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Nutrição animal 2020.1 Marina Morena mmorenacg@gmail.com 2 Sumário Introdução ............................... 3 Conceitos ................................. 3 Composição bromatológica ........ 3 Água ............................................. 4 Carboidratos ................................. 4 Classificação por estrutura ......... 5 Análise laboratorial ................... 5 Lipídios ......................................... 5 Ácidos graxos essenciais ............ 6 Análise bromatológica ............... 7 Proteínas ....................................... 7 Análise bromatológica ............... 7 Minerais ........................................ 8 Análise bromatológica ............... 8 Digestibilidade ........................ 9 Rotulagem ............................. 10 Classificação dos alimentos ..... 12 Volumoso .................................... 12 Concentrado ............................... 13 Tipos de ração ......................... 13 Ração farelada ............................ 13 Ração peletizada ......................... 13 Ração extrusada .......................... 14 Outros tipos de ração .................. 14 Armazenamento ................... 14 Energia .................................. 15 Métodos de determinação .......... 15 Anatomia comparada do TGI .... 16 Não ruminantes .......................... 16 Ruminantes ................................. 17 Digestão e absorção .................. 18 Estômago químico ....................... 18 Intestino delgado ........................ 18 Intestino grosso........................... 19 Digestão ≠ Absorção .................... 19 Obesidade .............................. 19 Fatores que desencadeiam obesidade ........................................ 20 Alterações clínicas associadas ...... 21 Cuidados essenciais ..................... 22 Tratamento ................................. 22 Gatos ...................................... 22 Diagnóstico ................................. 23 Sequência de tratamento ............ 23 Nutrição de não ruminantes ... 24 Suínos ......................................... 24 Rações por fase de criação ....... 24 Aves ............................................ 25 Carnívoros ................................... 25 Gatos ...................................... 25 Frequência alimentar ............... 26 Equino ........................................ 26 Coelho ........................................ 27 Nutrição de ruminantes.......... 27 Fermentação de carboidrato ....... 29 Uso de proteínas ......................... 29 Segunda avaliação .................. 33 Marina Morena 3 Introdução Nutrição é uma ciência complexa que estuda diversos processos que envolvem a ingestão, digestão e absorção de nutriente. O nutricionista veterinário é crucial em produção animal, pois compõe a tríade necessária para o melhor desempenho animal: genética, manejo e nutrição. De 60% a 70% do custo da produção animal vai para a nutrição. Na clínica pode ajudar em cálculos urinários, saúde gastrointestinal, obesidade, além de problemas hepáticos e renais. Em diagnóstico por imagem consegue- se notar deficiência nutricional (falta ou excesso). Além disso, a nutrição impacta também no meio ambiente, uma vez que o alimento interfere na quantidade de excrementos (fezes e urina). Um animal que se alimenta de uma refeição com baixo valor nutricional irá precisar ingerir mais dela para atingir suas necessidades. Além de um alimento com menor valor nutricional ser menos absorvido e, portanto, gerar um volume de fezes maior. Conceitos Alimento, em uma definição mais generalista, é o que garante a sobrevivência da espécie. Para nutrição, precisa de qualidade nutricional, não ser tóxico e ser palatável. É melhor controlar a ingesta de alimentos pelo nível de energia em vez da palatabilidade. Nem todo animal necessita de uma ração super premium. A alimentação varia de acordo com a necessidade do animal e do poder aquisitivo do tutor. A digestão é a transformação de moléculas de maior peso molecular em partículas menores passíveis de absorção. Obs: a única exceção em que há absorção de molécula complexa é no colostro, onde o recém- nascido absorve imunoglobulinas. Nutriente são os componentes do alimento, como proteína, vitamina, água, carboidrato, minerais e lipídios. Em contrapartida, ingrediente é o que constitui um alimento, aquilo que é inserido para produzir a refeição. Os nutrientes podem servir como ingredientes quando colocado em um alimento como suplemento. A dieta é uma alimentação balanceada com uma finalidade específica. Por outro lado, a ração é uma alimentação balanceada por um período de 24h, enquanto a refeição (ou trato) são as porções de uma ração. O metabolismo é a reação de síntese (anabolismo) e quebra (catabolismo) dos nutrientes. Por fim, a bromatologia é a ciência que estuda os alimentos, suas composições químicas e nutrientes. Composição bromatológica No rótulo dos alimentos encontramos os detalhes como níveis de garantia. Os parâmetros são baseados na matéria seca, pois a proporção é diferente em alimentos desidratados e frescos. As análises são realizadas a partir do método de weende grande parte das vezes, por ser de baixo custo. Entretanto, esse método não qualifica os nutrientes, apenas quantifica. Por esse método podemos quantificar a fração úmida do alimento (água) e a matéria seca. A matéria seca consiste na porção orgânica (proteína, carboidrato, lipídio e vitamina) e mineral (sais minerais) do alimento. Marina Morena 4 Água Nutriente de privação mais crítico. Um animal pode perder toda a gordura, metade das proteínas e aproximadamente 40% do peso vivo e sobreviver, porém o máximo de água que ele pode perder é 10%. A água corpórea pode ser de três origens: ingerida, que é a principal e muito importante (especialmente para gatos); alimentar, que é ingerida a partir do alimento (por exemplo um cavalo quando pasta, onde o pasto costuma ter em média 75% de água em sua composição); ou metabólica, resultante do catabolismo energético (nutriente -> CO2 + H2O e energia) que tem especial importância em animais que hibernam ou que passam longos períodos de seca (camelos, dromedários e etc). As principais funções da água são no transporte de nutrientes, tanto no corpo do animal como no alimento, atuar em reações metabólicas, controle da temperatura, dar forma ao organismo e lubrificar tanto articulações como olhos e ouvidos, além de ser um constituinte tecidual. Obs: alimentos desidratados - em alguns casos é importante, pois o animal come mais quantidade sem ficar satisfeito, ingerindo mais nutrientes. Além disso, o tempo de armazenamento do alimento desidratado é maior, pois sem água os micro-organismos têm o crescimento inibido. Como método de análise bromatológica da umidade de um alimento, utiliza-se o ressecamento (evaporação) do mesmo e comparar o peso antes e depois, assim a diferença é o quanto havia de água. Carboidratos É a principal fonte de energia para grande parte dos animais, exceto os carnívoros (proteína). A fórmula química geral leva a proporção de C1H2O1, um exemplo é a glicose (C6H12O6). A origem dos carboidratos é fundamentalmente sempre através da fotossíntese de uma planta. Entretanto, na alimentação o tipo de origem do carboidrato pode ser animal (glicose no sangue, lactose do leite e glicogênio do fígado) ou vegetal, que é a forma utilizada na nutrição. O carboidrato de origem vegetal pode ser de dois tipos: 1. Carboidrato estrutural (fibra bruta) – carboidratos da parede celular da planta, como a celulose, hemicelulose e pectina. Além disso, na parede celular vegetal também há um componente, a lignina, que não é carboidrato e não é digestível. A concentração de lignina na parede celularé proporcional à idade da planta. Obs: a quantidade de lignina presente no alimento, como o feno ou forragem, afeta diretamente na qualidade do mesmo, uma vez que o animal não consegue digerir esta substância. 2. Carboidrato não estrutural (extrato não nitrogenado/ENN) – presente no interior da célula são os amidos e açúcares. O ENN não é quantificado no método de weende, o resultado pode ser obtido a partir a diferença resultante dos outros componentes (portanto não aparece no rótulo). A fibra possui uma função nutricional importante como prebiótico, que são ingredientes nutricionais não digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro estimulando seletivamente o crescimento e atividade de uma ou mais bactérias benéficas do cólon, melhorando a saúde do seu hospedeiro. Conforme as bactérias da microbiota fermentam as fibras, é gerado no TGI gás e ácido. Essa acidificação é que traz benefícios, como a seleção da microbiota; energia para a células Carboidrato estrutural Carboidrato não estrutural Marina Morena 5 (enterócitos), por ser um ácido graxo; estimula o sistema imune; além de melhorar na absorção dos alimentos. Para que a fibra gere um nível de fermentação que traga benefícios, ela precisa ter uma fermentabilidade moderada, pois se for alta trará consequências como a diarreia osmótica e se for baixa não atingirá o efeito desejado. Assim, temos como exemplos de fibras com valor nutricional para os não ruminantes a polpa de beterraba, polpa de citros, o farelo de arroz e a goma arábica. Obs: Extrato de Physillium é um tipo de fibra extraído da casca da semente que é muito utilizado em ração de gatos, pois ajuda no trânsito intestinal e a eliminar bolas de pelo. Classificação por estrutura Os carboidratos podem ser classificados, de acordo com a sua estrutura, como monossacarídeos ou polissacarídeos. Os monossacarídeos são os carboidratos simples, ou seja, a forma absorvível. São eles a glicose, manose, frutose e galactose. Por sua vez, os polissacarídeos são os carboidratos complexos formados por diversos monossacarídeos, por exemplo, a lactose, que é formada por uma glicose e uma galactose. Outros exemplos são a maltose, amido, glicogênio, celulose etc. Desse modo, grande parte das vezes o que se ingere é o polissacarídeo e dentro do corpo ele é clivado em monossacarídeo e absorvido. Tanto o amido quanto a celulose são formados pela ligação entre diversas moléculas de glicose, o que os diferencia é o tipo de ligação entre elas. Nos carboidratos estruturais os monossacarídeos são unidos por uma ligação do tipo β, enquanto os carboidratos não estruturais são unidos por uma ligação do tipo α. Com base nessa ligação, podemos entender por que o animal consegue digerir o amido, uma vez que possui a enzima α-amilase. Como exceções têm os carnívoros, que não evoluíram para ingerir carboidratos e não produzem essa enzima. Assim, quando ofertado carboidrato na alimentação deles, deve sempre haver um processamento prévio do mesmo, como cozimento por exemplo. Obs: carnívoros que consomem amido em excesso ou não processado podem desenvolver uma diarreia osmótica, uma vez que esse não é digerido. Os animais ruminantes conseguem se alimentar de carboidratos estruturais, pois em sem rúmen há uma microbiota que digere a celulosa, rompendo as ligações β. Análise laboratorial A análise laboratorial para a determinação de carboidrato mais usada é o método de weende, que apenas quantifica a fibra bruta. Um segundo método que pode ser utilizado é o método Van Soest. Este segundo tem a capacidade de qualificar o tipo de fibra, podendo ser realizado de dois modos: 1. FDN (fibra em detergente neutro) - celulose, hemicelulose e lignina. 2. FDA (fibra em detergente ácido) – celulose e lignina. Um valor aumentado de FDA está relacionado ao aumento da lignina, assim, quanto maior for o FDA menor é a digestibilidade daquele alimento. Lipídios São substâncias heterogêneas, insolúveis em água por ser apolar e solúveis em solventes orgânicos (glicerídeos, ceras, esteróis, carotenoide, fosfolipídios e esfingolipídio). Quanto mais Marina Morena 6 complexo o radical do ácido graxo, mais apolar é a molécula. A diferença entre uma gordura e um óleo é a sua consistência em temperatura ambiente, onde a gordura é sólida e o óleo é líquido. Essa característica é derivada do tipo de ligação presente. A ligação saturada é simples, portanto é uma ligação mais forte, mais difícil de desfazer. Desse modo, glicerídeos com ligações saturadas são sólidos em temperatura ambiente (gordura) e precisam ser aquecidos para fluidificarem. Esse tipo de substância estraga com menor facilidade, uma vez que suas ligações são mais fortes. Por sua vez, as ligações insaturadas, que são ligações duplas, possuem um ponto de fusão mais baixo, precisando de uma menor temperatura para se fluidificar. Por ser uma ligação frágil, os alimentos que possuem glicerídeos insaturados estragam com uma maior facilidade. O processo de rancificação (deterioração) do alimento é quando há a oxigenação, formando peróxido de hidrogênio e estragando o alimento. Para evitar esse processo, são utilizadas como aditivos algumas substâncias antioxidantes. Uma das principais funções dos lipídios é servir como fonte de energia, podendo gerar 2,25 vezes mais energia que outros nutrientes orgânicos (CHO) e proteínas (CHON). Por possuírem poucos níveis de outros nutrientes, a adição de lipídios não desbalanceia a ração, sendo assim o último ingrediente acrescentado. Além disso, é uma fonte de ácidos graxos essenciais, isolante contra frio e melhora a palatabilidade e poeira das rações. Os lipídios também participam da síntese e transporte das vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K); na síntese de sais biliares e hormônios, especialmente os com base de colesterol; é um importante isolante elétrico (bainha de mielina) e estrutural (fosfolipídios da membrana plasmática); e, por fim, é um impermeabilizante. Ácidos graxos essenciais Um dos mais citados ácidos graxos essenciais é o grupo/família pertencente aos ômega 6 e 3. O ácido linoléico é um dos pertencentes à família ômega-6, que possui 18 carbonos e duas ligações duplas. Todos os ácidos graxos da família ômega-6 são insaturados e possuem em comum uma ligação dupla no carbono 6. Podem ser encontrados em óleos vegetais e certas gorduras animais. Dentre as suas funções, a saúde da pele e a qualidade do pelo são as citadas, além da função na reprodução. Cachorros produzem o ácido araquidônico a partir do ácido linoléico, portanto este não é considerado essencial. Por sua vez, os gatos não possuem as enzimas necessárias para essa conversão, então o ácido araquidônico é essencial na alimentação. A família ômega-3 é composta pelos ácido linolênico, ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA). É caracterizada pela presença de três ligações duplas, onde a ligação dupla característica está na extremidade oposta à carboxila, no carbono 3. É encontrada em óleos de peixe e possui papel anti- inflamatório, além de auxiliar na maturação do sistema nervoso em animais jovens e lutar contra o envelhecimento Marina Morena 7 cerebral no animal idoso devido ao seu papel na oxigenação celular. Análise bromatológica Os lipídios são descritos nos rótulos como extrato etéreo devido ao seu método de análise, que usa o éter como solvente para a extração. Proteínas Compostos nitrogenados com grande peso molecular, presente em todas as células vivas. A estrutura geral é composta de C,H,O e N, podendo conter S, P, ou Fe. As proteínas possuem função estrutural tanto na construção quanto na renovação (colágeno, elastina e proteínas contráteis), além das funções de defesa (imunoglobulinas), transporte (albumina) e agirem como enzimas e hormônios no corpo.A forma absorvível da proteína é o aminoácido. A partir desse conceito, dividem-se os aminoácidos em essenciais, que só são adquiridos através da alimentação, ou não essenciais, que podem ser sintetizados no corpo. No geral, a lisina, o triptofano, a treonina, a metionina, a histidina, a leucina, a isoleucina, a fenilalanina, a valina, a arginina e a taurina são aminoácidos ditos essenciais. Em contraponto, como aminoácidos não essenciais temos: serina, prolina, glicina, cistina, ácido glutâmico, ácido aspártico, glutamina, aspargina e alanina. Obs: os aminoácidos essenciais variam de acordo com a espécie, alguns não são essenciais para cães, mas são para gatos. O aminoácido metionina é essencial para praticamente todos os animais. O animal utiliza a metionina, dentre outras coisas, para sintetizar o aminoácido não essencial cistina. Por não ser essencial, não é obrigatório adicionar cistina à dieta, entretanto, algumas rações adicionam a cistina para evitar metabolizar muita metionina para esse fim. A cistina é um aminoácido mais barato para a indústria. A taurina é um bom exemplo de aminoácido que é essencial para uma espécie (gatos) e não essencial para outra (cães). Os aminoácidos limitantes são aqueles que estão presentes nos alimentos ou rações em pequenas quantidades, de forma a afetar a utilização dos demais aminoácidos. Podem estar limitantes um ou mais aminoácidos ao mesmo tempo, porém, em uma ordem de limitação. O aminoácido em menor quantidade é o limitante. As proteínas de alto valor biológico possuem em sua composição aminoácidos essenciais em proporções adequadas. É uma proteína completa e que o animal digere bem. Por sua vez, as proteínas de baixo valor biológico são aquelas que possuem poucos aminoácidos essenciais. Análise bromatológica Dentro do método de weende, é utilizado o método de Kjeldahl para determinar a quantidade de nitrogênio e, por consequência, o nível de proteína bruta presente no alimento. O nitrogênio da amostra é deslocado e transformado em sal de amônio (mineralização ou digestão). A seguir, em meio alcalino (adição de NaOH 40%) e aquecimento desloca-se o NH3, recebendo-o em ácido bórico com solução indicadora, vermelho de metila + verde de bromocresol (destilação por arraste a vapor). Por titulação com ácido clorídrico (0,1N), determina-se a quantidade de amônio que reagiu com ácido bórico. Assim, essencialmente determina-se a quantidade de nitrogênio da amostra. Tendo em mente que em uma proteína 16% aproximadamente é nitrogênio, é realizado um cálculo que indica a quantidade de proteína. Marina Morena 8 Minerais São compostos inorgânicos constituídos basicamente de carbono, que participam na formação de tecidos, na ativação das reações bioquímicas através da ativação de sistemas enzimáticos. Além disso, participam no processo de absorção e transporte de nutrientes no organismo. É feita a suplementação de sal comum (NaCl) ou sal mineral (NaCl + outros minerais) em animais com alimentação a parto, pois nossos solos são pobres neles. Esse manejo é feito com base na premissa de que o sal mineral age como coadjuvante de compostos orgânicos, auxiliando na metabolização e, por consequência, melhorando o desempenho animal. Vale ressaltar que como o sal mineral não gera energia, ele não leva ao ganho de peso do animal. Os minerais são divididos em macromineiras, que são exigidos em maiores quantidades (Ca, P, K, S, Na, Cl e Mg) e estão em maior abundancia na natureza, e microminerais, que são menos exigidos e menos abundantes (Fe, Zn, Cu, I, Mn, Cr, Co, Mo, Se, F, B, Ni e Br). A inter-relação entre minerais é de extrema importância, difícil harmonia e deve ser levada em consideração na nutrição animal. Desse modo, deve-se utilizar uma formula pronta ou indicada apenas por profissionais extremamente especializados. O sinergismo é quando a combinação de ingredientes minerais não atrapalha na absorção um do outro. Por sua vez, o antagonismo é quando na combinação de ingredientes um mineral atrapalha na absorção do outro. Mineral Deficiência Excesso Cálcio (Ca) Descalcificação e hiperparatireoidismo Anormalidades ósseas, osteocondrose, redução do crescimento e osteodistrofia hipertrófica Fósforo (P) Pernas tortas, osteomalácia, acidose e anemia Insuficiência renal, impede a absorção de cálcio, desidratação e poluição ambiental Magnésio (Mg) Anorexia, alterações nos ossos, articulações e ligamentos; Gatos perdem o reflexo de piscar e têm convulsão Cálculos urinários (urina alcalina) Sódio (Na) Apatia, aumento da frequência cardíaca e desidratação Cloro (Cl) Queda de potássio, perda de peso e fraqueza Iodo(I) Dilatação da tireóide, desordens no crescimento, queda de pelo e apatia Cobre (Cu) Baixa imunidade, anemia, hemorragia e canibalismo Ferro (Fe) Anemia e fraqueza Deficiências de cobre e zinco, vômitos e diarreia Zinco (Zn) Crescimento lento, dermatites e queda de pelo Selênio (Se) Falta de apetite, vômito, cegueira e crescimento inadequado Obs: excesso de selênio é encontrado especialmente em dietas ricas em peixes. Análise bromatológica A análise realizada pelo método de weende é feita com uma mufla (forno de até 400ºC), onde o alimento é aquecido/queimado e toda a matéria orgânica desfeita. Assim, o que sobra é a matéria inorgânica presente. Por isso, além de ser chamada de matéria mineral, pode também ser chamada de cinza (ash). Marina Morena 9 Digestibilidade É o valor percentual do alimento não recuperado nas fezes. O animal digere parte do alimento e excreta o resto. O quanto menos proteína, lipídios, minerais etc. que ele excretar, melhor para o animal. Assim, o alimento com ingredientes de melhor qualidade será melhor digerido e irá gerar menos excreta. Quando o animal come um alimento com maior digestibilidade, ele irá necessitar comer menos quantidade, já que ele irá aproveitar o máximo daquele alimento. Rações formuladas com ingredientes de melhor qualidade são mais caras, pois o ingrediente é nobre. Deve-se pensar que haverá um consumo menor também. A análise de custo benefício tem que ser feita, uma vez que na hora de indicar uma ração, deve-se avaliar outros fatores também como: poder aquisitivo do tutor, necessidade do animal etc. Em relação a questão ambiental, alguns fatores são importantes: como o volume de excreta e menos poluentes (como fósforo). Obs: quando animal come muito de uma ração, não significa que ela é de boa qualidade, apenas com alta palatabilidade. O coeficiente de digestibilidade é o percentual daquele alimento que o animal consegue fazer proveito. Assim, quanto maior o coeficiente, maior a qualidade do alimento. É o que garante a qualidade do alimento e é um dos fatores que define como super premium, premium e econômica, embora não haja lei brasileira para isso. Todas as rações comerciais são balanceadas. A ração econômica é balanceada para uma formulação de mínimo, ou seja, para animais que tem menor exigência nutricional (animais mais rústicos, como os SRD). Não são rações ruins, são apenas para animais com menor exigência nutricional. O fato de usarem ingredientes menos nobres e menos aditivos, que defini a formulação mínima, é o que torna a ração mais barata e acessível. A legislação permite que as rações econômicas troquem de ingredientes de acordo com o aumento valor em épocas de alta, para que as rações mantenham o preço. Há uma lista de substitutos que são permitidos. Além disso, deve-se levar em conta a digestibilidade do ingrediente substituído, sempre se atentando para que não cair a qualidade da ração. Rações premium e super premium não fazem isso pois o alto valor do ingrediente já está embutido no preço da ração. Além disso, um animal com maior exigência nutricional iria sofreros efeitos da troca, como diminuição na palatabilidade ou diarreia. Obs: rações super premium também tem uma energia elevada. Existem grandes variações na capacidade de utilização dos vários tipos de alimentos, em função das diferenças anatômicas e fisiológicas existentes nos tratos digestivos das várias espécies. Certas espécies animais não diferem grandemente na sua capacidade de digerir alimentos concentrados, tais como grãos Marina Morena 10 de cereais e seus subprodutos, visto que estes alimentos apresentam um baixo valor em fibra bruta. Outras, como os ruminantes, capazes de digerir grande quantidade de matéria fibroso. Em face dessas diferenças, se torna de grande importância a avaliação dos ingredientes usados na alimentação animal, pois, para se obter uma alimentação eficiente, é necessário conhecer tanto as exigências das várias espécies, como a extensão pela qual diferentes alimentos suprem aquelas necessidades. Além disso, outros fatores afetam a digestibilidade do alimento, como por exemplo a idade, raça e o indivíduo. Alguns fatores podem melhorar a digestibilidade de acordo com as características do alimento, como o processamento/modificação do alimento. Um desses fatores é a qualidade do ingrediente utilizado, bem como o cozimento do alimento. A redução do tamanho das partículas também melhora o aproveitamento do alimento pelo animal, uma vez que o torna mais susceptível a ação das enzimas digestivas. Por fim, a adição de enzimas também é um método utilizado para melhorar a digestibilidade, como a lactase para humanos, por exemplo. Economicamente esse recurso ainda é pouco vantajoso, não sendo utilizado em grande escala. Rotulagem A primeira avaliação a ser feita é: para qual espécie a ração é recomendada? Qual grupo de animais? Castrado? Filhote? Algumas informações a respeito de aditivos podem ser anunciadas no rótulo. Se for obrigatório, não pode receber esse destaque. Outro ponto importante para atentar é se a ração é ração mesmo, ou seja, alimento completo e não apenas um suplemento. O rótulo deve conter esse tipo de informação, geralmente na recomendação de consumo. O clínico deve se atentar que mexer na alimentação do animal deve ser feito como um medicamento, com um receituário de recomendações por escrito e assinado, para que o tutor não faça confusão e se fizer, você possuirá um documento registrando as cautelas a serem realizadas. Tal confusão costuma acontecer em casos Marina Morena 11 de suplementos sendo utilizados como ração, por exemplo. Além disso, em relação aos suplementos é sempre bom lembrar de quando for recomendar, alertar ao tutor de diminuir (e dizer o quanto se deve diminuir) a porção de ração, para que o animal não consuma mais energia do que o necessário e engorde. O prazo de validade também é uma informação observada no rótulo. Os antioxidantes são aditivos utilizados para conservar o alimento e aumentar o prazo de validade. Se o antioxidante utilizado for natural, e não sintético, além da ração ser mais cara, o prazo de validade costuma ser menor. Algumas rações são vendidas com indicações para todos os portes, podendo ser utilizada para diferentes raças e portes. O ajuste é realizado pela porção indicada, mas vale lembrar que nesses casos, por ter baixa especificidade, costuma se tratar de um alimento que atende a formulação mínima. Algumas rações adicionam ao rótulo também recomendações de como realizar a transição adequada de uma ração para outra, que evitam a rejeição do animal pela nova ração. Os níveis de garantia também são informados no rótulo, dizendo a proporção dos nutrientes presentes. Alguns nutrientes estão indicados no mínimo e outros no máximo, demonstrando que há no mínimo/máximo x% do nutriente na formulação, seguindo os critérios da legislação. Quando é um mineral que deve ser regulado em proporção, o indicador é mín/máx, para garantir o balanceamento. A porção referente a composição básica do produto é basicamente os ingredientes utilizados na formulação: aditivos, minerais, vitaminas, componentes vegetais etc. Na nutrição animal ainda não é obrigatório, portanto, não é uma unanimidade, colocar os ingredientes em ordem decrescente em relação a quantidade. As rações que possuem muitos ingredientes de origem animal, possuem uma maior digestibilidade. Por sua vez, as rações com muitos ingredientes de origem vegetal a digestibilidade é menor. Partindo do princípio que algumas vitaminas são perdidas com o cozimento/processamento do produto, alguns fabricantes adicionam um tópico Marina Morena 12 que destaca os nutrientes adicionados depois do processamento da ração (enriquecimento por quilograma de produto). Por lei, todas as rações de não ruminantes precisam ter o aviso de uso proibido na alimentação de ruminantes. Isso por que, as rações feitas para não- ruminantes, podem ter farinha de origem animal. O ruminante só pode receber, de origem animal, leite (quando bezerro), soro do leite (até adultos) ou farinha exclusivamente de ossos. Caso haja a ingestão de qualquer outro tipo de produto de origem animal, os ruminantes podem desenvolver uma doença pela formação de príons (mal da vaca louca). A ração pode ter sabor/cheiro do que o fabricante quiser, ainda que não tenha o ingrediente, pela adição de flavorizantes e aromatizantes. O fabricante por lei é obrigado a colocar o T em caso da utilização de ingrediente transgênico. Não há comprovação de que os alimentos transgênicos façam qualquer mal para a saúde de animais ou humanos. Nutricionalmente não possui qualquer benefício ou maleficio para o consumidor. As rações costumam ser mais baratas, pois os ingredientes transgênicos são mais baratos. É necessário também informar qual o ingrediente que sofreu a transgenia. Algumas rações recomendam a quantidade diária não só pelo peso animal, como pelo nível de atividade/gasto energético. É importante, pois o nível de energia necessário varia em alguns casos. Assim, no geral os ajustes de porção são utilizados de acordo com o peso e atividade física. É crucial seguir essas recomendações, para que o animal não engorde ou emagreça. Esse tipo de tabela deve ser explicado para o tutor, para que ele a siga corretamente. Bem como, deve ser explicada a importância de seguir essas recomendações e as consequências da desatenção. Classificação dos alimentos De modo geral, os alimentos podem ser classificados como volumosos ou concentrados. O primeiro critério de diferenciação entre eles é o teor de fibra bruta (FB; aka carboidrato estrutural). Os chamados volumosos possuem um alto teor (>18%) de FB, enquanto os concentrados apresentam um percentual menor (≤18%). Volumoso Os volumosos são também chamados de forragem ou alimentos forrageiros. Quando a forragem apresenta uma quantidade elevada de água, como uma forragem fresca, é considerada uma forragem aquosa. Como exemplo de forragem aquosa temos a capineira (capim), silagem e cana de açúcar (utilizado mais para gado de leite). Obs: Silagem é o produto resultante da fermentação, realizada por bactérias, de forrageiras em processo de anaerobiose, picadas e Marina Morena 13 acondicionadas em silos. Este processo de produção de silagem denomina-se ensilagem e quando feito adequadamente, seu valor nutritivo é semelhante ao da forrageira verde. O processo de ensilagem deve ser feito com a planta cortada na época certa, enchendo-se o silo, de forma a compactar a massa verde picada e, por último, a vedação do local de armazenamento. A forragem seca (feno) é aquela forragem que foi desidratada, ou seja, perdeu a sua água. O processo de desidratação permite que os nutrientes se concentrem no alimento, potencializando. Vale ressaltar que o volumoso é crucial na alimentação de herbívoros, uma vez quea sua fisiologia apresenta uma requer grande quantidade de fibra. Concentrado Existem dois tipos de concentrados, que são classificados de acordo com sua concentração de proteína bruta. Assim, o concentrado proteico é aquele que apresenta um alto teor de proteína bruta, com uma concentração >20%. Por sua vez, é classificado como concentrado energético o alimento pobre em proteína bruta, apresentando uma concentração <20%. A exemplo de concentrados energéticos temos os grãos de cereais (milho, aveia, trigo, sorgo e cevada), os óleos e gorduras, as raízes e tubérculos e os melaços e polpas cítricas. Como concentrado proteico temos os farelos de oleaginosas, que após a extração do óleo há uma elevada concentração de proteína (soja, girassol, amendoim e o caroço do algodão), as farinhas de origem animal (carne, penas, vísceras, farinha de carne + osso) e os resíduos de cervejaria (resíduo como levedura, cevada, lúpulo etc). Obs: a soja possui um fator antitripsínico (sojina) que interfere na digestão da proteína. Na extração do óleo, o aquecimento destrói a sojina, por isso que a utilização do farelo não interfere na digestão da proteína. Alguns autores consideram a ureia como concentrado proteico, entretanto a ureia não é fonte de proteína. A ureia é considerada um nitrogênio não proteico (NNP). Em ruminantes, a microbiota utiliza a ureia como fonte de nitrogênio, por isso que os ruminantes conseguem ingerir certas concentrações de ureia e não se intoxicar. Tipos de ração Ração farelada Toda produção de ração se inicia pelo processo de triturar e misturar os alimentos. Caso o alimento seja fornecido após a mistura, é considerada uma ração farelada. Uma vantagem desse tipo de ração é o custo baixo e a facilidade de produção. Esse tipo de ração possui diversas limitações, como por exemplo levar a problemas respiratórios a longo prazo em alguns animais, uma vez que por ser um farelo, os grãos podem ser aspirados enquanto o animal se alimenta. Além disso, animais que apreendem o alimento com o dente tem uma maior dificuldade de ingestão do farelo. Por fim, os animais com bico, ainda que não apresentem nenhuma das limitações anteriores, eles podem tentar selecionar parte do farelo que considerem mais apetitosos, dependendo do nível de trituração deles. Ração peletizada Nesse tipo de ração, além dos processos de trituração e mistura, o alimento passa por uma aglutinação, no qual as partículas se grudam. Assim como o farelo, ainda é uma ração crua, portanto com uma digestibilidade menor. Porém, a vantagem em relação a farelada é que contorna as limitações referente ao farelo. O valor da ração aumenta em relação a farelada. Marina Morena 14 Ração extrusada A ração extrusada passa por um processo de cozimento em alta pressão após a trituração e a mistura. O cozimento aumenta a digestibilidade do alimento, assim os animais aproveitam melhor os nutrientes. A grande desvantagem desse tipo de ração é o custo de produção elevado, uma vez que há necessidade de aparelhos especializados e caros. Para animais de companhia é obrigatório que a ração seja do tipo extrusada, uma vez que esses animais não digerem o amido se não houver o cozimento prévio. Aves e peixes carnívoros também necessitam que a sua ração seja extrusada. Na verdade, qualquer ração de carnívoro que contenha farinha de vegetal (possui amido) tem que ser extrusada. Após triturado e misturado, o farelo resultante é cozido. A pasta gerada é levada para um extrusador. Nesta etapa pode ser definido o formato ou coloração da ração, critérios que costumam adicionar um custo na produção. Outros tipos de ração A ração floculada/flocada é utilizada basicamente na piscicultura. Nesse tipo, a ração sofre um processo de cozimento simples e depois é prensada por um rolo. Depois de seca, são observados pequenos flocos. A ração triturada é quando há a trituração da ração depois de ser realizada a peletização. Desse modo, o alimento se torna um farelo, só que nesse caso as aves não conseguem selecionar os ingredientes que desejam. É utilizada na produção de galinhas poedeiras. Por fim, a ração liofilizada é um tipo que está surgindo ainda, onde o alimento passa por um processo de desidratação por congelamento, semelhante ao utilizado na indústria medicamentosa e de vacinas. Atualmente é utilizada na alimentação de insetos. Armazenamento O armazenamento dos alimentos dos animais de companhia exige alguns cuidados básicos, como uma embalagem reforçada. Deve-se orientar o tutor a deixar sempre na embalagem original e, se possível, colocar essa embalagem dentro de um recipiente (pote) para proteger ainda mais. O contato com o ar pode levar a perda de nutrientes/oxidação, além do alimento murchar. Em animais de produção, por possuírem um menor percentual de proteína e gordura, as rações são menos passíveis de oxidação. Além disso, o alto consumo e rotatividade das porções é outro fator que diminui perdas. Por isso, a embalagem dessas rações costuma ser mais frágil e, Farelada Peletizada Marina Morena 15 portanto, baratas. Ainda assim, alguns cuidados devem ser tomados no armazenamento como o de evitar o contato com a umidade, pare/chão e o ambiente precisa ter uma ventilação mínima. Energia A energia é definida como a capacidade de realizar a manutenção vital. Ela é oriunda da queima de nutrientes orgânicos, como os carboidratos, lipídios e proteínas dos alimentos. A energia bruta é aquela presente no alimento, entretanto, o animal não consegue absorver 100% dela, eliminando uma porção nas fezes. A porção de energia que não foi eliminada pelas fezes é chamada de energia digestível. Parte dessa energia é perdida na urina, suor, gases etc., portanto deixando apenas a energia que de fato será utilizada, chamada de energia metabolizada. Parte dessa energia metabolizada é utilizada para a própria digestão do alimento pelo TGI. Essa perda é chamada de incremento calórico e é de difícil quantificação. Como resultado, a forma mais precisa de energia, que de fato condiz com o que o animal irá utilizar para a manutenção e produção, é chamada de energia líquida. Obs: em aves não se quantifica a energia digestível, pois ela elimina fezes e urina juntas. Desse modo, ou se tem a energia bruta ou a metabolizada. Balanço energético é definido como a diferença matemática entre a energia ingerida e a energia gasta. Assim, o animal está em um balanço energético quando ingere a energia líquida que ele necessita. O balanço energético negativo é quando o animal ingere menos energia do que necessita, entrando em um estado de catabolismo. Por outro lado, o balanço energético positivo é quando o animal ingere mais do que necessita e acaba armazenando o excedente. Métodos de determinação A energia bruta pode ser determinada a partir de um aparelho chamado de bomba calorimétrica, onde utiliza-se um grama de produto para um quilo de água e aquece o alimento. Tabelas pré-determinadas também podem ser utilizadas. Elas informam a energia de certo ingrediente cru para determinado animal. Essas tabelas são desenvolvidas por pesquisadores com trabalhos laboratoriais e com experimento animal. Embora seja muito utilizado em animais de produção, para cães e gatos não há ainda pesquisa brasileira suficiente para fornecer uma tabela confiável. Desse modo, para a nutrição de pequenos animais são utilizados cálculos que se baseiam na quantidade de carboidrato, lipídio e proteína no alimento. Sabe-se que cada grama de carboidrato fornece 4,15 Energia bruta • - porção perdida nas fezes Energia digestível • - energia perdida na urina, suor ou gases Energia metabolizada • - incremento calórico Energia líquida Marina Morena 16 Kcal de energia, enquanto o lipídio fornece 9,40 Kcal e a proteína 5,65 Kcal. Esse seria ovalor de energia bruta, portanto deve-se aplicar um fator de correção que auxilia a chegar mais próximo do valor de energia metabolizado. Os valores utilizados são pré determinados e chama-se fator de atwater. Energia bruta (Kcal/g) Com fator de atwater (Kcal/g) Carboidrato 4,15 3,5 Lipídio 9,40 8,5 Proteína 5,65 3,5 O carboidrato utilizado na alimentação de cão e gato é de origem vegetal, porém eles não utilizam a porção de fibra bruta. Esse fator deve ser levado em conta no momento do cálculo, portanto deve-se utilizar apenas o extrato não nitrogenado (ENN). Primeiro passo é somar os valores de proteína bruta, extrato etéreo, umidade, matéria fibrosa e matéria mineral, para que seja feita a diferença do total e obtenha-se o valor do ENN. Depois, os valores de fibra bruta, extrato etéreo e ENN são multiplicados pelos seus respectivos fatores de atwater. Na ração de gato fica: PB 33 x 3,5 = 115,5 Kcal EE 15 x 8,5 = 127,5 Kcal ENN 31,5 x 3,5 = 110,25 Kcal Dando um total de: 353,25 Kcal/100g Na ração de cão fica: PB 30 x 3,5 = 105 Kcal EE 19 x 8,5 = 161,5 Kcal ENN 30,5 x 3,5 = 106,75 Kcal Dando um total energético de 373,25 Kcal/100g Obs: na ração de cão o rótulo dava os valores em Kg de ração, portanto foi feito o ajuste do cálculo para ficar na mesma proporção dos 100g que é dado pelo fator de atwater. Anatomia comparada do TGI Não ruminantes Dentre os animais não ruminantes de importância médico veterinária temos os herbívoros (cavalo e coelho), carnívoros, aves e suínos. Os herbívoros não ruminantes são também chamados de ceco funcionais. Sua alimentação é baseada em volumoso (fibra + água), que é digerido no ceco, pois é lá que estão os microrganismos responsáveis pela quebra das ligações do tipo β. Assim, a passagem pelo estômago é rápida, então nesses animais ele possui um tamanho reduzido. Quando o animal ingere muito concentrado, que deveria ser digerido no estômago e acaba não sendo já que a passagem por ele é rápida, os microrganismos do ceco/cólon são capazes de digerir. Por ser um alimento altamente fermentável, leva a produção de gás e ácido, portanto levando a um transtorno metabólico. Em resumo, o processo digestivo nos herbívoros não ruminantes tem início no Marina Morena 17 mecanismo de mastigação da cavidade oral. A segunda etapa é química e enzimática, no estômago e intestino delgado. A última etapa é a fermentativa, que ocorre no ceco. Devido a baixa ingestão de fibra, o intestino grosso dos carnívoros é menos desenvolvido e o trato digestivo é mais simples e curto. A digestão mais intensa ocorre no estômago e no intestino delgado, uma vez que sua alimentação se baseia em proteína animal. As fibras que os carnívoros ingerem provem da alimentação dos animais que eles caçam. Em relação as aves, os hábitos alimentares são extremamente variados. A diferenciação já inicia no bico, variando de acordo com o tipo de alimentação, portanto, em algumas aves o bico possui função digestiva. O papo, ou inglúvio, é uma dilatação do esôfago que serve de local de retenção do alimento para ser liberado em menores porções para o resto do trato digestório. Essa retenção é importante para que o alimento seja umedecido. As aves possuem um estômago químico, chamado de pró-ventrículo, que é onde são liberadas as secreções ácidas, responsáveis por solubilizar a proteína. Na sequência, há o ventrículo, também chamada de moela, que é um componente muscular onde ocorre a digestão mecânica do alimento. O ceco é chamado de saco de fundo cego e nas aves é um compartimento duplo, ainda que na maioria das veze seja afuncional ou pouco funcional. Os suínos são onívoros não ruminantes que ingerem grande parte dos alimentos, assim, possuem um intestino delgado bem desenvolvido. Ruminantes Dentre os ruminantes de importância zootécnica temos os bovinos, ovinos, bubalinos e caprinos. São animais herbívoros onde o alimento primeiro passa para o rúmen, depois para o retículo, omaso e, por fim, abomaso. Nos ruminantes, primeiro ocorre a fermentação e depois a digestão química, em contraponto aos herbívoros ceco funcionais. O alimento transita entre a cavidade oral e os pré-estômagos diversas vezes, processo chamado de ruminação encarregado de separar o alimento fino do Marina Morena 18 grosso, onde o grosso é novamente mandado para a cavidade oral para ser triturado. O ceco desses animais é pouco desenvolvido, uma vez que quando o bolo alimentar chega nele, já ocorreu a fermentação. Digestão e absorção O processo físico da digestão passa primeiramente pelas etapas de apreensão, mastigação e deglutição. A digestão tem início na cavidade oral com a saliva, que é uma secreção liberada pelas glândulas parótidas, submaxilares, sublinguais e bucais. Uma das suas funções é umedecer o alimento, o que ajuda a conduzir através da faringe e do esôfago. Um dos componentes da saliva é a enzima amilase salivar, exceto em cães, gatos e ruminantes que está ausente, cuja função é iniciar a digestão do amido. Além disso, a saliva possui um pH neutro entre 6,5 e 7,3. Esse pH neutro é importante pois funciona como uma solução tampão que controla a acidez estomacal. Essa função tem especial importância evolutiva nos ruminantes, que produzem cerca de 50 a 150L de saliva por dia. Quando o animal mastiga menos (ingesta de concentrado) não há tanta produção de saliva, levando a um aumento de acidez estomacal, podendo desenvolver para uma acidose ruminal. Estômago químico Também conhecido como estômago simples, abomaso e pró-ventrículo. As células G do antro pilórico secretam o hormônio gastrina com o estímulo da chegada do alimento. A secretina estimula a liberação do suco gástrico, composto por HCl (ácido clorídrico), pepsinogênio e lipase gástrica. A função do HCl é acidificar o meio, o que leva a ativação do pepsinogênio em pepsina. A pepsina é uma enzima que possui o pH de ação entre 1,5 e 2,5 e é responsável por iniciar a degradação das proteínas em oligopeptídeos. Além disso, o meio ácido contribui para o início da digestão proteica e possui ação bactericida. Filhotes produzem uma enzima chamada quimiosina, que também é ativada pelo HCl, que possui ação proteolítica sobre a caseína presente no leite. A lipase gástrica é a enzima responsável pela hidrólise de gorduras de baixo ponto de fusão. O muco (mucina) produzido pelas glândulas gástricas é, na realidade, um complexo de várias substâncias que fornecem um revestimento protetor para o estômago. Intestino delgado No intestino delgado são liberados os sucos entérico e pancreático, além da bile proveniente do fígado, responsáveis por realizar a digestão de diversas substâncias. Quando o alimento chega no intestino, o seu pH ácido estimula a liberação dos hormônios secretina, que age estimulando a produção das secreções do fígado e do pâncreas e inibe a produção de suco gástrico, e colecistoquinina (CCK), que estimula a liberação desses sucos. O suco entérico contém amilase intestinal e lipase intestinal, que Marina Morena 19 contribuem para a digestão de amido e lipídio, respectivamente. O suco pancreático além de conter as suas próprias amilases e lipases, também contém tripsina e a quimiotripsina, que são enzimas proteolíticas. O suco pancreático é responsável por alcalinizar o bolo alimentar, que veio do estômago com um pH ácido, por conter o íon bicarbonato. Essa alcalinização é importante, uma vez que o pH de ação das enzimas pancreáticas é entre neutro e alcalino (amilase – 6,5 a 7,2; lipase – 7 a 8) A bile é responsável pela emulsificação das gorduras, fator crucial para a absorção das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Intestino grosso De modo geral, a função do intestino grosso (ceco, cólon e reto) é a recuperação de fluidos e eletrólitos (sódio e cloro), absorçãode algumas vitaminas (complexo B e K) e o armazenamento de fezes até a eliminação, porém essa é uma porção do TGI que pode variar bastante entre as espécies. Digestão propriamente dita basicamente não acontece no intestino grosso, o que ocorre é a fermentação, que pode ser muito significativa (animais ceco funcionais) ou pouco significativa. Digestão ≠ Absorção A digestão é a transformação de macromoléculas em moléculas simples. Por sua vez, a absorção é o processo de transporte de moléculas simples para a corrente sanguínea ou linfa. É importante diferenciar os dois processos e não os confundir. Um nutriente pode ser digerido e não absorvido em casos patológicos, por exemplo. Tanto a digestão quanto a absorção mais significativa ocorrem no intestino delgado. A absorção ocorre de diversas formas, os eletrólitos, água e alguns monossacarídeos, por exemplo, são transportados por difusão simples. Outros nutrientes, como alguns aminoácidos, lipídios (ácido graxo simples) e certos monossacarídeos, são transportados com gasto de energia (fosforilação/transporte ativo). O lipídio, por ser mais difícil de ser transportado, costuma ser absorvido e transportado pela via linfática. A absorção e a digestão de lipídios por herbívoros é mais complexa do que em carnívoros por questões evolutivas de dietas com baixas concentrações de lipídios. Absorção do alimento é diferente da assimilação dele. A assimilação consiste no processo em que o alimento já absorvido consegue ser utilizado pelo organismo. Digestão ≠ Absorção ≠ Assimilação Obesidade Caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo como resultado de um balanço positivo de energia metabólica. Em 80% dos casos é apenas um erro de manejo, onde há um desbalanço o consumo ou no gasto energético. O sobrepeso é um grau leve, onde o animal apresenta um aumento do peso esperado de até 20%. Estágio de alerta, onde não é necessário medidas terapêuticas, apenas mudanças de hábitos e monitoramento. Quando passa dos 20% acima do peso ideal, é classificado como obesidade, quadro patológico que deve ser tratado com ração terapêutica e um programa dietético rígido. O balanço energético deve ser neutro, ou seja, a ingesta deve ser condizente com o gasto energético do animal. Caso o animal consuma mais energia do que gasta, o balanço é positivo e leva ao acúmulo de gordura. O desbalanço negativo é quando o animal gasta mais energia do que ingere, o que também é desfavorável e pode levar a desnutrição. Marina Morena 20 A obesidade pode ser classificada como hipertrófica ou hiperplásica. Quando o animal tem um desbalanço positivo ainda jovem, quando ainda está na fase de crescimento, há um aumento no número de adipócitos sintetizados para armazenar energia, o que caracteriza uma obesidade hiperplásica. Por mais que o animal faça dieta e perca peso, ele sempre terá um número maior de adipócitos, portanto, maior facilidade de acumular gordura. Em contraponto, a obesidade hipertrófica é mais típica em animais adultos, decorrente do aumento no volume do adipócito. É considerada simples, pois o animal tem uma facilidade maior para perder peso e manter. Fatores que desencadeiam obesidade Embora o manejo alimentar incorreto seja um dos principais fatores predisponentes da obesidade, fatores genéticos, sociais, culturais, metabólicos e endócrinos também possuem influência, caracterizando uma patologia multifatorial. O manejo alimentar incorreto envolve tanto a oferta excessiva de comidas, bem como os petiscos e guloseimas adicionais. Com os anos, os animais foram introduzidos não só ao lar, mas ao círculo familiar. A partir daí, o animal passa a ser tratado seguindo os padrões socioculturas dos humanos, que envolve o hábito de comer como algo social. Desse modo, os tutores utilizam de petiscos e guloseimas para gratificar os animais e demonstrar afeto. Isso aumenta a ingesta energética do animal, gerando um balanço energético positivo. Além disso, ao inserir os animais dentro de apartamentos, alterou-se o gasto energético. Outro ponto é que os animais não precisam mais gastar energia para caçar. Todos esses fatores propiciam ao desenvolvimento da obesidade, por afetar diretamente o balanço entre ingesta e gato energético. As endocrinopatias como hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo, diabetes e hiperinsulinema interferem diretamente na vontade de comer (polifagia – huperinsulinemia) ou no gasto energético do animal, fatores que também são predisponentes de obesidade. O fator genético é apenas fenotípico, portanto, ainda que o animal tenha propensão, apenas a genética não é suficiente para desencadear um quadro de obesidade. Animais de raças como labradores, Golden retrivers, beagles, teckels, boxers, pastores de Shetland, cocker spaniels e basset hounds são sabidamente de maior risco para desenvolver obesidade. Outro fator de risco claro para a obesidade é a castração; a incidência de obesidade é maior em cães castrados de ambos os sexos. As razões para este efeito têm sido estudadas, mas torna-se claro que os hormônios sexuais são importantes reguladores da ingestão de energia e do gasto metabólico. Além disso, o sexo também é considerado um fator predisponente, uma vez que as fêmeas têm maior facilidade de armazenar gordura, o que importante para a gestação. É importante considerar a idade do animal também, pois animais mais velhos tem um metabolismo diminuído e hábitos mais sedentários. Marina Morena 21 Animais que sofreram lesões no hipotálamo também tem tendência a desenvolver obesidade, uma vez que afeta o centro de controle de saciedade. Por fim, medicamentos como ainticonvulsivantes, glicocorticóides ou hormônios também podem influenciar no ganho de peso do animal. Alterações clínicas associadas O excesso de tecido gorduroso gera efeitos deletérios no metabolismo fisiológico e funcionamento dos órgãos. De modo geral, animais obesos, quando comparados aos animais no peso ideal, vivem cerca de dois anos a menos, além de apresentarem maior incidência de lesões osteoarticulares e de ligamentos, consequências da sobrecarga do aparelho locomotor. A resistência insulínica é uma das disfunções endócrinas mais frequentes, acompanhando maior risco de desenvolvimento de diabetes mellitus, bem como favorecer a lipólise. A hiperlipidemia é comum nos animais obesos, seja pelo aporte exagerado de gorduras sob a forma de alimentos, seja como consequência do próprio estado de resistência insulínica, que diminui a atividade da lipase lipoproteica, responsável pela aposição de triglicérides, e favorece a ação da lipase hormônio sensível. A obesidade está associada com a lipidose hepática (acúmulo de gordura no fígado), especialmente em gatos, uma vez que o excesso de gordura sobrecarrega o órgão, que passa a ter dificuldade de processar e passa a armazenar. Embora a gordura seja depositada primeiramente no tecido subcutâneo, por vezes, quando em excesso, pode haver o deposito de gordura visceral, ao redor dos órgãos. Essa condição apresenta um perigo de infiltração de gordura nos órgãos adjacentes. A infertilidade ou a distocia (parto complicado) são consequências comuns de obesidade em fêmeas, uma vez que o acúmulo excessivo de gordura próximo ao ovário e ao útero são prejudiciais. O animal obeso apresenta intolerância ao esforço e ao calor, pois a gordura em excesso atrapalha o funcionamento do sistema cardiorrespiratório. Assim, deve ser recomendado ao tutor que os exercícios sejam implementados na rotina de forma gradual, para que o animal não seja sobrecarregado. Além disso, o processo gradual diminui as chances de desistência do tutor. Por fim, a obesidade acarreta problemas sérios em caso de intervenções cirúrgicas. Além de interferir no manejo anestésico, o tempo de cirurgia tende a ser maior e o pós-cirúrgicomais complicado. O peso do animal deve ser avaliado em todas as consultas, assim, pode-se ter um controle sobre o ganho ou a perda. “É mais fácil prevenir do que tratar” Marina Morena 22 Cuidados essenciais Apesar da percepção de que uma parcela importante dos proprietários de considerar a gordura, ou obesidade, de seus animais uma expressão de beleza e de boa saúde, o animal obeso é um animal doente, ou em risco de desenvolver uma série de distúrbios orgânicos. Assim, cabe ao veterinário encarregado ser enfático e esclarecer muito bem para o tutor a importância de manter o peso ideal do animal. Deve-se explicar ao tutor a influência dos petiscos e guloseimas sobre o desbalanço energético. Assim, o petisco não deve ser utilizado para demonstrar afeto ou suprir uma culpa pela ausência do tutor. Podem ser utilizadas outras formas de gratificação. A recompensa em forma de petiscos deve ser utilizada apenas em caso de adestramentos sob a orientação de um profissional especializado, sempre lembrando que interfere diretamente no cálculo de dieta do animal. Os animais possuem poucas papilas gustativas, assim, não apresentam a monotonia alimentar que humanos apresentam. Não se deve presentear o animal, mesmo que com pequenas porções, com comida humana. Não há necessidade e pode prejudicá-lo. Desse modo, para evitar a mendicância, o tutor deve ser orientado a retirar o animal do cômodo durante as refeições. Outro ponto de atenção são aqueles animais que foram separados muito cedo da sua mãe, portanto, não foram ensinados o autocontrole perante o alimento. Cabe ao tutor dar limites e estar atento. Em residências em que há mais de um animal, o responsável deve prestar atenção na hierarquia alimentar. Um animal que se imponha mais pode adquirir o controle dos alimentos e acabar comendo não só o dele, como o dos outros animais, acarretando desbalanço positivo para um e negativo para outros. Tratamento Para um tratamento eficaz, a compreensão do tutor sobre a gravidade da patologia é crucial. Cabe ao médico veterinário esclarecer a importância da adesão correta. Para isso, deve-se conscientizá-lo para a influência da dieta na melhora na qualidade de vida e saúde do animal. O tratamento ideal é composto de dieta e exercícios (gasto energético intencional), que leva a uma perda de gordura sem perder a massa magra. Assim, evita o catabolismo de músculos e outras partes vitais. A dieta deve ser prescrita de modo a minimizar a fome e corrigir falhas no manejo alimentar. Ela deve ser calculada a odo de simular o balanço energético negativo, portanto, o animal necessariamente irá perder peso. Se não houver perda de peso, algo está sendo feito errado. O tutor pode não ter compreendido direito as orientações. Gatos O tratamento para gatos é mais complicado, pois os tutores normalmente têm dificuldade de estimular o animal a realizar exercício. Para os felinos, o enriquecimento ambiental é um dos modos mais eficazes de estimular o animal a se exercitar. As atividades interativas entre tutor e animal também possuem um papel importante na perda de peso. Vale Marina Morena 23 enfatizar ao tutor que pode ser realizado o enriquecimento ambiental sem que haja gastos extras. O tutor pode utilizar materiais que encontrar para criar estímulos, como caixas, estantes e coisas do tipo. Diagnóstico Para os médicos veterinários a obesidade é uma das condições patológicas mais simples de diagnosticar, a maioria fazendo-o unicamente através da inspeção visual. É um diagnóstico subjetivo, porém o clínico pode utilizar alguns métodos para identificar o percentual de sobrepeso. Um método utilizado, especialmente para cães, é a partir das tabelas de pesos ideias disponíveis por criadores. O cálculo de sobrepeso consiste na comparação com o peso ideal. Pode ser obtido um resultado em percentual ou razão (peso atual/peso ideal = 1). Assim, qualquer número acima de 1 é considerado sobrepeso e o valor a mais é o valor do sobrepeso. Em casos de animais sem raça definida, pode-se utilizar o padrão da raça que o animal mais se assemelha. Casos de animais SRD que não consiga comprar nenhuma raça, é utilizada a avaliação de escore corporal como método de diagnóstico. Consiste na inspeção e na palpação, onde podem ser utilizados parâmetros disponíveis na internet (Anexo 1 e Anexo 2). Outra opção é calcular, a partir das medidas do animal, o percentual de gordura corporal (cães) ou o índice de massa corporal (gatos). Para cães são usadas as medidas do perímetro abdominal (circunferência pélvica) e do membro pélvico direito (entre o calcâneo e o ligamento patelar). A partir dessas medidas usa-se a fórmula: %GC = (-1,7 x MPcm) + (0,93 x PAcm) + 5 Em gatos, o IMC é calculado com base nas medidas da caixa torácica e do membro pélvico. O resultado é comparado com uma tabela fixa. Sequência de tratamento Após determinar o sobrepeso do animal, deve-se estimular uma perda de peso semanal (percentual em relação ao peso inicial), que em cães a média é de 1- 2% e em gatos de 1-1,5%. Com a meta de Cálculo percentual de sobrepeso: Sobrepeso= ((peso atual-peso ideal)/ peso ideal) x 100 Marina Morena 24 perda semanal, é realizado o cálculo para determinar o tempo de tratamento. Tempo = (peso inicial – peso ideal)/ ((peso inicial x (perda mensal/100)) Nutrição de não ruminantes Os animais não ruminantes são divididos em dois grandes grupos: os ceco funcionais e os que possuem ceco simples. Os animais não ruminantes possuem uma menor capacidade de armazenar alimentos (órgãos de armazenamento pequenos), portanto necessitam de acesso contínuo ao alimento. A taxa de passagem, velocidade que o alimento passa pelo TGI, é rápida, assim, os nutrientes presentes no alimento devem estar prontamente disponíveis para seu aproveitamento (formas simples). Com exceção dos ceco funcionais, possuem uma baixa capacidade de fermentar fibra, por possuírem uma microbiota reduzida. Além disso, possuem pouca capacidade de síntese, ou seja, os nutrientes vitais precisam estar na dieta. Os cavalos aproveitam com maior eficácia os alimentos concentrados do que os ruminantes, por ser um fermentador pós gástrico. Assim, o que é ingerido, digerido e absorvido é utilizado pelo próprio animal, nos ruminantes essa afirmativa não é tão verdadeira, pois esses nutrientes são primeiro utilizados pela microbiota ruminal. Uma desvantagem, que torna a alimentação deles mais cara, é que sua base alimentar é a mesma que a do homem, portanto, competem por alimentos. Suínos A produção de suíno deixou de produzir animais tipo banha, que possuíam uma alimentação barata, já que sua função era produzir gordura, para produzir animais tipo quatro pernis. Esse segundo tipo necessita de um alimento mais especializado, pois sua finalidade é produzir a carne. Como outros animais de produção, os suínos passaram por um processo de seleção genética intensa, onde ninhadas grandes foram as selecionadas. Como consequência, atualmente o leite materno é insuficiente e de baixa qualidade, uma vez que precisa atender uma cria. A baixa de ferro é uma caracteristica, uma vez que é um alimento normalmente baixo no leite e torna-se insuficiente em suinocultura intensiva. Assim, é necessária a administração de um suplemento férrico, de preferencia nos 7 primeiros dias de vida do animal. Rações por fase de criação A partir do 7º dia de vida do animal, antes da desmama, o animal começa com a fase pré-inicial de ração. É uma ração rica em ferro que é fornecida até o 21º dia de vida, quando o animal segue para a creche e é introduzido a fase inicial de ração. Ambas as rações são ricas em acidificantes, porque animal ainda não está preparado para de fato digerir alimentos. Sua principal função é auxiliar na ativação do pepsinogênio. Aração de crescimento é dada ao animal com 22-55Kg de peso vivo e a de terminação aos animais de 55-115Kg de peso vivo. Além disso, os animais reprodutores, as gestantes e as lactantes possuem rações específicas para suprir sua exigência funcional e garantir produtividade. Ceco funcionais: - Herbívoros (cavalo e coelho) Ceco simples: - Carnívoros (cão e gato) e onívoros (aves de produção e suínos) ATENDER UMA CRIA MAIS NUMEROSA Marina Morena 25 Aves Tanto a nutrição como a seleção genética de aves de produção são as mais evoluídas/especializadas, por serem animais mais fáceis de trabalhar/pesquisar e de grande importância n indústria. A produção de aves, tanto de corte como de postura, é muito intensa, com muitos animais. Assim, são utilizados aditivos na alimentação para aumentar a eficácia. Os antibióticos são utilizados como promotores de crescimento, além de eliminar a microbiota. Não é permitido, por lei, o uso de hormônios na produção animal. Portanto, é um mito quando afirmam que os frangos atualmente são grandes pelo uso de hormônios. Alguns locais, especialmente na Europa, estão tentando substituir os antibióticos por prebióticos e probióticos (simbióticos) a fim de eliminar a microbiota como promotora de crescimento. São utilizados aditivos pigmentantes para realçar a cor, como a gema do ovo, por exemplo, sem alterar nutricionalmente. É um produto natural, porém caro, o que aumenta o custo do produto final. A gema do ovo da galinha caipira é naturalmente mais alaranjada, pois consome caroteno e milho na alimentação. Outro exemplo é o uso de pigmento em produção de salmão, para estimular a coloração roseada do peixe. São utilizadas cerca de 6 rações diferentes de acordo com a fase do animal: pré-inicial, inicial, crescimento 1 e 2 e de terminação ou postura. Cada fase especifica possui uma exigência nutricional, por isso é importando os diversos tipos de ração. O conforto térmico também é essencial para o bem estar do animal, assim, alguns aditivos são utilizados para auxiliar o animal a conseguir controlar melhor sua temperatura. Os pintos nascem com pouca capacidade de manter a temperatura, enquanto os adultos têm uma dificuldade de dissipar o calor. Os aditivos utilizados para ajudar na termorregulação dos adultos são: vitamina C e D3, bicarbonato e cloreto de potássio. Carnívoros Os cães evoluíram como carnívoros que ingerem alguns vegetais, em contraponto, os gatos evoluíram como carnívoros estritos. É importante ressaltar para o tutor as diferenças entre as espécies em relação a ancestralidade, tempo de domesticação e comportamento alimentar. O cão e o gato não evoluíram com muita disponibilidade de carboidrato na dieta – ingestão de forma restrita. Assim, possuem muita habilidade de realizar a gliconeogênese como forma de obtenção de glicose. Embora possuam um olfato excepcional, os cães e gatos tem poucas papilas gustativas, ou seja, diferenciam pouco os gostos dos alimentos e, com isso, não adquirem monotonia alimentar. É importante explicar ao tutor essa diferença entre os animais e o homem, para que ele entenda que não há necessidade de oferecer aos animais “comidinhas gostosas” – antropomorfismo. Há menos tipos de alimento para cada fase de vida para esses animais, quando comparado com os animais de criação. Assim, tem-se as rações de lactação, desmama, crescimento, adulto (manutenção) e idoso. Muitos dos animais de companhia ingerem durante a vida toda a mesma ração sem grandes problemas. Gatos Devido a ancestralidade, os gatos têm uma maior exigência proteica em relação aos cães. Alguns elementos são essenciais na dieta, como o aminoácido taurina, importante para as funções visuais; o ácido araquidônico, pois apresentam dificuldade Marina Morena 26 em converter alguns ácidos graxos no ác. araquidônico; vitaminas A e D precisam estar prontamente disponíveis, pois não fazem a conversão de carotenóides em vit. A e não fazem (ou fazem pouco) síntese de vit. D com a exposição ao sol; e, por fim, a niacina precisa estar na dieta, pois não a conversão de triptofano em niacina. Além disso, os gatos apresentam uma exigência maior em relação a ingestão hídrica. São animais que tem a sua origem em ambientes desérticos e, portanto, histórico de ingerir pouca água e facilidade em concentrar urina. Desse modo, é comum desenvolverem problemas no trato urinário, por isso o tutor deve ter atenção ao manejo de modo que estimule a ingesta. Frequência alimentar A frequência alimentar dos carnívoros domésticos irá variar de acordo com a disponibilidade de tempo do tutor. O médico veterinário deve orientar ao tutor que deixar a ração disponível à vontade (ad libtum) é um manejo errado, pois a ração por longos períodos o no pote em contato com os elementos do ambiente acabam perdendo o cheiro e a crocância, que é o principal atrativo para esses animais. Além disso, há uma fisiologia a ser estimulada no momento pré-alimentação, como a salivação, produção de ácidos estomacais etc. Animais adultos devem realizar pelo menos duas refeições diárias, lembrando que felinos possuem hábitos noturnos, então gatos tem uma tendência a se alimentar durante a noite. No caso dos filhotes, o ideal é pelo menos três refeições diárias. É importante ressaltar para o tutor que a quantidade indicada no rótulo é referente a porção diária, portanto, deve- se fracioná-la para o número de refeições que o animal irá realizar no dia. Ração ad libtum (à vontade) é diferente de ração disponível, que é um manejo correto normalmente utilizado para gatos, pois possuem o costume de comer aos poucos continuamente. Assim, o tutor de gato deve ser orientado disponibilizar a ração mais vezes ao dia ou deixar disponível uma boa quantidade e ir completando, respeitando sempre a quantidade diária recomendada pelo fabricante. Equino Os equinos possuem um estômago pequeno, portanto, possuem uma capacidade de ingestão limitada e necessitam de uma frequência alimentar maior. São animais que estão em uma busca constante por alimento. Na história dos equinos, eles evoluíram com uma maior disponibilidade de concentrado que os ruminantes, portanto, possuem uma maior capacidade de digerir esses alimentos. Porém, ainda assim a fibra bruta é essencial e a base da alimentação. O concentrado é importante para animais atletas ou de trabalho, onde só a fibra não supre as necessidades nutricionais do animal (↓ disponibilidade de energia). O consumo de matéria seca diária deve ser de 3% do peso vivo do animal, onde pelo menos 50% desses deve ser em forma de forragem (1,5% do peso vivo de forragem seca por dia). A quantidade de ração (concentrado) oferecida vai variar de acordo com a qualidade do pasto e da condição corporal do animal, respeitando sempre o limite máximo de 2-3 Kg por vez. Em média, deve ser oferecido entre 0,5-1,5% do peso vivo do animal, lembrando de fracionar se a quantidade diária for maior que 2-3 Kg. Exemplo: Um cavalo de 400 Kg deve consumir 6 Kg (1,5% de 400 Kg) de volumoso seco, que equivale a aprox. 6 Kg de feno ou 12 a 24 Kg de capim verde. Marina Morena 27 A ingestão de fibra evita quadro de cólica no animal e questões associadas a comportamento, especialmente em animais estabulados. Desse modo, a fibra funciona como forma de enriquecimento ambiental para o animal restrito. Uma observação importante a ser feita ao tratador é que as refeições de concentrado e volumoso devem ser administradas com intervalos entre sim, pois são digeridas em porções diferentes do TGI, assim, quando ingeridos simultaneamente acabam interferindo a digestão um do outro. Coelho Os coelhos são lagomorfos utilizados como animais de produção em outras partes do mundo, porém no brasil são tratados como animais de companhia. Assim como os equinos, são animais ceco funcionais,porém o ceco é menos eficiente. São animais que necessitam consumir cerca de 16-18% de fibra bruta em sua alimentação diária e, por possuírem uma maior demanda energética que os equinos, precisam de um percentual maior de ração em sua alimentação. A ração deve ser própria para coelho e estar disponível constantemente, pois o trânsito gastrointestinal desses animais é estimulado pelo próprio alimento. A ração deve ser peletizada para que o alimento duro desgaste o dente do animal e evite um crescimento excessivo. Muitas vezes a fibra bruta já está presente na ração, sendo pouco necessário oferecer em forma de forragem. Além disso, existe no mercado o feno em forma de pelet. A fibra bruta é mais importante para influenciar o TGI do que como fonte de energia propriamente dita. Os coelhos são animais sensíveis que costumam apresentar diarreia por diversos motivos. Assim, tanto a fibra em excesso quanto a falta dela podem desencadear um quadro diarreico (mais de 20% ou menos de 12%). A cecotrofagia é a ingestão do cecotrofo, que é diferente das fezes. Normalmente os alimentos passam rápido pelo TGI, sendo elimitados ainda com uma digestão incompleta (cecotrofo). Assim, os animais ingerem esse produto de uma primeira digestão direto do reto, para que ele passe novamente pelo TGI e seja mais bem digerido. É ato normal de ingestão de um alimento extremamente nutritivo e não deve ser confundido com coprofagia. Nutrição de ruminantes Dentre as espécies de ruminantes utilizadas na produção animal temos: bubalino, ovino, bovino e caprino. Esses animais possuem uma grande vantagem por não competirem com a alimentação do humano, assim, sua alimentação é mais barata que os demais. O processo digestivo predominante é o fermentativo, além de ser o primeiro realizado no TGI. Algumas espécies de ruminantes são mais hábeis em selecionar o alimento, enquanto outros não selecionam, comem as gramíneas que estiverem disponíveis. Esses animais que selecionam o que ingerem possuem uma frequência alimentar maior, pois o alimento passa mais rápido pelo TGI. A ruminação é importante e deve ser estimulada na medida correta. Quanto mais complexa e maior a fibra, mais o animal irá precisar ruminar. Quando a fibra é de má qualidade, com muita lignina, o animal também precisa ruminar muito para tentar digerir, porém nesse caso não é bom. A saliva é uma secreção que, embora não possua enzimas digestivas, é de Marina Morena 28 grande importância para os ruminantes pela sua função de solução tampão (fosfatos e bicarbonatos – neutraliza ácidos graxos voláteis), além de umedecer o alimento e facilitar no transporte pelo TGI. Em produção leiteira é mais comum as vacas apresentarem quadros de acidose, pois é mais utilizado suplemento com alimento concentrado para os animais, que muitas vezes são mestiços e possuem uma exigência nutricional maior. Todos os filhotes de ruminantes já nascem com o estômago completo, porém a proporção entre as câmaras é diferente daquela vista nos adultos. Os filhotes nascem com os estômagos proporcionalmente semelhantes. É crucial que os filhotes comecem a mamar assim que conseguem se manter em pé, pouco depois do parto, para que haja a ingestão do colostro. O colostro possui uma concentração elevada de nutrientes e imunoglobulinas em formas simples. Devido a presença da estrutura conhecida como goteira esofágica, o alimento passa direto pelo estômago e vai para o intestino delgado, onde todos os sítios de absorção estão livres. Essa ingestão o mais rápido possível é crucial para que as imunoglobulinas sejam absorvidas sem sofrer digestão, aproveitando que ainda não foi iniciada a produção das enzimas digestivas. Assim, os filhotes nascem como pré- ruminantes e só se tornam ruminantes com a transição para alimentos sólidos. A fermentação dos alimentos ingeridos pelos ruminantes é realizada pela microbiota presente nas câmaras, onde estão presentes bactérias (predominantes), fungos e protozoários, sendo que a proporção varia de acordo com a dieta. Os protozoários são encontrados em dietas de alta qualidade e estão, especialmente dietas ricas em amido. Por sua vez, os fungos estão associados com dietas ruins, de difícil digestão, taxa de passagem lenta e ricas em lignina. Como resultado da fermentação são produzidos ácidos graxos voláteis (AGV) e gás, que é liberado pela eructação. O AGV é absorvido pelas papilas, sendo a única substância que é absorvida dentro das câmaras fermentativas como um método de controlar a acidez. Os principais ácidos produzidos são: ác. acetico, ác. butírico e ác. propiônico, onde o tipo de alimento determinará a quantidade e o tipo de AGV gerado como produto da fermentação dos monossacarídeos. Os alimentos volumosos estão associados com uma maior produção de ácido acético, caracterizando uma fermentação mais lenta e menos energética. Por sua vez, o alimento concentrado segue pela rota do acrilado, que produz o ácido propiônico, caracterizando uma fermentação mais rápida e mais energética. Relembrando: Rúmen e retículo – fermentação Omaso – reabsorção de água Abomaso – estômago quimíco/enzimático Marina Morena 29 Fermentação de carboidrato É a principal fonte de energia para os ruminantes, onde a microbiota ruminal fermenta os monossacarídeos e são gerados AGV e H+. A glicose sérica dos ruminantes é muito baixa, pois grande parte da glicose gerada é consumida pela microbiota. Assim, a glicose utilizada para o metabolismo do ruminante é proveniente da gliconeogênese. O processo fermentativo pode liberar metano, caso o carboidrato ingerido seja substrato para a rota metanogênica. O metano é um gás poluente, por isso é importante a alimentação adequada, para que o mínimo possível do gás seja produzido. Todos os ácidos graxos voláteis são considerados fontes de energia, além disso, cada um possui uma característica própria. O ácido acético e butírico são considerados lipogênicos, ou seja, facilitam a síntese de gordura (gordura do leite, carne etc). O ácido propiônico possui característica gliconeogênica, ou seja, facilita a disponibilização de glicose para o sistema nervoso central, sêmen, leite (lactose) etc. Uma dieta com rica em forragem (80:20 em relação ao concentrado) o ácido acético é predominante e o pH fica mais próximo a neutralidade. À medida que a proporção forragem:concentrado vai mudando, a quantidade de ácido acético diminui, juntamente com a quantidade de gordura no leite e o aumento de ácido propiônico, que está associado com o aumento da produção de leite. A produção de leite aumenta por quê o ácido propiônico é mais energético. Uso de proteínas A proteína ingerida pode ir para o rúmen e ser utilizada pela microbiota ou pode passar direto pelo rúmen e não ser utilizada. Apenas um percentual mínimo das proteínas ingeridas passa direto pelo rúmen (PNDR) sem que a microbiota utilize. É conhecida como proteína degradada no rúmen (PDR) aquelas que são utilizadas pela microbiota ruminal. A PDR pode ser classificada como proteína verdadeira ou nitrogênio não proteico (NNP), onde a proteína verdadeira é a predominante nos alimentos e consiste no aminoácido efetivamente. No alimento há um percentual, embora pouco, de nitrogênio que não está associado a proteína, ou seja, não faz parte das moléculas de aminoácido e sim de outras moléculas (nitrito e nitrato, p. ex.). Vale lembrar que a análise bromatológica da quantidade de proteína Não ruminantes: Amido → glicose → CO2 +H2O Marina Morena 30 nos alimentos informa a quantidade de nitrogênio presente na amostra, não efetivamente a quantidade de nitrogênio associada a aminoácidos. A microbiota é capaz de utilizar o NNP como substrato para produzir a sua própria proteína, além da proteína verdadeira. A proteína microbiana consiste na
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