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Trabalho de Direito Maritimo - DIREITO E LEGISLAÇÃO MARÍTIMA E A APLICAÇÃO DOS SISTEMAS DE ÁGUA DE LASTRO E ANTI-FOULING NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

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NOME: Leonardo Souza de Castro 
CURSO: MBA em Shipping 
DISCIPLINA: Direito Marítimo 
 
DIREITO E LEGISLAÇÃO MARÍTIMA E A APLICAÇÃO DOS SISTEMAS DE ÁGUA DE 
LASTRO E ANTI-FOULING NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 
1. Introdução 
Seja relacionado a atividade-fim (como a extração dos hidrocarbonetos e gases 
naturais é para o setor de energia e combustíveis) ou as suas atividades-meio (como o 
transporte de cargas ao longo da costa brasileira através da cabotagem), o comércio 
marítimo está conectado aos setores da economia em escala global. 
Com a crescente demanda pela exploração de novos recursos através do mar, o 
crescimento do setor se tornou exponencial. Novas rotas comerciais foram criadas e 
modificadas e novos setores de atuação, como o apoio e exploração offshore, foram 
criados. Com isso, houve um aumento da quantidade de embarcações em operação e 
da poluição gerada por estas. 
A atuação do homem no mar tem impacto substancialmente negativo no meio 
ambiente. Tomemos como exemplo a Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro. Localizada 
entre a capital fluminense e a cidade de Niterói, é de grande importância para a 
economia do Estado e das comunidades no seu entorno. O porto do Rio de Janeiro é, 
hoje, motor econômico do Estado¹. O reflexo disto é visivel na quantidade de empregos 
que são gerados em setores como serviços de tratamentos, pintura e limpeza das 
embarcações, além de ser fundamental para o abastecimento dos estabelecimentos 
comerciais de todo o estado carioca. Contudo, a atuação deste setor tem gerado um 
aumento significativo na poluição do ecossistema². 
Neste trabalho tratarei das Normas da Autoridade Marítima (NORMAM) aplicáveis 
às embarcações que operem em águas jurisprudenciais brasileiras e das normas 
internacionais decorrentes de tratados entre os Estados ou produzidas pela IMO 
(International Maritime Organization) e mostrarei o impacto positivo que estas 
proporcionam para a preservação do ecossistema e como poderiam ter prevenido 
outras invasões que já ocorrem no litoral brasileiro. 
2. Água de Lastro e Sistema Anti—Fouling 
Ao se tratar da prevenção de um sistema biológico da invasão de outro, dois 
sistemas a bordo são imprescindíveis: O Sistema Anti-Fouling (ou anti-incrustante) e o 
Programa de Gerenciamento de Lastro. 
São diversos os casos em que microrganismos parasitas viajam enormes distancias 
e contaminam o ecossistema de outras regiões do planeta utilizando a água de lastro e 
o casco de navios mercantes e plataformas como meio de transporte. Além disso, o 
despejo irresponsável da água de lastro pode jogar milhares de metros cúbicos de água 
com organismos patógenos em uma outra região do globo. 
Abaixo veremos as Normas da Autoridade Marítima Brasileira e as Convenções 
Internacionais relacionadas ao controle e padronização destes sistemas e, por fim, como 
elas poderiam prevenir as infestações já presentes em território nacional e como 
norteiam a fiscalização e prevenção de possíveis novas infestações. 
2.1. Ballast Water Management e NORMAM 20 – Gerenciamento da Água de 
Lastro 
Quando uma embarcação tem de ir de um porto para outro para realizar o 
transporte de cargas, ela faz uso da água de lastro para compensar a instabilidade 
decorrente do estado de leveza da embarcação. O ecossistema do porto de partida, 
onde a embarcação enche os seus tanques de estabilidade, é diferente do ecossistema 
do porto de chegada e, com isso, a água de lastro pode transportar micro-organismos, 
parasitas e seres-vivos nocivos, os quais causarão instabilidade no ambiente onde forem 
despejados. 
Tendo em vista a importância deste assunto, o Comitê de Proteção ao Meio 
Ambiente Marinho da IMO (International Maritime Organization) adotou diretrizes para 
instruir os Estados na criação de medidas de prevenção e, posteriormente, criou a 
Convenção para o Gerenciamento da Água de Lastro (Ballast Water Management), que 
foi adotada em 13/02/2004 e entrou em vigor em 08/09/2017. Além de estabelecer as 
diretrizes a serem seguidas, a convenção, em seu Artigo 3, itens 4 ao 9, vincula os 
Estados a cooperarem entre si e investirem no desenvolvimento de métodos para 
reduzir e eliminar a contaminação através da água de lastro, bem como estimular as 
embarcações a evitarem águas com organismos patógenos e aplicar todas as diretrizes 
estipuladas na convenção. 
De acordo com o artigo 4°, inciso 1, “Cada Parte deverá exigir dos navios ... que 
cumpram as prescrições estipuladas nesta Convenção, inclusive as normas e prescrições 
aplicáveis contidas no Anexo, e deverá tomar medidas efetivas para assegurar que esses 
navios cumpram essas prescrições.”. Quando tratamos de embarcações que arvorem a 
bandeira brasileira ou atuem em águas nacionais, podemos evidenciar essas exigências 
na aplicação da NORMAN 20, que dita que “Toda embarcação nacional ou estrangeira 
que utiliza água como lastro deve possuir um Plano de Gerenciamento da Água de 
Lastro com o propósito de garantir procedimentos seguros e eficazes para esse fim.”. 
Este Plano deve ser aplicado pelo tripulante responsável a bordo e deve conter 
informações como procedimentos de segurança, procedimentos para destinação de 
sedimentos, os pontos de coleta para avaliação da água de lastro a bordo e qual o oficial 
responsável por implementar o plano. 
Atuando em conjunto com o Plano de Gerenciamento de Água de Lastro, ainda há 
o Livro de Registro de Água de Lastro (Ballast Water Record Book – BWRB). Este livro 
permanece a bordo e guarda os registros das informações relativas à água de lastro. Ele 
contém informações importantes como as descargas de água, seja para o mar ou para 
uma unidade de tratamento, bem como a tomada, tratamento ou circulação do lastro a 
bordo. Os dados constantes no BWRB são utilizados para o confronto de informações 
quando o navio sofre inspeção da Marinha do Brasil ou da Sociedade Classificadora. 
A embarcação que estiver em conformidade com a Convenção de Água de Lastro 
da IMO e a NORMAM 20 receberá o Certificado Internacional de Água de Lastro 
(BWMC), devendo este especificar o padrão adotado pela embarcação (padrão de troca 
oceânica do lastro ou o de Desempenho da água de lastro). 
2.2. Sistema Anti-Fouling e NORMAM 23 
O Sistema Anti-Fouling é utilizado para combater a formação de incrustações no 
casco da embarcação, que se fixam em toda a sua estrutura e causam diversos prejuízos 
para a navegação, como o aumento do atrito do casco com o volume da água, o 
aumento do consumo de combustível e a obstrução da caixa de mar, além de ser 
prejudicial para a vida marinha, pois pode haver o transporte de vida marinha de uma 
região para outra através dos corais presos ao costado. Esse sistema de tratamento da 
camada exterior submersa do navio faz com que estes organismos tenham dificuldade 
em se fixar na estrutura e impede a sua reprodução. 
A Organização Marítima Internacional, tal qual afirmado expressamente em sua 
Convenção Internacional Sobre o Controle de Sistemas Anti-incrustantes Danosos em 
Navios, reconhece o perigo que este sistema representa para o meio ambiente marinho 
e para a vida humana através da contaminação pelos elementos tóxicos presentes nos 
componentes químicos da capa protetora do navio (o biocida a base de estanho). Em 
vistas de tornar seguro, viável e normatizado, a IMO, na data de 18 de outubro de 2001, 
criou a presente convenção. 
Em consonância com outras já feitas pela organização, em seu artigo 1º esta 
elucida o objetivo comum de que “Cada Parte desta Convenção se compromete a 
implementar totalmente suas disposições, com vistas a reduzir ou eliminar os efeitos 
adversos ao meio ambiente marinho e à saúde humana causados por sistemas anti-
incrustantes”, e que “As Partes deverão esforçar-se para cooperar com a finalidade de 
implementação, conformidade e cumprimento efetivos desta Convenção”. Sendo 
assim, é possível concluir que a cooperaçãoentre as nações é tanto seu desejo quanto 
um dos objetivos do acordo. 
Ao conceber uma normatização comum aos Estados, a IMO possibilita a criação 
de um padrão internacional de qualidade. Com este, é possível esperar um modelo de 
segurança de todas as embarcações que arvorem a bandeira de alguma das Partes, 
dando a estas a liberdade de criar normas ainda mais restritivas, a fim de possibilitar um 
grau maior de preservação. 
No Brasil, a NORMAM 23 é a Norma da Autoridade Marítima que norteia a 
aplicação do Sistema Anti-incrustante a bordo. Tendo como pilares a Política Nacional 
do Meio Ambiente, a LESTA e a Lei dos Crimes Ambientais, esta Norma define as 
diretrizes para a aplicação dos sistemas anti-incrustantes. São definidos aspectos como 
componentes danosos que não devem ser utilizados (Seção 0202), cuidados a serem 
tomados quanto à destinação de resíduos de estanho provenientes dos cascos de 
embarcações, além de definir quem é responsável pela avaliação, fiscalização e emissão 
dos certificados internacionais de sistemas anti-incrustantes (capítulo 3). 
A legislação permite a fiscalização ampla em todas as embarcações que naveguem 
em águas brasileiras, respeitando-se os procedimentos de fiscalização tal qual descrito 
no anexo E desta. De acordo com o fluxograma, quando o Agente da Autoridade 
Marítima verificar uma possível infração, ele pode usar de sua prerrogativa para 
executar uma busca minuciosa. Sendo constatada a infração, há a lavra do auto de 
infração e o início do devido Processo Administrativo. 
3. Impactos das normas e convenções no Meio Ambiente Marinho 
O risco ambiental representado pelas embarcações é notório. Cientistas alertaram 
sobre a invasão de coral sol que ocorre no Arquipélago dos Alcatrazes, no litoral de São 
Paulo. Esta espécie invasora, originária dos oceanos Indico e Pacífico, chegou à costa 
brasileira na década de 80 e 90 encrustada nas plataformas de exploração de petróleo. 
Sua infestação começou no Rio de Janeiro e hoje está presente em todo o Sudeste 
brasileiro. 
A presença do coral representa uma ameaça à biodiversidade devido a sua 
facilidade de reprodução. Ele é capaz de ocupar o substrato marinho rapidamente, 
chegando a ocupar 90% das áreas destinadas às espécies nativas, causando um 
desequilíbrio na cadeia alimentar do nosso habitat nativo3. 
Quando tratamos da água de lastro das embarcações, podemos usar como 
exemplo o mexilhão dourado. Este molusco é uma espécie proveniente dos rios asiáticos 
e se tornou invasora do litoral brasileiro, tendo sido vista pela primeira vez no Rio da 
Prata, na Argentina, em 1991. Dalí ele avançou pelos rios paraná e Paraguai e alcançou 
o Pantanal. Seu primeiro registro no Brasil foi feito em 1999, no Rio Grande do Sul. 
O Mexilhão Dourado é responsável por causar desequilíbrio biológico nos locais 
que habita, pois ele consegue se fixar em qualquer estrutura e tem um poder de 
adaptação muito alto. Além do prejuízo ecológico, ele também gera despesas a diversos 
setores da economia, pois as suas colônias podem se fixar em cascos de navios, fechar 
tubulações de hidroelétricas e sistemas de filtragem e drenagem. Com isso, ele aumenta 
consideravelmente as despesas dedicadas à manutenção dos equipamentos e a 
frequência com que essas manutenções tem de ser feitas. 
Não afetando somente os grandes setores da economia, ele também prejudica as 
partes mais carentes do setor marítimo. No Lago do Guaíba, os pescadores são um dos 
diversos exemplos do quão prejudicial ele pode ser. O molusco é o responsável por 
rasgar a rede dos pescadores e entupir os aparelhos de pesca, além de ser encontrado 
dentro da barriga dos peixes da região, fazendo com que estes se tornem impróprios 
para o consumo humano. Em regiões de pobreza e onde os processos de pesca são 
realizados sem os adequados procedimentos de prevenção, isto pode resultar na 
infecção em massa da população ribeirinha. 
4. Conclusão 
Conforme elucidado pelo trabalho, o comércio marítimo pode trazer prejuízos 
irreversíveis tanto para a economia quanto para a saúde e o bem estar da sociedade. 
Por isso, a Organização Marítima Internacional, através de suas conferências, em 
conjunto com os Estados, tem elaborado medidas que visam mitigar e erradicar 
qualquer poluição decorrente do setor marítimo. 
Em âmbito nacional, nossas Normas da Autoridade Marítima estabelecem os 
preceitos sobre os quais a Marinha do Brasil, os órgãos e as entidades competentes irão 
atuar, seja na fiscalização, inspeção ou certificação das embarcações que atuem em 
águas jurisprudenciais brasileiras ou que arvorem a bandeira do Brasil. 
Com a criação das Normas e Convenções Internacionais para nortear as Partes na 
padronização e fiscalização das embarcações, foi possível a criação de uma legislação 
marítima que combatesse a poluição decorrente da atividade das embarcações. As 
Convenções Internacionais também tornaram mais evidente a causa ambiental e 
incentivam os países a cooperarem em prol da erradicação da poluição decorrente da 
atividade de exploração e comercialização marítima. Toda esta notoriedade ganha pela 
causa também serve de incentivo para que os Estados realizem pesquisas e invistam em 
projetos de prevenção e combate às colônias de organismos invasores, como é o caso 
do ICMBio, que desde 2013 realiza o combate ao coral-sol no litoral paulista, já tendo 
retirado mais de 275 mil colônias do substrato marinho.3 
 
5. Referências Bibliográficas 
1: QUAIANO, Lilian. Porto do Rio planeja movimentar 3 milhões de contêineres em 2016. 
G1, 2013. Disponível em : http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/06/porto-
do-rio-planeja-movimentar-3-milhoes-de-conteineres-em-2016.html. Acesso em: 
20/03/2020. 
2: BOECKEL, Cristina. Descaso com a Baía de Guanabara causa impactos na saúde, no 
transporte e no turismo e provoca prejuízo de bilhões ao RJ, alerta ONG. G1, 2018. 
Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/12/18/descaso-
com-a-baia-de-guanabara-causa-impactos-na-saude-no-transporte-e-no-turismo-e-
provoca-prejuizo-de-bilhoes-ao-rj-alerta-ong.ghtml. Accesso em: 17/04/2020 
3: ESCOBAR, Herton. Cientistas martelam contra coral invasor no litoral paulista. Jornal 
da USP, 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-
ambientais/cientistas-martelam-contra-coral-invasor-no-litoral-paulista. Acesso em: 
22/08/2020 
4: COLLYER, Wesley. Água de lastro, bioinvasão e resposta internacional. Portogente, 
2016. Disponível em: https://portogente.com.br/portopedia/80510-agua-de-lastro-
bioinvasao-e-resposta-internacional. Acesso em: 25/08/2020 
 
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/06/porto-do-rio-planeja-movimentar-3-milhoes-de-conteineres-em-2016.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/06/porto-do-rio-planeja-movimentar-3-milhoes-de-conteineres-em-2016.html
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/12/18/descaso-com-a-baia-de-guanabara-causa-impactos-na-saude-no-transporte-e-no-turismo-e-provoca-prejuizo-de-bilhoes-ao-rj-alerta-ong.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/12/18/descaso-com-a-baia-de-guanabara-causa-impactos-na-saude-no-transporte-e-no-turismo-e-provoca-prejuizo-de-bilhoes-ao-rj-alerta-ong.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/12/18/descaso-com-a-baia-de-guanabara-causa-impactos-na-saude-no-transporte-e-no-turismo-e-provoca-prejuizo-de-bilhoes-ao-rj-alerta-ong.ghtml
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/cientistas-martelam-contra-coral-invasor-no-litoral-paulista
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/cientistas-martelam-contra-coral-invasor-no-litoral-paulista
https://portogente.com.br/portopedia/80510-agua-de-lastro-bioinvasao-e-resposta-internacional
https://portogente.com.br/portopedia/80510-agua-de-lastro-bioinvasao-e-resposta-internacional

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