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Alcides Jorge Costa - ICM NA CONSTITUIÇÃO E NA LEI COMPLEMENTAR

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I C M 
NA CONSTITUIÇÃO 
E NA LEI COMPLEMENTAR 
C87i 
79-0143 
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte 
Câmara Brasileira do Livro, SP 
Costa, Alcides Jorge, 1925-
ICM na Constituição e na lei complementar I Alcides Jorge 
Costa. - São Paulo : Ed. Resenha Tributária, 1979. 
Bibliografia. 
1. Imposto sobre Circulação de Mercadorias - Brasil I. Título. 
CDU-34:336 .23(81) 
1ndice para catálogo sistemático: 
1 . Brasil : Imposto sobre Circulação de Mercadorias 
34:336.23(81) 
Direito tributári() 
ICM 
ALCIDES JORGE COSTA 
Advogado em São Paulo 
NA CONSTITUIÇÃO E 
LEI COMPLEMENTAR 
SÃO PAULO 
1978 
NA 
Supervisão editorial de 
WALDIR REZENDE XAVIER 
@ 
IViiíüi.~B.I4~·H!~BJã 
EDITORA RESENHA TRIBUTARIA LTDA. 
Administrasão - C. G. C. 60.452.000/0002-35 
04140 ·- Rua Quatinga, 12 
Telefones: 275-3910 e 275-7620 - São Paulo 
Para M01ria Eugênia, minha mulher 
INTRODUÇÃO 
O imposto sobre operações relativas à circulação de mercador~as, 
conhecido pela sigla ICM, constitui a viga mestra da arrecadação dos 
Estados. 
O ICM, introduzido no sistema fiscal brasileiro pela Emenda n<:> 18 à 
Constituição de 1946, apresenta um aspecto novo. Não foi, é verdade, o 
primeiro imposto sobre o valor acrescido existente no Brasil, porque prece-
dido pela transformação do antigo imposto de consumo em imposto daque-
le tipo, isto é, sobre o valor acrescido. Todavia, o imposto de consumo, 
hoje imposto sobre produtos industrializados, é cobrado apenas no ciclo 
da produção industrial, ao passo que o ICM tem uma extensão muito maior, 
uma vez que se aplica ao ciclo da produção industrial, agrícola, pecuária 
e da indústria extrativa, bem como ao ciclo da comercialização, até o nível 
de varejo, inclusive. Este seu asrecto é novo. 
Como não podia deixar de ser e malgrado esperanças em contrário, 
o ICM herdou todos os problemas do comércio interestadual que tanta 
discussão ocasionaram ao tempo do imposto sobre vendas e consignações. 
Por fim, o ICM não entrou com sua estrutura pronta e acabada no 
sistema tributário nacional. Seus princípios básicos foram lançados na 
Emenda n9 18 e no Código Tributário Nacional, mas sofreram alterações 
na tumultuada legislação que se seguiu ao Código, antes mesmo de o 
tributo passar a ser arrecadado pelos Estados. Daquela época para cá, 
novas alterações ocorreram e a legislação só começou a estabilizar-se com 
a Emenda n9 1 à Constiutição de 1967. 
Tudo isto justifica que se dispense atenção ao ICM. Esta a razão pela 
qual tentamos, neste :trabaU10, uma construção da ,estrutura jurídica do 
ICM, com fundamento na Constituição, que contém os princípios básicos 
do tributo, e nas leis complementares, que, seu nome o diz, completam a 
Constituição, revelando, inclusive, certos aspectos não explicitados na lei 
maior. 
O ICM tem sido objeto de várias e acirradas disputas judiciais; a im-
portância que assumiu na vida econômica do país ressalta clara do número 
de enunciados da súmula do S.T.F. a ele dedicados na mais recente publi-
VII 
cação. Dos quarenta e nove novos enunciados, onze dizem respeito ao 
ICM; nada menos que 22,4%. 
A doutrina tem dedicado atenção a este tributo, através de artigos, 
pareceres e alguns livros, estes bastante voltados para legislações estaduais. 
O que tentamos fazer neste trabalho foi construir a estrutura do ICM 
à luz da Constituição. Para melhor fazê-lo, pareceu-nos importante exa-
minar as circunstâncias que cercaram a substituição do antigo imposto 
sobre vendas e consignações, imposto plurifásico, cumulativo, pelo ICM, 
também plurifásico mas não cumulativo. Pareceu-nos também de interesse 
estudar o perfil teórico do imposto plurifásico sobre o valor acrescido e a 
estrutura deste tipo de tributo na Comunidade Econômica Europeia que, 
adotando-o, contribuiu poderosamente para a sua difusão. A este objetivo 
são dedicados os cinco primeiros capítulos. 
Os demais dizem respeito à estrutura do ICM em nosso direito positivo. 
Nosso trabalho é de cunho jurídico e se há algumas referências a aspectos 
econômicos ou políticos é porque nos pareceram necessárias à melhor com-
preensão dos princípios do imposto. Limitamo-nos à Constituição e às leis 
complementares; não entramos na selva agressiva das legislações estaduais, 
a não ser a título de exemplificação. 
Não temos a pretensão de haver dito a última palavra sobre assunto 
tão controverso, mesmo porque nunca se diz a última palavra sobre as ins-
tituições jurídicas de um país. Ficaremos contentes se a este livro puderem 
aplicar-se as palavras de LVIGI EINAUDI ao prefaciar livro de L.V. BERLIRI: 
"Suscitar dubbi, far nascere problemi, provocare discussioni: ecco lo scopo 
ed ecco il pregio di ogni libra vivo". ( *) 
(*) La Giusta Imposta, Dott. A. Giuffrê Editore, Milão, 1975. 
VIII 
CAPÍTULO I 
A INTRODUÇÃO, NO BRASIL, DO IMPOSTO DE VENDAS 
E DO IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE 
MERCADORIAS * 
Os impostos de vendas, denominação genérica que compreende im· 
postos sobre o tráfico de mercadorias, são muito antigos. Não vamos 
traçar aqui o histórico deste tipo de tributo (1), mas limitar-nos ao que 
sucedeu no Brasil . A grande difusão dos impostos sobre vendas ocorreu 
logo após a Primeira Guerra Mundial, quando países como a França e 
a Alemanha, premidos por dificuldades financeiras, lançaram mão deste 
tipo de tributo exatamente porqlle, sem embargo dos defeitos que possa 
ter, produz facilmente grande arrecadação. 
No lJrasil, o imposto sobre vendas tem uma história que não deixa 
de apresentar um aspecto curioso: o de, a certa altura, ter sido reinsti-
tufdo por sugestão dos contribuintes, como veremos adiante. 
• Nestes capítulos iniciais, precedentes ao exame do ICM tal como existente no 
Brasil, os vocábulos mercadorias, produtos, bens, serão usados como sinônimos 
no sentido de coisas móveis corpóreas. 
1. Sobre o histórico dos impostos de vendas: M. R. CAONAT, Lcs Jmpôt.r lndi-
rects /rez les Romains, Paris, lmprimcrie National e, 1882, pág. 227 e segs., 
onde há, também referência ligeira aos impostos de vendas no Egito; ALPRE.D 
G. Bumn.HR, vb. Sales Tax, in Encyclopaedia oJ tlte Social Sciences, The Mac-
millan Company, New York, 1944; GUNTEl\ SCRMOLDERS, Lo.r impucstos a/ 
volume11 de negocios e FRmDlUCH FRANZ KuliN, lmpuestos a/ trafico, ambos 
in Tratado de Flnanz.as, dirigido por W. Gerloff e Fritz Neumark, Lrad. cspa-
nholu, Libreria El Ateneo, Buenos Aires, tomo II, pág. 590 e segs. e pág. 637 
e segs. respectivamente; MANUEL DE JuANO, Tribmacion sobre e/ valor agre· 
gado, Victor P. de Zavalia Editor, BueJlos Aires, 1975, págs. 22-24; BowtN 
R. A . SBUGMAN, Studies in PubHc Finance, ].il edição, The Macmillan Com-
pany, New York, 1925, reimpressa por Augustus M. Kelley-Publishers, Ncw 
York, 1969, págs. 124-131. G. SCBMOLDBRS, Turnover Taxes, Int. Bureau of 
Fiscal Documentation, Amslerdam, 1956. RunnNs GoMes DB SouSA, A tribu· 
laçao das vendas in O Imposto sobre vendas e consignações no Sistema Tribu-
tário Brasileiro, Edições Financeiras S. A., Rio, 1956, pág. l 1. ALIOMAR BA-
LEEIRO, Uma introdução à CiEncia das Finanças, Ed. Forense, 4.0 ed., Rio, 
1963, págs. 381-383. 
1 
O Código Comercial, em seu artigo 219, diz que "nas vendas em 
grosso ou por atacado, entre comerciantes, o vendedor é obrigado a 
apresentar ao comprador por duplicado, no ato da entrega das merca-
dorias, a fatura ou conta dos gêneros vendidos, as quais serão por ambos 
assinadas, uma para ficar na mão do vendedor e outra na do comprador. 
Não se declarando na fatura o prazo do pagamento, presume-se que a 
compra foi à vista (art. 13 7) . As faturas sobreditas, não sendo recla-
madas pelo vendedor ou comprador, dentro de dez dias subseqüentes à 
entrega e recebimento (art. 135), presumem-se contas líquidas." 
O Decreto n.0 4.505, de 31 de dezembro de 1870, regulamentou a 
cobrança do imposto do selo incidente sobre "letras de câmbio e de terra, 
escritos à ordem, créditos e escrituras de títulos e ordem de obrigação ou 
exoneração de somas e valores" e declaroucompreenderem-se nesta classe 
"créditos, faturas ou contas assinadas". Ficavam estas, portanto, sujeitas 
ao imposto do selo, que incidia sobre um documento e não sobre o 
negócio jurídico da compra e venda mas que, sob o aspecto econômico, 
não deixava de ser um imposto de vendas. J. TAVARES DA RocHA afir-
ma que as faturas ou contas de que fala o Código Comercial sempre 
estiveram sujeitas ao imposto do selo proporcional, mas não faz acom-
panhar sua afirmação da menção dos textos legais que a ela dariam 
suporte(2 ). Mas o Regulamento do Imposto do Selo e de sua arrecada-
ção, baixado pelo Decreto n.0 681, de 10 de julho de 1850, não faz 
qualquer menção às faturas ou contas assinadas (8 ), apesar de posterior 
ao Código Comercial, que foi promulgado em 25 de junho do mesmo ano. 
O imposto do selo que incidia sobre as contas assinadas era um 
tributo que tinha por fato gerador a existência de um instrumento regu-
lado por lei federal, e não sobre o negócio jurídico a que o instrumento 
se referia. Das peripécias da vida das contas assinadas dá notícia 
WALDEMAR FERREIRA (4 ). 
As contas assinadas tiveram larga aceitação e circulavam como ver-
dadeiros títulos à ordem (5 ). O advento da Lei n.0 2.044, de 31 de 
dezembro de 1908, que definiu a letra de câmbio e a nota promissória e 
regulou as operações cambiais, acarretou o desuso das contas assinadas 
porque não arroladas entre os títulos cambiais. Assim, apesar da exeqüi-
bilidade das contas assinadas, o comércio passou a postular a criação de 
um título representativo das mercadorias vendidas e que pudesse circular 
como título de crédito. 
2 . J. TAVARES DA RocHA, Vendas e Consignações, Rio de Janeiro, 1951, pág. 8. 
3. O Regulamento está transcrito em Apontamentos de Direito Fi·nanceiro Brasi-
leiro, JosÉ MAURÍCIO FERNANDES PEREIRA DE BARROS Eduardo & Henrique 
Laemmert, Rio de Janeiro, 1855, pág. 251 e segs. ' 
4. T~atado . de Direito Comercial Brasileiro, Ed. Saraiva, São Paulo, 1963, vol. 10, 
pags. 159-169. ' 
5 · AFFONSO DYONISIO DA GAMA, Das Contas Assinadas citado por J. TAVARES DA 
ROCHA, op, cit., pág. 9. ' 
2 
O Poder Legislativo foi sensível aos reclamos do comércio: o artigo 
3.o, § 8.0 , da Lei n.O 2.919, de 31 de dezembro de 1914, autorizou o 
Executivo a tornar efetiva, através de regulamento, a cobrança do imposto 
do selo proporcional a que estavam sujeitas as faturas ou contas assinadas, 
"podendo estabelecer que sejam as mesmas equiparadas às letras de câm-
bio e notas promissórias". O Regulamento foi baixado pelo Decreto n.0 
11.527, de 17 de março de 1915, que jamais entrou em vigor: circulares 
ministeriais adiaram-lhe o início ele vigência, até que a Lei n.0 3.070, de 
31 de dezembro de 1915, revogou o artigo 3.0 , § s.o, da Lei n.o 2.919, 
de 1914, em vista de dúvidas acerca da constitucionalidade de alguns de 
seus dispositivos. 
Este insucesso não esmoreceu o comércio em seus esforços pela cria-
ção de um título de crédito. O Primeiro Congresso das Associações 
Comerciais do Brasil, instalado no Rio de Janeiro em 18 de outubro de 
1922, debateu o assunto e aprovou um projeto de lei que foi apresentado 
ao Governo, que o aceitou. Em virtude disto, a Lei n.0 4.625, de 31 de 
dezembro de 1922, em seu artigo 2.0 , inciso X, autorizou o Presidente 
da República 'a cobrar o imposto do selo proporcional sobre as vendas 
mercantis, a prazo ou à vista, efetuadas dentro elo país, p denelo apl icar, 
no todo ou em parte, as disposições adotadas sobre a matéria no 1.0 
Congresso das Associações Comerciais do Brasil, realizado nesta Capital 
em 1922, ou outras que julgar convenientes, de modo a tomar obrigatória 
a assinatura pelos compradores". 
Com base neste texto legal, sucederam-se diveçsos regulamentos, o 
último dos quais foi aprovado pelo Decreto n.0 22.061, de 9 de novembro 
de 1932. Estava instituído o imposto de vendas mercantis raridade, 
como diz W ALDEMAR FBRRBmA, por tratar-se de tributo criado por soli-
citação dos contribuintes. 
O tributo era federal. A Constituição de 1934 transferiu-o para a 
esfera ele competência dos Estados. A det1ominação "imposto sobre ven-
das mercantis" transmudou-se em "imposto sobre vendas e consignações . 
As Constituições posteriores, de 1937 e 1946, continuaram a alL'ibuí-lo 
aos Estados cuja arrecadação tinha este imposto como sustentáculo (6 ) . 
Tratava-se de imposto multifásico, isto é, incidente sobre cada venda, 
em todas as fases da circulação das mercadorias, desde a fonte produtora 
até o consumidor. Por outras palavras, o imposto de vendas e consigna-
ções era um tributo que incidia "em cascata". Em 1965, ao implantar-se 
6 . Sobre n história du criação do imposto de vendas mercantis, que se confunde 
com a história da criação da duplicata: J. TAVAlU!S RoCHA, op. cil.; Wt.LOB-
MAR Fmm [RA, op. cit., PONTES nn Mn!.ANDA, Comtmttírios à Constituição úe 
1946, Max Limooad, 1953, 2.8 edição, vol. II, pág. 85; RuBENS GoMES on 
SousA, Parecer, in Revista de Direito Administrativo, vol. 90, págs. 427-421!. 
AYRES ANTONIO PEIU!IRA CAROLLO, Duplicata - Da origem à atualidade, 
Editora Resonha Universitária, São Paulo, I 977, Capítulo I dedicado ao h.is-
t6rico da duplicata. 
3 
\ ) ( a reforma tributária consubstanciada na Emenda Constitucional n.0 18, 
~ de 1. 0 de dezembro do mesmo ano, o imposto de vendas e consignações 
foi substituído pelo imposto de circulação de mercadorias, logo conhe-
cido pela sigla ICM, que também é multifásico mas que não apresenta o 
caráter de cumulatividade inerente aos impostos "em cascata". (7) 
A substituição do imposto sobre vendas e consignações pelo ICM 
não foi submetida a debate amplo, mesmo porque não houve - ou não 
toi dado - tempo para fazê-lo. A comissão encarregada de elaborar o 
ante-projeto de reforma da discriminação constitucional de rendas foi 
constituída pela Portaria GB-30, de 27 de janeiro de 1965, do Ministro 
da Fazenda. Em 18 de junho do me mo ano, portanto antes de decorri-
dos seis meses, a Comissão entregava um ante-projeto de emenda consti-
tucional dividido em duas proposituras, designadas A e B. Com algumas 
modlficações introduzidas pelos Ministros da Fazenda e do Planejamento, 
o projeto revisto da Emenda B foi encaminhado ao Congresso Nacional 
pelo Presidente da República, com a Mensagem n.0 21, de 4 de novembro 
de 1965. Menos de wn mês depois, o Congresso Nacional aprovou o 
projeto que se converteu na Emenda Constitucional n.0 18, de 1.0 de 
dezembro de 1965; a Emenda A não foi submetida ao Congresso Nacio-
nal. A Constituição de 1967 c a Emenda Constitucional 1/69, conser-
varam o ICM, tal como implantado pela Emenda n.0 18. 
As razões que teriam levado à introdução de um imposto do tipo do 
valor acrescido em lugar de um do tipo em cascata estão explicadas no 
item 3/36 do relatório que a Comissão elaboradora do ante-projeto de 
emenda constitucional apresentou à guisa de fundamentação da orientação 
adotada. Uma análise destas razões requer um exame prévio do imposto 
multifásico "em cascata" e se.u confronto com o imposto do tipo do 
valor acrescido. 
7 . Se o ICM é um imposto novo ou se é apenas o imposto de vendas e consigna-
ções modificado é problema de que cuidaremos noutro capítulo. 
4 
CAPÍTULO 11 
DIVERSOS TIPOS DE IMPOSTOS SOBRE VENDAS. 
O IMPOSTO MUL TIF ASICO CUMULATIVO. 
Os impostos sobre vendas, tomada esta expressão na acepção de 
impostos sobre o tráfico de mercadorias (8 ), admitem basicamente três 
modalidades (9 ): 
1 . Imposto multifásico cumulativo: cobrado em cada uma das 
transações pelas quais a mercadoria passa desde a fonte de produção até 
entrega ao consumidor. O imposto pago numa transação não é levado 
em conta nas subseqüentes, de modo que o ônus tributário se vai acumu-
lando. 
2. Imposto monofásico: cobrado apenas uma vez, seja do produtor, 
seja do atacadista, seja do varejista, em um só ponto do processo de 
produção e distribuição. 
8 . A expressão imposto geral sobre vendas, ou, simplesmente, impo~to de, vend?s, 
6 utilizada de modo genérico,para deslgnar um impo lo proporcional a. rcce1ta 
bruta de vendas (ctfúfre d'affaires) em conjunto, ou de cada venda tsol~da. 
Neste sentido genérico, aplicável também ao imposto sobre o valor acresctdo : 
JoHN F. Oun, Sales Taxdtioll, Roulledge & Kegan Paul, Londres, l~S? - cfr., 
pág. 3 - ; CESARB CosciANI, E/ lmpuesto. a! Val?r J! cregaclo, H~tc1ones De-
palma, Buenos Aires, 1969, págs. 1-2 e bibliografia cttada por este autor na 
nota 2. 
9 . Esta classificação é a mais hnbitual. Cf r., JoHN F . Due, p. cil., pág. 4; 
CESARE CosCIANI, op. cit., págs. 4-S. RICARDO Ü\LLB SAiz, E/ Jmpueslo ~robre 
el Valor Alít1dido Instituto de Esludios Piscalcs., 1948, págs. 6-7; ARNALDO 
CIANI, L'introdu1,i~ne dell'imposla sul valore aggiunto 11ell' ordinamenlo lrib~t­
tarlo itaiiaJJo, Ed. A. Giuf.frê, MiUio, 1975, págs. 11- 12. o. cbamad? ~elat n.o 
Neumark, que foi o relatório da Comissão Fiscal Europé1a (Co_m!s~ao prest-
dida por Fritz Neumark) classifica os impostos de vendas em umfastcos, mul-
tifásicos e onuüfásicos podendo os dois últimos ~;er cumulativos em cascata 
ou não (in The EEC Reports on Tax Harmonization, tradução não oficial 
para o inglês, International Burenu of Fiscnl Documentation, Am terdam, 
1943, pág. 123). 
5 
- ----------- ---------=-=- -- -- --
3. Imposto de valor acrescido: cobrado em cada transação, desde 
a produção até entrega ao consumidor. O imposto recai, em cada tran-
sação, apenas sobre o valor acrescido à mercadoria pelo vendedor (lO). 
O imposto de vendas e consignações era do tipo multifásico cumu-
lativo: incidia sobre todas as vendas e consignações efetuadas por comer-
ciantes, industriais e produtores, em todas as fases do ciclo econômico . ' sem que o Imposto pago em qualquer das operações fosse levado em 
~onsideração ~o cálculo do tributo dlevido nas posteriores. Este tipo de 
Imposto, que Já teve grande voga, vem sendo progressivamente substituído 
pelo imposto do tip valor acJ:escido. Entre nós, imposto de vendas do 
tipo valor acrescido não era novidade ao tempo da introdução do ICM. 
O antigo imposto de consumo, que economicamente conceitua-se 
como um imposto de vendas, era um imposto multifá ico e cumulativo 
cobrado no ciclo da produção industrial. Era multifásico porque incidi~ 
em todas as operações realizadas por industriais, ainda quando vendessem 
a outros, e cum~l~tivo porque o imposto pago sobre matérias primas e 
produtos secundanos (que fossem, por seu turno, produtos industriali-
zados) não era tomado em consideração no cálculo do imposlo incidente 
sobre o .produto a .que se integravam tais matérias primas e produtos 
secundários. A Le1 n.0 3.520, de 30 de dezembro de 1958 em sua 
Alter~ção lO.a, dispô~ que, do imposto devido em cada quinz~na, fosse 
dcduz1do o valor do liDposto que, no mesmo período, houvesse incidido 
sobre . ~atérias primas e outros produtos empregados na fabricação e 
acondiCIOnamento dos produtos tributados. Estava, assim, introduzido o 
sistema do valor acrescido no imposto de consumo. 
. Quais ser~am as razões que levaram à adoção de um imposto multi-
fásico cumulativo em cascata e quais as que teriam levado ao seu aban-
dono, em favor do tipo de valor acrescido? 
Entre nós, o imposto de vendas, multifásico, cumulativo resultou 
não de uma escolha em termos financeiros, mas da circunstância de 
estar ligado à criação de título que comerciantes e industriais queriam 
emitir. Isto resulta claro do que foi exposto no capítulo anterior deste 
trabalho. Po ·tcriormente, a incidência estendeu-se às operações reali-
zadas por produtores agrícolas e pecuários, sem que, ao que nos conste, 
tenha havido maior preocupação com os possíveis defeitos e qualidades 
do tributo. Saliente-se que, em 1961, o Governo do Estado de São Paulo 
promoveu estudos de que resultou um projeto de lei que, embora publi-
10 . <? voc~bulo transação é aqui usado em seu sentido vulgar de operação comer-
Cial, aJuste e não no sentido técnico do artigo 1.025 do Código Civil e do 
artigo 171 do Código Tributário Nacion,nl. A palavra mercadoria uão é, 
neste capítulo, empregada no sentido mais · estrito que resulta do texto consti-
t~cional, leis e regulamentos que cuidam do ICM; aqui, a palavra tem sen-
udo mais amplo e não rigorosamente limitado, bastando lembrar que, nos 
pafses da Comunidade Econômica Européia, o imposto sobre o valor acrescido 
atinge negócios imobiliários. 
6 
cado (11), não chegou a ser enviado à Assembléia ~egis~ativ!l; este p~o­
jeto limitava a incidência do imposto de vendas e consignaçoes as operaçoes 
realizadas no ciclo da produção industrial. 
O quadro ficará completo se for mencionada a adoção, pelo Rio 
Grande do Sul, de um imposto de vendas e consignações com alíquotas 
variáveis em função da natureza da mercadoria, sistema que não teve 
longa duração. 
Mas voltemos às possíveis razões da adoção do imposto de vendas 
multifásico cumulativo em cascata. Este imposto apresenta duas vantagens 
sobre os demais tipos. A primeira é a de tratar-se de um tipo mais tosc,o 
e, portanto, de mais fácil aplicação e compreensão, fator q~e, num pais 
como o Brasil, não é desprezível. A s~gund~ é a de se~ o tipo q~e, p~ra 
um determinado volume de arrecadaçao, exige uma altquota ma1s baixa 
do que qualquer outro tipo, ao mesmo tempo em que difunde o impacto 
tributário por um número muito maior de empresas. 
Estas vantagens são compensadas por desvanta~ens que ? legislador 
teve em mente ao introduzir o tipo do valor acrescido. Ass1m é que o 
Relatório com que a Comissão encarregada de ela~o~ar o ante-projeto ~e 
reforma tributária encaminhou sua proposta ao Mmistro da Fazenda dtz 
que é "característica moderna dos im~os~os sobre, a circulaç~o,. primeiro 
elaborada na França e imitada pela ma1ona dos paises, a de so tnbutarem, 
em cada sucessiva operação, o valor acrescido, eliminando-se as~i~ ~s ~o­
tários malefícios econômicos da superposição em cascata, de mcidencias 
repetidas sobre bases de cálculo cada vez mai~ .elevadas p~la .ad!ção de 
novas margens de lucro, de novas despesas acessonas, e do propno Imposto 
que recaiu sobre as operações anteriores (12 ). 
A primeira desvantagem é a de que o impo.sto de vendas do tipo 
multifásico cumulativo incentiva a integração vertical das empresas. Se 
o tributo é pago em cada operação de que resulta a pa~sagem da merc~­
doria de uma empresa para outra, até entrega ao consumid?r, qAuanto mais 
integralizada verticalmente uma empresa, tanto menor sera o onus a que 
ficarão sujeitas as mercadorias por ela vendidas. 
Desconhecemos qualquer estudo a respeito dos efeitos. de i~tegração 
vertical resultantes do antigo imposto de vendas e consig~açoes. No 
entanto, a legislação corretiva, cuja necessidade se fez sentir, ~o~tra a 
existência desses efeitos em pelo menos dois casos. No coi?ercio do 
café as tradicionais vendas na praça de Santos, que eram mu1tas e em 
virt~de das quais o produto podia ser transferido várias vezes, viram-se 
11. In "O Estado de São Paulo" de 5 de janeiro de 1962, pág. 19. Nesta ocasião, 
publicamos um breve estud~ intitulado . Imposto de Vendas e Consignações: 
análise dos sistemas de arrecadação, na Revista de Administração de Empresas, 
n.o 6, pág. 53 e segs. 
12. In Reforma Tributária Nacional, publicação n.0 17, da Comissão de Reforma 
do Ministério da Fazenda, 1966, pág. 49, item 3/40. 
7 
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quase condenadas ao desaparecimento em virtude do ônus insuportável 
criado pela incidência múltipla do imposto de vendas e consignações. 
A situação chegou a tal ponto que se tornou necessária legislação especial 
que concedeu isenção do tributo para as operações internas da praça de 
Santos, realizadas com café, quando destinadas à formação de lotes para 
exportação (18 ). As grandes empresas não eram afetadas pelo problema 
porque adquiriam o café diretamente dos produtores e o exportavam, 
ficando sujeitas apenas a duas incidências, na compra e na exportação. 
No comércio de algodão, as empresas de maior potencialidade econô-
mica começaram,a certa altura, a manter suas próprias máquinas de bene-
ficiamento do produto. Desta maneira, pagavam o imposto quando com-
pravam o algodão do produtor e quando o revendiam à indústria ou o 
exportavam. Com isto, os empresários menores viram-se ameaçados de 
alijamento do mercado porque o algodão com que lidavam ficava sujeito a 
uma incidência a mais, no mínimo, ou seja, na venda do beneficiador 
ao industrial ou ao exportador. Desvantagem considerável se levarmos 
em conta que a alíquota do imposto de vendas e consignações chegou a 
atingir 6,6%. Para contornar o problema, a Lei n.0 6.026, de 31 de 
dezembro de 1960, de São Paulo, concedeu isenção do tributo para as 
vendas e consignações de algodão em pluma, exceto quando realizadas 
para fora do país ou quando feitas a indústrias que adquiriam o produto 
para utilizá-lo em suas indústrias. 
O imposto de vendas multifásico cumulativo em cascata ressente-se 
de outro grave defeito: o de não constituir uma carga uniforme para todos 
os consumidores que são, afinal, quem o suportam. Este ônus será tanto 
maior quanto mais longo o ciclo da produção e da comercialização de 
cada produto. Como a essencialidade do produto não guarda relação 
alguma com a extensão do ciclo a que fica sujeito até chegar ao consumi-
dor, pode acontecer - e acontecia muitas vezes - que o produto mais 
essencial seja o mais onerado. Por exemplo: jóias têm um ciclo de pro-
dução e comercialização normalmente mais curto que o de certos artigos 
de alimentação, como a carne. 
Um imposto multifásico cumulativo torna impraticável uma desone-
ração completa dos produtos exportados. Por outro lado, um produto 
importado e vendido diretamente ao consumidor fica em posição altamente 
vantajosa na concorrência com produtos fabricados no país. 
Evitar estes males é quase sempre possível, mas à custa da perda da 
simplicidade que é um dos maiores atrativos do imposto de vendas multi-
fásico cumulativo (14 ). 
13. Lei estadual n.0 1.037, de 28 de maio de 1951 que, por força de prorrogações 
sucessivas, ficou em vigor até a introdução do ICM. 
14 . Este esboço de análise não visa senão dar uma idéia do que o legislador 
quis evitar com a abolição do antigo IVC. A finalidade é a de, em capítulos 
subseqüentes, demonstrar que certas interpretações da Constituição e das leis 
federais relativas ao ICM conduzem aos males que se procurou eliminar. 
8 
A estas desvantagens, o já mencionado Relatório da Comissão que 
elaborou o projeto de emenda constitucional adicionou mais uma, espe-
cífica do Brasil e assim formulada: 
"Este assunto (o da substituição do imposto de vendas 
e consignações pelo ICM) recebeu atenção muito especial, não 
só por se tratar do imposto que, no momento, representa o 
principal esteio das finanças dos Estados, como também por 
envolver um dos aspectos em que as inadequações do atual 
sistema, de início criticadas, se revelam de maneira a um tem-
po mais aguda e mais profunda. Referimo-nos ao problema 
das transferências de mercadorias de um Estado para outro, 
que a União, exercitaudo sua competência para expedir nor-
mas gerais de direito financeiro, tem procurado resolver, a 
princípio pelo Decreto-Lei n.o 915, de 1938 e, atualmente, 
pela Lei n .o 4.299, de 1964. E forço o reconhecer, porém, 
que essas tentativas não vêm tendo o êxito que seria impres-
cindível à remoção do problema, o que, pelos prejuízos quo 
acarreta para a economia nacional, seria, por si só, razão su-
ficiente para justteicar um reexame da estmtura do próprio 
imposto." 
Assim feita a crítica ao sistema tributário então em vigor, sob o 
prisma das operações interestaduais, o Relatório propôs "a única medida 
que, embora corajosa" lhe pareceu eficaz: "a fixação de uma alíquota-
-tet para o imposto incidente sobre as operações interestaduais assim en-
tendidas todas as que destinem a mercadoria a outro Estado. Essa so-
lução, fazendo desaparecer as atuais desigualdades tributárias entre . os 
Estados produtores e Estados consumidores, ao mesmo tempo respe1ta, 
ou restaura, as autonomias políticas, jurídicas e financeiras de uns e de 
outros. Permite ela, com efeito, abandonar as ficções legais a que tive-
Análises sobre os diversos sistemas de impostos de vendas podem ser encon-
tradas, entre outros nutores, em JoHN F. DOE, op. cit., especialmente capí· 
tulos XVII e XVIII, e Análisis Económlco de los impuestos, Libreda E1 Ate· 
neo Editorinl, Buenos Aires, l969; CESARE CoSClANI, El lmpuesro al valor 
agregado, Ed. Depalma, Buenos Aires, 1969, pág. 4 e segs.; ANTO!ofiO DORSA, 
L'lmposizione stll vn/ore aggiunto, Ed. Cedam, Padova, 1967, Cap. li; MA· 
NlJEL CAru..os LOPES PORTO, O impo~·to de transações, tipo a adorar, Coimbra, 
1970, Parte ll; FBLIX DE LUIZ Y DIAZ MoNASTBlUO GUREN, in XVII Semana 
de1 Bsludlos de Derecbo Flnnncioro, publicação de Editorial de Det'ecbo Fi· 
nanciero, Mad1'id, 1969, que faz u análise pelo coníronto enlre os vários tipos 
de impostos de vendas e o d~ valor acrescido; GUNTSll ScHMOLDEI\S Los 
impuostos al volumen de los negocias, in Tratado de Finanzas, dirigido por 
w. Gerloff e P. Neumark, trad. espanhola, Librerla E l Atoneo, 1961, Tomo li, 
pág. 691 e segs.; CUARDlS CAMPBT, Le régime fiscal du chiffre d'nffaire!l et 
son incidence sur la productivlté, Capitulo 1, traduzido para o e panhol e 
publicado em El Impuesto sobre c] Valor Aiiadido - Primor Impuesto Euro-
peo, ·dição do Instituto de Estudios Fiscales, Minislerio de In Hacientla, da 
Esponha, Mndrid, 1971, pág. 51 o segs. 
9 
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ram de recorrer o Decreto-Lei n.0 915, de 19~8, e a Lei n.0 4.~9.9, de 
1964, e que, em última análise, as~em_elham a venda.' em beneficio do 
Estado de origem, a simples transfere~cia de ~ercad_.?na, ao mesmo t~m­
po que negavam, ao Estado de destmo, a tnbutaçao da venda efetiva-
mente realizada em seu território". 
No campo específico do imposto de vendas e consignações.' o pro-
blema das relações entre os Estados chamados produtores e os ditos con-
sumidores surgiu com a transferência do tributo para a competência il;?-
positiva estadual, pela Constituição de 1934 (1 5 ) e não encontro~ solu_?ao 
adequada durante toda a existência do imposto de vendas e consignaçoes. 
A esperança de que o assunto estaria resolvido com a _introd~ção do IC~ 
e de uma alíquota-teto para as operações interesta~uais ~a~Ifestou-se va. 
Os chamados Estados consumidores - os menos mdustnahzados e que, 
por isso mesmo, consomem manufaturas recebidas de ou!ros Estados -
contestam o sistema de arrecadação do ICM sob a alegaçao de que trans-
fere renda para os Estados ditos produtores. 
Dentro do escopo deste trabalho não cabe o exame pormenorizado 
deste aspecto; se o focalizamos é para mencionar uma das razões que le-
varam à substituição do imposto de vendas e consignações pelo ICM e 
para facilitar a análise de alguns pontos essenciais da sistemática do ICM, 
15 . O assunto foi, primeiro, tratado no artigo 37 da Lei n.0 187, de 15 de janeiro 
de 1936, cuja redação provoco'll tantas reclamações que, em 29 de dezembr~ 
de 1937, foi expedido o Decreto-lei n.0 140, logo substituído pelo Decreto-le1 
n.0 348, de 25 de março de 1938, por sua vez substituido pelo Decreto-lei 
n.o 915, de 1,0 de dezembro de 1938, logo alterado pelo D ereto-lei n.0 1.061, 
de 20 de janeiro de 1939. Estes dois te ·tos lega is, os Decretos-leis 915 e 
1.061, tiveram vida mais longa, apesar de terem suscitado controvérsias ~­
dáveis quer sobre sua constitucionalidade (o S. T. F. julgou-os constitucionais: 
Arqui~o Judiciário, vol. 115, pág. 168 e Diário da Justiça da União de 2~ 
de maio de 1952, apenso, pág. 2.329, Embargos n.0 7.008, entre outras deci-
sões), quer sobre sua conveniência. Ao Congresso Nacional foram subme-
tidos três projetos de lei, o de n.0 681, de 1949, o de n.0 815, de 1955, e o 
de n.0 3.152, de 1957, todos sem sucesso. Finalmente, em 23 de dezembro 
de 1963, foi promulgada a Lei n. 0 4.299, que instituiu novo regime para as 
operações interestaduais,revogando os Decretos-leis n. 0 s 915/1938 e 1.061/ 
1939. Esta lei foi substituída pela de n.0 4.784, de 28 de setembro de 1965, 
que vigorou até 1.0 de janeiro de 1967, data em que o novo sis~ema tributário 
instituído pela Emenda Constitucional n.0 18 entrou a ser aphcado em todo 
o país. Note-se que o Projeto de Código Tributário Nacional, enviado ao 
Congresso Nacional com a, Mensagem n.0 374, de 20 de agosto de 1954, do 
Presidente da República havia dado ao problema solução diversa da dos 
Decretos-leis n. 0 s 91511938 e 1.061/1939. Esta solução foi ·justificada no Re-
latório apresentado ao Ministro da Fazenda pela Comissão Especial do Código 
Tributário Nacional (cfr. Trabalhos da Comissao Especial do Código Tribu-
tário Nacional, edição do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro 1954, págs. 
144-145) e por nós criticada em trabalho inserto na Revista de Direito Admi-
nistrativo vol. 59 pág. 26 e segs. O autor do ante-projeto do CTN, RuBENS 
GoMES .;E SousA' reconheceu em 1972 que esta solução era "irrealista, ou 
economicamente ~rrada" (Os lmpostos s~bre o valor acrescido no sistema tri-
butário, in Revista de Direito Administrativo, vol. 110, pág. 23.) 
10 
tal como disciplinada no direito brasileiro. Em outros capítulos, sobre-
tudo o dedicado ao crédito de ICM pelos produtos entrados no estabe-
lecimento do contribuinte, o assunto será novamente aflorado, sob o as-
pecto jurídico (16 ). 
Já vimos como e porque foi criado o imposto de vendas e consig-
nações e porque foi abandonado, na reforma de nosso sistema tributário. 
Resta examinar que razões levaram à escolha de um imposto sobre o 
valor acrescido, o que nos leva ao exame, ainda que breve, da história 
deste tipo de tributo, da sua aplicação, sobretudo nos países da Comu-
nidade Econômica Européia e, depois, de suas características essenciais. 
16 . Sobre o problema, consulte-se FERNANDO A. REZENDE DA SILVA e MARIA DA 
CONCEIÇÃO SILVA, O sistema tributário e as desigualdades regionais: uma aná-
lise da recente controvérsia sobre o lCM, IPEA-INPES, Rio de Janeiro, 1974, 
monografia n.0 13. 
11 
CAPíTuLo nr 
IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCIDO. 
APARECIMENTO E DIFUSÃO. 
Os inconvenientes de um imposto de vendas multifásico cumulativo 
em cascata, chamaram a atenção de estudiosos e homens de governo, a 
partir do momento em que o tributo foi criado. 
Na Alemanha, lei de 26 de junho de 1916 instituiu um imposto do 
selo sobre transações do qual derivou o imposto de vendas multifásico 
criado por lei de 17 de julbo de 1918 e que perdurou, sem alteração em 
sua essência, até sua substituição pelo imposto sobre o valor actescid 
(Lei de 29 de maio de 1967). Já em 1918 (17 ) VON SrnMENS, indusw 
trial e assessor do governo, propôs um imposto sobre o valor acrescido 
mas sua proposta foi recusada; posteriormente, foi ela publicada pelo 
autor ( 18 ). TI atava-se de aperfeiçoamento do imposto de vendas multi-
fásico cumulativo, como deixa claro o título com que foi publicado o 
trabalho: imposto de vendas refinado. 
Ao mesmo tempo, e por outras razões, também nos Estados Unidos 
cogitou-se de um imposto sobre o valor acrescido. Contudo, a perspec-
tiva sob a qual o problema era e,ncarado diferia da européia. Enquanto 
17. Ou em 1919, segundo JoHN F. DuE, Sales Taxation, cit., pág, 66. 
18. Veredelte Umsatzs/euer, Siemensstadt 1921, citado por JOAN F. Due, op. cit., 
nota I, pág. 66. O nom de Von Siemoos aparece ora como· Carl Friedrich 
(JoHN Dun - Estados Uoldos: Propucstas de Impuesto sobre el Valor Afia· 
dido en los Estados Unidos, in XV Semana de Estudios de Derecho Finan-
ciem, Editorial de Derecho Financiero, Madrid, 1968, pág. 585; FUI!NTES 
QIJINTANA, in Prologo ao livro El lmpuesto sobre el Valor Afiadido, de RI· 
cardo Callc Saiz, Jnslituto de Esludios Fiscales, Madrid, 1968, pág. IV), orn 
como Wilhclm (o mesmo JoHN F. DoE, Sales TaxatioTJt, cil. - pág. 66, 
nota 1; CLARA K. SuLT.IVAN, -TIIe Tax 011 Va/ue Addcd, Columbia Univenrily 
Press, 1966 (segunda. impressão) pág. J 2; AUGUSTO FANTOZZl, Profili $to-
rico - Criticl della Riforma. dell'lmpo izione sugli Scambi in Gerroania, in 
Studi SuU'Imposla sul Valorc Agginoto, Giuffrb, Milão, 1968, pág. 50), ora 
como Werner, CESARB CosctANI, El lmp11c.rto al Valor Agregado, Ed.icioncs 
Depalma, Buenos Aires, 1969, pág. 43, in fine. 
13 
os europeus buscavam o aperfeiçoamento de um imposto de vendas 
que a necessidades originada pela guerra já haviam introduzido, os nor-
te-americanos procuravam um alívio ao excesso de pressão fiscal da Cor-
poration Tax através de um imposto que, garantindo uma arrecadação 
u(iciente, fosse eficaz ob o ponto de vista econômico. 
Nos Estados Unidos, quem primeiro apresentou a idéia de um im-
posto sobre o valor acrescido foi THOMAS S. ADAMs, professor da Uni-
versidade de Yale e, por muito tempo, assessor fiscal do Tesouro. Ao 
tratar de um imposto sobre os negócios disse quase incidentalmente que, 
no caso de produtores e vendedores de mercadorias, efeitos e artigos, po-
de-se conseguir maior simplicidade, se se deseja, dando ao imposto sobre 
sociedades a forma de um imposto sobre vendas com uma devolução dos 
impostos suportado pelo produtor ou vendedor (como comprador), com 
Jespeito às mercadorias adquiridas para revenda ou para seu uso no pro-
cesso de produção de artigo para venda (1°). Para JoBN F. DuE, é 
provável que as idéias de AoA.MS Live em resultado de influência da li-
teratura alemã sobre o as.swlto. InCluência de pouca duração porque, 
em 1932, o mesmo ADAMS não fez a menor referência a um imposto 
sobre o valor acrescido em extenso documento que enviou ao Congresso 
na ocasião em que este, pelo ''Ways and Means Committee", estudava 
um imposto de vendas. No período compreendido entre as duas guer-
ras, diversos foram os estudos de autore norte-americanos a respeito 
de um imposto obre o valor acrescido. No período posterior à segun-
da guerra, pouca atenção foi dada ao assunto até 1961. De então para 
cá, houve nos Estados Unidos um teavivamento do interesse sobre este 
tipo de imposto (2°). 
Apesar dos estudos exi tentes desde a década de vinte, o grande 
impulso para a difusão do imposto sobre o valor acrescido veio de sua 
adoção pelos países do Mercado Comum Europeu. Esta, por seu tur-
no, resullou em grande parte da existência e do êxito deste tipo de im-
posto na França. 
A utilização da técnica do valor acrescido para evitar a tributação 
múltipla existiu em diversos países, mesmo antes que a França instituísse 
um imposto deste tipo. CLARA K. SULLIVAN (21 ) assinala diversos exem-
plos. Na Argentina, desde 1935, o imposto sobre vendas de fabricantes 
permitia a dedução dos "ingredientes físicos" do produto, anterionnente 
19 . 
20 . 
21. 
Citado por JoHN P. DuE, Estados Unidos: Propuestas de impuesto sobre el 
valor afiadido, etc., cit., pág. 585. 
Sobre a literatura norte-americana a respeito do imposto sobre o valor acres-
cido, cfr., VALERIA SciOSCIOLI, Rassegna della Litteratura nord-americana sulla 
imposta sul valore aggiunto, in Studi sul/'imposttt sul va/ore tJggiunto, coorde-
nação de CESo\RE CosCJANI, Giuffre, htliliío, 1968, pág. 89 e segs .. Referências 
bibliográficas sobre a literatura alemã são feilas por Auousro FANTOZZl, 
Profili Storico - Critíci della Riforma deii'Jmpos.izione ugli Scamb1 in Oer-
ri1anla, in S/udi, citado acima, pág. 43 e segs. 
bp. cít, plig. 13. 
tributados. O mesmo acontecia com o imposto de vendas de fabrican-
tes existente nas Filipinas desde 1939 e, desde 1948, com o imposto, 
também sobre vendas de fabricantes, introduzido na Grécia em 1933. A 
estes exemplos, podemos acrescentar dois outros, ~enciona~os por. MAu-
RICE LAURÉ: o imposto canadense sobre a produçao, antenor ao Impos-
to francês, e o antigo "purchase tax" inglês (22 ). Não se pode deixar 
de aludir ao Business Activities Tax, introduzido no Estado norte-ame-
ricano de Michigan por lei de 20 de maio de 1953 e revogado em 1967; 
é preciso também assinalar, na esteira de JOHN F. DuE (23 ), que a pos-sibilidade de uma dedução de 50% da receita bruta em lugar da dedu-
ção específica relativa aos produtos recebidos pelo contri~uinte para re-
venda ou industrialização, tornou este tributo bastante diferente de um 
autêntico imposto sobre o valor acrescido (24 ) • 
Em 1949 missão fiscal norte-americana, dirigida por Carl S. Shoup, 
propôs no Japão, a criação de um imposto sobre o valor acrescido. A 
lei, votada em julho de 1950, teve o início de sua vigência sucessiva-
mente adiado até que, em 1954, foi revogada sem jamais ter sido aplicada. 
Sem embargo da pré-existência de impostos que usavam da técnica 
do valor acrescido, foi na França, sem dúvida, que este tipo de tributo 
primeiro encontrou sua mais completa forma de aplicação. MAURICE 
LAURÉ diz, com razão, que o nascimento do imposto sobre o valor acres-
cido foi precedido pela doutrina e que, atualmente, toma-se como refe-
rência normalmente a aparição da ''taxe .sur la valeur ajoutée" francesa 
para ~nalisar se um 'país deve ou não instaura.r este tipo de imt:osto ( ~5 ). 
Acrescentaríamos que, agora, não se pode deixar de dar atençao ao Im-
posto tal como adotado pela Comunidade Econômica Européia - C.E.E. 
Por isso mesmo, é interessante examinar, ainda que em largos tra-
ços, a história da "taxe sur la valeur ajoutée'' (TV A) e a da expansão 
deste tipo de imposto pelos outros países da C.E.E. 
Afirma LAURÉ que o imposto sobre o valor acrescido constitui uma 
conquista da ciência fiscal e não o resultado. fina~ de ~ma evolução prag-
mática(26). Mais ou menos no mesmo diapasao, diz ARNALDO CIANI 
que também historicamente a TV A francesa, com a passagem da "taxe 
à la production" à "taxe ~ur la valeur ajoutée", através da instituição 
de pagamentos fracionados, mostra que o impost.o sobre ,o. valor ~cr~s­
cido não é senão o resultado final de um procedimento log1co e tecmco 
22. 
23. 
24. 
25. 
26. 
Los fundamentos económicos del IV A, conferência. inser.ta, e~ tra~ução espa-
nhola em XVII Semana de Estudios de Derecho Fmanc1ero, cl1., pag. 44. 
JoHN 'F. DuE - Estados Unidos: Propuestas de lmpuesto etc., in XV Semana 
de Estudios de Derecho Financiero, cit., pág. 593. 
Para uma exposição sobre o Business Activity Tax de Michígan, veja-se 
CLARA K. SULLIVAN, op. cit., págs. 298-311. 
Los fundamentos económicos del IV A, cit., in XVII Semana de Estudios de 
Derecho Financiero, cit., pág. 44. 
Afirmação feita na mesma conferência mencionada na nota 25. 
15 
de aperfeiçoamento que, na França, partindo de um imposto monofá-
sico antes tosco, levou a um imposto sobre o valor acrescido não muito 
racional no início, mas facilmente sujeito a aperfeiçoamento (27 ). Se 
partirmos da "taxe à la production" estas afirmações são inobjetáveis. 
Contudo, a "taxe à la production" resultou de uma evolução a que não 
.foram alheias considerações pragmáticas e de ideologia política, como se 
pode verificar pela história dos impostos sobre vendas na França. 
Como noutros países, as necessidades da guerra levaram à criação 
da "taxe sur les paiements" (lei de 31 de dezembro de 1917), que, à 
alíquota de 0,2%, era arrecadada mediante uso de selos, nos pagamen-
tos civis e comerciais. Em 25 de junho de 1920, a "taxe sur les paie-
ments" foi substituída pela "taxe sur le chiffre d'affaires", imposto co-
brado em cada transação comercial. Portanto, um imposto multifásico-
cumulativo, em cascata. 
A esquerda sempre havia criticado a "taxe sur le chiffre d'affaires". 
Em 1924, quando o Cartel das Esquerdas venceu as eleições, não foi 
possível eliminar o imposto combatido mas apenas evitar, para certos 
produtos, os inconvenientes do imposto em cascata, submetendo-os a um 
imposto unifásico, antecedente da "taxe à la production" pois era cobrado 
dos importadores, dos fabricantes ou dos que assegurassem a apresenta-
ção comercial do produto tributado. A submissão de vários produtos a 
este imposto único tornou-se de aplicação complicada porque era neces-
sário, freqüentes vezes, examinar se o produto estava ou não incluído nu-
ma das categorias sujeitas ao tributo. Além disto, a "taxe sur le chiffre 
d'affaires" ainda subsistia, de tal modo que, freqüentemente, um mesm() 
contribuinte tinha suas vendas sujeitas a dois regimes tributários diferentes. 
Lei de 31 de dezembro de 1936 extinguiu a "taxe sur le chiffre 
d'affaires" e o imposto monofásico aplicável a vários produtos. No lugar 
de ambos, instituiu uma "taxe unique globale", devida pelos fabricantes. 
No entanto, a venda entre fabricantes efetuava-se com suspensão do im-
posto, de modo que este era pago pelo fabricante que encerrava o ciclo· 
da produção. A suspensão aplicava-se às vendas de matérias primas e 
materiais secundários. Posteriormente, foi concedida, através de abati-
mento do imposto devido, anulação de metade do tributo incidente sobre 
materiais de consumo rápido, utilizados na fabricação. 
Em 1948, as necessidades de melhorar a arrecadação levaram à idéia 
de eliminar a suspensão do imposto. Autorizado pela lei 48-1.479, de 
24 de setembro de 1948, um decreto do dia seguinte suprimiu a suspen-
são do imposto. Cada produtor devia pagá-lo daí em diante; em com-· 
pensação, do imposto a recolher, podia deduzir o que tivesse incidido so-
bre as matérias primas, materiais secundários e produtos rapidamente con-
sumidos na produção. 
27 . L'introduzione de/l'imposta sul vaiare aggiunto nell'ordinamento tributaria-
italiano, Ed. Giuffrê, Milão, 1975, pág. 17. 
16 
Daí por diante, a não dedutibilidade do imposto incidente sobre o 
equipamento, do que resulta uma dupla imposição (28 ), tomou inevitável 
o aparecimento de vozes que pediam que à dedução física (ou seja, a 
do imposto relativo às matérias que integram o produto final ou que se 
consomem rapidamente na produção) viesse juntar-se a dedução financei-
ra (a do imposto incidente sobre bens do ativo fixo e despesas gerais) . 
Projetos tendentes à instituição de um imposto sobre o valor acres-
cido foram apresentados ao Parlamento francês pelos governos Pinay 
(1952), Renê Mayer (1953) e Laniel, também em 1953. Deste último 
resultou a lei de 10 de abril de 1954, que criou a "taxe sur la valeur 
ajoutée" - TVA, em substituição à "taxe à la production": no cálculo 
do imposto devido, passaram a ser levadas em conta não só as chamadas 
deduções físicas, como também as denominadas deduções financeiras. 
Na verdade, a lei de 10 de abril de 1954 remata uma evolução que 
começou com o decreto 53-942, de 30 de setembro de 1953, que deu 
execução ao artigo 7.0 da lei 53-511, de 11 de julho de 1953. Este 
decreto admitiu a dedução, pelos fabricantes, de 50% do imposto inci-
dente sobre bens passíveis de amortização. A lei de 10 de abril de 1954 
permitiu a dedução de 100% desse imposto até 30 de junho de 1954. A 
partir desta última data, ficava suprimida a condição de serem amortizá-
veis os bens cuja aquisição dava direito à dedução do imposto que sobre 
eles houvesse incidido. A evolução da TV A francesa terminou com a 
lei de 6 de janeiro de 1966, que entrou em vigor em 1.0 de janeiro de 
1968 e que estendeu o regime da TV A a todo o ciclo da produção e da 
comercialização, inclusive o comércio varejista (29 ). 
O interesse deste histórico apresentado em largos traços é demons 
trar que, sem embargo da já citada afirmação de LAURÉ, de que a TV A 
constitui uma conquista da ciência fiscal (30 ), este imposto resultou de uma 
evolução em que o empirismo teve papel de não pouca relevância. Na 
última fase da evolução, a da transformação da "taxe à la production" 
em "taxe sur Ia valeur ajoutée" parece injusto dizer, como o fez G. VEDEL, 
28. 
29 . 
30. 
Se os bens do ativo fixo estão sujeitos ao imposto e se este não é dedutível, 
pelo adquirente, a dupla imposição res~lta do fato . de~ que o ~usto de tais 
bens influi no custo dos produtos, atraves da deprec1açao, que e componente 
do custo. Não deduzido o imposto, o valor do ativo fixo é acrescido do valor 
do imposto que, assim, vai influenciar o custo dos produtos,por sua vez 
sujeitos à tributação. 
O histórico da legislação francesa aqui resumido está baseado em Loms FoR-
MERY - Les impôts en France, Presses Universitaires de France, 1946, Tomo 
II, págs. 437-441; ANDRÉ MULLER, L'assiette réel/e de la taxe sur la valeur 
ajoutée, Librarie Dalloz, Paris, 1965, capítulo 1.0 a 3.0 , inclusive, e em 
J. J. PHILIPPE, La taxe sur la valeur ajoutée, Editions Berger-Levrault, Paris, 
1973, Capítulo I. 
Cfr., nota 26. 
17 
que não há criação mais empmca que a da TVA (81 ). Na verdade, 
embora nesta última fase não estivessem ausentes elementos empíricos e 
problemas políticos (82 ), foi marcante a influência da ciência fiscal, es-
pecialmente de MAURICE LAURÉ, através de trabalhos publicados na épo-
ca (33). De qualquer modo, não tem fundamento atribuir a LAURÉ a 
paternidade da TV A, afirmação que, pelo que foi dito, carece de exatidão 
no plano teórico, como no da elaboração legislativa na França. 
Da evolução do imposto de vendas na França pôde GüNTER ScHMOL-
DERS dizer que ela se distingue pela variedade das formas tributárias, pe-
la mudança rápida de seus métodos impositivos e procedimentos de ar-
recadação e por improvisações na política tributária, a refletir claramente 
o gosto dos franceses pelas experiências e a pouca estabilidade de sua po-
lítica interna ( 84 ) . Apreciação desta ordem nunca poderia aplicar-se à 
resolução tomada pela Comunidade Econômica Européia (CEE) para 
adotar o imposto sobre o valor acrescido. 
O Tratado que criou a CEE, assinado em Roma no dia 25 de mar-
ço de 1957, dispôs em seu artigo 99: "La Commission examine de quelle 
façon les legislations des différents États membres relatives aux taxes sur 
le chifre d'affaires, aux droits d'accise et autres impôts indirects, y com-
pris les mesures de compensation applicables aux échanges entre les États 
membres, peuvent être harmonisées dans l'intérêt. du . marché ,co~u~. 
La Commission soumet des propositions au Conseil qut statue a 1 unant-
mité sans préjudice des dispositions des articles 100 e 101" (35 ). O ar-
tigo '1 00 cuida da harmonização das disposições legislativas, regulamen-
31. 
32. 
33. 
34. 
35. 
18 
Vue générale sur le systeme fiscal trançais, Révue de la Fiscalité. du ~arché 
Commun, 1962, n.o 2, pág. 40, citado por ANDRÉ MuLLER, op. ctt., pag. 41, 
nota 1. 
Por exemplo, a resistência dos produtores. ao ~ecr.eto n.o. 53:?42, de ,30 de 
setembro de 1953, já mencionado, e sua tmportancta na flXaçao da abquota. 
Cfr., ANDRÉ MULLER, op. cit., pág. 34. 
Productlvité et fiscallté, in Economie et réaliLés mondialcs, junho de 1951, 
pág. 38 e Aspecr.r économiques t tcclmiques de la taxe tl la productio11, in 
Révue de Science et de Lcgislation Financieres, 1952, pág. 539, ambos refe-
ridos por .ANouÉ MULLER, op. cit., pág. 29, nota I. Seu trabalho principal 
é o livro La taxe sur la valeur ajoutée Recueil Sirey, Paris, 1952, com pre· 
fâcio de He!II'Y Laufenburger; este lrabalbo com o título Aspects écouomi-
ques et techniques de la taxe sur la valeur ajoutée havia sido apresentado à 
Faculdade de Direito de Paris como tese que foi defendida em dezembro de 
1952. Deve ser ainda mencionado Au secours de la TVA, Presses Universi-
taire de France, 1957. Na época em que defendeu tese, LAURÉ era Inspetor 
de Finanças. 
Op. cit., pág. 599, in fine. 
O Tratado foi redigido em quatro línguas: alemão, francês, italiano e holan-
dês. O texto usado é o de Traités Instituant les Communautés européennes, 
editado em 1973 pelo Office des Publications Officielles des Comrnunautés 
Européennes. 
tares e administrativas dos Estados membros que tenham uma incidência 
direta sobre o estabelecimento ou funcionamento do mercado comum. 
O texto do Tratado revela a preocupação de evitar que os impostos 
internos de cada país possam prejudicar a livre concorrência. Daí a 
preocupação com a neutralidade e com a harmonização das legislações, 
especialmente no campo dos impostos indiretos, que mereceu um artigo 
especial; e entre os impostos indiretos destacava-se o de vendas (denomi-
nação aqui usada de modo genérico), pela sua importância no sistema 
tributário dos países membros. 
Para implementação do Tratado no campo tributário, realizaram-se 
estudos por um Grupo de Trabalho e por um Comité Fiscal e Financeiro, 
aos quais nos referiremos mais adiante e que terminaram seus trabalho · 
em 1962. O Comité tinha por presidente e relato1· Fritz Neumark; o 
relatório apresentado passou, por isso mesmo, a ser conhecido como Re-
latório Neumark, nome pelo qual será referido daqui por diante (a6 ). 
O artigo 189 do Tratado da C.E.E. diz: 'Pour l'accomplissement 
de leur mission et dans les conditions prévues au présent traité, le Con-
eil et la Commission arrêtent des reglements et des directives, prennent 
des décisions et formulent des recommandations ou des avis. Lc rêgle-
ment a une portée générale. TI est obligatoire dan tous ses élément et 
il est directement applicable dans tout Etat membre. La directive lie tout 
Etat membre destinataire quant au résu)tat à atteindre, tout en lai ant aux 
iostances nationales la compétence quant à la forme et aux moyens. La 
décision est obligatoire en tous ses éléments pour les destlnataires qu'elle 
désigne. Les recommandations et les avis ne lient pa ." 
No uso de suas atribuições, a Comissão preparou um projeto de 
"Primeira Diretriz" que, tendo em vista a harmonização da legislação fis-
cal dos países membros, propunha a introdução de um imposto sobre o 
valor acrescido. O projeto previa uma SegUilda Diretriz relativa à estru-
tura e métodos para a aplicação de um sistema comum de imposto sobre 
valor acrescido - IV A. A tranútação do projeto da Primeira Diretriz 
foi lento, de modo que acabou sendo aprovado com o da Segunda Dire-
triz, apresentado em 1965 pela Comissão. Ambos foram apr vados pelo 
Conselho da .E.E. em 11 de abdl de 1967 (117). 
Depois disto, este tipo de tributo difundiu-se pelos países da CEE. 
A França já o tinha em vigor desde 1954; os demais países adotaram-no 
36 . Estes relatórios, trnduz.idos 11lío oficialmente para o inglês, foram publicados 
pelo lnternational Burean of Fiscal Documenta:lion, Amsterdam, 1963, ob o 
tftulo Thc EEC RerJol'/s 011 Tax Harmonization. 
37. Registramos, "pro memoria", que nos termos do Trotado de Roma são órgãos 
dn CEE, a Assembl6ia (arts. 137-144), o Conselho (arts. 145-153), a Comis-
são (nrt. 155) e u Corte de Justi~a (arts. 164-188). Um projeto de Terceira 
Diretriz concernente a produto agrícolas, apresentado ao Conselho du C.E.E. 
em 26 de fevereiro de 1968, não teve andamento. A Terceira Diretriz, de 
9 de dezembro de 1969, concedia à B61gicn e à Itália mais prazo pnra adota-
19 
sucessivamente, tendo a Itália sido o último ( 38 ). O sucesso do impos-
to sobre o valor acrescido pode medir-se pelo número de países que o 
instituíram, além dos da CEE {39). 
Este movimento não podia deixar de repercutir no Brasil. Em pri-
meiro lugar, já existia entre nós um imposto do tipo valor acrescido co-
brado no ciclo da produção industriaL Como já foi clito no Capítulo IT, 
a Lei n.0 3.520, de 30 de dezembro de 1958, transformou o antigo im-
posto de consumo, atual imposto sobre produtos industrializados que 
era cobrado pelo sistema de cascata no ciclo de fabricação, em um im-
posto sobre o valor acrescido, no mesmo ciclo. 
rem o imposto sobre o valor acrescido; o prazo originalmente fundo era 
l.0 de janeiro de 1970. A Quarta Diretriz, de 20 de dezembro de l97l e a 
Quinta Diretriz, de 4 de julho de l972, tornaram a prorrogar o prazo parn 
n adoção do imposto sobre o valor acrescido peln Itália. Urna proposta de 
Sexta Diretriz tem por fim uniformizar a base de cálculo elo IVA em todos 
os países dn C. E. E., tendo em vístn que cada país deve contribuir para o 
orçamento ckl C. E. E. com 1% da arrecadação e que se a base de cálculo 
não for uniforme, a contribuição também não o será. O texto d. duas 
primeiras e dn Sexta Diretriz está inserto em Value Added Taxatlotl /11Europe, publicação em folhas soltas do International Bureau of Fiscal Docu-
mentation, Amsterdam. 
38 . A seguir, uma lista de pafses com a respectiva data de entrada em vigor, 
com indicação da respectiva lei: a) Bélgica: Lei de 3 de juU10 de 1969, 
entrada em vigor em 1.0 de janeiro de 1971; b) República Federal Altmã: 
Lei de 29 de maio de 1967, entrada em vlgm· em 1.0 de janeiro de J968; 
c) ltcília: A lei 825 de 9 de outub:ro de 1971 delegou ao Executivo à tarefa 
da reforma tributária. Os textos legais resultantes da delegação são os seguin-
tes: Decreto-lei n.o 202, de 25 de maio de 1972, modificado pela lei n.o 321, 
de 24 de julho de 1972; Decreto legislativo n.0 633, de 26 de outubro de 
1912; d) Lr1.~:emlmrgo: Lei de 5 de agosto do 1969, entrada em vigor em 1.0 
de janeiro de 1970; e) Holanda: Lei de 28 de julho de 1968, entradá em vigor 
em 1.0 de janeiro de 1969; Paíse,ç que se juntaram posteriormente à CEE: f) 
lnglatura: Lei de 27 de julho de 1972, entrada em vigor em 1.0 de abril de 
1973; g) JJinamarca: Lei n.0 102 de 31 de março de 1967, em vigor a partir 
de 3 de julho de 1967; h) lrlanda: Lei de 26 de julho de 1972, em vigor n 
partir de 1.0 de novembro de 1972. 
39 . Auslria: Lei de J5 de junho de 1972, com vigência a partir de ].0 de janeiro 
de 1973; Suécia: Lei de 6 de junho de 1968, em vigor a 1.0 de janeiro de 
1969; Norueg11: Lei de junho de l969, em vigor a J.O de janeiro de 1970; 
Corea do Sul: Lei entrada em vigor em 1. de janeiro de 1977; Chile: 
Decreto-lei n. 0 825, em vigor a ].O de janeiro de 1975; Argenlina: Lei 
n.0 20.63 :1, promulgada em 29 de dezembro de 1973; Equador: Decretos 
n.0 s 469 e 124, de 12 de maio e 21 de ju lho de 1970; Peru: Decreto-lei 
n.0 19.620, de 21 de novembro de 1972, em vigor a 1.0 de janeiro de 1973; 
Uruguai; Lei n.0 14.100, de 29 de dezembro de 1972; Costa do Marfim. 
É interessante notar que este tributo já havia sido estudado pela OEA, nn 
Conferência do Chlle, em 1962; OEA-BTD-CEPAL (Programa Conjunto de 
Tribmación): Problemas fiscales de un mcroudo común. Reforrnn Tributária 
para a América Latina, Il, Problemas de Política 'ÍScal, Washington, Pan-
·American Union, 1964, pãg. 568, citado por RtrnnNs GoMEs un SOUSA., Os 
Impostos sobre o valor acrescido no Si tema Tributário, cit. 
20 
Por outro lado, os inconvenientes de um imposto multifásico cumu-
lativo eram tão evidentes que a Comissão encarregada de elaborar o a~­
teprojeto de reforma constitucional de qu~ rAesll:ltou a Emenda n.0 18 LI-
mitou-se, em seu relatório, a fazer-lhes referencta sem descer a uma an.á-
lise mais pormenorizada (40). Acresce que, segundo pareceu à Co nus~ 
são, os problemas do comércio ~teres~adual resultavam da. estrutu_ra do 
antigo imposto de vendas e constgnaçoes ~.u). _Por tudo tsto, ~01 P.ro-
posta a criação de um imposto sobre a cr.rculapao. de mer~adonas,_ tipo 
valor acrescido atribuindo-se ao Senado compelencta para f1Xar a altquo-, . 
ta máxima nas operações interestaduais. 
Um dado histórico deve ser acrescentado: em agosto de 19?~· veio 
ao Brasil a convite da Fundação Getúlio Varga e sob os a~sptctos da 
USAID, ~ Professor CARL SaouP, da Universidade de Colúmbta, ~ue. e~1 
L949 chefiara a missão financeira que, no Japão, recomendou. a msutut-
ção de um imposto sobre o valo~ acresci?o· Nu'?a pe~anêfl:Cl~ de qu~­
tro semanas, CARL SHouP exammou o s1stema tributário brasileiro e ela-
borou um relatório em que se lê: "Desde que os Estados devam conservar 
o imposto de Vendas e Consignações, seria de. considerar .~a transfor-
mação do imposto tipo cascata no imposto do tipo valor adictonado, ado-
tado pelo Governo Federal para cobrança do lmpost ue Con umo 011 
possivelmente um imposto de A in~idêucia ~a" (~). Esta recomenda-
ção deve ter tido alguma influencta na opçao pelo tmposto obre o valor 
acrescido em substituição ao IVC. 
A Constituição de 24 de janeiro de 1967, entrada em vigor em 15 
de março do mesmo ano conservou o ICM tal como constante ?a ~meu­
da n.o 18, com algumas alterações que não lhe afetaram a essenc1a. <? 
mesmo aconteceu com a Emenda n. 0 1 de 17 de outubro de 1969, a 
Constituição de 1967 (43 ). 
40. 
41. 
42. 
43. 
A ;espeito, cfr., o trecho do relatório referido na nota 12, acima. 
Sobre estes problemas, cfr., nota 15, acima. 
O relatório foi publicado sob o título O Sistema Tributário B;asileiro_: pela 
Comissão de Reforma do Ministério da Fazenda, 1965, 2.a tmpressao. O 
trecho transcrito está na pág. 73 . 
Copiosa e por vezes tumultuada legislação ~ederal estruturou o ICM. Esta 
legislação será examinada em capítulo postenor. 
21 
CAPÍTULO IV 
PERFIL DO IMPOSTO DE VENDAS SOBRE O 
VALOR ACRESCIDO 
Depois de traçarmos a história doutrinária e legislativa do imposto 
de vendas tipo valor acrescido, vamos esboçar-lhe o perfil teórico, através 
de seus aspectos mais salientes. Com isto, ficaremos mais bem apare-
lhados para o exame do tributo, tal como existente no Brasil, no âm-
bito estadual. 
A primeira indagação que ocorre é a de saber em que consiste o 
valor acrescido ou valor agregado. A noção de valor acrescido aparece 
em contabilidade nacional e em direito tributário. A noção a que nos 
reportaremos será a utilizada em direito tributário. Todavia, é preciso 
advertir que o fundamento para a distinção de três tipos de imposto so-
bre o valor acrescido (renda, consumo e produto bruto) a que nos refe-
riremos adiante não se aparta da conotação macroeconômica de valor 
acrescido. 
Como idéia preliminar, podemos dizer que, em cada empresa, o va-
lor acrescido é a diferença entre o valor dos bens e serviços produzidos, 
diminuído do valor dos · bens e serviços adquiridos para emprego no pro-
cesso de produção ( 44 ) • 
Esta definição preliminar levanta, de imediato, duas indagações. A 
primeira diz respeito àquilo que se deduz, se apenas os ingredientes físicos 
dos produtos, ou seja, as matérias primas e materiais secundários utiliza-
dos diretamente na produção, ou se também o valor dos bens instrumen-
tais utilizados na produção. Da resposta, dependerá um ou outro tipo 
de imposto sobre o valor acrescido. A segunda pode ser assim formu-
44 . A ONU define: "S'intende per valore aggiunto il vaiare delle merci e 
dei servizi prodotti da una impresa, dirninuito del valore, ai prezzi correnti, 
delle merci e dei servizi che tale impresa ha acquistato dai altre imprese per 
impiegarli nel processo produttivo, diminuito altresi del costa di mantenere 
il capitale intatto.'' Esta definição, da qual foi extraída a usada no texto, 
vem citada por ANTONIO DoRsA, op. cit., pág. 71, que não refere a fonte 
com maior precisão. 
23 
lada: no cômputo do valor acrescido, para efeitos fiscais, levam-se em 
conta os bens produzidos, ainda que não vendidos, ou apenas os bens 
vendidos? 
Vejamos a primeira indagação. Num imposto de vendas tipo va-
lor acrescido, sempre se deduz das vendas o valor das matérias primas e 
materiais secundários utilizados diretamente na produção. O que pode 
variar é o tratamento clispensado aos bens instrumentais de produção, is-
to é, de modo geral os investimentos de ativo fixo. A este respeito três 
posições são possíveis: deduzir a totalidade do valor de tais bens quando 
adquiridos, deduzir valor equivalente à sua depreciação no período con-
siderado ou não deduzir nem aquele nem este valor. 
No caso de dedução de valor correspondente à depreciação dos bens 
do ativo fixo adquiridos no período considerado, a base total do imposto 
- pressupondo-se ter este um caráter de generalidade vertical e horizon-
tal (45 ) - é igual à renda nacional; desta identidade conclui-se que o 
imposto equivale, sob o aspecto macroeconômico, a um imposto sobre a 
renda, cobrado a uma alíquota uniforme, sem isenções e sem ajustes re-
sultantes de personalização. Daí sua denominação de imposto de valor 
acrescido tipo renda. 
No caso de dedução do valor dos bens do ativo fixo adquiridos no 
período considerado, e com a mesma pressuposição, o imposto tem por 
base a despesa total dos consumidorese equivale a um tributo sobre o 
consumo. É o imposto de valor acrescido tipo consumo. 
No terceiro caso, isto é, não dedutibilidade do valor dos investimen-
tos em bens do ativo fixo nem de sua quota de depreciação, a base global 
do tributo equivale ao total das vendas de varejo mais as vendas de 
bens instrumentais; por isso o nome de imposto de valor acrescido tipo 
produto bruto ( 46 ) • 
45. Por generalidade no plano vertical entendemos a extensão do imposto a 
todas as fases do ciclo da comercialização e da produção; por generalidade 
horizontal, a extensão do imposto à venda de quaisquer bens. 
46. Cír. a respeito WJLLIAM H. OAKLAND, The theory of the value added tax: 
11 comparison of tax bases, in National Tax Journal, vol. XX, n.0 2, junho 
tlel 1967, págs. 121-122, com uma excelente e sintética exposição sobre o 
assunto, inclusive com mençã.o das presunções que é necessário admitir para 
chegar à tipificação descrita. A terminologia não é uniforme. As$im. FRAN-
cas o OR'fn chama de imposto sobre o valor acrescido modificado o que 
denominamos tipo consumo, e imposto sobre o valor acrescido ampUado o 
imposto tipo produto bruto (I/ problema delltl ~·celta de! tipo di imposh.lotllt 
J'Ul/e vemlife. citado por A'RNA.t.oo CJANt, op. cit., pág. 33, nota). Saliente-se 
quo CJANI exclui o tipo produto bruto da categoria de impostos sobre o valor 
acrc.scido: "Iofatti, anche se. genera!mente, il conceito di vnlore aggiunto c1l 
un impresa, in senso economico, si su l identíficare coo il suo prodotLO ai 
lordo deg!i arnm01tamenti, questo medesimo concetto vicne comuuemente 
intenso, dai punto di vista fiscale, come corrispondente a quello di "prodott<.il 
netto"; prodotto depurato, cioê, anche de! costo degli impianti fissi, sia che 
questa depurazione avvenga al momento stesso degli investimenti, sia che 
avvenga per quote annuali di ammortamento (Cfr. CosciANI, citado corso 
24 
• !• 
Assim, podem distinguir-se três tipos de imposto sobre o valor acres-
cido, segundo o tratamento dispensado aos investimentos: tipo renda, ti-
po consumo e tipo produto bruto. 
A noção de valor acrescido de que resultam estes três tipos não se 
distingue da utilizada na contabilidade nacional. Daqui por diante, a 
noção de valor acrescido será sempre a fiscal. 
O imposto sobre o valor acrescido admite ainda três tipos segundo 
sua maior ou menor generalidade no plano vertical: cobrança no ciclo da 
produção, no da produção e atacado, e no da produção, do atacado e do 
varejo. No plano horizontal, o imposto sobre o valor acrescido pode ser 
global se abranger todos os bens e serviços, ou parcial em caso contrário. 
O cálculo do valor acrescido admite duas formas: a pura ou sobre 
base real e a forma de cálculo sobre base financeira (47 ). 
Pela forma pura ou sobre base real, que se atém ao conceito es-
tatístico e econômico de valor acrescido, este se obtém mediante a dedu-
ção do valor da produção de um determinado período (quer vendida, 
quer mantida em estoque) do montante dos gastos de aquisição das ma-
térias primas, materiais secundários e equipamento (ou a quota de de-
preciação deste, tal seja o tipo do imposto) utilizados na produção. Este 
método é de aplicação muito difícil e, por isso mesmo, não utilizado na 
prática. Sua adoção exigiria o emprego, no cálculo do valor da produ-
ção, de métodos de avaliação semelhantes aos de avaliação dos estoques 
de fim de exercício (custo histórico, custo médio, custo standard, LIFO, 
FIFO), com todas as dificuldades inerentes a tais métodos. 
Pela forma financeira de cálculo, o valor acrescido é computado me-
diante dedução, do total das vendas de um período (quer de bens pro-
duzidos no período, quer já existentes em seu início), das aquisições de 
matérias primas e materiais secundários no mesmo período (quer utili-
zadas, quer as existentes em estoque ao fim do período) ; o tratamento 
dos investimentos depende do tipo do imposto. Esta é a forma adotada 
por motivos de ordem prática. 
universitario sull'IV A, pág. 67). Si puõ ricordare che anche lo SHOUP ( op. 
cit., pág. 55) sembra escludere dai novero delle imposte sul v. a. quel tipo 
che i1 Forte chiama "imposta sul v. a. ampliata". Lo si deduce dai fatto 
che egli dice dell'imposta francese con pagamenti frazionati, introdotta nel 
1948: "it could not be classified under any of the categories noted above, 
for it both denied deduction or purchase of capital equipment and refused 
to allow depreciation" (in op. cit. e loc. cit. acima). Sobre esta classifica-
ção, cfr. CLARA K. SuLLIVAN, op. cit., pág. 183 e segs.; Relatório Neumark, 
in The EEC Reports on Tax Harmonization, cit., pág. 124. C. S. SHOUP, 
La teoria y los antecedentes del impuesto sobre el valor anadido, traduzido 
para o espanhol da publicação "The proceedings of the forty-eight National 
Tax Conference held at Detroit", 1955, págs. 6-19 e inserto em El Impuesto 
sobre el Valor Aíiadido - Primer lmpuesto Europeo, cit., pág. 89 e segs. 
47 . Sobre esta distinção, cfr. CBSARE CosciANI, El Impuesto al Valor Agregado, 
cit., págs. 76-80 e ARNALDO CIANI, L'introduzione etc., cit., págs. 59-60. 
25 
Dentro dos três tipos já assinalados (renda, consumo e produto bru-
to) e da forma financeira de cálculo, podem distinguir-se ainda dois mé-
todos de cálculo do valor acrescido: o de adição e o de subtração. 
O método de adição consiste em somar todos os componentes do 
valor acrescido de uma empresa num período dado: salários, juros, lucro 
líquido, depreciações, etc. 
~ O método de subtração admite duas variantes: o de base sobre base 
e-~- de i!Jlposto so_br~ imposto. 
Pelo método de subtração variante base sobre base, o valor acres-
ciQQ ~-~ªgltª .da~~ entre o montante das vendas e o daSaquís1Çoes 
no mesmo pe~!~?o. 
Pelo método de subtração variante imposto sobre imposto, o valor 
-, acresCido obtem-se deâuzindo do imposto a pagar o ·imposto que incidiu 
: sobre_ QS J;!y!!S.._ adquirjqos _no mesmo período. Desnecessário acrescenfar 
'que, em qualquer das variantes, as dedúções dependem do tipo de im-
posto: renda, consumo, produto bruto. 
O método geralmente usado é o de imposto sqbre impos_tQ. O mé-
todo oe subtração base sobre base foi o perfilhado pela lei japonesa apro-
vada em 1950 e que foi revogada sem jamais ter sido aplicada (4B). 
Os dois métodos não se equivalem, e~m_se .. a aliqu()_~~ for unifor-
me. Sobre esta não equivalência vale transcrever a demonstraçãõ-<fe 
J. J. PHILIPPE ( 49 ). 
O contribuinte B compra de A, por 100, determinado produto que 
revende por 200. Eis as hipóteses: 
a) 
I 
b) 
alíquota uniforme de 1 O% 
cálculo base sobre base: (200-100) X 10% = 10 
cálculo imposto sobre imposto: (200X 10%) - (100X 10%) 
= 10 
alíquota de 5% nas vendas de A e de 10% nas vendas de B 
cálculo base sobre base: (200-100) X 10% = 10 
cálculo imposto sobre imposto: (200X10%) - (100 X 5%) 
= 15 
48. Estes métodos são, de modo geral, referidos em todos os autores que cuidam 
do imposto sobre o valor acrescido. Entre outros: FRANCEsco FoRTE, Acerca 
de la posibilidad de un verdadero impuesto general sobre el valor aiíadido. 
Reflexiones sobre la experiencia francesa, in XV Semana de Estudios de De-
recho Financiero, cit., pág. 341; CALLE SAIZ, Metodos para determinar el 
valor aiíadido, in XVII ·Semana de Estudios de Derecho Financiero, cit., 
pág. 144 e segs. FELIX DE LUIS Y DIAz MoNASTERIO GuREN, in XVII Semana 
de Estudios Financieros, cit., pág. 116. RuBENS GoMES DE SousA, Os impos-
tos sobre o valor acrescido no sistema tributário, cit., onde há um resumo 
baseado em CLARA K. SULLIVAN e JoHN F. DuE. 
49. La taxe sur la valeur ajoutée, cit., pág. 133. 
26 
c) alíquota de 15% nas vendas de A e de 10% nas vendas de B 
cálculo base sobre base: (200-100) X 10% = 10 
cálculo imposto sobre imposto: (200X 10%) - (lOOX 15%) 
=5 
Como adverte CosCIANI (50 ), pode-se dizer, de modo geral, que no 
método imposto sobre imposto, a alíquota das fases ulteriores exerce in-
fluência nas fases precedentes, enquanto que,no método base sobre ba-
se, o efeito da alíquota circunscreve-se à operação a que foi aplicada. 
Disto decorre que, utilizado o método imposto sobre imposto, uma alí-
quota inferior ou uma isenção no curso do ciclo a que está sujeito o 
produto, não beneficia o consumidor, porque a diferença é recuperada 
pelo fisco através da aplicação de alíquota mais elevada nas operações 
posteriores. f: o chamado efeito de recuperação (51 ). Desnecessário 
acrescentar que, no método base sobre base, as reduções de alíquotas ou 
isenções em operações intermediárias beneficiam o consumidor final. O 
efeito de recuperação tem seu lado positivo, uma vez que permite saber, 
com exatidão, qual o ônus tributário de cada produto, na hipótese de neces-
sidade de uma desoneração total, como nas exportações. 
Por outro lado, a isenção concedida a um produto na venda a con-
sumidor produz o chamado ônus oculto se o tributo referente às fases 
anteriores não for devolvido ou creditado ao contribuinte "de jure" (52 ),_ 
para compensação com débitos oriundos de outras vendas. 
f: muito comum ouvir-se falar em dedução física e dedução finan-
ceira. Trata-se de terminologia oriunda da doutrina francesa que tinha 
em vista a legislação daquele país: a dedução física diz respeito ao im-
posto incidente sobre os ingredientes físicos do produto e a dedução fi-
nanceira, ao tributo que recai sobre os bens instrumentais. Em face da 
legislação francesa esta terminologia tem valor apenas histórico. A par-
tir de 1968, a clistinção se faz entre bens do ativo imobilizado (parte da 
antiga dedução financeira) e bens não imobilizados e serviços (antiga de-
dução física mais o restante da antiga dedução financeira) (tlll); no en-
tanto, mencionar deduções físicas e deduções financeiras ainda tem utili-
dade pois permite, com grande economia de palavras, referir as deduções 
concernentes às matérias primas e produtos intermediários e embalagens 
e as respeitantes a bens instrumentais. 
As deduções, quer limitadas a produtos que integram o produto fi-
nal, quer extensivas ao equipamento usado na fabricação ou instalações 
50. Op. cit., pág. 63. 
51. Sobre o efeito de recupemção, cfr. ARNALDO CIANI, op. cit., págs. 63-64 e 
o Relatório do Sub-Grupo C do Grupo de Trabalho n.0 1 da Comissão da 
CEE, in The EEC Reports on Tax Harmonization, cit., pág. 55; FELIX DE 
LUIS, op. cit., pág. 121. 
52 . Neste capítulo, contribuinte "de jure•• é usado no sentido de obrigado legal-
mente ao pagamento do tributo, por oposição a contribuinte "de facto". Não. 
é observada, portanto, a terminologia do CTN. 
53 . Cfr. J. J. PHILIPPE, op. cit., pág. 138 ANDRÉ MULLER, op. cit., pág. 60. 
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comerciaiS, podem sofrer limitações que se contém em três regras: a re-
gra de reversão ou mecanis1,t1o de regularizações, a regra do "pro rata" 
e a regra do teto ( 54 ). 
Ao receber mercadorias para revenda ou para emprego na produção, 
o contribuinte "de jure" tem o direito de creditar-se do respectivo impos-
to, no método imposto sobre imposto, ou do respectivo valor, no método 
base sobre base. Pode acontecer, posteriormente, que tais bens sejam 
revendidos com isenção, empregados na produção de produtos cuja venda 
não esteja sujeita ao imposto, que sejam roubados ou que pereçam, p.ex. 
pelo fogo. Neste caso; considerando que o direito ao crédito só existe 
quando a venda do mesmo produto, ou de produto em cuja composição 
entrou, ficar sujeita ao imposto, é necessário regularizar a situação do 
crédito. Este o fundamento da regra da reversão ou mecanismo de re-
gularização, por efeito do qual o crédito é cancelado, por via de devolu-
ção da importância aos cofres públicos ou de estorno, na contabilidade 
fiscal do contribuinte. Evidentemente, a regra é também aplicável quan-
do os bens instrumentais ou equipamentos dão direito a crédito. 
A existência de isenções conduz à chamada regra do "pro rata". 
Como diz MANUEL DE JUANO ( 55 ) se um bem ou serviço concorrem pa-
ra a produção de bens tributados por um imposto sobre o valor acres-
cido e de bens isentos, não cabe a dedução senão em relação à produção 
daqueles. Como se afirma habitualmente, a regra do "pro rata" só tem 
aplicação no caso das chamadas deduções financeiras a que já nos re-
ferimos (56 ) • 
A chamada regra do "pro rata" no espaço regula as deduções no 
caso de ativid~des mistas da empresa, isto é, de produção de mercadorias 
tributadas e isentas. Por outras palavras, da aplicação desta regra re-
sulta que das deduções financeiras em determinado período, uma parte 
seja aplicável aos produtos tributados e outra parte, aos isentos. 
Se o imposto que incidiu sobre bens do ativo fixo foi totalmente 
deduzido no período em que ocorreu a aquisição, a proporção da utili-
zação destes bens na fabricação de produtos tributados e de produtos 
54. 
55. 
56. 
28 
A regra é denominada "regle du bntoir" em francês, "buffer role" em inglês 
e "rogla dcl tope" em espanhol. Propomos a tradução "regra do teto" c não 
"regra do parachoque", tradnção literal do francês c do inglês, porque a ex-
pressão já é usada para significar outras limitações como, p. ex., preço teto. 
Tributación sobre el valor agregado (lVA), VICTOR P. UB Z/l.vlo.l:LA Edito~, 
Buenos Aires, 1975, pág. 79, citando MoRANDruRE, RomffitE e HoutN, Drott 
Commerclal et Droit iscal des Affaires, Ed. Dalloz, 1965, tomo II; pág. 666. 
A nosso ver casos haverá de dificuldades parn. precisar em que proporção 
determinada 'matéria prima ou produto secundário entrou nn comp~sição. de 
produtos tributados e de produtos isentos. Neste casos, poder-se-la aplicar 
um rateio semelhante no aplicável às deduções financeiras. 
isentos pode variar durante o período de depreciação de tais bens. Neste 
caso, é feito um reajuste da proporção inicial da dedução. Se o imposto 
incidente sobre bens do ativo fixo é deduzido à medida que os bens 
são amortizados, não são necessários reajustes. Esta é a chamada regra 
do "pro rata" no tempo (57 ). 
Resta examinar a regra do teto, que também se originou na França, 
cujo Code Général des lmpôts, artigo 273, I, 1.0, b, dispunha que, "sauf 
en cas d'exportation, la déduction susvisée ne peut aboutir à un reimbour-
sement, même partiel, de la taxe ayant grevé une marchandise determinée." 
A administração fiscal entendeu que o texto legal vedava não só as res-
tituições do imposto mas também as restituições indiretas através da ma-
nutenção dos créditos excedentes dos débitos. O Conselho de Estado pro-
nunciou-se contrário a esta interpretação e concluiu que a citada norma 
proibia apenas as restituições diretas mas não vedava a manutenção dos 
créditos quando superiores aos débitos. No entanto, o Decreto 60.381, 
de 22 de abril de 1960, determinou, em essência, que as deduções físicas 
seriam, em qualquer hipótese, limitadas ao montante do imposto já reco-
lhido, exceto nos casos de exportação. Este decreto foi declarado ilegal 
pelo Conselho de Estado. Por fim, o Decreto 72-102, de 4 de fevereiro 
de 1972, admitiu o reembolso do crédito, ao mesmo tempo em que, pela 
57 . Para uma exposição pormenorizada da aplicação da regra do "pro rata" no 
espaço e no tempo, cfr. Relatório do Sub-Grupo C, do Grupo de Trabalho 
instituído pela Comissão da CEE, in the EEC Reports on Tax Harmonization, 
cit., págs. 63 e 64. Ainda sobre a regra do "pro rata", além da bibliografia 
citada na nota anterior, cfr. FELIX DE LUis, op. cit., pág. 122; ANTONIO 
DoRSA, op. cit., pág. 117, onde denomina "pro rata quantitativo" a regra 
aqui examinada quando aplicada a matérias primas e materiais secundários, 
e pág. 131 e segs., onde trata da regra quando aplicável às deduções finan-
ceiras, por ele denominada de "pro rata" geral: ANTONIO BERLIRI, L'imposta 
sul valore aggiunto, Ed. Giuffre, Milão, 1971, págs. 88-96. Este capítulo 
tem por objeto esboçar os contornos teóricos do imposto de vendas sobre o 
valor acrescido e não fazer-lhe uma análise econômica. Assinalamos, porém, 
que as deduções financeiras são o meio de evitar a