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Cópia de Direito Penal resumo 1

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Direito Penal
· ABORTO (arts. 124, 125, 126, 127, 128)
Aborto é a interrupção da gravidez, com a consequente morte do produto da concepção. Sendo assim, só pode se cogitar crime de aborto, quando há uma mulher grávida. 
· Para a existência de crime de aborto, é necessário que a interrupção da gravidez tenha sido provocada – pela gestante ou por terceiro – e que não se mostre presente quaisquer hipóteses que excluem a ilicitude do fato (aborto legal). 
· ABORTO CRIMINOSO
- O aborto se desmembra e 3 crimes específicos: 
1. Aborto provocado pela gestante (autoaborto) ou com seu consentimento (art. 124, CP).
2.  Aborto provocado por terceiro SEM o consentimento da gestante (art. 125, CP)
3. Aborto provocado por terceiro COM o consentimento da gestante:
· Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
· Autoaborto (art. 124 1ª parte)
- No autoaborto, previsto na 1ª parte do art. 124, é a própria gestante que pratica os atos que levam à interrupção da gestação. Sendo assim, o SUJEITO ATIVO é a própria GESTANTE – ela que pratica/executa o verbo PROVOCAR.
	OBSERVAÇÕES: 
· Ex.: Se a gestante e terceira pessoa, concomitantemente, desferirem pancadas contra o ventre da primeira, haverá crime de autoaborto (art. 124) por parte da gestante e de provocação de aborto com o consentimento da gestante (art. 126) para o terceiro (não haverá concurso de pessoas – será analisado mais à frente).
· É plenamente possível e, aliás, muito comum a figura da participação no autoaborto. Com efeito, são partícipes, por exemplo, aqueles que incentivam verbalmente a gestante a ingerir medicamento abortivo ou que o adquirem/fornecem para ela. 
Ex.: o farmacêutico que, ciente da finalidade para a qual será utilizado o produto, efetua a venda do medicamento sem a devida receita médica, ou o médico que prescreve a substância a pedido da gestante que quer abortar (auxilia materialmente a autora do crime). 
· Consentimento para o aborto (art. 124 2ª parte)
· Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque. 
Pena - detenção, de um a três anos.
- Nessa modalidade, a gestante não pratica em si o ato abortivo, mas PERMITE que OUTRA PESSOA nela realize a manobra provocadora da interrupção da gestação. 
· É a modalidade mais comum de aborto, em que a gestante procura um médico, uma parteira ou uma amiga para nela realizar o ato
- Nesse caso, o sujeito ativo também é a própria GESTANTE, que pratica/executa o verbo CONSENTIR. Apenas a gestante pode prestar o consentimento válido. 
Ex.: caso um pai leve sua filha de 16 anos, sem que ela saiba a um médico para que, com seu consentimento, realize o procedimento de aborto na jovem. Nesse caso, o médico responde por crime de provocação de aborto sem o consentimento da gestante (art. 125) e o pai é partícipe de tal crime. 
	OBSERVAÇÕES: 
- O crime de consentimento para o aborto admite a figura da participação. Será participe, por exemplo, o namorado que der dinheiro para a gestante procurar alguém para nela realizar o aborto, ou familiares e amigos que induza/instiguem que uma gestante procure uma clínica de aborto apoiando a prática do crime. 
- O art. 126 do CP, parágrafo único, estabelece que não é válido consentimento prestado por gestante não maior de 14 anos. Com isso, a contrario sensu, é possível concluir que o consentimento prestado por gestante maior de 14 anos e menor de 18 é válido, embora ela só possa ser punida perante a Vara da Infância e da Juventude; já o consentimento prestado por menor de 14 anos não é valido. 
· Assim, se a gestante de 15 anos é levada pelo namorado a uma clínica de aborto e ali é realizado o ato abortivo, ela responde pelo ato infracional de consentimento para o aborto na vara especializada, o namorado é partícipe no crime de consentimento para o aborto, respondendo perante a Justiça Comum, se maior de idade, e o médico incorre no crime de provocação de aborto com o consentimento da gestante (art. 126)
· Se a gestante for menor de 14 anos e, caso se dirija sozinha ao médico e autorize o ato abortivo, tal consentimento, conforme já mencionado, não é válido, de modo que o médico incorre no crime de aborto sem o consentimento da gestante. É verdade que a gravidez de mulher menor de 14 anos leva à conclusão de que foi ela vítima de estupro de vulnerável (art. 217-A, do Código Penal, com a redação dada pela Lei n. 12.015/2009). Nesta hipótese, prevê a lei que é permitida a realização do aborto, mas apenas se houver autorização dos representantes legais da grávida. 
· Provocar aborto sem consentimento da gestante (art. 125)
· Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante
Pena - reclusão, de três a dez anos.
- Esta é a modalidade mais grave do crime de aborto. Nesse caso, há 2 vítimas (sujeitos passivos), embora o delito seja um só: o feto e a gestante. O sujeito ATIVO é o TERCEIRO QUE PROVOCA O ABORTO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (crime comum, cometido por qualquer pessoa). 
-Ela pode se caracterizar em 2 hipóteses: 
a) Quando não houve, no plano fático, qualquer autorização por parte da gestante. Exemplo: quando o agente agride uma mulher grávida para causar o abortamento, ou, ainda, quando, clandestinamente, introduz substância abortiva na bebida dela.
b) Quando houve, no plano fático, uma autorização da gestante, mas tal anuência carece de valor jurídico em razão do que dispõe o próprio texto legal. É o que se dá nas cinco hipóteses elencadas no art. 126, parágrafo único, do Código Penal: 
Art. 126, Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. 
1. Se o consentimento foi obtido com emprego de fraude. Ex.: o médico e o pai da criança em gestação, que, combinados, falsificam exame e convencem a moça de que o prosseguimento da gravidez provocará a morte dela e, com isso, obtêm sua assinatura concordando com a realização do aborto. Descoberta a farsa, o médico e o pai respondem por aborto sem o consentimento. Para a gestante enganada, o fato não é considerado crime;
2. Se o consentimento foi obtido com emprego de grave ameaça; 
3. Se foi obtido com emprego de violência; 
4. Se a gestante não é maior de 14 anos; 
5. Se é alienada ou débil mental, de modo que não tenha capacidade para compreender o significado de seu gesto.
OBS: Se a gestante é menor de 14 anos ou é portadora de enfermidade ou deficiência mental que lhe impeça de ter discernimento para o ato sexual, significa que ela foi vítima de estupro de vulnerável (art. 217-A e § 1º, do Código Penal, com a redação dada pela Lei n. 12.015/2009). Nesses casos, o aborto é lícito, desde que haja consentimento do representante legal da gestante para a sua realização (art. 128, II). Se, todavia, não existe tal consentimento, o médico que realiza o ato abortivo comete o crime de aborto sem o consentimento da gestante porque a autorização dada apenas por esta não é válida.
	· Homicídio doloso de mulher grávida e aborto 
- Quem mata uma mulher, ciente de sua gravidez, e com isso provoca também a morte do feto, responde pelos crimes de aborto sem o consentimento da gestante e homicídio. Como a morte do feto é decorrência do homicídio da gestante, pode-se concluir que o agente teve, no mínimo, dolo eventual em relação ao aborto.
- Caso fique demonstrado que o agente não sabia da gravidez, por estar a mulher ainda no início da gestação, sua responsabilização penal se resumirá ao crime de homicídio, pois, nesse caso, puni-lo por aborto constituiria responsabilidade objetiva, que é vedada. É que, em tal situação, sequer é possível imputar dolo eventual a ele, e o crime de aborto só se pune a título de dolo.
· Provocar aborto com o consentimento da gestante (art. 126)
· Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
Pena — reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maiorde quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido com emprego de fraude, grave ameaça ou violência.
- O CONSENTIMENTO DA GESTANTE COMO PREMISSA DO CRIME (crime tipificado no 124): Para a existência do crime de provocação de aborto com o consentimento da gestante, é necessário que este perdure até a consumação do ato. Caso a gestante que, inicialmente, havia prestado consentimento se arrependa — já na sala própria para a realização da manobra abortiva — e peça ao agente que não o faça, mas este prossiga na execução do crime e pratique o aborto, responderá, evidentemente, por crime de aborto sem o consentimento, restando atípico o fato em relação à gestante que havia retirado o consentimento e foi forçada ao ato.
· O consentimento, para que seja válido, deve ter sido obtido de forma livre e espontânea. Daí o art. 126, parágrafo único, do Código Penal estabelecer que o consentimento obtido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude não é válido, devendo o agente ser punido por crime de aborto sem o consentimento da gestante. 
· O mesmo dispositivo, aliás, não reconhece valor ao consentimento prestado exclusivamente por gestante não maior de 14 anos, ou alienada, ou débil mental, respondendo igualmente por aborto sem o consentimento da gestante quem realize o ato abortivo baseado em referida autorização nula.
- SUJEITO ATIVO: Essa modalidade de aborto constitui crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa, por médico ou por qualquer um que saiba realizar ato abortivo. É possível a participação, como, por exemplo, por parte da enfermeira que presta assistência a um médico no instante em que ele realiza a curetagem abortiva.
- De acordo com a teoria unitária ou monista, adotada por nossa legislação, todos os que concorrerem para o resultado criminoso (no caso, o aborto) devem responder pelo mesmo crime. Na situação em análise, o resultado é um só, ou seja, a morte do feto. Assim, em razão da referida teoria unitária, todos os envolvidos deveriam responder pelo mesmo crime. Nosso legislador, contudo, entendeu que as condutas têm gravidades distintas (reprovabilidade distinta dos comportamentos) e, por isso, resolveu aqui criar uma exceção à referida teoria, de tal modo que a gestante incorra em crime mais brando (art. 124, 2ª parte), por ter consentido no aborto, enquanto o terceiro, que realiza a manobra, pratica crime mais severamente punido, descrito no art. 126. 
· Assim, percebemos que aqui não é possível haver concurso de pessoas entre a mulher que consente que outrem lhe provoque o aborto e aquele terceiro que provoca o aborto com o consentimento da mulher: 
 O concurso de pessoas é composto pela reunião dos seguintes elementos: unidade de desígnios (há, nesse caso); pluralidade de agentes (há, também, nesse caso); e a unidade típica (não há). 
 
Ou seja, não pode haver concurso de pessoas, pois, a conduta da gestante de consentir é punida por um tipo penal diverso da conduta de provocar aborto com consentimento da gestante que será praticada por terceiro. Isto é, não há concurso de pessoas porque lhe falta um dos seus elementos, a UNIDADE TÍPICA (os comportamentos não incidem no mesmo tipo penal, não há o mesmo enquadramento típico). 
· Sendo assim, deve a gestante responder pelo crime do art. 124 (segunda parte), em razão do seu consentimento, e a terceira pessoa que realizar a manobra abortiva, pelo crime do art. 126 do CP. 
Ex.: a gestante A pede ao médico B para provocar aborto nela e ele concorda (fora dos casos legais). Nesse caso, a gestante comete o art. 124, pois consente, e o médico B comete o art. 126, pois provoca o aborto com o consentimento. 
OBS: isso não significa que não possa haver concurso de pessoas com a gestante que consente que outro provoque a interrupção da gestação. Gestante que fala com a amiga que vai realizar um aborto e que já marcou com o médico B. A amiga fala “vai mesmo, você deve interromper a gestação, é o melhor a se fazer” – nesse caso, a amiga seria partícipe no crime previsto no art. 124, uma vez que ela está m concurso de pessoas devido a sua participação moral. 
· CAUSAS AUMENTO DE PENA – art. 126 e 125 CP. 
· Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
- Esse dispositivo está elencado no Código Penal com a denominação “forma qualificada”. No texto legal, entretanto, estão previstos índices de aumento e não qualificadoras propriamente ditas, razão pela qual o correto é classificá-las como causas de aumento de pena.
- Por expressa disposição legal, essas causas de aumento de pena só são aplicáveis ao terceiro que realiza o aborto com ou sem o consentimento da gestante, pois, no início do art. 127, está expressamente previsto que os aumentos são exclusivos dos crimes previstos nos dois artigos anteriores, que são os arts. 125 e 126.
OBS: É também importante lembrar que, se alguém realiza uma manobra abortiva e, com isso, provoca culposamente a morte da gestante, mas, posteriormente, se prova que o feto já estava morto por causas naturais, deve-se reconhecer a existência de crime impossível em relação ao delito de aborto, de modo que o agente só poderá ser punido por crime de homicídio culposo.
OBS: CARÁTER PRETERDOLOSO DAS CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - é pacífica a interpretação de que o dispositivo em análise é exclusivamente preterdoloso, ou seja, só pode ser reconhecido quando a morte ou a lesão de natureza grave forem consequências culposas do aborto ou dos meios empregados para praticá-lo. Em suma, existe dolo no aborto e culpa no resultado agravador.
EX.: Suponha-se que tenha havido consentimento da gestante para o aborto, hipótese configuradora do crime do art. 126, que é apenado com reclusão, de um a quatro anos. O evento morte fará com que tal pena seja dobrada, alcançando os limites de dois a oito anos, evidenciando que o resultado morte não foi aqui previsto a título de dolo. 
· TEMAS COMUNS A TODAS AS MODALIDADES DE ABORTO
1. Tentativa: é possível em todas as figuras de aborto criminoso. Basta que seja realizado um ato capaz de provocar aborto e que a morte do feto não ocorra por circunstâncias alheias à vontade do(s) envolvido(s). É uma conjugação dos art. 124, 125 e 126, conjugado com o art. 14 que dispõe sobre a tentativa. 
· Art. 14 CP: tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
· Se não tiver havido início de execução, o fato será atípico. É o que ocorre, por exemplo, se a gestante presta o consentimento no interior de uma clínica, mas a manobra abortiva propriamente dita não chega a ser iniciada pela chegada de policiais ao local. Nesse caso, houve apenas atos preparatórios. 
2. Crime impossível por absoluta impropriedade do objeto - Essa forma de crime impossível mostra-se presente em duas situações: a) Quando o feto já está morto, e o agente, sem saber disso, realiza uma manobra pretensamente abortiva. b) Quando a mulher se engana, pensando estar grávida, ou quando o resultado de um exame é falsamente positivo, e o agente realiza um ato visando causar a morte do feto, que obviamente não ocorrerá em razão da inexistência de gravidez. Em ambos os casos, o fato é atípico porque o art. 17 do Código Penal expressamente dispõe que, nos casos de crime impossível, o agente não responde nem mesmo por delito tentado.
3. Crime impossível por absoluta ineficácia do meio: Apresenta-se essa modalidade de crime impossível quando o agente quer provocar o aborto mas escolhe um meio de execução absolutamente incapaz de gerar a morte do produto da concepção. Ex.: ingestão de medicamentos ou chás que não têm poder abortivo, embora o agente, por falta de informação, imagine presente essa característica. O fato será considerado atípico, sendo inviável a punição por tentativa de aborto, nos termos do art. 17do Código Penal. 
4. Meios de execução: Os crimes de aborto enquadram-se no conceito de crime de ação livre, pois admitem qualquer forma de execução, evidentemente, desde que aptos a causar o resultado.
5. Elemento subjetivo: É o dolo. 
· Só há aborto quando a conduta do agente (provocação, autoaborto ou consentimento) é DOLOSA, o que se verifica quando o agente quer efetivamente causar o aborto.
· Nossa legislação não prevê modalidade culposa do crime de aborto. Assim, quando alguém o provoca por negligência, imprudência ou imperícia, não responde por nenhum crime (autoaborto - atípico) ou responde por delito de lesões corporais (quando provocado por terceiro). É que em todo caso de abortamento a gestante sofre algum tipo de lesão. Por sua vez, se a responsável pelo ato culposo tiver sido a própria mulher grávida, o fato será considerado atípico porque não se mostra possível a punição da autolesão — não pode a mulher ser autora e vítima do crime de lesão culposa.
6. Ação penal: Todas as formas de aborto apuram-se mediante ação pública incondicionada. O julgamento é feito pelo Tribunal do Júri
· ABORTO LEGAL 
· Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: I — se não há outro meio para salvar a vida da gestante; II — se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
-Existem duas hipóteses expressamente previstas no Código Penal em que a provocação do aborto não é considerada crime (excludente de ilicitude), as quais estão expressas no art. 128. Assim, aparentemente o art. 128 representa uma restrição da tipicidade relacionada ao crime de aborto, ou seja, as condutas desses dispositivos são ATÍPICAS (não são consideradas crime). 
· Se uma mulher autoriza a interrupção do aborto porque ela pode morrer, ela estaria dentro de um caso de estado de necessidade (caso não existisse o art. 128), o que é uma excludente de ilicitude). No estado de necessidade, há 2 bens jurídicos de igual valor em confronto e há a necessidade de sacrificar um bem, para salvar o outro. Assim, encaixaria nessa hipótese pois o prosseguimento da gravidez poderia colocar em risco a vida da gestante. 
· Mas não é preciso se falar da excludente de ilicitude do estado de necessidade porque o próprio art. 128 faz uma restrição da tipicidade estabelecida pelo 124 e 126. 
1) Quando não há outro meio para salvar a vida da gestante / aborto necessário ou terapêutico
É a modalidade prevista no art. 128, I, do Código Penal, e exige dois requisitos:
a) Que não haja outro meio senão o aborto para salvar a vida da gestante
OBS: Não é necessário que haja situação de risco atual para a gestante, pois, para tal hipótese, já existe a excludente do estado de necessidade. Assim, é evidente que, se nos primeiros meses da gestação os exames já demonstram que o crescimento do feto poderá provocar a morte da gestante por hemorragia nos meses seguintes, não faz sentido aguardar que o risco se concretize para só nesse momento realizar o aborto
b) Que seja realizado por médico: A exclusão da ilicitude com base neste dispositivo pressupõe que a manobra abortiva seja feita por médico. 
OBSERVAÇÕES: 
- Médico que em procedimento cirúrgico verifica existir perigo atual para a gestante, estando ela prestes a morrer em decorrência de complicações na gestação. Nesse caso, o médico poderá realizar a intervenção abortiva a fim de lhe salvar a vida, estando, nesse caso, acobertado pela excludente do estado de necessidade de terceiro. Nesse caso, a conduta do médico é atípica, ainda que feita sem o consentimento da mãe (não teve como ela manifestar sua vontade). 
· Sempre busca priorizar, nesses casos, a vida da mãe. 
- Se há um risco na gravidez e a mãe não quiser ABORTAR, tendo manifestado sua vontade nesse sentido, NÃO HÁ COMO INTERROMPER A GRAVIDEZ. Caso o médico aja contra a vontade da gestante, ele não poderá se valer da excludente do estado de necessidade ou da restrição do 128 para excluir a tipificação do aborto. 
· O paciente tem legitimidade para se negar a receber um tratamento, desde que tenha plena consciência, isto é, não possua nenhum problema que possa afetar suas faculdades mentais. Forçar ao tratamento implica em LESÃO CORPORAL. 
2) Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal / aborto sentimental ou humanitário. 
Esta figura, por sua vez, pressupõe três requisitos:
a) Que a gravidez seja resultante de estupro. Esta é a razão de a denominação ser aborto sentimental, pois a provocação do aborto é permitida em tal caso por se tratar de gravidez indesejada decorrente de ato sexual forçado.
b) Que haja consentimento da gestante ou de seu representante legal se ela for incapaz. Apenas nessa modalidade é exigido o consentimento. No aborto necessário, em que há risco para a vida da gestante, o consentimento, como visto, não é requisito, embora seja comum os médicos colherem a autorização
OBS: Em nenhuma das modalidades de aborto legal exige-se autorização judicial (apesar dos médicos pedirem que se tenha, por cautela nos casos de estupro, uma autorização judicial). No aborto sentimental, aliás, também não se exige a prévia condenação do estuprador, mesmo porque é comum que ele não tenha sido identificado e, ainda que o tenha sido, não é possível aguardar o desfecho da ação penal, posto que o tempo de gravidez costuma ser menor do que a desta. Para a realização do aborto sentimental, basta que o médico se convença da ocorrência da violência sexual — por exames que tenha feito na vítima, por cópias de depoimentos em inquérito policial ou boletim de ocorrência etc. 
c) Que seja realizado por médico. Se essa modalidade de aborto não for realizada por médico, haverá crime. Assim, se a gestante realizar o ato abortivo em si mesma, responderá por autoaborto, não havendo exclusão da ilicitude, ainda que prove ter sido vítima de estupro. Igualmente haverá delito se o aborto for praticado por enfermeira.
· Então, a conduta só não será típica caso tenha sido realizada por MÉDICO. 
Ex.: Médico que faz aborto em gestante/acreditado achando que foi vítima de estupro, mas não foi. Nesse caso, ele recairia em erro/agiu por erro de tipo – que recai sob um elemento da estrutura típica. Anda que se diga que era erro evitável, haveria uma conduta culposa, mas não há crime de aborto culposo. Então, a conduta continuaria a ser atípica. Nesse caso, mesmo se fosse um erro evitável, ele não seria punido pois não há crime de aborto culposo. 
· Se a gestante, ao saber que está grávida, vai até uma delegacia de polícia e mente que foi estuprada um mês atrás, mas que teve vergonha de se expor na época dos fatos, e, depois disso, faz uso do boletim de ocorrência para enganar o médico, fazendo-o crer na ocorrência do crime sexual e o convencendo a realizar o aborto, temos as seguintes consequências: a) para o médico, não há crime porque ele supôs estar agindo acobertado pela excludente de ilicitude do aborto sentimental. Trata-se de hipótese de descriminante putativa (art. 20, § 1º, do CP); b) a gestante responde por crime de consentimento para o aborto e por comunicação falsa de crime (art. 340), em concurso material.
	OBSERVAÇÃO: caso o representante legal queira, em uma dessas hipóteses, levar a gestação do representado à frente. Ele pode?
- SIM, essa decisão está nas mãos do representante legal. 
Mas o Estado pode intervir em favor da menor, se esse for o caso? Sim, há algumas formas de suprir a falta de consentimento do representante do menor. 
· Os representantes devem sempre agir no melhor interesse do representado. Um pai pode determinar que a filha abusada, por questões religiosas, siga com a gravidez até o final? Ele tem esse poder? Isto é o melhor interesse do representado?
· Se o promotor discorda da opinião do representante legal, ele vai pleitear ao juiz a supressão do não consentimento do representante e vai requerer ao juiz que autorize a interrupção da gestação emsubstituição a esse não consentimento no representante legal. Tudo isso com base no fundamento de que a vontade manifesta pelo representante não é destituída de limites e isenta de controle, mas uma vontade que deve ser manifestada sempre tendo em vista ao legítimo interesse (o melhor interesse) do representado e não do representante. 
· O MP é o legitimado para pleitear a supressão dessa falta de consentimento dos pais, isto é, para suprir a falta de consentimento dos representantes em casos como esse. 
· Reflexões sobre o aborto
- Grande parte das discussões sobre o aborto envolvem o reconhecimento ao direito que a mulher tem em relação ao seu próprio corpo. Contudo, a maior parte dessas discussões envolvem, também, o sentimento religioso e ideológico que busca proteger a vida desde o momento da concepção. 
- Mas o que o direito diz acerca desse fato? Sem envolver concepções políticas ou ideológicas? Precisamos fazer uma diferenciação entre opinião de política criminal x de direito. Posso aceitar que a punição do aborto do ponto de vista político criminal seja pouco inteligente, mas isso não significa automaticamente que a punição do aborto seja inconstitucional. 
- Para envolver o ponto jurídico da discussão, devemos começar a partir da ADPF 54, que declarou a constitucionalidade da interrupção da gravidez no caso do feto anencéfalo. 
· Segundo a lei de transplantes, vida é vida encefálica (argumento contrario sensu de que morte é morte encefálica). Então, o feto estaria vivo a partir a partir do momento em que há vida encefálica. Então, no caso do feto anencéfalo (que não possui atividade encefálica), ele não estaria vivo. Logo, se ele não está vivo, a interrupção da gestação não lesiona o direito à vida. 
· No caso do anencéfalo não há o elemento material do tipo penal, que define que, para haver crime, deve haver uma lesão ou ameaça de lesão significativa a um bem jurídico penalmente tutelado. No caso do anencéfalo, como não há como causar lesão ao bem jurídico VIDA, a interrupção da sua gestação configuraria crime atípico, ou seja, uma espécie de CRIME IMPOSSÍVEL. 
 Então, o aborto do feto até os 3 meses (em que não há formação do sistema nervoso central), não seria caso de ser INCONSTITUCIONAL, mas apenas de aplicar o art. 17 do CP que disciplina o crime impossível: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”
· Observa-se que há, nesse caso, uma absoluta impropriedade do objeto – uma vez que interromper o a gestação de um feto sem vida, não pode configurar crime de aborto. 
OBS: O INSTRUMENTAL NORMATIVO PARA CHEGAR NA CONCLUSÃO DO ANENCÉFALO É O ART. 17 – CRIME IMPOSSÍVEL. DEVERIA ESSE MESMO INSTRUMENTO NORMATIVO SER O UTILIZADO PARA DESCRIMINALIZAR O ABORTO ATÉ OS 3 MESES. 
OBS: Feto anencefálico ≠ feto microencefálico (não tem embasamento na ADPF). 
· ADPF 54 – FALA DE INEXISTÊNCIA DE VIDA. NA MICROCEFALIA HÁ VIDA. NÃO HÁ COMO FALAR DE VIDA QUE NÃO MEREÇA SER VIVIDA. AQUI HÁ UM PROBLEMA JURÍDICO E FILOSOFICO PROFUNDO: COMO SELECIONAR AS VIDAS QUE MERECEM E AS QUE NÃO MERECEM SEREM VIVIDAS? ISSO É EUGENIA. A interrupção do microencefálico não se justifica pela ADPF 54 - se assim fosse, abriria brechas para condutas eugênicas. 
OBS: caso o aborto até os 3 meses fosse descriminalizado, não haveria motivos para sustentar o art. 125 (aborto sem consentimento da gestante) até os 3 meses, uma vez que não haveria vida. Assim, dentro desse período (até os 3 meses), provocar aborto sem o consentimento da gestante não seria crime de aborto, seria crime de lesão corporal. 
· CRIME DE LESÃO CORPORAL (art. 129)
- O crime de lesões corporais subdivide-se em duas categorias: a das lesões dolosas e a das culposas. Por sua vez, a modalidade dolosa possui quatro figuras, que dependem do resultado provocado na vítima, podendo ser leve, grave, gravíssima ou seguida de morte.
· Assim, quando se trata de lesão corporal dolosas, existirão 3 tipos subsidiários (grave, gravíssima e seguida de morte) que constituem qualificadoras do crime de lesão corporal. 
OBS: as qualificadoras integram a estrutura típica alterando o mínimo e o máximo de pena cominado. 
· Lesão corporal só pode ser gravíssima ou grave se for dolosa. Se for culposa não pode graduá-la. 
· LESÕES CORPORAIS DOLOSAS 
· Lesões leves
· Art. 129, caput - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena — detenção de três meses a um ano.
- Para que haja tipificação do crime de lesão corporal, o texto legal exige que o ato perpetrado contra a vítima tenha provocado ofensa à sua integridade corporal ou à sua saúde. 
- O texto legal não define quando uma lesão corporal é leve. Ao contrário, o legislador apenas descreve expressamente quando uma lesão deve ser considerada de natureza grave (art. 129, § 1º) ou gravíssima (art. 129, § 2º). Por isso, é por exclusão que se conclui que uma lesão é de natureza leve, devendo ser assim considerada, portanto, aquela que não é grave nem gravíssima.
· Isto é, a lesão corporal é aquela que não possui nenhuma das consequências dispostas nos §1º e §2º do art. 129. Se houver alguma dessas consequências, haverá ou uma lesão corporal grave (se se encaixa nas hipóteses do parágrafo 1) ou gravíssima (se se encaixa nas hipóteses do parágrafo 2). 
A) Ofensa à integridade corporal: é dano atômico decorrente de uma agressão. Os casos mais comuns de lesão corporal são as escoriações, as equimoses, os cortes, as fraturas, as fissuras, os hematomas, as luxações, o rompimento de tendões ou ligamentos, as queimaduras etc.
B) Ofensa à saúde: Abrange a provocação de perturbações fisiológicas ou mentais na vítima. 
· Perturbação fisiológica: é o desajuste no funcionamento de algum órgão ou sistema que compõe o corpo humano, fazendo com que eles funcionem de maneira irregular. Ex.: transmissão intencional de doença que afete o sistema respiratório, ministração de alimento ou medicamento na bebida da vítima que provoque diarreia, vômito ou náuseas, ministração de diurético que a faça urinar repetidamente, uso de aparelho de choque elétrico que provoque paralisia muscular etc. Note-se que, nesses exemplos, a perturbação fisiológica é de duração transitória, pois o organismo trata de recompor o funcionamento do órgão afetado. Isso, todavia, não altera a conclusão de que houve ofensa à saúde e torna necessária a punição do agente.
· Perturbação mental abrange a causação de qualquer desarranjo no funcionamento cerebral. Ex.: provocar convulsão, choque nervoso, doenças mentais etc. Nesse sentido, o conceito de dano à saúde tanto compreende a saúde do corpo como a mental também (a lesão psíquica pode ser lesão corporal pois, apesar de não ser uma lesão à integridade corporal, constitui ofensa à saúde – que não envolve apenas a estrutura física do corpo).
	OBSERVAÇÃO – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: 
No crime de lesão corporal leve a doutrina e a jurisprudência têm aceitado a aplicação do princípio da insignificância para reconhecer a atipicidade da conduta quando a lesão for de tal forma irrisória que não justifique a movimentação da máquina judiciária, com os custos a ela inerentes. É o que ocorre quando alguém dá um alfinetada em outra pessoa, causando a perda de poucas gotas de sangue.
· Lesão corporal grave (§1º e incisos) 
· Estão previstas no art. 129, § 1º, do Código Penal e possuem pena de reclusão, de um a cinco anos.
a) Art. 129, §1º, I: Se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias. 
- Ocupação habitual é qualquer atividade rotineira, que a vitima normalmente realiza no seu dia a dia. Ex.: andar, praticar esportes, alimentar-se, estudar, trabalhar, etc. Não se trata, portanto, de qualificadora que se refira especificamente à incapacitação para o trabalho, de modo que crianças, desempregados e aposentados também podem ser vítimas desse crime.
· A configuração dessa forma de lesão grave depende da incapacidade para as ocupações habituais durarem MAIS DE 30 DIAS.OBSERVAÇÃO: A atividade que a vítima ficou impossibilitada de realizar deve ser lícita, pouco importando se é ou não moral. Assim, a lesão é grave quando incapacita uma prostituta de exercer suas atividades, já que a prostituição em si não é crime. Por outro lado, se uma lesão incapacita um ladrão de empunhar sua arma em roubos que usualmente comete, não há que falar em lesão grave por esta consequência nele gerada.
b) Art. 129, §1º, II: Se resulta perigo de vida. 
- Perigo de vida é a possibilidade grave e imediata de morte. Deve ser um perigo efetivo, concreto, comprovado, por exemplo, por perícia médica, devendo o legista especificar exatamente em que consistiu o perigo sofrido. Não basta, portanto, que o médico perito diga que houve perigo de vida; ele deve descrever precisamente em que consistiu. Ex.: grande perda de sangue que provocou choque hemorrágico, ferimento em órgão vital, necessidade de cirurgia de emergência etc. 
	OBSERVAÇÃO: 
O laudo pericial concluindo pela existência de perigo de vida é apenas a constatação da consequência do ato agressivo. A natureza efetiva da infração penal deverá ser analisada sob o prisma do dolo do agente. 
Com efeito, se ficar evidenciada a intenção de matar e que o agente, ao executar o crime de homicídio, não conseguiu provocar a morte, mas causou perigo de vida, deve responder por tentativa de homicídio. Evidente que um tiro na cabeça que provoque perda de massa encefálica constitui crime de tentativa de homicídio se a vítima não morrer. 
Assim, para que seja reconhecido o crime de lesão grave pelo perigo de vida, é necessário que haja laudo pericial declarando a existência do perigo e que, no caso concreto, se conclua que o agente não quis matar a vítima. Em outras palavras, referida modalidade de lesão grave é exclusivamente preterdolosa, exigindo dolo de lesionar e culpa em relação ao perigo de vida.
c) Art. 129, §1º, III: Se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função 
- Debilidade é sinônimo de redução ou enfraquecimento na capacidade de utilização do membro, sentido ou função, que, todavia, mantém em parte sua capacidade funcional. Se houver perda ou inutilização de membro, sentido ou função, a lesão será considerada gravíssima (art. 129, § 2º, III). 
Ex.: a agressão que faz com que a vítima passe, permanentemente, a andar mancando, constitui lesão grave, mas a que a faz ficar paraplégica é lesão gravíssima
· CARÁTER PERMANENTE DA DEBILIDADE: É necessário que haja um prognóstico médico no sentido de que a debilidade é irreversível. 
OBS: A perda de um dedo da mão não caracteriza perda ou inutilização de membro, sentido ou função. A jurisprudência tem-se inclinado no sentido de que mesmo a perda de um olho, de um ouvido, de um rim, de um ovário, um testículo, etc., mantido o outro órgão íntegro, não abolida a função, constitui lesão grave e não gravíssima. 
· MEMBRO: são os braços e as pernas. Agressões que provoquem a perda de um dedo ou a diminuição na mobilidade de um braço ou de uma perna, desde que permanentes, configuram a lesão grave. 
· SENTIDO: São os mecanismos sensoriais por meio dos quais percebemos o mundo exterior. São o tato, o olfato, o paladar, a visão e a audição.
OBS: embora existam algumas vozes divergentes, tem prevalecido o entendimento de que a provocação de cegueira completa em um só olho ou surdez total em um só ouvido, mantido intacto o outro órgão, constitui mera debilidade da visão ou audição (lesão grave), porque a vítima continua podendo enxergar ou ouvir, não havendo, em tais casos, perda ou inutilização do sentido, que configuraria lesão gravíssima.
· FUNÇÕES: Dizem respeito ao funcionamento de um sistema ou aparelho do corpo humano. Ex.: função reprodutora, mastigatória, excretora, circulatória, respiratória etc. Assim, agressões que provoquem dificuldade permanente para a vítima respirar ou que lhe causem perene aumento de pressão sanguínea constituem lesão grave. 
Ex.: teve uma lesão corporal no braço e perde, em parte, o movimento do braço (lesão corporal de natureza grave). Se perdeu o membro seria GRAVÍSSIMA (se perde movimento da perna é grave, se perde a perna é gravíssima). 
d) Art. 129, §1º: Se resulta aceleração de parto. 
- O que se exige, nesse caso, é que a agressão perpetrada provoque um nascimento prematuro, uma antecipação do parto. Premissa desta qualificadora é que o feto seja expulso com vida e sobreviva, pois a agressão que causa aborto (morte do feto) constitui lesão gravíssima (art. 129, § 2º, V).
OBSERVAÇÃO: trata-se de modalidade estritamente preterdolosa, em que o agente tem apenas dolo de lesionar e, culposamente, causa o nascimento prematuro. Com efeito, se o agente tivesse intenção de provocar o aborto e causasse nascimento prematuro, responderia por crime mais grave — tentativa de aborto sem o consentimento da gestante.
· Lesão corporal gravíssima (art. 129, §2º e incisos).
· Possui pena de reclusão de 2 a 8 anos. 
a) Art. 129, § 2º, I: Se resulta incapacidade permanente para o trabalho. 
- Tendo em vista o texto legal referir-se à palavra “trabalho”, sem fazer qualquer tipo de ressalva, conclui-se que a incapacitação que torna gravíssima a lesão corporal é aquela que impede a vítima de exercer o trabalho em geral. Exige-se, portanto, a incapacitação genérica e não específica em relação ao trabalho antes exercido pela vítima. 
· Assim, se alguém ganhava a vida como violinista profissional e a agressão lhe causou diminuição na agilidade de uma das mãos, impossibilitando-o de continuar na profissão de músico, mas a perícia constata que ele pode exercer diversas outras funções: advogado, ator, vendedor, motorista etc., a lesão não será considerada gravíssima, mas meramente grave (incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias — tocar o instrumento era uma ocupação habitual).
- Ou seja, incapacidade permanente para o trabalho não se confunde com incapacidade para as ocupações habituais do parágrafo anterior: naquela, a incapacidade é temporária para ocupações habituais da vítima; nesta, a incapacidade é permanente e para o trabalho em geral, e não somente para a atividade específica que a vítima estava exercendo. 
· Assim, se ficar incapacitada para esta atividade específica, mas puder exercer outra atividade laboral, não se configura a lesão gravíssima, ainda que a incapacidade específica seja permanente. Desclassifica-se a infração penal para lesão corporal grave. A incapacidade, nesta espécie de lesões, não é para “as ocupações habituais da vítima”, mas somente para o trabalho, isto é, para o desempenho de uma atividade laboral, profissional, lucrativa (129, § 2º, I), ao contrário do que ocorre com as lesões graves (129, § 1º). 
OBS: A “incapacidade permanente” deve ser de duração incalculada, ou seja, que a natureza das lesões não ofereça condições de diagnosticar a época de uma possível cessação. No entanto, não se exige que seja perpétua, bastando um prognóstico firme de incapacidade irreversível. 
b) Art. 129, § 2º, II: Se resulta enfermidade incurável.
- É a alteração permanente da saúde da vítima por processo patológico, a transmissão ou provocação intencional de uma moléstia para a qual não existe cura no estágio atual da medicina.
· Exige-se que a medicina não disponha de meios para reverter o quadro e eliminar a doença instalada no corpo da vítima. Ou seja, a enfermidade resultante da lesão corporal deverá não poder ser curada com os parâmetro e recursos da medicina atual. 
Ex.: lesão corporal que atinge sistema nervoso, causando perda de sensibilidade, a qual os parâmetros da medicina não conseguem curar. 
 
c) Art. 129, § 2º, III— Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
- MEMBROS: 
· Perda: A perda de membro pode se dar por mutilação ou amputação. Em ambos os casos, haverá lesão gravíssima. 
· A mutilação é decorrência imediata da ação criminosa, ocorrendo quando o próprio agente extirpa uma parte do corpo da vítima. Ex.: com um facão ou foice o agressor corta o braço dela. 
· A amputação decorre de intervençãocirúrgica imposta pela necessidade de salvar a vítima da agressão ou impedir consequências mais graves. O autor do golpe responde pela lesão gravíssima desde que haja nexo causal entre a necessidade de amputação e o ato agressivo por ele perpetrado. Ex.: uma facada na perna que provoca gangrena e a necessidade de sua amputação.
· Inutilização: A inutilização de membro pressupõe que ele permaneça, ainda que parcialmente, ligado ao corpo da vítima, mas incapacitado de realizar suas atividades próprias. Ocorre, por exemplo, quando a vítima fica paraplégica ou perde por completo o movimento dos braços ou pernas (paralisia); 
-SENTIDOS: Já foi estudado que, em caso de cegueira em um só olho ou surdez em um só ouvido, há lesão grave, porque a vítima continua podendo ver e ouvir, não tendo havido perda ou inutilização de quaisquer desses sentidos. Por isso, ocorre perda da visão ou audição quando a vítima fica totalmente cega ou surda, e inutilização quando lhe resta tão pouca capacidade, que só consegue enxergar vultos disformes ou sombras, ou só consegue ouvir sons distorcidos sem poder compreendê-los. 
- FUNÇÃO: Existem algumas funções que são vitais, como a respiratória e a circulatória. Em relação a estas, não há que falar em lesão gravíssima por perda ou inutilização, porque, em tais casos, a consequência é a morte. Por isso, é a função reprodutora que normalmente é atingida nesta forma de lesão gravíssima. Ex.: agressão em que a vítima perde os testículos ou ovários; a extirpação do pênis também é exemplo de lesão gravíssima — perda de função sexual e reprodutora.
d) Art. 129, § 2º, IV — Se resulta deformidade permanente.
A configuração desta qualificadora pressupõe os seguintes requisitos:
1. que se trate de dano estético: os casos mais comuns são o de cortes profundos que deixam fortes cicatrizes, queimaduras com água fervente, perda da orelha ou parte desta, fratura nos ossos da face, etc. 
2. que o dano seja de certa monta: O dano estético precisa ser significativo e relevante, proporcional à gravidade da pena. Deve constituir incômodo permanente, desconforto, vexame constante para o ofendido portador da deformidade. Não pode ser um dano imperceptível.
3. que seja permanente: É o dano que não desaparece pelo passar do tempo, pelo simples poder de recomposição do organismo humano. A possibilidade de correção, exclusivamente por meio de cirurgia plástica, não afasta a qualificadora, caso a vítima não a realize, já que ninguém é obrigado a submeter-se a procedimento cirúrgico.
4. que seja capaz de provocar impressão vexatória: A lesão só será considerada gravíssima se a deformidade causar má impressão nas pessoas que olham para a vítima, de tal modo que esta se sinta incomodada em expor tal parte do seu corpo. Em outras palavras, a deformidade deve ser considerada feia, antiestética pelas pessoas em geral.
e) Art. 129, § 2º, V — Se resulta aborto. 
- O aborto deve ter sido consequência culposa do ato agressivo. Com efeito, a lesão gravíssima em análise é exclusivamente preterdolosa, pressupondo dolo na lesão e culpa no aborto, na medida em que, se o agente atua com dolo em relação à provocação do aborto, responde por crime mais grave, de aborto sem o consentimento da gestante (art. 125 do CP).
OBS: O agente deve saber que a vítima está grávida para que não ocorra punição decorrente de responsabilidade objetiva.
OBS: trata-se de crime preterdoloso pois essa é uma estrutura típica que reúne os dois crimes, contudo, a lesão corporal por DOLO e o aborto por CULPA. Nesse caso, o sujeito não quer a interrupção da gestação, mas previu e afastou (o dolo não pode chegar na intenção de provocar o aborto, porque se não constituiria crime de aborto sem consentimento da gestante e não de lesão corporal). Se o aborto do inciso V fosse doloso, haveria 2 tipos penas diferentes para punir a mesma conduta. 
- Distinção entre lesão corporal seguida de aborto e aborto: a diferença está no DOLO (não se consegue provocar aborto sem causar lesão corporal, mas deve saber se houve intenção de lesionar ou de interromper a gestação). 
· DOLO NA LESÃO + CULPA NO ABORTO = LESÃO GRAVÍSSIMA
· DOLO NO ABORTO + CULPA NA LESÃO = ABORTO
· LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE (art. 129, §3º)
· Art. 129, § 3º — Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
Pena — reclusão, de quatro a doze anos.
- Trata-se de modalidade criminosa exclusivamente preterdolosa, em que o agente quer apenas lesionar a vítima, mas acaba, culposamente, causando sua morte. Ex.: uma facada na perna que atinge a artéria femural na região da coxa e, em face do extenso sangramento, a vítima morre de hemorragia.
· O crime de lesão seguida de morte pressupõe, portanto, que haja prova de que o agente queria lesionar a vítima e que, em nenhum momento, ele quis causar sua morte, provocando-a por mera culpa. É que, se ficar demonstrada a existência de dolo, direto ou eventual, em relação ao resultado morte, estará caracterizado homicídio doloso.
· Assim, a morte deve ser culposa, pois, caso contrário, haveria homicídio doloso. A PROVA DO DOLO É A DIFERNEÇA.
OBS: a diferença da tentativa de homicídio para a lesão corporal consumada é o dolo. Se quer matar, mas não consegue por circunstâncias alheias à sua vontade, provocando apenas uma lesão corporal, trata-se de tentativa de homicídio. Mas se quer provocar uma lesão corporal e, por culpa, o indivíduo vem a morrer, há lesão corporal seguida de morte. 
OBS: O crime em estudo é híbrido (dolo na lesão e culpa na morte), não se confundindo com o instituto da progressão criminosa no homicídio. Nesta, o agente inicia uma agressão querendo apenas lesionar a vítima, mas, durante a agressão, muda de ideia e, no mesmo contexto fático, dolosamente mata. Nesse caso, ele responde apenas por homicídio, que absorve o delito anterior de lesões corporais.
	A LESÃO CORPORAL SE PROCEDE MEDIANTE QUEIXA, REPRESENTAÇÃO, OU AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA? MEDIANTE REPRESENTAÇÃO. 
- Desde o advento da Lei n. 9.099/95, a ação pena, no caso de lesão leve ou culposa, passou a ser pública condicionada à representação do ofendido ou, se incapaz, de seu representante legal (art. 88 da Lei n. 9.099/95). 
· Art. 88, Lei 9099. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
- Nas outras formas de lesão dolosa (grave, gravíssima e seguida de morte), a ação penal continua sendo pública incondicionada.
OBS: para saber se um crime é de ação penal pública penal pública incondicionada, condicionada à representação ou queixa, você deve verificar se existe a previsão da referida representação ou queixa. Quando o CP não fala nada, é porque será ação penal pública incondicionada. Se falar algo, será o que está sendo dito (representação ou queixa). Contudo, no crime de lesão corporal o CP não fala da exigência de representação, estando ela na Lei 9099 (lei que disciplina o juizado especial criminal), art. 88, isto é, fora do CP.

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