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INSTRUMENTO AA - DIREITO PENAL IV “CRIMES PATRIMONIAIS” CARLA JULIANA PEZZI ROCON RA 15170371 DÉBORA SANTIAGO RA 15170411 ROSÂNGELA BELO DUARTE RA 15170435 VIVIANE CASTELAN LANGBEHN RA 15170374 Guarulhos, 26 de março de 2020 Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 62.417 - SP (2006/0150070-8) RELATOR : MINISTRO GILSON DIPP IMPETRANTE : DANIELA YURIE ISHIBASHI COSIMATO - PROCURADORIA DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : LÚCIA DANIELA EMENTA CRIMINAL. HC. FURTO QUALIFICADO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. ÍNFIMO VALOR DOS BENS SUBTRAÍDOS PELA AGENTE. INCONVENIÊNCIA DE MOVIMENTAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. DELITO DE BAGATELA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FURTO FAMÉLICO. ORDEM CONCEDIDA. I. Hipótese em que o impetrante sustenta que a conduta da ré não se subsume ao tipo do art. 155 do Estatuto Repressor, em face do pequeno valor econômico das mercadorias por ela subtraídos, atraindo a incidência do princípio da insignificância. II. Embora a impetração não tenha sido instruída com o referido laudo de avaliação das mercadorias, verifica-se que mesmo que a paciente tivesse obtido êxito na tentativa de furtar os bens, tal conduta não teria afetado de forma relevante o patrimônio das vítimas. III. Atipicidade da conduta que merece ser reconhecida a fim de impedir que a paciente sofra os efeitos nocivos do processo penal, assim como em face da inconveniência de se movimentar o Poder Judiciário para solucionar tal lide. IV. As circunstâncias de caráter pessoal, tais como reincidência e maus antecedentes, não devem impedir a aplicação do princípio da insignificância, pois este está diretamente ligado ao bem jurídico tutelado, que na espécie, devido ao seu pequeno valor econômico, está excluído do campo de incidência do direito penal. V. A res furtiva considerada - alimentos e fraldas descartáveis-, caracteriza a hipótese de furto famélico. VI. Deve ser concedida a ordem para anular a decisão condenatória e trancar a ação penal por falta de justa causa. VII. Ordem concedida, no termos do voto do Relator. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça. "A Turma, por unanimidade, concedeu a ordem, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Napoleão Nunes Maia Filho e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima. Brasília (DF), 19 de junho de 2007.(Data do Julgamento) MINISTRO GILSON DIPP /Relator Documento: 700580 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/08/2007 Página 1 de 4 Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 62.417 - SP (2006/0150070-8) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP (Relator): Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, contra acórdão do Tribunal de Justiça do São Paulo, que desproveu o recurso de apelação interposto em favor de LÚCIA DANIELA, mantendo a sentença condenatória. A paciente foi condenada à pena de 02 anos e 11 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, como incursa nas sanções descritas no art. 155, § 4º, inciso IV, por duas vezes, c/c art. 70, caput, ambos do Código Penal (fls. 19/25). Irresignada, a defesa interpôs apelo perante a Corte de origem, pugnando pela absolvição da ré, em face da atipicidade da conduta a ela atribuída, pois as mercadorias furtadas teriam valor ínfimo, atraindo o princípio da insignificância. A Corte de origem desproveu o recurso, por entender que tal princípio somente seria aplicável ao delitos de furto simples e de estelionato (fls. 66/70). Daí o presente writ , no qual são reiterados os fundamentos expendidos na irresignação de origem, pugnando-se pela aplicação do princípio da insignifância à espécie e pela conseqüente absolvição da ré. Sustenta-se, para tanto, que os bens que a paciente intentava subtrair não teriam relevância econômica. Alega-se, ainda, que fato somente pode ser considerado típico quando presente não apenas a tipicidade formal, mas igualmente a material, a qual, no delito de furto, é caracterizada pela capacidade de afetar o patrimônio da vítima. As informações foram prestadas às fls. 85/86. A Subprocuradoria-Geral da República manifestou-se pela denegação da ordem (fls. 102/107). É o relatório. Em mesa para julgamento. Documento: 700580 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/08/2007 Página 2 de 4 Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 62.417 - SP (2006/0150070-8) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP (Relator): Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, contra acórdão do Tribunal de Justiça do São Paulo, que desproveu o recurso de apelação interposto em favor de LÚCIA DANIELA, mantendo a sentença condenatória. A paciente foi condenada à pena de 02 anos e 11 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, como incursa nas sanções descritas no art. 155, § 4º, inciso IV, por duas vezes, c/c art. 70, caput, ambos do Código Penal (fls. 19/25). Irresignada, a defesa interpôs apelo perante a Corte de origem, pugnando pela absolvição da ré, em face da atipicidade da conduta a ela atribuída, pois as mercadorias furtadas teriam valor ínfimo, atraindo o princípio da insignificância. A Corte de origem desproveu o recurso, por entender que tal princípio somente seria aplicável ao delitos de furto simples e de estelionato (fls. 66/70). Daí o presente writ , no qual são reiterados os fundamentos expendidos na irresignação de origem, pugnando-se pela aplicação do princípio da insignifância à espécie e pela conseqüente absolvição da ré. Sustenta-se, para tanto, que os bens que a paciente intentava subtrair não teriam relevância econômica. Alega-se, ainda, que fato somente pode ser considerado típico quando presente não apenas a tipicidade formal, mas igualmente a material, a qual, no delito de furto, é caracterizada pela capacidade de afetar o patrimônio da vítima. Passo à análise da irresignação. O impetrante sustenta que a conduta da ré não se subsume ao tipo do art. 155 do Estatuto Repressor, em face do pequeno valor econômico das mercadorias por ela subtraídos, devendo ser aplicado, à espécie, o princípio da insignificância. Eis o teor da exordial acusatória: "Consta do incluso inquérito policial (IP nº 050.02.033027-8), que no dia 02 de maio de 2002, por volta das 15:20 horas, dentro do estabelecimento comercial sito à Avenida Santa Inês, nº 3912, nesta cidade de comarca, a indiciada LÚCIA DANIELA, em concurso, previamente ajustada e com unidade de propósitos com a indiciada JOSEMARIA OLIVEIRA, em concurso material subtraíram para elas do Documento: 700580 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/08/2007 Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça referido comércio 02 (dois) kilos de arroz, 01 (um kilo) de feijão e um pacote de fralda descartável e de Maria de Lourdes Uglar de Lima uma sacola contendo 01 (um) kilos de açúcar, 01 (um) pacote de coco ralado e 01 (um) kilo de laranjas, genericamente avaliados na folha 21 dos autos. Segundo se apurou as denunciadas ingressaram no mencionado estabelecimento comercial simulando-se clientes. Porém, de um modo clandestino, subtraíramos bens do referido lugar, acondicionando-os em uma sacola adredemente preparada para, depois, ganharem fuga. Na saída do estabelecimento, depararam-se com a sacola pertencente a vítima Maria de Lourdes no chão, oportunidade em que, ainda ajustadas, espojaram-na, para, finalmente se colocarem em fuga. A vítima Maria de Lourdes dando pela falta de seus bens, saiu a rua e, algo depois, deparou-se com as indiciadas que estavam, ainda, na posse de seus bens. Foi acionada a polícia para esclarecer os crimes, especialmente porque, somente em revistas, descobriu-se o delito antecedente, motivando a prisão de ambas, em situação de flagrância ainda. Isto posto, denuncio a esse Juízo com incursas nas penas previstas noas arts. 155, § 4º, inciso IV, em combinação com o artigo 29, ambos do Código Penal" (fls. 09/10). Com efeito, embora a impetração não tenha sido instruída com o referido laudo de avaliação das mercadorias, verifica-se que mesmo que a paciente tivesse obtido êxito na tentativa de furtar os bens, tal conduta não teria afetado de forma relevante o patrimônio das vítimas, atraindo a incidência do princípio da insignificância, excludente da tipicidade. De fato, a atipicidade da conduta merece ser reconhecida, a fim de impedir que a paciente sofra os efeitos nocivos do processo penal, assim como em face da inconveniência de se movimentar o Poder Judiciário para solucionar tal lide. A corroborar tal entendimento, trago à colação o seguinte julgado desta Corte: "CRIMINAL. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FURTO SIMPLES. ÍNFIMO VALOR DA QUANTIA SUBTRAÍDA PELO AGENTE. INCONVENIÊNCIA DE MOVIMENTAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. DELITO DE BAGATELA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ORDEM CONCEDIDA. Faz-se mister a aplicação do princípio da insignificância, excludente da tipicidade, se evidenciado que a vítima não teria sofrido dano relevante ao seu patrimônio – pois os valores, em tese, subtraídos pelo paciente representariam quantia bem inferior ao salário mínimo. Inconveniência de se movimentar o Poder Judiciário, o que seria bem mais dispendioso, caracterizada. Considera-se como delito de bagatela o furto simples praticado, em tese, para a obtenção de quantia de ínfimo valor monetário, Documento: 700580 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/08/2007 Página 4 de 4 Superior Tribunal de Justiça consistente em apenas R$ 13,00 (treze reais) – hipótese dos autos. Deve ser determinado o trancamento da ação penal instaurada em desfavor do paciente, por ausência de justa causa. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator." (HC 27. 218/MA,de minha relatoria, DJ de 25/08/2003). "PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. TRANSGRESSÃO PENALMENTE IRRELEVANTE. ORDEM CONHECIDA DE OFÍCIO E CONCEDIDA. De acordo com a jurisprudência deste Tribunal, o princípio da insignificância, envolvendo a ninharia do prejuízo e englobando a irrelevância da transgressão, impede que se dê vazão aos efeitos nefastos do procedimento penal. In casu, tendo sido a Paciente denunciada por tentativa de furto, onde a res furtiva restou avaliada em R$ 2,65 (dois reais e sessenta e cinco centavos), correspondente a produtos de higiene pessoal, mais do que patente a desnecessidade da aplicação penal, em face do inexpressível ataque ao bem jurídico tutelado. Ordem concedida de ofício para o fim de anular a decisão condenatória e trancar a ação penal por absoluta falta de justa causa". (HC 28796/SP; Quinta Turma, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA DJ 28.10.2003). Ademais, as circunstâncias de caráter pessoal, tais como reincidência e maus antecedentes, não devem impedir a aplicação do princípio da insignificância, pois este está diretamente ligado ao bem jurídico tutelado, que na espécie, devido ao seu pequeno valor econômico, está excluído do campo de incidência do direito penal. Nesse sentido: "PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO SIMPLES TENTADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. I - No caso de furto, para efeito da aplicação do princípio da insignificância é imprescindível a distinção entre ínfimo (ninharia) e pequeno valor. Este, ex vi legis, implica, eventualmente, em furto privilegiado; aquele, na atipia conglobante (dada a mínima gravidade). II - A interpretação deve considerar o bem jurídico tutelado e o tipo de injusto. III - No caso concreto, o valor da res furtiva equivale a uma esmola, configurando, portanto, um delito de bagatela. IV - Circunstâncias de caráter eminentemente pessoal, tais como reincidência e maus antecedentes, não interferem no reconhecimento do princípio da insignificância. Recurso especial desprovido". (REsp 827.960/PR,Quinta Turma, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ 18/12/2006). Documento: 700580 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/08/2007 Página 5 de 4 Superior Tribunal de Justiça Por fim, a res furtiva aqui considerada - alimentos e fraldas descartáveis-, caracteriza a hipótese de furto famélico. Diante do exposto, concedo a ordem para anular a decisão condenatória e trancar a ação penal por falta de justa causa. É o voto. Documento: 700580 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/08/2007 Página 6 de 4 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Número Registro: 2006/0150070-8 HC 62417 / SP MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 1491523 50020330278 7062002 8633473 EM MESA JULGADO: 19/06/2007 Relator Exmo. Sr. Ministro GILSON DIPP Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. HELENITA AMÉLIA G. CAIADO DE ACIOLI Secretário Bel. LAURO ROCHA REIS AUTUAÇÃO IMPETRANTE : DANIELA YURIE ISHIBASHI COSIMATO - PROCURADORIA DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : LÚCIA DANIELA ASSUNTO: Penal - Crimes contra o Patrimônio (art. 155 a 183) - Furto (art.155 e 156) - Qualificado CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, concedeu a ordem, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Napoleão Nunes Maia Filho e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima. Brasília, 19 de junho de 2007 LAURO ROCHA REIS Secretário Documento: 700580 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/08/2007 Página 7 de 4 Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner Scanned with CamScanner TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: 2020.0000193676 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019, da Comarca de Americana, em que são apelantes PEDRO IVO ALVES PEREIRA, CESAR AUGUSTO LEANDRO BARREIRA e FELIPE GOES, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 14ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Rejeitada a preliminar, negaram provimento aos apelos. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MARCO DE LORENZI (Presidente) e WALTER DA SILVA. São Paulo, 12 de março de 2020. LAERTE MARRONE RELATOR Assinatura Eletrônica TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 2 Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 Apelantes: Pedro Ivo Alves Pereira, Cesar Augusto Leandro Barreira e FELIPE GOES Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo Comarca: Americana Voto nº 13002 Apelação. Crimes de extorsão mediante sequestro, roubo majorado pelo concurso de agentes e emprego de arma, extorsão e associação criminosa, em concurso material. Recursos das defesas. 1. Preliminares. Inobservância das formalidades previstas no artigo 226 do Código de Processo Penal.Reconhecimentos ratificados em juízo. Mera irregularidade. Entendimento jurisprudencial e doutrinário. Utilização de fotografia obtida em celular de propriedade de vítima apreendido em poder de irmã de acusado. Ausência de ilegalidade. 2. Quadro probatório a evidenciar a responsabilidade penal dos réus. Autoria e materialidade comprovadas. 3. Condutas que configuram crimes de roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro, em concurso material, não se podendo cogitar de crime continuado, porquanto não se cuida de delitos da mesma espécie. 4. Penas que não comportam reparos. Recursos improvidos. 1. A sentença, cujo relatório se adota, julgou procedente a ação para condenar: (i) FELIPE GÓES e CÉSAR AUGUSTO LEANDRO BARREIRA às penas de 23 anos de reclusão, em regime inicial fechado, e ao pagamento de 23 dias-multa, no valor unitário correspondente ao mínimo legal; e (ii) PEDRO IVO ALVES PEREIRA às penas de 26 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial fechado, e ao pagamento de 26 dias-multa, no valor unitário correspondente ao mínimo legal, todos ambos como incursos no artigos 288, parágrafo único, no artigo 157, parágrafo 2o, incisos I e II, no artigo 158 e o no artigo 159, parágrafo 1o, na forma do artigo 69, todos TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 3 do Código Penal (fls. 1216/1246). Apelaram os réus. A defesa de Pedro Ivo Alves Pereira (fls. 1316/1320) e Felipe Góes (fls. 1372/1376) postula a absolvição por insuficiência probatória. Os defensores de César Augusto Leandro Barreira (fls. 1332/1369) alegam, preliminarmente, a nulidade do seu reconhecimento, uma vez que a autoridade policial não observou as formalidades previstas no artigo 226 do Código de Processo Penal e que a apreensão do celular no qual se encontrava a fotografia do apelante que primeiro permitiu o reconhecimento do apelante ocorreu de forma irregular, pelo que postula a reforma da sentença, com a exclusão das provas ilícitas, e o encaminhamento de ofício à Corregedoria de Polícia para que se apure o comportamento dos investigadores. No mérito, requerem a absolvição por insuficiência probatória. Subsidiariamente, colimam a) aplicação do princípio da consunção, para que a conduta prevista no artigo 159 do Código Penal absorva as previstas nos artigos 157 e 158 do diploma em comento; b) reconhecimento da continuidade delitiva; c) reconhecimento do concurso formal entre o roubo e a extorsão mediante sequestro; d) reconhecimento do 'bis in idem' pela aplicação das causas de aumento relativas ao concurso de agentes no roubo e na extorsão e pela condenação por associação criminosa; e e) seja a pena aplicada no mínimo legal. Processado o recurso e contrarrazoado (fls. 1384/1391), a d. Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo improvimento (fls. 1467/1477). TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 4 É o relatório. 2. Não vingam os reclamos. 3. Sem razão a defesa na questão agitada a título de preliminar. Alega-se nulidade do reconhecimento do apelante César por inobservância aos procedimentos previstos no artigo 226 do Código de Processo Penal e pela ilegalidade da apreensão do celular da meia-irmã do acusado Pedro, no qual encontrou-se a fotografia que primeiro permitiu o reconhecimento do apelante César. Certo que o reconhecimento policial não tomou a forma prevista no artigo 226, do Código de Processo Penal. Isto, todavia, não lhe retira a validade, de sorte que descabido falar-se em nulidade na espécie. Serve, com efeito, “como elemento de convicção do juiz, junto com outros elementos, de acordo com o princípio do livre convencimento” (JÚLIO FABBRINI MIRABETTE, Código de Processo Penal Interpretado, Atlas, 11ª edição, pág. 600). Na realidade, “o juiz poderá levar em conta o ato, dando-lhe a consideração que julgar adequada em face da falha ocorrida e no confronto com as demais provas produzidas” (ADA PELEGRINI GRINOVER, ANTONIO SCARANCE FERNANDES e ANTONIO MAGALHÃES GOMES FILHO, As Nulidades no Processo Penal, RT, 10ª edição, pág. 196). De fato, acolhendo a lei o princípio do livre convencimento do juiz, não faz sentido privar de validade o reconhecimento pela ausência de formalidades. Deve-se interpretar a norma inscrita no artigo 226, II, do Código de Processo Penal - no TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 5 sentido de que a pessoa, cujo reconhecimento se pretende, seja colocada ao lado de outras que com ela tenha qualquer semelhança - somente como uma recomendação do legislador, e não como um comando “fixando uma obrigação capaz de ensejar a nulidade acaso não observada” (STJ, HC nº 26.356, rel. Min. Jorge Scartezzini). Conferir, no mesmo sentido: STJ, HC nº 35.824, rel. Min. Gilson Dipp; REsp nº 695.580, rel. Min. Laurita Vaz; AgInt. no HC nº 462.238, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz; HC nº 393.172, rel. Min. Felix Fischer; AgRg no REsp nº 1.444.634, rel. Min. Joel Ilan Paciornik. Veja-se que foi utilizada a dicção “se possível”, a sugerir que não se cuida de regra inflexível. Nesta mesma esteira, o Excelso Pretório assentou que o Código de Processo Penal não exige, mas recomenda a colocação de outras pessoas junto ao acusado, devendo tal procedimento ser obervado sempre que possível (STF, AG.REG no RHC nº 125.026, rel. Min. Rosa Weber; RHC nº 119.439, rel. Min. Gilmar Mendes). Além disso, houve reconhecimento judicial, o qual, dispensa, por sua vez, para sua validade, a observância das formalidades previstas no artigo 226 do Código de Processo Penal (STF, HC nº 77.576-4, rel. Min. Nelson Jobim) Consoante escólio de JOSÉ FREDERICO MARQUES, “tais formalidades, embora aconselháveis, não são reputadas essenciais” (Elementos de Direito Processual Penal, Bookseller, vol. II, 1.997, pag. 308). Na realidade, “caso a vítima ou testemunha aponte na audiência, com segurança, o réu presente como o autor do crime, tal prova tem o valor idêntico àquela de um reconhecimento efetuado com as formalidades legais” TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 6 (JULIO FABBRINI MIRABETE, Processo Penal, Atlas, 1.998, pag. 309). Nesta linha, assentou o Supremo Tribunal Federal que “se as vítimas ou as testemunhas do evento delituoso apontam, com segurança, em audiência judicial, o acusado presente como autor do ilícito penal praticado, essa prova possui eficácia jurídico- processual idêntica àquela que emerge do reconhecimento efetuado com as formalidades prescritas pelo art. 226 do Código de Processo Penal” (HC nº 68.819, rel. Min. Celso de Mello). Deste modo, não há que se falar em nulidade por violação ao disposto no artigo 226 do Código de Processo Penal. Tampouco pode-se reconhecer nulidade pela utilização de fotografia, para o reconhecimento do acusado César, obtida em acesso ao celular apreendido da meia-irmã do acusado Pedro. Isto porque, conforme o relatório da autoridade policial (fls. 121/125), o celular apreendido com a irmã do acusado Pedro pertencia, em verdade, à vítima Diego Alejandro, de modo que incabível o reconhecimento da aventada ilegalidade pela apreensão do aparelho e o acesso aos dados armazenados. Se algum interesse poderia ter sido violado e isso se diz em tese, apenas para fins de argumentação, seria da vítima (que poderia não ter dado consentimento); mas, designadamente, eventual eiva não pode vir a beneficiar os acusados, que ofenderam bens jurídicos também do dono do aparelho o qual tem interesse na punição dos réus. Haveria manifesta contradição de ordem teleológica. E a apreensão em si, no contexto da causa, avulta como lícita, a teor do artigo 6º, II, do Código de Processo Penal.TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 7 4. No mérito, evidenciada a responsabilidade penal dos apelantes. Segundo a denúncia (fls. 14/17), em suma, os apelantes Pedro Ivo Alves Pereira, Felipe Góes, César Augusto Leandro Barreira, e Irineu Araújo: a) em data anterior a 24.03.2015 associaram-se com o fim específico de cometer crimes; b) em 24.03.2015 sequestraram Eder Alexander Olaya Serna com o fim de obter vantagem econômica referente à quantia aproximada de R$ 3.000,00, como preço de resgate; c) na mesma oportunidade, subtraíram, para proveito comum, mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo, carteira contendo R$ 300,00, documentos pessoais, cartões bancários e um aparelho celular pertencentes à vítima Eder; e d) nos dias 25 e 26 de março de 2015, constrangeram a vítima Eder, mediante grave ameaça, e com o intuito de obter, para proveito comum, vantagem econômica indevida, a dar- lhes a quantia aproximada de R$ 2.500,00 em dinheiro. 5. A materialidade dos delitos acha-se positivada pelo boletim de ocorrência (fls. 20/21), pelo laudo pericial do cativeiro (fls. 47/62), bem como pela prova oral. Certas, por seu turno, as autorias. Firme a prova oral a evidenciar a responsabilidade dos réus. A vítima Eder Alexander Olaya Serna afirmou, em juízo, em narrativa consoante o relatado em fase policial (fls. 22/24), TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 8 que estava em uma rua trabalhando quando desceram quatro homens de um carro e foram em sua direção. Saiu correndo, pois ouvira sobre os sequestros, mas os indivíduos o alcançaram e o colocaram no carro. Levaram-no a um apartamento em um condomínio. Ficou sob poder dos sequestradores entre as três da tarde e as nove da noite. Os quatro foram ao condomínio. Pediram-lhe dinheiro e exigiram resgate. Dizia que não tinha dinheiro, mas eles insistiam e o agrediam. Mais tarde, ligou para um amigo, que sabia que tinha três mil reais. Não avisou ao amigo para que precisava do dinheiro. Por volta das oito horas, foram a uma lanchonete, na qual havia combinado com seu amigo que deixasse o dinheiro. Após coletarem os três mil reais, os sequestradores disseram à vítima que no dia seguinte precisava entregar-lhes mais dois mil reais. Passaram em frente à sua casa e o deixaram mais para frente, em um shopping. O dinheiro não foi recuperado. No dia seguinte, pagou mais dinheiro aos sequestradores, que haviam ficado com seu cartão e senha. Depositou dois mil reais na sua conta, que eles sacaram. Viu os indivíduos. Reconheceu-os na delegacia. Estavam armados. Reconheceu inicialmente dois; posteriormente, com sua prisão, reconheceu um terceiro. Como resgate, queriam inicialmente sete mil reais. Depositou em parcelas de quinhentos reais o valor que eles sacaram de sua conta. Apenas dois indivíduos ficaram com o depoente durante todo o tempo: o negro e o “magrinho”; os outros dois saíam e voltavam. Na lanchonete, o “gordinho” não estava os outros três, sim. Reconheceu-os em sede policial inicialmente dois (fls. 22/24), e, posteriormente, o terceiro (fls. 190/191). Em juízo, reconheceu os três apelantes sem sombra de dúvidas. Indicou César como o indivíduo que TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 9 saía do cativeiro e que não o acompanhou à lanchonete para buscar o dinheiro (mídia digital). Sabe-se, com efeito, que, neste tipo de delito, a palavra do ofendido assume grande relevância, mormente quando não se entrevê motivo algum para que acuse falsamente um inocente (RT 732/633, 737/624; JUTACRIM 100/250, 100/266, 99/273, 95/268, 94/341, entre outros). A corroborar o relato da vítima quanto à dinâmica do sequestro, o depoimento judicial da testemunha Maria Lucia Marques de Oliveira. Declarou, em suma, que havia feito um empréstimo e a vítima era uma das pessoas que vinham receber as parcelas referentes ao seu pagamento. No dia dos fatos, viu o momento em que três indivíduos perseguiram a vítima Eder, que saiu correndo. Pela distância e o nervosismo, não consegue declinar nenhuma característica dos indivíduos que efetuaram a perseguição (mídia digital). E há mais a inculpar os apelantes. O policial civil Adinei Brochi, narrou, em seu depoimento judicial, que os apelantes Pedro Ivo e Felipe Góes foram presos em flagrante pela prática de outro sequestro. No apartamento utilizado como cativeiro, de propriedade do acusado Pedro Ivo, encontraram instrumentos utilizados para torturar as vítimas, bem como pertences pessoais delas dentre os quais dois cartões e, salvo engano, um documento da vítima Eder. No local, encontraram duas vítimas. O fato foi noticiado e diversas vítimas foram à delegacia dentre as quais Eder, que foi agredido e torturado, obrigado a ingerir álcool e urina, TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 10 com a finalidade de obterem informações. Confirmou, em suma, o relato prestado pela vítima Eder. Inicialmente, a vítima reconheceu Pedro Ivo e Felipe Góes. Apresentadas as fotos obtidas em telefone celular apreendido na apuração dos sequestros, a vítima reconheceu o apelante César. Em suas fotografias, era possível ver uma tatuagem que parecia ser o nome “Caio”. O apelante Felipe lhe informou que, de fato, o acusado César tinha um filho chamado Caio. Com isso, empreendeu uma busca integrada entre o sistema da secretaria de educação e o sistema Alfa, pesquisando individualmente todos os indivíduos de prenome César que eram pais de Caio na região até encontrar uma foto que era compatível com as que haviam sido obtidas nos celulares apreendidos trabalho que demorou aproximadamente um ano. No momento da prisão de César, o acusado já havia coberto sua tatuagem. Em nome de César constava a propriedade de um veículo Up, que, segundo as vítimas, era utilizado nos sequestros. No cativeiro, apreenderam chicote de cavalo, uma barra de ferro e fitas adesivas. Os três apelantes participaram de quase todos os sequestros; no entanto, por vezes havia a participação de outros indivíduos (mídia digital). A testemunha Derian afirmou, em juízo, ter sido sequestrado, em duas oportunidades, sendo que os três apelantes tomaram parte nas condutas. Eles o agrediram e o ameaçaram, tendo inclusive inserido um revólver em sua boca. Na segunda vez em que foi sequestrado, obrigaram-no a depositar os valores na conta da vítima Eder, também colombiano, que soube ter sido sequestrado pelos acusados. Os acusados utilizaram um Volkswagen branco para o sequestro (mídia digital). TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 11 Trata-se, sem dúvida, de um manancial probatório denso a inculpar os réus. É certo que os acusados rechaçaram as imputações. Felipe Góes, após o silêncio na fase policial (fls. 104/107), em juízo, repeliu a acusação. Afirmou que conhece Pedro Ivo do bairro e César Augusto de vista, mas não a vítima (mídia digital). Pedro Ivo Alves Pereira, também silente na fase inquisitorial (fls. 70/73), afirmou, em seu interrogatório judicial, conhecer o acusado Felipe Góes, pois trabalharam juntos em um lava rápido, e negou conhecer César. Refutou a imputação. Negou ter sido preso em flagrante; no momento da abordagem, estava trabalhando, fazendo cobranças para Derian, agiota para quem trabalhava. Não conhece Eder (mídia digital). Em seu interrogatório judicial, César Augusto Leandro Barreira negou a acusação. Trabalhava como representante comercial. No dia dos fatos, saiu do trabalho e compareceu a um coquetel de inauguração de umsupermercado que era seu cliente. Chegou ao coquetel por volta das seis horas da tarde, onde ficou até onze horas da noite. Há diversas provas de que esteve no coquetel. Não conhece a vítima, nem a testemunha Derian. Conhece o corréu Pedro, pois mora em Sumaré, mas não tem amizade com ele. Também conhece Felipe Góes, pois já abasteceu seu carro em um posto no qual o corréu trabalhava. No reconhecimento policial, colocaram ao seu lado policiais que estavam na delegacia (mídia digital). TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 12 Durante a fase investigatória, o acusado negou a prática delitiva, assumindo apenas a propriedade de um veículo Volkwagen Up branco. Possuía uma tatuagem com as iniciais de seu nome (CALB), a qual, porém, acabou coberta por outra tatuagem (fls. 198/201). As versões, todavia, não vingam. Inverossímeis mercê das regras de experiência comum, encontram-se, de resto, despidas de apoio mais denso no restante dos autos. Neste ponto, cumpre destacar que a circunstância de ter o acusado César participado, no dia dos fatos, de coquetel de lançamento de um mercado circunstância secundada por elementos de prova (fls. 1431/1457) não é capaz de infirmar a acusação. Isto porque, conforme ressaltado pela própria vítima, o apelante César não permaneceu no cativeiro durante todo o tempo; além disso, não se dirigiu à lanchonete em que buscaram o resgate fornecido pelo amigo da vítima, o que teria ocorrido no horário em que o acusado comparecia ao evento entre as 18h e as 24h do dia dos fatos. Tem-se, assim, a seguinte linha do tempo: a) arrebatamento da vítima, da qual participou César: 14h30, segundo declarações da vítima e da testemunha Maria (fls. 20/21); b) coquetel de lançamento do mercado: 19h00, tendo o acusado César chegado ao local por volta das 18h00; c) coleta na lanchonete do resgate referente ao TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 13 sequestro da vítima Eder, ao que, segundo a vítima, César não estava presente: entre 19h00 e 20h00. Em poucas palavras, não há que se falar em impossibilidade física da prática delitiva pelo acusado César, o qual não se encontrava no referido coquetel no momento do sequestro. Nesse sentido, o manancial probatório notadamente as declarações firmes e uníssonas da vítima Eder, em fases policial e judicial, que reconheceu os apelantes como autores de seu sequestro, o reconhecimento pela testemunha Derian dos acusados como os autores dos sequestros que sofreu, o relato da investigação apresentado pelo policial civil Adinei Brochi e o reconhecimento policial dos apelantes como autores de outros sequestros (fls. 244/251) descortinam que os apelantes: a) associaram-se com a finalidade específica de praticar crimes de roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro, com o emprego de arma de fogo, contra vítimas colombianas, em conduta que se amolda ao tipo previsto no artigo 288, parágrafo único, do Código Penal; sem dúvida que o quadro acima desenhado, seja pelo plano bem orquestrado, seja pela prática de outros delitos semelhantes, desvela uma união estável, que não se confunda com o simples concurso de pessoas; b) sequestraram a vítima Eder com o fim de obter o resgate, em agir penalmente qualificado como o tipo previsto no artigo 159, parágrafo 1º do Código Penal; c) subtraíram, mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo, carteira contendo R$ 300,00, TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 14 documentos pessoais, cartões bancários e um aparelho celular pertencentes à vítima Eder, em cenário subsumível ao suporte fático do artigo 157, parágrafo 2º, incisos I e II do Código Penal; e d) constrangeram a vítima, mediante emprego de grave ameaça, a entregar-lhes a quantia de R$ 2.500,00, o que foi feito mediante depósito na conta da própria vítima, à qual os acusados tinham acesso por terem ficado com seus documentos e seu cartão bancário, em conduta qualificável como o tipo previsto no artigo 158, parágrafo 1º, do Código Penal. Remarque-se, especificamente quanto à condenação pelo crime de associação criminosa, que a prova, neste tipo de delito, normalmente é indiciária. E, tendo o Código de Processo Penal esposado o princípio do livre convencimento do juiz, afigura-se viável a edição de um provimento condenatório com esteio na prova indiciária, quando os indícios são convergentes formando um conjunto harmônico e não são contrastados por contra indícios ou prova direta, conforme orientação doutrinária (JULIO FABBRINI MIRABETE, Código de Processo Penal Interpretado, Altas, 11ª edição, pág. 617; GUILHERME DE SOUZA NUCCI, Código de Processo Penal Comentado, RT, 4ª edição, pág. 481; BENTO DE FARIA, Código de Processo Penal, vol. 1, Record Editora, 1960, pág. 350) e jurisprudencial (TACRIM-SP, RT 758/583, RT 744/602, entre outros, “apud” Alberto Silva Franco e outros, Código de Processo Penal e Sua Interpretação Jurisprudencial, RT, vol. 2, 2ª edição, págs. 2086/2.093). Bem decretada, pois, a condenação. 6. Não configurado um cenário de conflito TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 15 aparente de normas a ensejar a aplicação do princípio da consunção. Isto porque, conforme explicitado acima e reforçado a seguir, os crimes de roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro pelos quais condenados os apelantes referem-se a circunstâncias fáticas distintas: a) extorsão mediante sequestro: sequestro da vítima com a finalidade de obter a vantagem de R$ 7.000,00 a título de resgate; b) roubo: subtração de carteira contendo R$ 300,00, documentos pessoais, cartões bancários e um aparelho celular; c) extorsão: ameaça à vítima para que depositasse a quantia de R$ 2.500,00 após a sua libertação. Tratam-se, assim, de desígnios autônomos, razão pela qual inviável o reconhecimento da consunção na espécie. 7. Não há espaço para o reconhecimento do crime continuado ou concurso formal. O comportamento dos acusados qualificam-se, nos quadros do direito penal, como crimes de extorsão, extorsão mediante sequestro e roubo, levados a efeito em concurso material. Em um primeiro momento, ao privarem a liberdade da vítima, com o escopo de obter vantagem mediante a exigência de pagamento de resgate, os réus praticaram o crime de extorsão mediante o sequestro. Numa segunda etapa, com a subtração dos bens da vítima, consumou-se o roubo. E, por fim, num terceiro momento, constrangeu-se a vítima, mediante grave ameaça, a realizar o depósito da quantia de R$ 2.500,00 em favor dos apelantes. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 16 São condutas diversas e que configuram crimes distintos, os quais, embora até do mesmo gênero ambos estão listados entre os crimes contra o patrimônio , são de espécie diversas, de sorte que não cabe o reconhecimento da continuidade delitiva, mas sim do concurso material (STF, HC nº 74.528-8, rel. Min. Mauricio Correa; STJ, HC nº 240.930, rel. Min. Gurgel de Faria). 8. Não há que se falar em “bis in idem” pela condenação concomitante pela prática do crime de associação criminosa e a incidência das majorantes relativas ao concurso de agentes nas condenações pelos tipos dos artigos 157, 158 e 159 do Código penal. Isto porque, em que pese a associação criminosa exija, para a sua configuração, o concurso de agentes constituindo esta circunstância, qualificada pela finalidade delitiva, elemento essencial do tipo , com ele não se confunde. O crime de formação de quadrilha ou bando (atual associação criminosa) guarda autonomia penal em relaçãoaos delitos que venham a ser perpetrados pelos membros da quadrilha, de sorte que os agentes devem responder pelo referido delito em concurso material com os crimes que vierem a ser cometidos. Essa independência jurídico-penal do crime de quadrilha ou bando abarca as qualificadoras e circunstâncias dos ilícitos penais, as quais incidem cumulativamente, sem que se possa falar em “bis in idem” (STF, RHC nº 83.447-7, rel. Min. Celso de Mello; HC nº 77.287-2, rel. Min. Sydney Sanches; HC nº 85183, rel. Min. Gilmar Mendes; HC nº 84.669, rel. Min. Joaquim Barbosa; HC nº 76.213, rel. Min. Sepúlveda Pertence; STJ HC nº 122.282, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima). TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 17 9. As sanções não comportam reparos. 9.1. Primeira fase. As penas-bases foram fixadas, para todos os réus, com relação aos três delitos pelos quais condenados, no mínimo legal. 9.2. Segunda fase. Com relação apenas ao acusado Pedro, as penas, inicialmente fixadas no mínimo legal, foram corretamente majoradas na segunda etapa da dosimetria em 1/6, por força de sua reincidência (fls. 776). 9.3. Terceira fase. 9.3.1. Roubo. Majoraram-se as penas para os três acusados em 3/8, tendo em vista a incidência de duas causas de aumento concurso de agentes e emprego de arma previstas no parágrafo 2o do artigo 157 do Código Penal, o que tampouco comporta alteração, tendo em vista que houve o concurso de quatro indivíduos e o emprego de arma de fogo, e não qualquer arma, tal como basta para a incidência da causa de aumento de pena (segundo a redação vigente à época dos fatos). Circunstâncias concretas que sinalizam para a acentuada reprovabilidade das condutas, a reclamar um maior grau de censura, que não se mostra excessivo. 9.3.2. Associação criminosa. Aumentaram-se as penas da metade pelo caráter armado da associação, conforme o parágrafo único do artigo 288 do Código Penal, o que também não merece reparos. Considerando que TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação Criminal nº 0008310-16.2015.8.26.0019 -Voto nº 13.002 18 foram usadas várias armas de fogo (o que incrementou o potencial de risco à integridade da vítima), não se mostra desmedido o incremento. 9.3.3. Extorsão e extorsão mediante sequestro. Não se alteraram suas penas na terceira fase da dosimetria, à míngua de causas de aumento ou diminuição. Em poucas palavras, irretorquível a fixação das reprimendas na r. sentença. 9.4. O regime inicial das penas privativas de liberdade deve ser o fechado, seja mercê da quantidade das penas, seja em razão do elevado grau de censurabilidade das condutas. 10. Ante o exposto, nego provimento aos apelos. LAERTE MARRONE Relator
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