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Interpretação de Textos e Redação Professor Raquel Cesário _1 REDAÇÃO DISCURSIVA Primeiramente, é importante entender o que a banca irá avaliar em uma prova discursiva. Para isso, é importante traçar uma estratégia: • O QUE DIZ O EDITAL? • O QUE É MAIS IMPORTANTE: FORMA x CONTEÚDO • DEVO OU POSSO USAR O TEXTO MOTIVADOR? • VALE A PENA “PULAR” UM TÓPICO? • COMEÇO PELA REDAÇÃO OU NÃO? Mais do que qualquer outra disciplina, a redação precisa de treino. Muita dedicação, persistência e exercício. Antes de darmos início à teoria propriamente dita, quero abordar alguns pontos importantes: • Fique atento à estética do seu texto – letra legível, parágrafos uniformes e pouca (ou nenhuma) rasura. • Utilize a norma culta, prezando sempre pela objetividade do seu texto. • Cuidado com a introdução: ela deve ser clara, precisa, objetiva. Delimite o que será trabalhado no texto e se atenha a isso. • Não faça parágrafos frasais – principalmente no desenvolvimento. Cada parágrafo deve ter um tópico frasal que apresente a ideia a ser desenvolvidas e outras frases que a comprovem. E o mais importante.... Atente-se ao roteiro indicado pela banca → cada tópico deve ser desenvolvido, preferencialmente, na ordem em que foi apresentado, lembrando sempre de repetir as palavras centrais das questões. Muitas provas trabalham temas da atualidade e versam, basicamente, em torno de três grupos temáticos: (1) Questões ambientais (mudanças climáticas, escassez da água, desastres naturais) (2) Questões sobre direitos humanos (questões sociais de uma forma geral) (3) Uso da tecnologia Outras exigem conteúdo específico, a fim de avaliar o conhecimento técnico do candidato. VEJA UM EXEMPLO de PROVA DISCURSIVA do CEBRASPE • Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, o espaço para rascunho indicado no presente caderno. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos. • Qualquer fragmento de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. • Na folha de texto definitivo, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado. • Nesta prova, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 40,00 pontos, dos quais até 2,00 pontos serão atribuídos ao quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto estruturado). Historicamente, instruir os que não sabem, alimentar os famintos e cuidar dos doentes têm sido algumas das missões diárias indicadas aos devotos de diferentes religiões. Em tempos modernos, a essas missões foi acrescentado um novo item: zelar pelo meio ambiente, como revela, por exemplo, uma mensagem escrita pelo Papa Francisco, exortando as sociedades, independentemente de suas crenças, a tomar medidas urgentes para frear as mudanças climáticas. Para o representante máximo do catolicismo, “o cuidado da casa comum requer simples gestos cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo, e manifestamos o amor em todas as ações que procuram construir um mundo melhor”. O Globo, 2/9/2016, p. 29 (com adaptações). Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema: PRESERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA: RESPONSABILIDADE DO ESTADO, DA SOCIEDADE E DE CADA CIDADÃO Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos: • Relação entre os cuidados com o meio ambiente e a preservação das condições sanitárias; [valor: 12,00 pontos] • Atitudes individuais que podem reduzir os efeitos da ação humana sobre o planeta; [valor: 13,00 pontos] • Formas de atuação da sociedade para que os governos cumpram compromissos relacionados à preservação ambiental. [valor: 13,00 pontos] Interpretação de Textos e Redação _2 Então, vamos ao conteúdo. O QUE É NECESSÁRIO EM UM TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO? Para responder a essa pergunta, devemos partir do significado do verbo argumentar. O Dicionário Houaiss on-line assim o define: “apresentar fatos, ideias, razões lógicas etc. que comprovem uma afirmação, uma tese”. A argumentação é, então, uma comprovação de tese. A tese, por sua vez, corresponde a um posicionamento em relação a um tema, a uma opinião. Para criar uma tese, é necessário realizar uma avaliação, a qual terá, necessariamente, caráter subjetivo. Esta afirmação pode causar estranheza, mas saiba: um texto dissertativo- argumentativo tem, em seu núcleo, a subjetividade, pois ele não existe por outra razão a não ser a defesa de uma opinião. O texto dissertativo-argumentativo é um texto de convencimento, cuja função é fazer que o receptor passe a aceitar como válida ou, pelo menos, como aceitável, a visão de mundo apresentada pelo emissor. Não confunda, no entanto, a subjetividade presente na tese com uma autorização para deixar a subjetividade transparecer na linguagem. Como veremos adiante, as escolhas linguísticas relacionadas à enunciação devem, dentro do possível, transmitir ao discurso certa neutralidade, de modo a induzir o leitor à crença de que o ponto de vista defendido é uma verdade, e não apenas uma opinião. Se há tese, tem de haver argumentos, que são as ideias trazidas para comprovar a validade do ponto de vista. Na verdade, escrever um texto dissertativo-argumentativo nada mais é do que exercitar a retórica, a capacidade de usar a palavra com vistas a alcançar uma finalidade – no caso, a comprovação da tese. Estudaremos, aqui, diversas estratégias argumentativas. Elas incluem, por exemplo, o estabelecimento de relações lógicas (em especial as de causa e efeito), a comparação, a analogia, a apresentação de dados e o uso de argumento de autoridade. Essas e outras serão vistas e exemplificadas. Por ora, o essencial é compreender que todo texto dissertativo-argumentativo se organiza em torno de uma tese e tem como razão de existir a defesa dessa tese, a qual se dá por meio da argumentação lógica. COMO CRIAR UMA TESE? Uma boa tese é o ponto de partida de um bom texto argumentativo. Sua criação depende da habilidade de avaliação do autor do texto para analisar certo tema e posicionar-se em relação a ele. A simples enunciação de um fato ou a demonstração do tema de um texto não correspondem a uma tese. Para que ela exista, o autor do texto tem que submeter o tema a um processo avaliativo e definir qual é a sua visão sobre o que se discute. A tese nada mais é do que a opinião do autor sobre o assunto analisado. Ela pode ser definida com a resposta a uma simples pergunta: O QUE EU PENSO SOBRE ESTE TEMA? Quando o autor faz a si mesmo a pergunta acima, ele se força a assumir uma posição. Para chegar a uma resposta, ele necessariamente realizará um juízo de valor. Sobre o tema, o redator terá que definir: isso é certo ou errado? Útil ou inútil? Eficaz ou ineficaz? Suficiente ou insuficiente? Legal ou ilegal? Ético ou antiético? A resposta a qualquer das perguntas acima implicará um posicionamento, que deverá ser sustentado com justificativas. Essas justificativas são os argumentos, apresentam as razões que tornam válida a opinião do autor. Quanto mais fortes os argumentos, mais bem defendida será a tese. Façamos, portanto, a diferenciação, antes que possamos analisar exemplos: • Tema é o assunto sobre o qual se escreve. • Tese é a posição assumida pelo autor sobre o tema. Trata-se de uma opinião. Argumentos são as razões apresentadas para defender a tese, para justificar a opinião. O tema será apresentado ao candidato pela banca examinadora. Normalmente, a prova apresenta textos motivadores, que servem de orientação e fonte de inspiração ao redator, e, em uma sentença não muito longa, o tema propriamentedito. É extremamente importante que, antes de começar a planejar o texto, o candidato interprete cuidadosamente o comando contido no tema, pois fugir a ele é um erro incontornável nas redações, geralmente acarretando a atribuição de nota zero. Vamos a um tema amplo: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” Temos que criar uma tese a partir desse tema. Assim, será necessário fazer uma avaliação, um juízo de valor. Haverá, portanto, subjetividade. Veja um exemplo: A violência contra a mulher, na sociedade brasileira, é um problema histórico e multifacetado, tanto em sua manifestação, quanto em sua origem. Vinculá-la apenas à agressão física e aos fatos que originam outras categorias de violência é um equívoco que põe em risco a integridade feminina e impede a efetiva correção de tal realidade. Esse trecho funcionaria bem como o parágrafo introdutório de uma redação, uma vez que deixa claros o tema e a tese. Nele, ocorrem algumas avaliações: • Sobre o conceito de violência: não se trata apenas de um fenômeno de agressão física, mas envolve outras características (por isso é um fenômeno multifacetado). Interpretação de Textos e Redação _3 É um conceito mais amplo do que o comumente usado; • Sobre a origem da violência contra a mulher: as causas da violência contra a mulher não são apenas as mesmas que originam outros tipos de violência; o equívoco no tratamento das causas desse fenômeno impede seu controle. Como a tese traz opinião, ela demandará justificativa. Por isso, depois do parágrafo introdutório, que contém tema e tese, vêm os parágrafos do desenvolvimento, que apresentam a sustentação do posicionamento. O desenvolvimento prova, por meio da apresentação de argumentos lógicos, a validade da tese. Veja um esquema com a estrutura de um texto argumentativo com limite máximo de 30 linhas. TÍTULO COMO ESCOLHER OS ARGUMENTOS? Os argumentos são as ideias usadas para defender a tese. A tese representa o que o autor pensa sobre determinado assunto; os argumentos, por sua vez, correspondem a por que o autor tem aquela opinião. Todos os argumentos usados devem ser relevantes para a defesa da tese apresentada. Isso significa dizer que eles devem ser selecionados levando-se em consideração a capacidade que têm de sustentar a posição apresentada pelo autor. De nada adianta apresentar ideias e informações consideradas importantes em uma análise geral se elas não estiverem intimamente ligadas ao tema e à tese do texto. Mantenha isto em mente: tudo o que você escrever no texto deve estar ligado ao tema e deve servir para defender a tese. Para escolher os argumentos, como mencionado acima, é preciso responder à seguinte pergunta: por que eu penso isso sobre o tema? Considerando-se a tese criada no tópico anterior, a pergunta seria: Por que a violência contra a mulher é um problema multifacetado? Por que vincular a violência contra a mulher apenas à agressão física e aos fatos que originam outras categorias de violência é um equívoco? Por que isso impede a correção do problema? Como todas essas questões foram levantadas na tese, todas elas devem ser trabalhadas no desenvolvimento. Caso desejássemos abordar menos tópicos, bastaria que elaborássemos uma tese menos abrangente. Mas tome o cuidado de não criar uma tese simples demais, pois você terá que ocupar pelo menos dois parágrafos falando sobre ela. Ao escrever o desenvolvimento, lembre-se de: • Dar a cada parágrafo uma – e apenas uma – ideia- núcleo, a qual estará contida na primeira frase (à qual costumamos chamar tópico frasal); • Desenvolver a ideia-núcleo por meio de explicações, comparações, analogias, exemplos, argumentos de autoridade etc., que serão ideias secundárias (não por serem pouco importantes, mas surgirem da ideia primária – o tópico – com a finalidade de desenvolvê- la); • Selecionar ideias-núcleo diretamente ligadas à tese apresentada; • Organizar cuidadosamente os argumentos, de modo a tornar simples a compreensão do texto, utilizando- se, inclusive, dos elementos de coesão textual para alcançar a maior clareza possível. Planejemos! Vamos pensar em justificativas para o nosso posicionamento. Escreva, no espaço para rascunho, aquilo vier à sua mente! I. Por que a violência contra a mulher é um problema multifacetado? • A violência contra a mulher é um problema multifacetado em sua manifestação porque pode ser física, moral, sexual, patrimonial etc. • A violência contra a mulher é um problema multifacetado em sua origem porque não tem apenas uma causa: a origem pode estar em fenômenos culturais (como a sociedade patriarcal), sociais (por exemplo, mulheres com menos acesso à educação podem estar mais propensas a sofrer esse tipo de violência), políticas (a falta de representatividade das mulheres no Legislativo retira do problema sua visibilidade política) etc. II. Por que vincular a violência contra mulher apenas à violência física é um equívoco e impede a correção do problema? • É um equívoco porque não permite a compreensão do problema em toda a sua complexidade, limitando-o apenas a um de seus aspectos; • Impediria sua correção porque as causas das vertentes ignoradas da violência contra a mulher não seriam eliminadas ou, ao menos, reduzidas. A introdução ocupa um parágrafo e apresenta o tema do texto e a tese a ser defendida Desenvolvimento: terá quantos parágrafos forem os argumentos. Cada parágrafo apresenta o tópico frasal + expansão. Conclusão deve ocupar um único parágrafo e pode ser formulada com uma síntese ou como conclusão aberta Interpretação de Textos e Redação _4 III. Por que vincular a violência contra a mulher apenas aos fatos que originam outras categorias de violência é um equívoco e impede a correção do problema? • Porque impede a identificação de causas específicas da violência contra a mulher, baseadas em diferenças no tratamento dos gêneros na sociedade patriarcal, consequentemente inviabilizando a amenização do problema. Vamos, agora, organizar essas informações em forma de parágrafos, acrescentando a elas mais elementos, desde que tenham relevância argumentativa. Lembre-se sempre da necessidade de manter o foco na tese. DESENVOLVIMENTO – PARÁGRAFO 1 O amplo alcance do termo “violência contra a mulher”, que inclui investidas contra a integridade física e psicológica da mulher, é capaz de evidenciar que se trata de um fenômeno complexo. O conceito envolve desde ações evidentemente criminosas, como lesão corporal e estupro, a outras que, de tão corriqueiras, sequer parecem desrespeitosas – por exemplo, a sobrecarga de trabalho a que se submetem muitas brasileiras. Pesquisa do IBGE, divulgada em 2014, comprova esse fato ao demonstrar que, somando-se as tarefas profissionais ao que se faz no ambiente doméstico, mulheres trabalham cinco horas a mais do que homens. • Em negrito, está o tópico frasal, sentença que apresenta a ideia central do parágrafo e que deve, necessariamente, estar ligada ao tema e à tese. • Em itálico, na sequência, aparece a segunda sentença, correspondente à primeira parte da expansão do tópico. Essa sentença foi usada para explicar melhor a definição de “violência contra a mulher” como um “fenômeno complexo”. • A terceira sentença, sublinhada, comprova argumento trazido na imediatamente anterior. Na segunda, afirma-se que a mulher trabalha mais do que o homem; na terceira, cita-se o IBGE e o número total de horas a mais que as mulheres trabalham diariamente em comparação aos homens. Dados conhecidos e de fontes confiáveis podem ser citados, desde que você tenha certeza sobre o que apresenta e que faça a atribuição da fonte. DESENVOLVIMENTO – PARÁGRAFO 2 Além de se manifestar de diversas formas, a violência contra a mulher surge de razões variadas, vinculadas a características das vítimas ou do sistema social e político vigente nos dias de hoje. A sociedade patriarcalpode ser apontada como a mais importante causa do surgimento e da manutenção desse fenômeno, uma vez que se sustenta em uma concepção do feminino como naturalmente subserviente ao masculino. Esse tipo de comportamento opressor pode ser exemplificado pelo comportamento de homens influentes na sociedade que já afirmaram que mulheres devem ter salários menores do que os masculinos porque engravidam. • A primeira sentença do segundo parágrafo, em negrito, também é um tópico frasal, pois encerra a ideia nuclear desse trecho. Ela se inicia com “além de”, que promove a sequenciação das informações do parágrafo, transmitindo noção de adição. A ideia central do primeiro parágrafo soma-se à do segundo para, juntas, de modo complementar, demonstrarem a complexidade do fenômeno da violência contra a mulher. No primeiro, a complexidade é devida à multiplicidade de formas de manifestação da violência contra a mulher; no segundo, é devida às diferentes origens que a violência pode ter. • A segunda sentença, em itálico, desenvolve a ideia trazida pelo tópico frasal apresentando, de modo específico, uma causa para o fenômeno em questão – a sociedade patriarcal e seus costumes. • A terceira sentença, sublinhada, evoca como exemplos fatos de conhecimento público, que são citados brevemente, sem narração pormenorizada, para comprovar a validade da argumentação desenvolvida no parágrafo. DESENVOLVIMENTO – PARÁGRAFO 3 Apesar das dificuldades inerentes à conceituação da violência voltada ao gênero feminino, há esboço de reação quando o Estado coloca, ao alcance das vítimas, instrumentos de defesa. Isso demonstra que grande parte das mulheres agredidas tem consciência de sua posição prejudicada e de seus direitos. Tal consciência é comprovada pelo número de processos ajuizados observando-se a Lei Maria da Penha, que ultrapassou 300 mil em apenas cinco anos, dos quais cerca de 1/3 foi julgado – uma quantidade expressiva, mas ainda não suficiente para garantir às vítimas segurança. • A primeira sentença, em negrito, é o tópico frasal do parágrafo, o qual, por meio de uma ressalva, admite a existência de dificuldades práticas e terminológicas envolvendo a violência contra a mulher, que trazem dificuldades às vítimas, mas deixa claro que tal dificuldade não impede a reação, desde que instrumentos para tanto sejam disponibilizados. • A segunda sentença, em itálico, faz uma inferência a partir da informação dada na anterior, lançando mão do raciocínio lógico. Interpretação de Textos e Redação _5 • A terceira sentença, sublinhada, parafraseia dados trazidos por um texto motivador para comprovar, simultaneamente, a validade da inferência anterior e a insuficiência dos resultados práticos atuais (note que não há cópia de texto, mas apenas aproveitamento da informação). Como concluir o texto? A conclusão é o parágrafo reservado, naturalmente, à finalização do texto. A forma mais clássica da conclusão é aquela em que, depois de um conector adequado, faz-se a retomada da tese, para reforçar o ponto de vista apresentado na introdução, e, na sequência, numa segunda frase, apresenta-se um fechamento, que pode ser uma expectativa, uma proposta de intervenção ou uma consequência do raciocínio apresentado. Exemplo de conclusão I – fechamento → decorrência/consequência Dessa maneira, as múltiplas formas de manifestação da violência contra a mulher e os diferentes fatos que lhe dão causa imputam ao fenômeno grande complexidade analítica. Em decorrência disso, as autoridades têm dificuldade ao lidar com as ocorrências e a parcela feminina da população padece sem o respaldo oficial a que deveria ter acesso, o que evidencia que minimizar o sofrimento feminino, na sociedade brasileira, ainda é um objetivo de longo prazo. (Em negrito está o trecho que contém a consequência.) Exemplo de conclusão II – fechamento → expectativa Dessa maneira, as múltiplas formas de manifestação da violência contra a mulher e os diferentes fatos que lhe dão causa imputam ao fenômeno grande complexidade analítica. Espera-se que haja vontade política e força nos movimentos sociais capazes de, em conjunto, agirem em prol da igualdade de gêneros, no Brasil, inclusive na diminuição dos casos de violência. (Em negrito está o trecho que contém a expectativa.) Exemplo de conclusão III – fechamento → proposta de intervenção Dessa maneira, as múltiplas formas de manifestação da violência contra a mulher e os diferentes fatos que lhe dão causa imputam ao fenômeno grande complexidade analítica. Para lidar com tal situação, é necessário preparar, por meio de ações nas escolas, as gerações que, no futuro, terão o controle das instituições e da sociedade em geral, para que a cultura de subjugar o gênero feminino seja superada. (Em negrito está o trecho que contém a proposta de intervenção.) Vamos ao texto completo: A violência contra a mulher, na sociedade brasileira, é um problema histórico e multifacetado, tanto em sua manifestação, quanto em sua origem. Vinculá-la apenas à agressão física e aos fatos que originam outras categorias de violência é um equívoco que põe em risco a integridade feminina e impede a efetiva correção de tal realidade. O amplo alcance do termo “violência contra a mulher”, que inclui investidas contra a integridade física e psicológica da mulher, é capaz de evidenciar que se trata de um fenômeno complexo. O conceito envolve desde ações evidentemente criminosas, como lesão corporal e estupro, a outras que, de tão corriqueiras, sequer parecem desrespeitosas – por exemplo, a sobrecarga de trabalho a que se submetem muitas brasileiras. Pesquisa do IBGE, divulgada em 2014, comprova esse fato ao demonstrar que, somando-se as tarefas profissionais ao que se faz no ambiente doméstico, mulheres trabalham cinco horas a mais do que homens. Além de se manifestar de diversas formas, a violência contra a mulher surge de razões variadas, vinculadas a características das vítimas ou do sistema social e político vigente nos dias de hoje. A sociedade patriarcal pode ser apontada como a mais importante causa do surgimento e da manutenção desse fenômeno, uma vez que se sustenta em uma concepção do feminino como naturalmente subserviente ao masculino. Esse tipo de comportamento opressor pode ser exemplificado por atitudes de homens influentes na sociedade que já afirmaram que mulheres devem ter salários menores do que os masculinos porque engravidam. Apesar das dificuldades inerentes à conceituação da violência voltada ao gênero feminino, há esboço de reação quando o Estado coloca, ao alcance das vítimas, instrumentos de defesa. Isso demonstra que grande parte das mulheres agredidas tem consciência de sua posição prejudicada e de seus direitos. Tal consciência é comprovada pelo número de processos ajuizados observando-se a Lei Maria da Penha, que ultrapassou 300 mil em apenas cinco anos, dos quais cerca de 1/3 foi julgado – uma quantidade expressiva, mas ainda não suficiente para garantir às vítimas segurança. Desse modo, para melhorar a situação das mulheres em relação à sua segurança, à sua integridade física e à sua integridade moral, é preciso, por meio da elaboração e da aplicação de políticas públicas, promover a conscientização dos brasileiros. Com campanhas publicitárias veiculadas pela televisão, podem-se buscar resultados imediatos junto à população adulta; no tocante às crianças, a inserção, no currículo escolar, de atividades com vistas a desenvolver a percepção de igualdade entre gêneros tem o condão de colaborar para um futuro em que, espera-se, as ações dos cidadãos não propiciem a criação de um tipo de violência aplicável especificamente a pessoas de certo gênero sexual. → Opções para estruturar o desenvolvimento O desenvolvimento de um texto pode, dentro dos limites mínimo e máximo de linhas, apresentar-se de muitas formas. Trabalharemos, aqui, duas delas: elencar justificativaspara a afirmativa apresentada na tese (ou, em outras palavras, elencar argumentos); usar a dialética Interpretação de Textos e Redação _6 para contrapor pontos de vista conflitantes. Como decidir entre uma estrutura ou outra? Normalmente, o próprio autor do texto define qual das duas estruturas deseja utilizar, após cuidadosa análise do tema. Há propostas que facilitam a abordagem de elencar justificativas, ao passo que outras, em geral voltadas a temas polêmicos, são perfeitas para a abordagem dialética. Mas mantenha a atenção: é possível que a banca examinadora determine, na própria proposta, a estrutura adequada. Por isso, a leitura cuidadosa do comando da prova é crucial! Imagine que a prova solicite seu posicionamento sobre o seguinte tema: “a redução da maioridade penal pode controlar a violência no Brasil?”. Você precisaria, nesse caso, escrever um texto defendendo a possibilidade de eficácia da eventual redução da maioridade penal ou posicionando pela sua ineficácia. Note que a proposta apresenta uma medida (redução da maioridade penal) que pode ou não ser adotada, mas, se for, o será para alcançar uma finalidade específica: o controle da violência. Nessa situação, a avaliação deve versar, necessariamente, sobre a aptidão da medida para alcançar o resultado pretendido. Não se deve escrever um texto simplesmente sobre a maioridade penal ou sobre violência, mas, sim, sobre a capacidade de a redução da maioridade penal reduzir a violência. A análise sobre a possibilidade de eficácia da medida em questão deve ficar evidente na introdução do texto! Essa percepção é importante para evitar fuga ao tema. Se decidíssemos pela tese de que não, a redução da maioridade penal não seria uma medida eficaz para o controle da violência, poderíamos usar as seguintes estratégias para desenvolver o texto: Estratégia 1 - Elencar argumentos TESE (O QUE EU PENSO SOBRE O ASSUNTO?): A redução da maioridade penal não configura estratégia adequada para diminuir a violência. ARGUMENTOS (POR QUE EU PENSO ISSO SOBRE O ASSUNTO?): A redução da maioridade penal seria ineficaz... ... porque se baseia na falsa premissa de que menores em conflito com a lei não sofrem nenhuma consequência por seus atos; ... porque não busca solucionar a real causa da violência, que corresponde à desigualdade social; ... porque o número de assassinatos comprovadamente cometidos por menores de idade é muito menor do que o dos cometidos por adultos (segundo estimativa da Unicef, menos de 1% do total). Os argumentos aqui apresentados, claro, serão mais bem trabalhados no desenvolvimento, contando com os desdobramentos necessários. Veja a seguir. Os altos índices da criminalidade, no Brasil, causam medo e revolta na população e a levam a considerar a adoção de medidas extremas, como a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, para amenizar o problema. Essa estratégia, todavia, não tem aptidão para diminuir a violência , uma vez que se baseia em uma premissa equivocada4 e, também, ignora sua verdadeira causa . A principal premissa que sustenta a defesa da redução da maioridade penal – a suposta impunidade das crianças e adolescentes em conflito com a lei, a qual geraria a violência – é falsa. Isso se deve ao fato de que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, de modo claro, diversas consequências para a prática de ato infracional por pessoas cuja idade esteja entre 12 e 18 anos, entre as quais se incluem a inserção em regime de semiliberdade e a internação em estabelecimento educacional. Logo, a equiparação dos menores infratores aos criminosos adultos não implicaria diferença prática, de modo que não seria legítimo esperar, a partir dessa medida, efetivo aumento da segurança. Além disso, diminuir a idade mínima para que adolescentes sejam julgados como se adultos fossem não afeta a causa real da criminalidade, consistente na desigualdade social e nas mazelas dela advindas. A concentração de riquezas, fator que priva considerável parcela da população do acesso a bens necessários para uma vida digna, faz agravar a situação de conflito social experimentada cotidianamente pelos brasileiros e gera violência. Por essa razão, países com alto índice de desenvolvimento humano, capazes de garantir bem-estar às suas populações, como a Dinamarca e o Canadá, estão entre os mais pacíficos e seguros do planeta. Diante disso, fica claro que, por negligenciar a verdadeira razão de existir da violência e por partir de uma premissa inválida, a redução da maioridade penal não é medida hábil para minimizar a insegurança. Espera-se que a percepção desses fatos oriente as autoridades para a adoção de políticas públicas que contribuam, de fato, para a transformação do Brasil em um país seguro e socialmente mais desenvolvido. Estratégia 2 – Dialética Ocorre a dialética quando há o confronto de duas posições opostas, cada uma defendida por seus argumentos pertinentes. É o tipo de tratamento ideal para temas polêmicos, ou seja, aqueles que dividem, verdadeiramente, a sociedade, como a legalização do consumo de drogas, a legalização do aborto e a eutanásia. Em situações como essas, argumentos relevantes podem ser levantados tanto contrária quanto favoravelmente às Interpretação de Textos e Redação _7 medidas analisadas. Mas, mesmo que opte por usar a técnica da dialética, o redator deverá definir qual é o seu ponto de vista. No texto, o redator falará por si mesmo, manifestando sua opinião, e por outros grupos sociais, informando ao leitor a opinião da “oposição”. Devem ficar claras, no texto, as ocorrências de trechos que detêm palavras atribuídas ao “outro”. Para isso, é possível usar a voz passiva ou o índice de indeterminação do sujeito, criando-se um afastamento entre as sentenças que representam a voz do autor e as que representam vozes dissonantes (opiniões conflitantes). Nesse caso, é preciso identificar argumentos de ambos os lados: A redução da maioridade penal pode controlar a violência no Brasil? FAVORÁVEIS (SIM) – medida será eficaz: Porque criaria punições aos menores infratores; Consequentemente, reduziria a prática de crimes graças à perda da sensação de impunidade. CONTRÁRIOS (NÃO) – medida não será eficaz: Porque se baseia na premissa equivocada de que não há punição para menores; Porque não leva em consideração as verdadeiras causas da violência; Porque não leva em consideração a proporção ínfima da participação dos menores no cometimento de crimes (estimativa da Unicef diz que 1% dos assassinatos registrados no Brasil é cometido por menores de idade). Na estrutura que conheceremos agora, algumas características devem ser observadas: • O parágrafo introdutório deve deixar claro para o leitor qual é o tema do texto. Além disso, é preciso que ele apresente a tese. Nesse caso, a tese será construída de modo a evidenciar a existência de um conflito de opiniões na sociedade, utilizando-se uma ressalva. Toda ressalva é formada por duas partes que se opõem, mas uma delas sempre prevalece sobre a outra. A parte prevalecente corresponderá ao ponto de vista do autor; a parte invalidada pela ressalva corresponderá ao pensamento dos outros grupos sociais, com os quais o autor não concorda. • • No primeiro parágrafo do desenvolvimento, apresenta-se a opinião dos grupos discordantes. Por isso, assertivas são introduzidas por elementos que evidenciem que se trata de discurso de terceiros (“costuma-se afirmar que...”, “é frequente que seja dito...”, “defende-se, hoje, que...”, “há grupos sociais que afirmam...” etc.). Ainda no primeiro parágrafo, a opinião contrastante à do autor deverá ser refutada, ou seja, sua validade deverá ser rejeitada. • No segundo parágrafo do desenvolvimento, o autor apresentará, de fato, seu posicionamento e explicará porque ele é melhor que o refutado anteriormente. Como as falas, aqui, pertencem ao próprio redator, não é necessárioque se usem expressões como “defende-se que”, “afirma-se que” etc. Se for preciso, um terceiro parágrafo de desenvolvimento poderá ser acrescentado para continuar a argumentação em prol do ponto de vista do autor. A construção de um texto estruturado de acordo com a estratégia da dialética não corresponde, portanto, à simples apresentação de dois pontos de vista com a posterior escolha de um deles. O que ocorre é o seguinte: (1) Apresentação do conflito, na introdução, já com a indicação sobre o posicionamento adotado pelo autor; (2) No primeiro parágrafo do desenvolvimento, exposição da ideia contrária, com uso de marcos discursivos indicadores de que ela pertence a outro grupo da sociedade, e não ao grupo do qual o autor faz parte; (3) Ainda no primeiro parágrafo do desenvolvimento, refutação, ou seja, rejeição da ideia contrária; (4) A partir do segundo parágrafo do desenvolvimento, apresentação do ponto de vista defendido pelo próprio autor do texto; (5) Na conclusão, reafirmação do ponto de vista apresentado na tese e apresentação, como já visto, de um fechamento para o texto. Veja, na página seguinte, um exemplo de texto estruturado de acordo com a estratégia da dialética. Observação: ao corrigir seu texto dissertativo-argumentativo, a banca se preocupará em avaliar sua capacidade de argumentação e seu domínio sobre a utilização da língua e sobre o gênero textual solicitado. No geral, não há uma tese certa a ser adotada, mas sim uma tese adequadamente relacionada ao tema e bem defendida. Isso quer dizer que você, em seu texto, pode adotar uma posição oposta à apresentada nos exemplos deste manual e obter uma excelente nota. Os textos aqui apresentados servem apenas para ilustrar as possibilidades de organização das ideias na hora da prova. Os altos índices da criminalidade, no Brasil, causam medo e revolta na população e a levam a considerar a adoção de medidas extremas, como a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, para amenizar o problema.Tal posicionamento, embora seja compreensível, reflete um equívoco, por parte de parcela da sociedade, na análise dos fatos relativos ao aumento da insegurança. Há grupos sociais que, diante das falhas na segurança pública vivenciadas no país, defendem a adoção de tratamento mais rígido para os menores de idade em conflito com a lei. Costuma-se afirmar, em Interpretação de Textos e Redação _8 respaldo a essa posição, que adolescentes ficam impunes independentemente dos atos que pratiquem e que, com o endurecimento da legislação, haveria o arrefecimento da sensação de impunidade e, consequentemente, a redução do número de crimes. Esse raciocínio pode parecer adequado, mas, por partir de uma falsa premissa e ignorar fatos importantes, deve ser considerado falho. Um fator que pesa contra a redução da maioridade penal é o fato de ela se basear na crença equivocada de que as ações de menores infratores não acarretam consequências no âmbito jurídico. Essa premissa não leva em consideração que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê uma série de medidas socioeducativas a serem aplicadas em caso de atos infracionais, as quais podem incluir a inserção do adolescente em regime de semiliberdade ou sua internação em estabelecimento educacional. Sendo assim, não é legítimo acreditar que a criminalidade se origine na impunidade, pois esta não existe. Deve-se levar em consideração, também, que uma ação só tem o potencial de reduzir os índices de criminalidade caso minimize alguma de suas causas mais relevantes. Isso não aconteceria com a redução da maioridade penal, pois, ainda que participem de delitos graves, os menores de 18 anos envolvem-se em uma quantidade relativamente pequena de ocorrências. Conforme estatística da Unicef, divulgada pela imprensa brasileira, por exemplo, adolescentes são responsáveis por cerca de 1% dos homicídios registrados no Brasil. Dessa maneira, claro está que defender o tratamento de menores de idade como se adultos fossem é uma atitude equivocada, baseada em uma visão distorcida dos fatos. Se a sociedade insistir nessa abordagem, o controle da criminalidade terá menos chances de ser bem- sucedido e a vida em um país mais seguro continuará sendo um objetivo de improvável concretização. → Métodos de raciocínio lógico: dedução e indução Não faremos uma análise pormenorizada dos dois métodos aqui, mas apenas apresentaremos suas características essenciais. É interessante conhecê-los porque, assim, facilitamos o processo de organização das ideias no texto, o que costuma ser um desafio para muitos candidatos, especialmente no início da prática. O método dedutivo permite a inferência de particularidades a partir das generalizações. Parte-se de proposições gerais e chega-se a conclusões específicas. As proposições que servem como pontos de partida são chamadas de premissas. Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão a que se chega também será. Naturalmente, o uso de premissas falsas acarreta a obtenção de conclusões falsas. O método indutivo, por sua vez, parte das observações das particularidades e caminha em direção a uma generalização. É o caminho inverso, que busca explicar fenômenos por meio da observação dos fatos. Esse método cria conclusões que são mais amplas do que as premissas, o que é perigoso, pois pode, a partir da experiência do observador, levar a generalizações indevidas (que são, inclusive, uma falha a ser evitada nas redações). → Estratégias argumentativas Há diversas estratégias argumentativas. Aqui, veremos as mais relevantes para a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo. 1. Relações de causa e efeito ou explicação e conclusão A organização fundamental dos textos dissertativo-argumentativos corresponde à elaboração de assertivas acompanhadas das razões que levam o autor a enunciá-las. Organiza-se, então, fazendo assertivas e justificando-as com a apresentação de causas ou explicações. Veja exemplos retirados de textos de provas: Cespe – Polícia Científica/PE – 2016 “...a problemática ligada à separação de partes cadavéricas destinadas a transplantes em vivos exige que sua retirada seja feita em condições de aproveitamento útil, o que impõe, em muitos casos, que esse procedimento seja feito em prazos curtos, iniciados com o momento da morte. É importante, pois, que o médico estabeleça o momento de ocorrência do êxito letal com a maior precisão possível.” José Maria Marlet. Conceitos médico-legal e jurista de morte. Internet: (com adaptações) O segundo período do trecho citado apresenta uma consequência/conclusão do que o antecede (note que, no caso, a conjunção pois é usada com valor de portanto, por conseguinte). O motivo, a razão que justifica a importância do estabelecimento preciso do momento da morte é “a problemática ligada à separação de partes cadavéricas...”. Cespe – TCE/SC – 2016 “É inegável que o Estado representa um ônus para a sociedade, já que, para assegurar o seu funcionamento, consome riquezas da sociedade.” Diogo Roberto Ringenberg. Direito fundamental ao bom funcionamento do controle público. In: Controle Público, n 10, abr./2011, p. 55 (com adaptações). A segunda parte do período acima traz, como evidencia o conector já que, a causa do que se afirma na primeira parte. 2. Argumento de autoridade Corresponde à citação, no texto, de pessoas que sejam consideradas autoridades no assunto discutido. A estratégia de sustentação da validade da tese, então, é a utilização da credibilidade alheia, a qual, por meio da Interpretação de Textos e Redação _9 menção que se faz ao outro, é transferida para texto. Naturalmente, quanto mais reconhecida for a autoridade citada, mais força ela dará à tese defendida. No exemplo abaixo, o autor do texto analisa o chamado “jeitinho brasileiro”, corresponde, no caso, ao costume de dobrar as normas para, informalmente, obter algum favorecimento. No texto, citao antropólogo Roberto Da Matta, referência na área da Antropologia. FGV – BRADESC – 2010 “(...) É uma contradição simples: acredita-se que a exceção a ser aberta em nome da cordialidade não constituiria pretexto para outras exceções. Portanto, o jeitinho jamais gera formalidade, e essa jamais sairá ferida após o uso desse atalho. Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também exercida por esferas de autoridade superiores. Quando uma autoridade ‘maior” vê-se coagida por uma ‘menor’, ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma, buscará dissuadir a autoridade ‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção.” (In: www.wikipedia.org – com adaptações) 3. Comparações A comparação é a estratégia usada para traçar paralelos entre duas situações ou evidenciar os seus contrastes. Podem-se comparar duas pessoas, dois lugares, duas épocas, duas medidas etc. A comparação abaixo faz parte do mesmo texto mencionado acima, no qual o autor explicita as diferenças entre o comportamento dos brasileiros e dos norte-americanos. FGV – BRADESC – 2010 Em sua obra O Que Faz o Brasil, Brasil?, o antropólogo Roberto Da Matta compara a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa admiração e espanto aos brasileiros, acostumados a violar e a ver violadas as próprias instituições; no entanto, afirma que é ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação adequada. O antropólogo prossegue explicando que, diferente das norte-americanas, as instituições brasileiras foram desenhadas para coagir e desarticular o indivíduo. A natureza do Estado é naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é inadequada à realidade individual. Um curioso termo – Belíndia – define precisamente esta situação: leis e impostos da Bélgica, realidade social da Índia. (In: www.wikipedia.org – com adaptações) Nesse trecho, ocorrem, simultaneamente, a comparação entre Brasil e Estados Unidos e o argumento de autoridade, pois há citação do raciocínio elaborado pelo antropólogo. 4. Exemplo Nas redações, o exemplo aparece como forma de relato breve e serve para deixar mais claras ideias muito abstratas. O exemplo serve para comprovar a validade do raciocínio elaborado, em teoria, antes dele e, por isso, deve corresponder a um fato de conhecimento geral. Evite usar como exemplos situações hipotéticas, pois elas têm validade comprobatória muito menor do que a das situações que efetivamente ocorreram. Em outras palavras, o exemplo é uma forma de mostrar para o leitor que seu raciocínio é tão válido que ele não se restringe a uma análise teórica, mas pode ser verificado, também, na realidade. Observe este trecho de redação de uma aluna: O grande volume de corrupção deflagrado na política brasileira deve-se, dentre outros fatores, à escolha equivocada dos candidatos pela maioria dos eleitores. Preferem-se candidatos com maior apelo popular a candidatos com maior carga de conhecimento político, sociológico e antropológico; preferem-se candidatos que se utilizam de recursos mais dispendiosos de propaganda e imagem em campanha àqueles que contam com carga mais vasta de projetos sociais e de realizações efetivas em prol da sociedade. Tal característica dos eleitores brasileiros pode ser exemplificada pela eleição, com número significativo de votos, do comediante Tiririca no pleito de 2010. (Luíza Bogado, no concurso para Técnico Judiciário do TJ/MG) O exemplo, no último período do parágrafo, mostra que a teoria criada pela autora nos dois primeiros períodos é válida, pois é concretamente verificada nas ações dos eleitores brasileiros. 5. Analogia A analogia é uma forma de comparação baseada na semelhança entre duas situações aparentemente distintas. Por meio da analogia, podemos facilitar a compreensão de certos raciocínios, pois passamos de afirmações mais simples ou concretas a outras mais complexas ou abstratas. O processo de analogia é muito presente na estruturação de provérbios e ditos populares, os quais, por meio de enunciados diretos, repletos de elementos concretos, encerram um raciocínio abstrato e amplo. Mas atenção: os ditos populares não devem ser usados como argumentos em sua redação, pois são enunciados já prontos, e sua utilização impede que você demonstre ao examinador a sua capacidade de articulação e de raciocínio. Veja um exemplo: “Outro fator que pode ser melhorado com a vigência da Lei Ficha Limpa é o maior conhecimento que será ofertado ao eleitor acerca do passado do candidato Interpretação de Textos e Redação _10 às eleições. A lei funcionará como um filtro, pelo qual não passará aquele que teve manchada sua reputação. Ora, se nem mesmo os candidatos a cargos públicos efetivos podem ter condenação antecedente para ocuparem uma vaga nos quadros da Administração Pública, não seria razoável que o candidato a exercer o poder em nome do povo pudesse tê-la.” (Luíza Bogado, no concurso para Técnico Judiciário do TJ/MG) Por meio do raciocínio analógico, a autora: • Comparou o funcionamento da Lei Ficha Limpa ao de um filtro – este tira as impurezas da água ou do ar, por exemplo; aquela tirará os políticos já condenados (“impuros”, “sujos”) da vida política. A água ou o ar sem impurezas têm melhor qualidade; o cenário político sem “impurezas” também. • Aproximou duas situações diferentes – a dos servidores efetivos e a dos titulares de mandatos eletivos –, mas que se aproximam por se submeterem ao interesse público. Logo, se os servidores não podem ter condenação criminal em seu histórico, conclui-se, por analogia (aproximação de situações diferentes, mas que guardam, por alguma razão, semelhanças essenciais), que os políticos não devem poder tê-las. 6. Utilização de dados estatísticos Estatística é “o ramo da matemática que trata da coleta, da análise, da interpretação e da apresentação de massas de dados numéricos”.(Houaiss on-line) Para se chegar a um dado estatístico (como parcela da população que pretende votar em certo político, ou chances de uma pessoa de determinado gênero desenvolver certa doença, por exemplo), é necessário que se faça uma análise da realidade por meio de pesquisas e observações. Quando usamos esse tipo de dado, devemos indicar a fonte, por duas razões: o dado é fruto do trabalho de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, geralmente envolvidas com alguma instituição, e o crédito deve ser dado ao autor; a fonte do dado pode dar a ele credibilidade. Não invente estatísticas para usar em seu texto! Só as utilize se tiver certeza sobre sua correção. Veja exemplo do uso de dados estatísticos: “Nesse sentido, o continente mais populoso é a Ásia, que responde por cerca de 60% do total da população mundial. Somente a China, a Índia e a Indonésia representam um elevado contingente, cerca de 2,8 bilhões de habitantes. Por outro lado, a Oceania responde por apenas 0,5% da população mundial. 7. O uso da linguagem na redação O uso da linguagem, na hora de escrever a redação de concurso ou vestibular, requer especial cuidado. Fique atento: Use a terceira pessoa O uso da terceira pessoa imprime ao discurso tom de objetividade. Na redação, a primazia deve ser dada aos argumentos e às informações, e os traços de subjetividade, aqueles que deixam o autor transparecer, devem ser evitados. Há a tese, que surge de um juízo de valor – uma avaliação subjetiva – feito pelo autor. Mas, apesar desse conteúdo de natureza pessoal, o tratamento do tema deve ser feito de modo objetivo, com enfoque no objeto, no assunto. Assim, devemos: • Usar a terceira pessoa; • Evitar excesso de adjetivos (com parcimônia, podem ajudar a determinar a tese); • Evitar linguagem que deixe transparecer emoções fortes; • Não usar exclamações. Use a linguagem padrão A linguagem padrão, também chamada norma culta, corresponde aoconjunto de prescrições contidas na gramática normativa. Em situações mais formais, deve ser usada a norma-padrão da língua. Então, respeite as regras de concordância, regência, colocação pronominal etc. e pense nisto: • Não use construções próprias da oralidade, como pro, pra, pros, pras em vez de para o, para a; • Não use linguagem própria das comunicações via internet, como naum, tb. Use, claro, não e também; • Evite gírias, pois elas fogem ao padrão. Em vez de falar que BMW é carro de “bacana” diga que somente pessoas com alto poder aquisitivo podem adquirir uma BMW; • Evite regionalismos, pois a redação é feita para um público-alvo muito amplo: qualquer pessoa que consiga ler em português padrão; • Evite metáforas: a metáfora consiste na transposição de uma palavra ou expressão do seu sentido denotativo para o sentido conotativo com base em uma comparação. Essa comparação, todavia, é implícita, feita apenas pelo autor da metáfora, que não a explicita. Logo, o leitor tem acesso apenas ao resultado do processo criativo do autor (a expressão inserida no Interpretação de Textos e Redação _11 texto), mas não conhece o raciocínio que levou o autor a criá-la. Isso pode prejudicar a compreensão das informações do texto, o que é indesejável em textos argumentativos. Outras figuras de linguagem que afetam o sentido das expressões devem ser evitadas também. • Fuja das frases feitas, dos chavões e dos ditos populares . Argumente usando suas ideias e suas palavras. Lançar mão de frases prontas transformará sua argumentação em uma sucessão de clichês e a enfraquecerá. Não argumente dizendo, por exemplo, que quem tudo quer, nada tem. Transforme esse provérbio em uma frase com indícios de autoria; abstraia dela a ideia central e a use em um enunciado, como este: A ambição pode ser positiva, desde que dentro dos limites da razoabilidade. Aquele que é excessivamente ambicioso, por vislumbrar sempre o aumento de seu patrimônio, pode acabar arriscando o que já possui e, na pior das hipóteses, perdendo-o. Escreva períodos médios Não há uma regra que estabeleça o tamanho ideal do período. O que existe é o bom senso, que nos mostra que: • Períodos longos demais têm mais chance de se tornarem confusos, mesmo que não apresentem erro algum; • Períodos curtos demais impedem que o autor demonstre suas habilidades com o uso de articuladores. Uma extensão razoável para períodos é de aproximadamente três linhas. Pode ser um pouco mais ou um pouco menos, sem problemas. Mas, se você observar que seu período está ultrapassando muito esse limite, vale a pena analisar a possibilidade de dividir a informação em dois períodos separados.
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