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1 - APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO EM VYGOTSKY

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APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO EM 
VYGOTSKY 
 Termisia Rocha 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente estudo teve como objetivo discutir e enumerar as relações entre a 
aprendizagem e o desenvolvimento propostas por Lev Vygotsky contidas 
principalmente em seu trabalho “Aprendizagem e Desenvolvimento em Idade 
Escolar”. Para tanto, listamos e comentamos as três categorias de teorias que se 
propuseram a analisar a problemática da relação entre aprendizagem e 
desenvolvimento, sendo elas: a teoria Piagetiana, a teoria defendida primeiramente 
por W.James e a terceira conhecida como teoria gestaltista. Neste trabalho Vygotsky 
propõe que se esqueça essas três categorias citadas e que se busque outra que 
melhor solucione o problema, temos então a apresentação das idéias do autor que 
giram em torno da aprendizagem e desenvolvimento geral e as características 
especificas dessa inter-relação. A partir daí apresentamos os níveis de 
desenvolvimento denominados como nível de desenvolvimento efetivo e área de 
desenvolvimento potencial. Por fim com base nas alegações e afirmações de 
Vygotsky citamos qual seria a função da escola que busca potencializar o 
desenvolvimento e aprendizagem das crianças em idade escolar. 
 
 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem; Desenvolvimento; Vygotsky. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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LEARNING AND DEVELOPMENT IN 
VYGOTSKY 
 
 
 
 
SUMMARY 
 
 
 
 
The present study aimed to discuss and enumerate the relationships between 
learning and development proposed by Lev Vygotsky contained primarily in his work 
"Learning and Development in School Age." To this end, we list and comment the 
three categories of theories that sought to examine the issue of the relationship 
between learning and development, namely: Piagetian theory, the theory advocated 
by W.James first and third known as Gestalt theory. This paper proposes that 
Vygotsky forget these three categories mentioned above and another that seeks to 
better solve the problem, then we have the author's presentation of ideas that revolve 
around learning and development of general and specific characteristics of this 
relationship. From there we present the levels of development known as the level of 
actual development and potential development area. Finally based on the allegations 
and claims of Vygotsky quoted what the function of the school that seeks to enhance 
development and learning of school children. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
KEYWORDS: Learning, Development, Vygotsky 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
 
O processo de aprendizagem, o desenvolvimento e o ensino, sempre se 
mostraram relevantes na teoria e nos escritos de Lev Vygotsky (1896-1934) para ele 
o entendimento da intrínseca relação entre instrução escolar e desenvolvimento 
cognitivo é um dos passos para se adentrar ao cerne da questão desenvolvimental. 
Pode-se comparar essa ação ao encontrar o elo perdido de grandioso problema, vez 
que a resolução desse aspecto lançaria luz sobre a escolha de teorias e técnicas 
que melhor se adequassem ao uso coerente de estratégias, cujo objetivo primeiro 
seria o de facultar o desenvolvimento das crianças em idade escolar de maneira 
exitosa. 
Para Vygotsky, a história da sociedade e o desenvolvimento do homem estão 
totalmente conectados, de maneira que não seria possível separá-los. A forma como 
os adultos tentam transmitir para as crianças os seus modos, seus pensamentos, 
suas experiências e sua cultura, demonstram que desde tenra idade as crianças 
mantêm constante interação com os adultos, em conseqüência disso os processos 
cognitivos e psicológicos mais complexos vão tomando forma, no início são 
chamados de interpsíquicos, ou seja, partilhados no contato com os adultos ou com 
as outras pessoas e na medida que a criança vai crescendo os processos acabam 
por tornar-se intrapsíquicos. Sobre isso Vygotsky (1978) explica que: 
Cada função no desenvolvimento cultural de uma criança aparece duas 
vezes: primeiro no nível social e mais tarde, no nível individual, primeiro 
entre pessoas (interpsicológico) e depois dentro da criança 
(intrapsicológico). Isso se aplica igualmente a toda atenção voluntária, à 
memória, à formação de conceitos. Todas as ações mentais superiores se 
originam como relações reais entre pessoas. (VYGOTSKY, 1978, p.57). 
 
As idéias apresentadas por Vygotsky contestaram algumas das teorias mais 
difundidas sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizagem na criança que 
estavam em vigor e espalhadas sobre todos os campos de estudo de sua época, 
principalmente nas áreas da Psicologia e na Educação. De acordo com ele haviam 
três concepções teóricas diferentes, ele esquematizou-as em três categorias 
fundamentais e distintas. 
 
As Teorias contestadas por Vygotsky 
A primeira concepção teórica descrita pelo autor “parte do pressuposto da 
independência do processo de desenvolvimento e do processo de aprendizagem”. 
(VYGOTSKY, 2010, p.103). Exemplificando essa teoria temos a tão conhecida 
concepção de Jean Piaget mostrando que os processos de desenvolvimento 
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independem da aprendizagem, nessa perspectiva a capacidade de raciocínio e a 
inteligência da criança são considerados processos autônomos, que de modo algum, 
são influenciados pela aprendizagem escolar. 
Sintetizando o raciocínio proposto, podemos descrever essa teoria como 
sendo a precursora de uma separação eterna entre o processo de aprendizagem e o 
do desenvolvimento, com base nesse preceito bastaria que a criança estivesse 
pronta, madura e então ela teria condições de aprender ou de desenvolver-se. 
Na concepção Piagetiana o mais importante eram os métodos utilizados e 
não as técnicas empregadas para se estudar o desenvolvimento mental da criança. 
Nessa linha de desenvolvimento a criança deve atingir uma determinada etapa, com 
a maturação de algumas funções e só depois disso a escola poderia fazer a criança 
adquirir determinados conhecimentos e hábitos. Sendo assim, de acordo com essa 
maneira de pensar, podemos afirmar que para Piaget, o desenvolvimento sempre se 
antecipa à aprendizagem. 
Vygotsky (2010), ao referir-se a essa teoria afirma que “o aprendizado é 
considerado um processo puramente externo que não está envolvido ativamente no 
desenvolvimento. Ele simplesmente se utilizaria dos avanços do desenvolvimento ao 
invés de fornecer um impulso para modificar seu curso”. (VYGOTSKY, 2010, p. 103). 
 
Na realidade, semelhante teoria não permite sequer colocar o problema do 
papel que podem desempenhar, no desenvolvimento, a aprendizagem e a 
maturação das funções ativadas no curso da aprendizagem (VYGOTSKY, 2010, 
p.104). Outro exemplo que traduz essa posição é citado por Vygotsky (2011), 
quando ele afirma que: 
Um dos aspectos mais típicos desta escola de pensamento consiste nas 
tentativas que levou a cabo para separar cuidadosamente os produtos do 
desenvolvimento dos da instrução, pressupondo que assim poderia isolá-los 
na sua forma pura. Nenhum investigador o conseguiu até hoje. Geralmente 
atribuem-se as culpas destes fracassos à inadequação dos métodos, 
compensando-se os mesmos fracassos com um redobrar das análises 
especulativas. Estes esforços para dividir o equipamento intelectual das 
crianças em duas categorias podem ir a par com a noção de que o 
desenvolvimento pode seguir o seu curso normal e atingir um nível elevado 
sem o concurso da instrução — e que até as crianças que nunca foram à 
escola podem desenvolver as formas de pensamento mais elevadas e 
acessíveis aos seres humanos. (VYGOTSKY, 2011, p.93). 
 
A segunda categoria de soluções propostas para os problemas que envolvem 
aprendizagem e desenvolvimento pauta-se na tese de que aprendizagem é 
desenvolvimento, ou seja, existe um entrelaçamento desses dois aspectos. Essa 
teoria foi primeiramente exposta por W. James e nela admite-se tanto a existência5
do desenvolvimento quanto da aprendizagem e se estabelece uma relação de 
dependência entre eles, um estaria condicionado ao outro. Este pensamento está 
em oposição ao primeiro tendo em vista que naquele haveria uma separação vital 
entre os dois precursores: desenvolvimento e aprendizagem. 
Exemplificando podemos dizer que se fosse possível traçar uma linha, tanto 
aprendizagem como desenvolvimento estariam no mesmo nível, ou seja, se fosse 
estabelecido grau de importância todos dois receberiam o mesmo tratamento. Para 
Vygotsky (2010) olhando com mais atenção e rigor percebe-se que: 
Um exame mais profundo desse segundo grupo de soluções demonstra 
que, apesar de suas aparentes contradições, os dois pontos de vista têm 
em comum muitos conceitos fundamentais e na realidade se assemelham 
muito. Segundo W. James “a educação pode ser definida como a 
organização de hábitos de comportamento e de inclinação para as ações”. 
Também o desenvolvimento vê-se reduzido a uma simples acumulação de 
reações. Toda reação adquirida – diz James – é quase sempre uma forma 
mais completa da reação inata que determinado objeto tendia inicialmente a 
suscitar, ou então é um substituto dessa reação inata. Para James, o 
indivíduo é simplesmente um conjunto vivo de hábitos. (VYGOTSKY, 2010, 
p.105). 
 
Como crítica a essa teoria Vygotsky (2010) aponta a existência de uma 
espécie de paralelo entre o desenvolvimento e a aprendizagem, que acarretaria um 
movimento de constante sobrepor de um sobre o outro, o problema nesse caso seria 
então compreender qual processo acontece primeiro e o que decorre deste, mas, 
para essa teoria tudo estaria sincronizado e acontecendo simultaneamente. Em não 
havendo separação, seria por demais complexo entender e estudar cada parte. 
Então, para Vygotsky (2011) ao percebermos as coisas assim, somos levados 
a concluir que dessa forma “se vê o desenvolvimento intelectual da criança como 
uma acumulação gradual de reflexos condicionados; a aprendizagem é vista 
precisamente da mesma forma. Como a instrução e o desenvolvimento são idênticos 
não se levanta sequer a questão da relação existente entre ambos”. Para o autor 
essa problemática poria em questão esse grupo de teorias (VYGOTSKY, 2011, 
p.95). 
Um terceiro grupo de teorias objetivou juntar as duas anteriores, na mesma 
medida em que almejou estar acima delas. Nesta abordagem, o processo de 
aprendizagem está apontado como independente do desenvolvimento, embora 
coincida com ele. Foram introduzidos aspectos inéditos, como a tentativa de 
conciliação dos pontos de vista anteriores e a consideração da questão da 
interdependência entre desenvolvimento e aprendizagem, destacando ainda o papel 
da aprendizagem no desenvolvimento da criança. (VYGOTSKY, 2011, p.95) 
gustavo
Destacar
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Sintetizando essa performance do terceiro grupo, Vygotsky (2011) comenta 
que “a terceira escola de pensamento, representada pela teoria gestaltista, tenta 
reconciliar as duas anteriores teorias, evitando as suas fraquezas. Embora este 
ecletismo tenha como resultado uma abordagem algo inconsistente, consegue com 
isto uma certa síntese entre os dois pontos de vista opostos. Nesse sentido 
percebemos uma busca por unicidade, já que as teorias anteriores deixavam 
margem para muitos questionamentos. 
Essa corrente ficou conhecida pelos estudos de Koffka e está sintetizado por 
Vygotsky (2010) como sendo uma linha de abordagem segundo a qual: 
[...] o desenvolvimento mental da criança caracteriza-se por dois processos, 
que embora conexos, são de natureza diferente e condicionam-se 
reciprocamente. Por um lado está a maturação, que depende diretamente 
do desenvolvimento do sistema nervoso, e por outro lado a aprendizagem 
que segundo Koffka, é em si mesma o aprendizado. (VYGOTSKY, 2010, p. 
106). 
 
A teoria de Koffka como já dissemos, carrega consigo aspectos congruentes 
com as outras categorias já mencionadas e seu ponto diferencial e o mais 
importante de acordo com Vygotsky é a ampliação do papel da aprendizagem no 
desenvolvimento. No entanto, esse fato nos envia diretamente a um problema 
pedagógico, o problema da disciplina formal. Esta prática provocou um 
conservadorismo exagerado, porque partia do pressuposto de que é imprescindível 
ensinar nas escolas disciplinas tais como as línguas clássicas ou as matemáticas, 
uma vez que, presumia-se que elas desempenhavam papel importante no 
desenvolvimento mental da criança. Para comprovar essa teoria basta observar os 
currículos escolares e notar que essa interpretação acabou por inchar as escolas 
com conteúdos e mais conteúdos formais. 
O interessante é que justamente em oposição a esse conservadorismo 
surgiram as teorias da segunda categoria estudada, buscando compreender a 
aprendizagem como algo autônomo e não como meio para o desenvolvimento da 
criança. Desprezar esse aspecto é o mesmo que crer que a disciplina formal é 
exclusivamente responsável e necessária ao desenvolvimento das aptidões mentais. 
A derrocada dessa vertente aconteceu com estudos que comprovaram que as 
disciplinas formais possuíam uma influência mínima no desenvolvimento, mesmo 
quando o estudo especial ou particular de uma atividade fosse semelhante ao de 
outra. Para Vygotsky (2010) “as faculdades intelectuais atuariam 
independentemente da matéria sobre a qual operam, e o desenvolvimento de uma 
 7
destas faculdades levaria necessariamente ao desenvolvimento de outras” 
(VYGOTSKY, 2010, p.107). 
Logo, para o autor, a terceira categoria não resolveu a questão do 
desenvolvimento e da aprendizagem e em contrapartida contribuiu para torná-la 
mais opaca, por isso Vygotsky propõe que se esqueça as três categorias citadas e 
busca por uma outra que melhor solucione o problema. Nessa busca por 
comprovações e respostas o autor realiza algumas experiências e de agora em 
diante iremos nos ater em sintetizá-las. 
 
Em busca de outras categorias: aprendizagem e desenvolvimento em geral e 
as características específicas dessa inter-relação 
 
É fundamental destacar a assertiva de Vygotsky (2010) ao dizer que “a 
aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar”, para ele 
nenhuma criança entra em uma escola e parte do nada, como se fosse uma tábua 
rasa, oca, sem preenchimento algum, ao contrário, ela traz uma história, algo que 
vem antes e que pode ou não ter continuidade. Sendo assim, a aprendizagem não 
necessariamente inicia-se na idade escolar, para o autor existe uma diferença 
substancial entre o que é produzido em termos de aprendizagem antes da criança 
estar na idade escolar e o que ela adquire durante sua estada nas instituições 
escolares. 
 Portanto, aprendizagem e desenvolvimento não entram em contato pela 
primeira vez na idade escolar, eles estão ligados entre si desde os primeiros dias de 
vida da criança. (VYGOTSKY, 2010, p.111). Tentando desmistificar a problemática o 
autor propõem em seus estudos que se analise duas vertentes da questão, sendo 
elas: a relação entre aprendizagem e desenvolvimento geral e depois as 
características específicas desta inter-relação na idade escolar. 
Sobre as características específicas o autor argumenta que sem dúvida 
nenhuma a aprendizagem deve estar coerente com o nível de desenvolvimento da 
criança, logo, existe uma relação entre os níveis de desenvolvimento e a capacidade 
potencial de aprendizagem da criança. Isso nos conduz a outra afirmação: não 
existe um único nível de desenvolvimento e Vygotsky estudou-os escalonando-os 
em dois. 
O primeiro nível ele chamou de desenvolvimento efetivo da criança, devemos 
entender por isso “o nível de desenvolvimento das funções psicointelectuais da 
gustavo
Destacar
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criança que se conseguiu como resultado de um específico processo de 
desenvolvimento já realizado”.(VYGOTSKY, 2010, p.111). 
Ao segundo nível o autor chamou de área de desenvolvimento potencial, esse 
é um dos pontos maispolêmicos e discutidos dos seus escritos. Na teoria 
Vygotskyana são apresentadas proposições que afirmam que o desenvolvimento 
apresenta uma gênese social, isto é, se dá de fora para dentro, destacando a 
influência da cultura nesse processo. Para Vygotsky, a aprendizagem e o 
desenvolvimento não são processos únicos e nem independentes, o autor atribui 
valor à aprendizagem somente quando ela mesma é uma fonte de desenvolvimento. 
Newman e Holsman (2002) transcrevem o pensamento de Vygotsky (1987) ao 
afirmarem que: 
Em vez disso, a unidade, aprendizagem-e-desenvolvimento tem complexas 
inter-relações que são objeto de sua investigação (1987:201) De que modo 
a aprendizagem traz à tona o desenvolvimento? A resposta reside na zona 
de desenvolvimento proximal. “A aprendizagem é útil quando se move à 
frente do desenvolvimento. Ao fazê-lo ela impele ou desperta toda uma 
série de funções que estão em fase de maturação, repousando na zona de 
desenvolvimento proximal (1987: 212). Além disso a aprendizagem seria 
completamente desnecessária se simplesmente utilizasse o que já 
amadureceu no processo de desenvolvimento, se não fosse ela mesma 
uma fonte de desenvolvimento.(NEWMAN e HOLSMAN, 2002, p.76). 
 
Daí concluímos que um conceito fundamental para a compreensão do 
progresso cognitivo humano em Vygotsky (1984) é a área de desenvolvimento 
potencial. Este se refere ao percurso que faz um indivíduo para desenvolver funções 
que se encontram em processo de amadurecimento e que mais adiante se tornarão 
funções consolidadas, estabelecendo assim o nível de desenvolvimento real do 
indivíduo. Por exemplo, num dado momento, para executar uma atividade, uma 
criança pode necessitar do auxílio de um adulto ou de uma criança mais velha 
(habilidade situada em uma zona de desenvolvimento proximal), mas no futuro a 
criança será capaz de realizar a tarefa sozinha (habilidade situada em uma zona de 
desenvolvimento real). “A área de desenvolvimento potencial permite-nos, pois, 
determinar os futuros passos da criança e a dinâmica do seu desenvolvimento e 
examinar não só o que produziu, mas também o que produzirá no seu processo de 
maturação”. (VYGOTSKY, 2010, p.113). 
Então, o estado do desenvolvimento mental da criança só pode ser 
determinado ou medido, quando se tem como referência no mínimo dois níveis, 
sejam eles o desenvolvimento efetivo e a área de desenvolvimento potencial. Essa 
constatação estremeceu todas as teorias em vigor, alterando a tradicional 
 9
concepção pedagógica vigente, que ditava que o ensino deveria orientar-se tendo 
como suporte o desenvolvimento já produzido, na etapa já superada. Para 
exemplificar um aspecto negativo desse ponto de vista Vygotsky, citou o caso de 
crianças que tem pouco pensamento abstrato e seus professores convictos de 
estarem agindo corretamente decidem ensiná-las utilizando exclusivamente meios 
visuais. 
A adoção dessa espécie de estudo revelou-se insatisfatória, pois provou que 
a exclusividade do ensino visual em nada respeita o pensamento abstrato e ainda 
confirma essa incapacidade na criança, pois ao insistir no visual elimina todos os 
germes do pensamento abstrato na criança. 
 
Função da escola 
 
Diante da constatação acima, Vygotsky (2010) esclarece que a função da 
escola consiste em direcionar a criança a alcançar o que lhe falta e não relegá-la ao 
abandono e presa a um universo específico. Um ensino que esteja orientado até 
uma etapa de desenvolvimento que já foi efetivado é ineficaz do ponto de vista do 
desenvolvimento geral da criança, porque dessa forma o ensino não está dirigindo o 
processo e sim indo atrás dele. 
Tomando como base a teoria do desenvolvimento potencial e seu contraste 
com a pedagogia tradicional, o autor afirma que “o único bom ensino é o que se 
adianta ao desenvolvimento”. (VYGOTSKY, 2010, p.115). Para ele: 
A aprendizagem não é em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta 
organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento 
mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta 
ativação não poderia produzir-se em aprendizagem. Por isso, a 
aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para 
que se desenvolvam na criança essas características humanas não-
naturais, mas formadas historicamente. (VYGOTSKY, 2010, p.115). 
 
Quando se relaciona a aprendizagem do adulto e da criança é ainda mais 
perceptível a o papel da aprendizagem como fonte de desenvolvimento ou como 
zona de desenvolvimento potencial. Nesse ponto Vygotsky contesta afirmações que 
diziam não haver diferença substancial entre as duas e que um mecanismo 
caracterizaria a formação de hábitos tanto em crianças quanto nos adultos, com a 
diferença de que nas crianças ela é mais fácil e veloz. 
Na visão Vigostyana (VYGOTSKY, 2010, p.116) reside aí um problema e para 
explicá-lo o autor apresenta a seguinte questão: o que tem de diferente entre 
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aprender a escrever a máquina na idade adulta, do processo que se dá na idade 
escolar quando se aprende a língua escrita? Para Vygotsky (2010) “a diferença 
essencial consiste nas diversas relações destas aprendizagens com o processo de 
desenvolvimento”. 
O exercício de aprender a usar a máquina estabelece conexão com um certo 
número de hábitos, que por si só, não podem alterar a as características 
psicointelectuais do homem. Para o autor uma aprendizagem como essa aproveita 
um desenvolvimento já elaborado e completo o que contribui muito pouco para a 
formação geral. No entanto, no aprendizado da língua escrita ocorre a ativação de 
uma fase de desenvolvimento de processos psicointelectuais novos e complexos. 
Talízina (2000) corrobora com esse pensamento ao dizer que “el desarollo se 
caracteriza antes que nada, por la formaciones nuevas, por los câmbios cualitativos 
en la vida psíquica del hombre. (TALIZINA, 2000, p.307). O aparecer destes 
processos novos originam uma mudança ampla e radical das características gerais, 
psicointelectuais da criança, da mesma forma que aprender a falar marca uma etapa 
fundamental na passagem da infância para a puerícia. (VYGOTSKY, 2010, p.116). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Ao focalizar a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, Vygotsky 
(2010) alcançou algumas conclusões e dentre elas podemos citar que a 
aprendizagem escolar orienta e estimula processos internos de desenvolvimento. 
Sendo assim, o mais árduo e indicado para uma ação de análise do processo 
educativo ampara-se na tarefa de descobrir o aparecimento e o desaparecimento 
dessas linhas internas de desenvolvimento no momento em que se verificam, 
durante a aprendizagem escolar. Então pode-se concluir que “o processo de 
desenvolvimento não coincide com o da aprendizagem, o processo de 
desenvolvimento segue o da aprendizagem, que cria a área de desenvolvimento 
potencial” (VYGOTSKY, 2010, P.116). 
 Uma segunda conclusão que podemos chegar é a de que a aprendizagem e o 
desenvolvimento da criança não estão paralelos e simultâneos, como pregaram 
alguns teóricos, existe sim uma dependência que pode ser encarada por nós como 
complexa demais para almejarmos adentrar no seu âmago. Sobre a função da 
escola, podemos destacar que com base nas afirmações sobre as disciplinas 
formais, cabe aos gestores e às instituições analisarem com cautela essa questão. 
 11
Não se nega que cada matéria ou disciplina tenha sua importância no processo 
desenvolvimental da criança, mas há que se compreender e avaliar a importância de 
cada uma no papel psicointelectual geral da criança, como nos adverte Vygotsky 
(2010). 
Outro ponto para o qual Vygotsky chama a atenção
 
é a existência de um 
arcabouço histórico que precede cada situação de aprendizagem, ou seja, a criança 
em idade escolar já possui uma aritmética ou uma geometria não sendo portanto 
uma vasilha oca na qual o professor irá depositar todo o conhecimento que ele tem 
sobre determinado assunto,isso há que ser levado em conta na hora de planejar os 
conteúdos e as metodologias que cada professor irá utilizar em suas aulas. 
Finalizando, podemos dizer que a escola, como espaço privilegiado, deve 
organizar-se para que todos que nela estão inseridos trabalhem no sentido de 
compreender que a aprendizagem não é desenvolvimento. Um dos objetivos da 
escola deve ser o de oferecer ao aluno situações de experiências que o oportunizem 
realizar aprendizagens. Para tanto, os pressupostos teóricos de Vygotsky, aqui 
apresentados, reafirmam a importância das inter-relações entre professor/aluno; 
aluno/aluno; desenvolver/aprender, para a abertura de novos caminhos de 
aprendizagem e desenvolvimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
 
NEWMAN, Fred; HOLZMAN, Lois. Lev Vygotsky Cientista Revolucionário. São 
Paulo: Edições Loyola, 2002, p.76. 
 
TALÍZINA, Nina F. La enseñanza y el desarrollo. Cap. XIV. Manual de psicologia 
pedagógica. Facultad de Psicología. Universidad Autónoma de San Luis Potosí, 
2000, p.307. 
VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: 
VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. (Org.). Linguagem, 
desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1978, p. 57. 
 
VYGOTSKY, Lev. S. Aprendizagem e desenvolvimento na Idade Escolar. In: 
Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Vigostky, L. Luria, A. Leontiev, A.N. 
11ª. Edição. São Paulo: Ícone, 2010, p. 103-116. 
VYGOTSKY, Lev. S. O desenvolvimento dos conceitos científicos na infância. Cap. 
6. Pensamento e linguagem. 2011, p. 93-95. Versão para eBook eBooksBrasil.com. 
Disponível em: www.jahr.org. Acesso, 25 de junho de 2011.

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