Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS HEPÁTICAS PROFA. ALINE VENTICINQUE CARIS 1º SEM. 2018 OBJETIVO DA AULA Conhecer os aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hepáticas, formas de tratamento e dietoterapia Conhecimento • Fisiopatologia das doenças hepáticas, formas de tratamento e aspectos dietoterápicos gerais e específicos Habilidade • Identificar, avaliar e prescrever dietas para pacientes hepatopatas Atitude • Compreensão, discernimento e atitude ANATOMIA E FISIOLOGIA HEPÁTICA BREVE RESUMO ANATOMIA HEPÁTICA Maior glândula do organismo humano (1,5Kg); Órgão central de “transformações metabólicas); Responsável por mais de 500 atividades! Tem capacidade de se regenerar ANATOMIA HEPÁTICA Suprimento sanguíneo hepático: Artéria hepática, que supre cerca de um terço do sangue vindo da aorta; Veia porta, que supre os outros dois terços, advindos do trato digestório. Vista anterior e posicionamento hepático Circulação porta: Fornece ~70% do fluxo sanguíneo hepático FISIOLOGIA HEPÁTICA Formação e excreção de bile Conversão de galactose e frutose em glicose Glicogênese (armazenamento de glicose – glicogênio) Glicogenólise (envio de glicose à circulação na hipoglicemia) Gliconeogênese (produção de glicose a partir de ácido lático, aa. Glicogênicos e intermediários ciclo Ác. Cítrico) Conversão da amônia em ureia Metabolismo de esteroides (aldosterona, estrogênio, testosterona, corticoides) Armazenamento de ferro, de vitaminas lipossolúveis e B12 Síntese de proteínas plasmáticas (albumina, globulina, fatores de coagulação e lipoproteínas) Detoxificação de diversas drogas e toxinas externas ao organismo (xenobiótico) Conversão de ác. grax. em A.(CoA) cetonas Síntese e hidrólise de TG, fosfolipídeos, colesterol e lipoproteínas Principais funções hepáticas: FISIOLOGIA HEPÁTICA “O fígado atua como centro processador dos nutrientes e dos xenobioticos (compostos estranhos ao organismo) ingeridos, que são absorvidos pela mucosa intestinal e chegam ate o fígado por meio das veias mesentéricas e circulação portal; Apos a metabolização, os hepatócitos utilizam parte dos nutrientes para reposição de constituintes celulares e distribuem os substratos energéticos e proteicos, via circulação sistêmica, para tecidos extra-hepaticos.” (Cuppari et al, 2013, pg. 333); Patologias hepáticas Importante comprometimento de inúmeras funções! AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA FUNÇÃO HEPÁTICA AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA FUNÇÃO HEPÁTICA Diversos marcadores bioquímicos podem ser utilizados na avaliação e monitoramento das funções hepáticas. Ensaios enzimáticos medem a liberação das enzimas hepáticas, e outros testes medem a função hepática. Os testes de triagem para doença hepato-biliar incluem: Marcador bioquímico Valores de referência Principais possíveis diagnósticos na alteração Bilirrubinas totais Bilirrubina direta Bilirrubina indireta Adulto 0,2 a 1 mg/dL Adulto 0,1 a 0,4 mg/dL Adulto 0,1 a 0,6 mg/dL Icterícia; obstrução do fluxo da bile; lesão hepatocelular e síntese de bile Fosfatase alcalina (ALP) > 18 anos: 50 a 250 U/L Hepatopatias; quanto mais elevado, maior o risco de lesão e obstrução do tecido biliar Aspartato Aminotransferase (AST/TGO) Feminino: até 32 U/L. Masculino: até 38 U/L. TGO presente na mitocôndria; assim sendo, pode indicar lesão hepática, muscular, músculo cardíaco (IAM), pulmões (embolia), renal, pancreática (pancreatite); alterações eritrocitárias; exercício intenso. Alanina Aminotransferase (ALT/TGP) Feminino: até 31 U/L. Masculino: até 41 U/L. Hepatites; doenças musculares graves (juntamente com elevação de TGO). AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA FUNÇÃO HEPÁTICA Os testes para avaliação da função de síntese hepática incluem: Marcador bioquímico Valores de referência Principais possíveis diagnósticos na alteração Tempo de atividade da protrombina (TP) – tempo necessário para um coágulo de fibrina se formar Valores normais TP: entre 11,1 e 13,2 segundos Valores normais INR (índice de correção): entre 0,9 e 1,1 O fígado regula a homeostase dos fatores e inibidores de coagulação e proteínas do sistema fibrinolítico. Doenças hepáticas graves afetam os fatores de coagulação. Albumina 3,5 a 5,2 g/dL O fígado é o único órgão responsável pela produção de albumina (principal proteína do plasma sanguíneo). Nas doenças hepáticas pode haver redução, sem que necessariamente o organismo esteja desnutrido (pode haver queda da albumina pelo aumento da produção de outras proteínas da fase aguda na lesão hepática). PRINCIPAIS DOENÇAS HEPÁTICAS ESTEATO-HEPATITE NÃO ALCOÓLICA (NASH): Esteato-hepatite não alcoólica (NASH): Acúmulo de tecido fibroso no fígado, podendo ser decorrente do acúmulo de gotículas de gordura nos hepatócitos; Pode levar à cirrose ou ao carcinoma hepatocelular. A esteatose é o acumulo de gordura no fígado. Seus principais fatores causais são: • Diabetes tipo II e resistência à insulina; • Lipodistrofia; • Obesidade; • Dislipidemia. Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar mal- estar, fraqueza ou hepatomegalia. Tratamento: perda de peso gradual, uso de substâncias sintetizadoras de insulina e tratamento da dislipidemia. Atenção: perda de pesos rápidas e severas podem acelerar a NASH e levar à cirrose e formação de cálculos biliares! MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA CIRROSE (Krause, 2016, p. 1164); ENCEFALOPATIA HEPÁTICA • Síndrome de consciência desordenada e de atividade neuromuscular alterada; • Ocorre normalmente quanto há o comprometimento de 70% da função hepática. • Desequilíbrio entre aminoácidos aromáticos e de cadeia ramificada • O acúmulo de amônia no plasma, decorrente do consumo proteico e baixa conversão da ureia pelo fígado com função comprometida, promove efeitos tóxicos no cérebro. • Sinais: • Confusão mental; • Apatia; • Tremores de mãos; • Mudanças de comportamento; • Coma Hepático; Complicações: • Sangramento de varizes esofagogástricas; • Constipação intestinal ENCEFALOPATIA HEPÁTICA Amônia Produzida pelo fígado e rins Transformada em ureia pelo fígado e excretada pelos rins Pode ser também transformada em glutamina no intestino ↑ Amônia ↑ stress oxidativo Lesão mitocondrial Disfunção de astrócitos (neuroglia – sustentação e nutrição neuronal) Encefalopatia hepática ENCEFALOPATIA HEPÁTICA AACR (aa. de cadeia ramificada) Leucina, isoleucina e valina Aumentam a síntese proteica, ganho muscular, favorecem processo de cicatrização Fonte de nitrogênio para produção de alanina e glutamina AACA (aa. de cadeia aromática) Fenilalanina, tirosina e triptofano Na encefalopatia apresenta-se um efluxo de AACA para o cérebro Produção de falsos neurotransmissores, agravando a encefalopatia TERAPIA NUTRICIONAL NAS PRINCIPAIS DOENÇAS HEPÁTICAS TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Uma vez conhecidas as principais funções hepáticas, é possível notar que, em decorrência das doenças hepáticas, o organismo estará susceptível a diversos distúrbios nutricionais que devem ser corrigidos e/ou mitigados. Doença hepática crônica Baixa aceitação da dieta via oral Anorexia, náusea, vômito, dietas pouco palatáveis, ascite, alteração do paladar Desregulação na digestão de nutrientes Processo multifatorial Desnutrição Aumento das necessidades energéticas Hipermetabolismo, stress devido à infecções de repetição, aumento da oxidação de proteínas TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Principais alterações metabólicas relacionadas aos macronutrientes: Alterações metabólicas Carboidratos Hipo ou hiperglicemia; hiperinsulinemia; diminuição estoques glicogênio;intolerância à glicose Proteínas Catabolismo proteico; ↓ síntese hepática de albumina; ↓ metabolização de aa. Aromáticos; ↓ da metabolização de amônia em ureia Lipídios Má absorção de vitaminas lipossolúveis; deficiência de ác. Graxos essenciais e diminuição da produção de lipoproteínas. TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Intervenção nutricional adjuvante imprescindível: Recuperar o estado nutricional Reduzir complicações e internações Melhorar a qualidade de vida MAIO et al. 2000; PAROLIN et al. 2002. TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Avaliação Nutricional do paciente com doença hepática: Histórico • Mudanças de peso (avaliar ascite e edema) • Alterações de apetite, paladar e saciedade precoce • Consumo alimentar pregresso; • Sintomas gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia, obstipação...) Achados Físicos • Desgaste muscular; • Depósitos de gordura; • Ascite e edema. Condições existentes • Outras doenças associadas; • Encefalopatia hepática; • Hemorragia digestiva; • Insuficiência renal; • Infecções TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Pacientes com doenças hepáticas comumente apresentam desnutrição de moderada a grave, piorando o prognóstico do paciente. (Krause, 2016, p. 1167) (Krause, 2016, p. 1170) TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Orientações nutricionais gerais: Fornecer ao paciente refeições menores e mais frequentes (são melhores toleradas); A alimentação frequente melhora o BN e previne a hipoglicemia; Observar a aceitação da dieta via oral; se menor que 75% do VET, suplementar; Dieta enteral e/ou parenteral se dieta VO e suplementação insuficiente; Varizes esofágicas, no geral, não são contra- indicação para terapia nutricional enteral. TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Dietoterapia na cirrose hepática: Objetivos Adaptar a dieta a capacidade funcional do fígado • Avaliar a consistência • Evitar ou tratar complicações • Evitar a progressão da lesão hepática • Recuperar e ou manter um bom estado nutricional Energia • 30 kcal/kg/dia eutrofia • 40 kcal/kg/dia DPC leve • 45 kcal/kg/dia DPC moderada e severa Proteínas • Normo a hiperprotéica Iniciar com 0,8 a 1,0g/kg/dia • Na DPC evoluir gradativamente para 1,5 g/kg/dia (avaliando capacidade funcional) Lipídios • Avaliar a tolerância individual • Normolipídica ( 40 a 70g ou 25 a 30% VET) sem excessos • Na esteatorréia diminuir a oferta • Usar TCM Carboidratos • Aceitos pelo hepatopatas e importantes fontes de energia • Normoglicidica (300 a 400g/dia ou 55 a 65% do VET) • Nas complicações de insulina e glucagon restringir os CHO simples TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Dietoterapia na cirrose hepática: Sódio • Geralmente é Hipossódica (ver presença ascite) • Restrição leve ou moderada: alimentos sem NaCl ofertar entre 1 a 2g/dia • Restrição Severa; 500mg/dia: sem NaCl e sem alimentos ricos em Na intrínseco Líquidos • Restrição quando Na sérico <130mEq Suplementação • Avaliar aceitação da dieta. Se necessário suplementar. • Vitaminas: Folato, tiamina, cianocobalamina • Na presença de esteatorreia: Vitaminas A, D e E • Minerais: Fe, Zn e Mg Consistência • Conforme a aceitação • Leve, Pastosa ou Branda se risco de HDA TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Dietoterapia na encefalopatia hepática: • Melhor regeneração hepática e detoxicação da amônia Manter balanço nitrogenado positivo • Favorece a eliminação dos compostos nitrogenados Estimular consumo de alimentos que acelerem o trânsito intestinal Adaptar a dieta ao estágio da Encefalopatia hepática, regredindo-a progressivamente TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Dietoterapia na encefalopatia hepática: Energia 30 a 45 kcal /kg/dia Proteínas Restrição severa de proteínas totais 0,3g/kg/dia (20g) por 3 ou 5 dias; Progredir para 1,0g/kg/dia Dieta isenta de PTN animal (rica em AACA) e sem feijão (metionina) Dieta rica em AACR (proporção 3:1 – AACR : AACA) Reintrodução após recuperação: Leite, peixe, frango e carne Carboidratos Hiperglicídica x restrição proteica Lipídios Normolipídica (25 a 30% VET) Sem excessos! Reduzir na esteatorreia TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Dietoterapia na encefalopatia hepática: Sódio e Líquidos Dieta hipossódica (restrição leve à moderada) Restrição de líquidos conforme orientação médica Vitaminas e minerais Vitaminas: Complexo B e ácido fólico Minerais: ferro, zinco e magnésio Probióticos e simbióticos Previnem a obstipação intestinal Redução de amônia portal e absorção intestinal de amônia Redução da inflamação e stress oxidativo em hepatócitos Minimizam a captação de outras toxinas. TRANSPLANTE HEPÁTICO Indicações do transplante hepático: • Doença hepática primária com evolução progressiva; • Doença hepática não progressiva de reconhecida morbi-mortalidade; • Doença metabólica do fígado; • Insuficiência hepática fulminante. (Ferreira CT et al, 2000) • Necessário abandonar a ingestão de álcool 6 meses antes do transplante Perfil nutricional comum a pacientes pré- transplante hepático: Desnutrição fisiológica e imunológica; Pacientes desnutridos: Maior tempo de internação; Maior probabilidade de internação em UTI; Maior necessidade de ventilação mecânica; Maior risco de infecção principal causa de mortalidade no pós-transplante SHIBUYA E, 2007 DICECCO et al. 1989, AKERMAN 1993, CAMPOS 2002, PAROLIN et al. 2002, PAULA et al. 2002; COLLONNA et al. 1988, KUSNE et al. 1988, YANDZA et al. 1994, GOKHAKE e KIRSCHNER 2003 TERAPIA NUTRICIONAL NO TRANSPLANTE HEPÁTICO Objetivos: Melhorar o estado nutricional pré-transplante; Prevenção ou tratamento da desnutrição; Suplementação de vitaminas para prevenção de deficiências; Diminuir o risco de complicações como hipoglicemia, encefalopatia ou infecções; Promoção do crescimento e desenvolvimento; Promover a qualidade de vida. (Krause, 2016, p. 1179)
Compartilhar