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Uma Nova Forma de Familia Adoção de Crianças e adolescentes -Aline e Cliseldes

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Uma Nova Forma de 
Ser Família:
Adoção de Crianças e Adolescentes 
por Casais Homoafetivos 
no Direito Brasileiro
Aline Graciela Kieffer
Cliseldes Kieffer
 (Coautora)
Uma Nova Forma de 
Ser Família:
Adoção de Crianças e Adolescentes 
por Casais Homoafetivos 
no Direito Brasileiro
Realizando Sonhos. Enriquecendo Vidas.
São Paulo | Rio de Janeiro 
2015
Copyright © 2015 por Aline Graciela Kieffer & Cliseldes Kieffer
Uma Nova Forma de Ser Família – Adoção de Crianças e Adolescentes por Casais 
Homoafetivos no Direito Brasileiro
Aline Graciela Kieffer & Cliseldes Kieffer
1a Edição
1a tiragem – mês e ano – 1.000
Coordenação Editorial:
Jefferson Borges
Diagramação:
Equipe Livre Expressão
Capa:
Equipe Livre Expressão
ISBN – 978-85-7984-XXX-X
CIP – (Cataloguing-in-Publication) – Brasil – Catalogação na Publicação
Ficha Catalográfica feita na editora
___________________________________________________
XXXX, Aline Graciela Kieffer
Uma Nova Forma de Ser Família / Adoção de Crianças e adolecentes 
por Casais Homoafetivos no Direito Brasileiro / Aline Graciela Kieffer. 1 
ed. São Paulo : Rio de Janeiro : Livre Expressão, 2015.
XXXX p. ; 21 cm (broch.) ; 
ISBN 978-85-7984-XXX-X
CDD B869.35
CDU 82-31
___________________________________________________
Índice para catálogo sistemático
1. Genero. 2. Genero. I. Título
Fale Conosco:
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• Rio de Janeiro-RJ: (21) 3474-4415• Vitória: (27) 4062-9177
E-mail: sac@livreexpressao.com.br • www.livreexpressao.com.br
São Paulo – Av. Paulista, 509 sala 1412, Jardim Paulista – São Paulo-SP – CEP 01311-910
Rio de Janeiro – Rua Evaristo da Veiga, 16 sala 608 e, prédio anexo, sala 5 – Centro
Rio de Janeiro – RJ – CEP 20031-040
A todas as crianças e adolescentes em estado de 
abandono que sonham com uma vida, com um 
lar, com uma família onde os laços afetivos e o 
amor possam superar quaisquer preconceitos. 
— 7 —
Agradecimentos
Agradeço a DEUS, pois é ele que sempre me acompanhou 
dando-me a sabedoria necessária, renovando as minhas forças 
nas longas noites que eu amanhecia revendo os conteúdos, e 
orientando-me para que através da história possamos entender 
as sociedades e dar uma resposta para os dias atuais. 
Agradeço a minha mãe, Cliseldes, especial colaboradora 
e co-autora dessa conquista, um anjo da guarda que Deus 
colocou aqui na terra para guiar-me nessa jornada. Mãe, obri-
gada por tudo, principalmente por adiar teus sonhos para eu 
concretizar os meus.
Meu agradecimento em especial a Drª Galatéia Fridlund, 
Promotora de Justiça do Estado do Paraná, a qual foi o ápice 
para que eu me encantasse com o Direito de Família relacionado 
aos direitos da criança. Gratidão ao Promotor de Justiça Dr. 
Olympio de Sá Sotto Maior Neto que acreditou no meu sonho 
dando-me a primeira oportunidade no Ministério Público e 
pelos ensinamentos que levarei para toda vida. 
Meu carinho infinito aos dois pais, pela coragem de 
lutar pela primeira adoção legalmente reconhecida no Brasil, 
contendo o nome de dois pais, Vasco Gama e Junior de Car-
valho, sua história e o processo, permitindo uma análise mais 
profunda sobre adoções por homoafetivos. 
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram 
para essa vitória, meu muito obrigada! 
Aline Graciela Kieffer
— 11 —
Dedicatória
Dedico esse livro a memória da minha querida filha 
Aline Graciela. 
A menina que me ensinou a não ter necessidades, apenas 
a criar oportunidades. Trouxe vida, amor e enxugou minhas 
lágrimas. Ajudou-me a corrigir erros e não lembrar meus 
tombos, ensinando-me a dizer não na hora certa. Esteve e 
sempre estará comigo nas minhas conquistas. Foi meu maior 
encontro com o universo, meu mais belo e profundo laço 
de amor com Deus. E, quando meu corpo for pó e chuva e 
meu espírito vagar no universo, se você me chamar filha, e 
eu ouvir o sussurro da tua voz tornarei a nascer, para que vi-
vamos novamente em família, porque viver é muito mais do 
que simplesmente existir. É poder viver a vida no vai e vem 
de outras vidas. A ti menina incrível, linda e maravilhosa eis 
nossa declaração incondicional de amor. Aqui tem uma pouco 
da tua dedicação, empenho e crença para um mundo melhor. 
E nossa eterna saudade. 
Tua mãe Cliseldes Kieffer, Stella Maris, Tabata Mardiana 
e Família Kieffer. Regina Castilho e Marcos Ramos, colegas 
e corpo docente das Faculdades Santa Cruz –FARESC, Pós 
Graduação Damásio- Curitiba/PR e amigos que te acompa-
nharam no pouco tempo que esteve entre nós.
“Se o casulo não se romper, não haverá cri-
sálida que se transforma em borboleta, como 
expressão irradiante e bela da vida”. 
Leonardo Boff
— 15 —
Aline uma estrela
Ao tempo em que elaborava o prefácio da presente obra, 
diante do precoce e pranteado passamento da autora Aline 
Graciela Kieffer, veio-me à mente –e ao coração -Jorge Amado, 
em Capitães de Areia, narrando que Dora, a personagem mais 
amada entre as meninas e os meninos da rua de Salvador, não 
havia morrido mas, isso sim, transformado - se numa estrela.
Aline certamente transformou-se numa estrela.
Mais do que as dificuldades que enfrentou para cursar a 
Faculdade de Direito, sua trajetória de acadêmica e estagiária 
do Ministério Publico do Estado do Paraná aproximou-nos 
exatamente pelo desejo comum de querer ver instalada no 
Brasil, o quanto antes, uma sociedade progressivamente me-
lhor e mais justa. 
Conversávamos especialmente sobre a proposta de que 
estruturas da justiça viessem servir ao fim de concretizar as 
promessas de cidadania já contempladas no nosso ornamento 
jurídico, notadamente na nossa Constituição Federal, não por 
acaso denominada de “Constituição Cidadã”. 
Falávamos de isonomia material, superação das desigual-
dades sociais e erradicação da pobreza, mas também tratávamos 
de eliminação de todo tipo de preconceito e discriminação.
Concluíamos juntos que o objetivo fundamental da 
República Federativa, do Brasil consistente em construir uma 
sociedade livre, justa e solidária, somente poderia ser alcan-
çado quando cumprido por todos, especialmente pelo poder 
público, o comando constitucional da prioridade absoluta em 
— 16 — — 17 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
favor da criança e adolescente no que tange a efetivação dos 
seus direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária, bem como os 
colocando a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão (art.227, da CF).
Desse conjunto de preocupações com a democracia, 
a justiça social e a população infanto-juvenil é que adveio a 
escolha de Aline, juntamente com Cliseldes, do tema “Uma 
nova forma de ser família: adoção por casais homoafetivos no 
Direito Brasileiro”.
A família como espaço prevalente de afeto e o direito à 
felicidade na convivência familiar são os fundamentos para 
a melhor - e mais justa - solução jurídica aos casos de adoção 
de crianças e adolescentes por casais do mesmo sexo ou ho-
moafetivos.
Fizeram então as autoras por iniciar o livro apresentando 
a evolução histórica do instituto da família, desde os primórdios 
da humanidade, passando pela Grécia e Roma antiga, a idade 
Média até os tempos modernos. 
Ficou enunciada a família enquanto associação religiosa 
destinada ao culto do fogo sagrado e dos antepassados. Foram 
trazidos registros sobre a etapa em que se tornou prevalente 
o objetivo da procriação e suas consequências econômicas. 
Culminaram as autoras por considerar a família e o respectivo 
regramento jurídico. 
Reconhecendo como determinante o sentimento de 
afeto, afirmaram acertadamente as autoras que a família, até 
então patriarcal e centrada no casamento indissolúvel,passa 
a ser substituída por outra, que apresenta como fundamento 
a igualdade entre os cônjuges e respeito mútuo, incluindo –se 
aí os filhos.
Observam que a “ união estável passa a ser aceita juridi-
camente e o casamento deixa de ser a única forma de constituir 
família”, além de que “as relações afetivas entre homossexuais e 
a união homoafetiva, nesse momento,tornam-se transparentes 
e aceitas, podendo-se dizer que na família moderna predomi-
na a liberdade de escolha e a igualdade entre seus membros, 
eliminada a hierarquia”.
No que diz respeito ao Direito Brasileiro, a partir da 
estrutura advinda do próprio direito romano e considerada 
a forma da colonização portuguesa, destacou-se a família 
enquanto centro de todas as organizações.
Tratando da família na atualidade, consideram as auto-
ras as bases oriundas dos princípios da igualdade, liberdade, 
solidariedade e afetividade, anotando que os “novos padrões 
de relacionamento igualitário entre os membros, a consti-
tuição de práticas baseadas no respeito mútuo, assim como 
as uniões estáveis e homoafetivas, são determinantes para 
explicar as relações familiares surgidas”, com a conclusão de 
que “ a sociedade na atualidade traça para as famílias um valor 
diferenciado pelo afeto, sem receita pronta de sucesso e sem 
modelo específico para seguir, porém tendo o papel principal 
de contribuir para a formação do caráter que influenciará a 
personalidade e o comportamento de todos os seus membros, 
sendo uma referência positiva e fundamental para a própria 
convivência social”.
Discorrem as autoras sobre o conceito de família (con-
siderando-a sociologicamente como a base da sociedade e 
reafirmando sua importância por constituir a “célula social 
por excelência”) e entidade familiar (aqui trazendo a classifi-
cação das famílias a partir da denominação de matrimonial, 
monoparental, anaparental, plureparental, eudemonista, ho-
moafetiva, unipessoal, paralela, concubinato e união estável).
Citando Maria Berenice Dias, a afirmação de que “a ne-
nhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto pode-se 
— 18 — — 19 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
deixar de conferir status de família, merecedora da proteção 
do Estado”, bem como de que o Superior tribunal de Justiça, 
em recente decisão, reconheceu a união homoafetiva como 
entidade familiar (REsp. 820.475)
Fez-se a análise da família no Código Civil de 1916, 
na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil de 2002, 
destacando-se que, ao lado da família matrimonial, o regra-
mento constitucional acabou por reconhecer a união estável 
como entidade familiar, assim como a comunidade formada 
por qualquer dos pais e seus descendentes (art.226, da CF)
Na sequência, as autoras trazem à colação os princí-
pios constitucionais da família, partindo do “princípio da 
dignidade da pessoa humana” (como “pressuposto da ideia 
de justiça humana”), passando pelo “ princípio da liberdade 
de constituir uma comunhão de vida familiar” (como opção 
no sentido da afetividade, aqui contemplada não só a relação 
conjugal, mas também a união estável hetero ou homossexual), 
analisando o “princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e 
companheiros”, expressamente previsto no art. 226, § 5°, da 
CF (“Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são 
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher “), também 
o “princípio da pluralidade familiar” (que comparece provo-
cando ruptura com o modelo único advindo do matrimônio) 
e, finalmente, o “princípio da afetividade” (enquanto comando 
orientador e determinante para a constituição de qualquer 
entidade familiar).
A partir dessa etapa as autoras se dedicam a analisar o 
instituto da adoção.
Apresentam então sua evolução histórica em vários países, 
com indicação diferenciada da legislação francesa, cujo Código 
Civil, em mudança de paradigma, culmina por estabelecer que 
na realização da adoção deva prevalecer o melhor interesse de 
quem é adotado e não mais dos adotantes.
Quanto à adoção no Brasil, as autoras apresentam de-
senvolvimento da respectiva legislação, valendo o destaque à 
Constituição Federal de 1988 ao estabelecer a igualdade de 
direitos e qualificações entre os filhos (assim: “Os filhos, ha-
vidos ou não do casamento,ou por adoção, terão os mesmos 
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações dis-
criminatórias relativas à filiação “ - art.227, § 6º), bem como a 
indispensável apreciação judicial para o deferimento da adoção 
(art.227, § 5º), além de incluir expressamente dentre os direitos 
fundamentais da infância e juventude o da convivência familiar 
(art.227, caput, da CF).
Considerando o novo regramento jurídico instituído 
pelo estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n º 8.069/90), 
as autoras comentam a regra, de fundamental importância,-
que traduz o direito de toda criança e adolescente ser criado 
e educado no seio da família de origem ou família substituta.
Quanto ao Código Civil de 2002, e a nova Lei de Adoção 
(Lei nº 12.010/09),o registro da prevalência do entendimento 
de que a intervenção estatal “ será prioritariamente voltada à 
orientação,apoio e promoção social da família natural, junto 
à qual a criança e o adolescente devem permanecer, ressalvada 
absoluta impossibilidade, demostrada por decisão judicial fun-
damentada “sendo que, na impossibilidade da permanência, 
deve-se dar a colocação em família substituta, com preferência 
à modalidade de adoção (art.1 º, §§ 1º e 2 º, da Lei nº 12.010/09).
No capítulo seguinte, as autoras apresentam retrospetiva 
histórica acerca da homossexualidade, trazendo a conclusão 
de que a união entre pessoas do mesmo sexo, assim como as 
suas relações afetivas e sexuais, sempre existiram, em alguns 
momentos totalmente aceitas, em outros toleradas e, não raras 
vezes, objeto de repúdio social.
Todavia, firmam posição no sentido de que “a homosse-
xualidade não é uma doença, nem uma aberração, tanto que 
ela foi retirada do rol das doenças pelo Conselho Federal de 
— 20 — — 21 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
Medicina em 1985 e a Classificação Internacional de Doenças 
(CID) não inclui a homossexualidade como doença desde 1993. 
Por outro lado, o Conselho Federal de Psicologia, em 1999, 
estabeleceu vedação aos profissionais psicológos de exercer 
“ação que favoreça a patologização de comportamentos ou 
práticas homoeróticas”
Enfim, registram a afirmação de Philipe Áries no sen-
tido de que “os homossexuais formam atualmente um grupo 
coerente,ainda marginal, mas que tomou consciência de sua 
própria identidade, um grupo que reivindica seus direitos 
contra uma sociedade dominante que ainda não os aceita”.
Ao tratarem então sobre a adoção por homossexuais, 
as autoras trazem à tona o entendimento de Nogueira na 
linha de que “a paternidade adotiva é a mais pura expressão 
de veracidade, é o amor por excelência, é a filiação querida 
e vivida”, para aduzir, nas palavras de Vera Lúcia Sapko, 
que “dificultar, burocratizar ou impedir a adoção por 
homossexuais, na verdade é negar às crianças abandonadas 
pelos pais, ou que foram retiradas deles em razão de violência, 
o direito de serem colocadas em famílias substitutas, onde 
poderiam ter o carinho e o cuidado que necessitam”.
Apresentam o “princípio do melhor interesse da criança 
e do adolescente”, bem como o direito à convivência familiar, 
enquanto informadores do instituto da adoção.
Narram caso concreto de adoção por casal homoafetivo 
e apontam as preocupações quanto a esse tipo de colocação 
em família substituta, relacionadas, de um lado, à ausência 
do modelo masculino ou feminino e, de outro, citando Maria 
Berenice Dias, à “possibilidade do filho ser alvo de repúdio 
no meio que frequenta ou vítima do escárnio por parte de 
colegas e vizinhos, o que poderia lhe acarretar perturbações 
psicológicas ou problemas de inserção social”.
Concluem, entretantoe fazendo novamente por 
citar Maria Berenice Dias, que “as evidências trazidas pelas 
pesquisas não permitem vislumbrar a possibilidade de 
ocorrência de distúrbios ou desvios de conduta pelo fato de 
alguém ter dois pais ou duas mães. Não foram constatados 
quaisquer efeitos danosos ao normal desenvolvimento ou à 
estabilidade emocional decorrentes do convívio de crianças 
com pais do mesmo sexo. Também não há registro de dano 
sequer potencial ou risco ao sadio estabelecimento dos 
vínculos afetivos. Igualmente nada comprova que a falta do 
modelo heterossexual acarreta perda de referenciais a tornar 
confusa a identidade de gênero. Diante de tais resultados, 
não há como prevalecer o mito de que a homossexualidade 
dos genitores gere patologias nos filhos. Nada justifica a 
estigmatizada visão de que a criança que vive em um lar 
homossexual será socialmente rejeitada ou haverá prejuízo 
a sua inserção social. Identificar os vínculos homoparentais 
como promíscuos gera a falsa ideia de que não se trata de um 
ambiente saudável para o seu bom desenvolvimento. Assim, 
a insistência em rejeitar a regulamentação da adoção por 
homossexuais tem por justificativa indisfarçável preconceito”.
Invocam o princípio da dignidade da pessoa humana 
para asseverar que qualquer discriminação, afora ferir o 
princípio da igualdade, atinge também a própria dignidade 
do ser humano. 
Ao tratarem do princípio do melhor interesse 
da criança, inerente à proteção integral prometida no 
ordenamento jurídico brasileiro para a população infanto-
juvenil, as autoras apontam a situação de milhares de crianças 
e adolescentes com longa permanência em acolhimento 
institucional ou em situação de rua, experimentando risco 
pessoal, familiar e social, contrapondo-se à possibilidade de 
colocação em família substituta, inclusive onde exista união 
homoafetiva.
No capítulo seguinte, pela importância quando da 
prestação da tutela jurisdicional, as autoras dissertam 
— 22 — — 23 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
sobre a adoção por casais homoafetivos e intervenção da 
psicologia judicial, inserindo a observação de que comparece 
fundamental esclarecer a criança ou adolescente não apenas 
acerca da condição de adotado mas, igualmente, dos papéis 
estabelecidos na união de pessoas do mesmo sexo.
A esclarecedora jurisprudência trazida à colação pelas 
autoras diz respeito à conversão de união em estável entre 
pessoas do mesmo sexo em casamento (Tribunal de Justiça do 
Rio de Janeiro); adoção por homossexual (Tribunal de Justiça 
do Rio de Janeiro) e adoção por casal homoafetivo (Supremo 
Tribunal Federal), com destaque a essa última por se tratar 
de nossa Suprema Corte e que concluiu, expressamente, não 
poder haver, quando da adoção, qualquer limitação quanto 
ao sexo ou à idade dos adotandos em razão da orientação 
sexual dos adotantes.
É apresentado então pelas autoras estudo do caso, 
ressaltada a bem fundamentada sentença de adoção da 
criança T.R.C.G., que passou a ser filha do casal homoafetivo 
Vasco Pedro da Gama Filho e Dorival Pereira de Carvalho 
Junior.
 Em considerações finais, as autoras reafirmam a importância 
da família para o desenvolvimento sadio de todo ser humano, 
inclusive enquanto referência para o futuro. 
 Repudiando mais uma vez a discriminação e o preconceito 
ainda existentes na nossa sociedade, inclusive nas estruturas 
da justiça, concluem no sentido da absoluta possibilidade 
jurídica da adoção por esse tipo de família advinda da 
união homoafetiva, garantindo-se convivência familiar para 
crianças e adolescentes que hoje se encontram afastadas da 
possibilidade do exercício desse direito fundamental.
Nesse passo, vale o registro da extrema oportunidade 
que acompanha o lançamento da presente obra. 
É que, de um lado, comparece como homenagem à 
dedicação de Aline (que tão precocemente nos deixou) e, 
de outro, traz à reflexão elementos históricos, sociológicos, 
psicológicos, sociais e jurídicos que devem ser considerados 
para a melhor posição acerca da adoção por casais 
homoafetivos.
Aliás, o momento que experimentamos hoje na 
realidade brasileira apresenta fundada preocupação quanto 
à marcha do nosso processo civilizatório, que se quer ver – 
impulsionado pelo princípio basilar da dignidade da pessoa 
humana – avançando cada vez mais no sentido da superação 
de qualquer preconceito ou discriminação na efetivação dos 
direitos fundamentais da pessoa humana. 
Com efeito, para além de posições conhecidas 
e oriundas de pensamento conservador, vivemos hoje 
propostas de real retrocesso ao quanto já evoluímos na 
matéria de direitos humanos.
Ao tempo em que a Lei n° 13.005/14 (Plano Nacional 
de Educação) faz por retirar do seu corpo expressões 
pertinentes à “igualdade de gênero” ou “identidade de 
gênero” (como se o processo educativo devesse escamotear 
temas que são significativos na realidade social), o Projeto 
de Lei nº 6.583/13, que trata do “Estatuto da Família”, foi 
aprovado por Comissão Especial da Câmara dos Deputados 
com a conclusão de que casais homossexuais não constituem 
entidade familiar, nem poderiam ver convertida união 
estável entre eles em casamento, mesmo depois da posição 
em sentido contrário do Conselho Nacional de Justiça e 
de julgados, nessa mesma linha, provenientes do Supremo 
Tribunal Federal.
Daí a importância de se trazer à tona – como fizeram 
as autoras – os fundamentos que justificam a colocação em 
família substituta, na modalidade de adoção, quando se refere 
a casais homoafetivos.
É que, se dois homens ou duas mulheres vivem em 
união estável (passível inclusive de restar convertida em 
— 24 — — 25 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
casamento), atendem aos demais requisitos legais estabelecidos 
pelo Estatuto da Criança e Adolescente, especialmente os que 
dizem respeito a revelarem compatibilidade com a natureza 
da medida e oferecerem ambiente familiar adequado (art. 
29, do ECA), além da pretendida adoção apresentar reais 
vantagens ao adotando e fundar-se em motivos legítimos 
(art. 43, do ECA), e, ainda, com o obrigatório estágio de 
convivência previsto no art. 46, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, apresentando resultado positivo atestado por 
equipe técnica vinculada ao Juízo da Infância e Juventude, 
nada justificaria o indeferimento do pedido de adoção.
Considerado que inúmeros estudos especializados 
indicam não existirem prejuízos psicológicos advindos, tão 
só, do fato dos casais estarem compostos por dois homens 
ou duas mulheres, bem como porque decorrentes de puro 
preconceito serem superáveis as situações decorrentes 
das relações interpessoais e comunitárias eventualmente 
experimentadas pelos adotados por casais homoafetivos, 
não resta dúvida de que o melhor interesse das crianças e 
adolescentes, assim também o propósito de proteção integral 
dos mesmos, estarão suficientemente atendidos, máxime 
porque a convivência familiar estabelecida pela sentença 
de adoção se apresentará obrigatoriamente marcada pela 
afetividade. 
 Vale dizer, ao mesmo tempo em que se mantém 
prevalente o princípio constitucional da igualdade sem 
qualquer tipo de distinção (declarando-se que os casais 
homoafetivos, embora diferentes, são iguais em direitos 
quando comparados com aqueles formados por homens 
e mulheres), também se eleva em dignidade a situação de 
crianças e adolescentes que aguardam indefinidamente nas 
entidades de acolhimento a possibilidade de pertencerem 
a uma família, que, como se sabe, é a principal agência de 
socialização do ser humano e espaço de afeto indispensável 
ao seu desenvolvimento sadio. 
 Enfim, serve a presente obra para – indicada a resposta 
justa e compatível com o Estado de Direito Democrático – 
garantir o superior interesse de crianças e adolescentes em 
estabelecerem vínculos afetivos num protegido ambiente 
familiar, sem qualquer discriminaçãoderivada da identidade 
de gênero ou da orientação sexual dos adotantes.
Dr. Olympio de Sá Sotto Maior Neto 
Procurador de Justiça do Paraná
— 27 —
Apresentação
Este livro nasceu da ideia principal apresentada para 
o título da minha graduação em Direito. A pesquisa das fa-
mílias e homoafetivos em suas épocas, foi escrita por minha 
mãe coautora deste, quando aluna de História do Direito, na 
Faculdade e cedida para meu tema do TCC. Minha escolha 
surgiu de lembranças de uma época que ela foi professora em 
uma escola da periferia, entre meus 06 e 08 anos, e presenciei 
crianças abandonadas e medrosas chegando à escola em horário 
de merenda, somente para alimentar-se, e após se retiravam 
para um milharal nas proximidades. Em outra escola estadual 
onde minha mãe atuou como secretária, muitas vezes eu es-
cutei comentários das indiferenças de alunos e corpo docente, 
rejeitando e deixando as crianças residentes em Entidade de 
Acolhimento longe do convívio dos outros estudantes. Mais 
tarde, aos meus 16 anos e estudante de magistério, estagiária na 
área, encontrei muitas dessas crianças no centro de Curitiba, 
banhando-se nas águas da praça central, algumas cheirando 
crack, outras pedindo esmolas. 
Concentrei-me desde cedo na pesquisa sobre o assunto, 
esclarecendo e interpretando os tipos de adoção e uma em es-
pecial, a dos homoafetivos, me chamou a atenção pelo cuidado 
e despreocupação com a idade das crianças adotadas por eles. 
Apesar da adoção, ser praticada, desde o começo dos tempos 
até dias atuais, verifica-se a rejeição por crianças e adolescen-
tes, tanto em escolas que elas frequentam, quanto da própria 
sociedade em adotá-las por inúmeras razões, desde a idade, até 
— 28 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro
o medo pelos problemas de comportamento que essa criança 
poderá causar na família que pretende as acolher. 
Não existe uma receita pronta, para saber como será 
o comportamento futuro, existe apenas um problema que a 
sociedade precisa entender e buscar o melhor para que essas 
crianças e adolescentes tenham um lar e um acompanhamento 
não só na adoção, mas na preparação para um futuro digno na 
sociedade após completar a idade máxima de permanência na 
Entidade Acolhedora. A pergunta é sobre o que é mais seguro 
para uma criança ou adolescente, se é ser adotado e viver no 
aconchego de um lar, ter carinho, amor e futuro digno, mes-
mo que seja em um lar onde pares são do mesmo sexo ou sem 
sonhos nos abrigos e nas ruas perambulando? Mas também 
é a realização do sonho de muitos casais dessa nova era que 
tem a possibilidade de dar um destino diferente, sob a luz do 
direito a essas crianças.
Sumário
Introdução ........................................................................ 31
Evolução Histórica da Família .................................. 33
Direito Antigo ...................................................................34
Direito Romano ................................................................38
Direito Medieval ...............................................................40
Direito Moderno ..............................................................42
Direito Brasileiro ..............................................................43
O Papel da Família na Atualidade ................................ 47
Conceito de Família ......................................................49
Entidades Familiares ....................................................... 52
A Família no Código Civil de 1916, 
Constituição Federal de 1988 e 
a Criação do Novo Código Civil de 2002. .............58
Princípios Constitucionais da Família .........................63
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ....................63
Princípio da Liberdade de Constituir uma 
Comunhão de Vida Familiar .......................................64
Princípio da Igualdade Jurídica dos 
Cônjuges e Companheiros ...........................................65
Princípio da Pluralidade Familiar .....................................68
Princípio da Afetividade..................................................... 69
Evolução Histórica da Adoção .................................. 70
Xi- adoção, ofensas aos pais e substituição de criança ... 74
Adoção no Brasil ............................................................82
Instituto de Adoção no Código Civil de 1916 e no Código 
De Menores e na Constituição federal de 1988 ...............84
Lei no 3.133, de 8 de maio de 1957. ...................................86
Adoção na Constituição Federal de 1988 .....................88
— 31 —
Adoções no Estatuto da Criança e 
do Adolescente (Lei 8069/1990) ...............................90
Adoção no Código Civil de 2002 ..................................92
Entraves para Adoção no Brasil ..................................... 93
Requisitos Gerais da Adoção .........................................97
Quanto à (s) pessoa da (o) Adotante (s) ............................97
Quanto à Pessoa do Adotado ............................................98
Requisitos Formais ..............................................................98
Histórico da Homossexualidade ..............................100
Conceito de Homossexualidade ................................... 107
A Adoção por Homossexuais: 
Uma Nova Forma de Ser Família .......................... 109
Homossexuais e Adoção no Brasil ............................... 112
Princípio da Dignidade da 
Pessoa Humana e Ausência de Proibição Legal .. 118
Adoção Homoafetiva e o 
Melhor Interesse da Criança ................................... 119
Adoção por Casais Homossexuais na 
Percepção e Avaliação da Psicologia Jurídica .......122
Possíveis Dificuldades no Desenvolvimento da Criança 
Adotada por Casais Homossexuais. 
Papéis Sexuais Devem ser Esclarecidos à Criança. 125
Jurisprudências .............................................................128
1-Conversão de União Estável em Casamento 
entre pessoas do mesmo sexo: ................................128
Adoção. Um Ato de Amor e um Fato Verídico. 
Estudo de Caso .........................................................136
Sentença da adoção da T. R. Carvalho da Gama ....... 142
Apelação Cível. União homoafetiva reconhecimento, 
princípio da dignidade da 
pessoa humana e da igualdade. ............................. 144
Considerações Finais ..................................................156
Referências Bibliográficas ....................................... 159
Introdução
O conceito de família ainda é um paradoxo para o nosso 
entendimento e compreensão. A família na antiguidade, idade 
média, e contemporânea, tem seus ditames e suas leis. À pro-
porção que a sociedade foi modificando sua maneira de pensar 
e agir, a lei decorrente de suas ações também foi se adaptando. 
Nos primeiros tempos o casamento foi realizado de forma 
a unir as proles, chegando a determinadas épocas e tribos a ser 
considerado por irmãos, pais e filhas, tios e sobrinhas, primos, 
cunhados, e a mesma suscitou-se nas adoções por casais que 
não geravam filhos, geralmente induzidos ou introduzidos 
por cultos para perpetuar a prole religiosa. Eram consideradas 
famílias, o par formado por um homem e uma mulher ou um 
patriarca e suas mulheres e concubinas, que segundo historia-
dores, foram apenas contratos para manter a paz e desvirtuar 
as guerras, tais como Salomão, um dos patriarcas da bíblia que 
casou-se com mais de 1000 esposas segundo narra a história.
Com o refinar dos tempos às sociedades ficaram mais 
independentes, e alguns países, foram adaptando-se, embora 
na atualidade ainda existam tribos que somente casam-se 
entre si. Com o crescimento das massas, das conquistas, dos 
além-oceanos, pode-se verificar que mães começaram a cuidar 
de seus filhos sozinhas, ou com outros pais não biológicos, e 
a lei precisou aderir-se a essas modificações constantes nas 
sociedades e em pouco tempo, teve e ainda tem muito que se 
adaptar.
 Uma posição que está criandopolêmica na atualidade é 
a adoção por casais homoafetivos, uma realidade da sociedade 
— 33 —— 32 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro
que estamos presenciando. A Igreja novamente vem a público, 
para demonstrar seu interesse em não aceitar que esses casais 
formem famílias envolvendo crianças a sociedade questiona a 
avaliação dos psicólogos jurídicos e possíveis dificuldades no 
desenvolvimento da criança adotada por esses casais e igual 
qual parte da sexualidade deve ser esclarecido à criança. 
Para melhor compreensão do tema, foram utilizados 
métodos dialéticos e hermenêuticos que consistem em aná-
lises e discussões, interpretações de jurisprudência, posições 
doutrinárias, pesquisas de casos fáticos e análises referenciais 
bibliográficas os quais têm por objetivo analisar, expor e mostrar 
comportamentos na sociedade desde sua criação, compreen-
dendo a composição das famílias e adoções até o momento 
atual relacionado às novas famílias e seus filhos, casais homo 
e adoções pelos mesmos e o comportamento da criança dentro 
de um casamento onde ele (a) tem dois pais ou duas mães.
Evolução Histórica 
da Família
Trata-se de questão complexa, de cunho mate-
rial e imaterial, com repercussões físicas, psíquica 
e emocional. A criança tem o direito de ser o que 
se é. O direito de filiação é direito fundamental 
que compreende o direito às raízes genéticas, e a 
de ter convivência familiar. 
Galatéia Fridlund
Todo o conhecimento sobre o ser humano, que viven-
ciamos através dos tempos, nos mostra sua convivência em 
comunidade. 
O Primeiro caso que conhecemos narra à história, de 
um homem e uma mulher: Adão e Eva e seus primeiros filhos 
Caim e Abel. “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela con-
ceberam e tiveram a Caim. E teve mais a seu irmão “Abel”.” 
(ALMEIDA, 1984, p. 12). 
A história nos conta através dos antepassados, que Adão 
e Eva foram o primeiro casal criado por Deus, o qual for-
mou o homem do pó da terra e a mulher de uma costela do 
homem. O senhor da criação os fez a imagem e semelhança 
de si próprio. E através desse casal nasceu a primeira família 
instituída na terra. 
Bruno Canísio cita que, “o escrito mais remoto sobre a 
Família é encontrado na Bíblia, Livro I de Gênesis, referindo a 
— 34 — — 35 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
Criação, quando o criador teria colocado um casal no jardim, 
onde também existiam animais”. (KICH,1999, p.17) 
Após esse momento, a família passa por diversas trans-
formações ao longo da história, tanto no que diz respeito às 
formas de sociabilidade que vigoram dentro desta, bem como 
em sua composição interna, revelando assim seu caráter di-
nâmico enquanto instituição. 
Direito Antigo
O sistema familiar da Babilônia foi citado no Código de 
Hammurabi na antiguidade, passando a ser por lei patriarcal 
e o casamento monogâmico, embora na época admitia-se o 
concubinato. O casamento só era válido através de contrato 
e o código, era a segurança da herança dos filhos nascidos 
dentro desse matrimônio. 
Foi na longínqua Mesopotâmia, que nascera os dois 
primeiros grandes Códigos de Leis do mundo, o Código de 
Hammurabi e Leis de Eshnunna. “Se alguém toma uma mu-
lher, mas não conclui um contrato com ela, esta mulher não é 
esposa”. (CÓDIGO DE HAMMURABI, 2004, p. 14, art.128º). 
O único conhecimento que temos de Direito de Família, 
na antiguidade, como citado anteriormente, iniciou-se em 
Atenas e Grécia. 
Na Grécia, embora não tenhamos registros de Códigos, 
o que se sabe através da história falada e registrada por histo-
riadores após a era do cristianismo, é que o direito regulava 
e disciplinava a vida da família grega e a sociedade como um 
todo, no que tange a costumes, festas, cerimônias religiosas, 
cultos etc. 
O Instituto Família inicia-se com o casamento, seguido 
da sequência natural filiação, adoção; propriedade, doação; 
sucessão, herança, isto quando antes não é interrompida por 
um divórcio. 
O casamento grego fora monogâmico, sendo vedada 
inicialmente a bigamia, porém, mais tarde, em certas ocasiões, 
devido a muitas guerras, poucos homens sobreviveram, sendo 
assim, permitido por lei e por costume que os homens sobre-
viventes adotassem mais uma ou duas mulheres. 
Os primos e meios-irmãos estavam liberados para ca-
sar-se, sendo proibido o matrimônio por lei, entre gregos e 
estrangeiros, e somente permitido entre cidadãos das famílias 
eupátridas de Atenas. 
O professor Ilias Arnaoutoglou em seu livro Leis Antigas 
da Grécia refere-se à passagem de (Demóstenes) LIX (Contra 
Neaira) 16 – fins do século V a.C. 
Se um homem estrangeiro vive maritalmente 
com uma mulher ateniense, de qualquer modo 
ou maneira, ele poderá ser processado e levado 
perante aos Thesmothétai por qualquer ate-
niense que o queira e a isso esteja apto. Se for 
considerado culpado, ele e seu patrimônio serão 
vendidos e um terço do dinheiro será dado ao 
denunciador. A mesma regra se aplica a uma 
mulher estrangeira que viva com um atenien-
se como se fosse sua esposa. E se for provado 
que um ateniense vive maritalmente com uma 
mulher estrangeira ele terá de pagar multa de 
mil dracmas (ARNAOUTOGLOU, 2003, p. 20)
O Direito regulava e disciplinava a vida da família grega 
e a sociedade como um todo no que tange a costumes, festas, 
cerimônias religiosas e seus cultos. As jovens casavam-se entre 
14 e 18 anos, e os homens geralmente mais maduros que as 
esposas, casavam-se com idade aproximada de 30 anos para 
mais. 
No contexto familiar grego, o homem mantinha posição 
superior à mulher, que por sua vez, também era subalterna ao 
filho mais velho. Quando a anfitriã ficava viúva, o Estado lhe 
— 36 — — 37 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
designava um tutor, sendo proibido casamento entre estran-
geiros e cidadão local, em algumas cidades da Grécia. 
O casamento válido ocorria quando: 
Os pais combinavam o casamento de olho no 
dote (pelo menos um décimo dos bens do pai 
da noiva), mas também com a preocupação dos 
status social. Tendo o pai combinado o melhor 
casamento possível, o noivado e assinatura do 
contrato se efetuavam no lar da noiva, na pre-
sença de testemunhas, mas com frequência sem a 
presença da noiva e do noivo. Alguns dias depois 
era dada uma festa na casa dela. Qualquer mês, 
com exceção de maio, podia ser escolhido, mas 
na época de lua crescente era a melhor. [...] O 
pai da noiva servia como sacerdote matrimonial, 
conduzindo a cerimônia [...] O casal de noivos era 
coroado de flores e suas casas enfeitadas. [...]. Ao 
partirem para a lua de mel eram cobertos pelos 
convidados de tâmaras, figos, nozes e pequenas 
moedas de ouro ou prata e confeitos para terem 
prosperidade. Ao saírem da festa sapatos velhos 
eram jogados em sua direção para espantar o 
mau-olhado. […] na carruagem nupcial seguiam 
os noivos e o padrinho. [...] Na chegada à casa 
do noivo se queimava o eixo da carruagem, 
significando a irreversibilidade do casamento. 
Ao chegar a sua casa, o noivo carrega a noiva 
pelo hall de entrada até o leito nupcial. Enquanto 
os convidados ficam do lado de fora, cantando 
hinos pela virilidade do noivo e o melhor e mais 
forte amigo do noivo fica de guarda nupcial na 
porta do quarto. O noivo retira o véu da noiva 
e lhe dá o presente fálico do deus Apolo para a 
virginal noiva de Ártêmis, após isto anuncia que 
tudo está bem e os convidados felizes descem 
as escadas, pois o casamento está cumprindo. 
(MURSTEIN, 1997, p. 74).
O marido tinha o poder de pedir o divórcio em casos 
de adultério, esterilidade, bigamia e quando se desse o luxo 
de ficar cansado da esposa, e a esposa de um grego só tinha 
o direito de pedir o divórcio se o marido fosse estéril ou se 
cometesse bigamia. A família era um ato de suma importância 
para perpetuação do culto. 
Sobre isso relata Fustel de Coulanges :
Se nós nos transportarmos em pensamento 
parao seio dessas antigas gerações de homens, 
encontraremos em cada casa um altar, e ao redor 
desse altar a família reunida. [...] O princípio da 
família não é mais o afeto natural, porque o direito 
grego e o direito romano não dão importância 
alguma a esse sentimento. [...] O pai pode amar 
a filha, mas não pode legar-lhe bens. [...] O que 
une os membros da família antiga é algo mais 
poderoso que o nascimento, que o sentimento, 
que a força física: é a religião do fogo sagrado e 
dos antepassados. Essa religião faz com que a 
família forme um só corpo nesta e na outra vida. 
A família antiga é mais uma associação religiosa 
que uma associação natural. [...] O homem não 
pertencia a si próprio, mas a família. [...] Não 
nascera por acaso; deram-lhe a vida, para que 
continuasse a observar um culto; não devia deixar 
a vida sem estar seguro de que esse culto seria 
continuado depois de sua morte. [...] O filho que 
devia perpetuar a religião doméstica devia ser 
fruto do casamento religioso. O bastardo, filho 
natural, que os gregos chamavam de nóthos, e os 
latinos spurius, não podia desempenhar o papel 
que a religião confiava ao filho. (COULANGES, 
1961, p. 57-73) 
— 38 — — 39 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
A geração de um filho, na época considerava-se um ato 
sagrado e de fruto religioso, para que a família continuasse 
através dele. 
Direito Romano
E após a era de Cristo, inicia- se formalmente com o 
Direito Romano, criando seus próprios Códigos, inspirados 
no Direito Grego, que serviu de base para formação de suas 
leis e diretrizes para conviver em sociedade. 
A professora Raquel de Souza faz uma referência sobre 
o primeiro capítulo do livro de Michael Gagarin, Early Greek 
Law, no qual o autor sugere “três estágios de desenvolvimento 
do Direito em uma sociedade”: 
A Sociedade pré-legal: Uma sociedade sem fundamentos 
para que se estabeleçam os litígios. 
A Sociedade proto-legal: Sociedade, onde existem regras 
e fundamentos bem determinados para apaziguar as disputas, 
porém não existem regras definidas. 
A Sociedade legal: É o estágio mais avançado de uma 
sociedade, igualado a nossa sociedade atual, porém em cres-
cimento. (GAGARIN apud WOLKMER, 2006, p. 54). 
Nota-se que o Estado intervém nas pequenas disputas, 
usando normas e como consequência sanções, onde se verifica 
que na época, já ocorria à iniciação de um Direito positivado 
em andamento. 
Em Roma, na antiguidade, a família patriarcal surgiu 
juridicamente, através de normas severas. Sua organização 
consistia na figura do pai e em seu poder como chefe da co-
munidade, e o pátrio poder tinham caráter unitário exercido 
por ele. Este era uma pessoa sui júris, (do seu direito), ou seja, 
chefiava todo o resto da família que vivia sobre seu comando, 
e os demais membros eram chamados alini júris (de direito 
alheio). 
Ralph Lopes e Helena Goldenzon Bekhor, (1997, p. 50) 
doutrinam que, existiu um cidadão chamado Hermodoro e 
este “era um grego, residente, na época, em Roma e sobre isto 
não há dúvidas; ele contribuiu, traduzindo a legislação de 
Sólon, que há de algum modo ter influído na elaboração da 
Lex- decenviralis. ” 
A família era, simultaneamente, uma unidade 
econômica, religiosa, política e jurisdicional. 
Inicialmente, havia um patrimônio só que per-
tencia à família, embora administrado pelo pater. 
Numa fase mais evoluída do direito romano, 
surgiam patrimônios individuais, como os pe-
cúlios, administrados por pessoas que estavam 
sob a autoridade do pater. (WALD 2004, p. 57). 
A mulher no casamento romano poderia, depois de casada, 
continuar sob a autoridade de seus pais, chamado casamento 
sem manus, ou dada à família do marido devendo obediência 
a este, chamado de casamento com manus. 
No Direito Romano lograva duas espécies de parentescos: 
A agnação consistia na reunião de pessoas que 
estavam sob o poder de um mesmo pater, englo-
bava os filhos biológicos e os filhos adotivos, por 
exemplo. A cognação era o parentesco advindo 
pelo sangue. Assim, a mulher que houvesse se 
casado com manus era cognada com seu irmão 
em relação ao seu vínculo consanguíneo, mas 
não era agnada, pois cada qual devia obediência 
a um pater diferente, ou seja, a mulher ao seu 
marido e o irmão ao seu pai. Com a evolução 
da família romana a mulher passa a ter mais 
autonomia perante a sociedade e o parentesco 
agnatício vai sendo substituído pelo cognatício. 
(MACHADO, 2000, p. 4). 
— 40 — — 41 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
Roma organizou o Direito, e distinguiu-o da religião 
e da moral. E seguindo a linha de outros povos antigos, foi 
consuetudinário e jurisprudencial, buscando suas origens nos 
costumes, e nas decisões de “pontífices”. 
A Lei das XII Tábuas Lex duodecim tabularum datando 
de 462 a.C foi consequência de uma civilização conturbada, 
escrava, e um jurídico de artifícios cruéis com uma sociedade 
desigual, caracterizada por lutas entre patrícios e plebeus, que 
codificou o Direito Romano primitivo, o qual foi somente do 
cidadão romano jus quiritum, e, posteriormente, o Corpus 
Iuris Civilis, de Justiniano. 
O Direito escrito iniciou-se após a rebelião do Monte 
Sagrado. 
No século V, “a Igreja Católica Romana toma o poder, 
e desenvolve o Direito Canônico estruturado num conjunto 
normativo dualista (laico e religioso) que permanecera até o 
século XX”. (CORRÊA, 1999, p. 62). 
Direito Medieval
O Direito, na idade média foi formado pela religião do-
tada de poder e autoridade, a qual se intitulava possuidora da 
palavra de Deus na terra e impunha a sua justiça. 
A família deixa de ser acordo de vontades dos interessados 
em unir bens patrimoniais somente, e volta a ser fundamentada 
no casamento religioso, com base no sacramento. “as relações 
familiares tiveram grande influência do cristianismo, mais 
especificamente da Igreja Católica”. A Igreja Católica passou 
a tratar de alguns temas com o estabelecimento de normas 
denominadas cânones. (GAMA, 2007, p. 18). 
No Direito Canônico, seus adeptos se posicionavam 
totalmente contrários à dissolução do casamento e todo en-
tendimento baseou-se na lei do sacramento no qual, os ho-
mens não podiam dissolver a união realizada por Deus. Foi 
instituída a comunhão de bens, dando a esposa direito sobre 
a parte do patrimônio do marido, embora esse ainda seguisse 
normalmente as normas anteriores, sendo o homem o chefe 
da família, porém menos autoritário e com menos poderes. 
Arnoldo Wald compreende que:
Havia uma divergência básica entre a concepção 
católica do casamento e a concepção medieval. 
Enquanto para a Igreja em princípio, o matri-
mônio depende do simples consenso das partes, 
a sociedade medieval reconhecia no matrimônio 
um ato de repercussão econômica e política para 
o qual devia ser exigido não apenas o consenso 
dos nubentes, mas também o assentimento das 
famílias a que pertenciam. (WALD, 2004, p. 13)
Friedrich Engels, em “A Origem da Família da Propriedade 
Privada e do Estado”, expõe os estudos que Lewis H. Morgan 
fez junto aos índios norte-americanos. [...] (MORGAN, apud, 
WOLKMER, 2006, p. 130). 
Nomeadamente na vitória da propriedade privada 
sobre a originária propriedade Comum natural. 
Dominação do homem na família e procriação 
de filhos que só pudessem ser seus e que estavam 
destinados a tornar-se herdeiros da sua riqueza 
eram os únicos objetivos do casamento singular, 
conforme os gregos exprimiam sem rodeios. 
De resto, o casamento singular era para eles 
um fardo, uma obrigação para com os deuses, 
o Estado e os seus antepassados. (ENGEL apud 
WOLKMER, 2006, p. 132). 
No trabalho de Morgan tem-se uma nova base para o 
estudo da história primitiva, o que permite uma abordagem 
através da concepção materialista da história humana que ele 
divide em três épocas principais: 
— 42 — — 43 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline GracielaKieffer e Cliseldes Kieffer
 (1) selvageria; (2) barbárie; e, (3) civilização, e 
cada uma delas com três estágios: inferior, médio 
e superior. Nesta organização, o desenvolvimento 
ocorre pelas mudanças ocorridas na produção, 
pelo “alargamento das fontes de subsistência” 
De forma esquemática tem-se: 1) na selvageria, 
o casamento de grupo, 2) na barbárie, a família 
acasalada; e 3) na civilização, a monogamia. 
Acontece uma redução progressiva da família, 
chegando à última unidade binária - homem e 
mulher -, num estreitamento cada vez maior, 
chegando à monogamia. (MORGAN, apud 
WOLKMER, 2006 p. 130). 
Nos povos antigos a lei conhecida como estritamente 
religiosa, traz na pré-história uma mulher submissa ao pai ou 
ao marido, não restando a ela discutir as imposições que lhes 
foi dada, mas no entender de Engel com a fusão da família 
monogâmica, o homem perde parte de interesses naturais, 
restando somente às econômicas. 
Direito Moderno
A família moderna se preocupa mais com o sentimento 
e sua valorização, considerando o afeto e o desejo de estar 
junto a outrem, o propulsor da relação familiar, sendo este o 
alicerce da convivência em grupo. A nossa sociedade moder-
na é mais individualista. Essa transição ocorreu nas relações 
temporais entre a igreja e o Estado, quando o homem passa a 
ser concebido como ser moral, independente e autônomo. Esse 
direito surgiu a partir da conquista do direito de liberdade e 
da consciência religiosa. 
A família até então patriarcal e indissolúvel, centrada no 
casamento, é nesse momento substituída pela família moderna, 
que tem como fundamento a igualdade entre os cônjuges e em 
consequência, o mesmo com os filhos. Nasce a dissolução de 
relações conjugais, a proteção integral da criança e do adoles-
cente e a instabilidade do regime de bens. 
A união estável passa a ser aceita juridicamente, e o 
casamento deixa de ser a única forma de constituir família. 
A Promotora de Justiça do Rio Grande do Sul, Janine Borges, 
traduz a Sociedade Moderna como: 
Estamos diante de uma sociedade complexa, cuja 
estética só é possível pela existência do indivíduo, 
e na qual as relações familiares estão mais mutá-
veis e dinâmicas. Essa sociedade, que vive num 
tempo da velocidade assiste a desestruturação do 
indivíduo, pois a responsabilidade que imerge 
numa sociedade impessoal, que coisifica, é um 
fardo muito pesado que ele parece não estar 
preparado para carregar. (SOARES, 2006, p. 140) 
O desenvolvimento da individualidade e do pensamento 
moderno prospera as relações afetivas entre homossexuais e a 
união homoafetiva, que nesse momento, tornam-se transpa-
rentes e aceitas. Elimina-se a hierarquia nesse novo modelo de 
agrupamento dentro da sociedade, predominando a liberdade 
de escolha e a igualdade entre os seus membros. 
Direito Brasileiro
O Brasil foi descoberto e explorado pelo Estado Português 
que ao chegar aqui, tomou posse do solo dos nativos indígenas, 
e se intitulou dono legítimo da terra. 
A formação da família brasileira teve seu alicerce nas 
tradições e códigos da sociedade romana e consequente-
mente, como regra, a supremacia masculina, encontrado nos 
ensinamentos gregos e romanos para dirigir a casa, o que foi 
ensinado de pai para filho. 
Rodrigo da Cunha assevera:
— 44 — — 45 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
A doutrina jurídica reconhece que o direito 
romano forneceu ao Direito brasileiro elementos 
básicos da estruturação da família como uni-
dade jurídica, econômica e religiosa, fundada 
na autoridade de um chefe, tendo essa estrutura 
perdurada até os tempos atuais. (PEREIRA, 
2004, p. 641)
A povoação do Brasil é recente, e nossos antepassados 
que entraram nessas terras para iniciar a exploração e cons-
tituir suas famílias trouxeram na bagagem costumes de seus 
países de origem. 
O Brasil foi descoberto e explorado pela nação 
portuguesa. Os colonizadores, ao chegarem aqui 
e tomarem posse das terras dos nativos indígenas, 
sentiram-se legitimados para, como verdadeiros 
donos desse “novo mundo”, ditar-lhes os rumos 
em todos os sentidos. Pelos portugueses colo-
nizadores, o Brasil nunca foi visto como uma 
verdadeira nação, mas sim como uma empresa 
temporária, uma aventura, em que o enrique-
cimento rápido, o triunfo e o sucesso eram os 
objetivos principais. (WOLKMER, 2006, p. 294). 
No Brasil, no início da colonização, o direito não foi cons-
truído diariamente pelo povo, mas imposto aos colonizadores 
pelos portugueses. Os indígenas, que habitavam a nossa terra 
utilizavam o misticismo para resolver suas questões jurídicas. 
Os colonizadores que aqui chegavam utilizavam os índios como 
objetos de suas próprias vontades e para serviçais trouxeram 
negros como seus escravos. 
[...] povos de origem tribal em diferentes estágios 
culturais, todos eles beirando, porém, o neolítico, 
despossuídos por completo de uma regulamen-
tação realmente jurídica, mas antes dominados 
ainda pelo império da norma indiferenciada de 
cunho sagrado. Era, pois, o direito português que 
deveria construir a base de nosso direito nacional 
sem maiores competições. Também no âmbito 
jurídico temos aqui mais uma ocupação do que 
uma conquista. (WOLKMER, 2006, p. 296). 
A lei de Portugal foi imposta no Brasil Colônia, e três 
grandes ordenações surgiram, sendo a primeira ordenação 
Afonsina e primeira em vigor em 1500/1514 que recebeu o 
nome com data de 1446 por ter sido finalizada no reinado de 
Afonso V, as ordenações Manuelinas 1521, reunião das leis 
extravagantes e as Filipinas em 1603, união das ordenações 
manuelinas com leis extravagantes em vigência, e os desembar-
gadores foram os verdadeiros formadores de opinião jurídicos 
do Brasil dessa época. No Brasil Colônia já existia tráfico de 
influência. Os magistrados chegavam ao nosso solo brasileiro, 
com suas famílias, criados e escravos, com intuito de obter um 
status social elevado. Em regra geral, não eram integrantes da 
nobreza, porém seu principal objetivo consistia a ela se igualar, 
e para isso aceitavam benefícios e bens materiais em trocas de 
favores jurídicos, ou até mesmo laços matrimoniais com as 
filhas de fazendeiros nobres. 
Quando o Brasil foi descoberto e os colonizadores po-
voaram nossa terra, os homens amancebaram-se com as ín-
dias que aqui residiam e conforme os historiadores os índios 
consideravam a poligamia normal. A maioria deles oferecia 
uma mulher como presente de boas-vindas a todo estranho 
que chegasse e convivesse por um tempo em suas tribos. A 
criança gerada desse relacionamento, entre brancos e índios 
era chamada de curibocas, na língua tupi e na linguagem 
brasileira, mamelucos. 
O casamento entre mãe e filho, irmãos, pai e filha, no 
costume indígena eram proibidos, sendo o matrimônio entre os 
indígenas bem simples. Os homens se dirigiam a uma mulher 
e perguntavam sobre sua vontade de casar. Se a resposta fosse 
— 46 — — 47 —
Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
sim, pediam a permissão do pai ou parente mais próximo, e 
obtendo permissão, o casal considerava-se casado, sem nenhuma 
cerimônia e quando cansavam um do outro, bastava procurar 
um novo parceiro, e a relação entre eles estava desfeita. 
Quanto às mulheres africanas que chegavam ao Brasil, 
para trabalhar como empregadas domésticas ou em artesanatos, 
elas conheciam um homem branco e se amasiavam formando 
famílias e suas uniões eram semelhantes as das índias, ou de 
amancebamentos das uniões de homens brancos pobres, os 
quais não propunham casamento oficial, apenas se escolhiam 
e iniciavam a morarem juntos, e a ter filhos. 
Para Gilberto Freyre: 
A família rural foi o mais importante fator 
de colonização. Ela era a unidade produtiva 
que abria espaços na mata, instalava fazendas, 
comprava escravos, bois e instrumentos. Agia de 
forma mais eficiente para o desbravamento da 
terra do que qualquer companhia de comércio. 
(FREYRE,2003 p. 85-86)
Sérgio Buarque de Holanda observou que a família 
prevalecia como centro de todas as organizações. Os escravos, 
juntamente com parentes e empregados, dilatavam o círculo no 
qual o senhor de engenho era o todo-poderoso pater famílias:
No Brasil, onde imperou, desde tempos remotos, 
o tipo primitivo da família patriarcal, o desen-
volvimento da urbanização que não resulta 
unicamente do crescimento das cidades, mas 
também do crescimento dos meios de comuni-
cação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera 
de influência das cidades — ia acarretar um 
desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem 
vivos ainda hoje. (HOLANDA, 1995, p. 145). 
As famílias tradicionais brasileiras garantiam uniões 
entre parentes, independente do lugar, no interior, na capital 
ou no litoral, a forma era a mesma. Havia a obediência dos 
escravos e a influência política de um grupo de famílias sobre 
os demais. Uma família poderosa impunha sua lei e ordem nos 
locais onde dominava sobre as outras famílias. O patriarca 
cuidava dos negócios com absoluta autoridade, impondo sua 
vontade e leis sobre os filhos, escravos, agregados, empregados 
e vizinhança, estendendo sua autoridade nos demais membros 
da família, os afilhados, parentes próximos, além dos filhos 
de criação e seus legítimos. No Brasil colônia verificava-se 
diversos formatos de famílias. 
Outros modelos foram se formando na mesma época, as 
famílias pequenas de pessoas solteiras e dos viúvos, incluindo 
mães que viviam sós, com seus filhos, ou filhos que residiam 
sem seus pais. 
Nas famílias de periferias, ou pessoas mais pobres, 
sem muito dinheiro ou status, ocorrendo muito nas áreas de 
mineração, de passagem ou urbanização acelerada, a maioria 
eram relações concubinárias, ou relações estáveis. 
O Papel da Família na Atualidade 
A família desde sua origem, até o momento, fundamenta-se 
sobre princípios básicos de igualdade, liberdade, solidariedade 
e afetividade, que ao longo do tempo e da história sofreram 
mutações dentro das sociedades devido à evolução política e 
cultural, e hoje muitos são os modelos que a separa do modelo 
ideal da família patriarcal do século XIX. Nasce-se em uma 
família que pode ser a tradicional, aquela formada por pai e 
mãe e filhos e vivem todos na mesma casa, ou lares com pais 
divorciados ou viúvos ou somente com a mãe ou apenas com 
pai, ou duas mães ou dois pais ou outros modelos de famílias, 
que hoje se sobressaem. Os novos padrões de relacionamento 
igualitário entre os membros, a constituição de práticas ba-
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Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro
Conceito de Família 
Família é quem você escolhe para viver
Família é que você escolhe para você
Não precisa ter conta sanguínea
É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia
Rappa. 
A origem etimológica da palavra, conforme o autor Plácido 
de Silva (1999, p. 347) Família é “derivada do latim, Família, 
de famel (escravo, doméstico), é geralmente tido em sentido 
restrito, como a sociedade conjugal. ” (SILVA, 1999, p. 347). 
O conceito de família sob o olhar de Maria Helena:
É o complexo de normas que regulam a celebração 
do casamento, sua validade e os efeitos que dele 
resultam, as relações pessoais e econômicas da 
sociedade conjugal, a dissolução desta, a união 
estável, as relações entre pais e filhos, o vínculo 
de parentesco e os institutos complementares da 
tutela e curatela. (DINIZ, 2009, p. 7)
A visão de Carlos Roberto sobre o conceito de família não 
se subordina somente a família tradicional, onde o casamento 
é no civil religioso, patriarcal de um homem e uma mulher e 
seus herdeiros, filhos biológicos ou adotivos, mas estende-se 
aquela constituída pela união estável. 
[...] Família é uma realidade sociológica e cons-
titui a base do Estado, o núcleo fundamental 
em que repousa toda a organização social. Em 
seadas em princípio do respeito mútuo assim como as uniões 
homoafetivas e muitos outros motivos determinam as relações 
familiares surgidas. A sociedade da atualidade traça um valor 
diferenciado para a própria convivência social pelo afeto sem 
receita pronta de sucesso e sem modelo específico para seguir, 
porém tem o papel principal de contribuir para a formação 
do caráter que influenciará a personalidade do adulto, sendo 
uma referencia positiva. 
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Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
qualquer aspecto em que é considerada, aparece 
a família como uma instituição necessária e 
sagrada, que vai merecer a mais ampla proteção 
do Estado [...] Lato sensu, o vocábulo família 
abrange todas as pessoas ligadas por vinculo 
de sangue e que procedem, portanto, de um 
tronco ancestral comum, bem como as unidades 
pela afinidade e pela adoção. Compreendem os 
cônjuges e companheiros, os parentes e os afins. 
(GONÇALVES, 2008, p. 1)
Clóvis Beviláqua (2001, p. 30) vai mais além, compreen-
dendo em um sentido dentro do Direito Moderno que, “a 
família é o conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo da con-
sanguinidade, ou somente cônjuges e a respectiva progênie”. 
Caio Mário Pereira (2007, p. 19) traduz a família em sen-
tido genérico e biológico como sendo “o conjunto de pessoas 
que descendem de tronco ancestral comum; em senso estrito, a 
família se restringe ao grupo formado pelos pais e filhos; e em 
sentido universal é considerada a célula social por excelência”. 
No que se refere à família Silvio num conceito mais 
amplo, entende família como:
a formação por todas aquelas pessoas ligadas 
por vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas 
pessoas provindas de um tronco ancestral co-
mum, o que inclui, dentro da órbita da família, 
todos os parentes consanguíneos. Num sentido 
mais estrito, constitui a família o conjunto de 
pessoas compreendido pelos pais e sua prole. 
(RODRIGUES, 2004, p. 4) 
Paulo Nader (2006, p. 3) tem na família “uma instituição 
social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam 
no propósito de se desenvolver, entre si, e descendem uma da 
outra ou de um tronco comum”. 
O mestre Cezar Fiúza considera a família de modo lato 
sensu, como sendo:
Uma reunião de pessoas descendentes de um 
tronco ancestral comum, incluídas aí também 
as pessoas ligadas pelo casamento ou pela união 
estável, juntamente com seus parentes sucessíveis, 
ainda que não descendentes”, como também 
define em modo stricto sensu dizendo que: 
“família é uma reunião de pai, mãe e filhos, ou 
apenas um dos pais com seus filhos. (FIÚZA, 
2008, p. 939)
A moradia, onde convive a família, com tantas ideias 
diferentes tem a proteção do Estado, por dever ser um local de 
harmonia, afetos, proteção e resolução de conflitos entre seus 
membros. Deve haver uma relação de confiança, conforto, bem 
estar e segurança entre todos os que residem no mesmo local. 
Alguns autores inicialmente não reconheciam os filhos fora do 
casamento, uma realidade que o Direito Moderno modificou 
através Código Civil de 2002. 
Clóvis Beviláqua, na época entendia a família como 
um todo, não admitindo filhos fora do casamento e nem o 
divórcio, pois segundo sua doutrina, instauraria um regime 
de poligamia sucessiva no seio da família. Os vínculos fami-
liares enfraqueceriam incrementando paixões animais. A 
moral deixaria de existir e ficaria à mercê de desregramentos 
de condutas. Ainda segundo esse autor:
O casamento é um contrato bilateral e solene, 
pelo qual um homem e uma mulher se unem 
indissoluvelmente, legalizando por ele suas 
relações sexuais, estabelecendo a mais estreita 
comunhão de vida e de interesses, e comprome-
tendo-se a criar e educar a prole, que de ambos 
nascer. (BEVILÁQUA, 2001, p. 46)
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Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
Devido à fragilidade de sua base, passou a ter proteção 
do Estado, como um Direito Subjetivo Público e oponível à 
sociedade e ao próprio Estado. 
A família segundo a psicologia, está dirigida por um 
pequenogrupo social que influencia e é influenciada por ins-
tituições ou outras pessoas. Os membros das famílias costu-
mam compartilhar os mesmos sobrenomes herdados de seus 
ascendentes diretos, e são unidos por diversos laços os quais 
são capazes de manter o grupo moralmente e materialmente 
durante gerações. A família organiza seus membros como 
um sistema, que sobrevive através de padrões, e os indivíduos 
podem ser formados pela geração, sexo, interesses comuns, 
ou funções deliberadas por diferentes níveis de poder, onde o 
comportamento de um membro, afeta e influencia os outros 
membros da mesma comunidade familiar. Pode-se definir 
família como um conjunto invisível de exigências “A família 
como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de de-
senvolvimento, diferindo em nível dos parâmetros culturais, 
mas possuindo as mesmas raízes universais” (MINUCHIN, 
1990, p. 25-69). 
Entidades Familiares
Entende-se como entidade familiar toda e qualquer 
espécie de união relacionada a emoções de dois ou mais seres 
humanos. 
A entidade familiar está prevista no art. 226 da Carta 
Magna de 1988, in verbis:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem es-
pecial proteção do Estado. (...). § 3º. Para efeito 
da proteção do Estado, é reconhecida a união 
estável entre o homem e a mulher como entidade 
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão 
em casamento. § 4º. Entende-se, também, como 
entidade familiar a comunidade formada por 
qualquer dos pais e seus descendentes. 
As opções de família que atuam na nossa atual sociedade 
assumem sentimentos diversos, mantendo desde relações mo-
noparentais até relações entre homossexuais. A jurisprudência 
tem entendido, e reconhecido novas formas de relações nas 
sociedades atuais e trazendo à baila novas estruturas familiares. 
Alguns autores classificam as famílias em espécies: 
Família Matrimonial, Família Paralela, o Concubinato, a 
União Estável, Família Monoparental, a Família Anaparental, 
a Família Pluriparental, a Família Eudemonista, a Família de 
União Homoafetiva, e a Família Unipessoal. 
Família Matrimonial: Surgiu em 1563, no Concílio de 
Trento, e até 1988 era a única forma familiar reconhecida ju-
ridicamente no País “Decorre do casamento como ato formal, 
litúrgico’’. (KUMPEL, Vitor Frederico. Palestra ministrada em 
21/01/2008 no Curso do professor Damásio de Jesus). 
Família Paralela é aquela que afronta a monogamia, rea-
lizada por aquele que possui vínculo matrimonial ou de união 
estável. O art.1.521 do CC/2002 refere que não podem casar as 
pessoas já casadas por lei e não separadas judicialmente. São 
chamadas paralelas para diferenciar do concubinato, em que 
existe apenas uma família. Na paralela, um dos integrantes 
participa como cônjuge de mais de uma família. 
Maria Berenice destaca que a união paralela é um rela-
cionamento de afeto que é repudiado pela sociedade. 
Os relacionamentos paralelos, além de receberem 
denominações pejorativas, são condenados à 
invisibilidade. Simplesmente a tendência é não 
é reconhecer sequer sua existência. Somente na 
hipótese de a mulher alegar desconhecimento 
da duplicidade das vidas do varão é que tais 
vínculos são alocados no direito obrigacional e 
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Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
lá tratados como sociedades de fato. (...) Uniões 
que persistem por toda uma existência, muitas 
vezes com extensa prole e reconhecimento social, 
são simplesmente expulsas da tutela jurídica. (...) 
Negar a existência de famílias paralelas – quer 
um casamento e uma união estável, quer duas 
ou mais uniões estáveis – é simplesmente não 
ver a realidade. (DIAS, 2007, p. 48)
Concubinato, conforme explica o Código Civil de 2002 
são: As relações não eventuais existentes entre homem e mu-
lher impedidos de casar, vinculado no artigo 1.727 do CC, in 
verbis: As relações não eventuais entre o homem e a mulher, 
impedidos de casar, constituem concubinato. 
E os que estão impedidos de casar, forte no artigo 1.521 
do Código Civil, in verbis: 
Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes 
com os descendentes seja o parentesco natural ou 
civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante 
com quem foi cônjuge do adotado e o adotado 
com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, 
unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até 
o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o 
filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII 
- o cônjuge sobrevivente com o condenado por 
homicídio ou tentativa de homicídio contra o 
seu consorte. 
O concubinato não vem protegido pelo projeto do Esta-
tuto das Famílias e o Código Civil o repudia, refletindo-o no 
artigo 1.642, inciso V, in vebis: 
Art.1.642. Qualquer que seja o regime de bens, 
tanto o marido quanto a mulher podem livre-
mente; V. reivindicar os bens comuns, móveis 
ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro 
cônjuge ao concubino, desde que provado que os 
bens não foram adquiridos pelo esforço comum 
destes, se o casal estiver separado de fato por 
mais de cinco anos. 
União Estável segundo o autor Álvaro Villaça de Azeve-
do: “A convivência não adulterina nem incestuosa, duradora, 
pública, e contínua de um homem e de uma mulher, sem vín-
culo matrimonial, convivendo como se casados fossem, sob o 
mesmo teto ou não, constituindo, assim, sua família de fato”. 
(AZEVEDO, 2000, artigo publicado na Revista Advogado n. 58). 
Família Monoparental: “É a relação protegida pelo vínculo 
de parentesco de ascendência e descendência”. “É a família 
constituída por um dos pais e seus descendentes’’. Dispõe o 
art.226, § 4º, in verbis: “Entende-se, também, como entidade 
familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 
descendentes”. 
Família Anaparental: “É a relação que possui vínculo de 
parentesco, mas não possui vínculo de ascendência e descen-
dência’’. (KÜMPEL, Vitor Frederico. Palestra ministrada em 
21/01/2008 no Curso do professor Damásio de Jesus). 
Essa espécie de família é disciplinada no artigo 69, caput, 
do Projeto do Estatuto das Famílias, in verbis: “As famílias 
parentais se constituem entre pessoas com relação de paren-
tesco entre si e decorrem da comunhão de vida instituída com 
a finalidade de convivência familiar”. 
Sobre a Família Anaparental esclarece Maria Berenice 
Dias, (2010, p. 48) “A convivência entre parentes ou entre 
pessoas, ainda que não parentes, dentro de uma estrutura-
ção com identidade de propósito, impõe o reconhecimento 
da existência de entidade familiar batizada com o nome de 
Família Anaparental”. 
Família Mosaica ou Pluriparental: “É a entidade familiar 
que surge com o desfazimento de anterior vínculo familiar 
e criação de novos vínculos”. (KÜMPEL, Vitor Frederico. 
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Palestra ministrada em 21/01/2008 no Curso do professor 
Damásio de Jesus). 
Leciona Maria Berenice Dias (2011 p. 49) que a Família 
Pluriparental “resulta de um mosaico de relações anteriores”. 
Família Eudemonista: (DIAS, 2011, p. 54). “É aquela que 
unida por laços afetivos busca a felicidade individual de cada 
membro da mesma”. 
Família Unipessoal: É a composta por apenas uma pes-
soa mais os seus vínculos. O STJ lhe conferiu à proteção do 
bem de família, como estabelecida na Súmula 364: O conceito 
de impenhorabilidade de bem de família abrange também o 
imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. 
(03/11/2008). 
Euclides de Oliveira destaca que a proteção dada pela 
referida súmula se dá em resguardo ao direito constitucional 
de moradia. 
Família homoafetiva, foi reconhecida na Lei Maria da 
Penha (Lei federal n. 11. 340/2006- Lei da violência doméstica) 
no art. 5º in verbis:
Para efeito desta Lei, configura violência domés-
tica e familiar contra a mulher qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, 
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico 
e dano moral ou patrimonial:I – no âmbito da 
unidade doméstica, compreendida como o espaço 
de convívio permanente de pessoas, com ou sem 
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente 
agregadas; II– no âmbito da família, compreendi-
da como a comunidade formada por indivíduos 
que são ou se consideram aparentados, unidos 
por laços naturais, por afinidade ou por vonta-
de expressa; III – em qualquer relação íntima 
de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha 
convivido com a ofendida, independentemente 
de coabitação. Parágrafo “único: As relações 
pessoais enunciadas neste artigo independem 
de orientação sexual”. 
União homoafetiva, é “aquela decorrente da união de 
pessoas do mesmo sexo, as quais se unem para constituição 
de um vínculo familiar”. (KÜMPEL, Palestra ministrada em 
21/01/2008 no Curso do professor Damásio de Jesus). 
Venosa (2008, p. 408/409) “refuta a possibilidade de 
reconhecimento da família homoafetiva como entidade fa-
miliar, sendo apenas possível o reconhecimento de reflexos 
patrimoniais’’. 
Doutrina Maria Berenice Dias, (2011, p. 47) que “A ne-
nhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto pode-se 
deixar de conferir status de família, merecedora da proteção 
do Estado’’. 
Já Maria Helena Diniz (2007, p. 9) discorre sobre família 
no sentido amplo como “todos os indivíduos que estiverem 
ligados pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade, 
chegando a incluir estranhos”. 
Em recente decisão, o STJ reconheceu como entidade 
familiar a união homoafetiva (REsp. 820. 475). 
Portanto, a lei penal também reconhece a proteção da 
Lei Maria da Penha às uniões homoafetivas femininas. 
Ao legislador não compete fazer juízo valorativo a essas 
uniões, conforme o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Sua função é somente disciplinar essas relações jurídicas de 
afetos e as consequências que essas deslancham no mundo 
jurídico. 
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A Família no Código Civil de 1916, 
Constituição Federal de 1988 e 
a Criação do Novo Código Civil de 2002. 
No Código Civil de 1916, a família era comandada pelo 
marido, e nota-se claramente, a superioridade do homem e sua 
autoridade sobre sua esposa e filhos, e a “família era constituída 
tão somente pelo casamento”. (GONÇALVES, 2007 p. 16), não 
definindo um conceito de família, embora tenha definido a 
sua legitimidade conforme art.229 do Código Civil de 1916, 
in verbis: “Criando a família legítima, o casamento legitima 
os filhos comuns, antes dele nascidos ou concebidos”. 
Devido à fragilidade de sua base, passou a ter proteção 
do Estado, como um direito subjetivo público e oponível à 
Sociedade e ao próprio Estado. 
Os alinhamentos para o Direito da Família no Código 
Civil de 1916 encontram-se nos artigos 180 a 484, sem codi-
ficar um conceito claro para tal. No mesmo dispõe a ideia de 
que a família era constituída somente pelo casamento, sob a 
versão colegiada do ilustríssimo doutrinador Carlos Roberto 
Gonçalves. 
O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, 
vigentes no século passado, regulavam a famí-
lia constituída unicamente pelo casamento, de 
modelo patriarcal e hierarquizada, ao passo 
que o moderno enfoque pelo qual é identificada 
tem indicado novos elementos que compõem as 
relações familiares, destacando-se os vínculos 
afetivos que norteiam a sua formação. (GON-
ÇALVES, 2008, p. 16)
O casamento sendo legítimo perante a lei presumia a 
virgindade da noiva, podendo ser desfeito e a mesma devolvida 
se o marido a negasse, após o defloramento no ato carnal, se 
esse ocasionasse algo insuportável para a vida em comum do 
enganado. 
O Art.219 do Código Civil de 1916 (Revogado pela Lei 
n. º 6. 515, de 1977) dispõe, in verbis:
Art.219. Considera-se erro essencial sobre a 
pessoa do cônjuge: I. O que diz respeito à iden-
tidade do outro cônjuge, sua honra e boa fama, 
sendo esse erro tal, que o seu conhecimento 
ulterior torne insuportável a vida em comum 
ao cônjuge enganado; IV. O defloramento da 
mulher, ignorado pelo marido (revogado pela 
Lei n. º 6. 515, de 1977). 
A esposa era equiparada aos pródigos, índia e aos menores 
entre 18 e 21 anos, sendo quase que uma incapaz. 
O Art.317. do Código Civil de 1916 (Revogado pela Lei 
n. º 6. 515, de 1977) dispõe, in verbis:
Art.317. A ação de desquite só se pode fundar 
em algum dos seguintes motivos: I. Adultério; 
II. Tentativa de morte; III. Sevicia, ou injuria 
grave. IV. Abandono voluntário do lar conjugal, 
durante dois anos contínuos. 
Silvio Venosa via no casamento a única forma de família 
e aponta ser “família um fenômeno histórico, pré-existente 
ao casamento, constituindo-se um fato natural”. (VENOSA, 
2008, p. 36). 
Com o transcorrer dos anos, novas espécies de família 
foram sendo reconhecidas pelo legislador. Anterior a Carta 
Magna de 1988, o conceito jurídico de família era extrema-
mente limitado. 
A Constituição Federal de 1988, ao lado do casamento, 
trouxe o reconhecimento da União Estável e Família Monopa-
rental. “A família, base da sociedade tem especial proteção do 
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Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer
Estado”, conforme art. 226, caput, da Constituição Federal e 
não só compreende o conjunto de pessoas unidas pelo vínculo 
do matrimônio e da filiação, pois é considerada como família, 
pelo artigo 226, § 4º da Constituição Federal, “entende-se, 
também, como entidade familiar a comunidade formada por 
qualquer dos pais e seus descendentes”, passa não só a reco-
nhecer a existência das famílias monoparentais ou unilinear. 
Artigo 226 da Constituição Federal de 1988, in verbis: 
Art. 226. A família, base da sociedade tem es-
pecial proteção do Estado. § 1º - O casamento é 
civil e gratuita a celebração; § 2º - O casamento 
religioso tem efeito civil, nos termos da lei; § 3º 
- Para efeito da proteção do Estado, é reconhe-
cida a união estável entre o homem e a mulher 
como entidade familiar, devendo a lei facilitar 
sua conversão em casamento. (Regulamento); § 
4º - Entende-se, também, como entidade familiar 
a comunidade formada por qualquer dos pais e 
seus descendentes; § 5º - Os direitos e deveres 
referentes à sociedade conjugal são exercidos 
igualmente pelo homem e pela mulher; § 6º - O 
casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, 
após prévia separação judicial por mais de um 
ano nos casos expressos em lei, ou comprovada 
separação de fato por mais de dois anos; § 6º O 
casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. 
(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 
66, de 2010); § 7º - Fundado nos princípios da 
dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável, o planejamento familiar é livre 
decisão do casal, competindo ao Estado propi-
ciar recursos educacionais e científicos para o 
exercício desse direito, vedada qualquer forma 
coercitiva por parte de instituições oficiais ou 
privadas. Regulamento; § 8º - O Estado assegu-
rará a assistência à família na pessoa de cada um 
dos que a integram, criando mecanismos para 
coibir a violência no âmbito de suas relações. 
Após o Código Civil de 1916, ocorre uma gradual evo-
lução nos costumes, determinando o fim da estabilidade do 
casamento, e marca o início do poder familiar da mulher. A 
Carta Magna de 1988 traz inovação no Direito de Família no 
Brasil, e marca o chamado histórico temporal, que tem início 
a essa nova visão do casamento e das famílias. 
O legislador introduziu o conceito de União Estável, 
entre homem e mulher como forma de reduzir as distinções, 
preconceitos e desigualdades que existiam no Direito de Fa-
mília Brasileiro. Anteriormente o desquite era de cinco anos 
e através do divórcio direto, foi reduzido para dois anos, im-
pedindo assim qualquer discriminação na origem dos filhos. 
A Carta Magna de 1988, no artigo 227, § 6º, concedeu os 
mesmos direitos e qualificações aos filhos havidos ou não do 
matrimônio ou por adoção e também proibiu qualquer tipo

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