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Políticas Educacionais ISABEL CRISTINA SILVA MACHADO 1ª Edição Brasília/DF - 2019 Autores Isabel Cristina Silva Machado Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4 Introdução ..............................................................................................................................................................................6 Capítulo 1 Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Educacionais ....................................................................................9 Capítulo 2 A Educação como Política Social do Estado...................................................................................................... 31 Capítulo 3 Gestão e Organização do Sistema de Ensino Brasileiro em seus Diversos Níveis: Federal, Estadual e Municipal ...................................................................................................................................... 48 Capítulo 4 Políticas Educacionais, Legislação e suas Implicações para a Organização da Atividade Escolar ...................................................................................................................................................... 75 Capítulo 5 Estado e Políticas de Financiamento em Educação ....................................................................................... 87 Capítulo 6 O Papel dos Profissionais do Magistério e dos Movimentos Associativos na Organização do Sistema de Ensino da Educação Brasileira ......................................................................................................106 Referências ........................................................................................................................................................................117 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGANIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução Este Livro Didático tem como objetivo auxiliar no percurso de compreensão da política educacional brasileira. Não se pretende, de forma alguma, esgotar os debates acerca do tema principal, haja vista sua amplitude e heterogênea ideologia, mas objetiva-se levantar indagações, construções e desconstruções conceituais e da vida prática que permeiam essa temática. Ao longo dos capítulos será possível conhecer e investigar os papéis da família, da escola e do governo na constituição e desenvolvimento da educação no Brasil. Para que esse conhecimento e os questionamentos decorrentes dele possam ser suscitados, será necesário desbravar alguns percursos inerentes aos temas que serão abordados. No capítulo 1 será possivel esclarecer as concepções de política na sociedade e na educação, designando ao ser humano sua natureza política. No capítulo 2 a proposta é conhecer melhor a organização da educação brasileira determinada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. No capítulo 3 será possível conhecer as modalidades propostas para educação brasileira e, assim, iniciar a compreensão dos atendimentos especiais. No capítulo 4 serão discutidas as principais políticas educacionais e efetividade. No capítulo 5 serão apresentadas as políticas de financiamento das atividades educacionais, especialmente, no contexto público de ensino. No capítulo 6 a questão é a formação para o mundo do trabalho, com ênfase na formação para a área da educação. E, para finalizar a proposta, no capítulo 6 a temática é o financiamento da educação, onde aparecem as políticas específicas para a chegada das verbas na sala de aula. 7 Objetivos » Auxiliar na compreensão da educação e seus principais atores de fomento: família, escola, governo. » Desmistificar política e suas influências na escola. » Apresentar a organização da educação brasileira: seus níveis, etapas e modalidades. » Identificar as principais ações afirmativas pela educação. » Apresentar a rede de financiamento da educação. 8 9 Introdução Tratar de educação envolvendo política pode causar espanto para muitos quando não está claro que a expressão política não está diretamete ligada a uma questão partidária. Atrelar política a partidos políticos de diferentes ideologias é apenas uma ramificação da política. Ao se mencionar política em educação e em tantas outras áreas, busca-se enfatizar questões que estão ligadas aos direcionamentos do Estado, enquanto governos de qualquer esfera: municipal, estadual ou federal, visando exclusivamente ao bem-estar e ao desenvolvimento da população. Também há de se considerar a educação enquanto ato político, que expressa uma “educação política”, fato que também não pode ser vinculado a uma educação ideológico-partidária. Neste primeiro capítulo, a proposta é revisitar as concepções de política e educação, estando essas concepções vinculadas aos direitos humanos e sociais que dão origem às políticas na área educacional. Objetivos » Compreender que o processo educacional é também um processo de civilização dos sujeitos para que se tornem efetivamente cidadãos. » Caracterizar política, políticas públicas e política educacional e ações afirmativas. » Identificar direitos sociais ou fundamentais enquanto norteadores das políticas públicas. » Reconhecer o papel e finalidades das políticas públicas educacionais, identificando algumas delas. 1 CAPÍTULO DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS 10 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS Política e Educação. Como assim? Educação enquanto processo civilizatório Educação é um processo civilizatório. Nenhum ser humano nasce civilizado, tampouco humanizado. Nesse sentido, escola e família educam. Cada uma dessas instituições tem suas competências no processoeducacional do indivíduo, mas devendo atuar de forma integrada. A família é uma instituição parental, seja com vínculo biológico ou não, assume o papel e a responsabilidade de cuidar, zelando pela saúde, educação, segurança e bem-estar de uma criança até que se torne adulta Para refletir Na prática diária, muito se fala e pouco se conhece sobre o real significado de “Educação”. É comum as pessoas falarem: “educação vem de casa”; “escola ensina, família educa”. Figura 1. Relação família-escola. Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR82sGOdYI96uIQ9vkrblmHh_bDLv4bKr6- la6zLM8PNsIe6cxoKA. Mas será que essas informações do senso comum são verdadeiras? Até que ponto a família educa e a escola ensina? Figura 2. Família. Fonte: https://img.buzzfeed.com/buzzfeed-static/static/2017-09/8/17/asset/buzzfeed-prod-fastlane-02/sub- buzz-20010-1504905438-4.jpg?downsize=700:*&output-format=auto&output-quality=auto. Acesso em: 12 de julho de 2019. 11 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 Cabe à família dar continuidade a sua herança “cultural própria” que envolve o compartilhamento de valores, crenças, hábitos e costumes, moralidade, percebendo todo um contexto sociocultural maior ao qual a família está inserida. Uma família no Japão difere de uma família no Brasil pela própria cultura desses povos, mas as famílias japonesas também diferem entre si, assim como as brasileiras. Um núcelo familiar nunca será igual ao outro, mesmo que sejam núcleos que se originaram, a princípio, de uma mesma família-mãe, como no gráfico a seguir. Figura 3. Do instituído ao construído – significado de família. Fonte: http://www.ip.usp.br/revistapsico.usp/index.php/25-sociedade-2/61-os-meus-os-seus-os-nossos.html. Acesso em: 12 de julho de 2019. Figura 4. Parceria Escola-Família. Fonte: https://blog.estantemagica.com.br/wp-content/uploads/2018/04/EscolaeFamilia-AgendaEdu-1024x585.png. Acesso em: 13 de julho de 2019. Quando o casal se une, forma uma nova família, mesclada pela cultura familiar de ambos os cônjuges e criando sua própria cultura familiar. 12 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS Nessa complexa estruturação e reestruração das famílias, cada núcleo familiar assume as responsabilidades e competências inerentes a essa primeira instituição social e civilizatória do indivíduo, posto que o indíviduo nasce ser vivo do reino animal, mas não nasce humanizado nem civilizado. Aí que entra a educação, iniciada na instituição familiar e perpetuada nos processos formais de educação que acontecem em outra instituição: a escola. A educação na instituição escolar se dá em parceria com a família, posto que devem se integrar e se respeitar, sendo uma complemento do papel da outra. Essa interligação se assemelha a um ato de cumplicidade e, por isso, a família deve ter papel ativo nos conselhos escolares e representatividade nos órgãos governamentais que legislam e organizam a educação. Mas, o que é um processo de educação formal? Em nosso país, a educação está regulamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Do ano de sua promulgação até os dias de hoje, essa lei já sofreu diversas alterações, justamente visando atender às demandas de uma sociedade em movimento e evolução. De acordo com a LDB (BRASIL, 1996): Art. 1o A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1o Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2o A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Assim, fica claro que a educação é muito mais abrangente do que um ato de ensino. O ensino faz parte da educação, mas esse processo se firma nas relações humanas, nas trocas e convivências dentro e fora da família. Apesar de a família ser a primeira instituição social que um indivíduo conhece e frequenta, esta tem uma responsabilidade social e legal de integração de seus pupilos à sociedade na qual estão inseridos e, a escola, de promover o ensino dos conhecimentos produzidos pela humanidade e dar continuidade a esse processo de integração, respeitando as leis e os valores familiares. 13 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 Quando a LDB (1996) diz que “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”, surge, então, a concepção política da educação aos olhos da lei, posto que, preparar alguém para o mundo do trabalho (não é profissionalizar) e para a prática social exige preparar politicamente. Figura 5. Estudante com dúvida. Disponível em: https://dhg1h5j42swfq.cloudfront.net/2016/12/19203421/Adinoel-ENEM-aluno-em-d%C3%BAvida.png. É importante ressaltar que considerar a educação um ato político não requer doutrinar em nenhuma ideologia, muito pelo contrário, o ato político da educação é justamente o oposto, é tornar os sujeitos capazes de conhecer, refletir e optar ou transformar as concepções ideológicas permeadas no mundo ao seu redor. O indivíduo conhecedor precisa desenvolver sua capacidade de reflexão e de escolha. Para refletir Figura 6. tomada de decisão. Fonte: Segmento, 2018. Disponível em: http://www.editorasegmento.com.br/fotos/Melhor/Edicao%20342/p08- shutterstock_221669353.jpg. Como preparar politicamente sem assumir essa ou aquela postura ideológica? 14 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS O que envolve a escolha? Escolher significa optar em se encaixar nesse ou naquele modelo ou até transformar um modelo para outra realidade, recriar, posto que a LDB (BRASIL, 1996), em seu art. 2o, esclarece: Figura 7. Aristóteles. Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/aristoteles.htm. Acesso em: 3 de agosto de 2019. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Assim, os princípios de liberdade são claros para a formação dos sujeitos, liberdade de escolha, de questionamento e de transformação. Da mesma forma, como definir ideiais de solidariedade se não for possível desenvolver nesses indivíduos o senso de criticidade para que possam discernir conceitos e necessidades básicas de vida para os seres humanos? Concebendo a educação enquanto um ato político, que deve preparar os indivíduos para a cidadania, analisemos a concepção filosófica de política, segundo Aristóteles (1982, I, 2, 1253, 7-12 ): Que o homem seja um animal político no mais alto grau do que uma abelha ou qualquer outro animal vivendo num estado gregário, isso é evidente. A natureza, conforme dizemos, não faz nada em vão, e só o homem dentre todos os animais possui a palavra. Assim, enquanto a voz serve apenas para indicar prazer ou sofrimento, e nesse sentido pertence igualmente aos outros animais [...] o discurso serve para exprimir o útil e o prejudicial e, por conseguinte, também o justo e o injusto; pois é próprio do homem perante os outros animais possuir o caráter de ser o único a ter o sentimento do bem e do mal, do justo e o injusto e de outras noções morais, e é a comunidade destes sentimentos que produz a família e a cidade. 15 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 Para o filósofo, o ser humano é por natureza um ser político e difere dos demais animais de seu Reino exatamente por essa característica, de ser político. Pois o ser humano não utiliza de sua comunicação apenas para expressar sentimentos primários, como dor, fome ou sede, suas necessidades básicas, o ser humano, em convívio com afamília e a sociedade se utiliza de outros julgamentos éticos, morais, culturais e de suas necessidades para imprimir o seu discurso, e o que é o discurso se não uma expressão da própria liberdade, de suas escolhas e pensamentos. Os outros animais expressam suas necessidades momentâneas, o ser humano expressa seu discurso político que imprime sua visão de mundo, conhecimento da realidade e projeções futuras. Para ter capacidade para expressar-se de forma coerente e fundamentada em verdades, o homem precisa se educar de acordo com o contexto em que vive, daí o papel da escola de exercer uma educação política, uma educação Para refletir Aristóteles – O Filósofo Nascido na cidade de Estagira, pertencente ao Império Macedônico, no ano de 384 a.C., Aristóteles é considerado o mais importante filósofo da Grécia, ao lado de Platão. Muito pouco se sabe sobre a sua juventude, com exceção do fato de ter ido viver em Atenas, o que possibilitou que conhecesse o pensador que se tornaria seu mestre: Platão. Figura 8. Platão e Aristóteles na Escola de Atenas (Pintura renascentista de Rafael Sanzio). Fonte: http://www.sabercultural.com/template/obrasCelebres/fotos/A-Escola-de-Atenas-Foto03.jpg. Acesso em: 3 de agosto de 2019. Aristóteles estudou na academia de Platão durante muitos anos até se tornar professor da instituição. Nesse período, aprofundou-se nos estudos platônicos sobre o ser e sobre a essência das coisas, sobre a dialética, sobre a política e sobre as ideias socráticas. Também estudou Ética e aprofundou seus estudos em Ciências da Natureza, campo do conhecimento pelo qual o pensador tinha certa predileção – sua formação inicial aprofundou-se bastante nessa área quando era mais jovem. Durante a sua vida intelectual, Aristóteles afastou-se gradativamente das ideias do seu mestre, Platão. Enquanto Platão considerava válido apenas o conhecimento intelectual da verdade obtido por meio das essências puras, ou seja, um conhecimento puramente intelectual, Aristóteles passou a considerar a validade intelectual de outro tipo de conhecimento: o empírico. 16 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS de disseminação de conhecimentos e de capacidade crítica, uma educação para a cidadania. Figura 9. Política. Fonte: https://www.significados.com.br/foto/politica-fb.jpg. Acesso em: 3 de agosto de 2019. Política enquanto ação afirmativa: direitos sociais e fundamentais Discutiu-se anteriormente a questão de a Educação ser considerada um ato político em função do ser humano caracterizar-se um ser político. Agora a discussão buscará compreender o que se designa como política educacional. Para chegar a esta especificação de política, há de se compreender a concepção de política, políticas públicas e política educacional, sendo esta última uma ramificação das políticas públicas. Política O Dicionário da Civilização Grega, berço da política, esclarece: “Civilização” vem do latim civis, cidadão. Em grego, “cidadão” se diz polites, aquele que pertence à pólis, à cidade-estado, de onde vem o termo “política”. Basta dizer que a civilização grega é antes de mais nada civilização da pólis, civilização política [...] a dimensão política presente não apenas no nível dos acontecimentos, mas igualmente no plano religioso e artístico e nos diversos domínios da vida intelectual. [...] Quando Aristóteles definiu o homem grego como um zoon politikon, um “animal político”, foi precisamente esta realidade que ele expressava. (MOSSÉ, 2004, p. 7) Logo, compreende-se que a política nasceu na Grécia, considerada “Berço da Civilização Ocidental”, tal qual conhecemos hoje o modo de vida e organização das governanças e sociedades. Dessa forma, o termo política se disseminou no Ocidente, considerando as formas de governar e de organização das sociedades. As formas de governar estão ligadas à 17 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 história social e política das civilizações, atendendo às demandas dos sujeitos políticos de cada nação, ou seja, de cada povo, cada sociedade. As sociedades são formadas por sujeitos políticos que habitam a nação, ou a pólis, como era chamada cidade-estado. Assim, a política nasce de uma mesma ideia, concepção, mas se torna subjetiva conforme o povo ou a pólis onde se instala. No Brasil, a governança política caracteriza-se como uma República Confederativa Presidencialista Democrática, isso porque há várias instâncias que compõem a governança: » FORMAS DE ESTADO: Unitário; Federação/União → O Brasil é uma Federação, os Estados Unidos é uma União. » FORMAS DE GOVERNO: Monarquia → Inglaterra; República → Brasil. Para refletir As pólis gregas eram as cidades-estado da Grécia Antiga. Estas cidades possuíam alto nível de independência, ou seja, tinham liberdade e autonomia política e econômica. Figura 10. Pólis Grega. Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-Hthf1OyLuKA/vASBlKyhcPI/AAAAAAAAAe4/nO4cNlIanXA/s1600/P%C3%B3lis.jpg. Acesso em: 3 de agosto de 2019. Nas pólis não existia separação entre as áreas rural e urbana, nem existiam relações de dependência. Muitos habitantes das pólis, principalmente da nobreza, habitavam casas de campo. O centro político-administrativo das pólis era a Acrópole (geralmente a região mais alta da cidade-estado). Na Acrópole se encontravam o templo principal da pólis, os edifícios públicos, a Ágora (espaço em que ocorriam debates e decisões políticas) e a Gerúsia. Ao redor da pólis havia uma espécie de cinturão rural, onde era produzida grande parte dos alimentos necessários para a manutenção da pólis. Esta organização reforçava ainda mais a autonomia das pólis. As áreas ocupadas pelas pólis não eram de grande extensão. Em média tinham de 200 a 500km². Atenas, uma das pólis mais populosas e prósperas da época, era uma exceção, pois possuía cerca de 2.500km². 18 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS » SISTEMAS DE GOVERNO: Presidencialismo → Brasil; Parlametarismo → Inglaterra, Alemanha. » REGIME DE GOVERNO: Democrático → Brasil; Autocrático → Cuba. Como se vê, existem diferentes formas de se exercer a política nas governanças das nações e essas formas não são escolhas simples, são resultado de toda trajetória histórica desses povos, e cada história está impregnada de ideologias, golpes de estado, escolhas do próprio povo. Ao se estabelecer um modelo de governo, as ações políticas, ou seja, as escolhas ideológicas, começam a surgir e se firmam na forma de leis, como no Brasil, por exemplo, que tem em sua lei maior, a Constituição Federal de 1988 (CF/1988), todas as diretrizes que emanam das escolhas de seu povo e dos legisladores para o funcionamento da nação. Saiba mais A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é a lei máxima do Brasil, reconhecida como a atual Carta Magna, foi promulgada em 5 de outubro de 1988, consolidando a transição de um regime autoritário (1964-1985) para um regime democrático. Figura 11. Capa do Jornal O Estado de S. Paulo de 5 de outubro de 1988. Fonte: https://acervo.estadao.com.br/imagens/105x65/1988.10.05.jpg. Acesso em: 3 de agosto de 2019. 19 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 Foi elaborada por uma Assembleia Constituinte, composta por 559 parlamentares e presidida por Ulysses Guimarães no mandato do presidente José Sarney, com diferentes visões de mundo e juntos reestabeleceram a inviolabilidade de direitos e liberdades básicas do cidadão brasileiro, postulando diversas premissas progressistas, tais como: » Igualdade de gêneros. » Criminalização do racismo. » Proibição total da tortura. » Direitos sociais como educação,trabalho e saúde para todos. (Fonte: https://mpsc.mp.br/noticias/-os-30-anos-da-constituicao-e-o-ministerio-publico. Acesso em: 3 de agosto de 2019). Figura 12. Constituição impressa. Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/ images?q=tbn:ANd9GcSh8jzDvLoCLBCgXQzAbNqAIMyUhyvfmbpIKw5CbAukzSfMzX2l.Acesso em: 3 de agosto de 2019. Contou com a participação popular em sua elaboração, constitui-se num documento escrito formal, atualmente também disponível por meio de aplicativo e na web. A Carta Cidadã apresentou um novo modelo de país, organizado como uma Federação caracterizada pela união indissolúvel de municípios, estados e união. Constituiu-se, assim, o Estado Democrático de Direito, representativo do engrandecimento de virtudes fundamentais da República: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e pluralismo político. (NEIS, 2018). Em 2018, a CF completou 30 anos, trouxe significativas transformações para o o Brasil, sendo o principal símbolo da redemocratização nacional. Destacam-se as conquistas na área dos direitos trabalhistas e humanos, tais como: abono de indenização de 40% do FGTS na demissão e o seguro-desemprego; abono de férias e o 13o salário para aposentados; jornada semanal de 44 horas, quando antes era de 48 horas; licença-maternidade de 120 dias e licença-paternidade de cinco dias; direito à greve e liberdade sindical; determinou que os índios teriam direito às terras que ocupavam e de preservar suas tradições e cultura; entre outros. 20 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS Figura 13. Reestabeleceu as eleições diretas para os cargos de presidente da República , governadores de Estado e prefeitos municipais. Definiu o mandato presencial. Estabeleceu o direito de voto para os analfabetos. Definiu o voto facultativo para jovens de 16 a 18 anos de idade. Sistema pluripartidário. Colocou fim à censura aos meios de comunicação. Fonte: Elboração da autora (2019). A CF de 1988 está estruturada em nove títulos conforme destaca a figura a seguir: Figura 14. títulos da Constituição. Fonte: Elaboração da autora (2019). A CF, , no Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo III, trata da Educação, Cultura e Desporto, sendo três seções com artigos essenciais para a nossa atuação como educadores, a saber: 21 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 Políticas Públicas Figura 16. área e temas que norteiam medidas/ações para o desenvolvimento das políticas públicas. Fonte: http://portalcoroado.com.br/home/wp-content/uploads/2018/09/CNDCA.jpg. Acesso em: 3 de agosto de 2019. Políticas Públicas são leis, programas, ações, medidas desenvolvidas pelo governo para garantir que direitos previstos para todos os cidadãos sejam cumpridos. Figura 15. títulos, Capítulos, Seções e Artigos da Constituição Federal importantes para a Educação. Título VIII – Da Ordem Social Seção I Da Educação Arts. 205 a 214 Seção II Da Cultura Arts. 215 e 216 Seção III Do Desporto Art. 217 Capítulo III Fonte: Elaboração da autora (2019). Para refletir E como fazer as determinações da CF/1988 funcionarem? É dessa necessidade de operacionalização que surgem as demais leis e as ações de políticas públicas. 22 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS Mesmo quando alguma questão não está garantida em lei, se houver demanda explícita da sociedade, isso pode se tornar um direito e até virar uma política pública, pois a sociedade está sempre em movimento e evolução, assim sendo, as demandas surgem com as novas configurações sociais. Há algumas décadas as mulheres nem votavam e atualmente representam o maior número de eleitores do País e também fazem parte dos quadros políticos, sendo representantes do povo em todas as esferas governamentais. Isso é fruto de um processo evolutivo e de constante movimento das sociedades em geral, gerando novas demandas e novas configurações sociais. As políticas públicas se concretizam nas diversas áreas que envolvam o bem-estar dos cidadãos: Figura 17. áreas que envolvem o bem-estar da população. Saúde Meio Ambiente TransporteEducação Segurança Fonte: Elaboração da autora (2019). Criar e executar políticas públicas As Políticas Públicas (PP) são criadas pelo Poder Legislativo, sendo que tanto este quanto o Executivo podem propor políticas públicas. Enquanto o Legislativo cria a lei que vai determinar alguma PP, o Executivo se incumbe de planejar as ações necessárias para pôr em prática a política determinada. Compete ao Poder Judiciário a observância da lei para que se julgue sua adequação ao que se propõe e o respeito a sua execução. 23 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 Para nascer uma política pública são necessárias algumas etapas. Esse processo denomina-se ciclo das políticas públicas. Figura 18. Ciclo das políticas públicas. Fonte: https://4.bp.blogspot.com/-I-WtsI_9yWM/Wj3kXsh-EiI/AAAAAAAAUko/3t6ykHkjH9Ijq8tKroW4KcWEEu1YdqgrwCLc BGAs/s1600/CicloPP.png. Acesso em: 2 de agosto de 2019. Conforme resumido por Lenzi (2017), as etapas são: » Identificação do problema: fase de reconhecimento de situações ou problemas que precisam de uma solução ou melhora. » Formação da agenda: definição pelo governo de quais questões têm mais importância social ou urgência para serem tratadas. » Formulação de alternativas: fase de estudo, avaliação e escolha das medidas que podem ser úteis ou mais eficazes para ajudar na solução dos problemas. » Tomada de decisão: etapa em que são definidas quais ações serão executadas. São levadas em conta análises técnicas e políticas sobre as consequências e a viabilidade das medidas. » Implementação: momento de ação, é quando as políticas públicas são colocadas em prática pelos governos. » Avaliação: depois que a medida é colocada em prática é preciso que se avalie a eficiência dos resultados alcançados e quais ajustes e melhoria podem ser necessários. 24 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS » Extinção: é possível que depois de período a política pública deixe de existir. Isso pode acontecer se o problema que deu origem a ela deixou de existir, se as ações não foram eficazes para a solução ou se o problema perdeu importância diante de outras necessidades mais relevantes, ainda que não tenha sido resolvido. O Sistema Único de Saúde (SUS), é a principal política pública na área de saúde. Foi criado em 1988 pela CF e possui uma lei própria que o regulamenta: Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Fonte: http://cidadao.saude.al.gov.br/wp-content/uploads/2016/09/logo_sus.png. Acesso em: 2 de agosto de 2019. Essa lei, apesar de sua criação datar de quase 30 anos, está longe de ser extinta, pois a população brasileira ainda necessitará por muito tempo de apoio do governo nos cuidados com a saúde. O que ocorre com frequência são ajustes nas lei, decorrentes do processo de avaliação em vistas a sua eficácia. Direitos sociais e direitos fundamentais A identificação de um problema que mereça entrar na formação da agenda do governo origina-se das demandas da sociedade no que diz respeito aos direitos de um grupo social ou de toda a sociedade. Os direitos de maior relevância para gerar uma política pública são aqueles considerados sociais ou fundamentais. Direitos sociais, segundo Ramos (2008, s/p.), configura-se como: conquistas dos movimentos sociais ao longo dos séculos, e, atualmente, são reconhecidos no âmbito internacional em documentos como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948 e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, bem como pela Constituição da República de 1988, que os consagrou como direitos fundamentais em seu artigo 6o. Ou ainda, conforme Moraes (2002, p. 202): são direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretizaçãoda igualdade social, e são consagrados como fundamentos do Estado democrático, pelo art. 1o, IV, da Constituição Federal. 25 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 Saiba mais Leia o texto abaixo retirado da página oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). A Declaração Universal dos Direitos Humanos Figura 19. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Fonte: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/. Acesso em: 3 de agosto de 2019. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um marco na história dos direitos humanos. Elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução no 217 A (III) da Assembleia Geral como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. Ela estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos. Desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi traduzida em mais de 500 idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as Constituições de muitos Estados e democracias recentes. Figura 20. Crianças lendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), pouco depois de sua adoção. Fonte: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/. Acesso em: 3 de agosto de 2019. Com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos. Uma série de tratados internacionais de direitos humanos e outros instrumentos adotados desde 1945 expandiram o corpo do direito internacional dos direitos humanos. Eles incluem a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948), a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras. 26 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS De acordo com a Constituição Federal (1988), são considerados direitos sociais “a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Assim sendo, todas as vezes que um desses direitos estiver comprometido perante a população, em sua totalidade ou em grupos, será aberta agenda para implantação de política pública. É desta forma que surgem as políticas públicas voltadas para a educação, posto que esta se constitui um direito social. Nessa busca pela concretização dos direitos sociais, as políticas públicas podem se caracterizar como “ações afirmativas” quando envolvem: planejar e atuar no sentido de promover a representação de certos tipos de pessoas aquelas pertencentes a grupos que têm sido subordinados ou excluídos, em determinados empregos ou escolas. É uma companhia de seguros tomando decisões para romper com sua tradição de promover a posições executivas unicamente homens brancos. É a comissão de admissão da Universidade da Califórnia em Berkeley buscando elevar o número de negros nas classes iniciais [...]. Ações Afirmativas podem ser um programa formal e escrito, um plano envolvendo múltiplas partes e com funcionários dele encarregados, ou pode ser a atividade de um empresário que consultou sua consciência e decidiu fazer as coisas de uma maneira diferente. (BERGMANN, 1996, p. 7). Figura 21. Nuvem de Palavras com ações afirmativas no Brasil. Fonte: https://www.fera-al.com.br/public/_IMG/n/noticia_726.png. Acesso em: 3 de agosto de 2019. Muitas políticas públicas educacionais são consideradas ações afirmativas, como a própria política de cotas nas universidades públicas, posto que visa atender a um 27 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 grupo que tem se mantido excluído dos bancos iniversitários ao longo da história do País e em decorrência dos fatos da própria história marginalizando esse grupo. Mais adiante esses temas voltarão ao debate. Políticas da área educacional e seus desdobramentos Como visto, educação é um direito social. Mas será que é o suficiente a CF (1988) determinar isso e pronto? É o suficiente a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, declarar isso? Figura 22. Art. 205 da Constituição Federal. Fonte: https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/20180215_art_215_loop.gif. Acesso em: 3 de agosto de 2019. Figura 23. Educação é direito de todos. Fonte: http://ocalcadao.blogspot.com/2016/01/educacao-direito-publico-e-subjetivo-e.html. Acesso em: 20 de agosto de 2019. 28 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS Há muitas observâncias a serem feitas com relação a isso. Primeiramente, existe escola pública gratuita para todos? São tantas as questões que surgem de uma simples determinação → escola pública para todos na Educação Básica – que somente por intermédio do Censo (informações estatísticas que apontam diferentes características dos habitantes de uma cidade, um estado ou uma nação), avaliações, manifestações populares, há de se perceber e avaliar se há condições de cumprimento da determinação do direito. Caso qualquer aspecto atrelado à educação não esteja sendo cumprido em decorrência de outros fatores, caberá aos representates populares, sejam polít icos ou de organizações civis, indicarem a questão para avaliação de agenda. No Brasil, de forma nacional, ou especificamente por estados ou municípios, existe uma infinidade de políticas públicas educacionais. Todo cidadão e cidadã pode e deve participar da sugestão de políticas públicas. Muitas políticas públicas da área educacional nascem das solicitações da população por meio de participação popular. Uma das formas de se integrar aos debates de sugestão de políticas públicas é por intermédio dos conselhos de políticas públicas. Os conselhos são formados por representantes do governo e por cidadãos. As pessoas podem aproveitar esses espaços para discutirem, opinarem e apontarem sugestões que repercutam como proposta de política pública para determinado direito civil. Saiba mais No Brasil, quando se fala em escola pública, refere-se a escolas implementadas e ficanciadas pelas esferas municipais, estaduais e federais. Além, disso, o fato de ser pública, aqui no Brasil caracteriza gratuita, o que não significa que seja assim em todos os lugares do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, dependendo do distrito da escola e sua classificação em qualidade, existem taxas diferenciadas a serem pagas pela matrícula do estudante. Para refletir Existem condições para que as famílias enviem seus filhos à escola em qualquer parte do País? As condições socioeconômicas são iguais em toda parte? E as demandas? Existem professores formados para todas as áreas do conhecimento em todo o território? Esses professores estão atualizados e/ou têm formação mínima para a sua atuação? 29 DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS • CAPÍTULO 1 De acordo com o site do Ministério da Educação (MEC) os seguintes programas de Políticas Educacionais voltados para Educação Básica ainda são vigentes e consolidados em nosso país. Quadro 1. Programas e Ações Educacionais. Programa Mais Alfabetização Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa Novo Mais Educação Ensino Médio Inovador Parlamento Juvenil do Mercosul Proinfância Saúde na Escola Atleta na Escola Formação continuada para professores Livros e materiais para escolas, estudantes e professores Saiba mais Você sabe como se organiza a estrutura de uma escola pública? No infográficoa seguir, organizado pela Fundação Telefônica (2017), é apresentado um exemplo das principais funções existentes em uma escola. Ressaltamos que por conta da automia assegurada em Lei, alguns papéis podem e devem ser flexibilizados. Figura 24. Exemplo de estrutura de uma escola pública. Fonte: http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/voce-sabe-como-e-a-estrutura-de-ensino-em-uma-escola-publica/. Acesso em: 2 de agosto de 2019. 30 CAPÍTULO 1 • DIREItOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍtICAS EDUCACIONAIS tecnologia a serviço da Educação Básica Apoio à Gestão Educacional Infraestrutura Avaliações da aprendizagem Prêmios e competições tv Escola Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral Fonte: Portal do MEC. Secretaria de Educação Básica – Programas e Ações. As políticas educacionais e seus desdobramentos em ações resultam das demandas da sociedade em conjunto com o atendimento à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, assim como ao último Plano Nacional da Educação, neste caso PNE 2014-2024, aprovado pela Lei no 13.005, de 2014, com vigência de 10 anos. No próximo capítulo será apresentada a organização da educação brasileira para que melhor se compreenda as políticas em potencial. Sugestão de estudo Figura 25. Capa do Livro: A vida na escola e a escola da vida. Fonte: https://images.livrariasaraiva.com.br/imagemnet/imagem.aspx/?pro_id=315469&qld=90&l=430&a=-1. Acesso em: 3 de agosto de 2019. O livro A vida na escola e a escola da vida, elaborado por Claudius, Miguel e Rosiska, apresenta uma série de questões, que mostra a realidade hoje nas escolas, por meio de uma discussão simples e com imagens típicas do cotidiano escolar. A obra está organizada em cinco capítulos que discutem temáticas necessárias, persistentes e contemporâneas. 31 Introdução A educação no Brasil vem sofrendo mudanças ao longo dos anos e existe uma preocupação por parte das esferas governamentais em garantir o direito e acessibilidade a todos os níveis de ensino, para todo cidadão. Nessa perspectiva, pode-se observar a evolução da legislação educacional na busca de reformar e transformar o ensino, incluindo o incentivo para a formação básica, superior e continuada, estabelecendo princípios que norteiam a estrutura e o funcionamento do ensino no País. Objetivos » Compreender o conceito de políticas públicas e sua funcionalidade para a nação brasileira, especialmente, a comunidade educacional. » Entender como as reformas e políticas públicas influenciam o cotidiano escolar. » Reconhecer as influências dos organismos internacionais em nosso sistema educacional nacional, bem como seus desdobramentos para a melhoria da oferta do ensino-aprendizagem. A educação como política pública O papel do Estado vem se transformando ao longo dos anos, por diversos motivos, mudança do seu papel diante das novas demandas, pressões e reivindicações sociais e internacionais, atualmente podemos afirmar que a principal função do Estado é promover o bem-estar da sociedade. Segundo o Manual de Políticas Públicas: conceitos e práticas do Sebrae (2008, p. 5): 2 CAPÍTULO A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO 32 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO A função que o Estado desempenha em nossa sociedade sofreu inúmeras transformações ao passar do tempo. Nos séculos XVIII e XIX, seu principal objetivo era a segurança pública e a defesa externa em caso de ataque inimigo. Entretanto, com o aprofundamento e expansão da democracia, as responsabilidades do Estado se diversificaram. Atualmente, é comum se afirmar que a função do Estado é promover o bem-estar da sociedade. Para tanto, ele necessita desenvolver uma série de ações e atuar diretamente em diferentes áreas, tais como saúde, educação, meio ambiente. Podemos observar que o Estado vem passando por transformações acompanhadas por toda sociedade. Houve mudança de consciência por meio do Estado, advinda de exigências da camada social e de mudanças de perspectivas do contexto mundial em que áreas da saúde, educação, meio ambiente e segurança pública tornaram-se prioridades, pelo menos em tese, para o direcionamento das políticas públicas. Para atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-estar da sociedade, os governos se utilizam das políticas públicas que podem ser definidas da seguinte forma: “(...) Políticas Públicas são um conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade (...).” De acordo com o Sebrae (2005, p. 5): Dito de outra maneira, as Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo que as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade. Isto ocorre porque a sociedade não consegue se expressar de forma integral. Ela faz solicitações (pedidos ou demandas) para os seus representantes (deputados, senadores e vereadores) e estes mobilizam os membros do Poder Executivo, que também foram eleitos (tais como prefeitos, governadores e inclusive o próprio Presidente da República) para que atendam as demandas da população. As políticas públicas possuem seus estágios que estão interligados entre si: 33 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 Figura 26. Estágio das políticas públicas. Estágio das Políticas Públicas 1. Formação da Agenda 2. Elaboração das Políticas 3. Tomada de Decisão 4. Implementação 5. Avaliação Fonte: autora, (2019). A primeira fase constitui-se na formação da Agenda, ou seja, seleção das prioridades. Na segunda fase apresentam-se as soluções ou alternativas possíveis para a elaboração das políticas. A terceira fase é o momento das tomadas de decisões, escolhem-se as ações que serão desenvolvidas ao longo do projeto apresentado. Na quarta fase, inicia-se a implementação, a execução das ações. A última e quinta fase refere-se à avaliação. As políticas públicas serão eficazes se ocorrer uma boa administração, se todos os atores envolvidos participarem de todo o processo tendo como foco a construção de uma sociedade igualitária, buscando a justiça e o bem-estar social. A sociedade contemporânea se caracteriza por sua diversidade, cada grupo disputa por seus interesses. Vivemos em uma sociedade em que os recursos do Estado estão cada vez mais escassos e, diante disso, as políticas públicas são motivo de disputa por grupos específicos, cada qual reivindicando suas necessidades e interesses. Estas disputas são as molas propulsoras para o desenvolvimento do Estado, proporcionado renovação de pensamento e postura do Estado, buscando adaptação às novas exigências da sociedade, modificando constantemente seu papel. 34 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO As relações entre estado, sociedade e educação: a educação escolar no contexto das reformas do estado e das transformações da sociedade contemporânea A relação entre Estado, sociedade e Educação vai muito além de uma conjuntura de reformas, ações ou metas, mas são estabelecidas a partir do momento em que grandes transformações sociais são observadas, e as relações de poder foram modificadas. Quando o papel do Estado historicamente construído passa de divino para representante da sociedade. A discussão sobre políticas e educação tem sido objeto de vários estudos e pesquisas no cenário nacional e internacional. Trata-se de temática com várias perspectivas, concepções e cenários complexos em disputa. Nesse sentido, é fundamental destacar a ação política, orgânica ou não, de diferentes atores e contextos institucionais marcadamente influenciados por marcos regulatóriosfruto de orientações, compromissos e perspectivas – em escala nacional e mundial –, preconizados, entre outros, por agências e/ou organismos multilaterais e fortemente assimilados e/ou naturalizados pelos gestores de políticas públicas. Para Almeida (2013, p. 12), políticas públicas para educação englobam: O campo das políticas públicas educacionais é extremamente amplo, e abrange a estrutura curricular, f inanciamentos, avaliações de desempenho, fluxos escolares, formação e capacitação docente, além de se relacionarem intimamente com outros direitos fundamentais e direitos humanos, gerando assim, os termos de uma educação inclusiva. Nessa ótica, a discussão sobre tais políticas articula-se a processos mais amplos do que a dinâmica intraescolar, sem negligenciar, nesse percurso, a real importância do papel social da escola e dos processos relativos à organização, cultura e gestão intrínsecos a ela. Portanto, é fundamental não perder de vista que o processo educativo é mediado pelo contexto sociocultural, pelas condições em que se efetiva o ensino-aprendizagem, pelos aspectos organizacionais e, consequentemente, pela dinâmica com que se constrói o projeto político-pedagógico e se materializam os processos de organização e gestão da educação. A escola, entendida como instituição social, tem sua lógica organizativa e suas finalidades demarcadas pelos fins político-pedagógicos que extrapolam o horizonte custo-benefício stricto sensu. Isto tem impacto direto no que se entende por planejamento e desenvolvimento da educação e da escola e, nessa perspectiva, implica aprofundamento sobre a natureza das instituições educativas e suas finalidades, bem como as prioridades institucionais, os processos de participação e decisão, em âmbito nacional, nos sistemas de ensino e nas escolas. 35 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 Nessa perspectiva, a articulação e a rediscussão de diferentes ações e programas, direcionados à educação, devem ter por norte uma concepção ampla de gestão que considere a centralidade das políticas educacionais e dos projetos pedagógicos das escolas, bem como a implementação de processos de participação e decisão nessas instâncias, balizados pelo resgate do direito social à educação e à escola, pela implementação da autonomia nesses espaços sociais e, ainda, pela efetiva articulação com os projetos de gestão do MEC, das secretarias, com os projetos político-pedagógicos das escolas e com o amplo envolvimento da sociedade civil organizada. Os princípios, as normas e as diretrizes que orientam as políticas públicas aplicadas à educação no Brasil podem ser encontradas nas Constituições do país, nas LDB de 1961, de 1971 e de 1996, nas legislações específicas, nos planos e nos programas educacionais do governo federal. ( TERRA, 2016, p. 76). Saiba mais Lei de Diretrizes e Bases da Educação Segundo Carvalho (1998), com a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o dia 20/12/1996 assinala um momento de transição significativo para a educação brasileira. Nessa data, completados 35 anos, revogou-se a primeira LDB com as alterações havidas no período, entrando em vigor nossa segunda LDB. O Chefe do Poder Executivo sancionou a Lei no 9.394/1996, denominando-a “Lei Darcy Ribeiro”, e, com este ato, dividiu, formalmente, a conhecida história da Nova LDB: um primeiro momento, caracterizado por amplos debates entre as partes (Câmara Federal, Governo, partidos políticos, associações educacionais, educadores, empresários etc.) e outro, atrelado à orientação da política educacional governamental e assumido pelo professor homenageado. Na disputa entre o coletivo e o individual, entre a esfera pública e a esfera privada, entre os representantes da população e os representantes do governo, está vencendo a política neoliberal, dominante não só na dimensão global, mas também com pretensões de chegar a conduzir o trabalho pedagógico na sala de aula. Objetivo: a busca da qualidade (total), no sentido de formar cidadãos eficientes, competitivos, líderes, produtivos, rentáveis, numa máquina, quando pública, racionalizada. Este cidadão – anuncia-se – terá empregabilidade e, igualmente, será um consumidor consciente. A lei foi produzida, existe. Enquanto lei, resta-nos identificar, compreender e avaliar a intencionalidade de suas propostas, para a adoção das posturas pertinentes. Todavia, as recentes diretrizes e bases da educação nacional não têm o poder, por si só, de alterar a realidade educacional e, de modo especial, a formação inicial e continuada de professores, mas podem produzir efeitos em relação a essa mesma realidade, de tal modo, acordo com Saviani (1990, p. 43), “que, de numa avaliação posterior, podem ser considerados positivos ou negativos”. De modo geral, “em alguns aspectos a legislação provoca consequências positivas; em outros, consequências negativas” (SAVIANI, 1990, p. 44). Daí a importância deste momento para o encaminhamento de questões essenciais sobre a formação dos profissionais da educação e, de modo especial, a formação de docentes, objeto deste texto. No momento atual, necessitamos de uma política pública de formação, que trate, de maneira ampla, simultânea, e de forma integrada, tanto da formação inicial, como das condições de trabalho, remuneração, carreira e formação continuada dos docentes. Cuidar da valorização dos docentes é uma das principais medidas para a melhoria da qualidade do ensino ministrado às nossas crianças e aos nossos jovens. 36 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO E, de acordo com a Constituição, fundamento do deve ser, a “valorização” é conteúdo próprio do capítulo que trata da Educação, dispondo, em termos de princípio, sobre a valorização dos profissionais do ensino, garantindo, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurando regime único para todas as instituições mantidas pela União. Estes princípios estão explicitados na Nova LDB. Por essas razões, procuraremos apontar os dispositivos legais inseridos na Nova LDB com algumas observações que possam ser consideradas nos estudos e reflexões sobre os rumos dos cursos e programas de formação de professores para a educação básica. Durante três décadas e meia, a estrutura e o funcionamento dos cursos de formação dos profissionais da educação tiveram por fundamento legal a primeira LDB e suas alterações, sobretudo as introduzidas pelo Regime Militar. Com a edição da Lei no 9.394/1996, nova normatização começa a ser debatida e implementada. Assim, os cursos de formação dos profissionais da educação que vinham funcionando, agora objeto de reflexão e questionamento sob a Nova LDB, têm a moldura da legislação revogada. A Nova LDB, neste momento de transição normativa, fixa, em relação aos Profissionais da Educação, diversas normas orientadoras: as finalidades e fundamentos da formação dos profissionais da educação; os níveis e o locus da formação docente e de “especialistas”; os cursos que poderão ser mantidos pelos Institutos Superiores de Educação; a carga horária da prática de ensino; a valorização do magistério e a experiência docente. Texto extraído do artigo A nova lei de diretrizes e bases e a formação de professores para a educação básica de Djalma Pacheco de Carvalho, Professor Assistente Doutor, Departamento de Educação, Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista (Unesp). Campus de Bauru. (Fonte: http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v5n2/a08v5n2.pdf). Sugestão de estudo Figura 27. Darcy Ribeiro. Fonte: Disponível em: https://i1.wp.com/cartacampinas.com.br/wp-content/uploads/darcy-ribeiro.jpg. Acesso em: 1 de agosto de 2019. Darcy Ribeiro, antrópologo, educador e romancista. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Mundialmente reconhecido por seus estudos sobre a população brasileira, especialmente os indígenas,atuando multi e interdisciplinarmente nos campos de Antropologia, Sociologia e Educação. Como Ministro da Educação do Brasil, liderou diversas reformas que o consideraram apto a auxiliar novas políticas educacionais para diferentes países da América Latina. Autor de diversos livros, defendeu a democratização do ensino público e de qualidade para todos. Seguem algumas obras essenciais para a sua atuação crítica como professor e cidadão: 37 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 Panorama histórico de políticas e reformas de governos a partir da instituição da LDB (Lei de Diretrizes e Bases – 9.394/1996) O governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), de 1995 a 1998, em seu primeiro mandato, e, em seguida, o segundo mandato de 1999 a 2002, teve como destaque o programa “Acorda, Brasil: Está na hora da escola”, baseado em cinco pontos essenciais: Figura 29. Cartaz do programa “Acorda, Brasil”. Fonte: http://livros01.livrosgratis.com.br/me000660.pdf. Acesso em: 20 de agosto de 2019. Figura 28. Sugestões de obras do autor Darcy Ribeiro para serem estudadas. Fonte: https://www.estantevirtual.com.br/busca?q=Darcy%2BRibeiro&offset=1&b_order=relevancia&busca_es=1. Acesso em: 20 de agosto de 2019. 38 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO Figura 30. Principais ações do Programa “Acorda, Brasil”. Distribuição de verbas diretamente para as escolas Melhoria da qualidade dos livros didáticos Formação de professores por meio da educação a distância Reforma curricular (estabelecimento de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) Avaliação das escolas Fonte: Elaboração da autora (2019). Ainda nestes mandatos, os principais programas e ações governamentais, decisivos para o desenvolvimento das políticas públicas educacionais no contexto nacional foram: Figura 31. Principais programas e ações governamentais. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola) Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) Bolsa-Escola Plano Nacional da Educação Fonte: Elaboração da autora (2019). O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef ) era reconhecido como um fundo contábil formado por recursos financeiros dos três níveis da Administração Pública do nosso país, com o objetivo de promover o financiamento da educação básica pública do Brasil. Já o Fundescola foi um programa fundado em 1995, desenvolvido em parceria com as secretarias municipais e estaduais de Educação da nossa nação, com o intuito de 39 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 promoção de ações, visando à melhoria da qualidade do ensino fundamental e ampliação do acesso, bem como a permanência, das crianças nas escolas públicas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Originalmente financiado com recursos do governo federal e do Banco Mundial (Bird), atuando especialmente em zonas consideradas de atendimento prioritário definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Figura 32. Plano de Desenvolvimento da Educação. Fonte: http://ilhadomelfm.com.br/wp-content/uploads/2016/02/PDE_logo.jpg Acesso em: 3 de agosto de 2019. O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) é um programa que apoia o desenvolvimento da comunidade escolar por meio da elaboração de um planejamento participativo com o objetivo primordial de aprimoramento da administração da escola pública do Brasil. Desta forma, o PDE se configura como uma ferramenta de gestão DA escola PARA a escola (MEC, 2019). Já o “Programa Dinheiro Direto na Escola” (PDDE), criado em 1995, tem como objetivo prestar assistência financeira à comunidade escolar, assegurando as melhorias necessárias para o aumento da qualidade do ensino público ofertado. O “Bolsa-Escola” foi um programa considerado como “transferência de renda”, implementado em 2001. Por meio de um cartão magnético, famílias de baixa renda recebiam incentivo financeiro para assegurar a matrícula e permanência das crianças e jovens na escola. Na próxima unidade teremos a oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos sobre programas que marcaram a história das políticas educacionais no contexto nacional. Nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2010, as políticas públicas para a Educação foram divulgadas por meio de um caderno intitulado “Uma escola do tamanho do Brasil” e foram estabelecidas as seguintes ações: 40 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO Figura 33. Ações estabelecidas para a política pública de educação. Democratização do acesso ao ensino e garantia de permanência na escola Qualidade social da educação Valorização profissional do magistério Implantação do regime de colaboração entre as esferas de governo Democratização da gestão escolar Fonte: Elaboração da autora (2019). Estas ações desdobraram-se nas seguintes ações e realizações ao longo dos oito anos: a) Fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica (Fundeb); b) Programa Universidade para todos (Prouni); c) Sistema de seleção unificada (Sisu); d) Programa de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais (Reuni); e) Universidade aberta do Brasil (UAB) e f ) Rede federal de educação profissional, científica e tecnológica. No governo seguinte, de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014 (primeiro mandato) e 2015 a 2016 (segundo mandato, interrompido pelo processo de impeachment), o objetivo primordial das políticas educacionais era assegurar a manutenção dos programas implementados nos mandatos anteriores, bem como ampliação das ações, garantindo educação para a igualdade social, a cidadania e o desenvolvimento, promovendo inovações científicas e tecnológicas. Destacam-se os seguintes programas: a) Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); b) Expansão da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica; c) Programa Brasil profissionalizante; d) Rede e-tec Brasil; e) Acordo de gratuidade com os serviços nacionais de aprendizagem; f ) Bolsa-formação; g) Ciências sem Fronteira; h) Plano Nacional de Educação (2014-2024); i) Brasil carinhoso; j) Brasil profissionalizante; k) Caminho da escola; l) Formação pela escola; m) Plano de Ações Articuladas (PAR); n) Manutenção do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); o) Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); p) Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE); q) Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE); r) Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); s) Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância); t) Manutenção do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo); u) Prouni. 41 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 O re p e r t ó r i o d e p r o g ra m a s a c i m a e l e n c a d o s, m u i t o s re s u l t a d o s d e a ç õ e s i m p l e m e n t a d a s e m g ov e r n o s a n t e r i o re s , t i n h a m c o m o o b j e t i v o c o n s t i t u i r uma sociedade do conhecimento, assegurando ao nosso país as condições de competitividade global necessárias para a soberania, destacam-se as seguintes metas que ainda persistem em nosso cotidiano, também, sinalizadas por organismos internacionais: » erradicação do analfabetismo no País; » garantir a qualidade da educação básica brasileira; » promover a inclusão digital, com banda larga, produção de material pedagógico digitalizado e formação de professores em todas as escolas públicas e privadas no campo e na cidade; » expandir o orçamento da educação, ciência e tecnologia e melhorar a eficiência do gasto; » consolidar a expansão da educação profissional, por meio da rede de InstitutosFederais de Educação, Ciência e Tecnologia; » tornar os espaços educacionais lugares de produção e difusão da cultura; » construir o sistema nacional articulado de educação, de modo a redesenhar o pacto federativo e os mecanismos de gestão. » aprofundar o processo de expansão das universidades públicas e garantir a qualidade do conjunto de ensino privado; » ampliar programas de bolsas de estudos que garantam a formação de quadros em centros de excelência no exterior, capazes de atrair estudantes, professores e pesquisadores estrangeiros para o Brasil; » dar prosseguimento ao diálogo com a comunidade científica, como fator fundamental para definir as prioridades da pesquisa no País; » fortalecimento da política de educação do campo, e ampliação das unidades escolares assegurando a educação integral e a profissionalização. Em 2016 assume a presidência o vice-presidente Michel Temer, finalizando o seu mandato em 2019, priorizando a manutenção dos seguintes programas: a) Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies); b) Reforma do ensino médio; c) Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e d) Programa Universidade para todos (Prouni). 42 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO Observe a lei Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 1o A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1o Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2o A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2o A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3o O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI –gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade; X – valorização da experiência extra-escolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. TÍTULO III Do Direito à Educação e do Dever de Educar Art. 4o O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; 43 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III – atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; VIII – atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX – padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Art. 5o O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. § 1o Compete aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União: I – recensear a população em idade escolar para o ensino fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso; II – fazer-lhes a chamada pública; III – zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. § 2o Em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais e legais. § 3o Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do § 2o do art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. § 4o Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade. § 5o Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior. Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos sete anos de idade, no ensino fundamental. Art. 7o. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I – cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo sistema de ensino; II – autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo Poder Público; III – capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no art. 213 da Constituição Federal. (Fonte: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf). 44 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO As influências dos organismos internacionais nas políticas educacionais Atualmente, vivemos a era da informação. As tecnologias da informação e comunicação (TICs) fazem parte do nosso dia a dia, a todo o momento nos deparamos com novas tecnologias, muitas informações e transformações nas formas como nos comunicamos, resultado do fenômeno chamado globalização. Segundo Terra (2016, p. 120): Globalização é o termo mais utilizado para descrever as mudanças ocorridas no sistema econômico capitalista nas últimas décadas. No entanto, a maioria dos estudos sobre esse fenômeno ressalta a globalização (ou mundialização do capital, como preferem alguns autores) é apenas a etapa atual de um processo histórico cujas origens remontam à formação do capitalismo. A globalização existe em todos os espaços, seja econômico, social, cultural, político, influenciando nossa vida cotidiana, voltando um pouco em nossa história, podemos determinar que a globalização vem associada ao surgimento do estado neoliberal. O pensamento neoliberal tem sua fundamentação, de acordo com Terra (2016, p. 124): As premissas básicas do pensamento neoliberal estão fundamentadas na ideia de que as políticas sociais adotadas pelo Estado de Bem-estar social (Welfare State), construído após a Segunda Guerra Mundial, fracassaram em sua pretensão de promover a igualdade e a justiça social. Por isso, o neoliberalismopropõe um novo paradigma, ou seja, um novo modelo de gestão do Estado e da economia mundial, perante a falência das políticas intervencionistas conduzidas pelo governo. Segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 84), a globalização corresponde ao estágio de desenvolvimento do chamado capitalismo concorrencial global, tendo como suas principais características: » Estado mínimo e economia de mercado; desregulamentação e privatização; » acumulação flexível do capital, da produção, do trabalho e do mercado; » sistema financeiro autônomo dos Estados nacionais; » mudanças técnico-científicas aceleradas; » ordem econômica determinada pelas corporações mundiais, pelas transnacionais, pelas instituições financeiras internacionais e pelos países centrais; » globalização/integração da produção, do capital, dos mercados e do trabalho. 45 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 O Neoliberalismo não aceita a intervenção do Estado, privilegiando a privatização. No Brasil, podemos determinar esta influência a partir do governo de Fernando Collor, quando o Estado Neoliberal passou a ser implantado. Com estas mudanças outros países começaram a mudar seu olhar em relação a nossa economia, passamos a ser um país em pleno desenvolvimento com possibilidades de investimentos internacionais, atraindo investimentos de países como Estados Unidos e Japão e da União Europeia, grandes acionistas do Banco Mundial. Ele foi criado a partir das necessidades advindas após a Segunda Guerra Mundial, quando os países devastados sentiram a necessidade de buscar seu crescimento econômico. Desde a segunda guerra mundial observamos a formação de organismos internacionais de natureza político-ideológica, sob a liderança da Organização das Nações Unidas (ONU), em conjunto com organismos de natureza econômica, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No campo militar, deve-se mencionar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A nova ordem econômica e política mundial é resultado da conferência de Bretton-Woods, realizada em 1944, na qual as nações mais industrializadas do mundo firmaram acordos estabelecendo regras para as relações comerciais e financeiras entre os países no âmbito mundial. (TERRA, 2016, p. 122) O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) foram criados pelo Banco Mundial com o intuito de reconstrução e desenvolvimento dos países do sul. Tais siglas fazem atualmente parte do nosso dia a dia, são grandes investimentos que visam ampliar as intervenções mundiais em economias de países em desenvolvimento, buscando a ampliação de seus mercados, mas muitos de seus recursos têm como prioridade o investimento na Educação. O pensamento neoliberal considera a educação um dos elementos centrais para incrementar a competitividade econômica entre as nações, gerar novas oportunidades de trabalho e emprego e, também, ajudar na melhoria da distribuição de renda, contribuindo para a estabilidade social e política global, particularmente nos países mais pobres. A ideia é que o estudante com acesso a uma educação eficiente e de qualidade, que garanta uma formação diversificada e flexível, poderá “subir na vida” e ganhar mais. (TERRA, 2016, p. 126) Para refletir Mas, o que é o Banco Mundial? 46 CAPÍTULO 2 • A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO Ainda de acordo com Terra (2016, p. 126): Em 1980, o Bird adotou o modelo de financiamento chamado crédito de base política, tendo por objetivo desenvolver políticas de ajuste estrutural nos países periféricos. Dentre essas políticas estavam: redução do papel do Estado, o que significava a diminuição do investimento do setor público e aumento do setor privado; reformas administrativas; estabilização fiscal e monetária; a redução do crédito interno e das barreiras de mercado. O Banco condicionou os créditos aos países tomadores a algumas reformas educacionais sugeridas. Dentre as principais estavam: diminuir os gastos do Estado na área da educação, e para isso recomendou privatizar os níveis mais elevados do ensino público, centrando as atenções ao ensino fundamental, principalmente no que dizia respeito à garantia de acesso e à universalização; priorizar o consumo de insumos educacionais, o que para o Banco era fundamental para a melhoria do desempenho escolar dos alunos dos países de baixa renda. (TERRA, 2016, p. 126) Apresentamos, a seguir, algumas questões apontadas por Andrioli (2002), como as principais consequências do neoliberalismo na educação: » Menos recursos, já que há diminuição da arrecadação (através de isenções, incentivos, sonegação...) e por conta da não aplicação dos recursos e descumprimento de leis. » Prioridade do ensino fundamental como responsabilidade dos estados e municípios (a educação infantil é delegada aos municípios). » Formação menos abrangente e mais profissionalizante. » A maior marca de subordinação profissionalizante é a reforma do ensino médio e profissionalizante. » Privatização do ensino. » Municipalização e “escolarização” do ensino, com o Estado repassando adiante sua responsabilidade (os custos são repassados às prefeituras e às próprias escolas). » Aceleração da aprovação para desocupar vagas, tendo o agravante da menor qualidade. » Aumento de matrículas como jogo de marketing (são feitas apenas mais inscrições, pois não há estrutura efetiva para novas vagas). » A sociedade civil deve adotar os “órfãos” do Estado (por exemplo, o programa “Amigos da escola”). Se as pessoas não tiverem acesso à escola. a culpa é colocada na sociedade que “não se organizou”, isentando, assim, o governo de sua responsabilidade com a educação. 47 A EDUCAçãO COMO POLÍtICA SOCIAL DO EStADO • CAPÍTULO 2 » O ensino médio dividido entre educação regular e profissionalizante, com tendência a priorizar este último: “mais mão de obra e menos consciência crítica”. » A autonomia é apenas administrativa. As avaliações, livros didáticos, currículos, programas, conteúdos, cursos de formação, critérios de controle e fiscalização continuam dirigidos e centralizados. Mas, no que se refere à parte financeira (como infraestrutura, merenda, transporte etc.), passa a ser descentralizada. » Produtividade e eficiência empresarial (máximo resultado com o menor custo). Não interessa o conhecimento crítico. » Nova linguagem, com a utilização de termos neoliberais na educação. » Modismo da qualidade total (no estilo das empresas privadas) na escola pública, a partir de 1980. » Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são ambíguos (possuem duas visões contraditórias), pois se, por um lado, surge uma preocupação com as questões sociais, com a presença dos temas transversais como proposta pedagógica e a participação de intelectuais progressistas, por outro lado, há todo um caráter de adequação ao sistema de qualidade total e a retirada do Estado. » Mudança do termo igualdade social para equidade social, ou seja, não há mais a preocupação com a igualdade como direito de todos, mas somente a amenização da desigualdade. » Privatização das universidades. » Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determinando as competências da Federação, transferindo responsabilidades aos estados e municípios; » Parcerias com a sociedade civil (empresas privadas e organizações sociais). Neste panorama, cabe aos educadores pensarem e agirem de forma local e global buscando maneiras e possibilidades para transformar a sociedade, lutarem contra uma corrente que não pensa a educação como um instrumento libertador, pois conhecimento é poder. 48 Introdução A educação brasileira já fez uma longa caminhada desde o período em que o Brasil foi apresentado ao mundo europeu civilizado. Mas, essa trajetória, apesar de estar prestes a completar meio século, desde a chegada dos jesuítas (1549),
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