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Uma Nova Forma de Ser Família: Adoção de Crianças e Adolescentes por Casais Homoafetivos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer Cliseldes Kieffer (Coautora) Uma Nova Forma de Ser Família: Adoção de Crianças e Adolescentes por Casais Homoafetivos no Direito Brasileiro Realizando Sonhos. Enriquecendo Vidas. São Paulo | Rio de Janeiro 2015 Copyright © 2015 por Aline Graciela Kieffer & Cliseldes Kieffer Uma Nova Forma de Ser Família – Adoção de Crianças e Adolescentes por Casais Homoafetivos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer & Cliseldes Kieffer 1a Edição 1a tiragem – mês e ano – 1.000 Coordenação Editorial: Jefferson Borges Diagramação: Equipe Livre Expressão Capa: Equipe Livre Expressão ISBN – 978-85-7984-XXX-X CIP – (Cataloguing-in-Publication) – Brasil – Catalogação na Publicação Ficha Catalográfica feita na editora ___________________________________________________ XXXX, Aline Graciela Kieffer Uma Nova Forma de Ser Família / Adoção de Crianças e adolecentes por Casais Homoafetivos no Direito Brasileiro / Aline Graciela Kieffer. 1 ed. São Paulo : Rio de Janeiro : Livre Expressão, 2015. XXXX p. ; 21 cm (broch.) ; ISBN 978-85-7984-XXX-X CDD B869.35 CDU 82-31 ___________________________________________________ Índice para catálogo sistemático 1. Genero. 2. Genero. I. Título Fale Conosco: • Belo Horizonte-MG: (31) 4063-6095• Brasília-DF: (61) 4063-7701 • Porto Alegre-RS: (51) 4063-8804• São Paulo-SP: (11) 3522-5507 • Curitiba-PR: (41) 4063-9903• Joinville-SC: (47) 4063-9415 • Rio de Janeiro-RJ: (21) 3474-4415• Vitória: (27) 4062-9177 E-mail: sac@livreexpressao.com.br • www.livreexpressao.com.br São Paulo – Av. Paulista, 509 sala 1412, Jardim Paulista – São Paulo-SP – CEP 01311-910 Rio de Janeiro – Rua Evaristo da Veiga, 16 sala 608 e, prédio anexo, sala 5 – Centro Rio de Janeiro – RJ – CEP 20031-040 A todas as crianças e adolescentes em estado de abandono que sonham com uma vida, com um lar, com uma família onde os laços afetivos e o amor possam superar quaisquer preconceitos. — 7 — Agradecimentos Agradeço a DEUS, pois é ele que sempre me acompanhou dando-me a sabedoria necessária, renovando as minhas forças nas longas noites que eu amanhecia revendo os conteúdos, e orientando-me para que através da história possamos entender as sociedades e dar uma resposta para os dias atuais. Agradeço a minha mãe, Cliseldes, especial colaboradora e co-autora dessa conquista, um anjo da guarda que Deus colocou aqui na terra para guiar-me nessa jornada. Mãe, obri- gada por tudo, principalmente por adiar teus sonhos para eu concretizar os meus. Meu agradecimento em especial a Drª Galatéia Fridlund, Promotora de Justiça do Estado do Paraná, a qual foi o ápice para que eu me encantasse com o Direito de Família relacionado aos direitos da criança. Gratidão ao Promotor de Justiça Dr. Olympio de Sá Sotto Maior Neto que acreditou no meu sonho dando-me a primeira oportunidade no Ministério Público e pelos ensinamentos que levarei para toda vida. Meu carinho infinito aos dois pais, pela coragem de lutar pela primeira adoção legalmente reconhecida no Brasil, contendo o nome de dois pais, Vasco Gama e Junior de Car- valho, sua história e o processo, permitindo uma análise mais profunda sobre adoções por homoafetivos. Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para essa vitória, meu muito obrigada! Aline Graciela Kieffer — 11 — Dedicatória Dedico esse livro a memória da minha querida filha Aline Graciela. A menina que me ensinou a não ter necessidades, apenas a criar oportunidades. Trouxe vida, amor e enxugou minhas lágrimas. Ajudou-me a corrigir erros e não lembrar meus tombos, ensinando-me a dizer não na hora certa. Esteve e sempre estará comigo nas minhas conquistas. Foi meu maior encontro com o universo, meu mais belo e profundo laço de amor com Deus. E, quando meu corpo for pó e chuva e meu espírito vagar no universo, se você me chamar filha, e eu ouvir o sussurro da tua voz tornarei a nascer, para que vi- vamos novamente em família, porque viver é muito mais do que simplesmente existir. É poder viver a vida no vai e vem de outras vidas. A ti menina incrível, linda e maravilhosa eis nossa declaração incondicional de amor. Aqui tem uma pouco da tua dedicação, empenho e crença para um mundo melhor. E nossa eterna saudade. Tua mãe Cliseldes Kieffer, Stella Maris, Tabata Mardiana e Família Kieffer. Regina Castilho e Marcos Ramos, colegas e corpo docente das Faculdades Santa Cruz –FARESC, Pós Graduação Damásio- Curitiba/PR e amigos que te acompa- nharam no pouco tempo que esteve entre nós. “Se o casulo não se romper, não haverá cri- sálida que se transforma em borboleta, como expressão irradiante e bela da vida”. Leonardo Boff — 15 — Aline uma estrela Ao tempo em que elaborava o prefácio da presente obra, diante do precoce e pranteado passamento da autora Aline Graciela Kieffer, veio-me à mente –e ao coração -Jorge Amado, em Capitães de Areia, narrando que Dora, a personagem mais amada entre as meninas e os meninos da rua de Salvador, não havia morrido mas, isso sim, transformado - se numa estrela. Aline certamente transformou-se numa estrela. Mais do que as dificuldades que enfrentou para cursar a Faculdade de Direito, sua trajetória de acadêmica e estagiária do Ministério Publico do Estado do Paraná aproximou-nos exatamente pelo desejo comum de querer ver instalada no Brasil, o quanto antes, uma sociedade progressivamente me- lhor e mais justa. Conversávamos especialmente sobre a proposta de que estruturas da justiça viessem servir ao fim de concretizar as promessas de cidadania já contempladas no nosso ornamento jurídico, notadamente na nossa Constituição Federal, não por acaso denominada de “Constituição Cidadã”. Falávamos de isonomia material, superação das desigual- dades sociais e erradicação da pobreza, mas também tratávamos de eliminação de todo tipo de preconceito e discriminação. Concluíamos juntos que o objetivo fundamental da República Federativa, do Brasil consistente em construir uma sociedade livre, justa e solidária, somente poderia ser alcan- çado quando cumprido por todos, especialmente pelo poder público, o comando constitucional da prioridade absoluta em — 16 — — 17 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer favor da criança e adolescente no que tange a efetivação dos seus direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, bem como os colocando a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (art.227, da CF). Desse conjunto de preocupações com a democracia, a justiça social e a população infanto-juvenil é que adveio a escolha de Aline, juntamente com Cliseldes, do tema “Uma nova forma de ser família: adoção por casais homoafetivos no Direito Brasileiro”. A família como espaço prevalente de afeto e o direito à felicidade na convivência familiar são os fundamentos para a melhor - e mais justa - solução jurídica aos casos de adoção de crianças e adolescentes por casais do mesmo sexo ou ho- moafetivos. Fizeram então as autoras por iniciar o livro apresentando a evolução histórica do instituto da família, desde os primórdios da humanidade, passando pela Grécia e Roma antiga, a idade Média até os tempos modernos. Ficou enunciada a família enquanto associação religiosa destinada ao culto do fogo sagrado e dos antepassados. Foram trazidos registros sobre a etapa em que se tornou prevalente o objetivo da procriação e suas consequências econômicas. Culminaram as autoras por considerar a família e o respectivo regramento jurídico. Reconhecendo como determinante o sentimento de afeto, afirmaram acertadamente as autoras que a família, até então patriarcal e centrada no casamento indissolúvel,passa a ser substituída por outra, que apresenta como fundamento a igualdade entre os cônjuges e respeito mútuo, incluindo –se aí os filhos. Observam que a “ união estável passa a ser aceita juridi- camente e o casamento deixa de ser a única forma de constituir família”, além de que “as relações afetivas entre homossexuais e a união homoafetiva, nesse momento,tornam-se transparentes e aceitas, podendo-se dizer que na família moderna predomi- na a liberdade de escolha e a igualdade entre seus membros, eliminada a hierarquia”. No que diz respeito ao Direito Brasileiro, a partir da estrutura advinda do próprio direito romano e considerada a forma da colonização portuguesa, destacou-se a família enquanto centro de todas as organizações. Tratando da família na atualidade, consideram as auto- ras as bases oriundas dos princípios da igualdade, liberdade, solidariedade e afetividade, anotando que os “novos padrões de relacionamento igualitário entre os membros, a consti- tuição de práticas baseadas no respeito mútuo, assim como as uniões estáveis e homoafetivas, são determinantes para explicar as relações familiares surgidas”, com a conclusão de que “ a sociedade na atualidade traça para as famílias um valor diferenciado pelo afeto, sem receita pronta de sucesso e sem modelo específico para seguir, porém tendo o papel principal de contribuir para a formação do caráter que influenciará a personalidade e o comportamento de todos os seus membros, sendo uma referência positiva e fundamental para a própria convivência social”. Discorrem as autoras sobre o conceito de família (con- siderando-a sociologicamente como a base da sociedade e reafirmando sua importância por constituir a “célula social por excelência”) e entidade familiar (aqui trazendo a classifi- cação das famílias a partir da denominação de matrimonial, monoparental, anaparental, plureparental, eudemonista, ho- moafetiva, unipessoal, paralela, concubinato e união estável). Citando Maria Berenice Dias, a afirmação de que “a ne- nhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto pode-se — 18 — — 19 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer deixar de conferir status de família, merecedora da proteção do Estado”, bem como de que o Superior tribunal de Justiça, em recente decisão, reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar (REsp. 820.475) Fez-se a análise da família no Código Civil de 1916, na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil de 2002, destacando-se que, ao lado da família matrimonial, o regra- mento constitucional acabou por reconhecer a união estável como entidade familiar, assim como a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (art.226, da CF) Na sequência, as autoras trazem à colação os princí- pios constitucionais da família, partindo do “princípio da dignidade da pessoa humana” (como “pressuposto da ideia de justiça humana”), passando pelo “ princípio da liberdade de constituir uma comunhão de vida familiar” (como opção no sentido da afetividade, aqui contemplada não só a relação conjugal, mas também a união estável hetero ou homossexual), analisando o “princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e companheiros”, expressamente previsto no art. 226, § 5°, da CF (“Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher “), também o “princípio da pluralidade familiar” (que comparece provo- cando ruptura com o modelo único advindo do matrimônio) e, finalmente, o “princípio da afetividade” (enquanto comando orientador e determinante para a constituição de qualquer entidade familiar). A partir dessa etapa as autoras se dedicam a analisar o instituto da adoção. Apresentam então sua evolução histórica em vários países, com indicação diferenciada da legislação francesa, cujo Código Civil, em mudança de paradigma, culmina por estabelecer que na realização da adoção deva prevalecer o melhor interesse de quem é adotado e não mais dos adotantes. Quanto à adoção no Brasil, as autoras apresentam de- senvolvimento da respectiva legislação, valendo o destaque à Constituição Federal de 1988 ao estabelecer a igualdade de direitos e qualificações entre os filhos (assim: “Os filhos, ha- vidos ou não do casamento,ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações dis- criminatórias relativas à filiação “ - art.227, § 6º), bem como a indispensável apreciação judicial para o deferimento da adoção (art.227, § 5º), além de incluir expressamente dentre os direitos fundamentais da infância e juventude o da convivência familiar (art.227, caput, da CF). Considerando o novo regramento jurídico instituído pelo estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n º 8.069/90), as autoras comentam a regra, de fundamental importância,- que traduz o direito de toda criança e adolescente ser criado e educado no seio da família de origem ou família substituta. Quanto ao Código Civil de 2002, e a nova Lei de Adoção (Lei nº 12.010/09),o registro da prevalência do entendimento de que a intervenção estatal “ será prioritariamente voltada à orientação,apoio e promoção social da família natural, junto à qual a criança e o adolescente devem permanecer, ressalvada absoluta impossibilidade, demostrada por decisão judicial fun- damentada “sendo que, na impossibilidade da permanência, deve-se dar a colocação em família substituta, com preferência à modalidade de adoção (art.1 º, §§ 1º e 2 º, da Lei nº 12.010/09). No capítulo seguinte, as autoras apresentam retrospetiva histórica acerca da homossexualidade, trazendo a conclusão de que a união entre pessoas do mesmo sexo, assim como as suas relações afetivas e sexuais, sempre existiram, em alguns momentos totalmente aceitas, em outros toleradas e, não raras vezes, objeto de repúdio social. Todavia, firmam posição no sentido de que “a homosse- xualidade não é uma doença, nem uma aberração, tanto que ela foi retirada do rol das doenças pelo Conselho Federal de — 20 — — 21 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer Medicina em 1985 e a Classificação Internacional de Doenças (CID) não inclui a homossexualidade como doença desde 1993. Por outro lado, o Conselho Federal de Psicologia, em 1999, estabeleceu vedação aos profissionais psicológos de exercer “ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas” Enfim, registram a afirmação de Philipe Áries no sen- tido de que “os homossexuais formam atualmente um grupo coerente,ainda marginal, mas que tomou consciência de sua própria identidade, um grupo que reivindica seus direitos contra uma sociedade dominante que ainda não os aceita”. Ao tratarem então sobre a adoção por homossexuais, as autoras trazem à tona o entendimento de Nogueira na linha de que “a paternidade adotiva é a mais pura expressão de veracidade, é o amor por excelência, é a filiação querida e vivida”, para aduzir, nas palavras de Vera Lúcia Sapko, que “dificultar, burocratizar ou impedir a adoção por homossexuais, na verdade é negar às crianças abandonadas pelos pais, ou que foram retiradas deles em razão de violência, o direito de serem colocadas em famílias substitutas, onde poderiam ter o carinho e o cuidado que necessitam”. Apresentam o “princípio do melhor interesse da criança e do adolescente”, bem como o direito à convivência familiar, enquanto informadores do instituto da adoção. Narram caso concreto de adoção por casal homoafetivo e apontam as preocupações quanto a esse tipo de colocação em família substituta, relacionadas, de um lado, à ausência do modelo masculino ou feminino e, de outro, citando Maria Berenice Dias, à “possibilidade do filho ser alvo de repúdio no meio que frequenta ou vítima do escárnio por parte de colegas e vizinhos, o que poderia lhe acarretar perturbações psicológicas ou problemas de inserção social”. Concluem, entretantoe fazendo novamente por citar Maria Berenice Dias, que “as evidências trazidas pelas pesquisas não permitem vislumbrar a possibilidade de ocorrência de distúrbios ou desvios de conduta pelo fato de alguém ter dois pais ou duas mães. Não foram constatados quaisquer efeitos danosos ao normal desenvolvimento ou à estabilidade emocional decorrentes do convívio de crianças com pais do mesmo sexo. Também não há registro de dano sequer potencial ou risco ao sadio estabelecimento dos vínculos afetivos. Igualmente nada comprova que a falta do modelo heterossexual acarreta perda de referenciais a tornar confusa a identidade de gênero. Diante de tais resultados, não há como prevalecer o mito de que a homossexualidade dos genitores gere patologias nos filhos. Nada justifica a estigmatizada visão de que a criança que vive em um lar homossexual será socialmente rejeitada ou haverá prejuízo a sua inserção social. Identificar os vínculos homoparentais como promíscuos gera a falsa ideia de que não se trata de um ambiente saudável para o seu bom desenvolvimento. Assim, a insistência em rejeitar a regulamentação da adoção por homossexuais tem por justificativa indisfarçável preconceito”. Invocam o princípio da dignidade da pessoa humana para asseverar que qualquer discriminação, afora ferir o princípio da igualdade, atinge também a própria dignidade do ser humano. Ao tratarem do princípio do melhor interesse da criança, inerente à proteção integral prometida no ordenamento jurídico brasileiro para a população infanto- juvenil, as autoras apontam a situação de milhares de crianças e adolescentes com longa permanência em acolhimento institucional ou em situação de rua, experimentando risco pessoal, familiar e social, contrapondo-se à possibilidade de colocação em família substituta, inclusive onde exista união homoafetiva. No capítulo seguinte, pela importância quando da prestação da tutela jurisdicional, as autoras dissertam — 22 — — 23 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer sobre a adoção por casais homoafetivos e intervenção da psicologia judicial, inserindo a observação de que comparece fundamental esclarecer a criança ou adolescente não apenas acerca da condição de adotado mas, igualmente, dos papéis estabelecidos na união de pessoas do mesmo sexo. A esclarecedora jurisprudência trazida à colação pelas autoras diz respeito à conversão de união em estável entre pessoas do mesmo sexo em casamento (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro); adoção por homossexual (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) e adoção por casal homoafetivo (Supremo Tribunal Federal), com destaque a essa última por se tratar de nossa Suprema Corte e que concluiu, expressamente, não poder haver, quando da adoção, qualquer limitação quanto ao sexo ou à idade dos adotandos em razão da orientação sexual dos adotantes. É apresentado então pelas autoras estudo do caso, ressaltada a bem fundamentada sentença de adoção da criança T.R.C.G., que passou a ser filha do casal homoafetivo Vasco Pedro da Gama Filho e Dorival Pereira de Carvalho Junior. Em considerações finais, as autoras reafirmam a importância da família para o desenvolvimento sadio de todo ser humano, inclusive enquanto referência para o futuro. Repudiando mais uma vez a discriminação e o preconceito ainda existentes na nossa sociedade, inclusive nas estruturas da justiça, concluem no sentido da absoluta possibilidade jurídica da adoção por esse tipo de família advinda da união homoafetiva, garantindo-se convivência familiar para crianças e adolescentes que hoje se encontram afastadas da possibilidade do exercício desse direito fundamental. Nesse passo, vale o registro da extrema oportunidade que acompanha o lançamento da presente obra. É que, de um lado, comparece como homenagem à dedicação de Aline (que tão precocemente nos deixou) e, de outro, traz à reflexão elementos históricos, sociológicos, psicológicos, sociais e jurídicos que devem ser considerados para a melhor posição acerca da adoção por casais homoafetivos. Aliás, o momento que experimentamos hoje na realidade brasileira apresenta fundada preocupação quanto à marcha do nosso processo civilizatório, que se quer ver – impulsionado pelo princípio basilar da dignidade da pessoa humana – avançando cada vez mais no sentido da superação de qualquer preconceito ou discriminação na efetivação dos direitos fundamentais da pessoa humana. Com efeito, para além de posições conhecidas e oriundas de pensamento conservador, vivemos hoje propostas de real retrocesso ao quanto já evoluímos na matéria de direitos humanos. Ao tempo em que a Lei n° 13.005/14 (Plano Nacional de Educação) faz por retirar do seu corpo expressões pertinentes à “igualdade de gênero” ou “identidade de gênero” (como se o processo educativo devesse escamotear temas que são significativos na realidade social), o Projeto de Lei nº 6.583/13, que trata do “Estatuto da Família”, foi aprovado por Comissão Especial da Câmara dos Deputados com a conclusão de que casais homossexuais não constituem entidade familiar, nem poderiam ver convertida união estável entre eles em casamento, mesmo depois da posição em sentido contrário do Conselho Nacional de Justiça e de julgados, nessa mesma linha, provenientes do Supremo Tribunal Federal. Daí a importância de se trazer à tona – como fizeram as autoras – os fundamentos que justificam a colocação em família substituta, na modalidade de adoção, quando se refere a casais homoafetivos. É que, se dois homens ou duas mulheres vivem em união estável (passível inclusive de restar convertida em — 24 — — 25 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer casamento), atendem aos demais requisitos legais estabelecidos pelo Estatuto da Criança e Adolescente, especialmente os que dizem respeito a revelarem compatibilidade com a natureza da medida e oferecerem ambiente familiar adequado (art. 29, do ECA), além da pretendida adoção apresentar reais vantagens ao adotando e fundar-se em motivos legítimos (art. 43, do ECA), e, ainda, com o obrigatório estágio de convivência previsto no art. 46, do Estatuto da Criança e do Adolescente, apresentando resultado positivo atestado por equipe técnica vinculada ao Juízo da Infância e Juventude, nada justificaria o indeferimento do pedido de adoção. Considerado que inúmeros estudos especializados indicam não existirem prejuízos psicológicos advindos, tão só, do fato dos casais estarem compostos por dois homens ou duas mulheres, bem como porque decorrentes de puro preconceito serem superáveis as situações decorrentes das relações interpessoais e comunitárias eventualmente experimentadas pelos adotados por casais homoafetivos, não resta dúvida de que o melhor interesse das crianças e adolescentes, assim também o propósito de proteção integral dos mesmos, estarão suficientemente atendidos, máxime porque a convivência familiar estabelecida pela sentença de adoção se apresentará obrigatoriamente marcada pela afetividade. Vale dizer, ao mesmo tempo em que se mantém prevalente o princípio constitucional da igualdade sem qualquer tipo de distinção (declarando-se que os casais homoafetivos, embora diferentes, são iguais em direitos quando comparados com aqueles formados por homens e mulheres), também se eleva em dignidade a situação de crianças e adolescentes que aguardam indefinidamente nas entidades de acolhimento a possibilidade de pertencerem a uma família, que, como se sabe, é a principal agência de socialização do ser humano e espaço de afeto indispensável ao seu desenvolvimento sadio. Enfim, serve a presente obra para – indicada a resposta justa e compatível com o Estado de Direito Democrático – garantir o superior interesse de crianças e adolescentes em estabelecerem vínculos afetivos num protegido ambiente familiar, sem qualquer discriminaçãoderivada da identidade de gênero ou da orientação sexual dos adotantes. Dr. Olympio de Sá Sotto Maior Neto Procurador de Justiça do Paraná — 27 — Apresentação Este livro nasceu da ideia principal apresentada para o título da minha graduação em Direito. A pesquisa das fa- mílias e homoafetivos em suas épocas, foi escrita por minha mãe coautora deste, quando aluna de História do Direito, na Faculdade e cedida para meu tema do TCC. Minha escolha surgiu de lembranças de uma época que ela foi professora em uma escola da periferia, entre meus 06 e 08 anos, e presenciei crianças abandonadas e medrosas chegando à escola em horário de merenda, somente para alimentar-se, e após se retiravam para um milharal nas proximidades. Em outra escola estadual onde minha mãe atuou como secretária, muitas vezes eu es- cutei comentários das indiferenças de alunos e corpo docente, rejeitando e deixando as crianças residentes em Entidade de Acolhimento longe do convívio dos outros estudantes. Mais tarde, aos meus 16 anos e estudante de magistério, estagiária na área, encontrei muitas dessas crianças no centro de Curitiba, banhando-se nas águas da praça central, algumas cheirando crack, outras pedindo esmolas. Concentrei-me desde cedo na pesquisa sobre o assunto, esclarecendo e interpretando os tipos de adoção e uma em es- pecial, a dos homoafetivos, me chamou a atenção pelo cuidado e despreocupação com a idade das crianças adotadas por eles. Apesar da adoção, ser praticada, desde o começo dos tempos até dias atuais, verifica-se a rejeição por crianças e adolescen- tes, tanto em escolas que elas frequentam, quanto da própria sociedade em adotá-las por inúmeras razões, desde a idade, até — 28 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro o medo pelos problemas de comportamento que essa criança poderá causar na família que pretende as acolher. Não existe uma receita pronta, para saber como será o comportamento futuro, existe apenas um problema que a sociedade precisa entender e buscar o melhor para que essas crianças e adolescentes tenham um lar e um acompanhamento não só na adoção, mas na preparação para um futuro digno na sociedade após completar a idade máxima de permanência na Entidade Acolhedora. A pergunta é sobre o que é mais seguro para uma criança ou adolescente, se é ser adotado e viver no aconchego de um lar, ter carinho, amor e futuro digno, mes- mo que seja em um lar onde pares são do mesmo sexo ou sem sonhos nos abrigos e nas ruas perambulando? Mas também é a realização do sonho de muitos casais dessa nova era que tem a possibilidade de dar um destino diferente, sob a luz do direito a essas crianças. Sumário Introdução ........................................................................ 31 Evolução Histórica da Família .................................. 33 Direito Antigo ...................................................................34 Direito Romano ................................................................38 Direito Medieval ...............................................................40 Direito Moderno ..............................................................42 Direito Brasileiro ..............................................................43 O Papel da Família na Atualidade ................................ 47 Conceito de Família ......................................................49 Entidades Familiares ....................................................... 52 A Família no Código Civil de 1916, Constituição Federal de 1988 e a Criação do Novo Código Civil de 2002. .............58 Princípios Constitucionais da Família .........................63 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ....................63 Princípio da Liberdade de Constituir uma Comunhão de Vida Familiar .......................................64 Princípio da Igualdade Jurídica dos Cônjuges e Companheiros ...........................................65 Princípio da Pluralidade Familiar .....................................68 Princípio da Afetividade..................................................... 69 Evolução Histórica da Adoção .................................. 70 Xi- adoção, ofensas aos pais e substituição de criança ... 74 Adoção no Brasil ............................................................82 Instituto de Adoção no Código Civil de 1916 e no Código De Menores e na Constituição federal de 1988 ...............84 Lei no 3.133, de 8 de maio de 1957. ...................................86 Adoção na Constituição Federal de 1988 .....................88 — 31 — Adoções no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/1990) ...............................90 Adoção no Código Civil de 2002 ..................................92 Entraves para Adoção no Brasil ..................................... 93 Requisitos Gerais da Adoção .........................................97 Quanto à (s) pessoa da (o) Adotante (s) ............................97 Quanto à Pessoa do Adotado ............................................98 Requisitos Formais ..............................................................98 Histórico da Homossexualidade ..............................100 Conceito de Homossexualidade ................................... 107 A Adoção por Homossexuais: Uma Nova Forma de Ser Família .......................... 109 Homossexuais e Adoção no Brasil ............................... 112 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e Ausência de Proibição Legal .. 118 Adoção Homoafetiva e o Melhor Interesse da Criança ................................... 119 Adoção por Casais Homossexuais na Percepção e Avaliação da Psicologia Jurídica .......122 Possíveis Dificuldades no Desenvolvimento da Criança Adotada por Casais Homossexuais. Papéis Sexuais Devem ser Esclarecidos à Criança. 125 Jurisprudências .............................................................128 1-Conversão de União Estável em Casamento entre pessoas do mesmo sexo: ................................128 Adoção. Um Ato de Amor e um Fato Verídico. Estudo de Caso .........................................................136 Sentença da adoção da T. R. Carvalho da Gama ....... 142 Apelação Cível. União homoafetiva reconhecimento, princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade. ............................. 144 Considerações Finais ..................................................156 Referências Bibliográficas ....................................... 159 Introdução O conceito de família ainda é um paradoxo para o nosso entendimento e compreensão. A família na antiguidade, idade média, e contemporânea, tem seus ditames e suas leis. À pro- porção que a sociedade foi modificando sua maneira de pensar e agir, a lei decorrente de suas ações também foi se adaptando. Nos primeiros tempos o casamento foi realizado de forma a unir as proles, chegando a determinadas épocas e tribos a ser considerado por irmãos, pais e filhas, tios e sobrinhas, primos, cunhados, e a mesma suscitou-se nas adoções por casais que não geravam filhos, geralmente induzidos ou introduzidos por cultos para perpetuar a prole religiosa. Eram consideradas famílias, o par formado por um homem e uma mulher ou um patriarca e suas mulheres e concubinas, que segundo historia- dores, foram apenas contratos para manter a paz e desvirtuar as guerras, tais como Salomão, um dos patriarcas da bíblia que casou-se com mais de 1000 esposas segundo narra a história. Com o refinar dos tempos às sociedades ficaram mais independentes, e alguns países, foram adaptando-se, embora na atualidade ainda existam tribos que somente casam-se entre si. Com o crescimento das massas, das conquistas, dos além-oceanos, pode-se verificar que mães começaram a cuidar de seus filhos sozinhas, ou com outros pais não biológicos, e a lei precisou aderir-se a essas modificações constantes nas sociedades e em pouco tempo, teve e ainda tem muito que se adaptar. Uma posição que está criandopolêmica na atualidade é a adoção por casais homoafetivos, uma realidade da sociedade — 33 —— 32 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro que estamos presenciando. A Igreja novamente vem a público, para demonstrar seu interesse em não aceitar que esses casais formem famílias envolvendo crianças a sociedade questiona a avaliação dos psicólogos jurídicos e possíveis dificuldades no desenvolvimento da criança adotada por esses casais e igual qual parte da sexualidade deve ser esclarecido à criança. Para melhor compreensão do tema, foram utilizados métodos dialéticos e hermenêuticos que consistem em aná- lises e discussões, interpretações de jurisprudência, posições doutrinárias, pesquisas de casos fáticos e análises referenciais bibliográficas os quais têm por objetivo analisar, expor e mostrar comportamentos na sociedade desde sua criação, compreen- dendo a composição das famílias e adoções até o momento atual relacionado às novas famílias e seus filhos, casais homo e adoções pelos mesmos e o comportamento da criança dentro de um casamento onde ele (a) tem dois pais ou duas mães. Evolução Histórica da Família Trata-se de questão complexa, de cunho mate- rial e imaterial, com repercussões físicas, psíquica e emocional. A criança tem o direito de ser o que se é. O direito de filiação é direito fundamental que compreende o direito às raízes genéticas, e a de ter convivência familiar. Galatéia Fridlund Todo o conhecimento sobre o ser humano, que viven- ciamos através dos tempos, nos mostra sua convivência em comunidade. O Primeiro caso que conhecemos narra à história, de um homem e uma mulher: Adão e Eva e seus primeiros filhos Caim e Abel. “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela con- ceberam e tiveram a Caim. E teve mais a seu irmão “Abel”.” (ALMEIDA, 1984, p. 12). A história nos conta através dos antepassados, que Adão e Eva foram o primeiro casal criado por Deus, o qual for- mou o homem do pó da terra e a mulher de uma costela do homem. O senhor da criação os fez a imagem e semelhança de si próprio. E através desse casal nasceu a primeira família instituída na terra. Bruno Canísio cita que, “o escrito mais remoto sobre a Família é encontrado na Bíblia, Livro I de Gênesis, referindo a — 34 — — 35 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer Criação, quando o criador teria colocado um casal no jardim, onde também existiam animais”. (KICH,1999, p.17) Após esse momento, a família passa por diversas trans- formações ao longo da história, tanto no que diz respeito às formas de sociabilidade que vigoram dentro desta, bem como em sua composição interna, revelando assim seu caráter di- nâmico enquanto instituição. Direito Antigo O sistema familiar da Babilônia foi citado no Código de Hammurabi na antiguidade, passando a ser por lei patriarcal e o casamento monogâmico, embora na época admitia-se o concubinato. O casamento só era válido através de contrato e o código, era a segurança da herança dos filhos nascidos dentro desse matrimônio. Foi na longínqua Mesopotâmia, que nascera os dois primeiros grandes Códigos de Leis do mundo, o Código de Hammurabi e Leis de Eshnunna. “Se alguém toma uma mu- lher, mas não conclui um contrato com ela, esta mulher não é esposa”. (CÓDIGO DE HAMMURABI, 2004, p. 14, art.128º). O único conhecimento que temos de Direito de Família, na antiguidade, como citado anteriormente, iniciou-se em Atenas e Grécia. Na Grécia, embora não tenhamos registros de Códigos, o que se sabe através da história falada e registrada por histo- riadores após a era do cristianismo, é que o direito regulava e disciplinava a vida da família grega e a sociedade como um todo, no que tange a costumes, festas, cerimônias religiosas, cultos etc. O Instituto Família inicia-se com o casamento, seguido da sequência natural filiação, adoção; propriedade, doação; sucessão, herança, isto quando antes não é interrompida por um divórcio. O casamento grego fora monogâmico, sendo vedada inicialmente a bigamia, porém, mais tarde, em certas ocasiões, devido a muitas guerras, poucos homens sobreviveram, sendo assim, permitido por lei e por costume que os homens sobre- viventes adotassem mais uma ou duas mulheres. Os primos e meios-irmãos estavam liberados para ca- sar-se, sendo proibido o matrimônio por lei, entre gregos e estrangeiros, e somente permitido entre cidadãos das famílias eupátridas de Atenas. O professor Ilias Arnaoutoglou em seu livro Leis Antigas da Grécia refere-se à passagem de (Demóstenes) LIX (Contra Neaira) 16 – fins do século V a.C. Se um homem estrangeiro vive maritalmente com uma mulher ateniense, de qualquer modo ou maneira, ele poderá ser processado e levado perante aos Thesmothétai por qualquer ate- niense que o queira e a isso esteja apto. Se for considerado culpado, ele e seu patrimônio serão vendidos e um terço do dinheiro será dado ao denunciador. A mesma regra se aplica a uma mulher estrangeira que viva com um atenien- se como se fosse sua esposa. E se for provado que um ateniense vive maritalmente com uma mulher estrangeira ele terá de pagar multa de mil dracmas (ARNAOUTOGLOU, 2003, p. 20) O Direito regulava e disciplinava a vida da família grega e a sociedade como um todo no que tange a costumes, festas, cerimônias religiosas e seus cultos. As jovens casavam-se entre 14 e 18 anos, e os homens geralmente mais maduros que as esposas, casavam-se com idade aproximada de 30 anos para mais. No contexto familiar grego, o homem mantinha posição superior à mulher, que por sua vez, também era subalterna ao filho mais velho. Quando a anfitriã ficava viúva, o Estado lhe — 36 — — 37 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer designava um tutor, sendo proibido casamento entre estran- geiros e cidadão local, em algumas cidades da Grécia. O casamento válido ocorria quando: Os pais combinavam o casamento de olho no dote (pelo menos um décimo dos bens do pai da noiva), mas também com a preocupação dos status social. Tendo o pai combinado o melhor casamento possível, o noivado e assinatura do contrato se efetuavam no lar da noiva, na pre- sença de testemunhas, mas com frequência sem a presença da noiva e do noivo. Alguns dias depois era dada uma festa na casa dela. Qualquer mês, com exceção de maio, podia ser escolhido, mas na época de lua crescente era a melhor. [...] O pai da noiva servia como sacerdote matrimonial, conduzindo a cerimônia [...] O casal de noivos era coroado de flores e suas casas enfeitadas. [...]. Ao partirem para a lua de mel eram cobertos pelos convidados de tâmaras, figos, nozes e pequenas moedas de ouro ou prata e confeitos para terem prosperidade. Ao saírem da festa sapatos velhos eram jogados em sua direção para espantar o mau-olhado. […] na carruagem nupcial seguiam os noivos e o padrinho. [...] Na chegada à casa do noivo se queimava o eixo da carruagem, significando a irreversibilidade do casamento. Ao chegar a sua casa, o noivo carrega a noiva pelo hall de entrada até o leito nupcial. Enquanto os convidados ficam do lado de fora, cantando hinos pela virilidade do noivo e o melhor e mais forte amigo do noivo fica de guarda nupcial na porta do quarto. O noivo retira o véu da noiva e lhe dá o presente fálico do deus Apolo para a virginal noiva de Ártêmis, após isto anuncia que tudo está bem e os convidados felizes descem as escadas, pois o casamento está cumprindo. (MURSTEIN, 1997, p. 74). O marido tinha o poder de pedir o divórcio em casos de adultério, esterilidade, bigamia e quando se desse o luxo de ficar cansado da esposa, e a esposa de um grego só tinha o direito de pedir o divórcio se o marido fosse estéril ou se cometesse bigamia. A família era um ato de suma importância para perpetuação do culto. Sobre isso relata Fustel de Coulanges : Se nós nos transportarmos em pensamento parao seio dessas antigas gerações de homens, encontraremos em cada casa um altar, e ao redor desse altar a família reunida. [...] O princípio da família não é mais o afeto natural, porque o direito grego e o direito romano não dão importância alguma a esse sentimento. [...] O pai pode amar a filha, mas não pode legar-lhe bens. [...] O que une os membros da família antiga é algo mais poderoso que o nascimento, que o sentimento, que a força física: é a religião do fogo sagrado e dos antepassados. Essa religião faz com que a família forme um só corpo nesta e na outra vida. A família antiga é mais uma associação religiosa que uma associação natural. [...] O homem não pertencia a si próprio, mas a família. [...] Não nascera por acaso; deram-lhe a vida, para que continuasse a observar um culto; não devia deixar a vida sem estar seguro de que esse culto seria continuado depois de sua morte. [...] O filho que devia perpetuar a religião doméstica devia ser fruto do casamento religioso. O bastardo, filho natural, que os gregos chamavam de nóthos, e os latinos spurius, não podia desempenhar o papel que a religião confiava ao filho. (COULANGES, 1961, p. 57-73) — 38 — — 39 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer A geração de um filho, na época considerava-se um ato sagrado e de fruto religioso, para que a família continuasse através dele. Direito Romano E após a era de Cristo, inicia- se formalmente com o Direito Romano, criando seus próprios Códigos, inspirados no Direito Grego, que serviu de base para formação de suas leis e diretrizes para conviver em sociedade. A professora Raquel de Souza faz uma referência sobre o primeiro capítulo do livro de Michael Gagarin, Early Greek Law, no qual o autor sugere “três estágios de desenvolvimento do Direito em uma sociedade”: A Sociedade pré-legal: Uma sociedade sem fundamentos para que se estabeleçam os litígios. A Sociedade proto-legal: Sociedade, onde existem regras e fundamentos bem determinados para apaziguar as disputas, porém não existem regras definidas. A Sociedade legal: É o estágio mais avançado de uma sociedade, igualado a nossa sociedade atual, porém em cres- cimento. (GAGARIN apud WOLKMER, 2006, p. 54). Nota-se que o Estado intervém nas pequenas disputas, usando normas e como consequência sanções, onde se verifica que na época, já ocorria à iniciação de um Direito positivado em andamento. Em Roma, na antiguidade, a família patriarcal surgiu juridicamente, através de normas severas. Sua organização consistia na figura do pai e em seu poder como chefe da co- munidade, e o pátrio poder tinham caráter unitário exercido por ele. Este era uma pessoa sui júris, (do seu direito), ou seja, chefiava todo o resto da família que vivia sobre seu comando, e os demais membros eram chamados alini júris (de direito alheio). Ralph Lopes e Helena Goldenzon Bekhor, (1997, p. 50) doutrinam que, existiu um cidadão chamado Hermodoro e este “era um grego, residente, na época, em Roma e sobre isto não há dúvidas; ele contribuiu, traduzindo a legislação de Sólon, que há de algum modo ter influído na elaboração da Lex- decenviralis. ” A família era, simultaneamente, uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional. Inicialmente, havia um patrimônio só que per- tencia à família, embora administrado pelo pater. Numa fase mais evoluída do direito romano, surgiam patrimônios individuais, como os pe- cúlios, administrados por pessoas que estavam sob a autoridade do pater. (WALD 2004, p. 57). A mulher no casamento romano poderia, depois de casada, continuar sob a autoridade de seus pais, chamado casamento sem manus, ou dada à família do marido devendo obediência a este, chamado de casamento com manus. No Direito Romano lograva duas espécies de parentescos: A agnação consistia na reunião de pessoas que estavam sob o poder de um mesmo pater, englo- bava os filhos biológicos e os filhos adotivos, por exemplo. A cognação era o parentesco advindo pelo sangue. Assim, a mulher que houvesse se casado com manus era cognada com seu irmão em relação ao seu vínculo consanguíneo, mas não era agnada, pois cada qual devia obediência a um pater diferente, ou seja, a mulher ao seu marido e o irmão ao seu pai. Com a evolução da família romana a mulher passa a ter mais autonomia perante a sociedade e o parentesco agnatício vai sendo substituído pelo cognatício. (MACHADO, 2000, p. 4). — 40 — — 41 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer Roma organizou o Direito, e distinguiu-o da religião e da moral. E seguindo a linha de outros povos antigos, foi consuetudinário e jurisprudencial, buscando suas origens nos costumes, e nas decisões de “pontífices”. A Lei das XII Tábuas Lex duodecim tabularum datando de 462 a.C foi consequência de uma civilização conturbada, escrava, e um jurídico de artifícios cruéis com uma sociedade desigual, caracterizada por lutas entre patrícios e plebeus, que codificou o Direito Romano primitivo, o qual foi somente do cidadão romano jus quiritum, e, posteriormente, o Corpus Iuris Civilis, de Justiniano. O Direito escrito iniciou-se após a rebelião do Monte Sagrado. No século V, “a Igreja Católica Romana toma o poder, e desenvolve o Direito Canônico estruturado num conjunto normativo dualista (laico e religioso) que permanecera até o século XX”. (CORRÊA, 1999, p. 62). Direito Medieval O Direito, na idade média foi formado pela religião do- tada de poder e autoridade, a qual se intitulava possuidora da palavra de Deus na terra e impunha a sua justiça. A família deixa de ser acordo de vontades dos interessados em unir bens patrimoniais somente, e volta a ser fundamentada no casamento religioso, com base no sacramento. “as relações familiares tiveram grande influência do cristianismo, mais especificamente da Igreja Católica”. A Igreja Católica passou a tratar de alguns temas com o estabelecimento de normas denominadas cânones. (GAMA, 2007, p. 18). No Direito Canônico, seus adeptos se posicionavam totalmente contrários à dissolução do casamento e todo en- tendimento baseou-se na lei do sacramento no qual, os ho- mens não podiam dissolver a união realizada por Deus. Foi instituída a comunhão de bens, dando a esposa direito sobre a parte do patrimônio do marido, embora esse ainda seguisse normalmente as normas anteriores, sendo o homem o chefe da família, porém menos autoritário e com menos poderes. Arnoldo Wald compreende que: Havia uma divergência básica entre a concepção católica do casamento e a concepção medieval. Enquanto para a Igreja em princípio, o matri- mônio depende do simples consenso das partes, a sociedade medieval reconhecia no matrimônio um ato de repercussão econômica e política para o qual devia ser exigido não apenas o consenso dos nubentes, mas também o assentimento das famílias a que pertenciam. (WALD, 2004, p. 13) Friedrich Engels, em “A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado”, expõe os estudos que Lewis H. Morgan fez junto aos índios norte-americanos. [...] (MORGAN, apud, WOLKMER, 2006, p. 130). Nomeadamente na vitória da propriedade privada sobre a originária propriedade Comum natural. Dominação do homem na família e procriação de filhos que só pudessem ser seus e que estavam destinados a tornar-se herdeiros da sua riqueza eram os únicos objetivos do casamento singular, conforme os gregos exprimiam sem rodeios. De resto, o casamento singular era para eles um fardo, uma obrigação para com os deuses, o Estado e os seus antepassados. (ENGEL apud WOLKMER, 2006, p. 132). No trabalho de Morgan tem-se uma nova base para o estudo da história primitiva, o que permite uma abordagem através da concepção materialista da história humana que ele divide em três épocas principais: — 42 — — 43 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline GracielaKieffer e Cliseldes Kieffer (1) selvageria; (2) barbárie; e, (3) civilização, e cada uma delas com três estágios: inferior, médio e superior. Nesta organização, o desenvolvimento ocorre pelas mudanças ocorridas na produção, pelo “alargamento das fontes de subsistência” De forma esquemática tem-se: 1) na selvageria, o casamento de grupo, 2) na barbárie, a família acasalada; e 3) na civilização, a monogamia. Acontece uma redução progressiva da família, chegando à última unidade binária - homem e mulher -, num estreitamento cada vez maior, chegando à monogamia. (MORGAN, apud WOLKMER, 2006 p. 130). Nos povos antigos a lei conhecida como estritamente religiosa, traz na pré-história uma mulher submissa ao pai ou ao marido, não restando a ela discutir as imposições que lhes foi dada, mas no entender de Engel com a fusão da família monogâmica, o homem perde parte de interesses naturais, restando somente às econômicas. Direito Moderno A família moderna se preocupa mais com o sentimento e sua valorização, considerando o afeto e o desejo de estar junto a outrem, o propulsor da relação familiar, sendo este o alicerce da convivência em grupo. A nossa sociedade moder- na é mais individualista. Essa transição ocorreu nas relações temporais entre a igreja e o Estado, quando o homem passa a ser concebido como ser moral, independente e autônomo. Esse direito surgiu a partir da conquista do direito de liberdade e da consciência religiosa. A família até então patriarcal e indissolúvel, centrada no casamento, é nesse momento substituída pela família moderna, que tem como fundamento a igualdade entre os cônjuges e em consequência, o mesmo com os filhos. Nasce a dissolução de relações conjugais, a proteção integral da criança e do adoles- cente e a instabilidade do regime de bens. A união estável passa a ser aceita juridicamente, e o casamento deixa de ser a única forma de constituir família. A Promotora de Justiça do Rio Grande do Sul, Janine Borges, traduz a Sociedade Moderna como: Estamos diante de uma sociedade complexa, cuja estética só é possível pela existência do indivíduo, e na qual as relações familiares estão mais mutá- veis e dinâmicas. Essa sociedade, que vive num tempo da velocidade assiste a desestruturação do indivíduo, pois a responsabilidade que imerge numa sociedade impessoal, que coisifica, é um fardo muito pesado que ele parece não estar preparado para carregar. (SOARES, 2006, p. 140) O desenvolvimento da individualidade e do pensamento moderno prospera as relações afetivas entre homossexuais e a união homoafetiva, que nesse momento, tornam-se transpa- rentes e aceitas. Elimina-se a hierarquia nesse novo modelo de agrupamento dentro da sociedade, predominando a liberdade de escolha e a igualdade entre os seus membros. Direito Brasileiro O Brasil foi descoberto e explorado pelo Estado Português que ao chegar aqui, tomou posse do solo dos nativos indígenas, e se intitulou dono legítimo da terra. A formação da família brasileira teve seu alicerce nas tradições e códigos da sociedade romana e consequente- mente, como regra, a supremacia masculina, encontrado nos ensinamentos gregos e romanos para dirigir a casa, o que foi ensinado de pai para filho. Rodrigo da Cunha assevera: — 44 — — 45 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer A doutrina jurídica reconhece que o direito romano forneceu ao Direito brasileiro elementos básicos da estruturação da família como uni- dade jurídica, econômica e religiosa, fundada na autoridade de um chefe, tendo essa estrutura perdurada até os tempos atuais. (PEREIRA, 2004, p. 641) A povoação do Brasil é recente, e nossos antepassados que entraram nessas terras para iniciar a exploração e cons- tituir suas famílias trouxeram na bagagem costumes de seus países de origem. O Brasil foi descoberto e explorado pela nação portuguesa. Os colonizadores, ao chegarem aqui e tomarem posse das terras dos nativos indígenas, sentiram-se legitimados para, como verdadeiros donos desse “novo mundo”, ditar-lhes os rumos em todos os sentidos. Pelos portugueses colo- nizadores, o Brasil nunca foi visto como uma verdadeira nação, mas sim como uma empresa temporária, uma aventura, em que o enrique- cimento rápido, o triunfo e o sucesso eram os objetivos principais. (WOLKMER, 2006, p. 294). No Brasil, no início da colonização, o direito não foi cons- truído diariamente pelo povo, mas imposto aos colonizadores pelos portugueses. Os indígenas, que habitavam a nossa terra utilizavam o misticismo para resolver suas questões jurídicas. Os colonizadores que aqui chegavam utilizavam os índios como objetos de suas próprias vontades e para serviçais trouxeram negros como seus escravos. [...] povos de origem tribal em diferentes estágios culturais, todos eles beirando, porém, o neolítico, despossuídos por completo de uma regulamen- tação realmente jurídica, mas antes dominados ainda pelo império da norma indiferenciada de cunho sagrado. Era, pois, o direito português que deveria construir a base de nosso direito nacional sem maiores competições. Também no âmbito jurídico temos aqui mais uma ocupação do que uma conquista. (WOLKMER, 2006, p. 296). A lei de Portugal foi imposta no Brasil Colônia, e três grandes ordenações surgiram, sendo a primeira ordenação Afonsina e primeira em vigor em 1500/1514 que recebeu o nome com data de 1446 por ter sido finalizada no reinado de Afonso V, as ordenações Manuelinas 1521, reunião das leis extravagantes e as Filipinas em 1603, união das ordenações manuelinas com leis extravagantes em vigência, e os desembar- gadores foram os verdadeiros formadores de opinião jurídicos do Brasil dessa época. No Brasil Colônia já existia tráfico de influência. Os magistrados chegavam ao nosso solo brasileiro, com suas famílias, criados e escravos, com intuito de obter um status social elevado. Em regra geral, não eram integrantes da nobreza, porém seu principal objetivo consistia a ela se igualar, e para isso aceitavam benefícios e bens materiais em trocas de favores jurídicos, ou até mesmo laços matrimoniais com as filhas de fazendeiros nobres. Quando o Brasil foi descoberto e os colonizadores po- voaram nossa terra, os homens amancebaram-se com as ín- dias que aqui residiam e conforme os historiadores os índios consideravam a poligamia normal. A maioria deles oferecia uma mulher como presente de boas-vindas a todo estranho que chegasse e convivesse por um tempo em suas tribos. A criança gerada desse relacionamento, entre brancos e índios era chamada de curibocas, na língua tupi e na linguagem brasileira, mamelucos. O casamento entre mãe e filho, irmãos, pai e filha, no costume indígena eram proibidos, sendo o matrimônio entre os indígenas bem simples. Os homens se dirigiam a uma mulher e perguntavam sobre sua vontade de casar. Se a resposta fosse — 46 — — 47 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer sim, pediam a permissão do pai ou parente mais próximo, e obtendo permissão, o casal considerava-se casado, sem nenhuma cerimônia e quando cansavam um do outro, bastava procurar um novo parceiro, e a relação entre eles estava desfeita. Quanto às mulheres africanas que chegavam ao Brasil, para trabalhar como empregadas domésticas ou em artesanatos, elas conheciam um homem branco e se amasiavam formando famílias e suas uniões eram semelhantes as das índias, ou de amancebamentos das uniões de homens brancos pobres, os quais não propunham casamento oficial, apenas se escolhiam e iniciavam a morarem juntos, e a ter filhos. Para Gilberto Freyre: A família rural foi o mais importante fator de colonização. Ela era a unidade produtiva que abria espaços na mata, instalava fazendas, comprava escravos, bois e instrumentos. Agia de forma mais eficiente para o desbravamento da terra do que qualquer companhia de comércio. (FREYRE,2003 p. 85-86) Sérgio Buarque de Holanda observou que a família prevalecia como centro de todas as organizações. Os escravos, juntamente com parentes e empregados, dilatavam o círculo no qual o senhor de engenho era o todo-poderoso pater famílias: No Brasil, onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo da família patriarcal, o desen- volvimento da urbanização que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comuni- cação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influência das cidades — ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje. (HOLANDA, 1995, p. 145). As famílias tradicionais brasileiras garantiam uniões entre parentes, independente do lugar, no interior, na capital ou no litoral, a forma era a mesma. Havia a obediência dos escravos e a influência política de um grupo de famílias sobre os demais. Uma família poderosa impunha sua lei e ordem nos locais onde dominava sobre as outras famílias. O patriarca cuidava dos negócios com absoluta autoridade, impondo sua vontade e leis sobre os filhos, escravos, agregados, empregados e vizinhança, estendendo sua autoridade nos demais membros da família, os afilhados, parentes próximos, além dos filhos de criação e seus legítimos. No Brasil colônia verificava-se diversos formatos de famílias. Outros modelos foram se formando na mesma época, as famílias pequenas de pessoas solteiras e dos viúvos, incluindo mães que viviam sós, com seus filhos, ou filhos que residiam sem seus pais. Nas famílias de periferias, ou pessoas mais pobres, sem muito dinheiro ou status, ocorrendo muito nas áreas de mineração, de passagem ou urbanização acelerada, a maioria eram relações concubinárias, ou relações estáveis. O Papel da Família na Atualidade A família desde sua origem, até o momento, fundamenta-se sobre princípios básicos de igualdade, liberdade, solidariedade e afetividade, que ao longo do tempo e da história sofreram mutações dentro das sociedades devido à evolução política e cultural, e hoje muitos são os modelos que a separa do modelo ideal da família patriarcal do século XIX. Nasce-se em uma família que pode ser a tradicional, aquela formada por pai e mãe e filhos e vivem todos na mesma casa, ou lares com pais divorciados ou viúvos ou somente com a mãe ou apenas com pai, ou duas mães ou dois pais ou outros modelos de famílias, que hoje se sobressaem. Os novos padrões de relacionamento igualitário entre os membros, a constituição de práticas ba- — 49 —— 48 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Conceito de Família Família é quem você escolhe para viver Família é que você escolhe para você Não precisa ter conta sanguínea É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia Rappa. A origem etimológica da palavra, conforme o autor Plácido de Silva (1999, p. 347) Família é “derivada do latim, Família, de famel (escravo, doméstico), é geralmente tido em sentido restrito, como a sociedade conjugal. ” (SILVA, 1999, p. 347). O conceito de família sob o olhar de Maria Helena: É o complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, a união estável, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela. (DINIZ, 2009, p. 7) A visão de Carlos Roberto sobre o conceito de família não se subordina somente a família tradicional, onde o casamento é no civil religioso, patriarcal de um homem e uma mulher e seus herdeiros, filhos biológicos ou adotivos, mas estende-se aquela constituída pela união estável. [...] Família é uma realidade sociológica e cons- titui a base do Estado, o núcleo fundamental em que repousa toda a organização social. Em seadas em princípio do respeito mútuo assim como as uniões homoafetivas e muitos outros motivos determinam as relações familiares surgidas. A sociedade da atualidade traça um valor diferenciado para a própria convivência social pelo afeto sem receita pronta de sucesso e sem modelo específico para seguir, porém tem o papel principal de contribuir para a formação do caráter que influenciará a personalidade do adulto, sendo uma referencia positiva. — 50 — — 51 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer qualquer aspecto em que é considerada, aparece a família como uma instituição necessária e sagrada, que vai merecer a mais ampla proteção do Estado [...] Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vinculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidades pela afinidade e pela adoção. Compreendem os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins. (GONÇALVES, 2008, p. 1) Clóvis Beviláqua (2001, p. 30) vai mais além, compreen- dendo em um sentido dentro do Direito Moderno que, “a família é o conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo da con- sanguinidade, ou somente cônjuges e a respectiva progênie”. Caio Mário Pereira (2007, p. 19) traduz a família em sen- tido genérico e biológico como sendo “o conjunto de pessoas que descendem de tronco ancestral comum; em senso estrito, a família se restringe ao grupo formado pelos pais e filhos; e em sentido universal é considerada a célula social por excelência”. No que se refere à família Silvio num conceito mais amplo, entende família como: a formação por todas aquelas pessoas ligadas por vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco ancestral co- mum, o que inclui, dentro da órbita da família, todos os parentes consanguíneos. Num sentido mais estrito, constitui a família o conjunto de pessoas compreendido pelos pais e sua prole. (RODRIGUES, 2004, p. 4) Paulo Nader (2006, p. 3) tem na família “uma instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam no propósito de se desenvolver, entre si, e descendem uma da outra ou de um tronco comum”. O mestre Cezar Fiúza considera a família de modo lato sensu, como sendo: Uma reunião de pessoas descendentes de um tronco ancestral comum, incluídas aí também as pessoas ligadas pelo casamento ou pela união estável, juntamente com seus parentes sucessíveis, ainda que não descendentes”, como também define em modo stricto sensu dizendo que: “família é uma reunião de pai, mãe e filhos, ou apenas um dos pais com seus filhos. (FIÚZA, 2008, p. 939) A moradia, onde convive a família, com tantas ideias diferentes tem a proteção do Estado, por dever ser um local de harmonia, afetos, proteção e resolução de conflitos entre seus membros. Deve haver uma relação de confiança, conforto, bem estar e segurança entre todos os que residem no mesmo local. Alguns autores inicialmente não reconheciam os filhos fora do casamento, uma realidade que o Direito Moderno modificou através Código Civil de 2002. Clóvis Beviláqua, na época entendia a família como um todo, não admitindo filhos fora do casamento e nem o divórcio, pois segundo sua doutrina, instauraria um regime de poligamia sucessiva no seio da família. Os vínculos fami- liares enfraqueceriam incrementando paixões animais. A moral deixaria de existir e ficaria à mercê de desregramentos de condutas. Ainda segundo esse autor: O casamento é um contrato bilateral e solene, pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legalizando por ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses, e comprome- tendo-se a criar e educar a prole, que de ambos nascer. (BEVILÁQUA, 2001, p. 46) — 52 — — 53 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer Devido à fragilidade de sua base, passou a ter proteção do Estado, como um Direito Subjetivo Público e oponível à sociedade e ao próprio Estado. A família segundo a psicologia, está dirigida por um pequenogrupo social que influencia e é influenciada por ins- tituições ou outras pessoas. Os membros das famílias costu- mam compartilhar os mesmos sobrenomes herdados de seus ascendentes diretos, e são unidos por diversos laços os quais são capazes de manter o grupo moralmente e materialmente durante gerações. A família organiza seus membros como um sistema, que sobrevive através de padrões, e os indivíduos podem ser formados pela geração, sexo, interesses comuns, ou funções deliberadas por diferentes níveis de poder, onde o comportamento de um membro, afeta e influencia os outros membros da mesma comunidade familiar. Pode-se definir família como um conjunto invisível de exigências “A família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de de- senvolvimento, diferindo em nível dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais” (MINUCHIN, 1990, p. 25-69). Entidades Familiares Entende-se como entidade familiar toda e qualquer espécie de união relacionada a emoções de dois ou mais seres humanos. A entidade familiar está prevista no art. 226 da Carta Magna de 1988, in verbis: Art. 226. A família, base da sociedade, tem es- pecial proteção do Estado. (...). § 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. As opções de família que atuam na nossa atual sociedade assumem sentimentos diversos, mantendo desde relações mo- noparentais até relações entre homossexuais. A jurisprudência tem entendido, e reconhecido novas formas de relações nas sociedades atuais e trazendo à baila novas estruturas familiares. Alguns autores classificam as famílias em espécies: Família Matrimonial, Família Paralela, o Concubinato, a União Estável, Família Monoparental, a Família Anaparental, a Família Pluriparental, a Família Eudemonista, a Família de União Homoafetiva, e a Família Unipessoal. Família Matrimonial: Surgiu em 1563, no Concílio de Trento, e até 1988 era a única forma familiar reconhecida ju- ridicamente no País “Decorre do casamento como ato formal, litúrgico’’. (KUMPEL, Vitor Frederico. Palestra ministrada em 21/01/2008 no Curso do professor Damásio de Jesus). Família Paralela é aquela que afronta a monogamia, rea- lizada por aquele que possui vínculo matrimonial ou de união estável. O art.1.521 do CC/2002 refere que não podem casar as pessoas já casadas por lei e não separadas judicialmente. São chamadas paralelas para diferenciar do concubinato, em que existe apenas uma família. Na paralela, um dos integrantes participa como cônjuge de mais de uma família. Maria Berenice destaca que a união paralela é um rela- cionamento de afeto que é repudiado pela sociedade. Os relacionamentos paralelos, além de receberem denominações pejorativas, são condenados à invisibilidade. Simplesmente a tendência é não é reconhecer sequer sua existência. Somente na hipótese de a mulher alegar desconhecimento da duplicidade das vidas do varão é que tais vínculos são alocados no direito obrigacional e — 54 — — 55 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer lá tratados como sociedades de fato. (...) Uniões que persistem por toda uma existência, muitas vezes com extensa prole e reconhecimento social, são simplesmente expulsas da tutela jurídica. (...) Negar a existência de famílias paralelas – quer um casamento e uma união estável, quer duas ou mais uniões estáveis – é simplesmente não ver a realidade. (DIAS, 2007, p. 48) Concubinato, conforme explica o Código Civil de 2002 são: As relações não eventuais existentes entre homem e mu- lher impedidos de casar, vinculado no artigo 1.727 do CC, in verbis: As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato. E os que estão impedidos de casar, forte no artigo 1.521 do Código Civil, in verbis: Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. O concubinato não vem protegido pelo projeto do Esta- tuto das Famílias e o Código Civil o repudia, refletindo-o no artigo 1.642, inciso V, in vebis: Art.1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livre- mente; V. reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos. União Estável segundo o autor Álvaro Villaça de Azeve- do: “A convivência não adulterina nem incestuosa, duradora, pública, e contínua de um homem e de uma mulher, sem vín- culo matrimonial, convivendo como se casados fossem, sob o mesmo teto ou não, constituindo, assim, sua família de fato”. (AZEVEDO, 2000, artigo publicado na Revista Advogado n. 58). Família Monoparental: “É a relação protegida pelo vínculo de parentesco de ascendência e descendência”. “É a família constituída por um dos pais e seus descendentes’’. Dispõe o art.226, § 4º, in verbis: “Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Família Anaparental: “É a relação que possui vínculo de parentesco, mas não possui vínculo de ascendência e descen- dência’’. (KÜMPEL, Vitor Frederico. Palestra ministrada em 21/01/2008 no Curso do professor Damásio de Jesus). Essa espécie de família é disciplinada no artigo 69, caput, do Projeto do Estatuto das Famílias, in verbis: “As famílias parentais se constituem entre pessoas com relação de paren- tesco entre si e decorrem da comunhão de vida instituída com a finalidade de convivência familiar”. Sobre a Família Anaparental esclarece Maria Berenice Dias, (2010, p. 48) “A convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda que não parentes, dentro de uma estrutura- ção com identidade de propósito, impõe o reconhecimento da existência de entidade familiar batizada com o nome de Família Anaparental”. Família Mosaica ou Pluriparental: “É a entidade familiar que surge com o desfazimento de anterior vínculo familiar e criação de novos vínculos”. (KÜMPEL, Vitor Frederico. — 56 — — 57 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer Palestra ministrada em 21/01/2008 no Curso do professor Damásio de Jesus). Leciona Maria Berenice Dias (2011 p. 49) que a Família Pluriparental “resulta de um mosaico de relações anteriores”. Família Eudemonista: (DIAS, 2011, p. 54). “É aquela que unida por laços afetivos busca a felicidade individual de cada membro da mesma”. Família Unipessoal: É a composta por apenas uma pes- soa mais os seus vínculos. O STJ lhe conferiu à proteção do bem de família, como estabelecida na Súmula 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. (03/11/2008). Euclides de Oliveira destaca que a proteção dada pela referida súmula se dá em resguardo ao direito constitucional de moradia. Família homoafetiva, foi reconhecida na Lei Maria da Penha (Lei federal n. 11. 340/2006- Lei da violência doméstica) no art. 5º in verbis: Para efeito desta Lei, configura violência domés- tica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II– no âmbito da família, compreendi- da como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vonta- de expressa; III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo “único: As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”. União homoafetiva, é “aquela decorrente da união de pessoas do mesmo sexo, as quais se unem para constituição de um vínculo familiar”. (KÜMPEL, Palestra ministrada em 21/01/2008 no Curso do professor Damásio de Jesus). Venosa (2008, p. 408/409) “refuta a possibilidade de reconhecimento da família homoafetiva como entidade fa- miliar, sendo apenas possível o reconhecimento de reflexos patrimoniais’’. Doutrina Maria Berenice Dias, (2011, p. 47) que “A ne- nhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto pode-se deixar de conferir status de família, merecedora da proteção do Estado’’. Já Maria Helena Diniz (2007, p. 9) discorre sobre família no sentido amplo como “todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade, chegando a incluir estranhos”. Em recente decisão, o STJ reconheceu como entidade familiar a união homoafetiva (REsp. 820. 475). Portanto, a lei penal também reconhece a proteção da Lei Maria da Penha às uniões homoafetivas femininas. Ao legislador não compete fazer juízo valorativo a essas uniões, conforme o princípio da dignidade da pessoa humana. Sua função é somente disciplinar essas relações jurídicas de afetos e as consequências que essas deslancham no mundo jurídico. — 58 — — 59 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer A Família no Código Civil de 1916, Constituição Federal de 1988 e a Criação do Novo Código Civil de 2002. No Código Civil de 1916, a família era comandada pelo marido, e nota-se claramente, a superioridade do homem e sua autoridade sobre sua esposa e filhos, e a “família era constituída tão somente pelo casamento”. (GONÇALVES, 2007 p. 16), não definindo um conceito de família, embora tenha definido a sua legitimidade conforme art.229 do Código Civil de 1916, in verbis: “Criando a família legítima, o casamento legitima os filhos comuns, antes dele nascidos ou concebidos”. Devido à fragilidade de sua base, passou a ter proteção do Estado, como um direito subjetivo público e oponível à Sociedade e ao próprio Estado. Os alinhamentos para o Direito da Família no Código Civil de 1916 encontram-se nos artigos 180 a 484, sem codi- ficar um conceito claro para tal. No mesmo dispõe a ideia de que a família era constituída somente pelo casamento, sob a versão colegiada do ilustríssimo doutrinador Carlos Roberto Gonçalves. O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, vigentes no século passado, regulavam a famí- lia constituída unicamente pelo casamento, de modelo patriarcal e hierarquizada, ao passo que o moderno enfoque pelo qual é identificada tem indicado novos elementos que compõem as relações familiares, destacando-se os vínculos afetivos que norteiam a sua formação. (GON- ÇALVES, 2008, p. 16) O casamento sendo legítimo perante a lei presumia a virgindade da noiva, podendo ser desfeito e a mesma devolvida se o marido a negasse, após o defloramento no ato carnal, se esse ocasionasse algo insuportável para a vida em comum do enganado. O Art.219 do Código Civil de 1916 (Revogado pela Lei n. º 6. 515, de 1977) dispõe, in verbis: Art.219. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do cônjuge: I. O que diz respeito à iden- tidade do outro cônjuge, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal, que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; IV. O defloramento da mulher, ignorado pelo marido (revogado pela Lei n. º 6. 515, de 1977). A esposa era equiparada aos pródigos, índia e aos menores entre 18 e 21 anos, sendo quase que uma incapaz. O Art.317. do Código Civil de 1916 (Revogado pela Lei n. º 6. 515, de 1977) dispõe, in verbis: Art.317. A ação de desquite só se pode fundar em algum dos seguintes motivos: I. Adultério; II. Tentativa de morte; III. Sevicia, ou injuria grave. IV. Abandono voluntário do lar conjugal, durante dois anos contínuos. Silvio Venosa via no casamento a única forma de família e aponta ser “família um fenômeno histórico, pré-existente ao casamento, constituindo-se um fato natural”. (VENOSA, 2008, p. 36). Com o transcorrer dos anos, novas espécies de família foram sendo reconhecidas pelo legislador. Anterior a Carta Magna de 1988, o conceito jurídico de família era extrema- mente limitado. A Constituição Federal de 1988, ao lado do casamento, trouxe o reconhecimento da União Estável e Família Monopa- rental. “A família, base da sociedade tem especial proteção do — 60 — — 61 — Uma Nova Forma de Ser Famíliavos no Direito Brasileiro Aline Graciela Kieffer e Cliseldes Kieffer Estado”, conforme art. 226, caput, da Constituição Federal e não só compreende o conjunto de pessoas unidas pelo vínculo do matrimônio e da filiação, pois é considerada como família, pelo artigo 226, § 4º da Constituição Federal, “entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”, passa não só a reco- nhecer a existência das famílias monoparentais ou unilinear. Artigo 226 da Constituição Federal de 1988, in verbis: Art. 226. A família, base da sociedade tem es- pecial proteção do Estado. § 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração; § 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei; § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhe- cida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento); § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes; § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher; § 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos; § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010); § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propi- ciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. Regulamento; § 8º - O Estado assegu- rará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Após o Código Civil de 1916, ocorre uma gradual evo- lução nos costumes, determinando o fim da estabilidade do casamento, e marca o início do poder familiar da mulher. A Carta Magna de 1988 traz inovação no Direito de Família no Brasil, e marca o chamado histórico temporal, que tem início a essa nova visão do casamento e das famílias. O legislador introduziu o conceito de União Estável, entre homem e mulher como forma de reduzir as distinções, preconceitos e desigualdades que existiam no Direito de Fa- mília Brasileiro. Anteriormente o desquite era de cinco anos e através do divórcio direto, foi reduzido para dois anos, im- pedindo assim qualquer discriminação na origem dos filhos. A Carta Magna de 1988, no artigo 227, § 6º, concedeu os mesmos direitos e qualificações aos filhos havidos ou não do matrimônio ou por adoção e também proibiu qualquer tipo
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