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PATOLOGIA DO SISTEMA TEGUMENTAR Profa. Angelica T Barth Wouters - 2015 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS A pele constitui um dos maiores e importantes órgãos do corpo. Tem função de proteção contra agressões físicas e químicas, impede perda de fluidos e eletrólitos, participa da regulação da temperatura e da pressão sanguínea, produz vitamina D, tem ação sensorial, de armazenamento (gordura, água, vitaminas, carboidratos, proteínas) e tem também função absortiva. Além disso, os ceratinócitos são fonte de citocinas e peptídeos antimicrobianos, por isso a pele é considerada parte integrante do sistema imunológico. Morfologicamente a pele é constituída por epiderme, derme, tecido subcutâneo e anexos (folículos pilosos e glândulas sebáceas, sudoríparas e outras). A estrutura histológica sofre variações de acordo com a região do corpo e entre espécies animais. Apresenta porções sem pelos (pele glabra) e com pelos (pele hirsuta). A pele hirsuta é mais espessa nas porções dorsais do corpo e nos membros, e mais delgada na porção ventral e na face medial dos membros. Por outro lado, a epiderme é mais delgada na pele com cobertura pilosa e mais espessa em áreas glabras, como coxins e focinho. Animais de grande porte geralmente apresentam pele mais espessa que pequenos animais. A epiderme de áreas hirsutas apresenta quatro camadas ou estratos – basal, espinoso, granuloso e córneo, a partir da membrana basal. Na pele glabra há ainda o estrato lúcido, entre o granuloso e o córneo. Os ceratinócitos originam-se das células germinativas do estrato basal e ascendem e se diferenciam em cada camada, sendo descamadas em cerca de um mês, período que pode reduzir no curso de algumas doenças da pele. Os melanócitos, células derivadas da crista neural, estão presentes no estrato basal e no espinhoso, e tem por função sintetizar melanina, que confere pigmentação à pele e aos pelos, e proteção contra efeitos maléficos da radiação ultravioleta. 2. PORTAS DE ENTRADA Podem ser portas de entrada de agentes na pele: Na epiderme - absorção através do estrato córneo, traumatismos penetrantes, incluindo injeção, penetração de radiação UV, calor, frio, substâncias irritantes e/ou cáusticas; a pele só se torna porta de entrada eficiente para agentes microbianos quando a barreira é danificada por trauma, umidade excessiva, calor ou frio, ou quando há dano à microbiota normal. Há agentes que podem penetrar e atravessar epiderme intacta, como larvas de Ancylostoma spp., ácaros causadores de sarna, cercárias de Shistosoma sp. (importantes em humanos), Leptospira interrogans. Nos anexos pode haver penetração de agentes através da abertura folicular e quando há ruptura de folículos e glândulas anexas; Em derme e panículo pode ocorrer através de vasos (hematógena), nervos (migração pelos gânglios, ao longo de nervos sensoriais para as células epiteliais). Mecanismos de defesa. A pele apresenta vários mecanismos de defesa, como físicos e imunológicos. São exemplos de mecanismos físicos de defesa: folículos pilosos, pelos táteis, garras e chifres, estrato córneo, secreção de glândulas anexas, melanina, membrana basal e panículo adiposo. Quanto aos mecanismos imunológicos, precisam ser considerados os mecanismos da imunidade inata do organismo, que inclui o próprio estrato córneo, por impedir a aderência de patógenos, macrófagos, neutrófilos, células endoteliais, sistema de coagulação, cascata do complemento a imunidade adaptativa inclui células de Langerhans (derivadas de monócitos), linfócitos T e B, células endoteliais, queratinócitos, estes por produzirem citocinas e fatores de crescimento. Regeneração e reparo constituem também mecanismos de defesa do organismo a lesões, com formação de tecido de granulação (primeira e segunda intenção), reepitelização. Há algumas respostas a agressão comuns na pele, como exemplo; � Epiderme - hiperqueratose 2 � Derme - inflamação de interface � Folículo piloso - inflamação da luz folicular � Panículo - inflamação neutrofílica Dessa forma, há alguns padrões de resposta a agressões na pele; pela sua frequência em determinadas patologias, sua observação remete às mesmas, sendo importantes para o diagnóstico. São exemplos: � Pústulas/crostas – observadas em casos de Pênfigo, Epidermite exsudativa, Dermatofilose � Vesículas - Doenças virais (como Febre Aftosa e Estomatite Vesicular), Pênfigos � Necrose/ulceração da pele - Vasculite (resultam áreas de necrose isquêmica na pele), queimaduras, dermatite de contato por substância irritante � Descamação – Seborreia, deficiência de Zn e vitamina A � Hipopigmentação - Ex.: Deficiência de cobre em ruminantes, vitiligo � Alopecia - Distúrbios endócrinos (nestes casos a alopecia tende a ser bilateral e simétrica) � Nódulos drenantes - Ex.: Infecções profundas por bactérias ou fungos Exame da Pele. É fundamental o exame da pele para o diagnóstico mas, antes disso, deve se avaliar o histórico [deve incluir idade do animal, sexo, raça, alimentação, onde o animal fica/dorme, histórico reprodutivo (se adulto), distribuição das lesões, quanto tempo de manifestação clínica, evolução das lesões (=modificações no aspecto delas), se já teve outros episódios semelhantes, se há ou não prurido, se há/houve infestação por ectoparasitos (carrapatos, pulgas, piolhos), se convive com outros animais (da mesma espécie ou de outra), se há outros animais com manifestações clínicas relacionadas, uso de medicamentos e resposta]. Inspeção bem feita, raspado de pele, dosagem hormonal e outros procedimentos são condutas clínicas importantes e, em muitas situações, também a realização de biópsia. Evidente que há situações em que a biópsia é ferramenta importante para o diagnóstico, mas em outras ela pode ser dispensada. A biopsia é uma ferramenta importante quando de lesões cutâneas: � Cujo diagnóstico provável inclui opção por terapia com efeitos colaterais, isto é, confirmar o diagnóstico para então submeter o animal à referida terapia � Que são nodulares e/ou ulceradas sugestivas de neoplasia � Com evolução rápida e grave � Que surgem durante a terapia � Com múltiplos diagnósticos diferenciais Há diferentes métodos de biópsia. Ela pode ser excisional, sendo a lesão removida cirurgicamente. É empregada quando de alterações localizadas com suspeita de neoplasia. A biópsia por instrumento perfurante ou “punch” é usada em lesões disseminadas e superficiais, sendo indicadas coletas em mais de um local. Algumas dicas são importantes para a biópsia adequada, lembrando que coletas mal feitas resultam em necessidade de novas coletas, demora no diagnóstico e mais sofrimento para o animal em exame. � As amostras coletadas devem ser representativas das lesões. � Para áreas com pelos usar “punch” de 6 mm, no mínimo. � Na escolha dos locais para colheita de amostra deve se optar por bordas de lesões, incluindo porções afetadas e não afetadas. Se há lesões com crostas, estas devem ser incluídas nos fragmentos coletados. � Em casos de lesões superficiais, os locais para coleta não devem ser preparados cirurgicamente, apenas tosar ou cortar os pelos delicadamente, sem tricotomia, fricção excessiva para assepsia. � Eletrocautere não é indicado quando de lesões pequenas; seu uso causa artefatos nas bordas dos fragmentos. � Cuidado para não comprimir os fragmentos colhidos com pinça � A biópsia deve ser realizada antes de medicação com corticoides. 3 � A fixação é feita em solução de formol a 10% (1 parte formaldeído : 9 partes água - colocar 1 volume de material em volume de fixador 4 a 6 vezes maior). � Descrever os locais de coleta. A pele tem variações histológicas de acordo com a região corpórea, sendo importante identificar o local de coleta de amostras para interpretação correta dos achados. DOENÇAS CONGÊNITAS E HEREDITÁRIAS Alopecia e hipotricose congênitas Podem ocorrer na maioria das espécies domésticas. A hipotricose congênita geralmente é hereditáriae pode, inclusive, ser parte do padrão racial, como nos cães Pelado Mexicano e Cristado Chinês e nos gatos Sphinx. A hipotricose congênita hereditária, ocasionalmente observada em bovinos, pode estar associada a defeitos em outros locais, como dentes, timo e genitais. Neste caso os animais afetados geralmente acabam morrendo, pela inabilidade em alimentar ou mesmo por traumatismos, infecções e queimadura solar. A deficiência de iodo em animais gestantes pode resultar em hipotricose dos nascidos, em caprinos, por exemplo. Em bovinos a infecção de vacas pelo vírus da Diarreia viral bovina (BVD) também pode resultar em nascimento de bezerros com hipotricose, embora vários outros defeitos sejam mais importantes e frequentes nessa doença, como a hipoplasia cerebelar. Nos suínos, a infecção de fêmeas prenhas pelo vírus da peste suína clássica (PSC) pode induzir alterações semelhantes nos conceptos. Displasia do colágeno (=Astenia cutânea, Dermatosparaxe). Afeta várias espécies, geralmente a predisposição é herdada, sendo a displasia do colágeno mais frequentemente observada em cães. A pele é hiperextensível, frouxa e se rasga facilmente, com cicatrizes frequentes na pele dos animais afetados. A gravidade da doença varia entre espécies. Há alterações na síntese e no processamento do colágeno, com achado histológico de fibras colágenas delgadas e desorganizadas, mas pode não haver alterações histológicas nos casos suspeitos, sendo a clínica de importante valor diagnóstico. Avaliação histoquímica e microscopia eletrônica do colágeno da derme são ferramentas empregadas para a conclusão diagnóstica de displasia do colágeno. Mucinose. Há deposição de mucina na derme. A mucina é uma associação de proteína com ácido hialurônico e este é hidrófilo. Em caninos Shar-Pei a quantidade de mucina formando pregas na pele é característica racial, mas pode ser demasiadamente elevada, com complicações associadas. Animais com hipotireoidismo podem apresentar também mucinose, com mixedema na pele, em que há retenção de líquido; no hipotireoidismo o interstício torna-se hidrófilo. Epidermólise bolhosa (Doença do pé vermelho, Doença mecanobolhosa). Ocorre em ovinos, equinos, bovinos, bubalinos e caninos. Caracteriza-se por coesão frágil entre epiderme e derme, com desprendimento da epiderme a qualquer trauma, formando vesículas e bolhas. Animais afetados geralmente têm morte precoce, pela dificuldade em alimentar (também ocorrem lesões na mucosa oral), perda de fluidos e infecções bacterianas, além de dificuldade locomotora e até desprendimento dos cascos. Como tem caráter hereditário, investigar se há consanguinidade ou outros casos em animais com parentesco. Epiteliogênese imperfeita. Há falhas na formação da epiderme e dos anexos, com áreas lisas, avermelhadas, que sangram facilmente, pela falta da proteção da epiderme. Quando áreas extensas são afetadas ocorre desidratação; infecções bacterianas e miíases são também comuns, com sobrevida comprometida. A mucosa oral pode também estar afetada, o que interfere na alimentação. Tem caráter hereditário. DISTÚRBIOS DA PIGMENTAÇÃO Albinismo. Melanócitos estão presentes, mas há falhas de gravidade variada na síntese de melanina (o defeito está na ação da tirosinase, enzima responsável pela síntese de melanina a partir dos aminoácidos tirosina/fenilalanina, com resultantes amelanose, albinismo oculocutâneo e graus de 4 diluição pigmentar. Os animais afetados estão propensos a desenvolver câncer de pele por radiação UV e apresentam fotofobia quando os olhos são afetados. Felinos com hipomelanose melanocitopênica, que são brancos com íris azul, não têm melanócitos, pois estes não migraram da crista neural para a pele, apresentam também surdez, quando a cor da pelagem está associada à síndrome de Waardenburg, em que a falta de um gene causa surdez hereditária, sendo uma síndrome autossômica dominante. No equinos a determinação da pelagem é complexa, sendo o gene mais importante na determinação da pelagem o gene C. Na sua ausência o seu alelo cc é incapaz de formar pigmentos melânicos, sendo o produto considerado albino. Porém, os cavalos brancos (não são considerados albinos verdadeiros) são produzidos por outros mecanismos. Esses cavalos brancos têm pele despigmentada, mas os olhos são castanhos ou azuis, ou seja, tem albinismo parcial, causado por outro gene dominante, simbolizado por W. Estudos mostram que o gene W é letal, de modo que os homozigotos morrem precocemente. Assim, os cavalos brancos que existem e se reproduzem são heterozigotos e geram filhos brancos e não brancos. Hipopigmentação adquirida. Várias condições são acompanhadas de hipopigmentação da pele em equinos, como sensibilidade a picada de Culicoides, contato/atrito repetido com equipamentos (selas, cabrestos, arreios, ...) especialmente quando do uso de materiais contendo éter monobenzeno, que inibe a melanogênese. Despigmentação da pele e dos pelos pode decorrer de deficiência de cobre em bovinos e ovinos, abordada mais adiante, com as deficiências nutricionais. O Vitiligo é uma enfermidade em que há perda imunomediada de melanócitos, caracterizada pela formação de máculas que expandem gradualmente, sendo mais comum em caninos que em outras espécies animais. Na Síndrome uveodermatológica ocorre despigmentação bilateral da pele. É uma doença auto- imune, abordada com estas, mais adiante. DOENÇAS ASSOCIADAS AO MEIO AMBIENTE Agressões físicas e químicas. Incluem lesões induzidas por agentes físicos (traumas, escoriações, lacerações, frio, calor, radiação) e químicas (substâncias irritantes, cáusticas, que induzem lesões imunomediadas, ...) � Lesão actínica A Luz solar é composta por raios infravermelhos (RIV; comprimento de onda > 780 nm), luz visível (400-780nm), UV (UVA- comprimento de onda 320 – 400 nm; ondas longas, exposição excessiva induz sinais de envelhecimento precoce; UVB comprimento de onda 290 a 320nm, maior poder de mutação DNA; e UVC comprimento de onda < 290nm = ondas curtas, absorvidas na camada de ozônio). A radiação UV pode transmitir energia na forma de calor, elevando a temperatura da pele, induzindo queimadura solar. A luz visível contribui para a produção de radicais livres e, assim, induz a danos ao DNA indiretamente. Os níveis de radiação solar e sua ação têm relação com a integridade da camada de ozônio, com a nebulosidade média da região, altitude, latitudes, estabulação, tempo de exposição e, é claro, com a pigmentação da pele e dos pelos dos animais, sua densidade e o comprimento dos pelos. Assim, estão sob maior risco animais criados em regiões de camada de ozônio rarefeita, pouca nebulosidade na maior parte do ano, em regiões de altitude elevada e mais próximas à linha do equador, expostos ao sol nas horas mais próximas ao meio dia e que apresentam áreas de pelagem clara e de baixa densidade pilosa. � Queimadura, dermatose solar, neoplasia. A queimadura é classificada em graus I, II e III de acordo com a sua intensidade. Na queimadura solar as áreas despigmentadas ou pouco pigmentadas são mais afetadas que as demais, o que não deve ser confundido com fotossensibilização. Na queimadura a pele fica avermelhada e perde elasticidade. Quando há exposição repetida de animais com predisposição ocorrem lesões com displasia epidérmica e formação de crostas e pode haver projeções duras e cornificadas (dermatose solar), que é uma alteração pré-neoplásica. Neoplasias como o carcinoma de células escamosas ocorre quando houve oportunidade de lesão celular subletal com mutação no DNA de células da epiderme e proliferação das mesmas. Isso geralmente requer anos de exposição a RUV, 5 mas em cães de pelagem clara e baixa densidade pilosa, como Pit Bull, o carcinoma já pode ser observado em animais de cerca de 3 anos. � Fotossensibilização. Fotossensibilização ocorre por deposição e ação de compostos fotodinâmicos na pele. Estes liberam energia quando expostos à radiaçãoultravioleta, gerando calor e produtos reativos do oxigênio molecular (=radicais livres), os quais induzem alterações celulares, com fotodermatite resultante. Os animais afetados apresentam lesões eritematosas e edematosas na pele que evoluem para formação de crostas e fissuras, em áreas pouco pigmentadas ou despigmentadas, em que há penetração de RUV, com registro de mortalidade significativa de bovinos, ovinos e caprinos no Brasil. Nas áreas afetadas pode haver infecção bacteriana e/ou miíase secundária. A Fotossensibilização é classificada em primária, secundária e congênita. Ela é primária quando há contato, inoculação e/ou ingestão de substâncias que são fotodinâmicas, como por exemplo, as plantas que apresentam substância fotossensibilizante ou fotodinâmica pré-formada, como Froelichia humboldtiana (“ervanço”), planta importante na Região Nordeste, onde causa fotossensibilização em equinos e ovinos. A planta Fagopyrum esculentum (“trigo mourisco”, “trigo sarraceno”), que já foi bastante plantada no sul do Brasil para produção de grãos ricos em amido e sem glúten (sua farinha era tradicionalmente usada na confecção de pães por poloneses e eslavos), é também considerada fotossensibilizante primária, mas sua real importância como causa de doença no Brasil é desconhecida. Ammi majus (“ammi”, “amio-maior”), uma planta invasora de lavouras e pastagens identificada na Região de Fronteira Sul do Brasil também tem efeito fotossensibilizante primário. Fotossensibilização secundária ou hepatógena é a mais importante. Ocorre quando há hepatopatia difusa que impede a eliminação da filoeritrina, que é fotodinâmica. A filoeritrina é formada a partir da clorofila pela microbiota ruminal, em condições normais é captada e eliminada pelos hepatócitos na bile. Em animais com lesão hepática difusa a filoeritrina não é removida do sangue e, consequentemente, se deposita nos tecidos, incluindo a pele, gerando então fotossensibilização. Dentre as substâncias hepatotóxicas há a esporidesmina, toxina produzida pelo fungo Pithomyces chartarum, que se desenvolve em material vegetal em decomposição em pastagens como Brachiaria sp. No entanto, com relação à fotossensibilização que ocorre em ruminantes em pastagem de Brachiaria sp. (Syn. Urochloa sp.), no Brasil são mais importantes as toxinas hepatotóxicas produzidas pela própria braquiária, especialmente a Brachiaria decumbens, denominadas saponinas litogênicas. Essas toxinas da Brachiaria são formadas em maiores quantidades quando há maior crescimento da pastagem e induzem lesão de hepatócitos, colestase intra- hepática e há coleções de macrófagos espumosos no fígado, especialmente na região portal dos lóbulos hepáticos. A planta invasora Lantana camara pode ocasionalmente causar também fotossensibilização secundária, com registros no Brasil principalmente em bovinos da raça holandesa que foram transferidos de área e introduzidos em piquetes com predomínio da referida planta e escassez de forragem. Myoporum laetum é uma planta arbustiva do RS que também causa fotossensibilização hepatógena. A fotossensibilização congênita (Porfiria congênita) é herdada, mais observada em rebanhos consanguíneos. Caracteriza-se por deficiência de ação enzimática no metabolismo do heme, com acúmulo das porfirinas fotodinâmicas uroporfirina e coproporfirina, as quais não podem ser empregadas na síntese de hemoglobina e interferem com a eritropoiese. Assim elas são depositadas nos tecidos, principalmente em dentes, ossos e na pele, e são também excretadas na urina e nas fezes. Os animais afetados, mais frequentemente bovinos HPB, apresentam fotossensibilização, anemia, urina escura e dentes róseos. Principalmente a uroporfirina I reage com raios UV, formando radicais livres, que danificam estruturas celulares. � Traumatismos. Escoriações, lacerações podem ocorrer, principalmente se os animais são mantidos e/ou têm acesso a locais com vegetação grosseira e com espinhos, em áreas com cercas de arame farpado. As lesões traumáticas na pele são frequentes em equinos por causa de seu comportamento (quando se sentem presos/ameaçados se agitam e se debatem de forma brusca/violenta, com possibilidade de lesões traumáticas extensas e graves. Dependendo do tamanho e 6 da extensão das lesões a reparação pode ser complicada, especialmente em equídeos, pela probabilidade de formação de tecido de granulação exuberante. Outra preocupação deve ser com a contaminação das feridas e instalação de larvas de mosca (miíases). � Picadas/mordidas animais peçonhentos Picadas de aranha, mordidas de cobra podem causar lesões importantes na pele no local agredido, mas sua real importância econômica tem sido discutida. É muito frequente atribuição de lesões e óbitos de animais à mordedura de cobras, sem confirmação diagnóstica. No Brasil os acidentes ofídicos mais frequentemente (mais de 80% dos acidentes ofídicos) estão relacionadas ao gênero Bothrops sp. (jararaca, cruzeira), com hemorragias e edema locais acentuados e pode ocorrer insuficiência renal e óbito. As lesões mais frequentemente ocorrem na cabeça, pelo fato dos animais, por curiosidade se aproximam muito do animal peçonhento, ou nos membros. Cobras do gênero Crotalus (cascavel) apresentam guizo, cujo som pode permitir que os animais percebam sua presença. No caso da picada por cascavel ocorre doença hemolítica, com hemoglobinúria. Há registro de picada de aranha marrom (Loxosceles sp., importante como causa de lesão em humanos no Sul e no Sudeste do Brasil) também em cães, induzindo lesões necróticas na pele. � Dermatite de contato por irritação Decorre de agressão direta por substâncias irritantes, como produtos de limpeza e desinfecção, contato com produtos de limpeza, medicamentos aplicados sobre a pele, maravalha tratada em suínos, cal virgem, secreções corpóreas (contato prolongado/repetido com urina, fezes). As lesões ocorrem nos locais mais expostos ao contato com a substância e de menor densidade pilosa. São observados eritema, pápulas e, quando há traumatismo auto-infligido associado, também escoriações, úlceras e crostas. � Ergotismo Mais comum em bovinos, está relacionado à ingestão de sementes de forrageiras contendo ergoalcaloides, toxinas produzidas por fungos da espécie Claviceps purpurea. O ergotismo é mais frequente no outono e no início do inverno, na fase de sementação das forrageiras quando há condições climáticas para desenvolvimento do fungo (umidade elevada) e para produção de toxinas (temperaturas baixas). As toxinas induzem vasoconstrição arteriolar periférica, com necrose isquêmica de extremidades, como cascos, orelhas e cauda, que podem desprender e cair, em casos graves. Dias de temperatura baixa aumentam a gravidade das lesões, por haver intensificação da vasoconstrição periférica. � Intoxicação por selênio. Pode ocorrer em bovinos em pastagens com elevado teor de selênio. Há plantas que absorvem mais selênio do solo e o solo pode apresentar teores elevados do elemento. Recentemente a intoxicação tem sido diagnosticada em suínos após adição de níveis tóxicos de selênio na ração para prevenção da deficiência de selênio. Ocorrem alterações nos cascos, sendo evidenciação de estriações transversais nos cascos o principal achado; e há alteração nos pelos, relacionadas a substituição do enxofre por selênio na formação da queratina. � Intoxicação Ramaria flavo-brunnescens. É um cogumelo de coloração amarelada e aspecto de couve-flor que se desenvolve em meio a plantações de eucalipto em períodos chuvosos, especialmente quando o período chuvoso foi precedido por um período de estiagem. A intoxicação acontece no outono e no inverno e, como o cogumelo é palatável, os animais o procuram e o ingerem, mesmo quando há disponibilidade de forragem. Ocorrem alterações semelhantes às do ergotismo, com perda dos pelos da cauda, alterações na língua e nos cascos, mas quanto à patogenia, tem mais semelhanças com a intoxicaçãopor selênio. � Reações locais a injeções 7 Aplicação de vacinas e fármacos no tecido subcutâneo pode resultar em granulomas. Em felinos há uma relação entre inflamação local pós-vacinal e desenvolvimento de neoplasia mesenquimal maligna (fibro-, osteo-, ou condrossarcoma, ou histiocitoma maligno). Em cães de raças pequenas a aplicação de vacina anti-rábica pode resultar em paniculite linfoplasmocítica, com alopecia e hiperpigmentação locais. Em bovinos a vacinação contra febre aftosa muita vezes é acompanhada da formação de granulomas, relacionada ao adjuvante usado na vacina. O aumento de volume é muitas vezes e erroneamente denominado “abscesso” (este só ocorre se há introdução de bactérias piogênicas no local de aplicação). � Dermatite acral por lambedura É uma dermatite psicogênica em extremidades de cães que, provavelmente por dor ou prurido local, passam a lamber, mastigar e morder persistentemente o local. Mais frequentemente há lesão única, circunscrita e sem pelos, às vezes ulcerada, em carpo, metacarpo, metatarso, tíbia ou rádio. � Dermatite úmida aguda (dermatite piotraumática ou “Hot spot”). Mais comum em cães, principalmente os de pelos longos, é secundária à irritação relacionada a alergias, parasitos, substâncias irritantes. Ocorre mais frequentemente em tempo úmido, sendo que a umidificação excessiva da pele e o traumatismo auto-infligido favorecem infecções bacterianas, por isso denominada Dermatite piotraumática. As lesões são eritematosas, alopécicas, exsudativas e têm bordas circunscritas. � Síndrome da dermatite ulcerativa felina Sugere-se que injeções e hipersensibilidade possam desencadear a síndrome. Autotraumatismo contribui para a formação das lesões, que são mais frequentes nas regiões de pescoço e interescapular e se caracterizam por alteração exsudativa e ulcerativa. Não é muito frequente. � Intertrigo (Dermatite de pregas cutâneas) Dermatite superficial observada em caninos com áreas de pele sobreposta, como nas dobras de pele do Shar-Pei, em dobras faciais em caninos braquicéfalos, dobras labiais em São Bernardo, dobras vulvares em fêmeas caninas castradas e obesas, e dobra de cauda em cães cauda em saca-rolha, como o Buldogue inglês. Em vacas com glândulas mamárias volumosas as lesões se desenvolvem na pele entre úbere e membro pélvico. A sobreposição de pele favorece traumatismo por atrito, umidade e infecção bacteriana. As lesões consistem de eritema, edema, pústulas, úlceras e crostas geralmente as lesões têm mau cheiro, por causa da proliferação bacteriana. � Calo Caracteriza-se por espessamento da pele em pontos de pressão sobre proeminências ósseas, sendo mais frequente em caninos de raças grandes e gigantes. Em suínos mantidos em piso abrasivo pode também ser significativo. O calo muitas vezes está acompanhado de foliculite, furunculose, fissuras e ulceração da pele. Pode haver formação de cistos de glândulas sudoríparas, por impedimento da drenagem da secreção por causa do espessamento da pele. � Intoxicação por ervilhaca Vicia villosa. Planta leguminosa anual de folhas pilosas, no Brasil é mais frequentemente encontrada no Rio Grande do Sul. É usada para adubação verde, algumas vezes implantada como forrageira, ou a espécie está presente na pastagem como contaminante de sementes de Vicia sativa (forrageira), o que é mais provável. Causa doença sistêmica, incluindo lesões em medula óssea, linfonodos, rins e pele, especialmente em bovinos leiteiros. As alterações na pele são constituídas por áreas de alopecia com eritema e prurido. Há hemorragias múltiplas, anemia (anemia mielotísica) e, ao exame histológico há lesões granulomatosas multifocais multissistêmicas. � Intoxicação por polpa cítrica 8 A ingestão de quantidades elevadas de polpa cítrica, especialmente de baixa qualidade e/ou com problemas de estocagem tem causado quadro clinicopatológico muito semelhante ao da intoxicação por Vicia villosa. Esse subproduto da indústria de suco de laranja tem sido usado tanto em bovinos leiteiros quanto de corte por causa dos elevados teores de energia e proteína e, principalmente, pelo baixo custo, no entanto, casos de intoxicação tem sido registrado em diversas ocasiões. As lesões são similares às observadas na intoxicação por Vicia villosa, com inflamação granulomatosa multifocais multissistêmicas, principalmente em medula óssea, linfonodos, rins e pele. CAUSAS INFECCIOSAS DE DOENÇAS DA PELE � DERMATITES VIRAIS � Poxvírus. Os Poxvírus são epiteliotrópicos e podem causar lesões arredondadas, vermelho-arroxeadas e elevadas em várias espécies animais que, com o passar dos dias tornam-se crostosas. Vários são espécie- específicos, outros causam zoonose (como o Parapoxvirus do Ectima e do “Nódulo dos ordenhadores”; e o Pox Vaccinia). Há formação de pápulas, vesículas, pústulas umbilicadas e crostas. Há vários tipos de Poxvírus, como Orthopoxvírus, que inclui a varíola bovina; Parapoxvírus, que inclui o vírus do Ectima contagioso dos ovinos, o qual causa alterações em pele mas, principalmente, no trato digestório superior de ovinos e caprinos, por isso descrito com as doenças do sistema digestório. A Pseudovaríola bovina, doença de bovinos leiteiros conhecida como “nódulo dos ordenhadores”, é causada por um Parapoxvírus muito semelhante ao da estomatite papular dos bovinos, também descrita no sistema digestório. A pseudovaríola é mais frequente em vacas, porém as lesões são menos graves que as causadas pelo Orthopoxvírus da Varíola bovina. A pseudovaríola se caracteriza por lesões arredondadas nos tetos de vacas em lactação e, sempre que há lesões na pele dos tetos, há maior risco de mastite bacteriana, o que aumenta a importância da doença. Nos suínos ocorre a Varíola suína, causada por Suipoxvírus, com lesões semelhantes às causadas por outros Poxvírus. � Mamilite herpética bovina. Causada por Herpesvírus bovino-2, manifesta-se por lesões vesiculares e ulcerativas na pele das glândulas mamárias. A morbidade pode chegar a 100%, e quando enzoótica, atinge principalmente vacas em primeira lactação. As lesões são maiores e mais profundas que as das infecções por Parapoxvírus. As perdas econômicas estão relacionadas a queda na produção leiteira e a mastites bacterianas secundárias. � Papilomavírus. São vírus que ocorrem em todas as espécies, mas em geral são espécie-específicos. Ocorre transmissão entre animais por contato e ela é facilitada se há solução de continuidade na pele. A doença é mais comum em animais jovens, principalmente em bovinos de rebanhos leiteiros. Nos bovinos há vários subtipos de Papilomavírus (Quadro 1), sendo que nos animais jovens é comum a Papilomatose ou “Figueira”, com formações verrucosas na pele, que traumatizam frequentemente, sangram e muitas vezes são complicadas por miíases. Quadro 1. Papilomavírus bovinos, subtipos, alterações induzidas e locais afetados Subgrupo Tipo Lesão induzida Locais afetados Subgrupo A BPV-1 Fibropapiloma Tetos, pênis, vulva BPV-2 Fibropapiloma Pele BPV-5 Fibropapiloma, Papiloma Tetos, úbere Subgrupo B BPV-3 Papiloma Pele BPV-4 Papiloma Mucosa do trato digestório BPV-6 Papiloma Tetos * O BPV-2 induz também o Sarcoide equino, descrito com as neoplasias benignas. � Síndrome Dermatite e Nefropatia dos suínos. É uma apresentação clinicopatológica distinta da Circovirose, doença causada pelo Circovírus tipo II, que cursa com lesões multifocais de pele, arroxeadas e discretamente elevadas, em suínos mais velhos 9 e geralmente em bom estado corporal. Nos rins é observada cortical salpicada de pontos avermelhados entremeados por pontos brancacentos, histologicamente caracterizada por glomerulonefrite. Além disso há aumento de volume generalizado de linfonodos e é frequente ulceração gástrica sangrante. Outras viroses, especialmente as que causam estomatite podem cursar com dermatite, incluindo Febre aftosa, Estomatite vesicular, BVD, Febre catarral maligna e Calicivirosefelina. Alguns gatos com infecção por FeLV desenvolvem dermatite ulcerativa. No entanto, como a infecção por FeLV e por FIV causa imunossupressão, os felinos tornam-se mais suscetíveis a infecção por outros agentes, com desenvolvimento de dermatopatias secundárias, como abscessos e paroníquia. DERMATITES BACTERIANAS Piodermites superficiais. Estão relacionadas à infecção bacteriana de epiderme e infundíbulo superior dos folículos pilosos, sendo cocos Gram positivos, como Staphylococcus sp., os agentes mais importantes. Alergias, seborreia e imunodeficiência favorecem a ocorrência de piodermite. As alterações macroscópicas incluem eritema, alopecia, pápulas, pústulas, crostas, e descamações anelares denominadas colaretes epidérmicos. Linfonodos regionais geralmente são poupados. As primeiras alterações histológicas na epiderme são de pústulas intraepidérmicas. Estas são frágeis e podem romper, levando à descamação e à formação e crostas. A infecção bacteriana dos folículos resulta em foliculite supurativa superficial. � Dermatite pustular superficial Inclui as formas impetigo, epidermite exsudativa e piodermite superficial. É uma dermatite observada em caninos, felinos, leitões, vacas e ovelhas, induzida por Staphylococcus coagulase-positivo, como S. intermedius e S. aureus e tem relação com produção/ação de toxinas esfoliativas por essas bactérias. Está associada a fatores predisponentes, como abrasões cutâneas, infecções virais, imunossupressão, umidade elevada e deficiência nutricional. Em vacas, ovelhas e cabras as lesões localizam-se principalmente na glândula mamária. Em caninos a observação de pústulas é frequente em animais com cinomose, em que a imunossupressão favorece a multiplicação de Staphylococcus. A Piodermite superficial disseminada ocorre principalmente em caninos, está relacionada a infecção por Staphylococcus pseudointermedius. Há geralmente manifestação clínica de prurido e, na inspeção da pele, são observadas máculas, pápulas e pústulas. As lesões mais antigas têm colaretes epidérmicos, crostas, alopecia e hiperpigmentação. Em gatinhos as regiões cervical dorsal e escapular são afetadas, o que tem relação com mordidas da mãe, especialmente quando a gata é zelosa, transportando com frequência seus filhotes. Streptococcus sp. e Pasteurella são as bactérias mais frequentemente isoladas das lesões dos gatinhos. As alterações macroscópicas são caracterizadas por pústulas que se transformam em crostas, principalmente na pele glabra, exceto nos gatinhos. O achado histológico característico é de pústulas subcorneais. A inflamação da derme é mínima e os linfonodos regionais geralmente não estão envolvidos. � Dermatofilose. Doença mais frequente em países tropicais e subtropicais e nos períodos mais úmidos. Importante em bovinos e ovinos, a doença é causada pela bactéria filamentosa Gram positiva Dermatophilus congolensis. Caracteriza-se por formação de pápulas, pústulas e crostas espessas, que podem coalescer e emaranhar os pelos ou a lã, por isso a denominação popular “lã de pau”. Pode ocorrer também em outras espécies, como equinos e caprinos. As lesões tendem a se desenvolver no dorso e nas extremidades distais. Irritação por ectoparasitos, traumatismos (forragens grosseiras, por exemplo) e umidade prolongada da pele favorecem a dermatofilose. O diagnóstico é realizado pela epidemiologia, pelas lesões macro e microscópicas e pode ser feito exame citológico (coloração de Gram) para evidenciação de estruturas de Dermatophilus congolensis. � Epidermite exsudativa dos suínos (Doença do porco gorduroso, “eczema úmido”). 10 Doença de leitões jovens, principalmente nas primeiras semanas após nascimento, causada por Staphylococcus hyicus subsp. hyicus, coco Gram positivo que tem como fatores predisponentes lesões cutâneas traumáticas, como as causadas por piso abrasivo, e desnutrição. Em criações intensivas tem associação com higiene deficiente na granja. Há formação de exsudato acastanhado periocular, em pavilhões auriculares, focinho e face medial dos membros, disseminando-se rapidamente, conferindo ao animal aparência engordurada ou suja e mal-cheirosa. Em animais que sobrevivem são frequentes crostas e fissuras na pele. Quanto mais jovens os leitões afetados geralmente mais grave é a doença, com possibilidade de índices significativos de mortalidade. Piodermites Profundas � Foliculite e furunculose estafilocócica. Há infecção dos folículos pilosos por Staphylococcus intermedius, é mais comum em cães e pode ocorrer em equinos, caprinos e ovinos. Dermatopatias como demodicose, distúrbios de queratinização e displasia folicular provavelmente predispõe à doença. Nos equinos as lesões são mais frequentes e evidentes nas áreas de contato com sela. Em caninos Pastor Alemão há, aparentemente, predisposição genética. A foliculite grave ou não tratada pode atingir porções mais profundas dos folículos, com ruptura folicular e furunculose. Neste caso pode se observar também aumento de volume de linfonodos. � Abscessos subcutâneos. São comuns em felinos por causa de contaminações bacterianas em feridas puntiformes. Grandes animais também apresentam abscessos subcutâneos. Várias bactérias piogênicas são isoladas nessas lesões, sendo as mais comuns Pasteurella multocida (em gatos, coelhos, cães), Corynebacterium pseudotuberculosis (em ovinos e caprinos – causa também lesões em linfonodos, por isso denominada linfadenite caseosa, a qual pode também cursar lesões em órgãos internos, como pulmões, fígado, ...), e Trueperella pyogenes (=Arcanobacterium pyogenes; em bovinos, ovinos e suínos). � Pododermatites bacterianas. Em ovinos é importante a podridão contagiosa dos cascos, denominada “Footrot”. É causada por Dichelobacter nodosus, bactéria anteriormente denominada Bacteroides nodosus, parasito obrigatório, produtor de protease e fatores estimuladores de crescimento para outras bactérias. A produção de protease determina a patogenicidade de D. nodosus. Geralmente está associada a Fusobacterium necrophorum, agravando as lesões nos cascos afetados. Trauma e umidade são fatores predisponentes. Os animais afetados apresentam inicialmente pele interdigital erodida, avermelhada, úmida e inchada. Posteriormente há separação da pele interdigital e exsudação mal-cheirosa, com sinais de desconforto, claudicação, muitos animais até mesmo “andam ajoelhados” e evitam pastar. Como D. nodosus está nos cascos dos animais e não permanece por mais de sete dias no ambiente, para o controle é recomendada a eliminação de animais com lesões graves e, no caso de opção por tratamento, feito com pedilúvio de formol (2 a 10%) ou solução de sulfato de zinco, os animais afetados devem ser separados dos saudáveis. Cuidados devem ser tomados na introdução de animais nos rebanhos, com avaliação cuidadosa do histórico do rebanho e dos cascos. Dermatite interdigital dos ovinos é causada por F. necrophorum, do ambiente. A doença não é contagiosa, está relacionada a condições ambientais, ocorrendo quando os ovinos são mantidos em ambiente úmido, com muitas fezes e urina, geralmente em períodos mais quentes, embora a ocorrência da enfermidade doença seja também descrita em períodos com geadas, pelo fato do frio excessivo predispor a pele interdigital à penetração de F. necrophorum. Corrigidas as condições predisponentes, a doença tende a regredir. Podem ocorrer também abscessos afetando articulações distais dos dígitos, denominados abscesso de pé. São causados por Fusobacterium necrophorum associado com Trueperella pyogenes (=Arcanobacterium pyogenes), muitas vezes como complicação da dermatite interdigital em períodos com muita umidade. Cursam com formação de exsudato purulento afetam carneiros e ovelhas. Em bovinos também ocorre podridão contagiosa dos cascos, com etiologia e fatores predisponentes iguais ao “Footrot nos ovinos, lembrando que a doença é contagiosa. Há também a 11 Necrobacilosedos cascos dos bovinos, causada por F. necrophorum em associação com Bacteriodes melaninogenicus, com necrose das estruturas do casco, osso e tecidos moles locais, como tendões e ligamentos. Está relacionada ao ambiente (umidade, falta de higiene) e falta de manejo adequado dos cascos. Uma alteração de casco frequente em bovinos confinados é a dermatite interdigital com proliferação tecidual interdigital, popularmente denominada “Gabarro”, que requer remoção cirúrgica e manejo adequado dos cascos para controle. � Infecções bacterianas sistêmicas � Erisipela suína É uma doença sistêmica causada pela bactéria Erysipelothrix rhusiopathiae, caracterizada por vasculite e artrite. Há formação de lesões com forma de losangos avermelhados na pele; lesões essas reflexo da lesão vascular, com trombose e isquemia. Além das alterações cutâneas há febre e podem ocorrer hemorragias cardíacas, endocardite valvular, petéquias na cortical renal, esplenomegalia, congestão e edema pulmonares e artrite. INFECÇÕES MICÓTICAS Micoses cutâneas superficiais � Dermatofitose. São enfermidades causadas por fungos como Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. São transmitidas através do contato com animais infectados ou escamas cutâneas de animais infectados. Ambientes quentes, úmidos e com superlotação favorecem a infecção. Animais jovens e desnutridos são mais suscetíveis. Epidermophyton é mais frequente em infecções humanas. Microsporum infecta animais, mas pode causar zoonose. Microsporum canis está bem adaptado aos felinos, os quais podem apresentar infecção subclínica. M. gypseum estão presentes no solo e infectam humanos e animais em condições de imunossupressão ou alterações da integridade da pele. As lesões da pele tendem a ter formato arredondado, com alopecia, descamação brancacenta opaca e crostas. A perda dos pelos se deve a quebra das hastes pilosas e a foliculite. Unhas também são afetadas, elas ficam frágeis, malformadas e descoradas. Tricophyton verrucosum é um agente frequentemente encontrado nas lesões em bovinos. Para diagnóstico são importantes a epidemiologia, a apresentação clínica e avaliação microscópica de pelos e raspado de pele. � Dermatite por malassézia Doença causada pelo fungo leveduriforme Malassezia pachydermatis, que induz doença clínica quando há alteração cutânea ou da imunidade do hospedeiro. As lesões são eritematosas, muitas vezes hiperpigmentadas, liquenificadas, com alopecia e escamosas. São frequentes no canal auricular externo de caninos, mas podem ocorrer também na região interdigital, perianal, palpebral ou mesmo disseminadas. Em suspeitas dessa dermatite no pavilhão auricular são feitos “swabs” para distensão em lâmina e coloração, evidenciando estruturas bilobadas típicas com formato de “raquete”, “amendoim” ou “chinelo”, que se coram em rosa-escuro. Podem ser evidenciadas também em corte histológico corado com HE, mas a citologia é o melhor método para pesquisa do agente, pois as estruturas fúngicas podem ser perdidas nos processamento histológico. Micoses profundas ou subcutâneas � Esporotricose. Doença causada pelo fungo saprófita dimórfico Sporothrix schenckii, mais frequente em felinos, mas pode ocorrer também em outras espécies, inclusive humanos. Penetra no organismo através de lesões traumáticas, como em brigas entre animais. Nos humanos a infecção geralmente se deve a arranhaduras ou mordeduras de gatos infectados, ou introdução em feridas prévias. Formam-se nódulos cutâneos ulcerados e fistulosos exsudativos, com inflamação piogranulomatosa subcutânea ou dérmica profunda, além de lesões ao longo de vasos linfáticos. Em gatos as estruturas ovoides a alongadas (formato de “cigarro”) são numerosas nas lesões, detectadas em exame citológico e histopatológico, mas em outras espécies podem ser difíceis de detectar. 12 � Pitiose. Doença causada por Pythium insidiosum, microrganismo zoospórico dimórfico, classificado como Oomiceto, pertencente ao Reino Protista, Stramenopila ou Chromista (até agora não definido). O agente é termofílico aquático, habitante de áreas alagadiças, e induz a formação de feridas extensas, atingindo derme, tecido subcutâneo e frequentemente há lesões mais profundas, principalmente em partes mais baixas do corpo, como pernas e região ventral do abdômen, além de boca; áreas que mais provavelmente entram em contato com o agente. A característica das lesões é a formação de “kunkers”, que são pequenas massas amareladas friáveis presentes em tratos fistulosos em meio a grande massa de tecido conjuntivo fibroso. A doença é mais frequente em regiões alagadiças, como no período das chuvas no Pantanal Mato-grossense – novembro a maio, e em verões com precipitação pluvial significativa no Rio Grande do Sul, mas tem casuística significativa também no Sudeste. Ocorre principalmente em equinos, mas outras espécies também podem ser afetadas, como bovinos e cães, e até mesmo humanos. A penetração do agente é facilitada quando há lesões prévias, mas a permanência dos animais em áreas alagadiças por muito tempo diminui a capacidade protetora da pele, principalmente do estrato córneo, favorecendo a instalação do agente. Em equinos há várias enfermidades cutâneas com lesões extensas e ulceradas, sendo necessário fazer diagnóstico diferencial, como habronemose, tecido de granulação exuberante, carcinoma de células escamosas e sarcoide equino. A biópsia é um método importante para o diagnóstico, sendo necessária a colheita de amostras nas bordas da lesão, incluindo área com e sem pele e ela não pode ser muito superficial, para achado das alterações características com focos de massas eosinofílicas amorfas contendo células inflamatórias incluindo abundantes eosinófilos e imagens negativas de estruturas com aspecto de hifas ramificadas nos fragmentos corados com HE. Essas estruturas se impregnam pela prata e podem ser marcadas na técnica de imuno-histoquímica, constituindo a coloração especial de prata e a IHQ técnicas para confirmação diagnóstica. Para o diagnóstico diferencial de tecido de granulação exuberante é importante o histórico de lesões traumáticas anteriores. Na pitiose as lesões geralmente são mais exsudativas e nesta há histórico de permanência dos animais em áreas alagadiças. � Criptococose. Doença causada pelo fungo Cryptococcus neoformans, que possui uma cápsula mucinosa característica. A infecção ocorre por inalação; os fungos são encontrados em aerossóis formados em solos de ambientes úmidos, principalmente onde há excrementos de aves, como pombos. Pode causar lesões nodulares na pele, que tendem a ulcerar e apresentar fístulas drenantes, mas as lesões são mais frequentes no sistema respiratório de cães, equinos, humanos, mas principalmente de felinos, que podem apresentar também meningoencefalite e meningomielite por C. neoformans. O diagnóstico pode ser feito por citologia e/ou histopatologia. INFESTAÇÕES E INFECÇÕES PARASITÁRIAS � Artrópodes Os artrópodes são ectoparasitos importantes nos animais domésticos. A Classe Arachnida compreende dois grupos importantes de ectoparasitos, os ácaros causadores de sarnas e os carrapatos. Quanto às sarnas, são os mais importantes: � Caninos: Demodex sp., Sarcoptes scabiei, Otodectes cynotis � Suínos: Sarcoptes sp. � Coelhos: Sarcoptes sp., Notoedres sp., Psoroptes sp. � Ovinos: Psoroptes ovis � Equinos: Chorioptes sp. A espécie Sarcoptes scabiei apresenta diversas variedades, adaptadas aos seus hospedeiros. É um ácaro de 0,3 a 0,4 mm, corpo arredondado e pernas curtas, com estrias e espinhos triangulares na superfície dorsal, que se aloja nas porções superfícies da epiderme. A transmissão ocorre facilmente por contato e causa prurido intenso nos animais afetados. O diagnóstico é feito pela epidemiologia, pelas manifestações clínicas e aspecto das lesões, que são hiperqueratóticas, descamativas e crostosas, 13 de distribuição difusa; achado em raspado de pele, lembrandoque o raspado pode ser negativo. A biópsia com exame histológico também confirma o diagnóstico. Demodex canis é um ácaro pequeno de até 0,2 mm de comprimento, alongado, com forma de charuto, quatro pares de pernas curtas. É importante causador de sarna em caninos, nos quais não causa prurido, a não ser na demodicose complicada, quando há infecção bacteriana associada, especialmente por Staphylococus sp. As lesões podem ser localizadas ou generalizadas. A ocorrência da doença tem relação importante com a imunidade; os caninos se infestam precocemente, geralmente em contato com a mãe enquanto lactentes, mas desenvolvem sarna se houver déficit imunológico. Na Família Psoroptidae há vários ácaros causadores de sarna, classificados como não escavadores, incluindo Psoroptes equi, Psoroptes equi var. ovis, Psoroptes equi var. bovis, Psoroptes equi var. caprae, e Psoroptes equi var. cuniculi. Apresentam até 0,75 mm, pernas longas terminando com pedicelos longos trissegmentados, peças bucais pontiagudas, tubérculos abdominais arredondados, ventosas adanais, tem período de vida de 30 – 40 dias e as fêmeas apresentam postura de cerca de 90 ovos. Perfuram a pele e pode haver lesões auto-infligidas. Em ovinos lanados pode ser problema sério, sendo a sarna, nesta espécie, doença de notificação obrigatória no Estado do Rio Grande do Sul. Chorioptes bovis, também são ácaros não escavadores, com pernas longas e ventosas em forma de “taça”. Parasitam bovinos, ovinos, equinos, caprinos, coelhos, podendo ser importantes em animais estabulados. Otodectes cynotis ácaro de cerca de 0,6 mm causa sarna otodécica em caninos, com prurido, o que pode levar a oto-hematoma decorrente de traumatismo auto-infligido e podem ocorrer infecções secundárias, como malassézia. � Carrapatos Rhipicephalus (Boophilus) microplus. Carrapato muito importante nos bovinos, causa prejuízos significativos na pecuária brasileira. Instala-se principalmente em locais de pele mais delgada e protegidos, como pavilhão auricular, entrepernas e base da cauda. A saliva dos carrapatos causa irritação no local de fixação, com dermatite em intensidade variável conforme a sensibilidade individual. Animais sem resposta inflamatória aos antígenos da saliva geralmente apresentam populações muito maiores de carrapatos, sendo popularmente denominados “animais de sangue doce”. A infestação causa irritação, espoliação sanguínea, lesões no couro, e é importante a transmissão de hemoparasitos (para os bovinos os mais importantes são Babesia bovis, Babesia bigemina e Anaplasma marginale), o que aumenta e muito o impacto econômico da infestação, e favorece a ocorrência de miíases. No Brasil observam-se três gerações de R. microplus/ano na Região Sul e quatro nas demais Regiões. Um problema sério é a resistência da espécie frente à maioria dos carrapaticidas convencionais usados, o que dificulta seu controle. Rhipicephalus sanguineus, conhecido como “Carrapato vermelho do cão” ou “carrapato marrom do cão”, parasita cães, gatos e carnívoros silvestres. É considerado carrapato de três hospedeiros pelo fato das fases de metalarva e metaninfa ocorrerem no ambiente, e tem hábito nidícola, de forma que a infestação ocorre no ambiente em que animal vive. Sua importância está na irritação que provoca, é causa de anemia e transmissão dos hemoparasitos Babesia canis, Ehrlichia canis e, possivelmente, transmissão de Leishmania infantum-chagasi. Amblyomma cajennense. Conhecido como “Carrapato estrela”, “Rodoleiro”, “Carrapato do cavalo”, “Micuins”, “Carrapatinhos”, é um carrapato ágil, de peças bucais longas cuja picada causa muito desconforto, e tem escudo dorsal ornamentado. Mais frequentemente encontrado em equinos, é pouco seletivo quanto a hospedeiros, podendo ocorrer em caninos, capivaras (estas são reservatório de Rickettsia rickettsii, agente etiológico da Febre Maculosa), bovinos e humanos. Causa, além da irritação e lesões na pele, espoliação sanguínea, e é importante na transmissão de patógenos. Anocentor nitens, denominado “Carrapato da orelha dos cavalos” por se instalar no pavilhão auricular de equídeos, mas pode instalar-se no divertículo nasal e mesmo ter distribuição mais ampla, em infestações mais intensas. Causa irritação, espoliação sanguínea, transmissão de hemoparasitos como Babesia caballi e, frequentemente, há instalação de miíase nas orelhas infestadas, o que pode resultar em deformação do pavilhão auricular. 14 � Classe Insecta Infestações por Piolhos (Quadro 2). Os piolhos são mais importantes no inverno, quando há aglomeração de animais por estabulação e pelame mais abundante, o que oferece melhor abrigo ao parasito. O diagnóstico depende da identificação do agente em laboratório. Quadro 2. Piolhos mais importantes nos animais domésticos. Ordem Espécie Hospedeiros Anoplura Haematopinus asini equinos Haematopinus eurysternus bovinos Haematopinus tuberculatus búfalos Haematopinus suis suínos Linognathus spp. ruminantes Mallophaga Bovicola ovis ovinos Bovicola bovis bovinos Felicola subrostratus felinos Bovicola equi equinos Infestação por Pulgas. As espécies Ctenocephalides felis e C. canis são as mais importantes em mamíferos domésticos. Tem importância pela habilidade na transmissão de doenças e pela capacidade de hematofagia. Ctenocephalides sp. age como principal H.I. do cestódeo Dipylidium caninum, frequente em caninos e felinos, que se infetam ingerindo pulgas contendo cisticercoides. As pulgas são também importantes em caninos sensíveis que desenvolvem lesões alérgicas à saliva das pulgas, doença denominada dermatite alérgica a picada de pulgas (D.A.P.P.). Tunga penetrans pulga popularmente denominada “bicho-de-pé” pelo fato das fêmeas “grávidas” se instalarem na pele de hospedeiros apropriados, como suínos, caninos e humanos, causando desconforto e há possibilidade de introduzirem na pele do hospedeiro agentes como Clostridium sp. Infestação por Moscas / Miíases Stomoxys calcitrans, denominada “mosca-dos-estábulos”, apresenta ampla distribuição geográfica e causa problemas diretos e indiretos aos animais, pelas picadas dolorosas, hematofagia e capacidade de transmissão de agentes patogênicos como vários tipos de vírus, bactérias como, por exemplo, bactérias causadoras de mamite bovina, protozoários como Trypanosoma evansi, nematódeos como Habronema spp. e Draschia megastoma, cestódeos, fungos. É também veiculador de ovos de Dermatobia hominis e importante transmissor da riquétsia Anaplasma marginale aos bovinos. As larvas das moscas proliferam em locais com acúmulo de matéria orgânica contendo umidade, como restos alimentares sob cochos de alimentação em confinamentos; palha de arroz, restos de cultura, principalmente se estiverem umedecidos com urina e fezes de animais. Nas áreas com indústrias de álcool e açúcar há liberação do vinhoto, que atrai a ovipostura de S. calcitrans, pela presença de amônia. Fezes de aves são também muito adequadas para a proliferação da espécie. As moscas permanecem em paredes de construções como estábulos, razão para o nome comum, em cercas e muros. As fêmeas alimentam-se 1 a 2 vezes ao dia e os machos com uma frequência um pouco menor, e preferem alimentar-se em animais de pelagem escura, sendo observada predileção pelos membros torácicos. Alterações comportamentais são observadas em animais intensamente infestados, como tentativas de proteger-se em riachos, lagoas e represas, agrupamento de animais, galopes a esmo em equinos, escoicear-se, movimentos violentos com a cabeça, orelhas, interrupção de alimentação. Infestação por Haematobia irritans, “Mosca dos chifres”, é um pequeno muscídeo, hematófago, presente em diferentes regiões do mundo, que constitui sério transtorno na criação de bovinos (principalmente em raças europeias) e bubalinos. É um problema relativamente recente no Brasil, mas 15 são calculados prejuízos atuais na faixa de US$150.000.000/ano no Brasil. As moscas provocam irritação e queda significativa na produção de leite e carne, além de redução na qualidade de couros de animais infestados relacionada às picadas, fricção da pele pelos animais, infecções cutâneas secundárias, sendo registrada também redução da libido de touros infestados. H. irritans é o principal veiculador de larvas infectantes de Stephanofilaria SP. para bovinos. MIÍASES Dermatobiose. Doença causada por larvas de Dermatobia hominis, caracterizada por lesões subcutâneas nodulares fistuladas. A parasitose causa dor intensa e desconforto resultando, nos animais, em atraso no desenvolvimento e queda na produção de leite e carne, bem como em desvalorização de couros na indústria. D. hominis é um díptero robusto cujas larvas, vulgarmente conhecidas como “bernes”, são parasitos do tecido subcutâneo de mamíferos em geral, sendo bovinos, caninos e humanos os hospedeiros mais importantes. Mais raramente parasitam equinos. Dentre os bovinos, as raças europeias são as mais afetadas, especialmente animais de pelagem escura. A “Lechiguana”, uma doença de bovinos caracterizada por paniculite fibrogranulomatosa, com lesões que podem alcançar grandes dimensões (até 50 cm ou mais), nas quais sempre está presente a bactéria Gram negativa Mannheimia granulomatis, está relacionada à infestação por Dermatobia hominis. A lechiguana tem sido registrada em vários Estados Brasileiros, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Outra observação é que, não raramente, as lesões por D. hominis são infestadas, secundariamente, por larvas de Cochliomyia hominivorax, agravando as lesões e os prejuízos e pode haver formação de abscessos. A dermatobiose ocorre com maior frequência em regiões quentes e úmidas, cuja vegetação é abundante e a topografia montanhosa, com altitudes de até 1.000 m, sendo observada desde o sul do México até a Argentina, enquanto que o Nordeste Brasileiro, a partir do Norte da Bahia, é considerado livre. A mosca apresenta hábito de postura denominado foresia, realizando oviposição sobre outros dípteros capturados. Quando o inseto transportador de pousar sobre um hospedeiro (animal de sangue quente) e, estimuladas pela temperatura corpórea, as larvas abandonam os ovos. Atravessam então a pele íntegra do hospedeiro, alojando-se no tecido subcutâneo, em que induzem a formação de nódulos fistulados. O desenvolvimento larval nos bovinos ocorre em 31-69 dias, e larvas se localizam preferencialmente na região costal, nas paletas, no pescoço e nos membros torácicos, locais menos protegidos aos ataques de insetos transportadores pelo hospedeiro, facilitando o pouso dos mesmos. A remoção manual das larvas infestantes, mais usada em cães, pode ser acompanhada da ruptura de larvas e os restos larvais que ficam no tecido subcutâneo induzem inflamação granulomatosa intensa em alguns animais, com formação de nódulo e prurido. INFESTAÇÃO POR Cochliomyia hominivorax (= Callitroga hominivorax), o mais importante agente causador de miíase nas Américas, ocorre principalmente em regiões tropicais do Continente Americano. As moscas, conhecidas como “moscas da bicheira” ou “moscas varejeiras”, apresentam 0,8 a 1,0 cm, coloração verde-azulada com brilho metálico, listras longitudinais escuras no tórax, olhos castanho-alaranjados e arista plumosa. As fêmeas acasalam-se somente uma vez na vida enquanto que os machos copulam várias vezes, o que é importante saber em relação a controle das moscas. As moscas põem seus ovos, em média 190 por postura, nas bordas de lesões recentes (de castração, descorna, tosquia, umbigo de recém-nascidos, ferimentos efetuados em cerca de arame farpado, feridas decorrentes de infestação por carrapatos e Dermatobia hominis, ...) em animais de sangue quente, cuja eclosão ocorre em 12-18h. Os ínstares larvais penetram nos tecidos, produzem lesões extensas de odor desagradável. Hemorragias acentuadas, peritonite, claudicação, cegueira, afecções dentárias e morte por toxemia podem ocorrer em consequência da infestação. Completam seu desenvolvimento em 5 a 8 dias, abandonam o hospedeiro, caindo ao solo. As larvas das demais espécies da Família Calliphoridae (ex.: Cochliomyia macellaria) são necrofílicas, isto é, alimentam-se de tecidos em putrefação, mas podem causar miíases facultativas nos animais domésticos. 16 Dermatites por Helmintos Habronemose cutânea - Causada pelos nematódeos espirurídeos Habronema muscae, Habronema majus (=H. microstoma) e Draschia megastoma, a doença é cosmopolita, mas tem maior importância em regiões de clima quente e úmido, onde hospedeiros intermediários (H.I.), que são moscas, são mais frequentes. Equinos de todas as idades são suscetíveis, mas habronemose é mais frequentemente diagnosticada em animais adultos e há observações de maior frequência em determinados animais do plantel e naqueles com parentesco. Nas fezes dos equídeos parasitados são eliminados ovos larvados ou L1. Após a eclosão das L1, estas são ingeridas por larvas de moscas, permanecendo no corpo desses insetos durante os estágios de larva, pupa e na maturação, período que, para Musca domestica, dura em torno de 7 dias. As larvas dos nematódeos, ao atingirem a forma infectante (L3), deixam as moscas através da sua probóscide quando elas se encontram em locais úmidos e quentes, como lábios, feridas cutâneas ou nos olhos de um equídeo. As L3 depositadas em feridas cutâneas e nos olhos invadem esses locais provocando reação local granulomatosa intensa e densamente infiltrada por eosinófilos, mas nestas localizações não há continuidade do ciclo biológico. As lesões cutâneas são mais frequentes em locais da superfície corpórea em que escoriações e ferimentos são mais prováveis e onde o animal não consegue se defender do ataque das moscas (H.I.), como membros, face, região cervical e ventral do abdômen, machinho e coroa do casco e, nos machos, também prepúcio e glande. As lesões atingem até 30 cm de diâmetro em poucos meses, podem constituir massas proeminentes, cujo centro pode estar deprimido e as bordas elevadas e espessas, sendo frequentes exsudação hemorrágica e prurido local. Na localização prepucial pode haver edema evidente na região. Regressão significativa das lesões é observada em períodos mais frios, relacionada à diminuição na população de moscas, mas cura espontânea não é frequente, com novo aumento de volume no verão seguinte. Na localização conjuntival ou ocular, em que a conjuntiva palpebral inferior é mais frequentemente atingida, há lacrimejamento intenso e fotofobia e, na área umedecida pela secreção lacrimal aumentada, moscas são atraídas com possível deposição de larvas, favorecendo formação de lesões cutâneas. Em casos com feridas cutâneas recomenda-se fazer biópsia, incluindo as bordas da lesão, e exame histológico, no qual devem ser encontradas larvas dos espirurídeos em meio à reação granulomatosa rica em eosinófilos. Faz-se necessário o diagnóstico diferencial com pitiose, sarcoide, e tecido de granulação exuberante, pela semelhança macroscópica. Na localização de lesões de habronemose em prepúcio e pênis deve ser incluído no diagnóstico diferencial carcinoma de células escamosas, que também tem características macroscópicas ulcerativas não cicatrizantes e proliferativas. Infecção por Stephanofilaria sp. É um verme nematódeo filariforme pequeno (até 0,6 cm de comprimento) que infecta bovinos, caprinos, búfalos e ruminantes selvagens. A estefanofilariose é transmitida por moscas, especialmente pela picada de Haematobia irritans (“Mosca do chifre”). Microfilárias e vermes adultos induzem dermatite crônica, principalmente na pele da região abdominal ventral, mais frequentemente, na região umbilical, cranial à glândula mamária de vacas leiteiras. As lesões são mais frequentemente observadas nos meses mais quentes do ano, o que tem relação com a maior disponibilidade de moscas transmissoras. Iniciamcomo pápulas avermelhadas, que progridem para áreas maiores de até 25 cm, pruriginosas, com alopecia, ulcerações e formação de crostas espessas e úmidas. Podem ocorrer lesões também em outras regiões do corpo, como cabeça, pescoço, dorso e pernas. O diagnóstico é feito pelas características clínicas e macroscópicas das lesões, exame histológico e pesquisa do agente em exame citológico de raspado profundo da lesão, após remoção das crostas. Larvas de Ancylostoma spp., (especialmente A. braziliense) induzem as alterações denominadas “Larva migrans cutânea”, em hospedeiros anormais como humanos, em que as lesões se caracterizam 17 por linhas eritematosas que posteriormente expandem em áreas eritematosas e muito pruriginosas. Pode ocorrer em caninos, mas as alterações tendem a ser mais discretas que em humanos. Infecção da pele por Leishmania sp. A leishmaniose é uma doença do sistema monócito-macrófago. A destruição dos macrófagos é, ao menos em parte, mecânica, em consequência da proliferação do protozoário em seu citoplasma. A doença ocorre sob duas formas de apresentação mais importantes; leishmaniose tegumentar (LTA) e visceral (VLA) ou Calazar. A transmissão da leishmaniose é feita através da picada de mosquitos flebotomíneos, sendo no Brasil o gênero Lutzomyia (mosquitos conhecidos como mosquito palha, cangalhinha, ...), o HI. Há diversas espécies, sendo Lutzomyia whitmani, Lu. wellcomei, Lu. pessoai e Lu. intermedia transmissores da forma tegumentar, e Lu. longipalpis o transmissor do Calazar. Está sendo investigada no Brasil possível participação de Rhipicephalus sanguineus na epidemiologia da leishmaniose visceral canina, com recuperação de Leishmania chagasi neste ixodídeo e transmissão experimental para animais de laboratório. A infecção de animais por Leishmania spp. é comum nas áreas endêmicas, e sua importância tem aumentado também em Medicina Veterinária pela doença causada em cães, mas principalmente pelo fato dos caninos agirem como reservatórios, tratando-se de uma zoonose importante. As lesões cutâneas são caracterizadas por úlceras crônicas que se desenvolvem a partir de pápulas inflamatórias no local da picada do inseto transmissor, onde o protozoário é fagocitado por histiócitos. Há proliferação rápida dos parasitos, levando ao rompimento dos macrófagos, sendo os agentes liberados e capturados por outros macrófagos, repetindo-se o processo. Linfócitos, plasmócitos e eosinófilos circundam a lesão, e neutrófilos são atraídos pelos restos celulares. Células de Mott, que são plasmócitos com citoplasma repleto de material granular eosinofílico (Corpúsculos de Russel), são também frequentes nos cortes histológicos de lesões cutâneas. Ulcerações se desenvolvem quando a inflamação se estende ao epitélio sobrejacente. As manifestações clínicas mais comuns de leishmaniose compreendem debilidade crônica, com mau estado corporal; úlceras cutâneas crônicas - mais frequentes nos lábios e nas pálpebras; alopecia generalizada e em torno dos olhos (“óculos”); pele opaca e com casposidades; crescimento excessivo das unhas (=onicogrifose); febre intermitente, anemia, descarga óculo-nasal recorrente, ocorrência de crostas sobre o nariz e diarreia recorrente. Pode levar muitos meses até que cães infectados apresentem manifestações clínicas da doença. Pode haver longos períodos sem manifestações clínicas seguidos pelo reaparecimento das mesmas. Na necrópsia de animais com Leishmaniose Visceral há lesões cutâneas descamativas focais, mas geralmente a apresentação é de cão adulto em mau estado corporal com pêlos opacos; baço aumentado, podendo apresentar duas ou três vezes seu tamanho normal e marrom-escuro a negro na superfície capsular; pulmões com pontilhado bronzeado; fígado, aumentado de volume e castanho escuro, aumento de volume de linfonodos. Os rins também se apresentam mais escuros que o normal. Como numerosos protozoários, na forma amastigota, estão presentes nos macrófagos e alguns livres no tecido, o diagnóstico pode feito pela pesquisa e demonstração de parasitos em preparações citológicas por punção aspirativa de medula óssea (da crista ilíaca, do esterno), de linfonodos, baço ou fígado, bordas de lesões cutâneas ulcerativas ou mesmo através de preparações histológicas, mas neste método é mais difícil a visualização das estruturas de leishmânia. A imuno-histoquímica de tecidos obtidos em biópsia ou necrópsia permitem a visualização do parasito. O diagnóstico baseia-se também em teste rápido imunocromático (DPP), provas sorológicas, como RIFI e ELISA, que são empregadas para verificar ocorrência de anticorpos contra leishmânia e citologia. Cada vez mais está sendo usada PCR como técnica diagnóstica para infecção por leishmânia, para a qual são empregadas amostras de medula óssea, linfonodo, pele ou sangue de animais suspeitos. DOENÇAS IMUNOMEDIADAS. São classificadas em auto-imunes e alérgicas e estão relacionadas à resposta do hospedeiro. Geralmente cursam com prurido, pode haver alopecia, despigmentação, formação de vesículas, e há resposta a tratamento com corticoides, dado que pode auxiliar no diagnóstico clínico. São mais comuns em caninos e equinos. 18 Dentre as reações auto-imunes (Hipersensibilidade tipo II), o complexo Pênfigo é o mais comum no cão, especialmente o Pênfigo foliáceo. Também podem ocorrer o penfigoide bolhoso, o Lupus eritematoso sistêmico e discoide e a Dermatomiosite. Uma doença auto-imune com alterações semelhantes ocorre em raças caninas do Ártico, como Husky Siberiano, Akita, Samoeida e Alaskan Malamute, denominada Síndrome uveodermatológica. Há agressão imunomediada de melanócitos, de causa desconhecida, com dermatite interface histiocítica. Ocorre despigmentação principalmente em lábios, nariz e pele periorbital. As lesões podem ulcerar e é frequente ocorrer leucotriquia nas áreas próximas. A doença tem características similares às da Síndrome de Vogt-Koyanagi-Harada-em humanos. Além da despigmentação da pele ocorre também panuveíte granulomatosa bilateral. As doenças cutâneas alérgicas (Hipersensibilidade tipo I) podem ter envolvimento de mecanismos da Hipersensibilidade tipo III ou do tipo IV e incluem urticária e angioedema, atopia, dermatite alérgica a picada de pulgas (DAPP), hipersensibilidade por Culicoides sp. e Dermatite alérgica de contato. Urticária/angioedema são manifestações de reação de hipersensibilidade tipos I e III, podem ser induzidos por medicamentos, picada de insetos, alimentos e aplicação de antissoro, situações que devem ser investigadas. A atopia, uma forma de Hipersensibilidade tipo I e possivelmente também tipo IV, é caracterizada pela produção exagerada de IgE em animais predispostos, após exposição repetida a alérgenos ambientais (pólen, ácaros, poeira); é manifesta clinicamente por prurido intenso. A DAPP corresponde a reação de Hipersensibilidade tipos I e IV. É a dermatite por hipersensibilidade mais comum em cães e gatos. Está relacionada principalmente a infestração por Ctenocephalides felis, a doença é mais frequente em cães de 3 a 6 anos e manifesta-se como dermatite pruriginosa papular, crostosa e eritermatosa. Nos cães as lesões têm distribuição típica na região lombossacral caudal, face caudomedial dos membros pélvicos, base da cauda e abdômen ventral. Ocorre alopecia, hiperpigmentação e liquenificação da pele. Foliculite superficial, dermatite úmida aguda e seborreia estão presentes na maioria dos caos. Nos gatos apresenta-se mais comumente como dermatite miliar, com pequenas pápulas que são cobertas por crostas sero-hemorrágicas, nas regiões cervical, dorsolombar ou é generalizada. Os gatos afetados passam a lamber-se impulsivamente, induzindo alopecia. A hipersensibilidade a picada por Culicoides sp. (=Mosquito pólvora), um mosquito pequeno, de 0,1-0,3cm, que ocorre em áreas pantanosas, mangues, marés, voa pouco e de hábito crepuscular, causa dermatite pruriginosa e eritematosa principalmenteem equinos e ovinos. A Dermatite de contato alérgica é uma reação de Hipersensibilidade tipo IV, relacionada a haptenos (pigmentos, medicamentos como neomicina, resina de plantas, substâncias em xampus, recipientes plásticos). Os haptenos são moléculas pequenas que se ligam a proteínas, originando complexos antigênicos. Na avaliação histopatológica geralmente é observada dermatite perivascular rica em eosinófilos. DOENÇAS ENDÓCRINAS frequentemente cursam com alterações na pele, especialmente Hipotireoidismo, Hiperadrenocorticismo e Hiperestrogenismo. Nestes casos geralmente há alopecia bilateral simétrica e hiperpigmentação da pele. Outros sinais devem ser investigados. A biópsia da pele pode ser interessante para definir o diagnóstico, bem como dosagens hormonais específicas. Na biopsia da pele em casos de hipotireoidismo observam-se atrofia de epiderme com hipertrofia e vacuolização de músculo piloeretor, além de acúmulo de material mucinoso na derme. No hiperadrenocorticismo (Síndrome de Cushing) as alterações na pele são caracterizadas, além de hipotricose/alopecia, por comedões, calcinose e perda da elasticidade. Além das alterações cutâneas podem ser observados polifagia, polidipsia e poliúria, distensão abdominal por atrofia muscular e hepatomegalia, e fraqueza muscular. Animais com hiperestrogenismo, mais frequente em caninos, apresentam alopecia bilateral simétrica, hiperqueratose ortoqueratótica, hiperpigmentação e hiperqueratose folicular. Cães machos apresentam também ginecomastia, prepúcio penduloso e, em casos mais graves, atraem outros machos. 19 Devem ser investigados cistos foliculares ou tumor de células da granulosa nas fêmeas e, nos machos, tumor de células de Sertoli ou mesmo uso de estrógenos exógenos. DOENÇAS NUTRICIONAIS que afetam a pele incluem desnutrição protéica e energética, deficiência de zinco e deficiência de cobre. Na deficiência proteicoenergética há pelagem opaca e pelos eriçados, pois o pelame fica fino e fraco, com falha na troca ou para completar o ciclo piloso e ocorre hiperqueratose. Esses sinais muitas vezes estão associados a retardo no crescimento e/ou menor desempenho dos animais e, em casos graves, edemas por hipoproteinemia. Frio acentuado e gestação podem agravar a desnutrição. Deficiência de zinco ocorre em suínos e caninos. Está relacionada a níveis baixos de zinco na dieta ou a níveis elevados de ácido fítico, que se liga ao zinco, tornando-o indisponível; ou a níveis elevados de cálcio, com redução da absorção de zinco. São observadas máculas avermelhadas que iniciam em abdômen e face medial das coxas e se estendem às extremidades dos membros e áreas perioculares. Formam-se escamas e crostas; estas ficam espessadas, sofrem fissuras, propiciando a instalação de bactérias. Histologicamente é característica a paraqueratose, com acantose. Nos caninos as lesões ocorrem ao redor da boca e dos olhos, nas orelhas e pontos de pressão, com descamação e formação de crostas. A Deficiência de cobre induz despigmentação de pele e pelos de bovinos, ovinos e caprinos, pois é elemento necessário para a ação da tirosinase, enzima envolvida na secreção de melanina pelos melanócitos. Há manifestação de pele e pelos despigmentados, sendo característico o aspecto marrrom-avermelhado da pelagem de animais originalmente pretos. A alteração é melhor observada em torno dos olhos, com despigmentação periocular o que é denominado “óculos”. Nos ovinos lanados há também menor ondulação dos fios de lã. O cobre pode estar em níveis insuficientes na dieta, mas a deficiência pode ser secundária a níveis elevados de molibdênio, elemento antagonista do cobre. Sulfatos inorgânicos, por potencializarem o molibdênio, podem também, em níveis elevados, induzir deficiência secundária de cobre. A doença ocorre em animais a pasto, em solos arenosos e pobres em matéria orgânica. Além da despigmentação dos pelos podem ser observados também emagrecimento significativo, apesar de os animais estarem em pastagens abundantes, e diarreia crônica, mas pode haver apenas manifestação de morte súbita. A deficiência de cobre induz também hipomielinogênese em ovinos (“Swayback”, Ataxia enzoótica) e em bovinos, com nascimento de animais incapazes de levantar e com ataxia. NEOPLASIAS CUTÂNEAS Neoplasias benignas. São várias as neoplasias benignas na pele de animais, observadas principalmente em caninos. Geralmente aparecem como pequenos nódulos não ulcerados, mas seu diagnóstico depende de exame histológico, na maioria dos casos. Incluem tumor de células basais, tricoepitelioma, adenoma glândulas sebáceas e sudoríparas, histiocitoma, hemangioma, melanocitoma (=melanoma benigno), fibroma, lipoma, sarcoide equino, e outros. * Nos bovinos jovens é importante a papilomatose, causada por Papilomavírus bovino, com regressão e desaparecimento das lesões verrucosas quando do desenvolvimento de imunidade específica, razão por que algumas vezes as lesões são referidas como hiperplasia e não como neoplasia. * Sarcoide equino. O sarcoide é uma neoplasia benigna de pele comum nos equídeos, cuja etiologia é atribuída ao Papilomavírus bovino tipo 2. Produz massas proliferativas, geralmente ulceradas, únicas ou múltiplas, as quais podem ocorrer na cabeça, na pele da extremidade distal dos membros, mas podem ter outra localização, e ocorrem em qualquer idade, sexo e raça. As alterações podem regredir espontaneamente e, em remoção cirúrgica, é frequente a recidiva. Deve ser feito diagnóstico diferencial com tecido de granulação exuberante, pela semelhança macroscópica; de pitiose, carcinoma de células escamosas, ou seja, doença em que há formação de lesões cutâneas extensas e ulceradas. Para conclusão diagnóstica deve ser feita biópsia da lesão, com colheita nas bordas da lesão, incluindo epitélio. Neoplasias cutâneas malignas 20 � Carcinoma células escamosas (CCE) ou carcinoma epidermoide. Relacionado à radiação solar, as lesões ocorrem em animais adultos com pele despigmentada ou pouco pigmentada, e em regiões de menor densidade pilosa. Caracteriza-se por lesões invasivas, ulceradas, deprimidas ou proliferativas, firmes e ao corte pode haver grânulos amarelo enxofre, que são as pérolas de queratina. Sua ocorrência é comum em caninos de pelagem clara, principalmente na região ventral, como observado em Pit Bull e Boxer. Em felinos o carcinoma de células escamosas é frequente em orelhas, focinho e pálpebras e, em bovinos, nas pálpebras, na região vulvar e no dorso quando despigmentado, em ovelhas principalmente na vulva e, em cabras, nos tetos. Após remoção cirúrgica é frequente a ocorrência de recidiva. Isso tem relação com a característica da proliferação do CCE, que é muito invasiva, dificultando a remoção completa do tumor, de forma que, apesar de aparente margem de segurança na remoção cirúrgica é frequente permanecerem coleções de células neoplásicas no tecido subjacente. � Melanoma. Tumor maligno de melanócitos, forma nódulos ou massas geralmente escuras a enegrecidas, de acordo com a quantidade de melanina sintetizada pelas células neoplásicas. As lesões podem estar ulceradas e mesmo lesões de dimensões reduzidas já podem apresentar metástase. O melanoma é patologia de pele importante em equinos tordilhos, com localização perianal e base de cauda. É também frequente na pele de caninos, nos quais pode ocorrer na pele, no globo ocular, na região subungueal e na cavidade oral. Neoplasia de melanócitos é comum em pálpebras de caninos, neste caso mais frequentemente é benigno (melanocitoma). � Mastocitoma. Neoplasia maligna de mastócitos comum em caninos, principalmente da raça Boxer, e ocasional em felinos. A neoplasia pode ser proliferativa, geralmente ulcerativa e de consistência mole a firme. Localizações frequentes em caninos são membros pélvicos e escroto. A confirmação do diagnóstico é feita por exames de citologia e histologia, com classificação histológica em Grau I, II
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