacional manteve o veto.
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Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária
no prazo legal: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (46)Parágrafo único. Incorre na
mesma pena quem:
 
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à
autoridade judiciária que a decretou; 
 
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada; 
 
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa,
assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das
testemunhas; 
 
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão
preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e
excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de
promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
A Constituição estabelece, como garantia individual fundamental, a imediata comunicação da prisão
de qualquer pessoa e o local onde se encontre ao juiz competente e à família ou a quem ela indicar
(art. 5º, LXII).O tema é melhor tratado no art. 306 do CPP, que dispõe a respeito de todas as
comunicações que devem ser feitas quando realizada prisão em flagrante. No entanto, só se fala em
crime de abuso de autoridade na ausência de comunicação ao juiz, especificamente, pois o
dispositivo diz autoridade judiciária.
 
A redação fala em prazo legal. Lido o § 1º do art. 306 do CPP, parece ser de 24 horas. No entanto,
veja que o dispositivo traz duas situações diversas: no caput, é falado em comunicação imediata ao
juiz e, no § 1º, em encaminhamento do auto de prisão em flagrante no prazo de 24 horas. Como o
art. 12 se refere à comunicação, não há prazo estabelecido. Ela deve ocorrer imediatamente, tão
logo seja possível. Ademais, importante frisar que o delito só existe se a comunicação não for feita
injustificadamente.
 
Por ser crime omissivo próprio, não é possível a tentativa. A consumação ocorre quando o agente
público responsável pela comunicação deixa de fazê-la.
 
O delito é de menor potencial ofensivo (Lei nº 9.099/95, art. 61), compatível com a suspensão
condicional do processo (Lei nº 9.099/95, 89).
 
 
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
No inciso I, a primeira figura equiparada. Também pratica o delito quem deixa de comunicar,
imediatamente, a execução de prisão temporária (Lei nº 7.960/89) ou preventiva à autoridade
judiciária (CPP, art. 311) que a decretou. Também é crime omissivo próprio, que não admite tentativa,
e doloso. A modalidade culposa é atípica.
 
O inciso II trata da comunicação da prisão à família do preso ou a quem ele indicar, em obediência ao
que estabelece a Constituição Federal (art. 5º, LXII) e o Código de Processo Penal (art. 306, caput).
Caso não seja realizada imediatamente, pode o agente público ser responsabilizado pela omissão.
Evidentemente, também é direito do preso pedir para que ninguém seja comunicado – por
constrangimento, talvez. Nesse caso, não haverá o que se falar em crime de abuso de autoridade.
 
A nota de culpa é o documento entregue ao preso onde consta o motivo da prisão, o nome do
condutor e os das testemunhas (CPP, art. 306, § 2º). Deve ser fornecida ao preso no prazo de 24 horas,
contado da realização da prisão. Pratica o crime de abuso de autoridade o agente que, dolosamente,
deixa de entregá-la no prazo legal, injustificadamente, e observado o dolo específico do art. 1º, § 1º, a
LAA. Não é punida a modalidade culposa.
 
 Comete crime de abuso de autoridade o agente público que prolonga, dolosamente, sem justo
motivo, a privação da liberdade de alguém, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de
executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando
esgotado o prazo judicial ou legal. Vale lembrar que deve estar presente o dolo específico, previsto no
art. 1º, § 1º.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de
sua capacidade de resistência, a: 
 
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; 
 
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; 
 
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: 
 
 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à
violência. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
A LAA pune o constrangimento ilegal de pessoa presa. Pratica o delito o agente público que
constrange o preso ou detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de capacidade de
resistência, ao achincalhamento.
 
Não pode a pessoa presa ser obrigada a exibir-se ou ter seu corpo exibido para a simples satisfação
da curiosidade pública. O inciso I é reflexo dos programas televisivos que fazem das prisões
verdadeiros espetáculos. Importante frisar que o art. 13 pune o agente público que constrange o
preso ou detento, e não o profissional da imprensa.
 
A condição de preso é, por si só, constrangedora. A mácula de uma prisão pode acompanhar o
indivíduo por toda uma vida. O que o inciso II pune é o vexame ou constrangimento não permitido em
lei, abusivo, praticado dolosamente pelo agente público, presente alguma das finalidades do art. 1º, §
1º.
 
O inciso havia sido vetado pelo Presidente da República. Segundo ele, a propositura legislativa gera
insegurança jurídica, pois o princípio da não produção de prova contra si mesmo não é absoluto. O
veto foi derrubado pelo Congresso Nacional.
 
A pena mínima de um ano faz com que o delito seja compatível com a suspensão condicional do
processo (Lei nº 9.099/95, art. 89).
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Art. 14. Fotografar ou filmar, permitir que fotografem ou filmem, divulgar ou publicar
fotografia ou filmagem de preso, internado, investigado, indiciado ou vítima, sem seu
consentimento ou com autorização obtida mediante constrangimento ilegal, com o intuito
de expor a pessoa a vexame ou execração pública:
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.Parágrafo único. Não haverá
crime se o intuito da fotografia ou filmagem for o de produzir prova em investigação
criminal ou processo penal ou o de documentar as condições de estabelecimento penal.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O art. 14 foi vetado pelo Presidente da República. Para ele, a propositura legislativa, ao prever como
elemento do tipo 'com o intuito de expor a pessoa a vexame ou execração pública', gera insegurança jurídica
por se tratar de tipo penal aberto e que comporta interpretação, notadamente aos agentes da segurança
pública, tendo em vista que não se mostra possível o controle absoluto sobre a captação de imagens de
indiciados, presos e detentos e sua divulgação ao público por parte de particulares ou mesma da imprensa,
cuja responsabilidade criminal recairia sobre os agentes públicos. O veto foi mantido pelo Congresso
Nacional.
COM
ENT
ÁRIO
COM
ENT
ÁRIO
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: (57)Pena -
detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: 
 
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou 
 
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a
presença de seu patrono. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O dispositivo tipifica como abuso de autoridade a conduta do agente público que constrange alguém,
sob pena de prisão, a quebrar o sigilo decorrente de função, ministério, ofício ou profissão – pessoas
impedidas de depor, salvo se desobrigadas pela parte interessada, nos termos do art. 207 do CPP.(58)
A pena mínima de um ano é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95,
art. 89).
 
O Presidente da República havia vetado o parágrafo único do art. 15. Segundo ele, o dispositivo
proposto gera insegurança jurídica e contraria o interesse público ao penalizar o agente pelo mero
prosseguimento do interrogatório de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio. O
Congresso Nacional derrubou o veto.
 
A partir do momento em que o investigado ou réu decide que deseja exercer seu direito ao silêncio,
não faz sentido dar prosseguimento ao interrogatório com novos questionamentos. Deve a autoridade
responsável pela colheita do depoimento dar fim ao procedimento, afinal, de nada adiantará fazer
novas perguntas.
 
Para o Presidente da República, o dispositivo deveria ser vetado, pois não poderia ser criminalizada a
conduta de realizar oitiva de pessoa desacompanhada de advogado ou defensor. O Congresso
Nacional não concordou e derrubou o veto.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de sua
captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em
sede de procedimento investigatório de infraçãopenal, deixa de identificar-se ao preso ou
atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O dispositivo havia sido vetado pelo Presidente da República. Em seu entender, a propositura
legislativa contraria o interesse público pois, embora seja exigível como regra a identificação da
autoridade pela prisão, também se mostra de extrema relevância, ainda que em situações
excepcionais, a admissão do sigilo da identificação do condutor do flagrante, medida que se faz
necessária com vistas à garantia da vida e integridade física dos agentes de segurança e de sua
família. O Congresso Nacional derrubou o veto.
 
É direito da pessoa presa a identificação do responsável por sua prisão (CF, art. 5º, LXIV). Não por
outro motivo, em até 24 horas, deve ser entregue ao preso nota de culpa, onde consta o nome de
quem o prendeu (CPP, art. 306, § 2º). Por isso, não é possível que o agente público deixe de se
identificar (omissão própria) ou identifique-se falsamente, resguardadas exceções previstas em lei.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo
(Lei nº 9.099/95, arts. 61 e 89).
 
O parágrafo único traz figura equiparada, punida com as penas do caput, mas em relação ao agente
público responsável pela realização de interrogatório que não se identifica ao preso ou atribui a si
falsa identidade, cargo ou função.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Art. 17. Submeter o preso, internado ou apreendido ao uso de
algemas ou de qualquer outro objeto que lhe restrinja o movimento
dos membros, quando manifestamente não houver resistência à
prisão, internação ou apreensão, ameaça de fuga ou risco à
integridade física do próprio preso, internado ou apreendido, da
autoridade ou de terceiro:Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2
(dois) anos, e multa.Parágrafo único. A pena é aplicada em dobro se:
 
I - o internado tem menos de 18 (dezoito) anos de idade;
 
II - a presa, internada ou apreendida estiver grávida no momento da
prisão, internação ou apreensão, com gravidez demonstrada por
evidência ou informação;
 
III - o fato ocorrer em penitenciária.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O dispositivo foi vetado pelo Presidente da República. Segundo ele, a propositura legislativa,
ao tratar de forma genérica sobre a matéria, gera insegurança jurídica por encerrar tipo
penal aberto e que comporta interpretação. Ademais, há ofensa ao princípio da intervenção
mínima. O Congresso Nacional manteve o veto.
COM
ENT
ÁRIO
COM
ENT
ÁRIO
Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno,
salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em
prestar declarações: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Pode caracterizar crime de abuso de autoridade a realização de interrogatório de pessoa presa durante o
período de repouso noturno. O dispositivo não fala em horário específico, mas alguns entendem que seria o
período entre 21h e 5h, estabelecido no art. 22, § 1º, II, da LAA. Há duas exceções: (a) a captura em flagrante
delito. Não faria sentido prender alguém durante a madrugada e condicionar o interrogatório ao nascer do sol;
(b) quando o preso consente, desde que devidamente assistido.
 
O dispositivo não menciona a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e o Procedimento de Investigação
Criminal (PIC), feito diretamente pelo Ministério Público.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº
9.099/95, arts. 61 e 89).
Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito
de preso à autoridade judiciária competente para a apreciação
da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua
custódia: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que,
ciente do impedimento ou da demora, deixa de tomar as
providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para
decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade
judiciária que o seja. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
 O objetivo do art. 19 é a tutela do direito constitucional de petição (art. 5º, XXXIV, “a”). É direito da pessoa presa
peticionar à autoridade judiciária competente para avaliar a legalidade de sua prisão ou circunstâncias de sua
custódia. Pode caracterizar abuso de autoridade a conduta do agente público que dificulta, sem justo motivo, o
envio do pleito do preso.
 
A pena mínima de um ano é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95, art. 89).
 
Também é punido o magistrado que, ciente do embaraço ao pleito do preso, nada faz para sanar o problema,
ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, não envia o pedido ao juiz a quem compete a apreciação.
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e
reservada do preso com seu advogado: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso,
o réu solto ou o investigado de entrevistar-se pessoal e
reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo
razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e
com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de
interrogatório ou no caso de audiência realizada por
videoconferência. 
O artigo havia sido vetado pelo Presidente da República. Segundo ele, o dispositivo proposto, ao
criminalizar o impedimento da entrevista pessoal e reservada do preso ou réu com seu advogado, mas
de outro lado autorizar que o impedimento se dê mediante justa causa, gera insegurança jurídica por
encerrar tipo penal aberto e que comporta interpretação. O veto foi derrubado pelo Congresso
Nacional.
 
A entrevista pessoal e reservada é direito não só do preso, como também do advogado,
independentemente de procuração (vide art. 41, IX, da Lei nº 7.210/84 e art. 7º, III, da Lei nº 8.906/94).
Pode caracterizar crime de abuso de autoridade a conduta do agente público que a impede, sem justa
causa.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo
(Lei nº 9.099/95, arts. 61 e 89).
 
A entrevista entre cliente e advogado antes da audiência é de grande relevância para o pleno exercício
da ampla defesa. Ademais, o direito de sentar-se ao lado do advogado é importante para que ambos
possam se comunicar durante a audiência, salvo durante o interrogatório – eventuais instruções
devem ser fornecidas antes. Evidentemente, em caso de videoconferência, fica prejudicado o direito
de sentarem-se lado a lado.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou
espaço de confinamento: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na
mesma cela, criança ou adolescente na companhia de maior de
idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei
nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente). 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
É vedado o confinamento de pessoas de sexos opostos em um mesmo ambiente quando da aplicação de medida
privativa de liberdade. Há, inclusive, previsão constitucional nesse sentido, no art. 5º, XLVIII. O tipo penal foi
criado em razão de fato ocorrido no Pará, quando uma adolescente de quinze anos ficou presa, em uma cela,
com trinta homens adultos.
 
 A pena mínima de um ano faz com que seja possível a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95, art.
89).
 
 Em figura equiparada, a LAA considera abuso de autoridade o confinamento conjunto de criança ou adolescente
e de maior de idade ou em ambiente inadequado às suas necessidades (vide art. 94, IV, do ECA).
Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante,
imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições,sem
determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
 
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:
 
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;
 
 
II - executa mandado de busca e apreensão em imóvel alheio ou suas dependências, mobilizando
veículos, pessoal ou armamento de forma ostensiva e desproporcional, ou de qualquer modo
extrapolando os limites da autorização judicial, para expor o investigado a situação de vexame;
 
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes
das 5h (cinco horas).
 
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados
indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de
desastre.
O dispositivo tem por objetivo tutelar a inviolabilidade domiciliar (CF, art. 5º, XI). Pode caracterizar
crime de abuso de autoridade a conduta do agente que invade ou adentra, sem permissão, imóvel
alheio, bem como aquele que nele permanece, nas mesmas condições.
 
Trata-se de tipo penal misto alternativo. Logo, se o agente invade ou adentra e, no mesmo contexto
fático, permanece, apenas um delito é praticado, e não dois ou mais, em concurso.
 
O art. 5º, XI, da CF estabelece as exceções, quando não ocorrerá a prática do delito: flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
 
A pena mínima de um ano é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95, art
89).
 
Franquear significa permitir. O responsável pelo imóvel permitiu a entrada, mas o consentimento foi
viciado, em razão de violência ou grave ameaça empregada pelo agente público. Ou seja, a entrada foi
contra a vontade.
 
 
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
O inciso II foi vetado pelo Presidente da República. Segundo ele, a propositura legislativa, ao prever como
elemento do tipo a 'forma ostensiva e desproporcional', gera insegurança jurídica por encerrar tipo penal
aberto e que comporta interpretação. O veto foi mantido pelo Congresso Nacional.
 
O art. 5º, XI, da CF fala em cumprimento de ordem judicial durante o dia, mas não especifica o horário.
Para evitar que o conceito ficasse a cargo do julgador, a LAA estabelece: para a incidência do art. 22,
consideramos como período noturno o espaço temporal entre 21 e 5 horas.
 
As exceções trazidas no § 2º refletem o que já dispõe a Constituição Federal a respeito do assunto, em
seu art. 5º, XI.
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação
ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de
eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente
alguém ou agravar-lhe a responsabilidade: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com
o intuito de:
 
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso
praticado no curso de diligência; 
 
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações
incompletos para desviar o curso da investigação, da diligência ou do
processo. 
O dispositivo tipifica modalidade especial do crime de fraude processual (CP, art. 347), quando o
agente público modifica, dolosamente, o estado de lugar, coisa ou pessoa com o objetivo de evitar a
responsabilidade criminal ou para criminalizar alguém ou tornar mais grave a punição.
 
O crime se consuma no momento da inovação artificiosa. Não é necessário que, de fato, gere
consequências.(90) A pena mínima de um ano é compatível com a suspensão condicional do processo
(Lei nº 9.099/95, art. 89).
 
 Na figura do caput, o agente pratica a conduta com o objetivo de eximir-se de responsabilidade
criminal ou para responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a pena. No parágrafo único,
inciso I, o crime é estendido à inovação artificiosa com o objetivo de evitar responsabilidade civil ou
administrativa por excessos praticados pelo agente público no exercício de suas funções.
 
A depender da forma como a conduta é executada, pode ser considerada modalidade especial do
crime de falsidade ideológica (CP, art. 299).
COMENTÁRIOCOMENTÁRIO
Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário
ou empregado de instituição hospitalar pública ou privada a
admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido,
com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando
sua apuração: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da
pena correspondente à violência.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Assim como ocorre com o crime do art. 23, o agente tem por objetivo prejudicar a apuração
dos fatos para eximir-se da responsabilidade. Pratica o delito o indivíduo que obriga, mediante
violência ou grave ameaça, a simulação de atendimento hospitalar a alguém que está morto,
com o objetivo de alterar o local ou o momento do óbito.
 
A pena mínima de um ano faz com que o delito seja compatível com a suspensão condicional
do processo (Lei nº 9.099/95, art. 89).
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de
investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova,
em desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio
conhecimento de sua ilicitude. (
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O dispositivo tem por objetivo punir o agente público que se vale de meios ilícitos para a obtenção
de prova (vide art. 157 do CPP). Note que o que se pune não é a adoção da prova ilícita, em si, em
investigação ou em ação penal, conduta tipificada no parágrafo único, mas o uso de meio não
permitido em lei para obtê-la (ex.: interceptação telefônica ilegal).
 
A pena mínima de um ano é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95,
art. 89).
 
Também pode ser responsabilizado por abuso de autoridade o agente público que, conhecendo
previamente a adoção do meio de obtenção ilícito, utiliza a prova produzida.
Art. 26. Induzir ou instigar pessoa a praticar infração penal com o
fim de capturá-la em flagrante delito, fora das hipóteses previstas
em lei:Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (anos) anos, e multa.
 
§ 1º Se a vítima é capturada em flagrante delito, a pena é de
detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.§ 2º Não configuram
crime as situações de flagrante esperado, retardado, prorrogado ou
diferido. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O Presidente da República vetou o dispositivo. Segundo ele, a propositura legislativa gera
insegurança jurídica por indeterminação do tipo penal, e por ofensa ao princípio da
intervenção mínima, para o qual o Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente
necessário, tendo em vista que a criminalização da conduta pode afetar negatividade a
atividade investigativa, ante a potencial incerteza de caracterização da conduta prevista no
art. 26. O veto foi mantido pelo Congresso Nacional.
COM
ENT
ÁRIO
COM
ENT
ÁRIO
Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento
investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor
de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de
ilícito funcional ou de infração administrativa: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância
ou investigação preliminar sumária, devidamente justificada.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O delito do art. 27 não se confunde com a denunciação caluniosa (CP, art. 339), em que o indivíduo
dá causa à instauração de procedimento (ex.: inquérito policial) contra alguém com base em
imputação que sabe ser falsa. No crime da LAA, é punida a autoridade pública que determina a
instauração ou que instaura procedimento investigatóriosem justa causa.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do
processo (Lei nº 9.099/95, arts. 61 e 89).
 
A flexibilização trazida no parágrafo único está na mesma linha da Súmula 611 do STJ, que trata da
instauração de PAD com base em denúncia anônima.
 
Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação
com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou
a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou
acusado: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O dispositivo é inegável resposta aos áudios divulgados na Operação Lava Jato. Pode ser
responsabilizado por abuso de autoridade o agente público que divulga gravação sem relação com
a prova que se pretenda produzir. Portanto, não se trata de vedação ao acesso da população à
informação, mas o controle de excessos, de divulgação de informação que não importa ao que se
apura, em violação à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do investigado ou acusado.
 
A pena mínima de um ano faz com que o delito seja compatível com a suspensão condicional do
processo (Lei nº 9.099/95, art. 89).
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial,
policial, fiscal ou administrativo com o fim de prejudicar
interesse de investigado:
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, com igual
finalidade, omite dado ou informação sobre fato juridicamente
relevante e não sigiloso. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O objetivo do dispositivo é assegurar a idoneidade das investigações. É típica a conduta do agente
público que presta informação falsa sobre os procedimentos mencionados no caput. O crime se
assemelha ao delito de falso testemunho, do art. 342 do CP.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do
processo (Lei nº 9.099/95, arts. 61 e 89).
 
O parágrafo único foi vetado pelo Presidente da República. Para ele, a propositura legislativa, ao prever
como elemento do tipo 'informação sobre fato juridicamente relevante e não sigiloso', gera insegurança
jurídica por encerrar tipo penal aberto e que comporta interpretação. O Congresso Nacional manteve o
veto.
Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou
administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem
sabe inocente: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O artigo havia sido vetado pelo Presidente da República. Para ele, a propositura legislativa viola o
interesse público, além de gera insegurança jurídica, tendo em vista que põe em risco o instituto
da delação anônima (a exemplo do disque-denúncia), em contraposição ao entendimento
consolidado no âmbito da Administração Pública e do Poder Judiciário, na esteira do entendimento
do Supremo Tribunal Federal. O Congresso Nacional derrubou o veto.
 
 O crime do art. 27 não se confunde com o do art. 30. Naquele, a autoridade instaura (ou
determina a instauração) de procedimento investigatório sem justa causa. Neste, é dado início ou
se prossegue com a persecução penal sem justa causa ou contra quem sabe ser inocente.
Portanto, os dois dispositivos se complementam.
 
A pena mínima de um ano é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95,
art. 89).
Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a
em prejuízo do investigado ou fiscalizado: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo
para execução ou conclusão de procedimento, o estende de forma
imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do
fiscalizado.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O tipo penal pune o agente público que prolonga em demasia, de forma dolosa e sem justa causa,
investigação. Para a caracterização do crime, não basta a simples demora, mas a intenção
específica de procrastinar para causar em prejuízo.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do
processo (Lei nº 9.099/95, arts. 61 e 89).
 
 Em verdade, seja qual for o ato praticado pelo agente público, surge a ilicitude a partir do
momento em que o interesse público é deixado de lado para prevalecer o interesse particular. Se
há um prazo para a execução ou conclusão de procedimento, seu prolongamento é possível, desde
que exista justa causa. Caso contrário, pode ficar caracterizado delito de abuso de autoridade.
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos
autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao
inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de
infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a
obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a
diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências
futuras, cujo sigilo seja imprescindível: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O Presidente da República havia vetado o dispositivo. Em seu entender, a propositura legislativa gera
insegurança jurídica, pois o direito de acesso aos autos possui várias nuances e pode ser mitigado,
notadamente, em face de atos que, por sua natureza, impõem o sigilo para garantir a eficácia da
instrução criminal. Ademais, a matéria já se encontrar parametrizada pelo Supremo Tribunal Federal,
nos termos da Súmula Vinculante nº 14. O Congresso Nacional derrubou o veto.
 
O art. 32 tipifica a conduta de quem viola o que já estava disposto na SV nº 14. É direito do defensor,
mesmo sem procuração, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que,
já documentados em procedimento investigatório. A ressalva em relação às diligências em curso ou
futuras é óbvia: não poderia o advogado do investigado acompanhar, por exemplo, a realização do
procedimento de interceptação telefônica.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo
(Lei n. 9.099/95, arts. 61 e 89).
Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o
dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou
função pública ou invoca a condição de agente público para se eximir
de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O artigo criminaliza a conduta de violar a garantia disposta no art. 5º, II, da CF: ninguém será obrigado
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. De certa forma, a conduta é
semelhante ao crime de constrangimento ilegal (CP, art. 146).
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo
(Lei n. 9.099/95, arts. 61 e 89).
 
O parágrafo único tipifica a famigerada carteirada: o indivíduo, valendo-se da função pública, busca
eximir-se de obrigação a todos imposta ou obter vantagem ou privilégio indevido.
O artigo foi vetado pelo Presidente da República. Em seu entender, a propositura legislativa, ao dispor
que 'erro relevante' constitui requisito como condição da própria tipicidade, gera insegurança jurídica
por encerrar tipo penal aberto e que comporta interpretação. Ademais, o dispositivo proposto contraria
o interesse público ao disciplinar hipótese análoga ao crime de prevaricação, já previsto no art. 34 do
Código Penal. O veto foi mantido pelo Congresso Nacional.
 
O dispositivo foi vetado pelo Presidente da República. Segundo ele, a propositura legislativa gera
insegurança jurídica, tendo em vista a generalidade do dispositivo, que já encontra proteção no art. 5º,
XVI, da Constituição da República, e que não se traduz em uma salvaguarda ilimitada do seu exercício,
nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, cujo entendimentoé no sentido de que o
direito à liberdade de se reunir não se confunde com incitação à prática de delito nem se identifica com
apologia de fato criminoso. O veto foi mantido.
 
Art. 34. Deixar de corrigir, de ofício ou mediante provocação,
com competência para fazê-lo, erro relevante que sabe existir
em processo ou procedimento: 
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, e multa.
 
Art. 35. Coibir, dificultar ou impedir, por qualquer meio, sem
justa causa, a reunião, a associação ou o agrupamento pacífico
de pessoas para fim legítimo: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos
financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o valor
estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a demonstração,
pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la: 
 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
A indisponibilidade de bens é medida importante para assegurar a reparação de danos causados pelo
agente público. Não por outro motivo, tem previsão expressa em várias normas, a exemplo da Lei de
Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92, art. 7º). É válido destacar o recém introduzido art. 91-A do
CP, adicionado pelo Pacote Anticrime, que possibilita a perda dos bens correspondentes à diferença
entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. O
crime do art. 36 é impreciso, pois fala em extrapolar exacerbadamente, cabendo ao julgador decidir se
houve ou não excesso ao analisar o caso concreto.
 
A redação dos dispositivos é confusa, mas parece haver duas formas de se praticar o delito: (1) a
decretação da indisponibilidade em quantia que extrapole exacerbadamente o valor suficiente, crime
comissivo; (2) deixar de corrigir decisão após a parte demonstrar o excesso, crime omissivo próprio.
Outra possível interpretação: a tipicidade depende da demonstração de excesso pela parte. Nesse
caso, o crime ocorreria a partir de uma segunda decisão, quando o magistrado confirmasse o bloqueio
inicial, mesmo após demonstração de excessividade.
 
A pena mínima de um ano é compatível com a suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/95, art.
89).
Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de
processo de que tenha requerido vista em órgão colegiado, com o
intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento:
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (125)
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O tipo penal busca assegurar a observância prática do princípio constitucional da duração razoável dos
processos. O dispositivo tem um alvo específico: o magistrado atuante em tribunal que, para postergar
o julgamento de um processo, pede vista dos autos. No entanto, o dispositivo utiliza, mais uma vez –
característica marcante da LAA -, fórmula aberta: a demora em demasia. Importante destacar que não
se pune a conduta desidiosa do magistrado, mas o juiz que, dolosamente, age dessa forma.
 
Crime de menor potencial ofensivo. É possível a suspensão condicional do processo (Lei n.º 9.099/95,
arts. 61 e 89).
Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de
comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de
concluídas as apurações e formalizada a acusação: 
 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O artigo havia sido vetado pelo Presidente da República. Segundo ele, a propositura legislativa viola o
princípio constitucional da publicidade previsto no art. 37, que norteia a atuação da Administração
Pública, garante a prestação de contas da atuação pública à sociedade, cujos valores da coletividade
prevalecem em regra sobre o individual, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Por fim, a comunicação a respeito de determinados ocorrências, especialmente sexuais ou que violam
direitos de crianças e adolescentes, podem facilitar ou importar em resolução de crimes. O Congresso
Nacional derrubou o veto.
 
A tipificação da conduta é resposta a situações presenciadas na Operação Lava Jato, quando agentes
públicos, principalmente, em redes sociais, anteciparam a responsabilidade de alguns dos
investigados. Dos tipos penais da nova LAA, talvez seja o que produz maior efeito inibidor. É válido
relembrar que, para a caracterização do delito, tem de estar presente o dolo específico, nos termos do
art. 1º, § 1º, não bastando a mera divulgação dolosa da informação.
 
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo
(Lei n. 9.099/95, arts. 61 e 89).
Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos
nesta Lei, no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3
de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
 
O procedimento para o processo e o julgamento dos crimes da LAA é o comum, do Código de
Processo Penal, observadas as disposições da Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº
9.099/95). Importante destacar que, a depender do infrator, pode ser hipótese de foro especial
por prerrogativa de função, com procedimento próprio.
CAPÍTULO VII
DO PROCEDIMENTO
Art. 40. O art. 2º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, passa a
vigorar com a seguinte redação:“Art.2º
.......................................................................................................§ 4º-A
O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração
da prisão temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o
dia em que o preso deverá ser libertado.
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
A Lei nº 7.960/89 regulamenta a prisão temporária. Vencido o prazo de decretação, o preso
deve ser imediatamente solto, não sendo necessária a expedição de alvará de soltura. Para
evitar que o indivíduo fique preso além do tempo estabelecido – o que poderia caracterizar
abuso de autoridade -, deve constar, no mandado de prisão, o tempo de encarceramento e o
dia em que deverá ocorrer a soltura.
CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES FINAIS
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade
responsável pela custódia deverá, independentemente de nova ordem
da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo
se já tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária ou
da decretação da prisão preventiva.
 
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no
cômputo do prazo de prisão temporária.”
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Vencido o prazo da prisão temporária, o preso deve ser imediatamente solto,
independentemente de expedição de alvará de soltura, salvo se tiver havido a prorrogação da
medida ou a decretação da prisão preventiva.
 
A contagem do tempo em prisão temporária se dá pelo prazo material, do Código Penal, e não
pelo processual, do Código de Processo Penal.
Art. 41.  O art. 10 da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, passa a vigorar com a
seguinte redação:
 
“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de
informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça,
sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:Pena - reclusão, de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa.Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade
judicial que determina a execução de conduta prevista no caput deste artigo com
objetivo não autorizado em lei.” 
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
A Lei nº 9.296/96 regulamenta o procedimento de interceptação telefônica. A nova LAA
modificou a redação anterior do art. 10, que passou a criminalizar a conduta quando se tratar
de escuta ambiental. Ademais, foi adicionado o parágrafo único, para punir o magistrado que
determina a execução da interceptação com objetivo não autorizado em lei. Vale mencionar
que o PacoteAnticrime adicionou um novo delito, no art. 10-A, para punir a captação
ambiental ilícita.
Art. 42. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente),
passa a vigorar acrescida do seguinte art. 227-A:“Art. 227-A Os efeitos da condenação
prevista no inciso I do caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por servidores
públicos com abuso de autoridade, são condicionados à ocorrência de
reincidência.Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso,
independerá da pena aplicada na reincidência.”
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
Para os crimes previstos no ECA, quando praticados por agente público, a perda do cargo,
mandato ou função depende de reincidência específica. Ou seja, deve o indivíduo já possuir,
na época dos novos fatos, condenação anterior, transitada em julgado, por crime previsto no
ECA praticado em hipótese de abuso de autoridade. O efeito é imposto independentemente da
pena aplicada em relação à reincidência.
Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar acrescida do seguinte art.
7º-B:
 
‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos
incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei:
 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’”
L E I D E A B U SO D E
AUTOR I DA D E
O Presidente da República havia vetado o artigo. Segundo ele, a propositura legislativa gera
insegurança jurídica, pois criminaliza condutas reputadas legítimas pelo ordenamento jurídico.
O veto foi derrubado.
Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar acrescida do seguinte art.
7º-B:
 
‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos
incisos II, III, IV e V do caut do art. 7º desta Lei:
 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’”
O dispositivo adicionou ao Estatuto da OAB hipótese de crime praticado quando violadas
algumas das prerrogativas reservadas aos advogados, no art. 7º, II, III, IV e V. Veja o conteúdo
dos incisos:
 
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de
trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que
relativas ao exercício da advocacia;
 
III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração,
quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou
militares, ainda que considerados incomunicáveis;
 
IV – ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao
exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais
casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;
 
V – não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado
Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua
falta, em prisão domiciliar.
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art. 150 e o
art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).
 
 
Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua
publicação oficial.
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AUTOR I DA D E
A nova LAA revogou o § 2º do art. 150, que aumentava a pena do crime de invasão de
domicílio, quando praticado por funcionário público, e o art. 350, ambos do CP, que tipificava
o exercício arbitrário ou abuso de poder. 
 
Importante dizer que não houve abolitio criminis, pois as condutas permanecem típicas na LAA
(princípio da continuidade normativa típica).A nova LAA entrou em vigor no dia 3 de janeiro de
2020.

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