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EDUCAÇÃO INFANTIL NA CONTEMPORANEIDADE

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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
 
EDUCAÇÃO INFANTIL NA 
CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
U N I V E R S I DA D E
CANDIDO MENDES
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
 
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E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
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SUMÁRIO 
 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................... 03 
 
UNIDADE 2 – A INVENÇÃO DA INFÂNCIA ............................................................ 07 
2.1 Nasce a criança no ceio do Iluminismo ............................................................... 07 
2.2 Seria o fim das brincadeiras? .............................................................................. 12 
 
UNIDADE 3 – O CORPO, O GÊNERO E A DIVERSIDADE SEXUAL NOS 
CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................. 20 
3.1 O corpo e a infância ............................................................................................ 20 
3.2 Os desafios da formação docente com as temáticas: gênero, 
diferenças/identidades e diversidades ...................................................................... 27 
3.3 Currículo e educação infantil – problematizando! ................................................ 32 
 
UNIDADE 4 – AS CORES E AS CRIANÇAS ........................................................... 39 
4.1 A explosão de cores e a infância ......................................................................... 39 
4.2 E aí, o que é ser criança?.................................................................................... 42 
 
UNIDADE 5 – CRIANÇAS, FILMES E PROCESSO DE SUBJETIVAÇÃO ............. 47 
5.1 Pensando as diferentes infâncias a partir de um filme ........................................ 47 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59
3 
 
 
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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
A apostila se organiza em cinco unidades. A primeira unidade intitulada 
como: A invenção da infância está dividida em dois tópicos, sendo que o primeiro: 
Nasce a criança no ceio do Iluminismo, têm por objetivo trazer as primeiras 
palavras de Schérer (2009) nas quais ele busca refletir a respeito de uma 
construção de pedagogia, no caso, da pedagogia moderna em torno do sujeito 
criança. Como a relação entre adultos e crianças ganharam tonalidades 
diferenciadas das vivenciadas anteriormente em épocas onde esta diferenciação 
não existia, onde os mundos infantil e adulto se misturavam no cotidiano das 
pessoas e agora na modernidade, no iluminismo esta relação se torna algo 
totalmente diferente. 
Schérer (2009) aponta o livro de Rousseau, Emílio, como um exemplar 
desta mudança de comportamento frente à criança que passa a ser vista como 
um sujeito a ser moralizado, a ser educado em prol de um habitus burguês de 
sujeito filho de uma sociedade que precisava que seus filhos fossem herdeiros 
desta nova classe social em evidência. 
 No segundo tópico: Seria o fim das brincadeiras, é uma reflexão a 
respeito de como as brincadeiras são importantes para o desenvolvimento infantil, 
mas que, infelizmente esta diversão e aprendizagem têm sofrido com as ameaças 
tecnológicas que estão cada vez mais presentes no cotidiano, novamente é 
Schérer (2009) que relembra em seu livro os seus cantinhos, os quais ele 
denomina seus recantos, lugares onde a inventividade e a fantasia podem se 
expressar e a sociabilidade entre as crianças acontece de forma espontânea, bem 
como os cantinhos são espaços de intimidade, onde a criança pode se esconder 
e ficar sozinha, pois, elas precisam também de momentos de intimidade. 
As brincadeiras que envolvem a sociabilidade estão ameaçadas também 
pelo fim das brincadeiras de rua, dos piques esconde, pega, das queimadas, do 
futebol e do vôlei que se brincava nas ruas e, que mesmo em cidades pequenas 
hoje se torna uma prática quase extinta. Não há uma preocupação das políticas 
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públicas, de prefeituras, em garantir a segurança das ruas dos bairros e assim 
tornar esses lugares habitáveis para as crianças. 
Na terceira unidade intitulada como: O corpo, o gênero e a diversidade 
sexual nos currículos da educação infantil, o objetivo é o de discutir a falta que 
existe tanto nas escolas como na vida das crianças e adolescentes das temáticas 
acima, falta ocasionada por uma insensibilidade disfarçada pelo discurso/ 
expressão: falta de formação para com esses temas. Ora, existe muita ausência 
deste assunto nas escolas e muita homofobia, discursos preconceituosos em sala 
de aula por parte de aluno, uns oprimindo o outro com esses discursos 
preconceituosos na ponta da língua. Como então podemos, enquanto professores 
e profissionais da educação, nos furtarmos de discutir a respeito? 
O tópico: O corpo e a infância, busca discutir a distância que o processo 
de pedagogização faz na escola, o medo do toque que os profissionais da 
educação sentem entre os pequenos, este medo que castra as possibilidades 
destes pequeninos na medida em que é ensinado o distanciamento entre eles. A 
relação entre corpos se torna um vazio em espaços pedagogizados, pois, torna os 
corpos tão potentes em corpos estéreis pedagogizados. 
O segundo tópico intitulado como: Os desafios da formação docente com 
as temáticas: gênero, diferenças/identidades e diversidades, são trabalhadas 
como discussões as dificuldades que alguns professores possuem com os temas: 
corpo, sexualidades, gênero e isso quando falado na educação infantil se torna 
ainda mais delicado tendo em vista toda a relação de curiosidade que a criança 
possui com o corpo seu e do outro. 
No terceiro tópico intitulado como: Currículo e educação infantil – 
problematizando! Problematiza-se o currículo como um dispositivo pedagógico 
que age em função de um ensino edificante, sem espaço para o corpo e para 
sexualidade além daquela que todos já conhecemos, ou seja, um sexo biológico 
de glândulas, células, órgãos genitais. Este ainda é o ensino que se busca 
repassar aos alunos desde sua chegada a escola, de alguma maneira, o ensino já 
é traçado pelo currículo para que esta criança saiba se definir como homem ou 
mulher em função de sua genitália. 
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Na unidade 4 intitulada como: As cores e as crianças, o objetivo é falar a 
respeito da relação entre as crianças e as cores, uma relação de sonho, de 
inventividade, de brincadeira na qual a criança consegue estipular uma relação de 
fantasia com os objetos com o mundo das possibilidades lúdicas que as cores 
proporcionam. 
No tópico intitulado como: A explosão de cores e a infância, Schérer 
(2009) fala a respeito desta relação que a criança estabelece com as cores, nos 
desenhos, inclusive nas imagens em preto e branco, e também no modo como 
elas preenchemeste espaço de falta de cores. 
No tópico intitulado como: E aí, o que é ser criança?, a 
discussão/problematização a respeito da construção do que é ser criança, desta 
como um ser único, essencial que a pedagogização do iluminismo tratou de 
construir, assim, existiria uma relação muito clara entre ensino para um modelo 
infantil, um ensino e uma visão de mundo na qual todas as crianças estariam no 
mesmo patamar de possibilidades. Na verdade, existem vários tipos de infância e 
este tópico vem no sentido de desmistificar esta verdade histórica a respeito da 
infância, pois, não há uma infância no singular, mas sim, infâncias, multiplicidades 
infantis. 
A unidade 5 intitulada como: Crianças, filmes e processo de subjetivação, 
o objetivo é falar a respeito das produções cinematográficas como 
potencializadoras de reflexão para pensarmos a relação nossa com as diferentes 
infâncias existentes no mundo. No tópico intitulado: Pensando as diferentes 
infâncias a partir de filmes, a ideia é exatamente fazer uma reflexão sobre esta 
relação a partir de dois filmes um italiano – A vida é bela e um iraniano – Filhos do 
Paraíso. 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha 
como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, 
fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os 
temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação 
das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não 
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se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático 
da obra, não serão expressas opiniões pessoais. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo 
modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo 
dos estudos. 
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UNIDADE 2 – A INVENÇÃO DA INFÂNCIA 
 
2.1 Nasce a criança no ceio do Iluminismo 
Neste capítulo, o foco é a invenção da criança no século XVIII, momento 
em que a criança passou a ser alvo de intensas pesquisas e observações que 
tinham o objetivo pensar a educação enquanto formação, um lugar a se chegar, a 
se levar esta criança. 
Para esta unidade, trazemos Schérer (2009), filósofo, que com sua obra, 
investiga essa construção de infância moderna. O autor aponta que esta invenção 
de infância que nós temos hoje possui algumas pistas de quando ela começou a 
ser engendrada historicamente. 
Essa invenção não foi necessariamente deliberada; assim, é impossível 
indicar com precisão a data de seu surgimento. Quando muito, na segunda 
metade do século, acumulam-se os indícios de mudança na atitude dos adultos 
em relação às crianças. Enquanto fenômeno de sociedade e de mentalidades, ele 
corresponde, sem nenhuma dúvida, à ascensão de uma burguesia mais 
consciente de si mesma, à crescente complexidade de sua indústria e de suas 
técnicas, enfim, à sua ambição. Enquanto potencial humano a ser colocado em 
reserva, matéria maleável do homem por vir, a criança deixa de ficar entregue a si 
mesma ou à simples rotina da aprendizagem tradicional; assim, a estratégia 
mobilizada à sua volta – que a deixa confinada – combina a curiosidade em 
relação ao seu comportamento e à sua psicologia com os métodos aptos para 
construir, por seu intermédio, uma sociedade nova (SCHÉRER, 2009, p.17-8). 
Assim, a infância cai no colo de um momento de nossa história chamado 
época das luzes, ou Iluminismo. Deste período, um dos maiores nomes é 
Rousseau com o livro Emílio. A obra inaugura o que poderíamos dizer de um 
manual do adulto para a criança, ensinando a lidar com esse ser e pensar os 
meios para levá-la a uma pedagogização, a um processo de disciplinamento. 
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A literatura que se cria neste período para a criança são livros e manuais 
com um caráter altamente moralizante e racional para um ser que é visto como 
sem vontade, sem razão, sem luz. 
A intenção literária racional para a infância produziu uma filosofia própria 
da infância que possui em seu cerne o desejo pela pedagogização, os preceitos 
de como aplicá-la e conseguir que as crianças marchem em direção a ela. 
A criança~, um ser tão estranho aos olhos do adulto, é pensado então 
pela necessidade de transformá-la em sujeito sociável, um projeto de futuro, de 
adulto ideal, neste aspecto, pouco sobra tempo para a fruição infantil, para os 
sentimentos e para o tempo que na infância é fundamental para as 
experimentações. Ao contrário, a pedagogização adentra com tudo no mundo da 
criança. 
De acordo com Schérer (2009, p. 20), a pedagogização da infância 
produz um efeito de compensação. Ela problematiza o adulto relativamente aos 
valores que ele encarna: se, física e intelectualmente, ele continua sendo superior 
aos seus pequenos interlocutores, existe algo que tem relação com o sentimento, 
e não com o intelecto, um charme particular que emana da infância inventada e 
acaba por contagiá-lo. 
Schérer (2009), em seu capítulo A utopia pedagógica, diz desta autopia 
que nos seduz, talvez pela realização de um sonho ainda não realizado, talvez 
por uma ambição da racionalidade enquanto um objeto alcançável e localizado no 
cerne do poder. O autor chama essa utopia de negativa ou reativa já que esta 
utopia não tem como objetivo dar ouvido aos desejos, as multiplicidades e sim a 
práticas coercitivas e controladoras. 
Tal utopia é tirânica e é contrária a vida como desejo, paixões, 
curiosidades. É esta utopia que se traduz em política para garantir que esses 
controles sejam executados no cotidiano das infâncias. 
Segundo Schérer (2009 p. 26), as massas constituem uma matéria 
resistente para a ação política, cuja tarefa constituirá, portanto, em educá-las. 
Duplo princípio que orienta o círculo vicioso do poder, que designo como utopia 
pedagógica, quer dizer, a ideia de uma reforma social pela educação, a ideia de 
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que seria possível formar um homem capaz de construir uma sociedade diferente. 
Assim, a utopia pedagógica é apenas outra face da utopia política que, por sua 
vez, está sempre, não só acompanhada por pedagogia, mas ela própria é 
pedagógica; eis o que, aliás, já sabemos desde Platão. 
O filósofo aponta então que a utopia é um sonho, uma quimera de uma 
modernidade que acredita que pelo controle e coerção se chegará a este ideal de 
pedagogia e educação. A pedagogia e seus instrumentos controladores da 
infância se tornou parte essencial do que vem a ser o projeto iluminista de um 
sujeito com função pré-estabelecida pelo Estado e fazendo uso da pedagogia 
enquanto saber, a ciência que cuidará deste projeto desde tenra idade. 
Desse modo, a escola se torna o foco da atenção para a infância que se 
deseja. Como aponta Schérer (2009, p. 27), 
 
Se, para compreender a utopia pedagógica em seu pressuposto político, 
for necessário apreendê-la nos lugares onde ela não se nomeiacomo 
tal, então, convém, antes de tudo, captá-la em seu terreno predileto: a 
escola. Desde o século XIX, o sistema escolar e os professores 
primários foram os paladinos da transformação da sociedade pela 
educação. A escola libertadora, a da igualdade de oportunidades, da 
República, da laicidade e do povo, tudo isso levou a esquecer a maneira 
como a máquina do poder havia conseguido sua cabal instalação! 
 
 
Embora a escola seja uma exigência hoje, e a todos ela deve pertencer 
enquanto projeto de vida, o autor apresenta cinco características, argumentos que 
nos faz pensar a respeito do que está por trás desta instituição social. 
a) A escola é utópica relativamente à sociedade em que funciona. Além 
de promulgar regras para o uso das crianças, ela enaltece valores 
inaplicáveis e, até mesmo, perigosos na sociedade real (até mesmo, 
na sociedade escolar enquanto tal): menosprezo pelo dinheiro, 
proibição da cola e da mentira, primazia do espírito, etc., ou seja, 
tudo o que, para Fourier, corresponde a “futilidades liberais”. 
 
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b) Ela se apoia numa psicologia utópica ou válida apenas dentro do 
contexto limitado do meio escolar: a da avaliação a partir da 
“inteligência”; psicologia dessexualizada e destituída de afetos. 
c) Utópica é a laicidade ou neutralidade em relação às opiniões 
religiosas ou políticas. A escola limita-se a ocultar... 
d) ...o que ela é de fato: máquina de poder. Aqui, a utopia consiste em 
fazer passar o terreno disciplinar extremamente enquadrado e 
mantido sob estrita proteção – aliás, em conformidade com as 
intenções que haviam presidido sua fundação – como o espaço 
específico propício ao “desabrochar” da criança. Desde sua origem 
no século XIX, o objetivo declarado da escola primária era o de 
isolar a criança pobre do mundo operário, impedir a vagabundagem, 
formar trabalhadores e empregados domésticos mais civilizados. 
Função abertamente moralizadora e disciplinar que nos conduz à... 
e) ...igualdade de oportunidades, problema insolúvel dos professores 
primários desde o final do século XIX, atualmente menos 
defensável, uma vez que começa a ser reconhecido, por toda parte, 
o papel da escola na reprodução ou incremento das desigualdades 
sociais. Convém acrescentar que a escola produz indivíduos dóceis 
e comportamentos sociais irreversíveis diante dos detentores do 
“saber”, além de justificar a hierarquia e de legitimar a força 
pregnante de certas instituições, tais como a família nuclear que é 
requisitada, essencialmente, em razão da escola, para vigiar a 
criança, responsabilizando-se por seu sustento e por sua 
assiduidade na aprendizagem. A utopia está encarregada de 
introduzir essa função específica nas consciências e, se é que 
podemos falar assim, de disseminá-la. (p.28-29). 
 
Os pontos acima apresentados mostram como a educação de crianças 
passou assim a servir de objeto para uma escola do Estado, dotada de incentivos 
calculados para se desenvolver em detrimento de seus impulsos, desejos, afetos, 
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etc. Ou seja, é uma escola que funciona muito bem para o aspecto de função 
social acalentado pelo Estado desde Rousseau. 
A pedagogia clássica criou um espaço totalmente artificial para as 
crianças e as coloca em contato com um mundo pragmático e de recompensas 
dentro de um campo pedagógico que se torna limite para a criação e invenções 
infantis. Em outras palavras, não há uma liberdade. 
A criança dentro deste campo pedagógico é chamada a ser criança e 
nada mais, criança aqui no sentido o qual ela é concebida por este campo 
pedagógico formado pelo Estado como um sujeito a ser controlado pelas 
profissionais da educação. 
Neste sentido, a criança passa a ser tida como utópica na medida em que 
ela é vista como uma representação, aliás, uma representação do que os adultos 
querem que ela seja, porém, não condizendo com a realidade das infâncias que 
são muitas e trazem consigo diferentes demandas e complexidades. 
Como aponta Schérer (2009, p. 31), 
 
Ora, a criança é um ser utópico precisamente pelo fato de estar 
confinada nesse lugar escolhido para ela e que é um vazio, um não-
lugar. E o papel do professor não é menos utópico no sentido em que, 
por um lado, ele se coloca a distância, não deixando de pretender estar 
próximo, e, por outro lado, ele abandona, em atenção à criança, seu 
lugar entre os adultos, sem que por isso volte a ser criança, quer dizer, 
sem deixar de ser pedagogo. 
 
Esta forma de ser pedagogo, de estar em relação às crianças de modo a 
não abrir mão de sua postura, de seu lugar se deve ao medo do desafio, do 
inesperado, do não programado. Tudo que foge ao controle é demasiado perigoso 
para que se deixe ocorrer. 
Logo, segundo Schérer (2009, p. 32), 
 
O pedagogo deseja que o campo pedagógico seja neutro, destituído de 
afetos, e postura que somente assim ele propiciará o livre curso das 
pulsões infantis. Então, nessa neutralidade, convém observar, de 
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preferência, um procedimento que tende não a liberar o ser real pela 
riqueza das relações, mas criar um ser fictício e infantilizado. 
 
A criança que consegue escapar da disciplina, buscando as frestas de 
escape dos olhos vigilantes é classificada como uma criança indisciplinada, a 
escola tende a formar uma rede interna de controle constante no intuito de que a 
criança da representação não escape pelas frestas. 
Os minúsculos meios de observação construídos pela escola faz parar os 
movimentos infantis tornando-as crianças obedientes e sempre prontas a ouvir a 
voz de comando do professor que por sua vez se vangloriam de saberem lidar 
com as crianças de sua sala. 
Entretanto, existem possibilidades de fugas, escapatórias do desejo pelas 
invenções, conquistas que as crianças sabem produzir cotidianamente, elas 
podem ser consideradas também utopias, neste caso, utopia no sentido positivo 
da palavra, um tipo de utopia que foge da utopia modelo. Portanto, há saída para 
escapar do modelo utópico de educação para a infância. Esta saída seria as 
utopias errantes, possibilidades que são produzidas no cotidiano. 
São utopias errantes que segundo Schérer (2009, p. 37), 
 
ao se enxergarem neste ou naquele ponto do grande corpo, essas 
utopias errantes devem saber não só escapar da reprodução, em 
pequena escala, de suas proibições e de suas estruturas, mas também 
tirar partido de sua pequena dimensão para implementar sua capacidade 
de invenção; desse modo, elas são a forma atual, e única, de resistência 
à dominação pedagógica – caso contrário, irreversível – do poder. 
 
 
2.2 Seria o fim das brincadeiras? 
A brincadeira é talvez o modo mais eficaz pelo qual a criança estabelece 
relação com as situações formais e não formais do cotidiano, embora a 
brincadeira esteja presente em documentos oficiais voltados para a educação no 
Brasil, como os parâmetros para a infância, na prática, o que se percebe é que 
está havendo um verdadeiro massacre das crianças com a busca por alfabetizá-
las cada vez mais cedo. 
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Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horasEste panorama tem sido alvo de constantes reportagens na mídia1, que, 
aparecem como um alerta e uma denúncia a respeito de como as crianças estão 
sendo vistas e tratadas em seu ser criança, não diferente da criança da 
representação utópica, o primeiro tipo de utopia que Schérer (2009) apontou. 
Retirar a brincadeira do cotidiano infantil é limitar a infância, o momento 
criativo e simbólico da criança que utiliza o brincar como manuseio da sua 
imaginação. Por isso mesmo, quanto mais chances de brincar, quantos mais 
brinquedos estiverem à disposição da infância, mais ela desenvolverá sua 
imaginação e conseguirá a interação social tão importante nesta fase da vida. 
E, o ambiente escolar deve ser um ambiente propício às invenções 
infantis, principalmente, devem oferecer lugares para serem explorados, 
cantinhos que podem vir a ser locais de grande imaginação. Os cantos não são 
lugares comuns, eles são locais de intensidades, de paixões e que marcam a 
memória das infâncias que ali exploram. 
Os cantos são territórios preferidos na infância, e, eles são mapas de 
nossas curiosidades, locais onde podemos ser o que quisermos, locais isentos de 
distantes de olhares controladores, locais de silêncio, mas que podem ser de 
festa também. 
Como aponta Scherer (2009, p. 215): 
 
Os cantos são territórios, mas incessantemente “reterritorializados”. Que 
ninguém se assuste com essa palavra, pedida de empréstimo à filosofia 
de Gilles Deleuze e Félix Guatarri. Nesta escolha, não há qualquer 
afetação, nem ela tem a ver com a amizade; ocorre, simplesmente, que 
o termo parece convir particularmente ao meu intuito, ao impulso anímico 
que se ajusta à minha concepção dos lugares, tal como eu gostaria de 
compartilhá-la. Não são dados objetivos e, mesmo que eles 
preexistissem a nós, é unicamente por nosso intermédio que recebem 
seus nomes e suas inefáveis qualidades. Para fazê-los nossos, é preciso 
que, antes, estejamos separados desses cantos; que tenhamos feito 
longas errâncias longe desses lugares, para retornar a eles, 
sacralizando-os como verdadeiras visões. A “reteritorialização” é 
simplesmente a expressão desse movimento. 
 
 
 
1 Matéria: brincadeira perde espaço para a alfabetização precoce disponível em: 
http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/brincadeira-perde-espaco-para-alfabetizac-o-precoce-
1.220560 acesso em 21 de dez de 2014. 
http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/brincadeira-perde-espaco-para-alfabetizac-o-precoce-1.220560
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Quantos adultos não se lembram dos bons momentos da infância, dos 
piques-pegas, piques esconde e outras brincadeiras que envolvem os cantinhos. 
Estes são espaços que nos marcam em sua constituição de secreto, de segredo, 
de sagrado. Se são lugares, permanecem nas nossas memórias, se são lugares 
clandestinos é pelo motivo de termos criado uma relação de pertença quando 
crianças e que nos fazem querer por vezes retornar a eles. 
O bequinho da escola, aquele local que nem mesmo os professores, 
diretores, vigilante do recreio percebe que estão sendo habitados. Lembro-me 
bem que o cantinho do meu recreio era entre a parede rochosa e o pátio de cima, 
apertado, úmido, porém ligação entre dois pátios da mesma escola. Local de 
pedrinhas, de lodo de esconderijo e de fofocas pelos garotos e garotas que ali 
criavam seus recôndidos mais apaixonantes. 
Schérer (2009, p. 222), falando de seus cantinhos, diz: 
 
O bendito canto do quartinho bastava para transformar a apatia em 
fruição. Praticávamos, sem saber, rituais que, desde então, provocaram 
a reprovação e a ira do poder público. Nossa erva, tão irrisória e bem 
inocente diante da desconfiada vigilância atual, ganhava, porém, seu 
atrativo pelo fato de se tratar de uma iniciação clandestina que não teria 
sido possível sem esse lugar reservado. 
 
 
O autor chama atenção com suas próprias memórias, as tentativas de 
pular o muro, o caminho estreito que levava até o muro, as práticas que 
aconteciam, segundo Schérer (2009), para satisfazer a vontade do desejo, algo 
que celebrava os mistérios da vida e de seus segredos. 
Ora, quantos cantinhos estão sendo perdidos com a emergência de uma 
alfabetização precoce? Quantos cantinhos sequer são propiciados pelo ambiente 
educacional para seu público, no caso as crianças. Pensar na arquitetura escolar 
como sendo uma construção planejada para que esses cantinhos, pela falta de 
existirem naturalmente, passarem a existir pela ação do homem sobre aquele 
espaço educativo. 
Nos dias de hoje, as brincadeiras de contato, de socialização, tem perdido 
seu espaço para a tecnologia cada vez mais galopante nos espaços de casa e 
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também na escola. Esta é outra preocupação para quem lida com a educação 
infantil e porque não com jovens já que a brincadeira, o lúdico não deve ser uma 
característica exclusiva da educação infantil. 
Além disso, as brincadeiras de faz-de-conta que envolve o lúdico tem 
perdido espaço para a avalanche de tarefas que a escola impõe sobre os 
pequenos ombros infantis, sem contar o enrijecimento do corpo. Logo, o brincar 
de faz-de-conta proporciona às crianças não apenas a oportunidade de começar 
de onde elas “estão” atualmente, como também de usar suas experiências reais e 
imaginárias para a linguagem e a aprendizagem. Todas as crianças se deliciam 
ao vestir de roupas e assumir o papel imaginado de uma outra pessoa, 
especialmente daqueles personagens do mundo adulto que elas tentam 
compreender através de sua emulação (MOYLES, 2002 p. 62). 
Além disso, sabemos que a força de um mercado consumidor desses 
produtos tecnológicos, celulares, tablets, vídeo games cada vez mais modernos 
têm sido produzido por uma lógica capitalista com pouco ou quase nenhuma 
preocupação pelos aspectos socializante, simbólica e cognitiva da criança. 
Aspectos que só se pode alcançar com atividades lúdicas coletivas. 
O mal que se comete em nome do entretenimento a qualquer custo 
através do consumo costuma ser irreversível na medida em que a brincadeira vira 
um vício eletrônico e individual. 
A lógica que está por trás desses entretenimentos eletrônicos, não é 
outra, senão o controle que se pode exercer da criança, jovens. Ora, além de 
submeter o aluno, filho em um espaço vigilado, controlado, ele perde totalmente a 
possibilidade de se mover, onde está o movimento tão importante para o corpo, 
para o desenvolvimento motor? 
Como aponta Gallo (2008, p. 88) falando de Deleuze: 
Demonstra o filósofo que a característica básica dessas sociedades é 
dar a ilusão de uma maior autonomia, mas, mesmo por isso, serem 
muito mais totalitárias que as anteriores. Por exemplo, hoje não preciso ir 
à agência bancária, pois controlo minha conta corrente por telefone, por 
fax ou pelo microcomputador, via Internet, pareço, por isso, ter uma 
autonomia muito maior. Porém, a facilidade do acesso informatizado 
permite aos governos – e mesmo aos próprios bancos – que eu seja 
vigiado muito mais de perto, e o que é pior, na maioria das vezes sem 
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nem ao menos suspeitar disso! Na medida em que o controle escapa 
das instituições e é feito foradelas, ele se torna mais tênue, mais fluído, 
mas mesmo por isso mais poderoso, uma vez que se infiltra melhor e 
mais sorrateiramente por todas as frestas. 
 
Neste sentido, o poder exercido pelas instituições se baseia também em 
um aporte tecnológico que, estando à disposição dos alunos, causam uma falsa 
expectativa de liberdade, porém, esta liberdade não seria nada mais do que um 
efêmero suspirar de controle na medida em que o acesso dos alunos é 
circunscrito a estarem em uma sala com computadores individuais e cada um 
sentado harmonicamente para o seu uso. Logo, sob a égide do controle e da 
vigilância, é construído um local de liberdade artificial, mas que, ao adentrarmos 
pelos espaços de práticas educacionais, podemos perceber que asa resistências 
perdura, tende a existir, o aluno que à surdina entra no facebook quando o 
professor se afasta, ou em outros sites que lhe é do interesse. 
 As resistências existentes desde a infância tende a trincar este espaço 
de rigidez e de controle. A resistência é o que escapa pelas frestas da escola, 
fazendo com que haja um clima propício aos enfrentamentos, dando origem aos 
movimentos e ações que fogem da homogeneização. 
A resistência se encontra tanto nas brincadeiras com os mecanismos 
tecnológicos, como nos cantos, nas brincadeiras com brinquedos, etc. O prazer 
com as brincadeiras está no ato criativo que se faz com os espaços de 
brincadeiras, bem como com os pequenos artefatos, matérias que se encontra 
nesses espaços, por exemplo, gravetos, terra, areia, pedras, pedaços de paus, 
folhas entre tantas outras coisas que pode ser utilizado pelas crianças, àquilo que 
está ao alcance dela, mas principalmente aquilo que ela própria se esforça para 
conseguir, manusear e transformar a matéria-prima em brinquedo ou suporte para 
seu brinquedo. 
Aliás, diga-se de passagem, este ambiente de natureza, de grama, de 
barro, pouco se encontra na escola moderna da cidade, pois, o que se vê é um 
grande tapete de cimento cobrindo tudo, pátios inteiros de concreto, ou seja, um 
chão que esquenta no verão e que alaga com as chuvas. Não há nenhuma árvore 
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na escola para que a criança sente debaixo dela para fruir a sombra de sua copa, 
ou mesmo arrisque escalá-la junto com outras crianças. 
É muito raro encontrarmos uma árvore, que dirá uma árvore com frutas, 
um pomar, que, além de fornecer alimento, frutas saudáveis poderiam servir de 
um ótimo lugar para a imaginação. Imaginar que aquele bosque é uma floresta 
encantada, um caminho até um castelo, até um reino mágico. As crianças se 
divertem com as condições naturais que a vida oferece para o ser humano, 
infelizmente tais condições são ceifadas pelo sonho grandioso de uma escola 
compacta, moderna, bem estruturada, confunde-se a palavra bem estruturada 
com excesso de concreto e tecnologia. 
Como aponta Tiriba (2010, p. 10), 
 
o que se aprende com a natureza, em contato direto com o mundo, não 
se resume ao que se pode organizar racionalmente, de modo 
anteriormente planejado. Trata-se, então, de considerar as intervenções 
criativas das crianças, seus interesses presentes, pois é possível definir 
o que se ensina, mas jamais o que se aprende. Assim, as vivências ao ar 
livre, os passeios no entorno podem ser entendidos como possibilidades 
de aprendizagens de corpo inteiro, em que são incluídas a atenção 
curiosa, a contemplação, as sensações, as emoções, as alegrias! São 
Aprendizagens que se realizam aqui e agora, não servem apenas para 
confirmar o que foi trabalhado de forma sistemática antes ou depois. 
 
Além disso, pensar no aspecto lúdico entrelaçado com a aprendizagem é 
fundamental para a prática cotidiana que as crianças vivenciam, pois, como 
aponta Moyles (2002, p. 32), qualquer coisa pode ser realizada de maneira lúdica, 
seja qual for a “categoria” ou o nível de atividade envolvida, e é possível que 
adultos e crianças mudem dentro de uma mesma situação, de lúdico para sério, e 
vice-versa. 
As crianças não encontram de modo fácil brechas para o contato com a 
natureza devido à questão estrutural da escola e segundo pelo fato de não haver 
uma conscientização por parte dos profissionais que trabalham na escola para 
este fator. 
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Neste quesito, a tecnologia não supera a inventividade de buscar, pensar, 
criar, coletar materiais, sentir o cheiro da natureza, do cotidiano, ouvir os não de 
adultos como conquistar a simpatia deles em conseguir materiais, pois, existe 
tanto o vizinho solidário que ajuda guardando matérias, caixas de papelão, pneus, 
entre outras coisas como aquele que briga, xinga, e proíbe as invasões em seu 
quintal, em suas árvores. 
Enfim, a brincadeira serve como descarga de energia para a criança e 
esta está sempre disposta a descarregar sua energia seja em casa, no quintal do 
vizinho ou na escola, a brincadeira é o pano de fundo para a arte, para a alegria, 
e a inventividade do ser humano é quase uma simbiose entre corpo e natureza, 
ela aflora com toda a energia na fase da infância e em contato com o mundo da 
natureza. 
O cotidiano das escolas com suas salas de aula não favorece um 
ambiente de alegria e de disposição dos corpos de modo a estarem relaxados 
para as brincadeiras. Carteiras condicionam, cadeiras condicionam e a sala de 
aula mais parece uma prisão. Se pararmos para refletir sobre os momentos que 
os sujeitos estão em movimento na escola, chegaremos à conclusão que o 
recreio é o único espaço de uma possível criação, invenção das crianças. 
Infelizmente, mesmo no recreio, as atividades são controladas e vigiadas 
por adultos que estão ali sempre presentes nos cantos, circulando entre as 
crianças, na maioria das vezes controlando ao invés de misturar as crianças 
potencializando as brincadeiras. 
O brincar ajuda a desenvolver na criança não apenas a oralidade, mas a 
expressão artística e diversos outros benefícios que elas podem alcançar com o 
envolvimento das brincadeiras, tudo que envolve o ato de brincar se torna mais 
gostoso, prazeroso em seu desenvolvimento. 
Os objetos se tornam nas brincadeiras infantis alvos da imaginação e 
criatividade das crianças como, por exemplo, o cabo de vassoura se torna um 
cavalo, barro se transforma em material de modelar, pequenas manguinhas se 
tornam pequenos bois que após espetar as pequenas frutinhas com palitinhos, 
elas colocam os boisinhos de pé enfileirados. Os pedaços de panos, lenços se 
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tornam capas de super-heróis, esconderijos ou até mesmo o teto de uma 
cabaninha. 
A invenção não tem limites, e, é impressionante como o mundo dos 
super-heróis chama a atenção das crianças. Os poderes que elas imitam, 
lançando raios, utilizando espadas mágicas, enfim, são personagens importantes 
para elas. Elas se distanciam do mundo adulto, porém, faz parte a criança sonhar, 
fantasiar e estes personagens inventados permitem que elas saiam de uma 
realidade, provisoriamente elas podem inventar, criar seus próprios poderes, seus 
próprios super-heróis. 
Na brincadeira, a criança comunica-se, expressa sentimentos, emoções, 
ideais, fantasias que ela necessita comunicar, não é a toa que ela quando 
começa a brincar muitas vezes ela sente a necessidade de contar, de comunicar 
sua brincadeira e esperaque o adulto lhe dê atenção. 
Algo que chama atenção quando o assunto é brincadeira é como as 
crianças estão ausentes da rua, dos parques de nossas cidades. O motivo pode 
ser tanto o fato de que hoje a tecnologia tem feito o movimento de segurar as 
crianças em casa através de videogames, computador e outros aparatos 
tecnológicos, a violência urbana cada vez maior que assola até mesmo pequenas 
cidades do interior, bem como a depredação dos parques que são alvos fáceis de 
vandalismos. 
Infelizmente, a infância da socialização fica prejudicada neste sentido, 
com o afastamento das crianças dos espaços de socialização por excelência que 
é a rua. A rua não é lugar de perigo quando ocorre uma preocupação por parte de 
prefeituras e políticas públicas que garantam este espaço como lugar saudável 
que não apenas para crianças, mas para nós adultos vivermos, passearmos, 
sentarmos nos bancos das praças para conversar com o vizinho, fazermos as 
caminhadas, etc. O investimento em lugares públicos tem deixado a desejar, são 
poucas as prefeituras que pensam neste espaço enquanto lugar coletivo de vida, 
de encontros e brincadeiras. 
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UNIDADE 3 – O CORPO, O GÊNERO E A 
DIVERSIDADE SEXUAL NOS CURRÍCULOS DA 
EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
3.1 O corpo e a infância 
Preparar a criança através do sistema educacional é preparar a criança 
para o ofício de homem. A criança é tomada como irresponsável pelos seus atos, 
responsabilidade esta que ainda lhe faltaria, uma qualidade de homem. A ela é 
dada responsabilidades provisórias, testes a fim de avaliar se ela conseguiria dar 
conta de sua vida, de seu corpo desde nova. 
Diante dos direitos que o adulto busca incutir nas crianças, estes também 
lhes nega o direito de errar, de experimentar, de se aborrecer, de ser criança. Já 
diria Lapassade e Schérer (1982, p. 80-81): “A vigilância e a proteção da infância, 
irrisão fundamental dos direitos reais da criança, são uma tendência irreversível 
das sociedades modernas porque satisfazem”. Este livro, apesar de datar da 
década de 80, podemos considerar como um clássico para pensarmos o corpo e 
a educação. 
A criança desde quando vai para a escola, iniciando sua longa trajetória 
educacional a fim de alcançar o objetivo de uma formação de ser homem, mulher 
através deste percurso, ela encontra a figura do adulto em todos os cantos deste 
espaço vigiando seus passos, os poucos adultos que controlam a grande massa 
de crianças desnorteadas dentro daquele local estranho e ruidoso. 
Como afirma Lapassade e Schérer (1982, p. 91), a sociedade escolar e, 
mais geralmente, toda a relação pedagógica, sejam quais forem o seu conteúdo e 
as suas intenções, admitem como pressuposto óbvio, que entre o corpo da 
criança e o do adulto se estabelece um vazio constitutivo. 
O corpo infantil se torna inacessível tanto para ela quanto para os colegas 
e vice-versa, ou seja, não há possibilidade do tocar a menos que seja para a 
própria limpeza, higiene. 
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O professor, o adulto, sempre tem medo do contato entre as crianças, 
desses afetos infantis. Segundo Lapassade e Schérer (1982, p. 93), a distância 
real torna-se privação do direito ao desejo, atitude e palavra, censura à qual o 
próprio professor começou a submeter-se, quer por simples obediência ao 
regulamento quer, mais geralmente e mais de bom grado, porque vê aí a 
condição para uma atitude normal, justa, equitativa, benéfica, respeitável, para 
com os inocentes que lhe são confiados. 
A escola cristalizou a ideia de que deixar que os afetos transbordem em 
seu cotidiano, é deixar que a ameaça de que isto leve a uma iniciação da 
sexualidade infantil, como se as crianças não tivessem desejos, vontades. A ideia 
de que não se deve deixar a perversão tomar conta do espaço puro e inocente 
infantil é uma visão equivocada do mundo infantil. 
De acordo com Lapassade e Schérer (1982, p. 94), o professor deve ser 
de todos, e como poderia fazê-lo senão barrando em si o acesso a todos os 
afetos; os próprios alunos, prisioneiros do sistema, o exigem. Por isso, uma tal 
exigência parece lógica, natural. 
Entretanto, o discurso que se percebe quando se trata de falar da 
sexualidade e dos desejos infantis é que a escola deve se colocar em uma 
posição neutra para que não haja um perigo de que estaria incentivando a 
promiscuidade, a perversão, etc. 
Mas, sabemos que a neutralidade é simplesmente a forma pedagógica da 
ideologia burguesa, logo, a escola é um espaço de classe e esta busca se isentar, 
de tocar em temas que a coloquem em dúvida enquanto uma instituição que 
serve a uma determinada classe e reproduz seus interesses. 
É, por este motivo que Lapassade e Schérer (1982, p. 94) dizem: 
 
Neutralidade, eis algo que tem à primeira vista, um sentido abertamente 
político - não fazer política - e um arzinho de recusa de constituir 
brigadas que faz as delícias dos professores liberais. A neutralidade 
política é já um logro numa instituição completamente submetida ao 
Estado, que impede que toda a análise seria dos problemas políticos 
sociais. A história da escola destes últimos anos dá-nos a prova disso: 
esta escola é realmente uma escola de classe, e a neutralidade é 
simplesmente a forma pedagógica da ideologia burguesa. 
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Assim, parece que a escola lida com os problemas tabus de modo a jogá-
los por debaixo do tapete e silencia os estudantes logo cedo a não ousarem 
fomentar conversas a respeito, obviamente que tal estratégia não funciona ou 
tende a ser trincada logo pelos próprios estudantes que encontram as brechas 
para falar, para tocar, para experimentar. 
A busca pela neutralidade do tempo da vida, do corpo é um modo de 
pedagogização das salas de aulas e das disciplinas que estão nos currículos 
escolares. Ora, são poucas ou quase nenhuma escola que ousa incentivar seus 
alunos a falarem a respeito de seus corpos, de seus desejos. 
Os professores tendem a operar com a neutralidade desde as creches e 
assim, esta postura pensada como um escudo de proteção se prolonga até o 
ensino superior. O efeito que a escola neutra faz com seus alunos é visível, pois, 
são corpos disciplinados, movimentos coordenados, gestos harmoniosos, a vida 
escolar passa a ser regida pelo tempo cronológico da obediência e do controle 
corporal. 
O encontro entre o professor e o aluno, o adulto e o filho ocorrem pelo 
afeto utilizado para convencê-lo a não utilizar de excessos corporais, desejosos, 
espalhafatosos que ponham em cheque a educação tradicional que preza pelos 
bons costumes. 
O encontro de ideias com certos alunos arrisca a acompanhar-se, ou a 
provocar, um privilégio de afeição. Para não ser tentado e, porque não quero nem 
posso sê-lo, escondam as opiniões assim como o corpo. Neutralidade é 
neutralização, do mesmo modo que se diz que o inimigo foi neutralizado no 
seguimento da sua destruição. Neste caso, o inimigo é tudo o que se possa 
assemelhar à pulsão fora do jogo. Se esta desponta, o professor nega-a; mais 
precisamente, a regra do jogo escolar, a da neutralidade-neutralização é que ela 
nem sequer possa mostrar a ponta do nariz (LAPASSADE; SCHÉRER, 1982, p. 
94-95). 
O ideal de neutralidade se ancora no aporte filosófico da vigilância que a 
escola deve exercersobre suas crianças, seus corpos, seus mundos. A escola 
com o seu saber pedagógico muito bem paramentado para este vigiar, se traduz 
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em uma instituição com um poder de não deixar que nada lhe escape pelo olhar 
milimetricamente adestrado para acompanhar os movimentos corporais. 
Se houvesse modo de vigiar os pensamentos, certamente a escola o 
faria, pois, quanto mais o poder na escola estiver nas mãos dos gestores e 
professores, maior é a possibilidade de controle e vigilância. 
Como aponta Lapassade e Schérer (2008, p. 101), o ato pedagógico 
quer-se sereno, exige o silêncio das paixões. Não há dúvida, e aí está a sua 
fachada oficial. Já compreendemos quanto esta exigência é aberrante, e como 
pressuposto da relação pedagógica, a neutralidade, pode ser mortal. 
Os autores apontam que o contato, é o corolário do interdito, que, em 
outras palavras, é proibido o contato físico, aliás, seja entre gêneros opostos seja 
entre mesmos gêneros já que o medo da escola de estar abrindo as portas para o 
desejo é demasiado assustador para a permissão. 
Além do que, com o interdito do contato, a escola está colocando em 
cena também a relação com o saber. Ambos, o contato e o saber, possuem uma 
ligação estreita no que tange a escola, a indicação para um não contato dentro do 
espaço educacional, leva este espaço a funcionar como o desejado espaço social 
que se pretende, o de um mundo social no qual as relações perpetuem conforme 
historicamente foi pensada e construída, no caso, papéis de gênero bem definido, 
homens viris e possuidores de uma masculinidade intacta sem a sombra de um 
desvio sexual, virgindade sagrada para as mulheres que devem guardar seus 
corpos para um único parceiro para o resto da vida, etc. 
São várias as construções que a relação de não contato tem com a 
produção de saberes em nossa sociedade. Trata-se de reproduzir os costumes de 
uma sociedade liderada por normas e regras que dizem como manuais para uma 
contenção dos fluxos de desejos em prol de uma civilização cristalizada. 
Por isso, este desvio de afetos pela ausência de contatos implanta a 
distância entre os estudantes que, compreendem esta distância como sendo 
natural, se trata de um desvio de tais afetos pela civilização. Como aponta 
Lapassade e Schérer (2008, p. 106), “No coração da instituição inalterada, reina a 
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ordem, a ordem passionalmente subversiva, quer dizer repressiva, cujo 
mecanismo é preciso desmontar”. 
O corpo pedagogizado é a construção entre o não contato e o interdito, ou 
seja, o corpo do sujeito escolar que é formatado em seu desejo, vontade e libido. 
O desdobramento deste corpo pedagogizado é uma desrealização da criança 
que, segundo Lapassade e Schérer (2008, p. 107), “desrealização da criança pelo 
desvio da sua energia pulsional, distanciação no prolongamento do interdito de 
tocar, do corpo físico, para não deixar lugar senão ao olhar inquisitorial, à voz 
sedutora e imperiosa”. 
O saber nunca abandona este interdito pela falta de contato, ele está 
sempre apostos para reafirmar este local da criança intocável e ao mesmo tempo 
perigosa por seus movimentos e desejos deliberados, que toma de surpresa os 
pedagogos e espanta a família. 
O desejo dos adultos para construírem uma criança escolarizada através 
de uma codificação pedagógica de corpo infantil se expressa de forma nítida no 
vazio inerte da massa de crianças dessexualizadas e desinvestidas de desejos de 
curiosidades e vozes. Neste sentido, os autores tem razão quando dizem que: “À 
domesticação das pulsões corresponde o saber domesticado pela escola, para o 
uso interno, cujo fim é a aprovação pelo professor e a famosa seleção” 
(SCHÉRER, 1982, p.107). 
O autor ainda diz que: 
 
Apesar da influência de Freud e do freudismo, no que diz respeito à 
ressexualização do corpo e da sensibilidade, não se verificou qualquer 
mudança relativamente ao princípio dessa estrutura evolutiva e à sua 
orientação disciplinar. Muito pelo contrário, o sexo organiza ainda melhor 
as hierarquias e as incapacidades, uma vez que ele é apreciado em 
função da genitalidade, da imaturidade e da estrita separação das 
idades. Confinada em sua impotência, a infância protegida acaba 
consolidando seu estado de submissão. Saibamos decifrar, nesse mito 
de redução e de dissimulação, o véu de ilusões sob o qual o adulto 
impõe sua única lei e seu único poder, e, sob o engodo de um pretenso 
direto da criança, as estratégias de um adestramento, cuja única 
finalidade é a interação e a preparação para o exercício da função 
procriadora. (p.160-161). 
 
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O entrosamento entre escola e família no tocante ao contato, ao cuidado 
com o corpo e a guarda do distanciamento do perigo é importante para ambas as 
instituições que se esforçam para manter tal rede de vigilância, embora nem 
sempre haja uma estreita parceria entre tais instituições. 
Mas, pensando que os saberes entre corpo e as sexualidades como 
temas tabus é algo zelado por ambas as instituições, quando ocorre da escola 
pensar intervir de modo à desnaturalizar tal pedagogização sobre o corpo e as 
sexualidades, ação rara de acontecer, esta enfrenta geralmente problemas de 
enfrentamento com a família que se sente invadida e impelida no seu papel de 
ensino/instrução dessas discussões com seus filhos embora nem estes o façam. 
Há uma questão muito interessante neste aspecto, que é o efeito de 
obrigação que a educação moderna trouxe para os pais no sentido de que estes 
devem manter seus filhos cadastrados, vacinados, matriculados e levados em 
todas as instituições que a sociedade moderna criou para o cuidado, controle e 
vigilância da infância. 
Com tal medida, a escolarização se torna de fato a extensão da família, 
qualquer conduta da escola reflete na familiar e vice-versa, deste modo, se a 
escola desnaturaliza os temas tabus com a criança, esta acaba criando em 
grande parte, um atrito com a família que já é uma instituição a princípio 
tradicional. 
Como aponta Schérer (2009, p. 97), o conflito entre a “instituição” e as 
famílias é, de fato, um debate em torno da distribuição das obrigações (criação, 
afetividade, educação ou instrução). A invasão de uma área pela outra (ou a 
acumulação) é uma usurpação de função, um conflito de poderes, tendo sempre 
como fundo a grande solidariedade adulta. 
Quantas pessoas já ouviram histórias de professores que já afirmaram 
terem sido ameaçados ou mesmo que já apanharam de pais e parentes de alunos 
pelo fato de sair da rota do estabelecido, do interdito? Não são raras as histórias 
até pelo fato de que a grande maioria permanece em silêncio por vergonha. 
Deste modo, o professor que ousa reconhecer o corpo infantil, juvenil, e 
toda a as sexualidades e desejos que estes carregam consigo, tendem a serem 
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alvos em potencial de críticas, de não proteção da escola, mas continuam com 
sua postura militante para uma desnaturalização da verdade pedagógica a 
respeito do corpo infantil e juvenil, desnaturalização deste perigoexcessivo. 
Como disse, é raro que o professor não se torne um controlador/vigiador 
das práticas corporais, as lutinhas masculinas são um bom exemplo de como o 
contato entre os meninos são vistos como indício de uma masculinidade 
problemática, violenta ou mesmo desviante na medida em que o contato pode ser 
interpretado como uma homossexualidade suspeita. 
Ora, a lutinha masculina pode ser um ato de afetividade, de socialização 
masculina na qual os meninos se encostam se roçam e medem forças dentro de 
um ritual importante para a sua identidade de meninos reconhecidos por outros 
meninos. 
Há encontros que não são compreendidos pelos adultos que se 
esquecem de suas infâncias e não retornam a elas para compreender o que se 
passam na escola, os adultos esquecem que a lutinha é uma faculdade lúdica da 
infância, que envolve o corpo e que é importante o contato nesta atividade. Então, 
se os adultos se amedrontam com as consequências como machucados, eles 
devem preparar um ambiente para que as lutinhas ocorram de modo a possuírem 
maior proteção, colchão de espuma pelo chão? Colocá-los para exercitar esportes 
de contato que possuam regras? Não sei, o que é certo nesta discussão é que o 
potencial da libido da energia não devem ser podados já que as lutinhas são 
exatamente a prova de um deslocamento da vigilância dos adultos. 
A construção de adulto – criança enquanto uma binaridade de saber e 
hierarquia, trás como pano de fundo o desejo por este saber pedagógico que se 
naturaliza em cada reforço de ser adulto perante a criança que é seu par subjetivo 
por consequência educacional. 
Ou seja, quero dizer que o adulto é mais adulto, é mais autoridade na 
medida em que ele reforça seu discurso de poder e controle sobre a criança ou o 
jovem que por sua vez se fazem mais crianças e jovens na medida em que 
ouvem e sentem a ação discursiva deste campo educacional comandado pelos 
adultos. 
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3.2 Os desafios da formação docente com as temáticas: gênero, 
diferenças/identidades e diversidades 
O mundo infantil está sempre aberto para as descobertas, às novidades 
que as cercam de todos os lados, seja na família ou na escola. Sua percepção 
para com o mundo de contatos e afetos esta aguçada e inquieta pelas 
descobertas, tais descobertas dizem respeito a tudo que lhe causa interesse e 
curiosidade, inclusive o campo da sexualidade é algo extremamente interessante 
e curioso para as crianças. 
O contato com a sexualidade ocorre muito com o autoerotismo, a 
masturbação, um tabu para muitos professores e pais que se apavoram diante 
deste comportamento. Porém, a descoberta dos órgãos genitais se torna motivo 
de estímulo e prazer intenso para as crianças. 
Na escola ou em casa, não é difícil apanhar a criança roçando em algum 
objeto, buscando o contato de alguma superfície para se esfregar, isto é normal 
para a sexualidade infantil. 
É extremamente importante que o professor não finja que nada está 
ocorrendo e que se atente para os motivos que podem também não ser apenas 
pela fonte de prazer que tal comportamento proporciona, pode ser também uma 
alergia, infecção, machucado, enfim, outros motivos que leve a criança a ter este 
comportamento. 
É importante também que os preceitos sociais que regem os 
comportamentos, o manual de boas condutas neste momento deve ser deixado 
de lado, já que é por conta dos preceitos disciplinares escolares que muitas vezes 
os detalhes passam despercebidos pelos professores. 
Os protocolos cotidianos que nos cercam são cruéis, e são ainda mais 
para com os pequenos que estão aprendendo a se condicionar a regras e 
normas, entretanto, cabe ao professor conversar com as crianças e dizerem que 
existem horas e lugares para a prática do autoerotismo que fazendo isso na frente 
dos outros é perigoso que os colegas possam rir, zombar, fazer chacota, etc. 
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Neste sentido, zelar pela privacidade da criança na medida em que ela 
possa sentir este prazer em seu cantinho é importante. 
Outro grande medo no mundo sensível da escola é o da 
homossexualidade, tema tabu, pouco falado, ou quase nunca reportado, este é 
um tema que suscita pensarmos primeiramente que há uma confusão por parte 
dos professores em identificar precocemente a identidade sexual da criança 
perante algum comportamento que logo é julgado como sendo um desvio. 
Quem nunca viu, ouviu algum julgamento precipitado na escola a respeito 
da homossexualidade? A professora que sacode o menino de 6 anos pelo motivo 
deste ter gritado e sua voz ter saído fininha, ouvimos então: “fala como homem 
menino”. Além disso, as brincadeiras são fundamentais para as crianças se 
desenvolverem e estas se interessam por cores, tamanhos, formas e texturas, 
independente do brinquedo ser socialmente/culturalmente construído para menino 
ou para menina. 
Ora, o interdito dos brinquedos parte dos adultos e não das crianças, 
estas não se excluem, não se colocam em posição de crueldade em dividir grupos 
de meninas e meninos para brincar, dividindo os esportes na educação física 
entre gêneros. 
De acordo com Felipe (2012, p. 54), 
 
em relação às brincadeiras, é impressionante o despreparo dos adultos 
para compreender determinadas situações. Por exemplo, se a mãe está 
grávida e seu filho de dois anos resolve brincar dizendo que também 
está grávido, os pais já entram em pânico. Ou se o menino brinca muito 
com as meninas, as professoras já ficam preocupadas, como se estar 
com o feminino fosse um demérito. Projeta-se nos comportamentos 
socialmente esperados de gênero, uma identidade sexual que ainda é 
muito cedo para definir. 
 
Neste sentido, torna-se uma exclusão julgar as crianças através da fala 
de suspeitas sobre aquele pequeno corpo infantil, as expectativas do que é ser 
homem e do que é ser mulher minam as possibilidades de experimentações 
infantis já que em um espaço pedagógico como a escola, as brincadeiras são 
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mediadas pelos adultos que pensam, escolhem, selecionam o que elas devem e 
podem ou não podem brincar. 
Segundo Felipe (2012, p. 55), no caso das crianças pequenas, o fato 
delas brincarem com coisas consideradas de meninas ou de meninos ou ainda de 
praticarem determinados jogos sexuais não significa que elas sejam, à priori, 
homossexuais. É preciso ter um pouco mais de tranquilidade ao nos depararmos 
com determinadas situações. 
A autora ainda chama atenção para o diálogo que professores devem 
estabelecer com seus alunos, no caso, perguntando as crianças sobre 
determinados comportamentos, discursos que elas apresentam na escola, pois, 
muitas das vezes saber a fonte desses comportamentos e discursos pode ajudar 
na ação do professor, não uma postura equivocada de julgamento ou censura, 
mas de compreensão e planejamento para se tratar o assunto tabu. 
Cabe à escola ajudar as crianças a lidarem de modo saudável com o 
corpo, não abusando do colega, não adentrando no corpo do outro sem ambos os 
colegas estarem de acordo, muitas crianças não gostam que a toquem também, 
aliás, a escola tende a tocá-la sempre sem o seu consentimento, então, o toque à 
força, os agarramentos podem ser constrangedor e tornar uma criança 
traumatizada com os contatos, bem como tal trauma pode vir de casa poralgum 
abuso sexual que também deve ser verificado pelo comportamento das crianças 
na escola. 
Como aponta Xavier Filha (2012), é comum a escola tomar uma atitude 
de investigadora em casos de violência para buscar indícios e provas para a 
efetivação da denúncia/notificação. Evidentemente, esta não é sua função. Há 
outros órgãos que compõem a rede de proteção à criança e ao adolescente aos 
quais compete a rede de proteção à criança e ao adolescente esta investigação. 
Outra ação comumente realizada pela escola é chamar o familiar para “tomar 
satisfação” ou para confirmar a suspeita levantada pela criança. Em muitos casos, 
a mãe é chamada e responsabilizada pela situação que envolve o filho ou a filha, 
ainda que, às vezes, sem se dar conta de que ela também pode estar sendo 
vítima da situação ou até mesmo ser a agressora. A chamada da mãe à escola as 
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supõe coniventes e até mesmo negligentes em relação à violência sofrida pelas 
crianças. Este pré-julgamento é questionável e pode levar à revitimização da 
criança ou do adolescente pelo não-cumprimento do que lhe cabe como 
instituição, pela obrigação legal é a ética que tem de velar por seus direitos, 
notificando casos e situações de suspeita e/ou confirmação. 
A rede interdisciplinar funciona muito bem nestes casos, a escola precisa 
contar com parceiros, psicólogos, assistentes sociais, entre outros profissionais 
que possam contribuir para o bem-estar e saúde do corpo e da infância. 
Há também outro fantasma que ronda o corpo e as relações entre os 
estudantes e que nos dias atuais, muito se tem discutido a respeito e muito se 
tem problematizado a favor da desnaturalização dos modelos perfeitos dos 
corpos, estes modelos que a sociedade moderna ocidental capitalista impõe 
sobre sua sociedade e as crianças não escapam desta modelização. 
Aliás, um bom material para se discutir este tema com os professores e 
até mesmo com alunos da área de educação e áreas afins é o documentário 
intitulado como: Criança, A alma do negócio2. 
No documentário, um dos aspectos mais enfatizados é a força de uma 
mídia voltada para as crianças e que influencia o discurso delas em querer ser e 
ter o que esta mídia lhe trás como modelos. Tal cobrança é exercida por 
consequência para seus pais que se veem reféns também de um mercado 
preparado para vender para estes pequenos consumidores compulsivos. 
Neste sentido, o corpo não é um conjunto de músculos e vísceras 
apenas, ele é um local de interiorização de desejo mercadológico, de desejo de 
consumo e de comparações com o outro, por exemplo, a representação do corpo 
magro aparece com toda a força nos modelos plastificados das bonecas como 
nos modelos Barbies, uma marca que assola o mundo das meninas que se 
inspiram no modelo magro e perfeito de corpo. 
Tal comparação entre o real e o cultural torna-se violenta na medida em 
que tal ação ocorre na escola na forma do bullying, pois, as crianças que não 
 
2 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=KQQrHH4RrNc acesso em 28 de set de 2014. 
http://www.youtube.com/watch?v=KQQrHH4RrNc
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possuem corpo tido como “normal”, são logo rotulados como botijões, baleias, 
entre outros apelidos pejorativos, esta é uma questão que cada vez mais tende a 
excluir as diferenças na escola e leva ao abandono escolar, isto quando não fica 
as marcas traumáticas da vergonha e humilhação. 
Neste documentário há uma definição clara entre o que é produto para 
menino e o que é produto para menina, inclusive reforçando as cores azul e rosa 
como uma dialética binária que funciona como demarcador de gênero e de 
casinhas de consumo bem definidas. 
Logo, o corpo é uma construção cultural. E, como aponta Goellner (2012, 
p. 107-107), compra-se, por exemplo, roupa azul, decora-se o quarto do mesmo 
modo e escolhem-se os brinquedos de forma muito diferente se a criança for uma 
menina ou um menino. A ela serão, também, dirigidas expressões adjetivos e 
expressões distintas tais como: a princesinha da mamãe/papai; o garotão da 
mamãe/papai. Sobre seu futuro, serão projetadas perspectivas distintas: vai ser 
bailarina, professora, enfermeira ou vai ser cantor de rap, bombeiro, advogado. 
Também serão inferidos lugares de maior circulação e vivência para ela e para 
ele: se for uma menina pressupõe-se que vá ajudar a mãe a cuidar da casa e dos 
irmãos; se for menino, aprenderá um ofício, irá trabalhar ou fazer bicos para 
ganhar dinheiro. Percebam o quanto esses exemplos estão definindo atributos, 
funções, papéis relacionados aos homens e às mulheres??? 
Quando é que as crianças podem e conseguem falar a respeito de 
sexualidade com os pais? Esta dificuldade vem de muito tempo e consta, por 
exemplo, no diário de uma garota conhecida mundialmente por sua luta, Anne 
Frank, diz o seguinte a respeito da relação entre pais e filhos e o sexo: 
 
Os pais, e as pessoas em geral, são muito estranhos quando o assunto 
é sexo. Em vez de contar tudo aos filhos quando eles têm 12 anos, 
mandam as crianças para fora da sala quando surge o assunto e deixam 
que elas descubram tudo sozinhas. Mais tarde, quando os pais 
percebem que, de algum modo, os filhos encontraram a informação, 
presumem que eles sabem mais (ou menos) do que realmente sabem. 
Então, por que não tentam consertar perguntando o que é o quê? Uma 
grande barreira para os adultos – ainda que em minha opinião ela não 
seja maior do que um pedregulho – é que eles têm medo de que os 
filhos não vejam mais o casamento como algo tão sagrado e puro ao 
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perceberem que, na maioria dos casos, essa pureza é um total absurdo. 
Segundo meu ponto de vista, não é errado que um homem traga um 
pouco de experiência anterior ao casamento. Afinal de contas, isso não 
tem nada a ver com o casamento em si, tem? Logo depois que fiz 11 
anos, eles me falaram de menstruação. Mas, mesmo assim, eu não tinha 
ideia por onde o sangue saía ou qual era o motivo. Quando fiz 12 anos e 
meio, fiquei sabendo mais um pouco com Jacque, que não era tão 
ignorante quanto eu. Minha intuição me contou o que um homem e uma 
mulher fazem quando estão juntos; no começo pareceu uma ideia doida, 
mas quando Jacque confirmou, fiquei orgulhosa ao ter imaginado 
sozinha! (FRANK; ANNE 2012, p. 250). 
 
Será que mudou alguma coisa do contexto que Anne expõe de sua 
realidade? Este distanciamento entre os pais e filhos sobre o sexo, sexualidade 
até os dias de hoje permanece, as crianças/adolescentes não são os mesmos, 
hoje existe várias fontes de informações como internet, porém, por vezes são 
fontes não confiáveis e com conteúdos deturpados. 
E neste momento que os pais se tornam chaves nesta conversa, nestes 
assuntos, porém, estes costumam largar de lado com medo, receio do que pode 
desdobrar a conversa, de que o filho/filha irá querer fazer sexo, etc. Isso, quando 
não relegam para a escola este papel. 
 
3.3 Currículo e educação infantil – problematizando! 
O currículo escolar por mais que não se queira enfrentar essa 
problemática que é a de uma revolução, alteração no modo em que este aparato 
pedagógico organiza a vida dos alunos, organiza a vida de professores e de todo 
o cotidiano escolar, ele propõe um ensino que primapelo processo de civilização 
do sujeito. 
O processo de civilização é aprendido pela ação de um currículo oculto 
pedagógico, aquele que age diretamente na estrutura comportamental do aluno, 
mexendo com a construção de uma moral, de valores que possam melhor adaptar 
a criança desde tenra idade para o ambiente escolar e sua ideologia. 
Além disso, toda esta organização escolar é ajustada por esse currículo 
oculto para a criança quando tal organização necessita se ajustar a uma mudança 
política e econômica social. 
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O currículo oculto acompanha a vida da criança até esta se tornar um 
adolescente e tiver já “internalizado” os preceitos curriculares. Óbvio que dentro 
de uma escola existem as resistências que colocam este currículo em cheque, 
embora sejam poucos, e os poucos logo são calados de alguma forma, seja por 
uma sanção disciplinar, seja pela invisibilidade que a escola os relega, são os 
pequenos focos de contradição escolar que pode rachar a de um instrumento 
funcional para o Estado econômico liberal/capitalista. 
A escola com o apoio do currículo engessa um cotidiano escolar no qual 
pouco ocorre o contato entre professor, gestão pedagógica e aluno sem que haja 
uma intenção disciplinar entre estes sujeitos. Ora, a escola não é um quartel, 
muito menos um tribunal, porém, esta faz lembrar muito as raízes panóptica com 
esta postura de vigilância. 
Reafirmando o que já foi apontado por Schérer (1982, p. 80-81), a 
vigilância e a proteção da infância, irrisão fundamental dos direitos reais da 
criança, são uma tendência irreversível das sociedades modernas porque 
satisfazem. Satisfazem ao constituírem o próprio objeto da satisfação designada 
como “a criança”, e isso é inestimável. Por isso não nos contentamos em dizer 
que dão boa consciência. Satisfazem, em cada um e socialmente, o desejo de ver 
e de saber aplicado a um ser desde a sua origem, desejo que nenhuma 
sociedade global, na sua separação entre o público e o privado, pode realizar. A 
criança não deve ter vida ou esferas privadas, deve ser vista inteiramente. Como 
é que isso funciona: já o dissemos, pela proteção, pela vigilância, pela colocação 
em reserva. O que é que isto quer dizer, é mais complexo, porque na infância, 
não é só o outro, mas o próprio quem está implicado, e o olhar inquisidor lançado 
sobre a criança é também, e em primeiro lugar, o impossível olhar lançado sobre 
si. 
Aliás, as pessoas que estão envolvidas em uma escola parecem se 
esquecer um pouco das teorias educacionais a respeito da construção do sujeito, 
pois, após entrar no ambiente escolar, elas passam a ser tarefeiros desta 
instituição e lidam com os alunos como se eles fossem seus subordinados. 
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Onde está a escola de sonhos, de subjetividades? Será que ela ficou 
apenas nas aulas de pedagogia? Será que as boas teorias que desconstroem as 
realidades cristalizadas pelos instrumentos estatais como currículos, regimentos e 
entre outros que mais punem do que realmente organizam a escola em prol de 
um melhor ensino? 
Como aponta Andrade (2012, p. 47), a escola, como a maioria das 
instituições sociais, é um constructo de cimento e sonhos, é uma mistura de 
materiais de construção, como cal, tijolo, água, e mãos hábeis e/ou cérebros 
ágeis, como é o caso de um pedreiro, de um servente ou de um professor, que 
são expertos na arte e na técnica de construção, especialistas em fazer paredes e 
construir portas, em levantar e/ou derrubar monumentos, em escrever cartografias 
e mapear os desejos mais íntimos, mestres de obras e, principalmente, de 
pessoas, construtores e construtoras de identidades, “acimentadores” e 
“acimentadoras” de subjetividades. 
Penso que o acimentadores e acimentadoras aqui são construções que 
aprisionam que nada tem haver com uma situação de liberdade, de emancipação 
da criança desde pequena, mas sim, uma forte tradição em modelar de acordo 
com a necessidade mercadológica e social, em outras palavras, a escola não 
consegue fugir de sua vocação que é a de disciplinar. 
Nunca é demais lembrar como aponta Andrade (2012, p. 51), a sociedade 
disciplinar começou no Antigo Regime, não surgiu com a Revolução Francesa; 
estava a serviço do rei, mas não podemos afirmar que se limitava a ele; por mais 
que estivesse nas mãos dele, não funcionava em uma só direção. 
Como dizia Foucault (1987, p.189), “a sociedade disciplinar, no momento 
de sua plena eclosão, assume ainda com o imperador o velho aspecto do poder 
espetáculo”, mas é improvável que “as funções disciplinares tenham sido 
confiscadas e absolvidas definitivamente por um aparelho de Estado”. 
As crianças indisciplinadas são as pestinhas da escola, as capetinhas por 
infernizarem com essa organização disciplinar que advém deste currículo 
programado, que logo serão controladas, adaptadas a uma vida regrada de 
sermões, duras críticas, severas posturas, mulheres descontroladas e caras feias. 
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Para Andrade (2012, p. 58) não se trata de uma divisão binária e 
maniqueísta, não estamos escrevendo, com exclusividade, de quem manda ou de 
quem obedece, a política do panóptico é bem mais ampla. Entre um e outro, há 
diversas pessoas que também fiscalizam e que são fiscalizadas, que participam 
como personagens na rede de vigilância. Não existe personagem principal, por 
mais que alguns se apresentem como tais, não existe protagonista ou 
antagonista, não existem atores oficiais ou atores secundários, o drama é vivido 
por todos, e a hierarquia (provisória) é alimentada por ações e por olhares que 
ajudam a manter o controle. 
 No entendimento de Foucault (2012, p. 193-194), o panóptico é um 
zoológico real; o animal é substituído pelo homem, a distribuição individual pelo 
agrupamento específico e o rei pela maquinaria de um poder furtivo. Fora essa 
diferença, o Panóptico, também, faz um trabalho de naturalista. Permite 
estabelecer as diferenças: nos doentes, observar os sintomas de cada um, sem 
que a proximidade dos leitos, a circulação dos miasmas, os efeitos do contágio 
misturem os quadros clínicos, nas crianças, anotar os desempenhos (sem que 
haja limitação ou cópia), perceber as aptidões, apreciar os caracteres, estabelecer 
classificações rigorosas e, em relação a uma evolução normal, distinguir o que é 
“preguiça e teimosia” do que é “imbelicidade incurável”; nos operários, anotar as 
aptidões de cada um, comparar o tempo que levam para fazer um serviço, e, se 
pagos por dia, calcular seu salário em vista disso. O Panóptico funciona como 
uma espécie de laboratório de poder. Graças a seus mecanismos de observação, 
ganha em eficácia e em capacidade de penetração no comportamento dos 
homens: um aumento de saber vem se implantar em todas as frentes do poder, 
descobrindo objetos que devem ser conhecidos em todas as superfícies onde 
este se exerça. 
Os movimentos curriculares ensinam as crianças a vigiarem o coleguinha, 
a dedurarem o erro do amiguinho e este faz numa tentativa muitas vezes sem 
saber o motivo da delação, há um implícito gosto de fofocar sobre o ocorrido, os 
movimentos curriculares embasados pelo sistema de controle dito acima, são 
alimentados por este ensinar e aprender a contar, a dizer. 
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