Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
, SUMARIO PREFÁCIO , ix INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 1 1 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A GAGUEIRA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 5 2 APRENDiZAGEM ············ 9 3 ATITUDES NECESSÁRIAS PARA ENFRENTAR O PROBLEMA DA GAGUEIRA 11 4 A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA 15 5 AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR SUA MANEIRA DE FALAR 23 6 AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR A TENSÃO AO FALAR 29 7 EXERCíCIOS PARA TREINAR A DIADOCOCINESIA : 33 Exercícios Articulatórios Utilizando a Língua 35 Exercícios Articulatórios Utilizando os Lábios 36 8 COLOCAÇÃO DA VOZ 37 Exercícios de Colocação da Voz 37 Exercícios de Relaxamento 38 Exercícios de Respiração 39 Exercícios para Controle Fonorrespiratório 40 Exercícios para a Pontuação e Pausa Visando ao Controle . Fonorrespiratório, , 45 Exercícios para Melhorar a Qualidade Vocal 47 Exercícios para Obter Vibração das Pregas Vocais 49 Exercícios para a Emissão Suave da Sonorização Inicial 49 Exercícios Usando as Inflexões ' 51 9 MODIFICAÇÃO DA FALA 55 Exercícios de Modificação da Fala e da Sensibilidade 55 Exercícios Usando o Cancelamento 57 vii -, viii SUMÁRIO Exercícios para Evitar o Esforço 64 Exercícios Usando o Bocejo 65 Exercícios de Pular de Voz Fraca para Voz Forte. . . . . . . . . . . . . . .. 70 Exercíciospara Trabalhar as SílabasPresae Solta " 72 Exercícios para Aprender a Controlar a Repetição. . . . . . . . . . . . .. 76 Exercícios para Suavizar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 79 Exercícios para Ensinar a Empurrar o Som : " 82 Exercícios de Soprar as Palavras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 85 Exercício de Trocar o Bloqueio pelo Prolongamento ou o Contato Suave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . .. 88 Exercícios de Ligamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 90 Exercícios de Fraseamento " 94 10 FLEXIBILIDADE DE FALA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • .. 99 Exercícios de Flexibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 99 Exercícios de Flexibilidade com Trava-Línguas 100 11 EXERCíCIOS COM RITMO 101 12 Exercícios de Linguagem 107 Linguagem Automática 115 Jogos de Diálogos 117 13 TEXTOS PARA LEITURA .............................•..... 121 14 JOGOS DE CORRIDA PARA A FLUÊNCIA 129 15 ACONSELHAMENTO AOS PAIS 135 Como os Pais Podem Ajudar 136 BIBLIOGRAFIA .....................•................... 141 I ANEXOS .............•...•....... .' 143 -INTRODUÇAO Ações preventivas na área dos distúrbios da comunicação têm por objetivoevitar que as alterações da fala e da linguagem se prolonguem no tempo, tornando-se mais severas e difíceis de serem manipuladas. Essasações visam, também, prevenir as consequências emocionais dos distúrbios da comunica- ção, melhorando a qualidade de vida do sujeito. Sobretudo na área do trata- mento precoce da gagueira as dificuldades são contundentes. A gagueira da criança está apenas começando a se desenvolver. A sua autoestima está se organizando, sua personalidade está sendo moldada pelo meio de acordo com os seus sucessos e fracassos. Todos sabem das alterações emocionais e de per- sonalidade que a gagueira forçosamente traz. Falar gaguejando altera a visão do mundo e a maneira de interagir com este mundo. Na criança essas altera- ções ainda são superficiais e não chegam nem aos pés das encontradas nas pes- soas adultas que gaguejam. Para ilustrar o que falamos sobre as consequências da gagueira, será reproduzido a seguir o depoimento de um membro do Proje- to Nacional de Gagueira do Estado de São Francisco, nos Estados Unidos (1991), falando de suas recordações com a gagueira em sua infância: "O que para as outras crianças constituía uma tarefa fácil (dizer como foi o dia), para mim era uma experiência traumatizante. Eu era incapaz de me exprimir livremente, pois eu lutava com as palavras. Na escola eu tinha medo de fazer perguntas ao professor. O simples fato de res- ponder "presente" na hora da chamada era um martírio para mim. As crianças me gozavam o tempo todo. Em casa eu era incapaz de pedir o que desejava. No final eu aceitava uma laranja quando eu queria uma banana, isto porque os meus pais não tinham paciência de esperar eu completar as frases. Nas lanchonetes eu pedia aos outros para fazer o pedido para mim. Estes comportamentos só faziam ampliar as inquietudes sobre minha maneira de ser e de falar. Eu me perguntava se tinha coisas inteligentes a dizer, se era capaz de falar por mim mesmo, se seria possível exprimir minha personalidade como todo mundo?" 1 2 INTRODUÇÃO Que a gagueira começa na infância não temos mais nenhuma dúvida. Então é nesta infância que a gagueira deve ser batalhada e banida. Fazendo o tratamento precoce, iremos melhorar não só a qualidade de vida das crianças que gaguejam, como também aliviar os pais de suas preocupações quanto ao futuro de seus filhos. Escrevemos este livro tendo em mente a prevenção da gagueira. Ele irá se ocupar, sobretudo, da intervenção terapêutica precoce necessária para evitar que o problema cresça e evolua. Escrevemos este livro depois de observarmos que os terapeutas e os fonoaudiólogos, que lidam com a gagueira, ficam, mui- tas vezes, confusos e meio paralisados sem saber como enfocar o distúrbio. É possível que muitos pensem: "Mas ele é muito pequeno, como vou tratar esse problema. Será que vai passar com o tempo? Não será melhor esperar? Como abordar o assunto se a criança não tem consciência da gagueira? Como deve ser este tratamento?" Não temos dúvida nenhuma sobre a necessidade e a importância do tratamento precoce. Uma vez que a gagueira seja identificada, ela deve ser logo tratada, sobretudo no seu aparecimento, isto é, com crianças em torno de 2 e 6 anos. Para alcançar nosso objetivo, haverá uma parte explicativa de como é a gagueira, como identificá-Ia e as ajudas que são necessárias desde o início. Nos- sa ideia com esse livro é que ele possa dar algum tipo de ajuda para os terapeu- tas e pais, evitando que a gagueira tome proporções mais severas, prolongando o tempo de tratamento. Existem estatísticas que indicam que 90% das gaguei- ras tratadas precocemente evoluem para um bom prognóstico de recuperação. Nossos exercícios são essencialmente lúdicos e foram desenvolvidos ou selecionados com o objetivo de dar subsídios aos terapeutas no tratamento de crianças com menos de 7 anos, assim como os maiores entre 8 e 12 anos. Nes- sa última faixa etária introduzimos variações mais apropriadas. Os exercícios podem ser adaptados tanto para adultos com gagueira, como para aqueles com pouca fluência. Usando as ideias sugeridas nos exercícios com as crianças, o terapeuta poderá variar o tempo, a quantidade e o material empregado nos mesmos de acordo com as necessidades individuais da faixa etária. Com as crianças de, até, 7 anos, além de confeccioná-Ios, o terapeuta po- derá fazer uso de vários materiais didáticos e lúdicos, para que o tratamento seja mais dinâmico e desperte o interesse da criança/paciente. Existe uma gama muito grande de jogos infantis que podem ser utilizados, como, por exemplo: dominós ou jogos da memória, jogos de sílabas, palavras e figuras, letras ou sílabas emborrachadas ou de madeira; fichários evocativos, figuras de livros, blocos lógicos, fichas de jogos coloridas, enfim, uma série de ideias que podem ser adaptadas no dia a dia da sessão terapêutica. O importante, quan- INTRODUÇÃO 3 do trabalhamos com crianças, é sermos criativos. Todas as figuras foram retira- das do c!ipart do Windows e algumas delas, utilizadas em determinados exercí- cios, estão ou serão disponibilizadas no anexo do livro. Nos capítulos finais deste livro serão colocados os conselhos e os cuidados que os pais de crianças que gaguejam podem e devem ter. Paisnão são os me- lhores terapeutas. Haverá sempre um envolvimento emocional, uma preocu- pação embutida que irá Ihes impedir de agir com serenidade. Alguns exercí- cios,no entanto, podem ser executados pelos pais, desde que orientados pelo terapeuta. No último capítulo serão passadas algumas orientações aos pais de como agir para ajudar o filho a falar melhor . ., / , \ ~ Capítulo t INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A GAGUEIRA AgagUeira atinge cerca de 70 milhões de pessoas no mundo e representacerca de 1% da população infantil. Por centenas de anos as causas da gagueira têm permanecido um mistério. O fato de o ar ficar preso na garganta, e a pessoa não conseguir falar ou, então, ficar repetindo a sílaba ou a palavra várias vezes, sem conseguir levar adiante o discurso, pode ser considerado como sendo uma disfunção anatõmica neurológica. O que se observa naqueles que gaguejam é que as pregas vocais se fecham e bloqueiam a passagem do ar, impedindo a fonação. Pode acontecer também de os lábios ficarem tensos e colados numa posição fixa, ou a língua encostar firmemente nos alvéolos, não permitindo que haja a vocalização da palavra. A impressão que se tem, nessas circunstâncias, é que as estruturas cerebrais responsáveis pela tarefa de avisar que está havendo o término de um som ou de uma sílaba e que o falante deve começar imediatamente a falar o próximo som não estão sendo executadas com eficiência. A consequência imediata é o falante ficar bloqueado, sem ação, impedido de continuar com seu discurso. Nessas circunstâncias pode-se pensar que exista uma estrutura cerebral que não esteja enviando aos articuladores a ordem para passar ao próximo som. Também pode ser o caso de se pensar que o comando cerebral esteja sendo enviado com atraso ou com alterações, o que nos explica a eficiência em se conseguir fluência nas seguintes situações: • Falando ao mesmo tempo em que outra pessoa fala. • Falando, mas recebendo o feedbackdo quefalou com um tempo de atraso. • Falando, mas recebendo o feedback em outra frequência. • Cantando. • Falar modificando seu tom de voz habitual, ou a maneira de articular as pala- vras. " 5 Em todas as situações anteriores a fala é impulsionada por um fator exter- no: um som, um ritmo, a voz de outra pessoa, um modo de falar diferente. Estudos muito recentes indicam a possibilidade de se identificarem muta- ções genéticas específicas como causas potenciais do distúrbio motor da gaguei- ra. Se for confirmada esta hipótese haverá, então, uma imensa possibilidade de tratamento utilizando células-tronco para alterar as estruturas de comando. Embora a manifestação da gagueira envolva principalmente características motoras, como vimos no parágrafo anterior, a causa da gagueira pode não estar relacionada, exclusivamente, com deficiências do sistema motor. Sabe- mos que a frequência da gagueira aumenta sob a influência de determinados fatores linguísticos, como a complexidade sintática e o tamanho do enuncia- do, e diminui sob a influência de mudanças na percepção, como o mascara- mento auditivo e o feedback auditivo alterado. Há estudos que apontam para o fato de existirem irregularidades mínimas nas atividades elétricas e uma insuficiência sanguínea em certas regiões do cérebro. Estudos do século passado afirmavam que a gagueira estaria associa- da à interferência de um hemisfério cerebral sobre o outro. Estudos mais recentes ainda falam de alterações na gagueira conseguidas pela ingestão de remédios que produzem modificação no metabolismo. A crença de que a gagueira seja desencadeada por alterações emocionais são alguns dos mitos que trazem confusão e até mesmo atrapalham o seu tra- tamento. Nos estudos psicológicos não existem conclusões científicas satisfa- tórias. Fala-seem emoções, mas não se explica que o medo de falar, a ansieda- de ao falar e o estresse provocado pela cobrança do meio, principais emoções relacionadas com a gagueira sejam sua causa principal. A emoção parece mui- to mais ser a consequência do impedimento para falar. A gagueira sempre começa na infância, então volta-se a colocar o famoso axioma: o que começou primeiro? A emoção; o medo de falar, a ansiedade ao falar ou a gagueira? Pro- pomos para reflexão: a criança fica com medo de falar e por causa disso fala gaguejando, ou por ter uma gagueira ela fica com medo de falar? O que en- trou primeiro no circuito: a gagueira ou a emoção? Até este ponto dos estudos, como vimos, nenhuma explicação cientifica é clara e contundente o suficiente para explicar as causas e a natureza da gaguei- ra. Diante das controvérsias atuais e das já ultrapassadas, a tendência mais pragmática no momento é lidar diretamente com o ato de gaguejar e as suas consequências. É procurar introduzir alterações nas estruturas responsáveis pelo ato motor; seja nos lábios, na língua ou nas pregas vocais. Há também a necessidade de se reconstituir a fisiologia dos mecanismos executores envolvi- dos na fala. A gagueira não pode mais ser vista apenas como um distúrbio iso- 6 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A GAGUEIRA INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A GAGUEIRA 7 'I lado do sistema nervoso central, do funcionamento do aparato vocal em uso ou das influências comportamentais e emocionais do meio ambiente. O enfo- que mais objetivo no tratamento fonoaudiológico seria caminhar no sentido de idealizar exercícios e métodos de tratamento em que se tenha em mente o ato de falar. O fato de a gagueira acontecer mais na presença de outras pesso- as nos indica ser possível controlar a fala do indivíduo que gagueja por um pro- cesso de autocontrole voluntário das tensões física e' psíquica. A orientação, a interação e a discussão em conjunto com um profissional fonoaudiólogo tor- nam esse controle viável. É como se uma maneira de falar tivesse sido apren- dida em alguma época da vida, tivesse se desenvolvido sem o indivíduo perce- ber, culminando em um estágio incontrolável. Volta-se a falar que a gagueira começa na infância. Uma observação detalhada mostra que a criança alterna fluência com disfluência. Quem gagueja sabe, então, falar fluente, e se a pes- soa não nasceu gaguejando e, com certeza, ela não nasceu assim, o que a pes- soa que gagueja precisa é de orientação. Ela precisa de uma terapia de contro- le para aprender a falar fluentemente. Capítulo 2 APRENDIZAGEM Aaprendizagem é o processo pelo qual o comportamento é modificado pelaexperiência, o que implica na aquisição de uma resposta inteiramente dife- rente da anterior. A maneira como as pessoas adquirem certos comportamentos verbais há muito vem intrigando os teóricos da comunicação humana. De início, os estudos sobre a aprendizagem foram realizados apenas por psicólogos, mas outras ciências passaram a incorporar esses conhecimentos, e uma dessas foi a Fonoaudiologia. Podemos dizer que existem dois aspectos envolvidos no ato de falar: o comporta mental e o cognitivo. Assumindo esse ponto de vista, a gagueira po- de ser vista como um distúrbio do comportamento, ou seja, uma maneira de falar adotada e pode também ser analisada pela cognição envolvida, o que sente e o que move o indivíduo para falar daquela maneira. Pode-se levantar a hipótese de a gagueira ter sido aprendida por condicio- namento clássico de Pavlov. Neste caso, a gagueira pode ser analisada como uma resposta que foi associada a um estímulo. Da mesma maneira que o cão de Pavlov saliva quando escuta o sino, falar é associado a: tensão - inseguran- ça - medo. A gagueira seria, então, aprendida por uma associação existente entre a exigência dos pais na hora que a criança começa a falar e o ato de falar. Por um mecanismo de associação a criança se condiciona e aprende a dar uma resposta específica: gaguejar sempre que for falar algo importante. Ela até pode não querer mais falar daquela maneira, mas não consegue, aprendeu assim, está condicionada. No tratamento ela terá de aprender a falar de outra maneira. Ela terá que readquirir confiança na sua maneira de falar mediante orientações aos pais e no trabalho de modificações da fala feito no consultório com o fonoaudiólogo. Existe também a hipótese de a gagueira ter sido aprendida por condiciona- mento operante de Skinner. Este esquema será a existênciade um estímulo <-• 9 10 APRENDIZAGEM para falar, em que há um reforço positivo ou negativo, dado pelo ambiente, aumentando ou diminuindo o comportamento. O reforço negativo, como chamar a atenção da criança na hora em que ela fala, ou pedindo para ela repetir, ou dizendo para ela falar mais devagar, poderá ter dupla consequência. As frases ditas pelos pais ou pelo ambiente podem entrar na compreensão da criança como um alerta ou uma crítica. Podem servir de alerta quando a crian- ça interpreta que há a necessidade de mudar sua maneira de falar. Nesse caso a própria criança busca fazer alterações na sua fala. Por outro lado, as frases podem ser interpretadas como uma crítica do tipo: "Você não está falando bem, não aceito essa sua maneira de falar". Nesse caso, a criança fica insegura e faz esforço para falar de modo diferente. Esforço significa tensão, que pro- duz hesitações, repetições e prolongamentos. Existe ainda a possibilidade de as frases ditas pelos pais ou pelo ambiente serem interpretadas pela criança como válidas ou positivas. Assim, elas irão indicar que os pais ou as pessoas estão prestando atenção na sua fala. A criança pode ser carente e que esteja necessitando de atenção. O comportamento aqui será mantido. A criança aprende a manter o comportamento de gaguejar para conseguir atenção do ambiente ou de ser superprotegida pelos pais. No tratamento será utilizado o inverso do reforço dado pelo ambiente. O fonoaudiólogo irá dar recompensas verbais por toda frase ou discurso fluente, mas poderá também punir todo o momento de gagueira, pedindo à criança para cancelar a fala e recomeçar a falar de outra maneira. Poderá ser ensinado a ela um ritmo de fala diferente, que, se reforçado pelo terapeuta e pelos pais, tem todas as chances de ser aprendido de maneira diferente. O método de lidar com a gagueira como um comportamento aprendido tem a vantagem de não se ater à causa ou causas da gagueira. Não há polêmicas em torno deste assunto. Já que não se sabe a causa, o terapeuta irá tratar diretamente do pro- blema de um modo objetivo: eliminar o sintoma. As técnicas de modificação da fala podem ser resumidas em etapas que serão elaboradas por meio de determinados exercícios utilizados no tratamen- to da gagueira ao longo deste livro. Apesar de os exercícios descritos aqui terem sido utilizados mais com crianças do que com adultos, não impede que eles possam ser empregados nos adultos. Com bom-senso e modificações apropriadas a um adulto, e sempre tendo em mente a filosofia comportamen- tal ou de modificação da maneira de falar, os exercícios podem ser aplicados em adolescentes e adultos. Capítulo 3 .; ATITUDES NECESSARIAS PARA ENFRENTAR O PROBLEMA DA GAGUEIRA • Aquele que gagueja não deve se considerar uma pessoa gaga e mais nada. A gagueira é algo que a pessoa faz e não o que ela é. A gagueira é uma par- te da pessoa e não a personalidade toda. • Resolver os problemas da gagueira exige tempo e esforço. Não há milagres nem processos rápidos que realmente funcionem quando se está reapren- dendo uma nova maneira de falar. • "Falar fluentemente" significa falar sem colocar força nem tensão nos órgãos responsáveis pela fala (respiração, fonação, articulação). O objetivo é retirar a tensão das estruturas responsáveis pelo ato de falar. • Ninguém deve ter vergonha de ser gago. Pode acontecer com qualquer um. A pessoa, nem ninguém têm culpa de isso acontecer. • Não se deve ter sentimentos de que a gagueira pode impedir a pessoa de ser o que gostaria de ser.Temos o direito de ser percebido com as qualidades que temos e com os defeitos também. A gagueira não é um defeito nem uma qualidade, é um aspecto da comunicação. ~ 1 Existe certa crença de que a gagueira não tem cura. Se gaguejar é a inter- rupção do fluir do discurso e se a pessoa que gagueja passa a não ter mais inter- rupções no seu discurso, podemos dizer que ela não gagueja mais. Ela passou a falar de outra maneira. Nesse caso, ela não pode mais ser considerada uma pes- soa que gagueja. É preciso ter em mente que todos somos disfluentes, a gaguei- ra. então, é uma questão da quantidade e da qualidade no modo de falar. Foi falado anteriormente que as causas da gagueira são complexas e ain- da questionáveis. Também já se falou que talvez a emoção seja muito mais 11 12 ATITUDES NECESSÁRIAS PARA ENFRENTAR O PROBLEMA DA GAGUEIRA consequência do que causa. O que se sabe, até o momento, é que as emo- ções são provocadas por críticas, humilhações, medos ou traumas, e elas pio- ram o quadro da gagueira. A criança, quando é censurada pelo adulto, perce- be que ele se sente insatisfeito com seu modo falar. Na maioria das vezes, o problema inicia gradualmente, sem que haja algum episódio traumático. A criança terá de saber lidar com a tensão e a ansiedade que surgem destas crí- ticas. A insegurança e o medo de serem engraçados ou motivo de piadas, de sofrer Bul/yíng* na escola, trazem tanta tensão que as consequências são desastrosas: a disfluência se agrava, a criança se isola e seu rendimento esco- lar ou social, muitas vezes, é prejudicado. Quase todas as crianças que ga- guejam apresentam sentimentos negativos relacionados com a sua fala dis- fluente, contudo a capacidade para administrar esses sentimentos depende da personalidade da criança e, também, do tipo de apoio que lhe é dado. A criança pode sentir vergonha por ser diferente das outras, frustração por ser incapaz de comunicar-se de formas clara e eficiente. Pode até se sentir culpa- da por sua condição mais limitada na fala, tanto pessoal, como socialmente. A sua ansiedade poderá ser alta com relação a sua comunicação, o que po- derá deixá-Ia mais deprimida. Assim passará a se comunicar cada vez menos com os outros. Estas crianças poderão vir a desenvolver uma baixa autoesti- ma, sentindo-se muito inferior e diferente dos seus colegas e amigos, o que poderá provocar seu isolamento nos grupos e ou nas brincadeiras. Seu rendi- mento escolar também poderá ser comprometido. É essencial o apoio dos pais, professores e fonoaudiólogos para que a cri- ança resgate a sua autoestima. Todos devem ter paciência e evitar interromper a criança ou chamar sua atenção. Os pais não devem demonstrar que se sen- tem muito preocupados com as dificuldades de comunicação do seu filho. Se os erros de fala forem muito frisados, a criança começa a dar muita importân- cia à sua maneira de falar e acaba ficando com medo até de abrir a boca. A cri- ança muito pequena se importa com o que quer falar e não de como fazer isso. E como não percebe se está expressando-se de maneira correta, não se sente rotulada e, então, não para de conversar. A criança é espontânea, e a fala é automática. Mas se tentarem adivinhar o que ela tem a dizer, interrom- per para ajudar a terminar as palavras, ou mesmo completar suas frases, isto a deixará ainda mais frustrada. Os pais não devem ser superprotetores, mas tam- bém, não devem expor a criança a situações que Ihes provoquem ansiedade. É *Bul/ying é um comportamento consciente, intencional, deliberado, hostil e repetido de uma ou mais pessoas, cuja intenção é ferir os outros. O Bul/ying pode assumir várias formas e incluir diferentes comportamentos que, no caso dos gagos, seria: violência, gozações verbais, apelidos e insultos e exclusão do grupo de colegas. ATITUDES NECESSÁRIAS PARA ENFRENTAR O PROBLEMA DA GAGUEIRA 13 até possível que o problema não se agrave e acabe com o tempo, porém a bai- xa autoestima, a insegurança e a dificuldade nos relacionamentos social e afe- tivo podem permanecer. É muito importante saber agir para não cristalizar o problema. Fingir que o problema não existe também não resolve. É importante que pais e professores enfatizem, também, as melhoras, pois isso fará diferen- ça na questão da autoestima e capacidade de realização da criança. Em geral, por falta de conhecimento, os pais ou os familiares apresentam fortes tendências a ter opiniões não muito favoráveis com relação à criança ou adolescente que gagueja. Os adultos os veemcomo nervosos, irritados, infan- tis, teimosos, com complexo de inferioridade e dificuldade de ser sociável. E acabam acreditando que a gagueira ocorre em razão desses traços de perso- nalidade. É importante dizer que essas opiniões não causam a gagueira do fi- lho, mas contribuem para piorar sua gagueira e podem trazer consequências emocionais. Neste caso, o ambiente familiar também poderá ser propício à gagueira. Podemos citar como exemplo o relato de uma paciente de 11 anos que comentou quando começou a terapia que desde pequenininha seus tios maternos a chamam de gaguinha. "Oi gaguinha", "fala gaguinha" ... e isto sempre a incomodou. Só veio começar terapia quando a gagueira já estava bem fixada com tudo o que tem direito, prejudicando-a enomermente . Deve-se agir naturalmente com a criança gaga, respeitar e incentivar quem convive a fazer o mesmo. A criança precisa ser aceita para sentir-se mais à von- tade em se comunicar. Manter contato visual, isto é olhar sempre nos olhos da criança e manter o contato físico, como segurar a mão da criança, servem para mostrar o apoio. Também é importante demonstrar que está interessada em ouvi-Ia. A criança, ou mesmo o adolescente, precisa sentir que não estão sozi- nhos nessa dificuldade. Nos momentos em que á frequência da gagueira aumenta, deve-se proporcionar à criança situações em que a sua fluência pos- sa aparecer, como cantar músicas, dizer falas automatizadas (como os núme- ros, os dias da semana etc.), brincar de falar rimas e versinhos. Evitar leituras em voz alta ou muita conversa nesse momento. Quando as crianças melhoram sua fluência, elas se sentem mais seguras e melhoram a socialização. Por tudo que foi relatado anteriormente é necessário que o terapeuta ori- ente os pais, (ver Capítulo 15), os familiares e também os professores a apren- derem a lidar com este problema que tanto angustia as crianças que gague- jam. Muito importante que este trabalho seje precoce, para que não haja sequelas futuras. Percebemos que a maneira de a criança ser dependerá das relações entre o meio sociocultural, com seus valores e significados, seu psi- quismo e seu organismo. ..• Capítulo 4 " -A IDENTIFICAÇAO DA GAGUEIRA Uma boa definição da fluência seria: "Fluir de sons, sílabas, palavras e frasesditas sem interrupções e que o ouvinte leigo classifica como normal". Se a definição de fluência for positiva (a fluência é...),em contra partida a definição da gagueira envolve parâmetros negativos, ou seja, "gagueira é a ausência da fluên- cia, que o ouvinte leigo classifica como anormal." Esta definição implica que o conceito de fluência envolve um julgamento subjetivo, isto é, de acordo com os parâmetros do ouvinte, o que vem explicar a distinção feita na definição entre lei- gos e outro tipo de ouvintes. Em geral, os profissionais têm o ouvido habituado a escutar e a classificar o que é gagueira e o que não é, e os leigos não possuem esta experiência. Deveria existir uma máquina que pudesse indicar com precisão se as sílabas, palavras e sentenças faladas por alguém devem ser consideradas como gagueira ou como fluência. Mas infelizmente tal máquina não existe ou ainda não foi inventada e teremos de depender do julgamento do ouvinte, seja ele apto ou não. Com esta ideia em mente iremos descrever para podermos clas- sificar o que é considerado uma disfluência no fluir do discurso. • Repetição: a repetição pode acontecer uma, duas ou cinco vezes (quantida- de) e pode ser de sílabas, de palavras ou de frases (qualidade). Ao conside- rarmos, no entanto, a repetição de uma palavra que tenha apenas uma síla- ba, fica-se em dúvida se está havendo uma repetição de sílaba ou de palavra, por isso decidimos considerar o termo repetição no seu sentido mais amplo; ou seja, toda vez que uma palavra ou sílaba for repetida, isso é contado como uma quebra de fluência. A repetição de frase (duas ou mais palavras juntas) é analisada de forma diferente, ou seja, cada frase repetida é conta- da como uma disfluência. • Pausa: é o intervalo colocado de forma inapropriada no decorrer do discur- so. Consideramos como pausa normal toda a interrupção feita no final de 15 16 A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA uma frase proposicional, e pausa anormal toda a interrupção feita no meio da frase ou da palavra. • Prolongamento: é o alongamento vocálico ou silábico que tenha duração inapropriada; isto é, todo o som que é prolongado além do permitido pelas leis da fonética. • Interjeição: é a inserção de sons, de palavras ou de frases curtas. A interjei- ção pode ser de sons como jahj, jhumj, jehj etc., de palavras como: jbemj, jnéj, jtáj, jaíj etc. ou de frases como: jdeixa verj, jcomo éj, jentendeuj, jtipo assimj etc. As interjeições são sons que enchem a pausa, pois constituem um intervalo temporal no fluxo do discurso. A interjeição pode ser colocada de forma apropriada ou não e pode ter uma frequência aceitável ou não. A inserção exagerada de interjeições passa ao ouvinte a impressão de que pode estar havendo uma certa dificuldade em seguir adi- ante com o discurso o que é logo associada ao termo gagueira. • Bloqueio: é a interrupção brusca de uma palavra que vem acompanhada de algum esforço vocal ou mesmo corporal. O bloqueio só é considerado como tal quando ocorre no meio ou no início da palavra e não quando ele acontece entre uma palavra e outra, já que, nessecaso, ele pode acontecer por ter havi- do um "engasgo ocasional". Os pais, em geral, costumam ser tolerantes com alguns aspectos do desen- volvimento da criança. Se o filho não anda com 1 ano ou não come sozinho com 2 anos ou não aprende o controle dos esfíncteres com 3 anos, os pais não classificam logo seus filhos como paralíticos, retardados ou psicóticos. Em com- pensação se a criança começa a falar com "disfluências" ocasionais, eles se pre- cipitam a colocar um rótulo "É GAGO" e correm ao pediatra ou ao psicólogo queixando-se da "doença da fala". O que se está querendo dizer é que os pais precisam ser esclarecidos devidamente para o fato de que até aprender a falar a criança passará pelas mesmas dificuldades pelas quais passou para aprender a comer, a andar e a usar o vaso. É um aprendizado e como tudo que se aprende irá requerer práticas de ensaio e erro até o domínio total da técnica. Seexiste uma dificuldade para diferenciar gagueira da disfluência típica da ida- de não quer dizer que não podemos fazer distinções entre o que é próprio do desenvolvimento da linguagem e o que já é algo instalado. Os estudos feitos até o momento mostram que é normal a criança repetir sílabas, palavrase frases, é nor- maio prolongamento de sons, e são normais as pausas no discurso, mas estudos indicam também que existem diferenciações de quantidade e qualidade. Vários estudos já foram feitos no sentido de determinar qual é a quantida- de de disfluência normalmente encontrada nas crianças na fase de aquisição A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA 17 -\ - da linguagem, ou o que pode ser aceito como normal na faixa etária de 2 a 6 anos. Iremos a seguir citar duas pesquisas. Em 1959, Wendel Johnson e associados, na Universidade de Minessota, procurou achar a média de disfluências em 100 palavras de 68 meninos e 23 meninas. As idades variavam entre 2 anos e meio a 8 anos. As crianças com gagueira foram pareadas com crianças sem gagueira, da mesma idade, sexoe status socioeconômico. Foram analisadas 500 palavras com oito tipos de disfluências: • Interjeições. • Repetição de sílabas, de palavras e de frases. • Frases incompletas. • Sons prolongados. • Revisões da frase ou frases incompletas. • Palavras partidas. Os resultados encontrados estão relacionados a seguir:'r~ Tipo de disfluência % de gagos % de não gagos 1. Interjeições 3,62 3,13 2. Repetição de sílabas 5,44 0,61 3. Repetição de palavras 4,28 1,07 4. Repetição de frases 1,14 0,61 5. Revisões 1,30 1,43 6. Frases incompletas 0,34 0,23 7. Palavras partidas 0,12 , 0,04 8. Sons prolongados 1,67 0,16 9. Total de disfluências 17,9% 7,3% A conclusão de Johnson foi de que as criançascom gagueira excedem na frequência as crianças fluentes, na maior parte das disfluências pesquisadas. Não foi encontrada diferença significativa em alguns itens, como interjeições, revisões das frases e palavras partidas, o que, provavelmente, são parâmetros da fluência encontrados em crianças tanto fluentes como nas que já gaguejam (Fig. 4-1). Em 2003, Regina Jakubovicz fez uma pesquisa com o objetivo de determi- nar qual a variação da porcentagem de disfluências encontradas, em duas faixas etárias diferentes em crianças consideradas "fluentes". Para tanto, os pais res- ponderam a um questionário indicando se seus filhos podiam ser classificados como gagos. Diante da negativa dos pais a criança era selecionada para a pes- 18 A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA 10 • Crianças comgagueira 5 20 15 oCrianças sem gagueira o r - 1/. -=Vi - I(,.---y i - 1/, W e, ..., C. W--U i - 1/( 1 2 3 4 5 6 7 8 total Fig. 4-1. Gráfico com os percentuais encontrados por Wendel Johnson (1959). quisa. Essecritério foi aceito por se acreditar que dificilmente os pais colocam rótulos negativos em seus filhos sem ter um motivo muito forte para isso. A pesquisa foi feita com 30 crianças de 3/4 anos e 30 crianças de 7/8 anos, num total de 60 crianças. Todas deviam contar a história do Chapeuzinho Ver- melho. O discurso das crianças foi gravado e transcrito para análise. Participaram da pesquisa, tanto em um como em outro grupo, crianças de uma escola parti- cular da cidade do Rio de Janeiro. Todas tinham o mesmo nível social e econômi- co, e a escolha foi aleatória quanto ao sexo masculino ou feminino. Foram reco- lhidas para análise apenas 100 palavras ditas de cada criança nas 2 faixas etárias. Os resultados encontrados estão relacionados a seguir: / Média de idade: 3,7 - 30 casos Média de idade: 7,3 - 30 casos Repetição de sílabas: 0,5% Repetição de palavras: 2,7% Repetição de frases: 1,3% Frases incompletas: 2,6% Interjeição (aí): 8,2% Bloqueios: 0,0% Repetição de sílabas: 0,6% Repetição de palavras: 2,3% Repetição de frases: 0,9% Frases incompletas: 1,8% Interjeição (aí): 6,5% Bloqueios: 0,0% [ Total 15,3% Total 12,1% A análise do quadro indica que as disfluências são comuns tanto aos 3/4 anos como aos 7/8 anos. A interjeição colocada no discurso (aí) é a disfluência mais evidente no discurso: 8,2% com 3/4 anos e 6,5% com 7/8 anos. A inter- jeição e as frases incompletas são as quebras de fluência que mais apresentam uma real diminuição de 7 para 4 anos. Não foram encontrados bloqueios nas 2 idades pesquisadas. A pesquisa sugere que a disfluência na criança diminui de A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA 19 modo gradual ao longo do tempo. Possivelmente isto acontece pelo fato de haver um amadurecimento da linguagem à medida que a criança interage com o meio, passando, então, a aprimorar seu uso. Isso explica, também, a di- minuição das repetições de sílabas, palavras e frases. O fato de haver menos frases abortadas ou interrompidas e a diminuição do emprego das interjeições do tipo "aí" indica não haver mais necessidade de interromper uma frase por não ter ideias ou vocabulário, nem de preencher as pausas com as interjeições. O discurso passou a fluir com mais facilidade (Fig. 4-2). ~:l • 121~t_ 6 4 ~-------------------------------4 2 o I -=--= I • 3/4 anos O 6/7 anos rep. SíI rep. PaI. rep. Fras fras. Abor interj. total Fig.4-2. Gráfico com os resultados da pesquisa de Jakubovicz R. (2003). Essesdois estudos e mais outros, não mencionados, mostram que, quan- do se fala em disfluência patológica ou gagueira já instalada, a referência é a de repetições de sílabas, palavras e frases, prolongamento de sons e bloqueios de ar, que são feitos em quase todas as situações de fala, permanecem assim por mais tempo e acontece em mais de 10 a 15% das palavras ditas. Pode acontecer, no entanto, de a criança demonstrar que quer falar, mas não conse- / gue, exibindo sinais de luta e esforço para conseguir se expressar. Da mesma maneira quando a criança faz careta ou envolve outras partes do corpo para conseguir falar, podemos dizer que estamos diante de características que não são encontradas normalmente nas crianças em idade de amadurecer a lingua- gem. Em idade nenhuma as repetições, hesitações e frases incompletas que se fazem acompanhar de um esforço evidente e com movimentos no corpo e na face no momento de falar, é característica do início de aprendizagem da lin- guagem. O esforço físico na comunicação indica que está havendo um bloque- io do ar ou uma pressão exagerada nos articuladores, o que não é normal, como já foi dito anteriormente, mesmo que esteja havendo poucas disfluênci- as, isto é, tenha ocorrido em menos de 10 a 15% de disfluências. A seguir será transcrito o discurso de Juliana que tem 4 anos. Ela foi enca- minhada para uma avaliação com a seguinte pergunta dos pais: Juliana tem 20 A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA uma gagueira ou não? Durante a avaliação, foi feita uma gravação da fala de Juliana contando a história de Chapeuzinho Vermelho. O material foi transcrito e foi sublinhado tudo aquilo que pode ser considerado como uma quebra de fluência. Apenas 100 palavras foram recolhidas para análise. A mãe dela disse para ela, ~ nã não sair de casa, é ü.ill o lobo Ylviu a chapeuzinho ver- melho saindo da casa, QÍ ele queria comer chapeuzinho vermelho e QÍ ele en entrou na casa da vovó. O lobo que queria comer a chapeuzinho vermelho e comer o gato. Aí e e ela e e ela to {. cou a campainha. Aí e e ela. ele ta tava e tava .... é é é disse pra chapeuzinho vermelho fa fa falar. Perguntou, pra que esses olhos tão grandes! Pra te ver melhor. Pra que essa boca tão grande! Pra te comer ... nhoc! Aí o caçador chegou lá e deu um tiro. Aí a vovó fi ficou feliz pra sempre. Análise das disfluências do texto: Total de palavras ditas: 100 Quantidade de repetições: de sílabas: 8 de palavras: 3 Quantidade de prolongamentos: . . . . . . . . . . . . . . 2 Quantidade de interjeições (aí!): 8 Quantidade de bloqueios: . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . .. 1 Total de disfluências no discurso: 22 Obs: Total de disfluências = 22% (já que são 22 em 100 palavras ditas). Caso se deseje analisar um discurso mais longo ou mais curto é necessário fazer a porcentagem usando a regra de 3; como no exemplo a seguir: 100% = 15 X são as 160 palavras ditas pela criança, por exemplo é o numero total de disfluência no discurso desse exemplo é o total de porcentagem que se deseja saber A equação, então, ficará assim: 100 160 X 15 X = 100 x 15 160 X= 1.500 9,37 X =9,37% O total de disfluência no exemplo anterior (que não é o de Juliana) é de 9,37% e pode ser considerado dentro da normalidade, isto é abaixo de 15%. " I A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA 21 Voltando à dúvida dos pais de Juliana: Ela tem uma gagueira7 Isso vai pas- sar com o tempo 7 O percentual de disfluência de Juliana ficou em 22%, o que quer dizer que ela está muito acima da média aceitável de disfluências em cri- anças de sua faixa etária, que se situa entre 10 e 15%. Essaé a porcentagem encontrada em quase todas as pesquisas sobre a disfluência em crianças. Para que o fonoaudiólogo possa avaliar com mais precisão existem meios e medidas de se distinguir uma disfluência passageira de uma gagueira já ins- talada ou se instalando. Já temos dados que podem nos fornecer índices qua- se que 100% confiáveis do que seja uma gagueira instalada e o que seria uma disfluência passageira. Existem duas medidas que podem nos guiar: o tempo que dura a disfluência e a média de disfluência aceitável nas crianças em uma determinada faixa etária. Os estudos indicam que essa média situa-se em torno de 10 a 15 em 100 palavras ditas como vimos nos estudos anteriores. Sendo que alguns autores consideram a porcentagem de 10% uma medida muito rígida, e outros acham 15% muito benevolente. O ideal será acrescentar para o julgamento outros fatores, como: • O tempo que já dura a disfluência, (2 meses, 6 meses, 1 ano 7). • A atitude dos pais e do meio ambiente face à disfluência.• A atitude da criança com relação às críticas sobre sua fala. • Os dados gerais da anamnese com os pais. • A ansiedade dos pais com relação à disfluência da criança. • O envolvimento corporal feito pela criança durante a gravação do discurso. • A média obtida nas gravações feitas (podem ser feitas duas, três ou até cinco gravações em situações diferentes). . • A situação das gravações (se foi feita na frente dos pais, de outras pessoas ou só com o terapeuta). Uma disfluência, que se prolonga por mais de 5 a 6 meses em crianças de 3 a 6 anos ou em fase de aquisição de linguagem, deve ser investigada mais a fun- do. O comportamento de falar com disfluências pode estar solidificando-se e vai acabar se tornando um hábito aprendido ou condicionado. Uma disfluência durante um tempo tão longo deixa marcas na criança. O meio ambiente assina- la que sua fala não está boa, nem é aceitável. A criança começa a se sentir rejei- tada quando fala, fica com medo de falar, tenta evitar as disfluências e isso lhe dá o material necessário para desenvolver quatro inimigos da fluência:, I~ 1. Medo. 2. Ansiedade. 3. Esforço para falar. 4. Insegurança. i 22 A IDENTIFICAÇÃO DA GAGUEIRA o quarteto anterior é perigoso. São emoções normalmente encontradas nas pessoas adultas que gaguejam. O esforço para falar, sobretudo, carrega consigo uma enorme carga: em condições normais a fala acontece de modo automático e suave. Essaé a normalidade. Fazer esforço para falar está total- mente fora da normalidade. O medo e a ansiedade no momento de falar são emoções geralmente encontradas em falantes fluentes quando se encontram em situações de fala excitantes ou quando se expressam em assuntos importantes que os mobili- zam muito. Um estado constante de medo e de ansiedade no organismo leva este a habituar-se ou condicionar-se a sentir sempre essas duas emoções liga- das ao momento de falar. É até possível que a criança, depois de certa idade, queira abandonar o medo de falar e a ansiedade na hora de falar. Mas não consegue mais. Os dois fatores estão fortemente associados, e, possivelmente, irão acompanhá-Io por muito tempo ainda até conseguir se livrar deles. Este, pelo menos, é o depoimento dos adultos que gaguejam. A insegurança, o último pilar do quarteto, mina a personalidade, corrói a autoestima, é nocivo nas situações de fala, já que leva a pessoa a desconfiar de suas habilidades para falar ou mesmo de dizer as coisas. Capítulo 5 AJUDARA CRIANÇA A IDENTIFICAR SUA MANEIRA DE FALAR ~ Embora existam autores e mesmo fonoaudiólogos clínicos que discordem seé benéfico ou não fazer a criança tomar consciência de sua gagueira, temos a convicção de que ela é necessária, chegando até a ponto de ser indispensável. Não se pode mudar aquilo que não se conhece. Para modificar terá de haver umaconscientização de que a pessoa está falando de uma maneira X e que é necessário falar de uma maneira Y. Dizer que a criança é totalmente inconscien- te de seu modo de falar é irreal. Elase escuta o tempo todo. Os pais geralmente reclamam ou sinalizam que sua maneira de falar não agrada. Dizem que o filho deve falar de modo diferente, eles costumam dizer: "Fale mais devagar. Pensa antes de falar. Não entendi, repete o que você disse. Toma respiração antes de falar etc." Quando a criança chega, então, ao consultório do fonoaudiólogo ela já chega informada que tem algo de errado com a sua fala. A criança não sabe o que está errado no seu modo de falar e o que fazer para falar de modo diferen- te. É por esse e outros motivos que é extremamente necessário trazer a maneira de falar à consciência. Conscientizar não quer dizer colocar um rótulo do tipo: "Você é gago". Geralmente o meio ou os próprios pais já colocaram esse rótulo: chamou a fala da criança de gagueira. Mas a própria criança não sabe o que isso quer dizer. Tampouco sabe a penalidade social que o termo acarreta. Sabe apenas que a chamam de gaga. Muitas vezes, ela pode até pensar que isso, chamado de "gagueira", seja alguma doença, ou algo errado que ela esteja fazendo e que tem de ser punida, pois isso ninguém gosta. Até o momento estamos nos referindo a crianças de 2 a 4 anos, talvez, dependendo da maturidade, crianças de 5 ou 6 anos. Depois de 7 anos a lin- guagem já está organizada, já há um bom vocabulário, a parte cognitiva já .. 23 lá - pis ca - cho - rro co - po e - le - fan - te sa - pa - to bi - ci - ele - ta 24 AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR SUA MANEIRA DE FALAR evoluiu bastante, o suficiente, pelo menos, para a criança compreender que está falando de modo diferente dos colegas da escola. Nessa faixa etária já se pode trazer à consciência a maneira de falar de modo aberto e não mais vela- damente como veremos a seguir. A conscientização será feita de modo lúdico, inserido em brincadeiras. O primeiro passo será explicar o que é isso: falar gaguejando. Terapeuta: "Existem maneiras diferentes de se falar. Vamos brincar de des- cobrir como eu falo e como você fala". 1. "Tem gente que fala colocando uma palavrinha depois da outra, em vez de falar todas juntas". Terapeuta demonstra falando espaçadamente: "Agora é a sua vez. Vou colocar umas figuras na mesa e você vai falar o nome delas colocando um pedacinho depois de outro, como eu fiz". - J:Exemplo: pa-to bal-de bo-ne-ca ca-mi-nhão pa-ti-ne-te Se houver a repetição de uma sílaba ou da palavra, dizer à criança que ela não fez certo. Ela não colocou um depois de outro. Ela deve falar um pedaci- nho da palavra atrás de outro. Ela deve refazer o nome da figura. Terapeuta: "Tem gente que fala fazendo a palavra ficar comprida demais. Assim:" laaaaaaápis - cooooopo - caaaaaaachorro - eeeeeeelefante - biiiiiicieleta AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR SUA MANEIRA DE FALAR 25 "Agora é a sua vez. Vou colocar umas figuras aqui e você vai falar fazendo as palavras ficarem muito compridas, como eu fiz". tiiiiiliiigre paaaassarinho baaaaanana ~ .. s; .""" .,; , ~ coooooelho giiiiiiiiirafa Se houver a repetição de uma sílaba ou da palavra em vez do prolonga- mento, dizer à criança que ela não fez certo. Ela não fez a palavra ficar bem comprida. É o mesmo que esticar um elástico. Fazer de novo. Terapeuta: "Tem gente que fala prendendo a palavra no lábio ou no céu da boca ou na garganta. A palavra fica bloqueada e não sai, o ar fica preso. Assim": Ipl ar preso palhaço - Icl ar preso camisa - IV ar preso telefone - Irl ar preso roda "Agora é a sua vez. Vou colocar umas figuras aqui e você vai falar prenden- do a palavra como eu fiz". Exemplo: /s/Iar presolsorvete /a/lar presolabacaxi /m/lar presolmaçã Ip/lar presolpeixe Se a criança não conseguir fazer o ar preso, explicar que ela deve juntar os lábios e fazer pressão para falar o IMI de maçã, ou falar o I AI de abacaxi fe- chando a garganta. Terapeuta - "Agora quero perguntar a você. Tem cinco desenhos aqui. Eu vou falar diferente e você vai apontar em qual desses desenhos eu estou falan- do diferente. Vamos lá": 26 AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR SUA MANEIRA DE FALAR 1. W Repetindo um pedaço da palavra: jpatoj, jba ba bal-dej, jbonecaj, jca ca ca - mi - nhãoj, jpj jpjpa - ti - ne - te/. 1:• A criança deve apontar na hora que ouvir qual palavra foi falada de forma diferente. 2. )f Esticando a palavra demais, igual a uma corda: () coooooelho giiiiiiiiirafa tiiiiiiiiigre paaaassarinho baaaaanana ~~ (.~ I. (~~~ =.r=' .-' . \) 3. ~ Prendendo o ar antes de falar: jsj ar preso sorvete, jaj ar preso ~ abacaxi jmj ar preso maçã, jpj ar preso peixe. AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR SUA MANEIRA DE FALAR 27 '," Se houver falha na identificação o terapeuta pede que ela escute de novo. Semesmo assim não houver a identificação correta do desenho e da maneira de falar, o terapeuta deve explicar: "Repare bem como eu fiz a palavra bem esticada assim: jpaaaaaassarinhoj. Vê se não é este desenho aqui. Você quer experimen- tar ouvir outra vez para encontrar? Vou fazer outra vez. Giiiiiiiiiiirafa". Se for o caso colocar figuras diferentes e recomeçar a identificação.Quando esta etapa estiver bem fixada, deve-se passar à identificação da maneira de falar da própria criança. Uma prancha com as figuras é colocada na frente da criança e o terapeuta diz: Terapeuta - "Agora é a sua vez. Vou colocar as figuras na mesa. Você vai falar o nome delas e eu vou apontar qual das maneiras de falar você está usan- do. Vamos lá". Ar preso ~ Prolongamento ~Repetição ~W ~ ~ (.~ ,. (P~~ ~~ i ~ ~ o terapeuta vai apontando a fileira à medida que a criança fala. Se houver alguma dificuldade ele aponta para o cartão de ar preso ou repetição ou pro- longamento. Quando esse exercício já está fixado é útil modificar as figuras e pedir à cri- ança que veja as figuras e diga uma frase sobre ela. i 28 AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR SUA MANEIRA DE FALAR Exemplos: o macaco come banana. ~ Gosto de sorvete. Cortaram a maçã. ~ Eu tenho uma patinete. É importante não interromper a fala da criança. Ela vai continuar falando as frases sobre as figuras, e o terapeuta vai, silenciosamente, mostrando o car- tão que identifica o modo de falar. Quando o terapeuta percebe que a criança já identifica sua maneira de falar e já aprendeu que se existem maneiras dife- rentes de falar quando se quer. Está na época de passar à próxima etapa. Capítulo 6 AJUDAR A CRIANÇA A-IDENTIFICAR A TENSAO AO FALAR Tencionar é fazer um músculo ficar rígido. O músculo fica estirado como umelástico. Explicar à criança que ao tocar no músculo é possível identificar a tensão. O objetivo desta identificação é fazer a criança tomar consciência do que faz com sua musculatura. Cada pessoa que gagueja tem seu próprio local de tensão. A tensão exagerada varia também de acordo com a maneira como o som é articulado. De acordo com as leis da fonética o som pode ser um oclusivo bilabial, linguodental ou velar. A maneira de fazer o primeiro som da palavra é que direciona a tensão que vai se dar em determinada estrutura. Por exemplo, para falar PATOcolocamos tensão nos lábios, para TESOURA a língua se tencio- na no alvéolo e na palavra CABELO vai haver oclusão na garganta e assim por diante. Na fala normal essa tensão nas estruturas é imperceptível, chegando a ponto de nem percebermos que está havendo pressão muscular para falar tal fonema. Mas na gagueira não é assim. A pessoa que gagueja fica com a estru- tura da fala sendo usada, completamente, bloqueada sem conseguir passar ao próximo som. Certa vez uma pessoa com gagueira ao se ver em vídeo excla- mou: "Agora vejo o que fiz, eu colei os lábios com força. Por que eu fiz isso? Vou tentar não fazer de novo ... se eu puder!". Tudo indica, então, que não há percepção total da tensão feita e em que estrutura da articulação foi tencionada. Na criança não deve ser diferente. Ela precisa, mais do que ninguém, identificar a tensão exagerada para estar apta a mudar sua fala. Dizemos isso mais do que ninguém, porque ao trabalhar com a criança estamos fazendo prevenção, isto é, evitando que o hábito de se enri- jecer a musculatura da fala se solidifique. 29 - 30 AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR A TENSÃO AO FALAR Exercícios para relaxar a tensão: • Dizer à criança para fingir que vai levantar alguma coisa bem pesada do chão. Deixa cair em seguida. Perguntar se sente que quando fez força o cor- po fica duro e quando deixou cair ele fica bem solto. Pedir para levantar de novo. Diga se você sentiu a diferença entre ficar com o corpo duro ao levan- tar e depois para jogar fora a "dureza" do corpo quando deixar cair. Pergun- tar: "Não é bom soltar as coisas?" • Dizer: "Agora vamos levantar as palavras e depois deixá-Ias caírem. Vou mos- trar como é: ao ver a figura fale o seu nome com força, segure-a na mão bem forte e depois solte-a. Agora vamos fazer isso com outras palavras": Falar VACA prendendo bem os dentes nos lábios e segurando ao mes- mo tempo a palavra na mão com força. ~e Falar VACA, apenas encostando, os dentes nos lábios e soltando ao mesmo tempo a palavra para cima com a mão. • l AJUDAR A CRIANÇA A IDENTIFICAR A TENSÃO AO FALAR 31 Terapeuta - "Onde você colocou força para falar VACA? Foi na garganta? Foi nos lábios?" Se a criança não souber responder pedir a ela para falar de novo e colocar a mão nos lábios e na garganta para sentir onde fez a força empregada. O exercício a seguir será ver as figuras e de acordo com os dois desenhos prender e soltar. Pergunta-se sempre que estrutura ficou presa. O terapeuta deve dar o exemplo de falar preso e de falar solto: (@~C:==.>:..~P."- I"~.. '-.:.'.'tt-"mp,,~ ,'.'. 8 Terapeuta - "Mostra para mim em que lugar a palavra BOLO ficou presa. "Mostra para mim em que lugar a palavra COPO ficou presa. "Mostra para mim em que lugar a palavra TELEFONEficou presa. "Mostra para mim em que lugar a palavra RODA ficou presa. Terapeuta - "Agorg fala tudo bem solto. Jogue as palavras para o alto. Você não acha falar assim bem melhor? Não é mais divertido?" 'I 'K .. g '& Terapeuta - "Vamos brincar de jogar palavras? Eu jogo uma presa, e você uma solta. Depois eu jogo solta e você presa". O terapeuta vai falando as palavras, e a criança repete. Bola - casa - rua - teto - gato - lâmpada - caixa - livro - parede - tapete etc. Terapeuta - "Fecha os olhos com força. Faz uma careta empurrando a lín- gua no céu da boca com bastante força. Agora abre os olhos. Deixa a língua descansar. Que tal? Não foi melhor assim? Vê se consegue falar assim: com os lábios bem apertados um no outro. Tenta falar PAREDE.Você consegue? Não vai dar. Está tudo fechado, duro, tenso." l' Capítulo 7 t, , EXERCICIOS PARA TREINAR A DIADOCOCINESIA Na normalidade a fala costuma ser um processo sensório-motor que envol-ve forças ativas entre o sistema muscular e o trato vocal. A habilidade para exercer o comando muscular em sequência é primordial para se falar fluente- mente. O posicionamento dos articuladores durante a produção voluntária dos fonemas depende, em grande parte, do comando motor que vai de uma posi- ção articulatória a outra com precisão e suavidade. A capacidade de movimen- tação alternada e sequencial visa determinar a regularidade dos movimentos recíprocos da mandíbula, dos lábios e da língua. Permite-nos, também, avaliar a precisão articulatória e os suportes respiratório e fonatório. Na gagueira, como já vimos, pode-se observar que o comando motor está alterado. A pessoa que gagueja não passa d~ uma posição articulatória a outra com facilidade. Ela fica repetindo, prolongando ou bloqueando o som, não fa- zendo a passagem natural nas estruturas articulatórias. A palavra cinesia vem de cinema ou movimento constante. A diadococinesia expressa bem o que se deseja observar: se há movimento de uma estrutura articulatória a outra. O pa ta ka que se usa para testar a diadococinesia é a passagem de um bilabial /PA/ para um linguodental /TA/ a um velar /KA/ e recomeçar de novo de um velar a um bilabial e assim por diante. Quando se pede a pessoa para falar a sequên- cia /PA TA KA PATA KA PATA KA/ estamos medindo também a velocidade da fala. O que se observa na gagueira é que os articuladores não se movimentam com velocidade, isto porque havendo alterações da sequência haverá forçosa- mente redução da velocidade. Logo, conseguir realizar bem a diadococinesia indica que há habilidade em mover as estruturas rapidamente e em uma sequên- cia predeterminada de uma posição a outra, que, em última instância, é o que se deseja para falar fluentemente. 33 34 EXERCíCIOS PARA TREINAR A DIADOCOCINESIA Os exercícios com a diadococinesia feitos com a criança visam alcançar mais velocidade na fala. Procura-se, também, facilitar a alternância articulató- ria. O que se procura é que os movimentos alternados tenham sequência e não que a estrutura articulatória fique estacionada ou tencionada. O terapeuta diz: "Agora vamos aprender outra maneira de falar as pala- vras. Elasvão ter que se alternar do lábio, para o céu da boca e para a gargan- ta. Vou mostrar como é": Nos lábios, vou falar bem rápido: PA PA PA PA PA Na língua, vou falar bem rápido: TATA TA TA TA Na garganta, vou falar bem rápido: KA KA KA KA KA Terapeuta diz: "Agora é sua vez. Quando eu mostrar o cartão com o dese- nho você fala o PA ou o TA ou o KA, mas tem que ser bem rápido. Preste aten- ção. Lá vai." PA PA PA PA PA PA , TA TA TA TA TA TA KA KA KA KA KA KA O terapeuta pode começar, então, a alternar de uma estrutura para outra, variando a sequência. Por exemplo: KA PA Ou KA 'TA PA EXERCíCIOS PARA TREINAR A OIAOOCOCINESIA 35 Pode-se brincar de fazer palavras engraçadas, movendo-se os cartões. Também pode-se variar a vogal que se vai empregar; como: IPO PO pai ou ITE TE TEI ou IKI KI KIj etc. Assim que a criança associou o cartão ao som, pode-se começar a alternar a sequência. '" ..~~ ..~:.Iti!l PATAKA , PATAKA PATAKA Os símbolos acabam ficando associados às estruturas articulatórias, e toda vez que se deseja lembrar ou indicar um ponto de articulação, ele deve ser mostrado. "'."~ .. ou aqui , Por exemplo: olha você prendeu aqui ~ '".ou aqui Pode-se fazer corrida de velocidade entre o terapeuta e a criança utilizan- do o PATAKA PATAKA PATAKA para ver quem faz mais depressa. EXERCíCIOS ARTICULATÓRIOS UTILIZANDO A LíNGUA ~ Estalar a língua igual ao cavalinho: tloc tloc tloc, quantas vezes forem necessárias, tendo o cuidado de não estressar a musculatura. ~ Vibrar a língua como o toque do telefone: Trimmm, = = = quantas vezes forem necessárias, tendo o cuidado de não estressar a musculatura. Rotação da língua como se fosse limpar os dentes, fazer só 6 vezes para cada lado . ..t Cantar parabéns em "LALALA .." 36 EXERCíCIOS PARA TREINAR A DIADOCOCINESIA EXERCíCIOS ARTICUlATÓRIOS UTILIZANDO OS LÁBIOS Vibrar os lábios, Brrrrrr, quantas vezes forem necessários, tendo o cuidado de não estressar a musculatura labial. - Dar beijinhos para dentro (de velho) e parafora (de moça), também tendo o cuidado denão estressar a musculatura. Capítulo 8 COLOCAÇÃO DA VOZ EXERCícIOS DE COLOCAÇÃO DA VOZ A partir da utilização de alguns requisitos do trabalho de colocação de voz, per- cebemos que as pessoas com gagueira, neste caso crianças e adolescentes, ga- nham mais confiança e melhoram o seu desempenho na comunicação oral. O importante é trabalhar: • O relaxamento global. • A respiração. • O controle fonorrespiratório. • A flexibilidade dos órgãos fonoarticulatórios. • A articulação. • A inflexão. • A pontuação e as pausas. .I • A voz e seus parâmetros: ressonância, vibração, forma bucal e outros. • O ritmo. I Os indivíduos que gaguejam têm tendência a manter, de modo involuntá- rio, os músculos da laringe tensos, dando origem aos bloqueios de gagueira. Diante disso nos pareceu importante interferir na vibração da laringe, já que isso pode evitar a ocorrência dos bloqueios tensos. Essesexercícios irão atuar no sentido de diminuir, ou mesmo eliminar, o esforço muscular da laringe, boca, lábios e língua. É sabido por todos que, quando se altera o tom de voz nas pessoas que gaguejam, é conseguida uma modificação da gagueira, isto é, a pessoa consegue falar fluentemente. Diante da evidência dos fatos sinalizados, é benéfico trabalhar a colocação da voz e seus componentes. 37 38 COLOCAÇÃO DA VOZ EXERCícIOS DE RElAXAMENTO o obejtivo é deixar a criança mais à vontade e relaxada, para poder propiciar o rela- xamento dos músculos da laringe. Os indivíduos que sofrem de gagueira têm ten- dência a manter, de modo involuntário, os músculos da laringe tensos, o que irá dar origem aos bloqueios da gagueira. Relaxar os músculos da laringe não é fácil, já que são difíceisde serem localizados, mas a criança aprenderá a relaxá-Iosde forma correta por intermédio de certos exercícioslúdicos. Paraisso,sugere-se incialmente relaxar o corpo e relaxar a laringe, usando o bocejo como veremos adiante. Exemplos de brincadeiras com as crianças até 7 anos Fingir que é um boneco de pano e fazer um corpo bem mole. Depois pedir que alterne entre boneco de corda (bem duro) e o de pano, para sentir a diferença. Brincar de Rei e Rainha. A criança senta-se em uma cadeira e fecha os olhos e imagina que é um rei ou uma rainha sentada no trono. Pedir para fazer uma postura majestosa, bem erguida, as mãos pousadas nas coxas. Os pés são colo- cados em contato com o chão. Pode-se utilizar um banquinho de apoio para os pés, caso as crianças sejam pequenas, e o mobiliário for maior. De pé, relaxar o corpo, braços e cabeça soltando-se e ir dizendo as vogais:j A E I O U/. Espregui- çar igual aos gatinhos, terminando com um suspiro bem longo. Com as crianças acima de 7 anos Nesta idade é sugerido fazer um relaxamento mais específico de cabeça - ombros e pescoço: • Movimento de cabeça do Sim (para baixo), Não (para os lados), Talvez (meia volta para frente). • Girar a cabeça toda. • Orelha no ombro direito ou esquerdo, sem suspender os ombros. COLOCAÇÃO DA VOZ 39 • Girar a cabeça para a direita ou para a esquerda e fazer o movimento do sim. • Girar os ombros para frente e para trás. Podem-sealternar os ombros também. • Dar um suspiro bem longo. EXERCíCIOS DE RESPIRAÇÃO Toda a fala, assim como o canto, é produzida pelo fluxo de ar que sai, fazendo com que as pregas vocais vibrem. A respiração para a fala éconseguida por uma rápida inspiração (tão rápida que nem tomamos consciência disso), seguida por uma expiração prolongada. A voz é ativada pela duração da expiração (Boone D., 1996). No caso das crianças que gaguejam, a respiração torna-se mais rápida e superficial em decorrência da ansiedade e das tensões vocais e pulmonares. O ar fica bloqueado, o que acaba dificultando a pronúncia das palavras. Quando elas ficam mais nervosas,tendem a encurtar ainda mais a respiração. Isto provoca um ci- cio vicioso. Então, respirar melhor e de forma relaxada irá facilitar a saídade um dis- curso mais fluente. Então, como diz Boone, 1996, "a respiração passa a ser um obstáculo à fala, em vez de ser aquilo que a torna possível". O trabalho consiste em sincronizar corretamente a respiração com a fala. A ideia principal dos exercícios de respiração é conseguir uma respiração mais profunda, silenciosa e realizar inspirações e expirações mais lentas. O objetivo é dosar e disciplinar o fôlego para que as pausas possam ser mais naturais. Não se trata de ensinar a criança a respirar. A respiração é uma função vital, nin- guém precisa aprender a respirar. O que se está treinando com a criança é colocar a fala corretamente na respiração, é sincronizar a fala com a respira- ção. Para isso sugerimos alguns exercícios: ./ Com crianças acima de 7 anos Inspirar o ar lentamente, enchendo os pulmões (dependendo da capacidade pulmonar, os segundos de duração da inspiração podem variar de umas crian- ças para outras) durante 4 a 8 segundos. Na primeira tomada de ar será permiti- do expirar pelo nariz, mas nas seguintes deverão alternar a entrada de ar por cada uma das narinas de cada vez, tapando a outra com o dedo. O exercício tem como objetivo estimular a função nasal com a finalidade de prepará-Ia para os exercícios respiratórios. c~\ t i 10 vezes (~ Importante: Lembrar que a respiração é nasal. 40 COLOCAÇÃO DA VOZ Com as crianças até 1 anos Pedir para soprar apitos, cuidando para que este não emita nenhum som. Dessa maneira, conseguiremos que expirem lentamente. O tempo de expiração dependerá igualmente da capacidade pulmonar. Pode ser: soprar línguas de sogra, balões, canudos em copo com água para fazer bolhas, conseguiremos obter uma brincadeira relaxante e divertida. Obs.: Podemos usar o cronômetro para incentivar nos exercícios respirató- rios e, dessa forma, acompanhar os progressos. EXERCícIOS PARA CONTROLE FONORRESPIRATÓRIO Por meio do treino respiratório, a criança aprende a respirar profundamente, lenta e regularmente, inspirando e expirando corretamente, o que provoca também o relaxamento respiratório. Aprender a controlar a respiração é res- posta incompatível com a gagueira e pode ser considerado um agente terapêu- tico importante. COLOCAÇÃO DA VOZ 41 Com as crianças até 7 anos Usandoa figura de uma flor e de uma vela explicar o seguinte: "Toda vez que eu mostrar a figura da flor você deve inspirar pelo nariz como se fosse cheirar a flor e em seguida soltar o ar pela boca para apagar a vela. Dizer que não deve tomar uma grande inspiração. Não deve levantar os ombros e nem pressionar para baixo. Apenas pedir que inspire lentamente e com tranquilidade." Inispirar, entrada de ar (pelo nariz como se fosse para sentir o cheiro da flor) / P (fazer uma pausa) / Expirar, saída de ar (soprar a vela quantas vezes ela aparecer)! ~ --------------------_.p------------------- ~ ~-----------------------p------------------ JrJl ~-----------------p------------------------Jl Jl Jl ~ --------------P------------------------- !!!! ~ ~ ---------P------------------------- !! ~~O----------------P------------!!! ~ --------. p------ Jr -----p------ ! ------.P------.! ~ ~ o P !-----P------· !------.p------. ! ~ ~ O----P------ !-----P----- !------.P- - -! 42 COLOCAÇÃO DA VOZ ~ Usar a figura de uma flor (de inspirar) e da cobra (para fazer seu barulho) como sugestão para soltar um /5/ surdo e bem prolongado. (\~~ ~ s _ ~~~ .. .. .. s _ ~~~~~~-- ~ Usar a figura da flor (de inspirar) e da abelha (o zumbido) para sol- tar um /z/ bem sonoro ~z-------------------------------------- ~ --------- ~ ---------- ~ ~ ---~ --- ~--~~--- ~--- ~ COLOCAÇÃO DA VOZ 43 Exercícios de controle fonorrespiratório com as crianças acima de 7 anos É necessárioexplicarà criançaqueeladeveutilizarumcontrolenaexpiração. Exercícios com alveolares e linguodentais surdas • Fazerum/5/prolongadocomosefossedizerSIM. • Fazerum/t/ linguodentalsemvogal. 5;------------------------- 5 5 Si------ 5-5-5-5-5-5;--- t -t-t-t-t-t·---- 5 t 5 tt 5 ttt ts;---------- ttsi---------- ttts'---------- ts - ts - ts - ts - ts . st - st - st - st - st . Exercícios com labiodentais e bilabiais surdas • Fazerum/f/ prolongadocomosefossedizerFIM. • Fazerum/p/ explosivosemvogal. f·----------- f f-f,------ f-f-f-f-f-f-f·----- p-p-p-p-p-pl--- f P f pp f ppp pf----------- ppf----------- pppf----------- pf- pf- pf- pf . fp - fp- fp- fp . \1 44 COLOCAÇÃO DA VOZ Exercícios com palatais e velares surdas • Fazerum Ichl comose fossedizerCHIM. • Fazerum Ikl velarsemvogal. ch---------- ch--ch ch--- ch-ch-ch-ch-ch-ch-- ch k ch kk ch kkk kch-------- kkch,-------- kkkchl-------- kch- kch- kch . chk- chk- chk . Brandi, Edmée - Educação da Voz Falada, Volumes 1 e 2, 1984. Obs.: Escolhemososfonemassurdosparadiminuiro esforçodasaídadoar, mas podemostambémfazero mesmoexerckio comfonemassonoros. COLOCAÇÃO DA VOZ 45 EXERCíCIOS PARA A PONTUAÇÃO E PAUSA VISANDO AO CONTROLE FONORRESPIRATÓRIO A pausa é a palavra mágica para o controle fonorrespiratório. Em geral, as pes- soas se esforçam muito para respirar enquanto falam, mas tudo o que elas têm de fazer é dar uma pausa para renovarem o ar. Podemos usar o desenho a seguir para indicar a necessidade de parar. Boone, D. (1996) diz que quando fazemos uma pausa, os músculos para a inspiração contraem-se, nosso tórax expande-se, inspiramos o ar necessário e podemos falar de forma mais confortável e sem tensão. Durante a fala, qual- quer pontuação, como ponto, vírgula ou ponto e vírgula, pode ser uma boa hora para se fazer uma pausa. Devemos orientar a criança que gagueja que também podemos utilizar a pausa quando estamos tentando lembrar uma palavra ou ideia, ou quando estamos pensando no que dizer. Assim seria uma boa maneira de evitar a gagueira e controlar a fala, o que será mencionado no capítulo de modificação de fala (Capítulo 9). Explicar o que fazer para introduzir a pausa como está no quadro a seguir: Introdução da pausa ( ...) corresponde à inspiração e à expiração .,!.. corresponde à entonação descendente igual ao ponto final i corresponde à entonação ascendente igual a uma vírgula Ferreira, L. Piccolotto - Temas de Fonoaudiologia, 1985. Era uma casa /muito engraçada/ não tinha teto /não tinha nada/ ninguém podia /entrar nela não/ porque na casa /não tinha chão/ ninguém podia /dorrnir na rede/ porque na casa / não tinha parede/ ninguém podia /fazer pipij porque penico / não tinha alij Mas era feita /com muito esmero/ na Rua dos Bobos Inúmero zero./ Vinicius de Moraes Vai 6 - Poesias - Para Gostar de Ler - 1980 46 COLOCAÇÃO DA VOZ Exemplos: 1. (00') Roberto é bom aluno, exemplar. -1, Gosta muito de estudar t e é óti- mo na matemática. -1, (00') Resolve problemas com facilidade: -1, soma, t subtrai, t multiplica te divide sem errar. -1, 2. (00') Comemoramos a entrada da primavera com uma linda festa. -1, (00') Plantamos duas árvores no terreno da escola. -1, (00') Os alunos cantaram, t dançaram t e recitaram versinhos. -1, Para as crianças pequenas, mas que são alfabetizadas podemos pedir que leiam o texto adiante: as barras U) indicam onde deverá haver uma pausa, e a criança deve fechar a boca rapidamente sem inspirar. Ela só inspirará no final de cada linha, passando para a linha seguinte. A casa Eclesiastes 2.3 COLOCAÇÃO DA VOZ 47 Com as crianças acima de 7 anos pedir para lerem da mesma forma Tempo para cada coisa Para tudo/há um tempo,jpara cada coisa/há um momento/ debaixo dos céus:j Tempo/para nascer,je tempo/para morrer;! Tempo/para plantar,je tempo/para arrancar/o que foi plantado;! Tempo/para matar,je tempo/para sarar;! Tempo/para demolir,je tempo/para construiry Tempo/para chorar,je tempo/para rir;! Tempo/para gemer,je tempo/para dançar;! Tempo/para atirar pedras,je tempo/para ajuntá-Ias;! Tempo/para dar abraços,je tempo/para apartar-se. */ Tempo/para procurar,je tempo/para perder;! Tempo/para guardar,je tempo/para jogar fora;! Tempo/para rasgar,je tempo/para costurar;! Tempo/para calar,je tempo/para falar;! Tempo/para amar,je tempo/para odiar;! Tempo/para a guerra,je tempo/para a paz'; EXERCíCIOS PARA MELHORAR A QUALIDADE VOCAL Estes exercícios são importantes, porque as pessoas que gaguejam, em geral, têm tendência a fazer muito esforço para falar em razão da desorganização de todos os músculos envolvidos no ato de falar. As pregas vocais tensas demais geram um som tenso e forçado, prejudicando a qualidade vocal. Quando as pre- gas vocais vibram e produzem som, fazem outras partes do corpo vibrarem tam- bém. Essasáreas são chamadas de ressonadores e compreendem a garganta, a boca e, às vezes, o nariz. Os ressonadores são responsáveis pelo fortalecimento do som de base e o aperfeiçoamento da qualidade vocal. A garganta deve man- ter-se relaxada como a sensação do bocejo. Selecionamos alguns exercícios: Exercícios para os movimentos da laringe: Falar: UAS UES UIS UOS UUS U-O U-E U-A U-I O-I O-A O-E O-I I-U l-A l-E I-O E-U E-A E-O E-I A-U A-O A-E A-I A-O-U U-O-A A-I-O Exercícios para ampliar a forma bucal com naturalidade: 48 COLOCAÇÃO DA VOZ Mostrar à criança as formas bucais e pedir para repetir: IA IÉ lÊ II IÓ IÔ lU Exercícios de ressonância: Pedir para relaxar bem a mandíbula, inspirar e soltar o som suavemente. Fazer o exercício 5 vezes seguidas. Miau Miau (igual ao gatinho) Com as mãos em concha, sentindo a ressonância no/hum ...jir abrindo para emitir as sílabas. Pedir para fazer o som de HUM de um modo leve. Expli- car que irá sentir uma vibração no teto da boca. / ~ Som do celular vibrando: hum hum hum hum hum hum ... ma - hum ... me - hum ... mi - hum ...mo - hum ...mu Som da vaquinha mugindo: hum .... mu mu mu (fazer 3 vezes). Exercícios usando a mastigação: Os exercícios de mastigação ajudam a relaxar a mandíbula e a prega vocal, o que é muito importante para se alcançar uma fala bem relaxada. iam - iam - iam ... (mastigando de forma bem exagerada) mastigar um/m/-+ e acrescentar sons, palavras ou frases: Falar as vogais ao mesmo tempo mastigar dizendo: mamama ... - mememe ... - mimimi ... - momomo ... - mumumu ... Fazer esse exercício até acabar o ar, mas sem precisar entrar na reserva do ar, ou seja, sem a sensação de esforço. Behlau M e Pontes P.Avaliação e tratamento das disfonias. São Paulo, Lovise, 1985. COLOCAÇÃODA VOZ 49 EXERCíCIOS PARA OBTER VIBRAÇÃO DAS PREGAS VOCAIS OSexercícios de vibração das pregas vocais servem para o ajuste motor e o con- trole fonorrespiratório. Vibração de língua Trrrr ..... (10 vezes curto) Usar a vibração de língua com as vogais 5 vezes: Trrr ...a Trrrr ....e Trrrr. ..... i Trrrr .....o Trrrrr .....u Trrrr .....ão Cantarolar em Trrrr a música "Parabéns pra você" ou "Atirei o pau no gato" Vibração de lábios Brrr ..... (10 vezes curto) Usar a vibração dos lábios com as vogais: Brrrr a Brrrr. ..e Brrrr. i Brrrr. ..o Brrrrr u Brrrr ão (fazer 5 vezes) O terapeuta deve sempre orientar o paciente para que faça os exercícios de maneira suave e sem esforço. EXERCícIOS PARA A EMISSÃO SUAVE DA SONORIZAÇÃO INICIAL A sonorização é o efeito da transformação do ar expirado em som vocal. Esses exercícios ajudam a diminuir o esforço que os que gaguejam costumam fazer. A força é feita, porque eles acreditam que dessa maneira conseguem expulsar o ar para continuar falando, mas acontece que com o esforço eles acabam produ- zindo o golpe de glote ou a parada tensa na laringe. Brandi E. (1984) define o golpe de glote como: "consiste em pronunciar vogais de início de palavra com um brusco fechamento das pregas vocais, o que é percebido como uma espécie de dique ou estalo na altura da laringe." Já Boone D. (1971) diz: "no golpe de glote há o início abrupto da fonação que requer esforço desnecessário". Boone continua: "a pessoa faz uma abdução nas pregas vocais, mas não inicia a fona- ção até que o fluxo de ar que chega seja forte o suficiente para abrir a glote". Conforme é relatado por quase todas as pessoas que gaguejam, a dificul- dade maior que elas experimentam é quando vão iniciar a fala. É possível que neste momento a pessoa sinta que vai passar do silêncio à fala ou que não vai haver ar suficiente para falar. Pensa também que o ouvinte irá concentrar seu foco de atenção na sua fala e que isso é sempre uma experiência frustrante. Esseconjunto de situações acaba gerando insegurança, ansiedade e descon- trole. Os exercícios de emissão suave têm a finalidade de trabalhar o momento de iniciar a fala. 50 COLOCAÇÃO DA VOZ É aconselhável usar a figura do esquiador para indicar a necessidade de suavizar a fala ou de fazer uma descida suave na maneira de iniciar a fala. o terapeuta orienta a criança a dizer suavemente o som do/h/como uma expiração. Repetir o exercício abaixo 5 vezes: hava heva hiva hova huva Fazer o mesmo 3 vezes cada: I ha--ha--ha he--he--he hi--hi--hi ho--ho--ho hu--hu--hu Em seguida dizer suavemente expirando o nome das figuras 3 vezes cada: H AAAAPITOH AAAAVIÃO ~ ~ I H AAAANA H AAAABACATE H AAAAQUÁRIOH AAAABELHA sH AAAABACAXI H AAAAMORA COLOCAÇÃO DA VOZ 51 EXERCíCIOS USANDO AS INFLEXÕES "Inflexões são modulações da voz que se elevam e abaixam quando expressa- mos o nosso pensamento. As inflexões constituem a música das palavras." (Nunes L., 1976). A naturalidade é a melhor forma de se conseguir uma infle- xão mais verdadeira. O objetivo de trabalhar as inflexões com os que gaguejam é para se conseguir uma forma de falar mais natural. Com as crianças até 7 anos O terapeuta pede que falem palavras com intenções diferentes. É possível mos- trar-se as figuras das intenções e ir pedindo à criança para falar. Boa tardei: {© falar rindo "fi:' falar tranquilo Exemplo: __ Mk-- Bom dia" {® falar triste ~ falar com pressa HV J falar feliz Não quero dormir!: { H-" ",.-..., falar chorando falar com medo { - '~r-- QQ ,~~ Até logo!: !! falar alegre tIiA.~ falar atrasado gg) falar assustado::!!/ ~ ,,; - É hoje!: {~ falar gritando H .v, falar feliz Com as crianças acima de 7 anos Pedir para dizer a mesma palavra variando as intenções, utilizando para isso o auxílio de frases que tenham o mesmo sentido. 52 COLOCAÇÃO DA VOZ INTENÇÃO PALAVRA-CHAVE: CHOVER Constatar Está chovendo. Duvidando Parece que está chovendo. Afirmando Está chovendo. Interrogando Está chovendo? Contradizendo Não está chovendo não. Ironizando Chove só porque eu vou à praia. Admirado Nossa! Que chuva. Aborrecimento Que chuva chata ... Aliviado Ainda bem que chove, não vou à aula. Vitória Eu não disse que ia chover! Tristeza Já não posso ir à praia. Alegria Acabou-se a chuva! Desespero Estou com o dia perdido por causa dessa chuva! I Impaciência Não para de chover! Pressa Estou com pressa, porque vai chover. Discussão Eu não disse que ia chover. Medo Essachuva vai alagar a rua. Frio Estou todo molhado. Ansiedade Chove e mamãe não chega. , Cólera Que raiva me dá essa chuva! Cansaço Não aguento mais essa chuva ... Adaptação do livro de Lilia Nunes. Cartilhas de-Teatro, Manual de voz e dicção. 2. edição. Ed. Ministério da Educação e Cultura (1976). COLOCAÇÃO DA VOZ 53 Exercício de dar uma inflexão nos provérbios de acordo com as intenções: Exemplo: "Um dia a casa cai", dar a inflexão de acordo com a intenção sugerida: INTENÇÃO INFLEXÃO Constatando Um dia a casa cai. Afirmando A casa vai cair. Interrogando Será que essa casa vai cair? Dúvida Talvez não caia. Indignação A culpa é sua! Inquietude Estou achando que a casa vai cair. Tristeza Que pena ... é uma casa tão boa! Admiração Será possível que vai cair! Ironia Já imaginava que fosse cair Conselho Cuidado que a casa vai cair! Impaciência Depressa, corre, vai cair! Discussão Já disse que cai, e cai mesmo! Curiosidade Ouvi dizer que vai cair. É verdade? Ameaça Se não consertar essa casa ela cai. Reflexão Vamos raciocinar, talvez não caia. Espanto Quem disse que vai cair? Revolta Isso não fica assim! Cólera Você vai pagar por isso! . Vingança Ele vai me pagar caro! Misericórdia Coitado ... não tem culpa. Gozação É brincadeira, ela não cai. Adaptação do livro de Lilia Nunes. Cartilhas de Teatro. Manual de voz e dicção. 2. edição. Ed. Ministério da Educação e Cultura (1976). Capítulo 9 MODIFICAÇÃO DA FALA EXERCíCIOS DE MODIFICAÇÃO DA FALA E DA SENSIBILIDADE A marca fundamental da terapia de gagueira na criança e no adulto pode ser colocada em um tripé: EXPLORAR- MODIFICAR - VARIAR. De alguma maneira o terapeuta tem de ajudar a criança ou o adulto com gagueira a se livrar dos padrões de fala estereotipados. Alimentados pelo medo, ansiedade, inseguran- ça e esforço para falar, a pessoa que gagueja fica limitada nas suas escolhas. O movimento estereotipado de falar acaba se consolidando, acabando por impe- dir o surgimento de opções de fala diferentes. Não é por menos que van Ripper, ele mesmo um ex-gago severo, recomendava o tratamento em três etapas:t Identificação - Modificação - Estabilização Primeiro identificar a gagueira como foi feito nos Capítulos 4 e 5, em segui- da vem a etapa de modificar a gagueira e as emoções e, por fim, estabilizar a nova maneira de falar aprendida e os novos sentimentos sobre si mesmo. Embora possa não parecer tão abertamente como é no adulto, na criança já há algumas emoções presentes. Já começa a existir certo receio ou quase medo de falar com pessoas, ou em determinados lugares. Logo surge uma es- pécie de ansiedade como ter urgência de acabar logo de falar as coisas antes que alguém interrompa. Já há um início de insegurança ao falar, como se hou- vesse dúvida sobre sua habilidade ou capacidade de falar as coisas. São emo- ções primitivas e ainda muito fracas. É difícil trabalhar essas emoções de forma diretiva como se faz com o adulto. A criança não verbaliza. Ela não reconhece a emoção. Se perguntarmos a ela se tem medo de falar ela vai dizer que não, que tem medo de monstros no escuro, de andar na roda-gigante, mas de falar 55 56 MODIFICAÇÃO DA FALA não. Tampouco ela reconhece a ansiedade e a insegurança. Seu mundo é pequeno e limitado. Definir o que é uma psicoterapia é tarefa difícil, mas definir o que se visa com ela é muito fácil. A psicoterapia nos casos da gagueira visa aliviar a ansie- dade e os sintomas associados. Desenvolver uma autoestima e um comporta- mento social adequado. Aperfeiçoar na pessoa a habilidade para tolerar o es- tresse e
Compartilhar