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Direito Adquirido - 1999 - Belizário Antônio de Lacerda

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Prévia do material em texto

BEUZÁRIO ANTÔNIO DE LACERDA 
Mestre e Doutor em Direito Administrativo. 
Juiz do Tribunal de Alçada de Minas Gerais. Professor Titular de 
Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Fundação 
Monsenhor Messias de Sete Lagoas. Professor de Direito 
Administrativo da FUMEC. Professor de Direito Administrativo do 
Centro de Altos Estudos da Academia de Polícia Militar do Estado 
de Minas Gerais. Membro da Banca Examinadora para Procurador 
Autárquico do CEFET da Universidade Federal de Minas Gerais. 
DIREITO 
ADQUIRIDO 
Gilson Wessler Michels 
Ru•: ltafae1 Bandeira, 65/701 
Florlonópols/SC • F. 222-2207 
Belo Horizonte - 1999 
Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro 
Ll3ld 
Lacerda, Belizário Antônio de, 
Direito adquirido/Belizário Antônio de Lacerda. ·- Belo 
Horizonte: Dei Rey, 1999. 
104p.; 13,5 x 21,0 cm. 
ISBN 85-7308-273-9 
Inclui bibliografia e índice. 
1. Direitos adquiridos - Brasil. I. Título. 
CDD-346.81 
Editor Arnaldo Oliveira 
Conselho Editorial Prof. Antonio Augusto Junho Anastasia 
Prof. Ariosvaldo de Campos Pires 
Prof. Aroldo Plínio Gonçalves 
Dr. Edelberto Augusto Gomes Lima 
Prof. Hermes Vilchez Guerrero 
Pro[ Jair Eduarµo Santana 
Dr. José Edgard Perma Amori.m Pereira 
Prof'. Misabel Abreu,Machado Derzi 
Des.Sérgio Lellis.S'arúiago 
Produção Editorial Alexandre Cardoso 
Copyright © 1999 by 
LIVRARIA DEL REY EDITORA LTDA 
Loja 
Rua Goitacases. 71 - Lojas 20/24 - Centro - Belo Horizonte - MG - CEP 30190-909 
Televendas·0800-314633 -Telefax: (031) 274-3340 
Editora 
Rua Teixeira Magalhães, 80 - Bairro Floresta - Belo Horizonte - MG - CEP 30150-000 
Telefax: (031) 422-8066 
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios 
empregados, sem a permissão, por escrito, da Editora. 
Impresso no Brasil 
Printed in Brazil 
Livros, artigos 
e pareceres do autor 
1. Do direito e da ação de preferência. São Paulo: Saraiva, 1981 
( edição esgotada). 
2. Da retrocessão. Rio de Janeiro: Forense, 1983 (edição esgotada). 
3. Natureza jurídica da reaquisição do bem expropriado) doutrina) ju-
risprudência prática e legislação. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. 
4. Comentários à lei de arbitragem. Belo Horizonte: Del Rey, 
1998. 
5. Inovações da Lei n. 6.416 de 24/5/77.Jornal da OAB/MG. 
6. Da transformação da separação judicial em separação 
consensual de cônjuges com até dois anos de casados. Im-
possibilidade legal. Considerações. Revista Tribuna da Justiça 
de São Paulo. 
7. Competência do juízo requerido naJustiçaTrabalhista. Re-
vista Tribuna da Justiça. 
8. A execução por carta na Justiça Trabalhista. Revista Forense 
n. 272. 
9. O direito de preferência como protetor do município na 
preservação do patrimônio histórico nacional. Revista Foren-
se n. 284. 
10. Honorários advocatícios no incidente processual. Revista 
Forense n. 293. 
11. Parecer sobre Reaquisição do Hospital dos Servidores Públicos 
Civis do Estado da Bahia) a pedido da Engenharia da Bahia, 
Construções e Imóveis Ltda. 
12. A responsabilidade administrativa e a denunciação à lide. 
Revista Jurisprudência Mineira) v. 116, p. 12-22. 
13. Aspectos da pena disciplinar. Revista da Amagis (Associação 
dos Magistrados Mineiros) v. 21, p. 51-57. 
14. Execução do crédito alimentar contra a Fazenda Pública. 
Revista Forense) v. 327, p. 19-24. 
15. Da imprescritibilidade da sanção disciplinar nos ilícitos admi-
nistrativos contra o patrimônio público. Revista Forense) n. 333. 
16. Vinculação odiosa. Jornal da Associação dos Magistrados do Es-
tado Minas Gerais-Amagis) set./96, n. 58, p. 14. 
17. Valorização do oficial de justiça.Jornal da Associação dos Ofici-
ais de Justiça Belo Horizonte. 
18. Reforma administrativa. Revista da Associação dos Magistrados 
Mineiros (a ser publicado). 
19. Aposentadoria obrigatória. Revista da Associação dos Magistra-
dos Mineiros (a ser publicado). 
20. Responsabilidade administrativa do juiz. Revista da Funda-
ção Educacional Monsenhor Messias) v. 2, p. 19. 
21. Dos fatos jurídicos. Revista Lemi) n. 179, out., 1982. 
22. Artigos jurídicos publicados no jornal Estado de Minas du-
rante os anos de 1986 a 1994. 
23. Parecer sobre Consulta da Associação dos Magistrados de 
Minas Gerais - Amagis - versando sobre a legitimidade da 
reinstituição de cobrança de contribuição previdenciária de 
entidade fechada de assistência à saúde sobre o pagamento 
feito a seus administradores, trabalhadores autônomos, 
avulsos e outros, cujos serviços sejam prestados sem víncu-
lo empregatício. 
24. Tutela antecipada contra a Fazenda Pública. Revista Fo-
rense> 1997. 
Ao ilustrado Amigo, Professor,Jusfilósofo e Mecenas, 
Dr. Gerson de Britto Mello Boson, a quem a Providência 
Divina predestinou a nobilíssima missão de ensinar a filosofia 
do bem viver em sociedade, como pressuposto indeclinável 
para a formação do futuro profissional do direito. 
"Entre o receio de erro no enfoque científico de um 
difícil instituto de direito em ebulição, é preferível assumir o 
risco do erro, e quiçá contribuir para o continuismo da evolu-
ção daquele referido instituto jurídico, do que repetir eterna e 
enfadonhamente o que já disseram igualmente outros pensa-
dores do direito sobre aquele mesmo instituto." 
(Dr. Belizário Antônio de Lacerda) 
Apresentação 
A presente obra é produto de pesquisa longa, cujo início 
remonta ao ano de 1997, mas que somente agora foi possível 
concluí-la. 
Não poderia ter momento mais oportuno para a publica-
ção de uma obra sistematizada sobre o direito adquirido, pois o 
trato científico que tem sido dado ao tema em questão prende-
se a artigos esparsos. 
Agora, com a reforma constitucional pelo Poder Consti-
tuinte Originário, que tem limitações, cresce o receio do cida-
dão brasileiro em ter mitigado ou mesmo aniquilado seu direito 
adquirido. 
Poucos temas, tanto no direito público quanto no direito 
privado, têm ensejado discussões científicas que constituíram 
as mais belas páginas de nossos repertórios jurídicos, quer pela 
dificuldade em si que o tema oferece, quer pelo fundado temor 
de enfrentar de maneira comprometida o instituto do direito 
adquirido. 
Ainda hoje, quando se fala em direito adquirido, os juris-
tas não se pejam em exortar a dificuldade do tema, apesar de 
mostrar uma trajetória histórica em nosso direito constitucio-
nal que remonta ao Império. 
Mas permanece irrefutável o conceito de direito adquiri-
do, que tem assento na irretroatividade da lei, e que pode assim 
ser resumido. 
Se ela (lei posterior) estendesse os seus efeitos aos fatos pretéritos) isso 
significaria que ela adquiria existência e eficácia quando ainda não existia. 
Não foi por outro motivo que o Autor, percebendo esse 
vácuo na doutrina do direito administrativo e no direito consti-
tucional, encorajado lançou-se nessa empresa nada fácil de 
enfocar sistemática e cientificamente esse importante instituto 
do direito adquirido. 
Se tiver conseguido de qualquer modo, pelo menos ter 
contribuído para a evolução do instituto do direito adquirido o 
Autor se considera recompensado por todo o trabalho despen-
dido com o presente livro. 
Belo Horizonte, junho de 1998. 
O Autor. 
Prefácio 
O antigo - mas sempre novo-, tema dos direitos adquiri-
dos constitui, na estrutura do Estado de Direito, assunto dou-
trinário incansável. O fato se deve às características do instituto: 
temporalidade, arbítrio e segurança, enquanto valores do Direi-
to. A vida é uma sucessão de acontecimentos, dos quais o últi-
mo é a morte. Nessa sucessão, quando em sociedade, cenário 
jurídico da realização de valores, não poderíamos agenciar o 
nosso mundo, o mundo da cultura, se não acompanhássemos 
os fatos do seu acontecer, racionalizando a sua efetivação medi-
ante a normatividade jurídica. Neste particular, costuma-se di-
zer que a norma agendi corre atrás dos fatos. É que a atualização 
normativa deve ser contínua, na continuidade irreprimível da 
vida. Todavia, forçoso é prevenir o arbítrio dos que, no exercícioda competência legislativa, promovem a atualização jurídica da 
normatividade, a fim de que se atenham à índole histórica, 
conseqüentemente à historicidade do Direito. Lex prospicit non 
respici; já diziam os Romanos. O passado é impensável, pensável 
é o presente no seu eterno mergulhar no futuro. 
Se assim não fosse, possível seria a vida dos rebanhos 
humanos, mas não da sociedade humana, e impossível o Estado 
de Direito, em face da presença irreprimível do arbítrio. 
Laborando o assunto, o Dr. Belizário Antônio de Lacerda, 
com doutorado e mestrado em Direito Administrativo, autor de 
várias obras jurídicas, professor da disciplina na Faculdade de 
Sete Lagoas e no Curso de Direito da Faculdade de Ciências 
Humanas da Fundação Mineira de Educação e Cultura e do 
Centro de Altos Estudos da Polícia Militar de Minas Gerais, nos 
dá mais este estudo de excelente cunho,para os juristas, advoga-
dos e magistrados e tod~s os 'que seinteressam pelo estudo mais 
detalhado e mais aprofundado da matéria: 
Com efeito, além de examinar a problemática do Direito 
Adquirido na sua concepção patrimonial, definindo a sua índo-
le jurídica, a sua conceituação legal, inova a tradição do estudo, 
colocando-o em face da possível reforma constitucional, com 
vista aos questionamentos da revogação de atos administrati-
vos conclusivos, examinando, outrossim, o servidor público, 
quando envolvido na questão, com suporte em súmulas e juris-
prudências dos Tribunais. 
Ademais, o Autor, que carrega a vivência do exercício 
judicante, juiz que ilustra o Tribunal de Alçada de Minas Gerais, 
ingressa, corajosamente, no mérito de problemas como os que 
dizem respeito à aquisição de direitos em contrariedade à consti-
tuição, o direito adquirido enquanto potencialmente exercitável 
e a melhor ideação acerca do confronto temático entre "poder 
constituinte originário" e "poder constituinte derivado", com os 
significativos concernentes aos direitos adquiridos. 
Com o presente estudo, que tenho a honra de prefaciar, 
sábio e suficiente, Minas ingressa nas Bibliotecas jurídicas, com 
sobriedade e concisão. 
Gerson de Britto Mello Boson 
Gilson Wessler Mfchels 
"ua: "af ae4 Boodelra. 65/701 
florion4'polsJSC · F. 222-2207 
Sumário 
Capítulo I - DIREITO ADQUIRIDO E PATRIMÔNIO.... 17 
Capítulo II - CONCEITO LEGAL DE DIREITO 
ADQUIRIDO...................................................... 19 
Capítulo III - NATUREZAJURÍDICA DO DIREITO 
ADQUIRIDO...................................................... 21 
Capítulo IV - DIREITO ADQUIRIDO E REFORMA 
CONSTITUCIONAL ........................................ 23 
Capítulo V - DIREITO ADQUIRIDO E REVOGAÇÃO 
DO ATO ADMINISTRATIVO....................... 39 
Capítulo VI - O DIREITO ADQUIRIDO DO 
SERVIDORPÚBLICO...................................... 41 
Capítulo VII - SÚMULAS E JURISPRUDÊNCIA................. 53 
Capítulo VIII-EMENTA CONCLUSIVA DOS 
CAPÍTULOS TEMÁTICOS DO 
PRESENTE ESTUDO SOBRE O 
DIREITO ADQUIRIDO .................................. 85 
Bibliografia................................................................................... 87 
Índice alfabético e remissivo.................................................. 93 
t 
i 
Capítulo I 
DIREITO ADQUIRIDO E PATRIMÔNIO 
Cuida o direito adquirido de instituto dos mais contro-
vertidos na ciência jurídica. 
Para que se tenha uma idéia da dimensão dessa contro-
vérsia, basta que seja examinado o conceito dado por alguns 
juristas sobre o referido e tormentoso instituto. 
A tese segundo a qual não se adquire direito contra· a 
Constituição Federal, deve ser examinada cum grano salis. 1 
Alguns autores associam o conceito de direito adquirido 
à idéia de patrimônio incorporado ao acervo do titular, de tal 
modo que não pode ser desse retirado, ainda que seja por força 
de lei nova.2 
Como direito patrimonial também o entende De Plácido e 
Silva) verbis: 
"Direito adquirido é o direito que já se incorporou ao 
patrimônio da pessoa, já é de sua propriedade, já constitui 
1 POLETII, Ronaldo. Controle da constitucionalidade das leis. Rio de Janeiro: Forense, 
1985, p. 163. 
2 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 7. ed., Rio de Janeiro: 
Forense, 1984, p. 232. 
17 
um bem, que deve ser juridicamente protegido contra qual-
quer ataque exterior, que ouse ofendê-lo ou turbá-lo."3 
Provavelmente tais posições doutrinárias foram influen-
ciadas por Gabba que assim definiu os contornos jurídicos do 
direito adquirido. 
"Adquirido é todo direito resultante de um fato capaz de 
produzi-lo segundo a lei em vigor ao tempo em que este 
fato se verificou, embora a ocasião de fazê-lo valer não se 
haja apresentado antes da atuação de uma lei nova sobre 
o mesmo direito, direito este que, de conformidade com a 
lei sob a qual aquele fato foi praticado, passou, imediata-
mente, a pertencer ao patrimônio de quem o adquiriu. "4 
Em que pese a tão autorizados conceitos, o fato é que não 
se pode vincular o direito adquirido à expressão econômica por 
esse traduzida. Se assim pudesse ser o que dizer do direito de 
estado, como por exemplo o direito à filiação, ao nome, ao 
apelido de família. Não seriam tais direitos suscet~veis de aquisi-
ção somente porque lhes falta valor econômico? E evidente que 
não. Não importa a natureza jurídica do direito para efeito de 
sua aquisição. 
3 DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário jurídico. 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1967, 
v.2,p.530. , 
4 GABBA. Teoria della retroatività delle leggi. 3. ed., Turim, 1891, v. 1, apud RAO, 
Vicente. O direito e a vida dos direitos. São Paulo: Max Limonad, v. 1, n. 282. 
18 
Capítulo li 
CONCEITO LEGAL DE DIREITO ADQUIRIDO 
O conceito de direito adquirido decorre da própria lei, em 
especial o§ 2° do art. 6° da Lei de Introdução ao Código Civil, 
conforme se pode ver de sua redação: 
"Consideram-se direitos adquiridos assim os direitos que o 
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles 
cujo começo de exercício tenha termo pré-fixo, ou condi-
ção preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. " 
Esse conceito de direito adquirido é válido tanto para o 
direito privado quanto para o direito público, pois não se con-
cebe, em termos científicos, que um instituto, que tenha uma só 
natureza jurídica, possa assumir outra natureza apenas por 
mera divisão dicotômica do direito, a qual se adstringe a critéri-
os simplesmente hermenêuticos. 
Certo ou errado, o direito adquirido no sistema positivo 
brasileiro, é todo direito que possa ser exercido por seu detentor 
ou por outrem em seu nome, bem como o direito que tenha 
tempo prefixado ou condição preestabelecida para o início de 
seu exercício que não pode ser alterada ao talante de outrem. 
Essa condição que não pode ser alterada. ao talante de 
outrem não passa de um direito potestativo do titular, ou seja, 
19 
do direito que em nada pode ser influenciado por outrem quan-
do pleiteado por seu titular. . .. 
A grande tônica do direito adquirido no sistema pos1t1vo 
nacional é que não precisa ser exercitado por seu titular, basta 
que possa ser exercido, ou seja, que tenha potencialidade para 
ser concretizado por seu titular. 
Isso quer dizer que o exercício do direito adquirido é 
mera conseqüência, faz parte de seus efeitos, mas não lhe inte-
gra a essência. 1 
1 CAMPOS BATALHA, Wilson de Souza. Direito intertemporal. Rio de Janeiro: 
Fotense, 1980, p. 189-195. 
Capítulo Ili 
NATUREZAJURÍDICA DO DIREITO 
ADQUIRIDO 
A natureza jurídica do direito adquirido pode ser retirada 
de seu próprio conceito legal. 
Assim é que tem o direito adquirido a natureza de um 
direito potencialmente exercitável. 
O direito adquirido no sistema positivo nacional está 
mais afeto ao implemento das condições de fato do que do 
próprio direito. 
O que pesa decisivamente para o advento do direito ad-
quirido é a reunião das condições de fato segundo a exigência 
da lei vigente à época do implemento das referidas condições, 
pouco importando se a lei futura venhaa modificá-las. 
20 21 
Capítulo IV 
DIREITO ADQUIRIDO E REFORMA 
CONSTITUCIONAL 
O direito adquirido é obra do Poder Constituinte Originá-
rio pois é oriundo da vontade do povo que primeiro elegeu ou 
quis que, em seu nome, fosse o Poder Constituinte Originário 
exercido. E é exatamente por isso que a Constituição normalmen-
te tem como intangíveis de modificação ou reforma certos direi-
tos e garantias de cidadania, direitos estes aos quais os 
constitucionalistas emprestam a denominação de cláusulas 
pétreas, expressão aliás pouco feliz porque inexiste no reino mi-
neral pedra que não se quebre, e sob aquele título pretenderam os 
autores dizer que os direitos e garantias de cidadania são 
inquebráveis. O mais correto, para conferir a tais direitos a nature-
za de intangibilidade, seria denominá-los de garantias perenes de 
cidadania) pois aí sim poderiam ser tidos como inquebráveis realmente. 
Daí se pode inferir, sem censura jurídica, que, por meio de 
reforma constitucional - Poder Constituinte Derivado-, o direi-
to adquirido não pode sofrer modificação, e muito menos aboli-
ção, pois se encontra no rol dos direitos e garantias fundamentais 
da Constituição Federal, conforme salienta seu art. 5°, caput. 
Ressalte-se que tal artigo está localizado topograficamen-
te na Constituição no Capítulo I, o qual cuida Dos Direitos e 
Deveres Individuais e Coletivos, Título II- que trata Dos Direi-
23 
tos e Garantias Fundamentais e Capítulo I o qual finalmente 
dispõe a respeito Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. 
"Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direi-
to à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propri-
edade, nos termos seguintes: 
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato 
jurídico perfeito e a coisa julgada". 
E é justamente por isso que a Constituição Federal do 
Brasil de forma expressa, assegura em seu art. 60, verbis: 
24 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante 
proposta: 
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos 
Deputados ou do Senado Federal; 
II - do Presidente da República; 
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das 
unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, 
pela maioria relativa de seUs membros. 
§ 1 ° A Constituição não poderá ser emendada na vigên-
cia de intervenção federal, de estado de defesa ou de esta-
do de sítio. · 
§ 2 ° A proposta será discutida e votada em cada Casa do 
Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se 
aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos 
dos respectivos membros. 
§ 3° ·A emenda à Constituição será promulgada pelas 
Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, 
com o respectivo número de ordem. 
§ 4° Não será objeto de deliberação a proposta de emen-
da tendente a abolir: 
I - a forma federativa de Estado; 
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
III - a separação dos Poderes; 
IV - os direitos e garantias individuais. 
§ 5° A matéria constante de proposta de emenda rejeita-
da ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova 
proposta na mesma sessão legislativa. 
Sobre o direito adquirido e Poder Constituinte, tem o 
Professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho excelente trabalho, 
fruto de uma de suas palestras, dessa feita junto ao Tribunal de 
Alçada Criminal de São Paulo, por ocasião da comemoração 
dos 30 anos de criação daquela Corte, trabalho que foi veicula-
do na Revista dos Tribunais. 1 Sobre tal tema assim discorre o 
ilustrado Professor das Arcadas: 
"O tema desta palestra envolve, apesar de sua aparente 
simplicidade, algumas das questões mais delicadas do di-
reito constitucional ou, por que não dizê-lo, da própria 
teoria geral do direito. Realmente, a problemática do Po-
der Constituinte situa-se na raiz do sistema jurídico, pois 
opera - lembrando a pedra filosofal dos alquimistas - a 
passagem do fato para o direito. E a esta questão já de per 
si suficientemente difícil soma-se a complexidade de tudo 
aquilo que concerne ao chamado conflito de leis no tempo. 
Parece necessário, para bem examinar - ainda que super-
ficialmente - o assunto, desdobrar o estudo em três par-
tes. A primeira buscará recordar as linhas mestras da dou-
trina do Poder Constituinte; a segunda, analisar de modo 
geral o impacto no tempo das normas constitucionais; e, 
enfim, a posição do direito adquirido, em face dessas 
normas, particularmente no sistema jurídico pátrio. 
1 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Poder constituinte e direito adquirido (al-
gumas anotações elementares). Revistados Tribunais, v. 86, n. 745, p. 18-26, verbis. 
25 
26 
Embora esta doutrina do Poder Constituinte tenha visto 
a luz no país da clarté, a França, cada uma das teses que 
avança importam em obscuridades torno das quais se 
digladiam os juristas. Daí a extensa e intensa controvérsia 
que cerca a temática, controvérsia esta ainda acentuada e 
potencializada pelas implicações circunstanciais - histó-
ricas e políticas. 
Já a indagação sobre a natureza do Poder Constituinte 
desencadeia a polêmica. 
Para a maioria - inspirada no positivismo - trata-se de 
um poder de fato. Quem detém o poder, ou quem vem a 
deter o poder, com suficiente autoridade para obter a 
obediência da comunidade mesmo a ordens que contrari-
am o ordenamento jurídico estabelecido, edita a Consti-
tuição que se torna lei suprema e base de um (novo) 
ordenamento jurídico se lograr efetividade (cumprimen-
to global). Assim, à base do processo constituinte está 
sempre uma revolução, isto é, a quebra da ordem jurídica 
anterior. Assim, o Poder Constituinte é exercido por 
quem exerce um poder soberano. 
Para outros, o Poder Constituinte traduz a autodetermi-
nação, portanto, a liberdade de cada povo ( ou nação, 
como queria Sieyes, o que não é exatamente a mesma 
coisa). Esta corrente, se não pode negar o fato histórico 
de que numerosas constituições foram editadas por mo-
narcas ou chefes revolucionários independentemente de 
qualquer participação popular (salvo o assentimento não 
raro forçado), entende que idealmente a edição de uma 
Constituição se deve fazer por meio de representantes 
.,extraordinários do povo - era a posição de Sieyes - e, 
como hoje muitos reclamam, a aprovação direta por este 
em referendum. 
Claro está que subjacente à discussão em torno da natu-
reza, está a da titularidade do Poder Constituinte. 
Em razão do prevalecimento da democracia - hoje consi-
derada como a única forma legítima de governo - é esse 
titular o povo. Sieyes - o pai da doutrina do Poder Consti-
tuinte que pela primeira vez foi exposta no seu livro 
Qu'est-ce que le Tiers État? - sutilmente propunha à nação, 
sugerindo duas idéias: a de que cada comunidade nacio-
nal é que deveria ser a 'matéria' do Estado que a Consti-
tuição conformaria; a de que o interesse da comunidade 
vista como uma entidade distinta das gerações que pas-
sam é que deveria prevalecer. 
Entretanto, na experiência, todo soberano, ou seja, todo 
detentor (não mero exercente) do supremo poder num Esta-
do - em nome do povo, do partido, da revolução, do direito 
divino-, pretendeu deter esse Poder Constituinte. Compro-
vam-no as outorgas monárquicas (Brasil, 1824), ou revolu-
cionárias (Brasil, 1937; Ato Institucional (n. 1) de 1964). 
Três são os traços característicos do Poder Constituinte: a 
inicialidade; a incondicionalidade; e a ilimitação. 
Significa o primeiro que o Poder Constituinte, por esta-
belecer a Constituição, dá início ao ordenamento jurídi-
co. Esta é, pois, a base do ordenamento que, pela lógica, se 
há de construir de acordo com ela. Decorre desse traço 
que tudo o que pertence ao ordenamento antes dela vi-
gente logicamente perde eficácia. 
Mas, de acordo com a conhecida teoria de Hans Kelsen, o 
que, pertencendo embora ao ordenamento anterior, se 
coaduna com a nova Lei Magna recobra eficácia, ainda 
que com novo fundamento. Eo fenômeno da recepção, 
forma abreviada de criação do direito. 
A incondicionalidade consiste em não ter o Poder Consti-
tuinte um modo especial de manifestação - conquanto a 
assembléia dos representantes extraordinários do povo, a 
Assembléia Constituinte, seja o modelo ideal. Nem estar 
ele preso a formalidades ou procedimentos. É verdade, 
porém, que o Poder Constituinte às vezes opera em duas 
etapas. Na primeira, quebra a ordem jurídica anterior; na 
segunda, pela Assembléia, integra a nova Constituição. É 
o processo brasileiro de 1889/1891: o Decreto n. 1, de 
1889, e a Constituição de 24/2/1891. 
27 
28 
A ilimitação ( ou soberania) do Poder Constituinte é de-
corrência lógica de sua inicialidade. Se ele dá início à 
ordem jurídica, evideµtemente não está sujeito a norma 
jurídica alguma. A norma jurídica positiva alguma, seria 
melhor dizer. 
Com efeito, Sieyes, e com ele os jusnaturalistas, enten-
dem ser o Poder Constituinte limitado pelo direito natu-
ral. Hoje, os internacionalistas pretendem seja esse Poder 
limitado pelas normas internacionais, mormente pelas 
que protegem os direitos do Homem, perdão, os direitos 
humanos fundamentais. 
Falou-se até agora de Poder Constituinte no sentido es-
trito de Poder que origina a Constituição, ou seja, de 
Poder Constituinte originário. Este qualificativo serve 
para distinguir o Poder que estabelece a Constituição do 
poder que muda a Constituição, de acordo com ela. Este 
último, poder constituído pelo poder originário, 
costumeiramente é designado por Poder Constituinte de-
rivado, não raro por Poder de Reforma ou Poder de Revi-
são. (Sim, porque, embora semanticamente se deva dis-
tinguir entre emenda, revisão e reforma da Constituição, 
não existe uma terminologia firme e rigorosamente ob-
servada para designar a mudança da Constituição com a 
obediência às normas estabelecidas por esta.) E enfatize-
se o de acordo com a Constituição, já que a mudança da 
Constituição 'contra' a Constituição é revolução, que so-
mente o Poder oríginário pode efetuar. 
Em realidade, salvo para minoria de autores que ensina ser 
o Poder que muda a Constituição, o próprio Poder originá-
rio que sobrevive na sua obra, o estatuto jurídico do Poder 
derivado é análogo ao de qualquer Poder constituído. 
É ele, em primeiro lugar, um poder derivado - daí o nome 
- no sentido de que deriva do Poder originário, por inter-
médio da obra deste, a Constituição, não vem diretamen-
te do povo. 
Em segundo lugar, é um poder condicionado, quer dizer, 
não se manifesta senão com a observância das 'condições' 
postas pela Constituição - os procedimentos, ritos e pra-
zos fixados nesta. 
Por fim, é limitado. Há de respeitar as limitações postas 
pela Constituição, sejam elas temporais (p. ex., proibição 
de mudar a Constituição antes de um certo número de 
anos); circunstanciais (não mudar a Constituição, p. ex., 
durante estado de sítio); e, sobretudo, materiais. 
Estas últimas são de todas as mais relevantes. Excluem da 
mudança determinados pontos os quais, assim 
intocáveis, se tornam o cerne fixo, o núcleo fundamental, 
as cláusulas pétreas da Constituição. 
Estas limitações provocam várias discussões delicadas. 
A primeira é a sua justificativa. Por que uma Assembléia 
eleita, de representantes do povo, pode proibir que outra 
- eleita também e composta de representantes do povo -
mude ou suprima um ponto da Constituição? A razão 
não estaria com a Declaração de 1793, segundo a qual 
uma geração não pode sujeitar as suas leis às gerações 
futuras (art. 28)? 
Carl Schmitt dá para isso um fundamento político. Toda 
Constituição - ensina ele - traduz uma decisão política, a 
qual se exprime nos seus pontos fundamentais. Por isso, 
somente uma nova Constituição, nunca uma simples 
mudança na Constituição, pode alterá-los, suprimi-los, 
substituí-los. 
~urra concerne~ existência de cláusulas intocáveis implí-
citas. Para Schm1tt, a resposta é afirmativa. A existência 
dessas cláusulas, implícitas ou explícitas, é inerente à idéia 
de Constituição. Mas o problema se torna mais difícil 
quando, existindo limitações materiais explícitas, se inda-
ga se haverá ainda limitações implícitas. Ao explicitar 
... determinadas limitações, não estaria excluída a existên-
cia de outras, por uma escolha do próprio Poder Consti-
tuinte? Tese que parece preferível. 
29 
30 
Mas - ajuntam alguns - a irreformabilidade da regra de 
revisão não seria) seguindo-se a lição de Alf Ross, uma 
impossibilidade lógica? Ao que se pode contrapor a opi-
nião de Hart e muitos outros. 
Enfim) a existência de pontos intocáveis não seria senão 
um mero agravamento da técnica da rigidez? Ou seja, não 
exigiria uma dupla revisão? A primeira suprimindo a 
proibição? É este o ensinamento de Jorge Miranda. 
Sirva de ponto de partida desta análise uma afirmação 
que o eminente Conselheiro Acácio - o imortal persona-
gem de Eça de Queiroz - não repudiaria. Ou seja) a norma 
constitucional, em princípio - como qualquer norma ju-
rídica-, não incide senão do presente para o futuro. Tem 
ela) como ensina Roubier e repete o art. 6°) caput) 1 ª 
parte) da Lei de Introdução) efeito imediato e geral. 
Ora, isto significa que a lei, salvo exceções que a limitam) 
se aplica imediatamente, produz efeitos em relação a fa-
tos ou atos a partir do momento em que se torna obriga-
tória ( Cf Paul Roubier. Le Droit Transitoire.2. ed. Paris: 
Dalloz et Sirey, 1960. p. 422). 
Portanto, aplica-se aos facta futura, não se aplica aos facta 
praeterita, pondo-se de lado, para exame posterior, a ques-
tão dos facta pendentia ( o,s que, originados no passado, 
ainda produzem efeitos no presente e, quiçá, os produzi-
rão no futuro). Na verdade, a irretroatividade das normas 
- evidentemente a irretroatividade in pejus, pois não há 
objeção contra a irretroatividade in melius - constitui, se-
gundo Roubier e outros, um princípio geral de direito. 
Mas a retroatividade não é vedada à norma constitucio-
nal oriunda do Poder originário. 
Com efeito) dada a sua inicialidade, ou melhor, dada a 
inexistência de limitação jurídica que a proíba) pode ela 
colher fatos a ela anteriores. Em conseqüência, pode dar-
lhes caráter (lícito ou ilícito) diferente do que tinham na 
ordem jurídica anterior. Igualmente pode pôr termo a 
direitos adquiridos. 
É a lição clássica que registra Pontes de Miranda: 
'As Constituições não têm, de ordinário, retroeficácia 
porque estejam adstritas a isso' (Comentários à Constituição 
de 1967, com a Emenda n. 1 de 1969. São Paulo: RT, 1969, 
t. VI, p. 392). 
E acrescenta: 
'As Constituições têm incidência imediata, ou desde o 
momento em que elas mesmas fixaram como aquele em 
que começariam de incidir' (Idem) ibidem). 
Entretanto, não se deve presumir o caráter retroativo da 
norma constitucional originária. Insista-se em que o 
princípio geral de direito é a irretroatividade. Daí a pre-
sunção de que a norma não tem retroeficácia. Para fugir 
disto é necessário que o caráter retroativo decorra 
inexoravelmente do texto. 
Quanto à norma constitucional proveniente do Poder 
derivado, também ela não tem) em princípio, caráter re-
troativo. Na verdade, ela só o pode ter se a Constituição 
não veda a retroatividade. 
No caso brasileiro, se a Constituição não afirma expressa-
mente a irretroatividade, a uma situação equivalente con-
duz a garantia aos direitos adquiridos (art. 5°, XXXVI). 
Ora, existindo esta limitação, é claro que ela importa 
limitação ao Poder derivado. Conseqüentemente a nor-
ma será inconstitucional se retroativa. 
Esta é a posição que) num importante trabalho escrito 
antes de haver ascendido ao Supremo Tribunal Federal, 
sustenta Carlos Mário da Silva Velloso) com elegância e 
maestria. Aponta o eminente jurista: 
'Se é a própria Constituição que consigna o princípio da 
não-retroatividade, seria uma contradição consigo mes-
ma se assentasse para todo o ordenamento jurídico a 
idéia do respeito às situações jurídicas constituídas e, 
simultaneamente, atentasse contra este conceito'(Fun-
cionário Público - Aposentadoria - Direito Adquirido, 
em RDP 21/178). 
31 
32 
E conclui: 
'Um direito adquirido por força da Constituição, obra do 
Poder Constituinte originário, há de ser respeitado pela 
reforma constitucional, produto do Poder Constituinte 
instituído, ou de 2 ° grau, vez que este é limitado, explíci-
ta e implicitamente, pela Constituição' (art. cit., p. 180). 
Posição diferente aparece, todavia, num acórdão do Su-
premo Tribunal Federal, relatado pelo Min. Moreira 
Alves. Na sua ementa, lê-se: 
'Não há direito adquirido contra texto constitucional, 
resulte ele do Poder Constituinte originário, ou do Poder 
Constituinte derivado' (R1J 114/23 7). 
Mas, em verdade, a ementa exagera a posição. Com efeito, 
no voto o relator vai menos longe, pois explica: 
'Em outras palavras, a Constituição, ao aplicar-se de ime-
diato, não desfaz os efeitos passados de fatos (salvo se 
expressamente estabelecer o contrário) ... '. 
Para completar: 
'Mas alcança os efeitos futuros de fatos a ela anteriores 
( exceto se os ressalvar de modo inequívoco)'. 
Assim a Emenda colheria os efeitos futuros dos atos pas-
sados, atingiria os facta pfndentia, conquanto só na parte 
posterior à sua vigência. 
Note-se, entretanto, entender o Min. Moreira Alves como 
possível efeito retroativo de norma constitucional exata-
mente o que, na lição de Roubier, se traduz por efeito 
imediato da regra. Com efeito, como se verá logo adiante, 
o ilustre jurista entende ser a incidência de norma nova 
sobre efeitos de atos a ela anteriores uma forma de 
retroatividade, conquanto mitigada. 
Realmente, em trabalho recente que consubstancia o seu 
voto naADin 1.081-6-DF, o eminente Ministro explicitou 
mais claramente o seu pensamento sobre o assunto. 
De fato, ensina ele, apoiando-se em Matos Peixoto, que 
há três espécies de retroatividade: a máxima ( ou restitu-
tória, que 'restitui as partes ao statu quo ante'); a média 
('quando a lei nova atinge os efeitos pendentes de atos 
jurídicos verificados antes dela'); e a mínima (temperada 
ou mitigada) ('quando a lei nova atinge apenas os efeitos 
dos atos anteriores produzidos após a data em que ela 
entra em vigor') ( Cf 'As leis de ordem pública e de direito 
público em face do princípio constitucional da 
irretroatividade', em Revista da Procuradoria-Geral da 
República. v. I, p. 13 et seq. ). 
Mais adiante, condena a tese de Paul Roubier de que o 
efeito imediato da lei não tem caráter retroativo: 
'Essas colocações [ de Roubier] são manifestamente equi-
vocadas, pois dúvida não há de que, se a lei alcançar os 
efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a 
ela, será essa lei retroativa porque vai interferir na causa, 
que é um ato ou fato ocorrido no passado' (art. cit., p. 14). 
Ora, a conclusão lógica - que não é expressamente tirada 
no artigo - dessas premissas é inadmitir-se a aplicação da 
norma editada pelo Poder Constituinte derivado mesmo 
com relação aos facta pendentia. Realmente isto seria 
retroatividade, ainda que mitigada. 
É de se referir que, no artigo citado, defende o Min. 
Moreira Alves uma tese irretorquível. Trata-se da repulsa à 
tese de que leis de ordem pública podem ser aplicadas até 
retroativamente ( e no rol delas se poderiam tranqüilamen-
te incluir as normas constitucionais ... ). Mesmo porque 
'todas as leis ... são inspiradas imediata ou mediatamente 
pelo princípio da pública utilidade' (art. cit., p. 18). 
É também a posição de Roubier: 
'A idéia de ordem pública não pode ser posta em oposição 
com o princípio de não-retroatividade da lei, por este 
motivo decisivo de que, numa ordem jurídica fundada 
sobre a lei, a não-retroatividade é uma das colunas da 
ordem pública' (op. cit.) n. 83). 
A Constituição em vigor, como logo anteriormente se 
apontou, prescreve no art. 5°, XXXVI: 
33 
34 
'A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico 
perfeito e a coisa julgada'. 
Na verdade, este texto provém da Constituição de 1934, 
art. 113, § 3°, e foi também adotado pela Lei Magna de 
1946 (art. 141, § 3°), pela de 1967 (art. 150, § 3°) e pela 
Emenda 1/69 (art. 153, § 3°). As Constituições de 1824 
(art. 179, § 3°) e de 1891 (art. 11, § 3°) preferiram vedar 
leis retroativas. Já a Carta de 1937 nada dispunha sobre o 
assunto, havendo sido editadas durante sua vigência leis 
retroativas. Na verdade, sob esta última Constituição é 
que foi promulgada a Lei de Introdução (Decreto-Lei n. 
4.657, de 4/9/1942), cujo art. 6° dispunha: 
'A lei em vigor terá efeito imediato e geral. Não atingirá, 
entretanto, salvo disposição expressa em contrário, as si-
tuações jurídicas definitivamente constituídas e a execu-
ção do ato jurídico perfeito'. 
Adotava, pois, a teoria das situações jurídicas de Léon 
Duguit e as lições de direito intertemporal de Paul 
Roubier, ensinamentos que talvez deixassem menos dúvi-
das que a formulação atual, com a invocação do 'direito 
adquirido'. 
A redação deste artigo foi, todavia, alterada pela Lei 
3.238/57, para que se coadunasse com o preceito consti-
tucional que invocava o direito adquirido (Lei Magna de 
1946, art. 141, § 3°). Por isso, encontra-se na redação 
vigente o seguinte§ 2 ° no art. 6° da Lei de Introdução: 
'Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu 
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles 
cujo começo de exercício tenha termo pré-fixo, ou condi-
ção preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem'. 
Há, portanto, em vigor no Brasil uma definição legal de 
direito adquirido. 
Esta definição é bastante larga. No fundo, ela identifica 
direito adquirido com direito existente. De fato, inexiste 
o direito - há eventualmente a expectativa de direito - se 
todos os elementos pela lei exigidos para gerar o direito 
subjetivo não estão presentes. Ora, para a lei brasileira, 
vindo a existir o direito, é este um direito adquirido. 
Não é este entender a visão clássica do que seja direito 
adquirido. Para ela nem todo direito existente é direito 
adquirido num sentido técnico. 
A doutrina do direito adquirido - registre-se - nasceu no 
plano do direito privado, das relações entre particulares; e 
visando a preservar a autonomia da vontade. 
Sua primeira formulação é devida ao famoso alemão 
Lassalle, hoje mais conhecido como rival de Marx nos 
passos iniciais do socialismo do que como jurista. Assim 
resume Vicente Ráo o seu pensamento, exposto em livro 
cujo título seria, em português, 'Teoria sistemática dos 
direitos adquiridos': 
'Para ele [Lassalle], o fundamento e o limite da 
irretroatividade se identificam com a necessidade de se 
tutelar a liberdade individual e, assim sendo: a) nenhuma 
lei pode retroagir e alcançar o indivíduo, atingindo os 
seus atos voluntários; b) mas retroagir pode qualquer lei, 
quando alcança o indivíduo fora dos atos de sua vontade, 
como, por exemplo, com relação às qualidades que ele 
não adquiriu por si, mas que lhe pertencem em comum, 
como a toda a humanidade, ou, ainda, quando a lei o 
alcança, apenas, na medida em que modifica e afeta a 
própria sociedade, através de suas instituições organiza-
das' (RÁO. Direito e a vida dos direitos. São Paulo: Max 
Limonad, v. 1, n. 282, nota 301). 
É ao italiano Gabba, todavia, que se reconhece a versão 
clássica da doutrina. Atente-se para a definição que ele 
dá: 'Adquirido é todo direito resultante de um fato capaz 
de produzi-lo segundo a lei em vigor ao tempo em que 
este fato se verificou; embora a ocasião de fazê-lo valer 
não se haja apresentado antes da atuação de uma lei nova 
sobre o mesmo direito; direito este que, de conformidade 
com a lei sob a qual aquele fato foi praticado, passou, 
imediatamente, a pertencer ao patrimônio de quem o 
35 
36 
adquiriu' (Teoria della Retroattività delle Leggi.3. ed. Turim, 
1891. v. 1, texto traduzido por Vicente Ráo, apud o livro 
deste, O Direito e a vida dos Direitos. São Paulo: Max 
Limonad,v. 1, n. 282). 
Note-se um ponto importante. O direito adquirido, para 
o principal nome da doutrina dos direitos adquiridos,é 
sempre direito incorporado ao patrimônio de quem o 
adquiriu. Isto evidentemente restringe o âmbito dos di-
reitos adquiridos. E seguramente - na época - ao plano 
do direito privado. 
Confira-se isto com o ensinamento de Clóvis Beviláqua, o 
pai do Código Civil brasileiro. 
'Os direitos adquiridos, que as leis devem respeitar, são 
vantagens individuais, ainda que ligadas ao exercício de 
funções públicas' (Teoria Geral do Direito Civil. 6. ed., Rio 
de Janeiro: Francisco Alves, 1953. n. 14). 
De novo, a idéia de patrimonialidade, mas já agora a 
extensão do direito público, pelo menos no que concerne 
às vantagens do servidor público. 
É verdade que nem todos aceitam a transposição do con-
ceito de direito adquirido para o direito público. 
De Ruggiero, por exemplo, pretende, segundo resume 
Vicente Ráo, que: 
'O fato já verificado, considerado em si e em seus efeitos 
futuros, deve ser governado pela lei em vigor ao tempo 
em que se verificou, mas só em certas matérias, que são, 
principalmente, aquelas nas quais predomina a vontade 
individual e o interesse dos indivíduos; nas matérias, po-
,rém, nas quais predomina o interesse do Estado e a or-
dem pública, ocorre a aplicação imediata da lei nova' 
(Istituzioni di Diritto Civile. v. 1, § 19, apud Ráo, op. cit., v. 2, 
n. 287, grifei). 
Sem negar o direito adquirido em matéria de direito pú-
blico - o que contrariaria a letra da Constituição, a dou-
trina e a jurisprudência brasileiras - não descabe uma 
posição restritiva quanto a essa questão. Vale restringir o 
direito adquirido em matéria de direito público a vanta-
gens materiais incorporadas ao patrimônio do servidor e 
espe~ia~mente direitos resultantes de atos negociais da 
Admm1stração. 
Or~, neste pas~o, vem à discussão mais um problema 
delicado. Ou seJa, pode a cláusula de garantia dos direitos 
~dquiridos, bem como do ato jurídico perfeito e da coisa 
Julgada, ser revogada pelo Poder Constituinte derivado? 
A ~esp?stAa é,. sem dúv~d~, controvertida no plano teórico. 
A mex1stenc1a de pro1b1ção expressa, subsidiariamente à 
tese da dupla revisão anteriormente apontada, leva a uma 
afirmativa;. a possibilidade de fraude à Constituição, a 
uma negativa. 
Mas o direito constitucional positivo brasileiro facilita a 
solução dessa dúvida. Com efeito, convém lembrar que o 
art. 60, § 4°, IV, da Carta vigente dispõe: 
'§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emen-
da tendente a abolir: 
( ... ) 
IV - os direitos e garantias individuais'. 
Ora, ninguém negará ser a norma constante do art. 5º, 
XXXVI, da Constituição uma garantia, garantia essa da 
segurança das relações jurídicas. Conseqüentemente ela 
não poderá ser abolida pelo Poder Constituinte derivado. 
Observe-se, enfim, que, em face da Constituição brasileira 
d~ 1988, .cuJo art. 5~, ~XXVI, somente proíbe à lei preju-
~1car o direito adqumdo, o ato jurídico perfeito e a coisa 
Julgada, não será inconstitucional emenda que, colhendo 
embora fatos passados, não importe em violar qualquer 
desses três institutos. 
Este trabalho) sumário e superficial embora) tem a pretensão de 
haver demonstrado três pontos essenciais. O primeiro) que os atos 
do Poder Constituinte originário não são forçosamente retroati-
vos) apenas podem sê-lo)· o segundo) que) numa Constituição que 
37 
38 
garante o direito adquirido) o Poder Constit~inte deri~ado é f º: 
ele. limitado) não podendo eliminá-lo; e) terceiro) a noçao de direi-
to adquirido há de ser interpretada restritivamente) para não 
colher senão vantagens patrimoniais. (Destaque do Autor). 
E seguramente, por outro lado, demonstrou ele a afirma-
ção inicial sobre a extrema complexidade do assunto. 
Quem sabe, porém, abriu uma vereda a ser explorada, 
com maior profundidade, com maior sutileza, para a cl~-
rificação da questão do direito adquirido, o que trana 
incontestável contribuição para o direito nacional. " 
Capítulo V 
DIREITO ADQUIRIDO E REVOGAÇÃO DO 
ATO ADMINISTRATIVO 
A Administração Pública não pode revogar ato adminis-
trativo sem respeitar os direitos adquiridos gerados pelo ato 
revogado. A revogação do ato administrativo não prejudica os 
direitos adquiridos durante a vigência do ato. 
A razão desse respeito está exatamente na natureza do ato 
administrativo revogável, que é a de ato administrativo válido, e, em 
assim sendo, as condições de fato implementadas desde a existênçia 
do ato até sua revogação, devem ser respeitadas pela administração.1 
Nesse sentido já decidiu o Egrégio Supremo Tribunal 
Federal em acórdão assim ementado: 
"O direito à aposentadoria se considera adquirido pela 
satisfação de seus pressupostos, antes da vigência de lei nova, 
modificando-os. "2 
1 
2 
WALD, Arnoldo. Irrevogabilidade da aprovação regular de loteamento, que 
constitui direito adquirido, cabimento de mandado de segurança - Parecer. Da 
irrevogabilidade do ato administrativo que criou direito adquirido de acordo 
com a constituição e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Ato admi-
nistrativo. Constituição, Brasil ( 1988). Revista de Processo, São Paulo. v. 17, n. 66, 
p. 169-174, abr/jun., 1992. 
Revista de Direito Administrativo) 104: 188. 
39 
Capítulo VI 
O DIREITO ADQUIRIDO DO SERVIDOR 
PÚBLICO 
Como já se ressaltou alhures, em nada difere o conceito 
legal de direito adquirido quer no direito público, quer no direi-
to privado. 
Se no direito público o direito adquirido tem sua tutela legal 
- art. 5°, XXXVI, da Constituição Federal, o qual diz textualmente 
que "A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfei-
to e a coisa julgada," no direito privado o direito adquirido tem seu 
conceito legal no § 2 ° do art. 6° da Lei de Introdução ao Código 
Civil, o qual diz textualmente que "Consideram-se direitos adquiri-
dos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa 
exercer, como aqueles cujo começo de exercício tenha termo pré-
fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem." 
Logo, o servidor público adquire direito que pode ser 
exercido por si mesmo ou alguém em seu nome, ou cujo começo 
de exercício tenha prazo pré-fixo ou condição preestabelecida 
inalterável ad nutum de outrem. 1 
1 BRITIO, Carlos Ayres. Regime constitucional dos proventos da aposentadoria 
do servidor público. Efeito. Aposentadoria. Servidor público. Autarquia. Funda-
ção (Direito público). Constituição Federal (1988). Direito adquirido. Juiz. Mi-
nistério Público. Cargo público. Direito Administrativo. Revista de Direito Admi-
nistrativo, Rio de Janeiro. n. 206, p. 143-164, out. /dez., 1996. 
41 
No caso brasileiro, se a Constituição não afirma expres-
samente a irretroatividade, a uma situação equivalente con-
duz a garantia aos direitos adquiridos (art. 5°, XXXVI). Ora, 
existindo esta limitação, é claro que ela importa limitação ao 
Poder derivado. Conseqüentemente a norma será inconstitu-
cional se retroativa. 
Esta é a posição que, num importante trabalho escrito 
antes de haver ascendido ao Supremo Tribunal Federal, susten-
ta Carlos Mário da Silva Velloso, com elegância e maestria. 
Aponta o eminente jurista: 
"Se é a própria Constituição que consigna o princípio da 
não-retroatividade, seria uma contradição consigo mes-
ma se assentasse para todo o ordenamento jurídico a 
idéia do respeito às situações jurídicas constituídas e, 
simultaneamente, atentasse contra este conceito." 
E conclui: 
"Um direito adquirido por força da Constituição, obra do 
Poder Constituinte originário, há de ser respeitado pela 
reforma constitucional, ptüduto do Poder Constituinte 
instituído, ou de 2 ° grau, vez que este é limitado, explíci-
ta e implicitamente, pela Constituição."2 
Concedida a aposentadoria ao servidor público, essa as-
sume a natureza jurídica de actus perfectus, restando tutelada 
pela lei vigente ao tempo de sua concessão, com todas as vanta-
gens e direitos que lhe foram atribuídas, Depois disso não pode 
ser a\terada nem modificada, ainda que haja advento de norma 
posterior, "sujeitando-sepor inteiro à lei antiga" conforme 
preleciona o Professor Oswaldo Aranha Bandeira de Mello.3 
2 VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Funcionário Público -Aposentadoria - Direi-
to Adquirido, RDP 21: 180. 
3 BANDEIRA D E MEL LO, Oswaldo Aranha. Princípios de direito administrativo) v. 1, 
p. 268. 
42 
Continua de forma mais enfática o ilustrado Professor e 
Magistrado de São Paulo, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello 
' dessa vez invocando a lição de Léon Duguit (1859-1928), afir-
mando que são: "insuscetíveis de serem apanhadas pela lei nova 
não só as situações subjetivas ou individuais, como outrossim 
os fatos realizados no passado, regidos pela lei em vigor no 
mome1;-to em que foram produzidos".4 
E interessante observar que já nos idos de 29/3/1965, 
pelo voto do Min. Hermes Lima, o STF assim decidiu: 
"As vantagens que se integram no patrimônio do funcio-
nário são as da lei vigente ao tempo do requerimento da 
aposentadoria."5 
Seguindo a mesma linha jurisprudencial que já se esboça-_ 
va, o Egrégio TJSP, em 31/8/1971, pelo voto do Des. Cordeiro 
Fernandes, deixou assentado que: 
"O princípio do respeito ao direito adquirido constitui, 
sem dúvida, entre nós, uma das categorias integrantes da 
concepção filosófica que inspirou a Constituição. 
O direito à aposentadoria se adquire no momento em que se 
integram os elementos exigidos por lei para que o funcionário 
faça jus à sua concessão. ''6 
Do mesmo erudito voto ainda se extrai a lição seguinte: 
"O que o direito transitório protege é o próprio fato aqui-
sitivo, cuja eficácia jurídica não pode ser eliminada por 
uma lei diversa daquela sob a qual ocorreu o fato (Cf. 
Paul Roubier, Le droit transitoire) 2eme édition, 1960, n. 41, 
p. 185 et seq. )."7 
4 BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Op. cit.) v. 1, p. 285. 
5 RTf 32/449. 
6 RT442/65. 
7 RT 442/65. 
43 
"Lei posterior que viesse a atribuir ao mesmo fato efeitos 
diversos, ou lhe recusasse a potencialidade de produzir os 
efeitos segundo a lei do tempo em que se consumou era 
apto a produzir (sic), estaria pretendendo, precisamente, a 
retroatividade que a nossa Constituição declara ilegíti-
ma" (RT 442/67).8 
No volume Direito Administrativo, reuniu o Prof Fran-
cisco Campos, muito dos pareceres com que contribuiu para o 
enriquecimento do Direito Público no Brasil. 
Formulou-se ao culto jurista a seguinte indagação: 
"Na mesma data em que adquiriu direito à aposentado-
ria, não adquiriu, ipso facto, o direito aos proventos atribu-
ídos à inatividade pela lei em vigor na data em que foi 
adquirido o primeiro desses direitos?" 
A resposta de Francisco Campos foi incisiva: 
" ... o funcionário adquire o direito à sua concessão nos ter-
mos e com as vantagens constantes da lei então em vigor."9 
"Nesse momento (da concessão da aposentadoria), o fun-
cionário adquire um direito contra o Estado, ou o direito 
de ser colocado na inatividade com as vantagens assegu-
radas na legislação em vigor ao tempo em que o direito 
foi adquirido."10 
O ilustre professor mineiro alicerçou o seu parecer nos 
ensinamentos de Ferrara: 
"Ogni rapporto e conformato secando la legge del tempo della sua 
nascita." 
8 RT739/86. 
9 CAMPOS, Francisco. Direito administrativo, v. II, p. 130-131. 
10 Op. cit., V. II, p. 131-132. 
44 
<71 principio della irretroatività non solo lascia incolumi gli ejfetti 
esauriti e conserva quelli in corso ma mantiene anche la 
potenzialità del fato giuridico di produrre ulteriori ejfetti anche 
sotto il dominio della legge successiva))11 
Valeu-se ainda o professor mineiro das lições de Léon 
Duguit (1859-1928), GastonJeze (1869-1953) e Rafael Bielsa.12 
O Min. Alfredo Buzaid, então autor de nosso atual Códi-
go de Processo Civil, e já como integrante do STF, em lapidar 
voto, deixou assim assentado, em 28/6/1984, no RE 95.519-DF. 
"Parece-me, pois, que o v. acórdão do E. TFR ofendeu o 
direito adquirido do recorrente. A Constituição da Repú-
blica, no art. 153 dos direitos e garantias individuais, 
dispõe que § 3 ° A lei não prejudicará o direito adquirido, 
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. ' 
Esta cláusula constitucional, enunciada por tal modo, 
veio resolver cientificamente o conhecido problema da 
irretroatividade das leis. 
Com efeito, todos sabem que a lei é feita para valer para o 
presente e para o futuro, não devendo, de ordinário, atingir 
atos ou fatos ocorridos no passado. A doutrina fundamen-
ta esta regra geral, apresentando argumentos políticos, so-
ciológicos e jurídicos. Diz-se que uma lei vale só para o 
futuro, justamente porque a sua eficácia nasce depois de 
sua promulgação. Os romanos expressaram esta idéia com 
as palavras: Quid cumque Jurisprudencia tematica civil post hanc 
legem rogatam (Cícero, Pro Rabir, VII, 14; D.35.2.1). Se ela 
estendesse os seus efeitos aos fatos pretéritos) isso significaria que ela 
adquiria existência e eficácia quando ainda não existia. Portanto, 
os atos e fatos passados se regem pela lei sob cujo império 
11 Op. cit., p. 133, 137. 
12 BITTENCOURT, Mário Diney Corrêa. Aposentadoria de servidor público. Ato 
jurídigo perfeito. Direito adquirido ... RT739/145-155. 
45 
ocorreram ou tiveram nascimento (Ferrara, Tratatto di 
Diritto Civile Italiano, I, 257)".13 
Prossegue em sua argumentação o Min. Buzaid: 
"4. Uma sadia política não consente que o legislador possa 
destruir o passado, tornando inválidos os atos legitima-
mente praticados sob o regime das leis então exi;t~ntes, 
porque criaria grave incerteza sobre o valor e eficac~a das 
relações jurídicas, instituiria o perigo permanente da insta-
bilidade dos negócios e ludibriaria a esperança dos povos, 
que confiaram na promessa e na mensagem do legislador 
(Cunha Gonçalves, Tratado de Direito Civil) I/342). O Esta-
do, sendo o guardião da ordem jurídica, estaria em contra-
dição consigo mesmo, se nas relações jurídicas, bem co~o 
direitos e obrigações criados sob a proteção de suas leis .e 
sob a sua garantia, quisesse depois, arbitrariamente, desti-
tuir-lhes a eficácia (Ferrara, op. cit.) I/257 et seq. ). 
Diziam os romanos que absurdum esse~ id quod recte factum es~ 
ab eo quod nondum eratposteasubverti (Nov. 66, cap. I, § 4°)".14 
Continua em seu voto o Ministro relator: 
1 
"Este problema começou a preocupar a civilização ocidental 
desde o Direito Romano. Foi sob a legislação do Baixo Impé-
rio que o princípio recebeu expressa s~n~ão legal, e~ ~ma 
constituição dos Imperadores Teodosio e Valentmiano 
(C.1.14.7).Justiniano repete a norma da irretroatividade das 
leis em várias novelas, a mais importante das quais é a n. 22, 
cap. I. A regra passou para a legislação moderna através do 
Direito Canônico (Decretales Gregorii Papae, IX, c.10) e do 
Direito Feudal e outros direitos particulares formados na 
Europa ( Gabba, Teoria della Retroattività delle Leggi. 3. ed., I/ 46 
13 RT591/259. 
14 RT591/260. 
46 
et seq.; Limongi França, A Irretroatividade das Leis e o Direito 
Adquirido, p. 25 et seq. ) recebendo uma vigorosa afirmação 
nos primórdios do século XIX (Henri de Page, Droit Civil 
Belge, I/267)."15 
O direito adquirido tem sua trajetória histórica iniciada 
com a Carta Política do Império, de 25/3/1824, em seu Tít. VII, 
ao dispor sobre as garantias dos direitos civis e políticos dos 
cidadãos brasileiros, a qual assim dispunha: "Art. 179, § 3°. A 
sua ( da lei) disposição não terá efeito retroativo". 
Do mesmo teor era a norma do art. 11, 3°, da Constitui-
ção da República, de 24/2/1891, a qual vedava aos Estados e à 
União "prescrever leis retroativas". 
Por seu turno, a Constituição de 16/7 /1934, em seu art. 
113, 3, assim dispôs: "A lei não prejudicará o direito adquirido, 
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada". 
A Carta Outorgada de 1937 é omissa, no que é compreensí-
vel, diante da natureza do regime que então se instalou no País. 
A Constituição de 1946, que foi o marco por excelência 
da redemocratização do país, em seu art. 141, § 3 °, repete o 
texto de 1934. 
Não puderam trilhar outra rotaa Constituição de 1967 e 
Emenda n. 1 de 1969. 
Por fim a Constituição, de 5/10/1988, respeitou a tradição 
do Direito Brasileiro, em seu art. 5°, XXXVI: "a lei não prejudica-
rá o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada." 
Não se pode olvidar que, para evitar que o ato de legislar 
se transforme em instrumento de opressão e anarquia, o princí-
pio da não-retroatividade exclui a possibilidade de a lei nova vir 
a ser elemento de desordem, ferindo injustamente situações 
consolidadas, nascidas sob o império da lei anterior, trazendo 
ao contrário do que dita a natureza da lei, uma verdadeira 
intranquilidade à sociedade que rege. 
15 RT 591/260. Apud BUZAID, Alfredo. RT 591/257. 
47 
Veja a propósito a lição de Paulo Dourado Gusmão, em 
seu livro Introdução ao Estudo do Direito, verbis: 
"Constitui perigo para a segurança jurídica, ameaçando 
permanentemente as garantias .individuais, a P:ópria ?r-
detn social e os interesses públicos, sendo motivo de m-
certeza para as relações jurídicas."16 
É também Paulo Dourado Gusmão que ensina haver sido 
o eminente jurista italiano Gabba: 
"quem precisou a noção dos mesmos (os direit~s a"dquiri-
dos) como sendo o direito que faz parte do patnmomo de 
uma pessoa, por força da lei, ou de fato voluntário verifi-
cado na vigência da lei derrogada, cujos efeitos podem 
produzir-se ainda no futuro, quando a lei que o constitui 
já tiver sido abolida."17 
Ainda sobre o tema, disserta o ilustre professor: 
"Procurando fugir às dificuldades criadas pela noção de 
direito adquirido, alguns juristas preferiram substituí-la 
pela de 'fato perfeito'. Nesse sentido, a nova lei não deve 
regular os fatos realizados na vigência da lei abolida.. , 
A teoria dos fatos consumados parte, portanto, do prmc1-
pio de que todo fato jurídico, realizado na vigência. de 
uma lei, será por ela regulado, mesmo no caso de vir a 
produzir efeitos sob o império de outra lei."18 
Defendendo a mesma tese o Prof. Daniel Coelho de Souza, 
da Universidade do Pará, em seu livro Introdução ao estudo do 
Direito, 19 discute a teoria dos direitos adquiridos, seu prestígio na 
16 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao estudo do direito> p. 164. 
17 Op. cit.) p. 164-165. 
18 Op. cit.) p. 165. . . , . . , . 
19 SOUZA, Daniel Coelho. Introdução ao estudo de direito: tecmca JUnd1ca, p. 379. 
48 
obra de Lassale, Gabba e Baudry-Lacantinerie. Faz observações 
sobre os que a criticam, mas não deixa de concluir: "Lei nova, 
versando sobre situação jurídica objeto de lei anterior, aplica-se 
até onde não importe ofensa ao direito adquirido".2º 
Veja ainda a respeito do atraente tema a doutrina do Prof. 
Paulino Jacques. 
Com apoio nos ensinamentos do Min. Carlos Maximi-
liano (1873-1960), escreve o Prof. Paulino Jacques, sobre a 
irretroatividade das leis, em seu Curso de Introdução à Ciência 
do Direito, Forense, 1967, verbis: 
"Na antiguidade oriental, nomeadamente no direito chi-
nês e hindu, a regra geral era a de retroatividade da lei, 
mesmo que prejudicasse, porque, sendo ela a expressão da 
vontade e do interesse do monarca, o seu campo de inci-
dência não tinha limites nem temporais nem espaciais. 
Com o advento do Estado de direito - obras da revolução 
anglo-franco-americana (1689-1789-1776) - o princípio 
da irretroatividade foi elevado à categoria de norma cons-
titucional". 21 
Repete Paulino Jacques a conhecida frase atribuída a 
Maximilien Robespierre (1758-1794) de que o efeito retroativo 
dado à lei é um crime. 
O Prof. Washington de Barros Monteiro,22 ensina a res-
peito do tema direito adquirido, ad litteram: 
"A lei é expedida para disciplinar fatos futuros. O passa-
do escapa a seu império. 
O princípio da não-retroprojeção constitui um dos 
postulados, que dominam a legislação contemporâ-
20 Op. cit.) p. 415. RT739. 
21 JACQUES, Paulino. Cursodeintroduçãoàciênciadodireito. Rio de Janeiro: Forense, 
1967, p. 114. 
22 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civi~ v. 1, p. 31. 
49 
nea. Na frase de Grenier, esse princípio é a própria 
moral da legislação)) 
Dissertando sobre o princípio da irretroatividade das 
normas, escreveu Washington de Barros Monteiro: 
"Esse princípio chegou outrora a ser considerado de di-
reito natural, corresponde a uma justiça superior. 
Bartolo não hesitou em dizer que, embora com preceito 
expresso em contrário, não podiam as leis projetar seus 
efeitos no passado. " 
Prossegue, em sua exposição, o insigne magistrado e pro-
fessor, no pertinente às leis retroativas: 
"Walker, citado por Barbalho, afirmava que leis retroati-
vas só tiranos as fazem e escravos se lhes submetem. A 
retroatividade, proclamou-a Benjamin Constant, arreba-
ta à lei seu caráter; lei que retroage não é lei . 
... Efetivamente, sem o princípio da irretroatividade, 
inexistiria qualquer segurança nas transações, a liberdade 
civil seria um mito, e estabilidade patrimonial desapare-
ceria e a solidez dos negócios seria sacrificada, para dar 
lugar a um ambiente de âpreensões e incertezas, impreg-
nado de intranqüilidade e altamente nocivo aos superio-
res interesses do indivíduo e da sociedade. Seria a nega-
ção do próprio direito, cuja específica função, no dizer de 
Ruggiero-Maroi, é tutela e garantia".23 
Sobre direito adquirido assim já ponderou]. X. Carvalho 
de Mendonça: 
"A lógica e a justiça exigem que as leis regulem s?mente 
as relações jurídicas que surgirem no futuro. E regra 
23 Op. cit.) V. 1, P· 31-33, 
50 
fundamental, garantia de liberdade e dos direitos 
patrimoniais do indivíduo, a sobrevivência da lei antiga 
para regular os atos já realizados ou em curso ao tempo 
da lei nova". 24 
Comentando o art. 153, § 3. o, da EC n. 1, de 1969, 
escreveu o Prof. Manoel Gonçalves Ferreira Filho: 
"Este dispositivo tem por objetivo dar segurança e certeza 
às relações jurídicas, conseqüentemente aos direitos assu-
midos pelos indivíduos. ( ... ) 
Haveria gravíssima insegurança, a ameaçar os próprios 
fundamentos da vida social, se tais atos pudessem ter a 
sua validade, a qualquer tempo, reposta em discussão, 
se a decisão dos tribunais sempre pudesse ser impugna-
da e reimpugnada, se a existência dos direitos fosse a 
cada passo renegada. Tal ocorreria se se admitissem leis 
retroativas. 
Os atos normativos primários não podem aplicar-se a 
fatos e atos já passados, produzirão efeitos apenas para 
o futuro". 25 
Os únicos a negar a prevalência do direito com assento 
no princípio da irretroatividade da lei são os partidários do 
Estado Forte numa tentativa vã de aviltá-lo ou mesmo aniquilá-
lo. Por isso mesmo é que os totalitarismos, mesmo antagônicos, 
dão as mãos em única corrente. Os prosélitos dos regimes de 
força demonstram instintiva ojeriza à teoria dos direitos adqui-
ridos. No Brasil, o exemplo histórico dessa aversão pode ser 
deduzido do silêncio sepulcral da Carta de 1937, quando dei-
xou de cuidar do direito adquirido. 
24 CARVALHO DE MENDONÇA,]. X. Tratado de direito comercial> v. 1, p. 214. 
25 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição brasileira> v. 3, 
p. 77-78. 
51 
Logo,, com assento tanto na doutrina mais abalizada 
qµanto 11a, mais moderna teoria, implementadas as condições 
d.e fato para aquisição do direito, esse torna-se um actus perfectus 
(Oswaldo Aranha Bandeira de Mello), criando para o titular o 
direito adquirido à situação jurídica constituída sob o império 
da lei ent.ão vigente. 
52 
Capítulo VII 
SÚMULAS EJURISPRUDÊNCIA 
Súmula n. 473 do STF - A administração pode anular 
seus próprios atos,. quando eivados de vícios que os tornam ile-
gais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por 
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direit.os 
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. 
Súmula n. 359 do STF - Magistrado - Aposen.tadoria 
voluntária - Expeáativa de direito e direito adquirido -
Proventos da inatividade - Sujeição à lei do tempo em que o 
servidor público, tendo satisfeito os necessáriosrequisitos, re-
quereu a medida declaratória. Recurso não provido. 
- Aposentadoria - Direito adquirido - Se, na vigência da 
lei anterior, o funcionário preenchera todos os requisitos exigi-
dos, o fato de, na sua vigência, não haver requerido a aposenta-
doria não o faz perder o seu direito, que já havia adquirido. 
Ementa: Recurso extraordinário. Lei n. 7.730/89. Plano 
Verão. Reajuste de 26j 05%. Direito adquirido. Inconstitucio-
nalidade. 1. O Plenário desta Corte reiterou o entendimento 
de que não há direito adquirido a vencimentos de funcionári-
os públicos, nem direito adquirido a regime jurídico instituí-
53 
do por lei. Em se tratando de norma de aplicação imediata, 
esta não alcança vencimentos já pagos, ou devidos pro labore 
facto. 2. Reajuste de salário pela variação da URP (26, 05%), a 
ser computada no mês de fevéreiro de 1989. Direito adquirido 
e conseqüente inconstitucionalidade inexistentes. Recurso ex-
traordinário conhecido e provido. Partes (Recte.: Banco Eco-
nômico S/ A. Advdos.: José Maria de Souza Andrade e outros 
Recdo.: Sindicato dos Bancários da Bahia Advdos.: José 
Eymard Loguércio e outros). 
Servidor público - Tempo de serviço - Legislação estadu-
al que admitia o côtnputo do tempo de serviço prestado a esta-
belecimento particular de ensino, para os efeitos de aposenta-
doria e disponibilidade - A lei posterior, que revoga essa conta-
gem, não pode retroagir para suprimi-la em relação aos que 
adquiriram esse direito ao cômputo, na vigência da legislação 
permissiva - Direito adquirido - Precedentes do Supremo Tri-
bunal Federal - Recurso extraordinário conhecido e provido em 
parte - Provido em parte (RTJ v. 86-03, p. 689). 
Ementa: Constitucional - Administrativo - Servidor pú-
blico - Estado de Santa Catarina - Estabilidade financeira -
Direito Adquirido. 
I -A estabilidade financeira do servidor público, que não 
se confunde com o instituto da agregação, não é ofensiva ao 
princípio constitucional da vedação de vinculação ou equipara-
ção de vencimentos: ADin 1.264-SC, Pertence; RE 88.896-MG, 
M. Alves, RT]98: 758. 
n - Os servidores, mediante a satisfação de requisitos 
inscritos em lei, são titulares do direito à estabilidade financei-
ra. Lei posterior pode, é certo, extinguir ou transformar os car-
gos ou funções que vinham sendo exercidos ou que foram exer-
cidos pelos servidores, não, entretanto, afrontar o direito destes. 
III - R. E. não admitido. Agravo não provido. (Agte.: Esta-
do de Santa Catarina. Agdo.: Mauro da Silva e outros). 
54 
Ementa: Constitucional - Administrativo - Militar -
Gratificação incorporada - Direito adquirido. 
I - Gratificação incorporada aos proventos, por força de 
lei. Sua redução ou extinção, por ter sido absorvida numa poste-
rior majoração de vencimentos e de proventos. Inexistência de 
direito adquirido, na forma da jurisprudência do STF. 
II - Ressalva do ponto de vista pessoal do relator em 
sentido contrário. 
III - R. E. conhecido e provido. (STF. Relator Min. Carlos 
Mário Velloso. Partes: Recte.: União Federal. Recdo.: Edgard 
Baptista de Mattos e outros). 
Ementa: Constitucional - Administrativo - Servidor pú-
blico - Estado de Santa Catarina - Estabilidade financeira -
Direito adquirido. 
I - A estabilidade financeira do servidor público, que não 
se confunde com o instituto da agregação, não é ofensiva ao 
princípio constitucional da vedação de vinculação ou equipara-
ção de vencimentos (STF, Relator Ministro Carlos Velloso, 
ADin 1264-SC, Pertence; RE 88.896-MG, M. Alves, RTJ98/758). 
II - Os servidores, mediante a satisfação de requisitos 
inscritos em lei, são titulares do direito à estabilidade financei-
ra. Lei posterior pode, é certo, extinguir ou transformar os car-
gos ou funções que vinham sendo exercidos ou que foram exer-
cidos pelos servidores, não, entretanto, afrontar o direito destes. 
III - R. E. não admitido. Agravo não provido. (Partes agte.: 
Estado de Santa Catarina. Agdos.: leda de Araújo Figueiredo e 
outros. Advdos.: Marcelo Azevedo dos Santos e outros). 
Ementa: Não fere direito adquirido de policiais militares 
inativos a lei estadual que suprime o pagamento de "indenização 
de representação", mediante a incorporação, ao soldo, do respec-
tivo valor, em cruzeiros. Recurso extraordinário de que se conhe-
ce, e a que se dá provimento por haver o acórdão recorrido, no 
reconhecer o suposto direito adquirido, violado o art. 153, § 3 °, 
da Constituição de 1967 (Supremo Tribunal Federal. Ministro 
Rel. Min. Octavio Gallotti, RT_h v. 1646-3, p. 429). 
55 
Ementa: 1. Promoção ou qualquer vantagem prevista 
na carreira do funcionário público não constitui direito ad-
quirido enquanto não subjetivada. Extinta a carreira, não se 
pode cogitar de. direito à promoção ou vantagem se esta não 
foi atribuída ao sujeito. 2. Lei de introdução ao Código Civil, 
art. 6, § 2 °. 3. Expectativa de direito. 4. Agravo regimental a 
que o STF nega provimento. (STF Proc.: Ag53498 -Ag. de inst. 
ou de petição - São Paulo. Relator: Ministro Antonio Neder. 
Julgamento: 1973/8/31 - Segunda turma. D] 19/10/73). 
- Aposentadoria - Direito adquirido - Se, na vigência da lei 
anterior, o funcionário preenchera todos os requisitos exigidos, o 
fato de, na sua vigência, não haver requerido a aposentadoria não 
o faz perder o seu direito, que ja havia adquirido -"' Embargos 
recebidos - Alteração da Súmula 359, para se suprimirem as 
palavras, inclusive à apresentação do requerimento, quando a 
inatividade for voluntária - STF - Proc.: ERE 72509 classe: ERE -
embargos em recurso extraordinario. Uf/País: PR - Paraná. 
Relator: Ministro Luiz Gallotti. julgamento: 1973/2/14 - Tribu-
nal pleno. Publicações: D] 30/3/73 p. 1921; ement v. 904-01, p. 
285, RI]; v. 64-03, p. 408. Observação: Conhecidos por maioria e 
recebidos por unanimidade, os atos administrativos de que resul-
tam direitos, a não ser quando expedidos contra disposição ex-
pressa de lei, são irrevogáveis. (STF Proc.: MS 12512 - Mandado 
de Segurança - Distrito Federal. Relator: Ministro Lafayette de 
Andrada - Julgamento: 1964/7 /22, publicações: D] 1/10/64 p. 
3543, ement; v. 596-01, p. 296. Observação: Por maioria - Resul-
tado: Concedido). 
Ementa: Funcionário público - Aposentadoria - Se na 
vigência da lei anterior o servidor (no caso magistrado) preen-
chera todos os requisitos exigidos, o fato de na sua vigência não 
haver requerido a aposentadoria não o fez perder o seu direito 
que já estava adquirido. Recurso extraordinário conhecido tnas 
não provido. (STF-Rtl v. 48-01, p. 392). 
56 
A Administração pública pode rever os próprios atos; o que 
não pode é, com isso, violar os direitos adquiridos (RDA, 47: 72). 
Preenchidas as condições previstas em lei, o funcionário 
público adquire o direito à aposentadoria (RDA, 109: 112). 
O direito à aposentadoria se considera adquirido pela 
satisfação de todos os seus pressupostos, antes da vigência de lei 
nova, modificando-os (RDA, 104: 188). 
O funcionário público adquire direito à aposentadoria 
com a satisfação de seus pressupostos ainda que a requeira após 
o advento de lei nova que os modifique (RDA, 111: 191). 
Acidente do trabalho - Lei n. 8.213/91 - Vigência -
Retroação a 5 de abril daquele ano - Inadmissibilidade -
inconstitucionalidade do seu art. 145. 
A retroatividade prevista no art. 145, caput, da Lei n. 
8.213/91 é constitucionalmente vedada, porque agressora do 
direito adquirido à equivalência salarial. 2 ° Tribunal de Alçada 
Cível de São Paulo. Ap. s/ Rev: 344.872 - 4ª Câm. - Rel. Juiz 
Rodrigues da Silva- ].26/7/93,]TA (LEX) 150: 321). 
Acidente do trabalho - Servidor público federal - Siste-
ma protetivo - Evento ocorrido quando protegido pela Lei n. 
6.367 /76 - Posterior incorporação ao serviço público federal -
Irrelevância - Direito adquirido à aplicação da lei vigente na 
data do infortúnio. 
Se à época do acidente o obreiro estava sob a proteção 
acidentária da Lei n. 6.367/76, este é o regime jurídico que deve 
orientar a concessão do benefício,pouco importando sua poste-
rior incorporação ao Serviço Público Federal por disposição da 
Lei n. 8.162/91. Assim sendo, o INSS é parte legítima para figurar 
no pólo passivo da demanda e descabida a denunciação da lide à 
União Federal. (2 ° Tribunal de Alçada Cível de São Paulo Ap. 
s/Rev. 405.878 - 11 ª Câm. - Rel. Juiz Clovis Castelo - J.23/6/94 
Acervo Jurídico para Informa 4 For Windows, Edição 13). 
57 
Locação - Contrato - Trato sucessivo - Superveniência 
do plano real - Aplicação imédiata. 
Em contrato de execução continuada é admissível a inci-
dência de lei nova que altere a substância da moeda desde que 
não seja vulnerado o ato jurídico perfeito e o dieito adquirido. 
(2° Tribunal de Alçada Cível de São Paulo MS 435.207 - 2ª 
Câm. - Rel. Juiz Batista Lopes - 7 /8/95 Acervo Jurídico para 
Informa 4 For Windows, Edição 13). 
Recurso - Preparo - Intimação da sentença anterior à Lei 
n. 8.950 de 13/12/94 - Deserção relevada 
Intimado da sentença na vigência do sistema anterior à 
Lei n. 8.950/94, ao réu assegura-se o direito adquirido de ter 
processado seu recurso segundo as regras do sistema anterior, 
incluídas as do preparo, e não segundo as regras novas. (2 ° 
Tribunal de Alçada Cível de São Paulo Ap. s/ Rev. 440.473 - 4ª 
Câm. - Rel. Juiz Celso Pimentel - J.21/11/95 Acervo Jurídico 
para Informa 4 For Windows, Edição 13). 
Locação - Direito de preferência - Contrato registrado 
antes da vigência da Lei n. 6.698/79 - Direito adquirido reco-
nhecido - Inaplicabilidade do§ l O do art. 25 da Lei n. 6.649/79. 
-A exigência contida no§ 1 ° do art. 25 da Lei n. 6.649/79 
não incide sobre o contrato' de locação levado a registro 
anteriormente à vigência da Lei n. 6.698/79, que acrescentou o 
referido parágrafo ao artigo citado. A lei não pode prejudicar o 
direito, em face do disposto no art. 153, § 3° da CF. Em tal 
circunstância, o direito real de preferência do locatário na aqui-
sição do imóvel locado torna-se· exercitável de acordo com o 
disposto no caput do art. 25 da Lei do Inquilinato. (2 ° Tribunal 
de Alçada Cível de São Paulo Ap. 145.949 - 3ª Câm. - Rel. Juiz 
Roberto Grassi - J.22/6/82, ]TA (RI) 77: 283. Referência: Paul 
Roubiep - Le Droit Transitoire, págs.304/305 Paulo De Lacerda -
"Manual", págs.138/139 e 142). 
Ementa: Militar - Promoção - Ato de bravura. A promo-
ção do militar por ato de bravura, prevista nos arts. 48, 49 e 50, 
58 
da Lei n. 5.940/69, constitui direito adquirido do servidor e, 
uma vez demonstrado o suporte fático pela comissão de 
sindicância, com o reconhecimento do direito à promoção não 
pode o administrador público negar o benefício. (TJPR, Ap; n. : 
10418-Rel.: Des. Walter Borges Carneiro, 4ª Câmara Cível, Acer-
vo Jurídico para informa 4 for windows, edição 13). 
Ementa: Ação rescisória - Funcionário público estadual 
- Gratificação pela prestação de serviço extraordinário - Incor-
poração aos proventos da inatividade - Aplicação da Lei n. 
6.794/76 - Direito adquirido. Colhe-se dos autos que o réu 
preencheu todos os requisitos previstos em lei, para fazer jus a 
incorporação que lhe foi deferida no julgado que o autor objeti-
va desconstituir - Dita lei poderia, como sucedeu, ser irtterpre-
tada retroativamente, considerando que o servidor aposentado 
anteriormente à entrada em vigor da lei, já se encontrava na 
situação por ela prevista. Ação improcedente (Ação rescisória n. 
2236 - Relator: Des. Plínio Cachuba, Acervo Jurídico para Infor-
ma 4 For Windows, Edição 13). 
Direito adquirido por força da Constituição) obra do Poder Cons-
tituinte originário) há de ser respeitado pela reforma Constitucional) 
produto do Poder Constituinte instituído) ou de segundo grau) uma vez 
que este é limitado e condicionado pela Constituição. 1 
Ementa: Certidão negativa de débitos - CND - Receita 
Federal e INSS - Pessoa jurídica alienante - Direito adquirido""'" 
Ato complexo - Tempus regit actum - Princípio de inscrição -
Fonte: 035714-0/0 - Data: 24/2/97 - Localidade: Osasco -
Relator: Márcio Martins Bonilha - Legislação: Lei n. 8.212/91. 
1. O título notarial lavrado anteriormente à Lei da Previ-
dência Social, em que é alienante pessoa jurídica, quando leva-
do a registro acarretará a necessidade de apresentação da CND 
1 CRETELLAJÚNIOR,José.Jurisprudência administrativa. Rio de Janeiro: Forense, 
1996, p. 76. 
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do INSS e da Receita Federal, sob pena de responsabilidade 
civil, administrativa e penal do serventuário. 2. O registro sendo 
ato complexo ( título somado a registro), somente gerará direito 
adquirido se decorrido por inteiro, com todos os seus elemen-
tos constitutivos, na pendência da lei a que é contemporânea: 
tempus regit aâum. 3. A CND do INSS poderá ser dispensada se o 
Instituto figurou no título como anuente à venda. 
Ementa Oficial: Registro de Imóveis,... Dúvida - Escritu-
ra de venda e compra lavrada no ano de 1986 - Apresentação a 
registro na vigência da Lei n. 8.212/91 - Necessidade de apre-
sentação de certidão negativa de débitos junto à Receita Federal 
- Inexistência de direito adquirido, em ato complexo não con-
sumado por inteiro - Aplicação da lei vigente ao tempo do 
registro .e: Registro inviável - Recurso improvido.2 
STF - Execução - Penhora - Imóvel residencial - Aplica-
ção da Lei n. 8.009 /90 para tornar o bem impenhorável -
Admissibilidade, pois antes da alienação do imóvel o credor só 
tem a mera expectativa de direito - Inexistência de ofensa ao 
direito adquirido.3 
STJ - Fraude à Execução - Inocorrência - Ausência de regis-
tro no cartório competente da penhora incidente sobre o imóvel -
Inexistência de má-fé do adquirente, uma vez não demonstrado 
que este tinha ciência da constrição sobre o bem adquirido.4 
STF - Contrato - Avença que se submete à legislação 
vigente na época de sua celebração - Atojurídico perfeito prote-
gido pelo princípio do direito adquirido - Inteligência do art. 
5°, XXXVI, da CF. Contrato - Aplicação de lei nova sobre os 
efeitos futuros de avença preexistente - Inadmissibilidade -
2 Site da Internet www. webvoice. com. sosforense 
3 Site Jurídico www.rt.com.br 
4 Site Jurídico www.rt.com.br 
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Cláusula constitucional que tutela a intangibilidade das situa-
ções jurídicas consolidadas - Contrato - Intervenção do Estado 
no domínio econômico em face de lei de ordem pública 
superveniente à avença - Motivo que não justifica o desrespeito 
estatal à CF, por tratar-se de ato jurídico perfeito protegido por 
norma constitucional -Aplicação da norma do art. 5°, XXXVI, 
da Carta Política - Caderneta de poupança ~ Contrato de depó-
sito - Celebração antes da vigência da Lei n. 7.730/89 -
Irretroatividade - Inteligência do art. 5°, XXXVI, da CF.5 
STF - ICMS - Isenção - Acordo entre contribuinte e 
União celebrado sob o pálio da Constituição pretérita - Benefí-
cio que não pode ser revogado pela atual Carta Magna - Exis-
tência de direito adquirido por tratar-se de isenção de natureza 
contratual - Inteligência do art. 41, § 2°, do ADCT e art. 5°, 
XXXVI, da CF.6 
STF - Contrato Administrativo - Reajustamento de pre-
ço - Edição de norma retroativa alterando suas regras em bene-
fício de particular - Admissibilidade - Princípio do direito ad-
quirido que não constitui causa de impedimento da medida -
Ausência de ofensa ao art. 5°, XXXVI, da CF.7 
TJPR - Mandado de Segurança - Impetração contra ato de 
Prefeito - Revogação de lei que concedia isenção de impostos por 
determinado lapso temporal - Admissibilidade da via da segu-
rança, tendo em vista a violação ao princípio constitucional do 
direito adquirido - Mantida a sentença que concedeu a segurança 
- Inteligência dos arts. 5°, XXXVI; da CF e 178 do CTN. 8 
TRF - Servidor Público - Vencimentos - Exclusão das 
vantagens pessoais para fins do teto constitucional - Irretroati-
5 Site Jurídico www.rt.com.br 
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7 Site Jurídico www.rt.com.br 
8 Site Jurídico www.rt.com.br 
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vidade da Lei n. 8.852/94, que não pode atingir quem já tenha 
adquirido direito a tal exclusão

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