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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Serviço Social Direito e Cidadania Aula 5 Profa. Adriana Accioly Gomes Massa CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Caro aluno, seja bem-vindo! Você está na quinta rota da disciplina de Serviço Social Direito e Cidadania. Esta aula vai tratar de dois dos direitos que integram a seguridade social – direito à saúde e direito à previdência social. A seguridade social contempla três direitos sociais: assistência social (estudada em aula específica), saúde e previdência social. Vamos compreender o contexto histórico desses direitos até a sua consolidação como direitos fundamentais, pois os direitos sociais são considerados direitos fundamentais em nossa Constituição. Bons estudos! Para a videoaula do Conversa Inicial, ver o material on-line. Contextualizando Já estudamos em aula anterior o direito à assistência social e verificamos que ela é parte do tripé da seguridade social. Aqui, nesta aula, vamos estudar os outros dois direitos que também fazem parte da seguridade – a saúde e a previdência social. Vamos ver que a previdência social é um direito do cidadão e dever do Estado, assim como também é a saúde, porém o que difere é que para ter direito à previdência social é necessário que tenha ocorrido a contribuição social por parte daquele que dela necessita, diferentemente da saúde, que é universal e não está atrelada à previa contribuição e nem ao vínculo empregatício, como era anteriormente previsto. Para a videoaula do Contextualizando, ver o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Problematização Vamos tratar, em nossa problematização, de um caso que afeta toda a sociedade. Nossa temática será uso abusivo de drogas. Ao pensar no usuário de crack, por exemplo. Fonte: <http://www.revistabrazilcomz.com/brasil-precisa-definir-como-tratar-o-usuario-de- drogas-diz-policial/>. Esse usuário, que representa milhares de usuários de drogas, em razão da dependência química, acabou se envolvendo em pequenos delitos, como furto, invasão de domicílio e outros. Se afastou da família, abandonou o trabalho e os estudos. A partir dessa trama, vamos pensar: Esse é um problema que deve ser tratado pela polícia? Pelo judiciário? Pela assistência social? Pela saúde? É uma questão de saúde pública a ser tratado intersetorialmente? Na verdade, a questão das drogas é um problema de saúde pública que deve ser tratado de forma intersetorial. Mas será que a saúde contempla o tratamento e também a prevenção ao uso de drogas? Vamos conhecer um pouco mais esse direito, que faz parte integrante da seguridade social, cujo propósito é garantir a proteção social àqueles que necessitarem. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Pesquise A Construção Histórica do Direito à Saúde Você sabia que o direito à saúde está previsto na nossa Constituição? A saúde, assim como a assistência social, é um direito universal de todo cidadão, dever do Estado e de natureza não contributiva, ou seja, para ter acesso à saúde não é necessária contribuição social prévia. O direito à saúde pública é um direito recente e fruto de lutas históricas. Vamos conhecer um pouco mais dessa caminhada histórica da saúde no Brasil. No Brasil-Colônia, não há como se falar em acesso à saúde da forma como atualmente conhecemos. Os casos de enfermidade eram tratados pelos pajés com seus cantos e ervas e pelos boticários, que percorriam os mais diversos territórios brasileiros levando algum tipo de assistência. Foi somente com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, por volta de 1808, que foram criadas, então, duas escolas de medicina – uma em Salvador e, outra, no Rio de Janeiro –, sendo as únicas medidas tomadas na área da saúde até a República, em 1889. Mas somente no governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que foram adotadas as primeiras medidas sanitaristas, em razão do alastramento de diversas doenças como a varíola, malária, febre amarela etc. Essas doenças eram resultantes da ausência de saneamento básico. Assim, como forma de conter essas doenças, foi nomeado o médico Oswaldo Cruz. A partir daí, como forma de conter especialmente a varíola, foi adotada uma campanha de vacinação obrigatória, proposta pelo médico Oswaldo Cruz e imposta de forma autoritária pelo governo federal, onde os agentes sanitários invadiam as casas das pessoas e à força lhes vacinavam, o que causou revolta, pois a maior parte da população não tinha conhecimento do procedimento, o que gerava medo das consequências. Esse episódio ficou conhecido como a Revolta da Vacina. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Charge de Leonidas, que retrata a Revolta da Vacina publicada na revista “O Malho”, de 29/10/1904. Fonte: <http://chc.org.br/a-revolta-da-vacina-2/>. Mesmo após os episódios conflituosos, se conseguiu estabelecer uma campanha permanente de ações sanitárias, dentre elas ações educativas, especialmente com o auxílio de Carlos Chagas. Com relação à saúde, pouco foi feito até 1930 quando Getúlio Vargas criou o Ministério da Educação e da Saúde, substituindo as Caixas de Aposentadorias e Pensão – criadas em 1923, para os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), passando, então, a serem dirigidas por entidades sindicais. Porém, apesar de aparecer nesse período, a assistência médica é apenas dirigida aos empregados, não sendo um direito universal. No período da ditadura militar, apesar de todas as restrições aos direitos individuais conquistados com muita luta ao longo da história, foi justamente promulgada a Lei Orgânica da Previdência Social, em 1967, como forma de unificar os IAPs em um único regime, destinado a todos os trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), ficando excluídos os trabalhadores rurais, empregados domésticos e funcionários públicos. Todavia, para atender à demanda, a solução encontrada pelo governo militar foi atribuir a prestação de serviços na área da saúde às redes privadas, sendo criado, então, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS, em 1978. O INAMPS era restrito aos empregados que contribuíssem com a previdência social, sendo que os demais contavam com a sorte da filantropia. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Consulte o livro-base desta disciplina: “Democracia, Cidadania e Sociedade Civil”, de Cesar Beras, editora Intersaberes. Boa parte dos INAMPS era da rede privada de saúde, tendo poucos estabelecimentos próprios, cujo funcionamento se dava por meio de parcerias. A proposta do INAMPS era cuidar exclusivamente da doença. Após o período militar, foi descoberta uma grande fraude vinculando o INAMPS, com prejuízo aos cofres públicos. Foi apenas com a Constituição Federal de 1988 que a saúde passou a ser tratada como direito fundamental e universal, de natureza não contributiva, rompendo com o modelo de medicina previdenciária. Com essa previsão constitucional, surge o SUS (Sistema Único de Saúde), cuja base é a universalização do atendimento à saúde, pois todos, independentemente de contribuição prévia, inclusive os indigentes, passam a ser atendidos pelo SUS. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. A Saúde como Direito Constitucional A saúde passa a ser direito constitucional após amplo processo de reivindicação da universalização do acesso à saúde pública, como direito do cidadão e dever do Estado. É importante destacar que na VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília, vários temas foram debatidos, especialmente a necessidade de implementação de um sistema único de saúde, que, para tanto, deveria ser desvinculado da previdência social. Ademais,outro tema levantado foi o da relação da saúde pública com a sociedade civil, com participação de setores representativos. Essas propostas foram apresentadas na Assembleia Nacional Constituinte, criada em 1987, e a maior parte delas foram inseridas na Constituição Federal promulgada em 1988, que garantiu o direito à saúde para CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 todo o cidadão brasileiro, sem necessidade de contribuição prévia, transformando-a em dever do Estado, por meio da criação de um sistema de acesso universal e igualitária, com ações direcionadas para promoção, proteção e recuperação. Esse sistema passa a ser denominado Sistema Único de Saúde, cujo modelo teve inspiração no modelo de saúde inglês. A Constituição Federal concebe a saúde a partir de um conceito ampliado e universal, conforme pode se verificar em seu artigo 196, que diz: Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (CF/1988) A saúde se insere na Constituição Federal no rol dos direitos sociais, assim como o direito à assistência social, e para sua efetivação enquanto direito, necessária a criação de lei regulamentadora, tendo em vista que como direito social era considerado norma programática. Diante disso, em 19 de setembro de 1990, é promulgada a Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei 8.080/1990, que dispõe sobre as condições para promoção, proteção, organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Tanto a Constituição Federal como a Lei 8.080/1990 tratam a saúde a partir de um conceito ampliado, resultante da VI Conferência Nacional de Saúde, que a define como: Saúde resulta, dentre outras, de condições de alimentação, moradia, educação, lazer, transporte e emprego, e das formas de organização social de produção, constata que, além de se dar a superação da tradição higienista e curativa pela determinação social da doença, a saúde parece situar-se, assim, num âmbito superestrutural, resultante de uma base socioeconômica. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Nesse sentido, os primeiros artigos da Lei Orgânica de Saúde (LOS) trazem a dimensão do direito à saúde: Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. § 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade. Art. 3º Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. Ademais, a LOS disciplina, em seu artigo 5º, os objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS) que são: I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei; III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Os princípios que incluem as ações e serviços públicos de saúde que integram o SUS foram estabelecidos no artigo 7º do SUS: Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#cfart198 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#cfart198 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Pudemos perceber que somente a partir de 1988, com a promulgação da Constituição, que a saúde passa a ter destaque como direito fundamental, encerrando um longo período de ausência de um sistema universal de saúde, rompendo com a medicina previdenciária voltada apenas aos trabalhadores e com as políticas públicas parciais e de minimização do Estado, que transferia a responsabilidade para organizações sociais e entidades benevolentes, para garantir saúde a todo cidadão brasileiro, por meio do Sistema Único de Saúde, criando, assim, as condições necessárias para promoção, proteção e funcionamento dos serviços de saúde em todo território brasileiro. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. O Direito à Previdência Social no Brasil: aspectos históricos A previdência social, assim como a saúde e a assistência social, está prevista na Constituição Federal como parte da seguridade social e na qualidade de direito social, ora direito fundamental, porém se diferencia da assistência social e da saúde, isso pelo fato de ter uma natureza contributiva, ou seja, para ter direito à previdência social, se faz obrigatória a contribuição social prévia. Mas essa perspectiva da previdência social como direito social é atual, nem sempre foi assim. A previdência social tem o seu primeiro marco legal no Brasil com a Lei 3.397, de 1888, que autorizava o governo a ter uma “caixa de socorros” destinada àqueles trabalhadores da estrada de ferro. Já a primeira Constituição Brasileira que previu a Previdência Social foi a Constituição de 1891, na qual a previdência social foi prevista em casos de calamidade pública e quando da aposentadoriapor funcionários públicos. No caso da aposentadoria dos funcionários públicos, esta era concedida caso viessem a ficar inválidos no exercício de suas funções públicas. Já em 1923, cabe destaque, no que diz respeito ao direito – mesmo que ainda tímido e restrito – à previdência social, o Decreto Legislativo 4.682/1923, que previa aposentadoria e pensões aos ferroviários. Esse Decreto Legislativo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 ficou conhecido como Lei Elói Chaves, considerada a lei-mãe da previdência social ou o marco brasileiro da previdência social. Assim, importante a menção a este Decreto, pois a partir dele foram criadas outras caixas de aposentadoria para categorias de trabalhadores diversas, como os portuários, servidores públicos e mineradores. Foi com a Constituição de 1934 que o sistema tripartite de previdência, que prepondera até hoje, foi previsto. Tripartite, pois o financiamento da previdência social envolve a empresa, o empregado e o Estado. Já Constituição de 1937 traz algumas novidades para a previdência social, ela institui os seguros de vida, de invalidez e de velhice e passa a tratar a previdência social como sinônimo de seguro social. Seguindo a ordem cronológica, a Constituição de 1946 passa a sistematizar a matéria previdenciária, na parte que trata dos direitos do trabalhador. Mais tarde, em 1960, a Lei 3.807, considerada Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), unifica todas as legislações que tratam da matéria previdenciária, eliminando as diferenças históricas de tratamento entre os trabalhadores, unificando as alíquotas de contribuição incidentes na remuneração do trabalhador. A LOPS foi considerada o sistema previdenciário de maior proteção social, considerando toda trajetória histórica da previdência social. Previdência Social - Sistema Tripartite Governo Federal Trabalhador Empregadores CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 No início dos anos 1960, atendendo às reivindicações sindicais, revoga- se a idade mínima para aposentadoria que era de 55 anos e passa a ter um único critério, a exigência de 35 anos de tempo de serviço. Já a Constituição de 1967 reproduz o texto constitucional de 1946, não inovando muito na matéria previdenciária, mas trazendo contribuição especialmente quanto à previsão legal do seguro-desemprego. 1967 A Lei 5.316 passa a incluir o benefício da previdência social em casos de acidente de trabalho. 1969 Foi contemplado o trabalhador rural na Previdência Social, por meio do Decreto-Lei 564. 1970 Por Lei Complementar é criado, então, o Programa de Integração Social (PIS) e, ainda, nesse mesmo ano, em dezembro, por meio de outra Lei Complementar, foi criado o PASEP (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público). 1971 Também por Lei Complementar, foi criado o Pró-Rural, regulamentando a proteção previdenciária ao trabalhador rural. 1972 São incluídos na previdência social os empregados domésticos. 1974 No dia do trabalhador, 1º de maio, o Ministério do Trabalho e Previdência social foi desmembrado, dando origem ao Ministério da Previdência e Assistência Social. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 1976 Foi instituída a Consolidação das Leis da Previdência Social, pelo Decreto 77.077/1976. 1977 Foi editada a Lei 6439 que cria o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS). Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. O Direito à Previdência Social na Constituição Federal de 1988 A Constituição Federal de 1988 trouxe importantes mudanças para a Previdência Social, sendo que a principal inovação é a sua inclusão como parte da seguridade social. Assim, a Constituição de 1988, inseriu a previdência social em um sistema de proteção social mais amplo, em conjunto com a assistência social e a saúde. Porém, diferente da assistência social, a previdência social deve ser considerada como um seguro social, havendo mútua contribuição para assegurar o recebimento da previdência pelo segurado no futuro. O artigo 201 da Constituição Federal de 1988 esclarece a forma de organização da previdência social, bem como sua abrangência: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Pode-se, então, se extrair do artigo 201 da Constituição Federal que a previdência social tem um caráter contributivo e que será destinada ao segurado no caso de aposentadoria, doença, invalidez, morte, gravidez, maternidade, desemprego involuntário. As regras (critérios e requisitos) para concessão de aposentadoria são gerais, não podendo haver tratamento diferenciado, exceto nos casos previstos em lei complementar, que tratam de atividades que são exercidas em condições diferenciadas que podem acarretar em prejuízo da saúde do trabalhador ou sua integridade física, como também no caso de pessoas com deficiência. A Constituição também assegurou que o valor do benefício não pode ser inferior a um salário mínimo. Na área rural, majorou o valor do benefício previdenciário de meio para um salário mínimo e reduziu em cinco anos a idade e tempo de serviço para fins de aposentadoria, além de incluir um número significativo de trabalhadores que antes nunca haviam contribuído para o sistema. Com relação à idade para aposentadoria, o parágrafo 7º do artigo 201 da Constituição Federal esclarece que: § 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições; I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher; II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. Para operacionalização financeira da previdência social brasileira, a Constituição de 1988 adotou o regime de repartição, ou seja, é um sistema previdenciário que para prover a aposentadoria dos inativos e demais beneficiários, conta com quem está contribuindo no momento que, por sua vez, contam com a contribuição das gerações seguintes de contribuintes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Importante esse destaque, porque os sistemas previdenciários podem contar com basicamente dois regimes, um é o regime de repartição, adotado no Brasil e, outro, o regime de capitalização, no qual os benefícios de cada contribuinte são custeados pela capitalização prévia dos recursos advindos das contribuições que ele mesmo fez ao longo da vida ativa. Com relação aos servidores públicos, a Constituição de 1988 ampliou o rol de direitos e, no que diz respeito à previdência, implementou reajustes iguais para ativos e inativos. A regulamentação da Previdência Social, a partir da Constituição de 1988, se dá pela Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, que a define, em seu artigo 1º, como: A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade,desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Ademais, estabelece princípios e diretrizes da previdência social (artigo 2º da Lei 8.213/1991), que são: I - universalidade de participação nos planos previdenciários; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios; IV - cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição corrigidos monetariamente; V - irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o poder aquisitivo; VI - valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de- contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado não inferior ao do salário mínimo; VII - previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 VIII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação do governo e da comunidade, em especial de trabalhadores em atividade, empregadores e aposentados. O caráter democrático e participativo da previdência social fica regulado pelo artigo 3º da Lei, que estabelece a previdência social, dispõe: Art. 3º Fica instituído o Conselho Nacional de Previdência Social–CNPS, órgão superior de deliberação colegiada, que terá como membros: I- seis representantes do Governo Federal; II - nove representantes da sociedade civil, sendo: a) três representantes dos aposentados e pensionistas; b) três representantes dos trabalhadores em atividades; c) três representantes dos empregadores. A Lei 8.213/1991 estabelece, ainda, que a previdência social compreende o Regime Geral de Previdência Social e o Regime Facultativo Complementar de Previdência Social. O Regime Geral de Previdência Social garante cobertura aos seus beneficiários por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Já o Regime Facultativo Complementar, objeto de lei específica, Lei Complementar 109, de 29 de maio de 2001, tem caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, sendo facultativo. Finalmente, cabe apenas destacar que, após consolidada constitucionalmente a previdência social, algumas alterações importantes foram introduzidas: a) a criação do Instituo Nacional do Seguro Social, por meio da integração do IAPAS (Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social) e o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social); CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 b) a Lei 8.540, de 1992, passa a definir a contribuição do empregador-rural para a seguridade social; c) a Lei 8.870, de 1994, extingue o abono de permanência em serviço e exclui o 13º salário do cálculo do salário-benefício. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. Seguridade Social na Constituição Federal Abordar a seguridade social no contexto da Constituição Federal de 1988, especialmente no âmbito do serviço social, é de fundamental importância, tendo em vista que ela envolve um conjunto de proteção que contempla três direitos fundamentais, à: saúde previdência social assistência social A Constituição Federal integrou três direitos sociais em um conjunto ou sistema de proteção (entende-se como proteção social um conjunto de direitos que garantem o acesso dos cidadãos a bens e serviços, materializando-se por meio das seguintes políticas públicas: habitação, educação, saúde, previdência, segurança alimentar e nutricional, trabalho e assistência social). Esses três direitos passam a ter preceitos comuns, a partir da proposta constitucional, como se pode observar nos artigos 194 e 195 da Constituição Federal: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Percebe-se que o artigo 194 da Constituição Federal trata da seguridade social enquanto um conjunto integrado de ações advindas do poder público e da sociedade, cuja finalidade é assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Assim, com base na Constituição Federal, verifica-se que compete ao Poder Público organizar a seguridade social. Essa organização se dará por meio dos seguintes objetivos: a) universalidade da cobertura e do atendimento; b) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; c) seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; d) irredutibilidade do valor dos benefícios; e) equidade na forma de participação no custeio; f) diversidade da base de financiamento; g) caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 h) caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Em síntese, a partir da Constituição Federal, no que diz respeito à seguridade social, se verifica que a intenção foi de tratar a seguridade social a partir de uma perspectiva da integralidade, buscando romper com a fragmentação das ações, como forma de ampliar a efetividade dos direitos sociais, atrelando a responsabilidade da seguridade social ao Estado. Ao assumir a responsabilidade pela assistência social, o Estado assume a responsabilidade por um sistema de proteção social destinado ao cidadão, que visa proteger esse cidadão nas situações de necessidades ou dificuldades advindas da atividade laborativa, da velhice e dos eventos infortúnios. Todavia, vale mais uma vez ressaltar, que dentro de uma perspectiva de proteção social, apenas uma política tem a natureza contributiva, que é a cobertura previdenciária, sendo que a saúde e assistência social são direitos de todo e qualquer cidadão, que quando necessitar não lhe é cobrado uma contribuição prévia. Por fim, fica evidenciado em nossa Magna Carta, no que diz respeito à seguridade social, a necessidade de romper com a fragmentação das ações, buscando a ampliação dos direitos sociais atrelada à responsabilidade do Estado brasileiro em assumir essas políticas, criando, assim, um sistema de proteção social destinado ao cidadão, protegendo-o nas ocasiões de dificuldades advindas da atividade laborativa, da velhice e dos eventos infortúnios, tendo uma política contributiva no que diz respeito à cobertura previdenciária e, não contributiva, no que concerne à assistência social e à saúde. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Trocando Ideias Vamos bater um papo com os colegas! Atualmente, estamos no auge de uma discussão e mudanças iminentes no que diz respeito à previdência social no país. Diante dos fatos históricos aos quais estudamos, que perspectivas podemos ter sobre esse assunto? Participe no fórum! Na Prática Iniciamos nosso estudo com uma problematização voltada à área da saúde pública, tratando da questão da dependência química. A questão do uso de drogas está envolvida, abarcada, no sistemade proteção social, especialmente envolvendo tanto a previdência social, a assistência social e a saúde. Ou seja, o enfrentamento dos problemas advindos do uso drogas é algo complexo e requer uma ação intersetorial e interdisciplinar. A previdência social, no sentido de prover o direito ao auxílio-doença para aqueles cuja dependência etílica ou química tenha chegado a um grau que impossibilite o indivíduo a exercer suas funções, já que a dependência química é considerada uma doença biopsicossocial. A assistência social tem uma atuação ampla na área da dependência química, pois atua tanto na proteção social básica como na especial. Na proteção social básica, a assistência social pode atuar em todas as ações protetivas e de prevenção primária e/ou secundária, quando verificado que o indivíduo e sua família se encontram em situação de risco, porém sem problemas relacionados ao uso de drogas. Ou seja, como a proteção social básica tem uma ação preventiva, destinada às pessoas que já se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica, mantidos os vínculos familiares, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 afetivos e comunitários, as ações voltadas à prevenção ao uso de drogas atendem aos níveis primários e secundários, ou seja, do não uso ao uso esporádico de drogas. Já na proteção social especial, as ações devem ser direcionadas às famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de uso de crack e outras drogas, ou seja, quando detectado problemas relacionados ao uso de drogas, sejam eles legais, sociais ou psíquicos. As ações da proteção social especial destinadas à prevenção ao uso de drogas serão secundárias ou terciárias (orientações e encaminhamentos ao tratamento propriamente dito), considerando o envolvimento do indivíduo com as drogas e os vínculos sociais e familiares por ele estabelecido. Cabe elucidar que quanto mais envolvido com a droga, mas escassas são as relações interpessoais do individuo E, na saúde, o próprio tratamento, seja em regime ambulatorial, hospital- dia ou internação. Síntese Estamos terminando os estudos na quinta aula de Serviço Social Direito e Cidadania! Neste encontro tratamos de dois direitos socais previstos em nossa Constituição: a saúde e a previdência social. Esses dois direitos, juntamente com a assistência social, fazem parte da seguridade social, um sistema de proteção social destinado a todo cidadão brasileiro, com a única ressalva: para ter direito CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 à previdência social, é necessária a contribuição prévia, diferentemente da assistência social e da saúde, considerados direitos de natureza não contributiva, ou seja, sem a necessidade de contribuição. Assim, em síntese, pudemos verificar que tanto a saúde como a assistência são direitos advindos de lutas sociais, cuja a materialização na Constituição Federal de 1988 é considerada uma conquista social histórica. Para as considerações finais da professora Adriana Accioly, assista ao vídeo que está disponível no material on-line. Referências BERAS, Cesar. Democracia, Cidadania e Sociedade civil. Curitiba: Intersaberes, 2013. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Acesso em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. COUTO, Beatriz Rojas Couto. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma equação possível? 3ª edição. São Paulo: Cortez, 2008. SPOSATI, Aldaiza de Oliveira et al. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: uma questão em análise. 12 ed. São Paulo: Cortez, 2014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm
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