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Interpretação de Textos e Redação
Professor Raquel Cesário
_1
REDAÇÃO DISCURSIVA
 Primeiramente, é importante entender o que a 
banca irá avaliar em uma prova discursiva. Para isso, é 
importante traçar uma estratégia:
• O QUE DIZ O EDITAL?
• O QUE É MAIS IMPORTANTE: FORMA x CONTEÚDO
• DEVO OU POSSO USAR O TEXTO MOTIVADOR?
• VALE A PENA “PULAR” UM TÓPICO?
• COMEÇO PELA REDAÇÃO OU NÃO?
 Mais do que qualquer outra disciplina, a redação 
precisa de treino. Muita dedicação, persistência e exercício. 
Antes de darmos início à teoria propriamente dita, quero 
abordar alguns pontos importantes:
• Fique atento à estética do seu texto – letra legível, 
parágrafos uniformes e pouca (ou nenhuma) rasura. 
• Utilize a norma culta, prezando sempre pela 
objetividade do seu texto.
• Cuidado com a introdução: ela deve ser clara, precisa, 
objetiva. Delimite o que será trabalhado no texto e se 
atenha a isso.
• Não faça parágrafos frasais – principalmente no 
desenvolvimento. Cada parágrafo deve ter um tópico 
frasal que apresente a ideia a ser desenvolvidas e 
outras frases que a comprovem.
 E o mais importante....
 Atente-se ao roteiro indicado pela banca → 
cada tópico deve ser desenvolvido, preferencialmente, 
na ordem em que foi apresentado, lembrando sempre de 
repetir as palavras centrais das questões.
Muitas provas trabalham temas da atualidade e versam, 
basicamente, em torno de três grupos temáticos:
(1) Questões ambientais (mudanças climáticas, 
escassez da água, desastres naturais)
(2) Questões sobre direitos humanos (questões sociais 
de uma forma geral)
(3) Uso da tecnologia
 Outras exigem conteúdo específico, a fim de 
avaliar o conhecimento técnico do candidato.
 VEJA UM EXEMPLO de PROVA DISCURSIVA do 
CEBRASPE
• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, 
o espaço para rascunho indicado no presente caderno. 
Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO 
DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, 
pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos 
em locais indevidos.
• Qualquer fragmento de texto que ultrapassar a 
extensão máxima de linhas disponibilizadas será 
desconsiderado.
• Na folha de texto definitivo, identifique-se apenas no 
cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado 
texto que tenha qualquer assinatura ou marca 
identificadora fora do local apropriado.
• Nesta prova, ao domínio do conteúdo serão atribuídos 
até 40,00 pontos, dos quais até 2,00 pontos serão 
atribuídos ao quesito apresentação (legibilidade, 
respeito às margens e indicação de parágrafos) e 
estrutura textual (organização das ideias em texto 
estruturado).
 Historicamente, instruir os que não sabem, 
alimentar os famintos e cuidar dos doentes têm sido 
algumas das missões diárias indicadas aos devotos 
de diferentes religiões. Em tempos modernos, a essas 
missões foi acrescentado um novo item: zelar pelo meio 
ambiente, como revela, por exemplo, uma mensagem 
escrita pelo Papa Francisco, exortando as sociedades, 
independentemente de suas crenças, a tomar medidas 
urgentes para frear as mudanças climáticas. Para o 
representante máximo do catolicismo, “o cuidado da 
casa comum requer simples gestos cotidianos, pelos 
quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do 
egoísmo, e manifestamos o amor em todas as ações que 
procuram construir um mundo melhor”.
O Globo, 2/9/2016, p. 29 (com adaptações).
 Considerando que o fragmento de texto acima 
tem caráter unicamente motivador, redija um texto 
dissertativo acerca do seguinte tema:
PRESERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA: RESPONSABILIDADE 
DO ESTADO, DA SOCIEDADE E DE CADA CIDADÃO
 Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes 
aspectos:
• Relação entre os cuidados com o meio ambiente e a 
preservação das condições sanitárias; [valor: 12,00 
pontos]
• Atitudes individuais que podem reduzir os efeitos da 
ação humana sobre o planeta; [valor: 13,00 pontos]
• Formas de atuação da sociedade para que os governos 
cumpram compromissos relacionados à preservação 
ambiental. [valor: 13,00 pontos]
Interpretação de Textos e Redação
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 Então, vamos ao conteúdo.
O QUE É NECESSÁRIO EM UM TEXTO 
DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO?
 Para responder a essa pergunta, devemos partir 
do significado do verbo argumentar. O Dicionário Houaiss 
on-line assim o define: “apresentar fatos, ideias, razões 
lógicas etc. que comprovem uma afirmação, uma tese”. 
 A argumentação é, então, uma comprovação de 
tese. A tese, por sua vez, corresponde a um posicionamento 
em relação a um tema, a uma opinião. Para criar uma 
tese, é necessário realizar uma avaliação, a qual terá, 
necessariamente, caráter subjetivo. Esta afirmação pode 
causar estranheza, mas saiba: um texto dissertativo-
argumentativo tem, em seu núcleo, a subjetividade, pois 
ele não existe por outra razão a não ser a defesa de uma 
opinião. O texto dissertativo-argumentativo é um texto de 
convencimento, cuja função é fazer que o receptor passe 
a aceitar como válida ou, pelo menos, como aceitável, a 
visão de mundo apresentada pelo emissor. Não confunda, 
no entanto, a subjetividade presente na tese com uma 
autorização para deixar a subjetividade transparecer 
na linguagem. Como veremos adiante, as escolhas 
linguísticas relacionadas à enunciação devem, dentro do 
possível, transmitir ao discurso certa neutralidade, de 
modo a induzir o leitor à crença de que o ponto de vista 
defendido é uma verdade, e não apenas uma opinião. Se há 
tese, tem de haver argumentos, que são as ideias trazidas 
para comprovar a validade do ponto de vista. Na verdade, 
escrever um texto dissertativo-argumentativo nada 
mais é do que exercitar a retórica, a capacidade de usar a 
palavra com vistas a alcançar uma finalidade – no caso, a 
comprovação da tese.
 Estudaremos, aqui, diversas estratégias 
argumentativas. Elas incluem, por exemplo, o 
estabelecimento de relações lógicas (em especial as de 
causa e efeito), a comparação, a analogia, a apresentação 
de dados e o uso de argumento de autoridade. Essas e 
outras serão vistas e exemplificadas.
 Por ora, o essencial é compreender que todo texto 
dissertativo-argumentativo se organiza em torno de uma 
tese e tem como razão de existir a defesa dessa tese, a 
qual se dá por meio da argumentação lógica.
COMO CRIAR UMA TESE?
 Uma boa tese é o ponto de partida de um bom 
texto argumentativo. Sua criação depende da habilidade 
de avaliação do autor do texto para analisar certo tema 
e posicionar-se em relação a ele. A simples enunciação 
de um fato ou a demonstração do tema de um texto não 
correspondem a uma tese. Para que ela exista, o autor do 
texto tem que submeter o tema a um processo avaliativo 
e definir qual é a sua visão sobre o que se discute. A tese 
nada mais é do que a opinião do autor sobre o assunto 
analisado. Ela pode ser definida com a resposta a uma 
simples pergunta:
O QUE EU PENSO SOBRE ESTE TEMA?
 Quando o autor faz a si mesmo a pergunta acima, 
ele se força a assumir uma posição. Para chegar a uma 
resposta, ele necessariamente realizará um juízo de valor. 
Sobre o tema, o redator terá que definir: isso é certo ou 
errado? Útil ou inútil? Eficaz ou ineficaz? Suficiente ou 
insuficiente? Legal ou ilegal? Ético ou antiético?
 A resposta a qualquer das perguntas acima 
implicará um posicionamento, que deverá ser sustentado 
com justificativas. Essas justificativas são os argumentos, 
apresentam as razões que tornam válida a opinião do 
autor. Quanto mais fortes os argumentos, mais bem 
defendida será a tese.
 Façamos, portanto, a diferenciação, antes que 
possamos analisar exemplos:
• Tema é o assunto sobre o qual se escreve.
• Tese é a posição assumida pelo autor sobre o tema. 
Trata-se de uma opinião.
 Argumentos são as razões apresentadas para 
defender a tese, para justificar a opinião. O tema será 
apresentado ao candidato pela banca examinadora. 
Normalmente, a prova apresenta textos motivadores, que 
servem de orientação e fonte de inspiração ao redator, e, 
em uma sentença não muito longa, o tema propriamentedito. É extremamente importante que, antes de começar 
a planejar o texto, o candidato interprete cuidadosamente 
o comando contido no tema, pois fugir a ele é um erro 
incontornável nas redações, geralmente acarretando a 
atribuição de nota zero. 
 Vamos a um tema amplo: “A persistência da 
violência contra a mulher na sociedade brasileira”
 Temos que criar uma tese a partir desse tema. 
Assim, será necessário fazer uma avaliação, um juízo de 
valor. Haverá, portanto, subjetividade. 
 Veja um exemplo: A violência contra a mulher, 
na sociedade brasileira, é um problema histórico e 
multifacetado, tanto em sua manifestação, quanto em sua 
origem. Vinculá-la apenas à agressão física e aos fatos 
que originam outras categorias de violência é um equívoco 
que põe em risco a integridade feminina e impede a efetiva 
correção de tal realidade. 
 Esse trecho funcionaria bem como o parágrafo 
introdutório de uma redação, uma vez que deixa claros o 
tema e a tese. Nele, ocorrem algumas avaliações: 
• Sobre o conceito de violência: não se trata apenas de 
um fenômeno de agressão física, mas envolve outras 
características (por isso é um fenômeno multifacetado). 
Interpretação de Textos e Redação
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É um conceito mais amplo do que o comumente usado; 
• Sobre a origem da violência contra a mulher: as causas 
da violência contra a mulher não são apenas as mesmas 
que originam outros tipos de violência; o equívoco no 
tratamento das causas desse fenômeno impede seu 
controle. 
 Como a tese traz opinião, ela demandará 
justificativa. Por isso, depois do parágrafo introdutório, 
que contém tema e tese, vêm os parágrafos do 
desenvolvimento, que apresentam a sustentação do 
posicionamento. O desenvolvimento prova, por meio 
da apresentação de argumentos lógicos, a validade da 
tese. Veja um esquema com a estrutura de um texto 
argumentativo com limite máximo de 30 linhas.
TÍTULO
COMO ESCOLHER OS ARGUMENTOS? 
 Os argumentos são as ideias usadas para 
defender a tese. A tese representa o que o autor pensa 
sobre determinado assunto; os argumentos, por sua 
vez, correspondem a por que o autor tem aquela opinião. 
Todos os argumentos usados devem ser relevantes para 
a defesa da tese apresentada. Isso significa dizer que eles 
devem ser selecionados levando-se em consideração a 
capacidade que têm de sustentar a posição apresentada 
pelo autor. De nada adianta apresentar ideias e 
informações consideradas importantes em uma análise 
geral se elas não estiverem intimamente ligadas ao tema e 
à tese do texto. 
 Mantenha isto em mente: tudo o que você 
escrever no texto deve estar ligado ao tema e deve servir 
para defender a tese. Para escolher os argumentos, 
como mencionado acima, é preciso responder à 
seguinte pergunta: por que eu penso isso sobre o tema? 
Considerando-se a tese criada no tópico anterior, a 
pergunta seria: Por que a violência contra a mulher é um 
problema multifacetado? Por que vincular a violência 
contra a mulher apenas à agressão física e aos fatos que 
originam outras categorias de violência é um equívoco? 
Por que isso impede a correção do problema? Como 
todas essas questões foram levantadas na tese, todas 
elas devem ser trabalhadas no desenvolvimento. Caso 
desejássemos abordar menos tópicos, bastaria que 
elaborássemos uma tese menos abrangente. Mas tome o 
cuidado de não criar uma tese simples demais, pois você 
terá que ocupar pelo menos dois parágrafos falando sobre 
ela. Ao escrever o desenvolvimento, lembre-se de: 
• Dar a cada parágrafo uma – e apenas uma – ideia-
núcleo, a qual estará contida na primeira frase (à qual 
costumamos chamar tópico frasal); 
• Desenvolver a ideia-núcleo por meio de explicações, 
comparações, analogias, exemplos, argumentos de 
autoridade etc., que serão ideias secundárias (não 
por serem pouco importantes, mas surgirem da ideia 
primária – o tópico – com a finalidade de desenvolvê-
la);
• Selecionar ideias-núcleo diretamente ligadas à tese 
apresentada; 
• Organizar cuidadosamente os argumentos, de modo 
a tornar simples a compreensão do texto, utilizando-
se, inclusive, dos elementos de coesão textual para 
alcançar a maior clareza possível. Planejemos! Vamos 
pensar em justificativas para o nosso posicionamento. 
Escreva, no espaço para rascunho, aquilo vier à sua 
mente! 
I. Por que a violência contra a mulher é um problema 
multifacetado? 
• A violência contra a mulher é um problema 
multifacetado em sua manifestação porque pode ser 
física, moral, sexual, patrimonial etc. 
• A violência contra a mulher é um problema 
multifacetado em sua origem porque não tem apenas 
uma causa: a origem pode estar em fenômenos 
culturais (como a sociedade patriarcal), sociais (por 
exemplo, mulheres com menos acesso à educação 
podem estar mais propensas a sofrer esse tipo de 
violência), políticas (a falta de representatividade 
das mulheres no Legislativo retira do problema sua 
visibilidade política) etc. 
II. Por que vincular a violência contra mulher 
apenas à violência física é um equívoco e impede 
a correção do problema? 
• É um equívoco porque não permite a compreensão do 
problema em toda a sua complexidade, limitando-o 
apenas a um de seus aspectos; 
• Impediria sua correção porque as causas das vertentes 
ignoradas da violência contra a mulher não seriam 
eliminadas ou, ao menos, reduzidas. 
A introdução ocupa um parágrafo e apresenta o tema do 
texto e a tese a ser defendida
Desenvolvimento: terá quantos parágrafos forem os 
argumentos. Cada parágrafo apresenta o tópico frasal + 
expansão.
Conclusão deve ocupar um único parágrafo e pode ser 
formulada com uma síntese ou como conclusão aberta
Interpretação de Textos e Redação
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III. Por que vincular a violência contra a mulher 
apenas aos fatos que originam outras categorias 
de violência é um equívoco e impede a correção 
do problema? 
• Porque impede a identificação de causas específicas 
da violência contra a mulher, baseadas em diferenças 
no tratamento dos gêneros na sociedade patriarcal, 
consequentemente inviabilizando a amenização do 
problema. 
 Vamos, agora, organizar essas informações 
em forma de parágrafos, acrescentando a elas mais 
elementos, desde que tenham relevância argumentativa. 
Lembre-se sempre da necessidade de manter o foco na 
tese. 
DESENVOLVIMENTO – PARÁGRAFO 1
 O amplo alcance do termo “violência contra a 
mulher”, que inclui investidas contra a integridade física 
e psicológica da mulher, é capaz de evidenciar que se 
trata de um fenômeno complexo. O conceito envolve desde 
ações evidentemente criminosas, como lesão corporal e 
estupro, a outras que, de tão corriqueiras, sequer parecem 
desrespeitosas – por exemplo, a sobrecarga de trabalho 
a que se submetem muitas brasileiras. Pesquisa do IBGE, 
divulgada em 2014, comprova esse fato ao demonstrar 
que, somando-se as tarefas profissionais ao que se faz no 
ambiente doméstico, mulheres trabalham cinco horas a 
mais do que homens. 
• Em negrito, está o tópico frasal, sentença que 
apresenta a ideia central do parágrafo e que deve, 
necessariamente, estar ligada ao tema e à tese. 
• Em itálico, na sequência, aparece a segunda sentença, 
correspondente à primeira parte da expansão do 
tópico. Essa sentença foi usada para explicar melhor 
a definição de “violência contra a mulher” como um 
“fenômeno complexo”.
• A terceira sentença, sublinhada, comprova argumento 
trazido na imediatamente anterior. Na segunda, 
afirma-se que a mulher trabalha mais do que o homem; 
na terceira, cita-se o IBGE e o número total de horas 
a mais que as mulheres trabalham diariamente em 
comparação aos homens. Dados conhecidos e de 
fontes confiáveis podem ser citados, desde que você 
tenha certeza sobre o que apresenta e que faça a 
atribuição da fonte. 
DESENVOLVIMENTO – PARÁGRAFO 2 
 Além de se manifestar de diversas formas, a 
violência contra a mulher surge de razões variadas, 
vinculadas a características das vítimas ou do sistema 
social e político vigente nos dias de hoje. A sociedade 
patriarcalpode ser apontada como a mais importante 
causa do surgimento e da manutenção desse fenômeno, 
uma vez que se sustenta em uma concepção do feminino 
como naturalmente subserviente ao masculino. Esse tipo 
de comportamento opressor pode ser exemplificado pelo 
comportamento de homens influentes na sociedade que já 
afirmaram que mulheres devem ter salários menores do 
que os masculinos porque engravidam. 
• A primeira sentença do segundo parágrafo, em 
negrito, também é um tópico frasal, pois encerra a 
ideia nuclear desse trecho. Ela se inicia com “além 
de”, que promove a sequenciação das informações 
do parágrafo, transmitindo noção de adição. A ideia 
central do primeiro parágrafo soma-se à do segundo 
para, juntas, de modo complementar, demonstrarem 
a complexidade do fenômeno da violência contra 
a mulher. No primeiro, a complexidade é devida à 
multiplicidade de formas de manifestação da violência 
contra a mulher; no segundo, é devida às diferentes 
origens que a violência pode ter. 
• A segunda sentença, em itálico, desenvolve a ideia 
trazida pelo tópico frasal apresentando, de modo 
específico, uma causa para o fenômeno em questão – a 
sociedade patriarcal e seus costumes.
 
• A terceira sentença, sublinhada, evoca como exemplos 
fatos de conhecimento público, que são citados 
brevemente, sem narração pormenorizada, para 
comprovar a validade da argumentação desenvolvida 
no parágrafo. 
DESENVOLVIMENTO – PARÁGRAFO 3 
 Apesar das dificuldades inerentes à 
conceituação da violência voltada ao gênero feminino, 
há esboço de reação quando o Estado coloca, ao alcance 
das vítimas, instrumentos de defesa. Isso demonstra que 
grande parte das mulheres agredidas tem consciência de 
sua posição prejudicada e de seus direitos. Tal consciência 
é comprovada pelo número de processos ajuizados 
observando-se a Lei Maria da Penha, que ultrapassou 
300 mil em apenas cinco anos, dos quais cerca de 1/3 
foi julgado – uma quantidade expressiva, mas ainda não 
suficiente para garantir às vítimas segurança. 
• A primeira sentença, em negrito, é o tópico frasal do 
parágrafo, o qual, por meio de uma ressalva, admite 
a existência de dificuldades práticas e terminológicas 
envolvendo a violência contra a mulher, que 
trazem dificuldades às vítimas, mas deixa claro 
que tal dificuldade não impede a reação, desde que 
instrumentos para tanto sejam disponibilizados. 
• A segunda sentença, em itálico, faz uma inferência a 
partir da informação dada na anterior, lançando mão 
do raciocínio lógico. 
Interpretação de Textos e Redação
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• A terceira sentença, sublinhada, parafraseia dados 
trazidos por um texto motivador para comprovar, 
simultaneamente, a validade da inferência anterior e a 
insuficiência dos resultados práticos atuais (note que 
não há cópia de texto, mas apenas aproveitamento da 
informação). 
 Como concluir o texto? A conclusão é o parágrafo 
reservado, naturalmente, à finalização do texto. A forma 
mais clássica da conclusão é aquela em que, depois de 
um conector adequado, faz-se a retomada da tese, para 
reforçar o ponto de vista apresentado na introdução, 
e, na sequência, numa segunda frase, apresenta-se um 
fechamento, que pode ser uma expectativa, uma proposta 
de intervenção ou uma consequência do raciocínio 
apresentado.
 Exemplo de conclusão I – fechamento → 
decorrência/consequência 
 Dessa maneira, as múltiplas formas de 
manifestação da violência contra a mulher e os diferentes 
fatos que lhe dão causa imputam ao fenômeno grande 
complexidade analítica. Em decorrência disso, as 
autoridades têm dificuldade ao lidar com as ocorrências 
e a parcela feminina da população padece sem o 
respaldo oficial a que deveria ter acesso, o que evidencia 
que minimizar o sofrimento feminino, na sociedade 
brasileira, ainda é um objetivo de longo prazo. (Em 
negrito está o trecho que contém a consequência.) 
 Exemplo de conclusão II – fechamento → 
expectativa 
 Dessa maneira, as múltiplas formas de 
manifestação da violência contra a mulher e os diferentes 
fatos que lhe dão causa imputam ao fenômeno grande 
complexidade analítica. Espera-se que haja vontade 
política e força nos movimentos sociais capazes de, em 
conjunto, agirem em prol da igualdade de gêneros, no 
Brasil, inclusive na diminuição dos casos de violência. 
(Em negrito está o trecho que contém a expectativa.) 
Exemplo de conclusão III – fechamento → proposta de 
intervenção 
 Dessa maneira, as múltiplas formas de 
manifestação da violência contra a mulher e os diferentes 
fatos que lhe dão causa imputam ao fenômeno grande 
complexidade analítica. Para lidar com tal situação, é 
necessário preparar, por meio de ações nas escolas, as 
gerações que, no futuro, terão o controle das instituições 
e da sociedade em geral, para que a cultura de subjugar o 
gênero feminino seja superada. (Em negrito está o trecho 
que contém a proposta de intervenção.)
 Vamos ao texto completo:
 A violência contra a mulher, na sociedade 
brasileira, é um problema histórico e multifacetado, tanto 
em sua manifestação, quanto em sua origem. Vinculá-la 
apenas à agressão física e aos fatos que originam outras 
categorias de violência é um equívoco que põe em risco a 
integridade feminina e impede a efetiva correção de tal 
realidade. 
 O amplo alcance do termo “violência contra a 
mulher”, que inclui investidas contra a integridade física e 
psicológica da mulher, é capaz de evidenciar que se trata 
de um fenômeno complexo. O conceito envolve desde 
ações evidentemente criminosas, como lesão corporal e 
estupro, a outras que, de tão corriqueiras, sequer parecem 
desrespeitosas – por exemplo, a sobrecarga de trabalho 
a que se submetem muitas brasileiras. Pesquisa do IBGE, 
divulgada em 2014, comprova esse fato ao demonstrar 
que, somando-se as tarefas profissionais ao que se faz no 
ambiente doméstico, mulheres trabalham cinco horas a 
mais do que homens. 
 Além de se manifestar de diversas formas, a 
violência contra a mulher surge de razões variadas, 
vinculadas a características das vítimas ou do sistema 
social e político vigente nos dias de hoje. A sociedade 
patriarcal pode ser apontada como a mais importante 
causa do surgimento e da manutenção desse fenômeno, 
uma vez que se sustenta em uma concepção do feminino 
como naturalmente subserviente ao masculino. Esse 
tipo de comportamento opressor pode ser exemplificado 
por atitudes de homens influentes na sociedade que já 
afirmaram que mulheres devem ter salários menores do 
que os masculinos porque engravidam. 
 Apesar das dificuldades inerentes à conceituação 
da violência voltada ao gênero feminino, há esboço de 
reação quando o Estado coloca, ao alcance das vítimas, 
instrumentos de defesa. Isso demonstra que grande parte 
das mulheres agredidas tem consciência de sua posição 
prejudicada e de seus direitos. Tal consciência é comprovada 
pelo número de processos ajuizados observando-se a Lei 
Maria da Penha, que ultrapassou 300 mil em apenas cinco 
anos, dos quais cerca de 1/3 foi julgado – uma quantidade 
expressiva, mas ainda não suficiente para garantir às 
vítimas segurança. 
 Desse modo, para melhorar a situação das 
mulheres em relação à sua segurança, à sua integridade 
física e à sua integridade moral, é preciso, por meio da 
elaboração e da aplicação de políticas públicas, promover 
a conscientização dos brasileiros. Com campanhas 
publicitárias veiculadas pela televisão, podem-se buscar 
resultados imediatos junto à população adulta; no tocante 
às crianças, a inserção, no currículo escolar, de atividades 
com vistas a desenvolver a percepção de igualdade entre 
gêneros tem o condão de colaborar para um futuro em que, 
espera-se, as ações dos cidadãos não propiciem a criação 
de um tipo de violência aplicável especificamente a pessoas 
de certo gênero sexual.
→ Opções para estruturar o desenvolvimento 
 O desenvolvimento de um texto pode, dentro 
dos limites mínimo e máximo de linhas, apresentar-se de 
muitas formas. Trabalharemos, aqui, duas delas: elencar 
justificativaspara a afirmativa apresentada na tese (ou, 
em outras palavras, elencar argumentos); usar a dialética 
Interpretação de Textos e Redação
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para contrapor pontos de vista conflitantes. 
 Como decidir entre uma estrutura ou outra? 
Normalmente, o próprio autor do texto define qual das 
duas estruturas deseja utilizar, após cuidadosa análise do 
tema. Há propostas que facilitam a abordagem de elencar 
justificativas, ao passo que outras, em geral voltadas 
a temas polêmicos, são perfeitas para a abordagem 
dialética. Mas mantenha a atenção: é possível que a banca 
examinadora determine, na própria proposta, a estrutura 
adequada. Por isso, a leitura cuidadosa do comando da 
prova é crucial! 
 Imagine que a prova solicite seu posicionamento 
sobre o seguinte tema: “a redução da maioridade penal 
pode controlar a violência no Brasil?”. 
 Você precisaria, nesse caso, escrever um texto 
defendendo a possibilidade de eficácia da eventual 
redução da maioridade penal ou posicionando pela sua 
ineficácia.
 Note que a proposta apresenta uma medida 
(redução da maioridade penal) que pode ou não ser 
adotada, mas, se for, o será para alcançar uma finalidade 
específica: o controle da violência. Nessa situação, a 
avaliação deve versar, necessariamente, sobre a aptidão 
da medida para alcançar o resultado pretendido. Não se 
deve escrever um texto simplesmente sobre a maioridade 
penal ou sobre violência, mas, sim, sobre a capacidade de a 
redução da maioridade penal reduzir a violência. A análise 
sobre a possibilidade de eficácia da medida em questão 
deve ficar evidente na introdução do texto! Essa percepção 
é importante para evitar fuga ao tema. 
 Se decidíssemos pela tese de que não, a redução 
da maioridade penal não seria uma medida eficaz para 
o controle da violência, poderíamos usar as seguintes 
estratégias para desenvolver o texto:
Estratégia 1 - Elencar argumentos 
TESE (O QUE EU PENSO SOBRE O ASSUNTO?): A redução da 
maioridade penal não configura estratégia adequada para 
diminuir a violência. 
ARGUMENTOS (POR QUE EU PENSO ISSO SOBRE O 
ASSUNTO?): 
A redução da maioridade penal seria ineficaz...
 ... porque se baseia na falsa premissa de que menores em 
conflito com a lei não sofrem nenhuma consequência por 
seus atos;
... porque não busca solucionar a real causa da violência, 
que corresponde à desigualdade social;
 ... porque o número de assassinatos comprovadamente 
cometidos por menores de idade é muito menor do que o 
dos cometidos por adultos (segundo estimativa da Unicef, 
menos de 1% do total).
 Os argumentos aqui apresentados, claro, serão 
mais bem trabalhados no desenvolvimento, contando com 
os desdobramentos necessários. Veja a seguir.
 Os altos índices da criminalidade, no Brasil, 
causam medo e revolta na população e a levam a 
considerar a adoção de medidas extremas, como a redução 
da maioridade penal de 18 para 16 anos, para amenizar 
o problema. Essa estratégia, todavia, não tem aptidão 
para diminuir a violência , uma vez que se baseia em uma 
premissa equivocada4 e, também, ignora sua verdadeira 
causa . 
 A principal premissa que sustenta a defesa da 
redução da maioridade penal – a suposta impunidade das 
crianças e adolescentes em conflito com a lei, a qual geraria 
a violência – é falsa. Isso se deve ao fato de que o Estatuto 
da Criança e do Adolescente prevê, de modo claro, diversas 
consequências para a prática de ato infracional por pessoas 
cuja idade esteja entre 12 e 18 anos, entre as quais se incluem 
a inserção em regime de semiliberdade e a internação em 
estabelecimento educacional. Logo, a equiparação dos 
menores infratores aos criminosos adultos não implicaria 
diferença prática, de modo que não seria legítimo esperar, 
a partir dessa medida, efetivo aumento da segurança. 
 Além disso, diminuir a idade mínima para que 
adolescentes sejam julgados como se adultos fossem 
não afeta a causa real da criminalidade, consistente 
na desigualdade social e nas mazelas dela advindas. A 
concentração de riquezas, fator que priva considerável 
parcela da população do acesso a bens necessários 
para uma vida digna, faz agravar a situação de conflito 
social experimentada cotidianamente pelos brasileiros e 
gera violência. Por essa razão, países com alto índice de 
desenvolvimento humano, capazes de garantir bem-estar 
às suas populações, como a Dinamarca e o Canadá, estão 
entre os mais pacíficos e seguros do planeta. 
 Diante disso, fica claro que, por negligenciar a 
verdadeira razão de existir da violência e por partir de uma 
premissa inválida, a redução da maioridade penal não é 
medida hábil para minimizar a insegurança. Espera-se que 
a percepção desses fatos oriente as autoridades para a 
adoção de políticas públicas que contribuam, de fato, para 
a transformação do Brasil em um país seguro e socialmente 
mais desenvolvido. 
Estratégia 2 – Dialética 
 Ocorre a dialética quando há o confronto de 
duas posições opostas, cada uma defendida por seus 
argumentos pertinentes. É o tipo de tratamento ideal 
para temas polêmicos, ou seja, aqueles que dividem, 
verdadeiramente, a sociedade, como a legalização do 
consumo de drogas, a legalização do aborto e a eutanásia. 
Em situações como essas, argumentos relevantes podem 
ser levantados tanto contrária quanto favoravelmente às 
Interpretação de Textos e Redação
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medidas analisadas. 
 Mas, mesmo que opte por usar a técnica da 
dialética, o redator deverá definir qual é o seu ponto de vista. 
No texto, o redator falará por si mesmo, manifestando sua 
opinião, e por outros grupos sociais, informando ao leitor 
a opinião da “oposição”. Devem ficar claras, no texto, as 
ocorrências de trechos que detêm palavras atribuídas ao 
“outro”. Para isso, é possível usar a voz passiva ou o índice 
de indeterminação do sujeito, criando-se um afastamento 
entre as sentenças que representam a voz do autor e as que 
representam vozes dissonantes (opiniões conflitantes). 
 Nesse caso, é preciso identificar argumentos de 
ambos os lados: 
A redução da maioridade penal pode controlar a violência 
no Brasil?
FAVORÁVEIS (SIM) – medida será eficaz: Porque criaria 
punições aos menores infratores;
Consequentemente, reduziria a prática de crimes 
graças à perda da sensação de impunidade.
CONTRÁRIOS (NÃO) – medida não será eficaz: Porque se 
baseia na premissa equivocada de que não há punição 
para menores;
Porque não leva em consideração as verdadeiras 
causas da violência;
Porque não leva em consideração a proporção ínfima da 
participação dos menores no cometimento de crimes
(estimativa da Unicef diz que 1% dos assassinatos 
registrados no Brasil é cometido por menores de idade).
 Na estrutura que conheceremos agora, algumas 
características devem ser observadas: 
• O parágrafo introdutório deve deixar claro para o leitor 
qual é o tema do texto. Além disso, é preciso que ele 
apresente a tese. Nesse caso, a tese será construída 
de modo a evidenciar a existência de um conflito de 
opiniões na sociedade, utilizando-se uma ressalva. 
Toda ressalva é formada por duas partes que se opõem, 
mas uma delas sempre prevalece sobre a outra. A 
parte prevalecente corresponderá ao ponto de vista do 
autor; a parte invalidada pela ressalva corresponderá 
ao pensamento dos outros grupos sociais, com os 
quais o autor não concorda. 
• • No primeiro parágrafo do desenvolvimento, 
apresenta-se a opinião dos grupos discordantes. 
Por isso, assertivas são introduzidas por elementos 
que evidenciem que se trata de discurso de terceiros 
(“costuma-se afirmar que...”, “é frequente que seja 
dito...”, “defende-se, hoje, que...”, “há grupos sociais que 
afirmam...” etc.). Ainda no primeiro parágrafo, a opinião 
contrastante à do autor deverá ser refutada, ou seja, 
sua validade deverá ser rejeitada.
• No segundo parágrafo do desenvolvimento, o autor 
apresentará, de fato, seu posicionamento e explicará 
porque ele é melhor que o refutado anteriormente. 
Como as falas, aqui, pertencem ao próprio redator, 
não é necessárioque se usem expressões como 
“defende-se que”, “afirma-se que” etc. Se for preciso, 
um terceiro parágrafo de desenvolvimento poderá ser 
acrescentado para continuar a argumentação em prol 
do ponto de vista do autor. 
 A construção de um texto estruturado de acordo 
com a estratégia da dialética não corresponde, portanto, 
à simples apresentação de dois pontos de vista com a 
posterior escolha de um deles. O que ocorre é o seguinte: 
(1) Apresentação do conflito, na introdução, já com a 
indicação sobre o posicionamento adotado pelo 
autor; 
(2) No primeiro parágrafo do desenvolvimento, 
exposição da ideia contrária, com uso de marcos 
discursivos indicadores de que ela pertence a outro 
grupo da sociedade, e não ao grupo do qual o autor 
faz parte; 
(3) Ainda no primeiro parágrafo do desenvolvimento, 
refutação, ou seja, rejeição da ideia contrária; 
(4) A partir do segundo parágrafo do desenvolvimento, 
apresentação do ponto de vista defendido pelo 
próprio autor do texto;
(5) Na conclusão, reafirmação do ponto de vista 
apresentado na tese e apresentação, como já visto, 
de um fechamento para o texto. Veja, na página 
seguinte, um exemplo de texto estruturado de 
acordo com a estratégia da dialética. Observação: 
ao corrigir seu texto dissertativo-argumentativo, a 
banca se preocupará em avaliar sua capacidade de 
argumentação e seu domínio sobre a utilização da 
língua e sobre o gênero textual solicitado. No geral, 
não há uma tese certa a ser adotada, mas sim uma 
tese adequadamente relacionada ao tema e bem 
defendida. Isso quer dizer que você, em seu texto, 
pode adotar uma posição oposta à apresentada 
nos exemplos deste manual e obter uma excelente 
nota. Os textos aqui apresentados servem apenas 
para ilustrar as possibilidades de organização das 
ideias na hora da prova. 
 Os altos índices da criminalidade, no Brasil, 
causam medo e revolta na população e a levam a 
considerar a adoção de medidas extremas, como a redução 
da maioridade penal de 18 para 16 anos, para amenizar o 
problema.Tal posicionamento, embora seja compreensível, 
reflete um equívoco, por parte de parcela da sociedade, na 
análise dos fatos relativos ao aumento da insegurança. 
 Há grupos sociais que, diante das falhas na 
segurança pública vivenciadas no país, defendem a 
adoção de tratamento mais rígido para os menores de 
idade em conflito com a lei. Costuma-se afirmar, em 
Interpretação de Textos e Redação
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respaldo a essa posição, que adolescentes ficam impunes 
independentemente dos atos que pratiquem e que, com 
o endurecimento da legislação, haveria o arrefecimento 
da sensação de impunidade e, consequentemente, a 
redução do número de crimes. Esse raciocínio pode parecer 
adequado, mas, por partir de uma falsa premissa e ignorar 
fatos importantes, deve ser considerado falho.
 Um fator que pesa contra a redução da maioridade 
penal é o fato de ela se basear na crença equivocada 
de que as ações de menores infratores não acarretam 
consequências no âmbito jurídico. Essa premissa não 
leva em consideração que o Estatuto da Criança e do 
Adolescente prevê uma série de medidas socioeducativas 
a serem aplicadas em caso de atos infracionais, as quais 
podem incluir a inserção do adolescente em regime de 
semiliberdade ou sua internação em estabelecimento 
educacional. Sendo assim, não é legítimo acreditar que 
a criminalidade se origine na impunidade, pois esta não 
existe. 
 Deve-se levar em consideração, também, que 
uma ação só tem o potencial de reduzir os índices de 
criminalidade caso minimize alguma de suas causas 
mais relevantes. Isso não aconteceria com a redução 
da maioridade penal, pois, ainda que participem de 
delitos graves, os menores de 18 anos envolvem-se em 
uma quantidade relativamente pequena de ocorrências. 
Conforme estatística da Unicef, divulgada pela imprensa 
brasileira, por exemplo, adolescentes são responsáveis por 
cerca de 1% dos homicídios registrados no Brasil.
 Dessa maneira, claro está que defender o 
tratamento de menores de idade como se adultos fossem é 
uma atitude equivocada, baseada em uma visão distorcida 
dos fatos. Se a sociedade insistir nessa abordagem, o 
controle da criminalidade terá menos chances de ser bem-
sucedido e a vida em um país mais seguro continuará sendo 
um objetivo de improvável concretização.
→ Métodos de raciocínio lógico: dedução e indução 
 Não faremos uma análise pormenorizada dos 
dois métodos aqui, mas apenas apresentaremos suas 
características essenciais. É interessante conhecê-los 
porque, assim, facilitamos o processo de organização das 
ideias no texto, o que costuma ser um desafio para muitos 
candidatos, especialmente no início da prática. 
 O método dedutivo permite a inferência de 
particularidades a partir das generalizações. Parte-se de 
proposições gerais e chega-se a conclusões específicas. 
As proposições que servem como pontos de partida 
são chamadas de premissas. Se as premissas forem 
verdadeiras, a conclusão a que se chega também será. 
Naturalmente, o uso de premissas falsas acarreta a 
obtenção de conclusões falsas.
 O método indutivo, por sua vez, parte das 
observações das particularidades e caminha em direção 
a uma generalização. É o caminho inverso, que busca 
explicar fenômenos por meio da observação dos fatos. 
Esse método cria conclusões que são mais amplas do 
que as premissas, o que é perigoso, pois pode, a partir 
da experiência do observador, levar a generalizações 
indevidas (que são, inclusive, uma falha a ser evitada nas 
redações).
→ Estratégias argumentativas 
 Há diversas estratégias argumentativas. Aqui, 
veremos as mais relevantes para a elaboração de um 
texto dissertativo-argumentativo. 
1. Relações de causa e efeito ou explicação e conclusão
 A organização fundamental dos textos 
dissertativo-argumentativos corresponde à elaboração 
de assertivas acompanhadas das razões que levam o autor 
a enunciá-las. Organiza-se, então, fazendo assertivas 
e justificando-as com a apresentação de causas ou 
explicações. 
 Veja exemplos retirados de textos de provas: 
Cespe – Polícia Científica/PE – 2016 “...a problemática 
ligada à separação de partes cadavéricas destinadas a 
transplantes em vivos exige que sua retirada seja feita em 
condições de aproveitamento útil, o que impõe, em muitos 
casos, que esse procedimento seja feito em prazos curtos, 
iniciados com o momento da morte. É importante, pois, que 
o médico estabeleça o momento de ocorrência do êxito 
letal com a maior precisão possível.” 
José Maria Marlet. Conceitos médico-legal e 
jurista de morte. Internet: (com adaptações) 
O segundo período do trecho citado apresenta uma 
consequência/conclusão do que o antecede (note que, no 
caso, a conjunção pois é usada com valor de portanto, por 
conseguinte). O motivo, a razão que justifica a importância 
do estabelecimento preciso do momento da morte é “a 
problemática ligada à separação de partes cadavéricas...”.
 Cespe – TCE/SC – 2016 “É inegável que o Estado representa 
um ônus para a sociedade, já que, para assegurar o 
seu funcionamento, consome riquezas da sociedade.” 
Diogo Roberto Ringenberg. Direito fundamental ao bom 
funcionamento do controle público.
 In: Controle Público, n 10, abr./2011, p. 55 (com adaptações). 
A segunda parte do período acima traz, como evidencia o 
conector já que, a causa do que se afirma na primeira parte. 
2. Argumento de autoridade 
 Corresponde à citação, no texto, de pessoas que 
sejam consideradas autoridades no assunto discutido. 
A estratégia de sustentação da validade da tese, então, 
é a utilização da credibilidade alheia, a qual, por meio da 
Interpretação de Textos e Redação
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menção que se faz ao outro, é transferida para texto. 
Naturalmente, quanto mais reconhecida for a autoridade 
citada, mais força ela dará à tese defendida. No exemplo 
abaixo, o autor do texto analisa o chamado “jeitinho 
brasileiro”, corresponde, no caso, ao costume de dobrar as 
normas para, informalmente, obter algum favorecimento. 
No texto, citao antropólogo Roberto Da Matta, referência 
na área da Antropologia.
FGV – BRADESC – 2010
 “(...) É uma contradição simples: acredita-se 
que a exceção a ser aberta em nome da cordialidade não 
constituiria pretexto para outras exceções. Portanto, 
o jeitinho jamais gera formalidade, e essa jamais sairá 
ferida após o uso desse atalho. Ainda de acordo com 
DaMatta, a informalidade é também exercida por esferas 
de autoridade superiores. Quando uma autoridade ‘maior” 
vê-se coagida por uma ‘menor’, ameaça fazer uso de sua 
influência; dessa forma, buscará dissuadir a autoridade 
‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção.” 
(In: www.wikipedia.org – com adaptações) 
3. Comparações
 A comparação é a estratégia usada para traçar 
paralelos entre duas situações ou evidenciar os seus 
contrastes. Podem-se comparar duas pessoas, dois 
lugares, duas épocas, duas medidas etc. A comparação 
abaixo faz parte do mesmo texto mencionado acima, no 
qual o autor explicita as diferenças entre o comportamento 
dos brasileiros e dos norte-americanos.
FGV – BRADESC – 2010
 Em sua obra O Que Faz o Brasil, Brasil?, o 
antropólogo Roberto Da Matta compara a postura dos 
norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. 
Explica que a atitude formalista, respeitadora e zelosa 
dos norte-americanos causa admiração e espanto aos 
brasileiros, acostumados a violar e a ver violadas as 
próprias instituições; no entanto, afirma que é ingênuo 
creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação 
adequada. O antropólogo prossegue explicando que, 
diferente das norte-americanas, as instituições brasileiras 
foram desenhadas para coagir e desarticular o indivíduo. 
A natureza do Estado é naturalmente coercitiva; porém, 
no caso brasileiro, é inadequada à realidade individual. 
Um curioso termo – Belíndia – define precisamente esta 
situação: leis e impostos da Bélgica, realidade social da 
Índia. 
(In: www.wikipedia.org – com adaptações) 
 Nesse trecho, ocorrem, simultaneamente, a 
comparação entre Brasil e Estados Unidos e o argumento 
de autoridade, pois há citação do raciocínio elaborado pelo 
antropólogo. 
4. Exemplo 
 Nas redações, o exemplo aparece como forma de 
relato breve e serve para deixar mais claras ideias muito 
abstratas. O exemplo serve para comprovar a validade 
do raciocínio elaborado, em teoria, antes dele e, por isso, 
deve corresponder a um fato de conhecimento geral. 
Evite usar como exemplos situações hipotéticas, pois elas 
têm validade comprobatória muito menor do que a das 
situações que efetivamente ocorreram. 
 Em outras palavras, o exemplo é uma forma de 
mostrar para o leitor que seu raciocínio é tão válido que 
ele não se restringe a uma análise teórica, mas pode ser 
verificado, também, na realidade.
 Observe este trecho de redação de uma aluna:
 
 O grande volume de corrupção deflagrado na 
política brasileira deve-se, dentre outros fatores, à escolha 
equivocada dos candidatos pela maioria dos eleitores. 
Preferem-se candidatos com maior apelo popular a 
candidatos com maior carga de conhecimento político, 
sociológico e antropológico; preferem-se candidatos que 
se utilizam de recursos mais dispendiosos de propaganda e 
imagem em campanha àqueles que contam com carga mais 
vasta de projetos sociais e de realizações efetivas em prol da 
sociedade. Tal característica dos eleitores brasileiros pode 
ser exemplificada pela eleição, com número significativo de 
votos, do comediante Tiririca no pleito de 2010. 
(Luíza Bogado, no concurso para Técnico Judiciário do TJ/MG) 
 O exemplo, no último período do parágrafo, 
mostra que a teoria criada pela autora nos dois primeiros 
períodos é válida, pois é concretamente verificada nas 
ações dos eleitores brasileiros.
 
5. Analogia 
 A analogia é uma forma de comparação baseada 
na semelhança entre duas situações aparentemente 
distintas. Por meio da analogia, podemos facilitar a 
compreensão de certos raciocínios, pois passamos de 
afirmações mais simples ou concretas a outras mais 
complexas ou abstratas. O processo de analogia é muito 
presente na estruturação de provérbios e ditos populares, 
os quais, por meio de enunciados diretos, repletos de 
elementos concretos, encerram um raciocínio abstrato 
e amplo. Mas atenção: os ditos populares não devem 
ser usados como argumentos em sua redação, pois são 
enunciados já prontos, e sua utilização impede que você 
demonstre ao examinador a sua capacidade de articulação 
e de raciocínio. 
 Veja um exemplo: 
 “Outro fator que pode ser melhorado com a 
vigência da Lei Ficha Limpa é o maior conhecimento que 
será ofertado ao eleitor acerca do passado do candidato 
Interpretação de Textos e Redação
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às eleições. A lei funcionará como um filtro, pelo qual não 
passará aquele que teve manchada sua reputação. Ora, 
se nem mesmo os candidatos a cargos públicos efetivos 
podem ter condenação antecedente para ocuparem uma 
vaga nos quadros da Administração Pública, não seria 
razoável que o candidato a exercer o poder em nome do 
povo pudesse tê-la.” 
(Luíza Bogado, no concurso para Técnico Judiciário do TJ/MG) 
 Por meio do raciocínio analógico, a autora: 
• Comparou o funcionamento da Lei Ficha Limpa ao de 
um filtro – este tira as impurezas da água ou do ar, 
por exemplo; aquela tirará os políticos já condenados 
(“impuros”, “sujos”) da vida política. A água ou o ar sem 
impurezas têm melhor qualidade; o cenário político 
sem “impurezas” também. 
• Aproximou duas situações diferentes – a dos 
servidores efetivos e a dos titulares de mandatos 
eletivos –, mas que se aproximam por se submeterem 
ao interesse público. Logo, se os servidores não podem 
ter condenação criminal em seu histórico, conclui-se, 
por analogia (aproximação de situações diferentes, 
mas que guardam, por alguma razão, semelhanças 
essenciais), que os políticos não devem poder tê-las.
6. Utilização de dados estatísticos 
 Estatística é “o ramo da matemática que trata da 
coleta, da análise, da interpretação e da apresentação de 
massas de dados numéricos”.(Houaiss on-line) 
 Para se chegar a um dado estatístico (como 
parcela da população que pretende votar em certo 
político, ou chances de uma pessoa de determinado gênero 
desenvolver certa doença, por exemplo), é necessário que 
se faça uma análise da realidade por meio de pesquisas e 
observações. 
 Quando usamos esse tipo de dado, devemos 
indicar a fonte, por duas razões: o dado é fruto do trabalho 
de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, geralmente 
envolvidas com alguma instituição, e o crédito deve ser 
dado ao autor; a fonte do dado pode dar a ele credibilidade. 
Não invente estatísticas para usar em seu texto! Só as 
utilize se tiver certeza sobre sua correção. 
 Veja exemplo do uso de dados estatísticos: 
 “Nesse sentido, o continente mais populoso é a 
Ásia, que responde por cerca de 60% do total da população 
mundial. Somente a China, a Índia e a Indonésia representam 
um elevado contingente, cerca de 2,8 bilhões de habitantes. 
Por outro lado, a Oceania responde por apenas 0,5% da 
população mundial. 
7. O uso da linguagem na redação 
 O uso da linguagem, na hora de escrever a redação 
de concurso ou vestibular, requer especial cuidado. 
 Fique atento: Use a terceira pessoa 
 O uso da terceira pessoa imprime ao discurso 
tom de objetividade. Na redação, a primazia deve ser 
dada aos argumentos e às informações, e os traços de 
subjetividade, aqueles que deixam o autor transparecer, 
devem ser evitados. Há a tese, que surge de um juízo de 
valor – uma avaliação subjetiva – feito pelo autor. Mas, 
apesar desse conteúdo de natureza pessoal, o tratamento 
do tema deve ser feito de modo objetivo, com enfoque no 
objeto, no assunto. 
 Assim, devemos: 
• Usar a terceira pessoa;
• Evitar excesso de adjetivos (com parcimônia, podem 
ajudar a determinar a tese); 
• Evitar linguagem que deixe transparecer emoções 
fortes; 
• Não usar exclamações. 
 Use a linguagem padrão 
 A linguagem padrão, também chamada norma 
culta, corresponde aoconjunto de prescrições contidas na 
gramática normativa. Em situações mais formais, deve ser 
usada a norma-padrão da língua. Então, respeite as regras 
de concordância, regência, colocação pronominal etc. e 
pense nisto: 
• Não use construções próprias da oralidade, como pro, 
pra, pros, pras em vez de para o, para a; 
• Não use linguagem própria das comunicações via 
internet, como naum, tb. Use, claro, não e também; 
• Evite gírias, pois elas fogem ao padrão. Em vez de 
falar que BMW é carro de “bacana” diga que somente 
pessoas com alto poder aquisitivo podem adquirir uma 
BMW; 
• Evite regionalismos, pois a redação é feita para um 
público-alvo muito amplo: qualquer pessoa que 
consiga ler em português padrão; 
• Evite metáforas: a metáfora consiste na transposição 
de uma palavra ou expressão do seu sentido 
denotativo para o sentido conotativo com base em uma 
comparação. Essa comparação, todavia, é implícita, 
feita apenas pelo autor da metáfora, que não a 
explicita. Logo, o leitor tem acesso apenas ao resultado 
do processo criativo do autor (a expressão inserida no 
Interpretação de Textos e Redação
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texto), mas não conhece o raciocínio que levou o autor 
a criá-la. Isso pode prejudicar a compreensão das 
informações do texto, o que é indesejável em textos 
argumentativos. Outras figuras de linguagem que 
afetam o sentido das expressões devem ser evitadas 
também. 
• Fuja das frases feitas, dos chavões e dos ditos 
populares .
 Argumente usando suas ideias e suas 
palavras. Lançar mão de frases prontas transformará 
sua argumentação em uma sucessão de clichês e a 
enfraquecerá. Não argumente dizendo, por exemplo, que 
quem tudo quer, nada tem. Transforme esse provérbio 
em uma frase com indícios de autoria; abstraia dela a 
ideia central e a use em um enunciado, como este: A 
ambição pode ser positiva, desde que dentro dos limites 
da razoabilidade. Aquele que é excessivamente ambicioso, 
por vislumbrar sempre o aumento de seu patrimônio, pode 
acabar arriscando o que já possui e, na pior das hipóteses, 
perdendo-o. 
 Escreva períodos médios 
 Não há uma regra que estabeleça o tamanho ideal 
do período. O que existe é o bom senso, que nos mostra 
que: 
• Períodos longos demais têm mais chance de se 
tornarem confusos, mesmo que não apresentem erro 
algum; 
• Períodos curtos demais impedem que o autor 
demonstre suas habilidades com o uso de 
articuladores. Uma extensão razoável para períodos 
é de aproximadamente três linhas. Pode ser um pouco 
mais ou um pouco menos, sem problemas. Mas, se você 
observar que seu período está ultrapassando muito 
esse limite, vale a pena analisar a possibilidade de 
dividir a informação em dois períodos separados.

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