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Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 1 Complexo Educacional Campos Salles DIREITO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL Módulo 8 Marco Civil da Internet Objetivos específicos O aluno deverá, ao termino da disciplina, dominar os aspecto relevantes sobre o Marco Civil da In- ternet (Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014), seus princípios, alguns conceitos, direitos dos usuários, principais obrigações dos provedores, dentre outros elementos essências desta legislação. Neste Módulo haverá um aprofundamento, portanto, do tema dos direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Também serão examinadas algumas normas que têm relação direta com o Marco Civil da Internet. Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum Complexo Educacional Campos Salles Temas abordados nesse módulo INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 3 1. CONCEITOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET .............................................................................................. 3 2. TRANSPARÊCIA E PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS. .............................................................................. 4 3. NEUTRALIDADE DE REDE. ................................................................................................................................. 7 4. LIMITAÇĀO DE RESPONSABILIDADE POR CONTEÚDO OFENSIVO GERADO POR TERCEIRO. .....8 5. “COMPLIANCE” DIGITAL. .................................................................................................................................... 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................10 REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................................11 Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 3 Complexo Educacional Campos Salles INTRODUÇÃO Olá Pessoal, iniciamos agora nosso Módulo sobre o Marco Civil Internet também conhecido como “Marco Civil”. Isso é relevante para vocês tenham um primeiro contato com a disciplina jurídica dos negócios que são celebrados e executados no ambiente digital. Esse é o objetivo do presente Módulo. Ele também será útil para introduzir outros elementos da disciplina do comércio eletrônico que contribuirão para uma visão mais ampla do direito aplicado às novas tecnologias. Nele trataremos, ainda, de alguns documentos e informações mínimas que devem constar dos sites de comércio eletrônico, com base no Marco Civil da Internet e no Decreto nº 7.962/2013, em vigor desde 14 de maio de 2013, que regulamenta o comércio eletrônico. Conforme ensinam Renato O. Blum, Rony Vainzof e Rita P. F. Blum: Após cinco anos de discussão pela sociedade e quase três pelo Congresso, a Lei Federal 12.965, conhecida como Marco Civil ou Marco Civil da Internet, que trata da regulação do uso da internet no Brasil, foi aprovada em 23 de abril de 2014 e entrou em vigor em 23 de junho de 2014. A lei estabelece princípios e direitos para os usuários da Internet e também detalha as responsabilidades dos provedores de acesso e de aplicativos, além das responsabilidades do governo, no ambiente virtual. (BLUM, Renato Opice e BLUM, Rita P. Ferreira Blum, 2014/2015, pág. 313. Texto traduzido do original em inglês). Esta lei se preocupa em estabelecer alguns fundamentos como a liberdade de expressão na inter- net sua finalidade social, bem como em estabelecer alguns princípios, estes em seu artigo terceiro como: a proteção da privacidade dos usuários, a proteção a seus dados pessoais, a neutralidade da rede, e o da responsabilidade civil das pessoas por atos praticados no ambiente virtual. 1. CONCEITOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET Neste Módulo trataremos de alguns destes temas. Antes, contudo, de abordarmos os mesmos ne- cessitamos trazer à disciplina alguns dos principais conceitos do Marco Civil da Internet, que foram transcritos abaixo: Terminal: o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet. (artigo 5º, inciso I) Endereço de protocolo de internet (endereço IP): “o código atribuído a um terminal de uma rede para permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacionais.” (artigo 5º, inciso III) Conexão à internet: “a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP”. (artigo 5º, inciso V) Provedor de Conexão: aquele relacionado à atividade de conexão à internet Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 4 Complexo Educacional Campos Salles Provedor de Aplicação: aquele relacionado às atividades de fornecimento de aplicações de internet, por exemplo: provedor de serviço de hospedagem, empresa de portal de e-mail, e provedor de rede social. Registro de conexão: “o conjunto de informações referentes à data e hora de início e término de uma conexão à internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para o envio e recebi- mento de pacotes de dados”. (artigo 5º, inciso VI) Aplicações de internet: “o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet”. (artigo 5º, inciso VII) Registros de acesso a aplicações de internet: “o conjunto de informações referentes à data e hora de uso de uma determinada aplicação de internet a partir de um determinado endereço IP”. (artigo 5º, inciso VIII) Apresentados estes conceitos essências, passemos ao tema da transparência e proteção de dados. 2. TRANSPARÊCIA E PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS. No nosso país há regras gerais sobre esses temas na Constituição Federal de 1988, no Código Civil Brasi- leiro (Lei Federal nº 10.406 / 2002), na Lei Federal nº 8.078 / 1990 (conhecida como Código de Defesa do Consumidor), no Decreto nº 7.962/2013, em vigor desde 14 de maio de 2013, que regulamenta o comércio eletrônico e, mais recentemente, na Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018, apelidada de Lei Geral de Prote- çāo de Dados ou LGPD. Vale atentar que esta última entrará em vigor somente em 13 de fevereiro de 2020. Daremos destaque aqui, inicialmente, à Constituição Federal. Esta, no incisos V e X, do seu artigo 5º, prevê que: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra- sileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igual- dade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Como na internet muitas vezes há dados de imagem (fotos e vídeos) das pessoas, cabe também mencionar aqui os seguintes artigos do Código Civil: Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - ThomasKefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 5 Complexo Educacional Campos Salles O Código de Defesa do Consumidor, aplicável às relações de consumo, da ênfase à proteção de da- dos negativos (para a proteção do crédito); e o Decreto nº 7.962 de 15.03.2013 que trata do “e-com- merce” e a Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD (Lei nº 13.709/2018).trazem expressão: “autodeter- minação informática” também conhecida como “autodeterminação informativa”. Autodeterminação informativa é um termo presente em uma sentença da Corte Constitucional Alemã, proferida a respeito de uma Lei de 1982 que organizava um censo na Alemanha. Os cidadãos alemães foram instados a responder 160 perguntas que, posteriormente, seriam automatizadas. Ademais, se- gundo esta lei, as respostas prestadas poderiam ser utilizadas para finalidade diferente da original- mente informada para a coleta dos dados, e estes serem, sem o nome do titular, compartilhados entre outros departamentos do Estado alemão. Estas práticas do censo foram questionadas judicialmente e tidas como incorretas pela Corte Constitucional Alemã e a lei teve que ser reformulada. A expressão foi empregada na sentença da Corte para designar o direito dos indivíduos de “decidirem por sí própios, quando e dentro de quais limites seus dados pessoais podem ser utilizados.” (PANEBIANCO, 2000, 187) Por fim, cabe lebrar ainda que o Decreto nº 7.962/2013 estabelece que os fornecedores devem apre- sentar, no “site”, um resumo de um contrato ao consumidor antes que este dê aceite a seus termos e, nestes termos, há que se dar destaque a quaisquer cláusulas que limitem os direitos dele (consu- midor). Ademais, os fornecedores, que podem ser por exemplo provedores de aplicação, devem usar mecanismos eficientes de segurança no tratamento (ex. coleta, armazenamento, etc.) de dados do consumidor, que ao mesmo tempo é usuário da internet. Este tema da privacidade e proteção dos dados da pessoa física, inclusive a usuária da internet, após longa discussão no Ministério da Justiça e no Congresso, levou à criçāo da Lei Geral de Prote- ção de Dados Pessoais, que entrará em vigor em 2020. Antes dela, no entanto, o Marco Civil da Internet já lidava com algumas das questões relevantes so- bre este assunto. O tema da privacidade de dados pessoais é um dos pontos abordados pelo Marco Civil da internet. A norma estipula como vetor da disciplina do uso da Internet no Brasil o princípio de proteção aos dados pessoais (Inciso III, do artigo terceiro). O artigo sétimo do Marco Civil fornece aos usuários de internet o direito de inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicaçōes pela internet, salvo por ordem judicial. O Marco Civil da Internet proíbe o fornecimento a terceiros de dados pessoais, inclusive registros de conexão e de acesso a determinadas aplicações de internet, podendo ocorrer este compartilhamento, contudo, caso tenha sido obtido do usuário seu consentindo. Este tem que se dar de forma expressa, livre e informada ou nas hipóteses previstas em lei. Além disso, é assegurado ao usuário o direito a ter informações claras e completas sobre a coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção dos dados pessoais, que apenas poderão ser utilisados para finalidades que: estejam diretamente relacionadas com a sua coleta, nāo sejam vedadas pela legislação, e estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicação de internet. Para o bom cumprimento desta regra convém o exame do artigo sétimo da LGPD, que é posterior ao Marco Civil da Internet e que também trata deste assunto. Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 6 Complexo Educacional Campos Salles Mas, voltando ao Marco Civil da Internet, o seu artigo sétimo confere ao usuário o direito a ser con- sultado ou seja a dar seu consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamentos de dados pessoais, sendo que a cláusula a este respeito deverá ser escrita de forma destacada de outras cláusulas contratuais . Para entender a expressão “destacadas”, importante ler esta regra do Marco Civil da Internet lembrando das normas de proteção e defesa do consumidor que também se aplicam às transações realizadas na internet. Assim, entendemos que quando se tratar de relação que se dá entre fornecedor e consumidor (Con- ceitos constante do Código de Defesa do Consumidor), no âmbito da internet, o intérprete poderá se valer da doutrina aplicável ao parágrafo 4º, do artigo 54, do Código, que trata do dever do for- necedor de dar destaque a certas cláusulas de contratos de adesão. O usuário de internet tem, ainda, o direito de requerer do provedor de internet à exclusão definitiva de seus dados pessoais ao final da relação contratual, ou a qualquer tempo, exceto em casos de manu- tenção obrigatória de registros e dados estabelecidos no Marco Civil da Internet ou sob a nova LGPD. Saiba mais O estudo do tema da privacidade de dados é caro ao autor Danilo Doneda. Para saber mais a respeito, sugerimos a leitura do texto “A proteção de dados pessoais nas relações de consumo: para além das informação creditícia. Brasília: Ministério da Justiça, SDE/DPDC, 2010. Disponível em: http://www.defesadoconsumidor.gov.br/portal/biblioteca/91-manuais/ 205-protecao-de-dados-pessoais-nas-relacoes-de-consumo-para-alem-da-informacao- -crediticia Acesso de 11.11.2018. Atenção No direito existem algumas regras de interpretação que tratam da coe- xistência das leis. Uma delas é de que lei posterior que seja mais especí- fica tende a prevalecer sobre lei geral. Por esta razão, mesmo para as relações que se dão no âmbito digital, pessoal, é importante o exame da Lei no. 13.709/2018 (LGPD) que trata especifi- camente da proteção de dados pessoais em conjunto com o Marco Civil. A LGPD entrará em vi- gor em fevereiro de 2020. No final deste módulo no campo referências há o “link” para esta lei. Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 7 Complexo Educacional Campos Salles Passemos agora ao estudo do tema do Marco Civil da Internet. 3. NEUTRALIDADE DE REDE. Como ensinam os autores Renato O. Blum, Rony Vainzof e Rita P. F. Blum a respeito do Marco Civil da Internet: Além das disposições acima, o Artigo 9 estabelece que o responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma insonômica qualquer pacote de dados e está proibido de bloquear, monitorar, filtrar ou analisar o conteúdo dos pacotes de dados, em conformidade com os outros objetivos do artigo. (BLUM, Renato Opice e outros, 2014/2015, pág. 315. Texto traduzido do original em inglês). Exceções a esta regra de neutralidade será regulada por decreto, que foi posteriormente emitido pelo Presidente Decreto. Trata-se do Decreto nº 8.771/2016 que regulamenta a Lei o Marco Civil da Interenet para tratar das hipóteses admitidas de discriminação de pacotes de dados na internet e de degradação de tráfego, dentre outros temas. No final deste módulo no campo referências há o link para acesso ao texto na integra deste Decreto. Pense comigo Como um ponto de reflexão sobre neutralidade de rede, colocamos para pensar juntos as seguintes indagações: a limitação de acesso por meio de franquias de consumo de dados no fornecimento de conexão à inter- net banda larga fixa que se discutiu em maio de 2016 violaria as disposições sobre neutralida- de de rede contidas no artigo 9º do Marco Civil da Internet? Ela (franquia de consumo) ense- jaria a discriminação de pacotes de dados com base em sua origem e destino? Seria possível se implantar a limitação desde que: o plano básico oferecido ao consumidor seja adequado ao seu histórico de uso; e que se dê a ele transparência sobre o que ele já consumiu do plano ao longo do mês, de modo a se evitar interrupção ou redução de velocidade brusca? São questões complexasque demandam estudo mais profundo para serem respondidas. Tratado do tema da neutralidade da rede, passemo ao exame da responsabilidade civil na internet, com enfoque particular no conteúdo gerado por terceiros. Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 8 Complexo Educacional Campos Salles 4. LIMITAÇĀO DE RESPONSABILIDADE POR CONTEÚDO OFENSIVO GERADO POR TERCEIRO. Pessoal, realtivamente ao tema da limitaçāo de responsabilidade por conteúdo gerado por terceiro, há regras no Marco Civil da Internet. Esta norma reconhece que a proteção à liberdade de expressão é um princípio constitucional que precisa ser observado. Por esta razão, a regra que foi sendo consolidada nos tribunais (antes do Marco Civil da Internet) de que bastava notificação extrajudicial da pessoa que se sentia ofendida para o provedor de aplicação ter que suspender o acesso ao conteúdo questionado, mudou. Passou, desde a entrada em vigor do Marco Civil da Internet, a haver a necessidade de ordem judicial e para esta ser obtida a parte queixosa deverá, em seu pedido de tutela ao Poder Judicário, dentre outras coisas, realizar identificação clara e específica do conteúdo questionado, que permita a identificação inequívoca deste material na rede mundial de computadores. Havendo ordem judicial desta nature- za que reconheça que o conteúdo é infringente, haverá responsabilidade do provedor de aplicação, em caso de não indisponibilizāo do conteúdo. Em linhas gerais é o que reza o artigo 19 da Lei n.º 12.965/14 – Marco Civil da Internet. O provedor será civilmente responsável por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiro se, após receber uma ordem judicial específica, ele não tomar as providências para, no âmbito dos seus limites técnicos, tornar o conteúdo que foi identificado como infringente indisponível, ressalvadas as disposições legais em contrário. Para entendermos qual a regra na jurisprudência (entendimento reiterado dos Tribunais em um dado sentido), antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet, transcrevemos abaixo a parte introdutória de um julgado do Superior Tribunal de Justiça - STJ. STJ – RESP 1.323.754. RESPONSABILIDADE CIVIL. INTERNET. REDES SOCIAIS. MENSAGEM OFENSIVA. CIÊNCIA PELO PROVEDOR. REMOÇÃO. PRAZO. A velocidade com que as informações circulam no meio virtual torna indispensável que medidas tendentes a coibir a divulgação de conteúdos depreciativos e aviltantes sejam adotadas célere e enfaticamente, de sorte a potencialmente reduzir a disseminação do insulto, minimizando os nefastos efeitos inerentes a dados dessa natureza. 2. Uma vez notificado de que determinado texto ou imagem possui conteúdo ilícito, o provedor deve retirar o material do ar no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de responder solidariamente com o autor direto do dano, em virtude da omissão praticada. 3. Nesse prazo de 24 horas, não está o provedor obrigado a analisar o teor da denúncia recebida, devendo apenas promover a suspensão preventiva das respectivas páginas, até que tenha tempo hábil para apreciar a veracidade das alegações, de modo a que, confirmando-as, exclua definitivamente o perfil ou, tendo-as por infundadas, restabeleça o seu livre acesso. 4. O diferimento da análise do teor das denúncias não significa que o provedor poderá postergá-la por tempo indeterminado, deixando sem satisfação o usuário cujo perfil venha a ser provisoriamente suspenso. Cabe ao provedor, o mais breve possível, dar uma solução final para o conflito, confirmando a remoção definitiva da página de conteúdo ofensivo ou, ausente indício de ilegalidade, recolocando-a no ar, adotando, nessa última hipótese, as providências legais cabíveis contra os que abusarem da prerrogativa de denunciar. 5. Recurso especial a que se nega provimento. Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 9 Complexo Educacional Campos Salles Resumindo, o precedente anteriormente existente do Superior Tribunal de Justiça era de que o provedor de aplicação seria solidariamente responsável com o terceiro caso ele não suspendesse o conteúdo ofensivo gerado por este dentro de vinte e quatro horas da notificação por escrito da vítima. Isso como esclarecido, mudou bastante com a entrada em vigor do Marco Civil da Internet. Saiba mais Vale mencionar que o Marco Civil da Internet detalha regra própria re- ferente à violação de privacidade decorrente da divulgação na web de imagens, vídeos e outros materiais contendo nudez ou atividades sexuais de uma pessoa, sem autorização dela, quando após o recebimento de notificação pelo usuá- rio-participante o provedor não indisponiblizar o conteúdo de forma diligente. Para saber mais a respeito, sugerimos a leitura do artigo 21 da Lei em comento, cujo texto na integra está disponível em link listado na parte de Referências ao final deste Módulo. Uma vez exposto de forma sintética o assunto da responsabilidade civil do provedor de aplicação por conteúdo gerado por terceiro, passemos ao tema da “compliance” digital. 5. “COMPLIANCE” DIGITAL. O tema do respeito ao Marco Civil da Internet e do respeito à Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD com o intuito de evitar o uso indevido de dados dos usuários da internet, bem como vizando evitar o vazamento de informações destes usuários armazenadas em corporações que atuam na internet está relacionado com o tema da “Compliance” digital. A expressão “compliance”advém do verbo em inglês “to comply” e pode ser traduzida como “con- formidade” ou “integridade”. No contexto jurídico, significa o atendimento às leis, normas, códigos e regulamentos a que esteja sujeita uma empresa na condução de seu objeto social, com observância de princípios éticos e de conformidade com tais regras. Entendemos que estas novas normas da área de direito e tecnologia que mencionam a obrigatoriedade da adoção de mecanismos eficientes de segurança no tratamento (ex. coleta, armazenamento, etc.) de registros e demais dados como o Marco Civil da Internet e a LGDP vêm criando necessidade de adaptação e conformidade (boas práticas de governaça) de empresas cujo negócio envolve o uso de funcionalidades na internet com a coleta de dados pessoais de pessoas físicas. Ademais, a LGPD prevê em seu artigo 50 a necessidade de empresas que se enquandrem no contex- to acima descrito de implementarem um programa de governança em privacidade. E caso se dê um incidente de vazamento de dados, por exemplo, se o os controladores ou operadores de dados (Conceitos definidos na LGPD) conseguirem demonstrar a existência de mecanismos internos de Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 10 Complexo Educacional Campos Salles segurança da informação efetivos, estes serão levados em consideração na aplicação das sanções a tais pessoas jurídicas responsáveis pelos atos lesivos previstos na LGPD. Em outras palavras, a boa governança em tecnologia da informação e segurança de dados poderá reduzir as sanções, que são elevadas para aqueles que desrespeitam esta lei. Em razão disso, surge como relevante o tema da “Compliance” Digital, que casaurá aprimorando de práticas cotidianas das empresas, especialmente as envolvendo dados pessoais. Saiba mais Para saber o que é “Compliance, sugerimos que vocês assistam ao vídeo da “Legal Ethic and Compliance- LEC”, no Youtube sobre este conceito. Para localizar este vídeo vocês devem acessar o link abaixo, no qual o assistimos ao vídeo em acesso de 11.11.2018: https://www.youtube.com/watch?v=2BDpJ6UMXb4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pessoal neste Módulo vocês tiveram contato com os conteúdos relacionados ao Marco Civil da In- ternet, ao seu regulamento, e à LGPD, os quais foram abaixo listados. Esclarecemos que o Marco Civil da Internet se preocupa em estabelecer alguns fundamentos como a liberdadede expressão na internet sua finalidade social, bem como em estabelecer alguns prin- cípios como: a proteção da privacidade dos usuários, a proteção a seus dados pessoais, a neutra- lidade da rede, e o da responsabilidade civil das pessoas por atos praticados no ambiente virtual. Tratamos depois de forma pormenorizada de cas um destes temas. Iniclamente tratamos do tema da transparência e da proteção de dados pessoais com base no Mar- co Civil da Internet, no Código de Defesa do Consumidor, no Decreto que regulamentou a aplicação deste Código ao comércio eletrônico (Decreto no.7.962/2013), e na LGPD, que entrará em vigor em 2020. Vimos ainda o tema da neutralidade de rede, com base no Marco Civil da Internet e no Decreto que o regulamentou (Decreto no. 8.771/2016). Tratamos de qual era o entendimento a respeito da responsabilidade civil do provedor de aplicação pelo dado decorrente de conteúdo gerado por terceiro e por fim, introduzimos o tema da “Com- pliance” Digital, que é extremamente atual. Direito da Propriedade Intelectual e as Novas Tecnologias - Thomas Kefas de Souza Dantas / Rita Peixoto Ferreira Blum 11 Complexo Educacional Campos Salles REFERÊNCIAS BRASIL, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília: Palácio do Planalto Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm BRASIL, Decreto nº 7.962, de 15 de março de 2013. Regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico. Brasília: Palácio do Planalto. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D7962.htm BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Brasília: Palácio do Planalto. Disponível em: < http://www.planalto.gov. br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12965.htm Acesso em 11 de novembro de 2018. BRASIL. Decreto nº 8.771, de 11 de maio de 2016. Regulamenta a Lei no 12.965, de 23 de abril de 2014, para tratar das hipóteses admitidas de discriminação de pacotes de dados na internet e de degrada- ção de tráfego, indicar procedimentos para guarda e proteção de dados por provedores de conexão e de aplicações, apontar medidas de transparência na requisição de dados cadastrais pela adminis- tração pública e estabelecer parâmetros para fiscalização e apuração de infrações Brasília: Palácio do Planalto, 2016. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Decreto/ D8771.htm> Acesso em 18 de julho 2018. BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei 12.965, de 23 de abril de 2014. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/legislacao/DetalhaSigen. action?id=27457334 BLUM, Renato Opice; VAINZOF, Rony; e BLUM, Rita P. Ferreira. “Know more about the Brazilian Internet Legal Framework”, v. 70, p. 313 – 318, 2014/2015. BLUM, Rita P. Ferreira. Direito à privacidade e à proteção dos dados do consumidor. São Paulo: Almedina, 2018. DONEDA, Danilo. Da Privacidade à Proteção de Dados Pessoais. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. PANEBIANCO, Mario. “Bundesverfassungsgericht, dignità umana e diritti fondamentali”, in: “Diri- tto e Società”, n. 2, 2000, p. 151-242.
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