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TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS Profª Me. Marília Arantes Rezio 2017 UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP • Órgão central do metabolismo • Capacidade regenerativa • Funções: Metabolismo de CHO, LIP e PTN Glicogênese, glicogenólise e gliconeogênese Armazenamento: glicogênio, vitaminas lipossolúveis, minerais Síntese de colesterol, lipoproteínas, bile, proteínas plasmáticas Conversão de amônia à uréia Detoxificação de drogas e outras substâncias Fígado • Lesão no parênquima hepático reversível ou irreversível • Altera estrutura morfológica e capacidade funcional dos hepatócitos • Aguda (< 6 meses) ou crônica (> 6 meses) • Inicial --> Assintomática • Manifestações tardias --> lesões graves • Podem cursar com anormalidades metabólicas e nutricionais --> morbidade e mortalidade Doenças Hepáticas Etiologia Tipo Agente etiológico Virais Vírus A, B, C, D, E Medicamentos Paracetamol, Anestésico (halotano), ATB (isoniazida TB, eritromicina), contraceptivos orais, anabolizantes esteróides Distúrbios metabólicos Doença de Wilson, Galactosemia, Glicogenose Químico Álcool Nutricional Acúmulo de gordura Secundária Câncer, Cirrose biliar, Fibrose cística Estágios da Doença Hepática Transplante Estágios da Esteatose Hepática Insuficiência hepática Esteatose + Inflamação Necrose Classificação da Esteatose Hepática Alcoólica Não-alcoólica DHGNA/NAFLD FibroseEsteato- hepatite EHNA/NASH Cirrose Insuficiência hepáticaNAFLD: nonalcoholic fatty liver disease NASH: non-alcoholic steatohepatitis • Inflamação do fígado resultante de infecção viral ou substâncias tóxicas • Sintomas: fadiga, anorexia, náusea, vômitos, diarreia ou constipação, febre e dor abdominal (quadrante superior direito) • Mais graves: aumento de bilirrubina direta (conjugada) --> icterícia (pele, olhos, urina) Hepatite • Resultante da ingestão excessiva de álcool prolongada (15-20 anos) • Consumo: H > 60 - 80g de etanol/dia M > 40 - 60g de etanol/dia • Reversível no início e na abstinência do álcool • Nível reduzido de consciência Esteatose Hepática Alcoólica • Quadro Clínico: Hepatomegalia Elevação AST/ALT, Bilirrubinas séricas Albumina sérica normal ou diminuída Anemia Hiperlipidemia Hipoglicemia Hiperamonemia --> coma e morte Esteatose Hepática Alcoólica • Quadro Clínico: Alteração da motilidade intestinal --> diarréia e esteatorréia Deficiências de vitaminas e minerais Substituição de alimentos por etanol --> perda de peso e desnutrição --> afeta sistema imunológico --> aumenta susceptibilidade à infecções Sintomas: dor abdominal, anorexia, náusea, vômito, fraqueza, diarreia, perda de peso e febre Esteatose Hepática Alcoólica • Infiltração de lipídios no citoplasma dos hepatócitos Esteatose hepática - DHGNA • Diagnóstico diferencial Consumo alcoólico: H < 30 g de etanol/dia (21 doses/sem) M < 20 g/dia (14 doses/sem) • Fatores de risco Idade > 50 anos Obesidade, Dislipidemia, DM, HAS Sedentarismo Perda de peso acentuada: desnutrição, cirurgia bariátrica Esteatose hepática - DHGNA • Tratamento Identificação dos FR Avaliação e orientação multidisciplinar Uso de medicamentos para as condições associadas Modificação do Estilo de Vida (MEV) AF moderada: 150-200 min/semana de (3-5x/sem) + treinamento de resistência Terapia nutricional Cirurgia (?) Esteatose hepática - DHGNA • Quadro Clínico: Encefalopatia hepática e coma Hipertensão Portal -> Varizes esofagianas e colaterais Ascite e edemas --> retenção de Na e água, baixos níveis de albumina Desnutrição (mesmo com necessidades nutricionais supridas) Icterícia Cirrose • Quadro Clínico: Hiperamonemia Anormalidades na coagulação --> alteração no tempo de protrombina Resistência à insulina ou Intolerância à glicose Hipoalbuminemia Plaquetopenia Cirrose • Procedimento adotado quando não for possível controlar a insuficiência hepática com tratamentos convencionais • Tratamento de hepatopatia em estágio terminal • TxH tardio --> compromete estado nutricional • Estado Nutricional: influencia a sobrevida dos pacientes pós- TxH (hemorragia, tempo de internação, aumento da morbimortalidade) Transplante Hepático • Redução nas proteínas sintetizadas pelo fígado: Albumina, protrombina, transferrina e proteína ligadora de retinol (RBP) • Também estão diminuídos: glutamina, arginina, taurina, cistina, colina, tirosina • Redução de vitaminas: A (faltam RBP e pré-albumina); D (falta 25-hidroxi-vitD para ativação em rins); K (menor absorção) Estado Nutricional • Albumina e Pré-albumina: podem não estar correlacionados ao estado nutricional (principalmente na Doença Hepática Avançada) • Úteis como marcadores de prognóstico, severidade da doença hepática, morbidade e mortalidade • Correlacionados com presença de ascite e edema (efeito diluidor) Estado Nutricional • Hipermetabolismo (persiste por mais de 1 ano após transplante) • Agravantes: álcool + sepse (comum) • Anorexia e náusea • Síndrome disabsortiva --> menos bile e enzimas • Outros fatores: resistência à insulina, consumo de glicogênio, oxidação de gordura e perda de massa celular Estado Nutricional Desnutrição Proteico Energética (DPE) • Uma das complicações + comuns em pacientes com Doença Hepática avançada • Cirrose: 50-90% com DPE • Associada com > risco de: morbi-mortalidade, comprometimento do Sistema Imune, função respiratória, depleção de massa magra, maior tempo de hospitalização e de cicatrização de feridas Estado Nutricional Avaliação Antropométrica Método Atenção Peso corporal Aferir Peso atual e descontar edema* Utilizar anotações do prontuário: peso usual ou peso seco Aferição periódica P e circunferência abdominal (ascite) % de perda de peso (tempo)= (peso usual –peso atual) x 100 peso usual **edema! IMC = P atual (kg) /E (m²) **edema! Avaliação Antropométrica Avaliação Antropométrica Avaliação Antropométrica Método Atenção CB (cm) Adequação da CB (%)= CB atual(cm) x 100 valor no p 50 < 70% desnutrição grave 70 –80% desnutrição moderada 80-90% desnutrição leve 90-110% eutrofia CP (cm) < 31cm (desnutrição) CMB (cm) = CB (cm) - π x [PCT (mm) ÷ 10] π = 3,14 PCT= prega cutânea tricipital Adequação da CMB (%)= CMB atual(cm) x 100 valor no p 50 < 70% desnutrição grave 70 –80% desnutrição moderada 80-90% desnutrição leve > 90% eutrofia Paciente com reduzido nível de consciência • Investigar com familiar • Informações anteriores Avaliação do Consumo Alimentar Métodos de Avaliar Investigação com objetivo de avaliar: Dieta Habitual - A ingestão atual atende necessidades? - Diminuiu em comparação à dieta habitual? - Como é a ingestão de macronutrientes? - A oferta proteica é adequada? - A qualidade da alimentação é boa? Quais os pontos mais vulneráveis? Recordatório 24hr QFA Avaliação dos Sintomas Sintomas Métodos de Avaliar Inapetência - Questionar o paciente da presença/ausência do sintoma - Observar quando em contato com o paciente: • durante a anamnese • alimentação do paciente - Ler Prontuário Náusea e vômito Saciedade precoce Fadiga Flatulência/constipação Diarreia/esteatorréia TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS • Qualidade de vida por meio da melhora funcional hepática • Manter ou recuperar o peso adequado • Controlar o catabolismo proteico • Manter o balanço nitrogenado, a síntese de proteínas de fase aguda e a regeneração hepática • Tratar complicações (encefalopatia hepática, ascite, edema) e doenças associadas Objetivos da Terapia Nutricional • ENE: 35 - 40 kcal/kg/dia (desnutrição) • PTN: 1,2 - 1,5 g/kg/dia • Normoglicídica e normolipídica • Suplementar vitaminas: (A, C, complexo B e D) e minerais (Mg, Ca, Zn e Se) • Pode ser necessária NE ou NPT --> não usar glutamina --> aumenta níveis de amônia Esteatose hepática Alcoólica • Tem relação com insulina e carboidratos --> Limitar a ingestão de CHO e modular a resistência à insulina (dieta para DM) • MEV: alimentaçãosaudável + AF • Perda gradual de 7 a 10% do peso inicial em até 1 ano restrição energética - menos 500 a 1000 Kcal/dia (25 Kcal/Kg/dia) Esteatose hepática (DHGNA e EHNA) • CHO: 40 - 45% VET < IG, mais fibra solúvel e grãos integrais • PTN: 15 - 20% VET • LIP: 35 - 40% VET diminuir saturados (< 10%) e aumentar mono e poliinsaturados • Suplementação de Ômega 3: 1 a 2 g/dia (reduziu infiltração gordurosa --> melhora do grau de esteatose e do perfil lipídico) Esteatose hepática (DHGNA e EHNA) • Antioxidantes: frutas, hortaliças, oleaginosas • Suplementação de vit. E (800 UI/dia): reduziu a DHGNA e inflamação • Evitar consumo de bebida alcoólica • Evitar bebidas e alimentos processados Esteatose hepática (DHGNA e EHNA) • Recomenda-se dieta V.O. quando possível • Adequar consistência da dieta • Oferecer todos os grupos alimentares • Aumentar fracionamento da dieta e reduzir volume --> diminui hipertensão portal e estimula o apetite • Sem álcool Cirrose • Usar peso seco para cálculos • Proteínas vegetais podem ser melhor toleradas --> menor formação de amônia e de Aa aromáticos (Fenilalanina, Tirosina e Triptofano) Cirrose • Fibras insolúveis para acelerar trânsito intestinal e diminuir absorção de amônia • Lanche noturno com suplementação AACR --> redução do catabolismo proteico, melhora do estado nutricional, qualidade de vida e melhora clínica da encefalopatia hepática Cirrose Custo e Palatabilidade • Quando V.O. insuficiente: Suplemento oral TNE/TNP Suplementos de vitaminas (A, D, E, K) e minerais (Zn e Ca) • Atenção quando há desnutrição --> Síndrome de realimentação Cirrose • ENE: 30 - 35 Kcal/Kg/dia • CHO: 50 - 60% • PTN: 20 - 30%; 1 - 1,5g/Kg/dia • LIP: 10 - 20% (Hipolipídica) • Ascite e edema: < 2 g de sal/dia Cirrose • Monitoramento nutricional: ASG, massa magra e albumina • Terapia nutricional: semelhante a de pacientes críticos • Fracionamento da dieta: 6x ou +/dia (risco de hipoglicemia) • ENE: 25-40 kcal/kg/dia • Proteína: 1,0 à 1,5g/kg/dia • Suplementar minerais: Ca, Zn, Mg e P nos pacientes + graves • Suplementar Vit. D Insuficiência Hepática • 1ª Opção: VO --> mais segura, eficiente e menos invasiva. Avaliar necessidade de uso de suplementos hipercalóricos e hiperproteicos • 2ª Opção: TNE --> sistema digestório funcionante Bomba de infusão --> melhora desconforto abdominal na ascite Ostomias (GTT): contraindicadas --> risco de peritonite e extravasamento de líquido ascítico Atenção a presença de varizes esofágicas Insuficiência Hepática • 3ª Opção: TNP --> usar quando: TGI não é funcionante; hemorragias; NE não é tolerada (vômitos, estase etc) ou insuficiente; risco de broncoaspiração (neuropatologia nos estágios avançados da encefalopatia) Insuficiência Hepática • Encefalopatia graus 3 e 4: infusão de glicose nas 24 - 48h (VO ou NE) • Primeiros dias: 0,5 g de prot/Kg/dia --> aumento progressivo a cada 2 dias (10 - 20g/dia) até chegar à 1,2 - 1,5g/Kg/dia • Restrição de proteína --> piora perdas proteicas • Recomendado: aumento da proteína vegetal, de produtos lácteos e AACR Insuficiência Hepática • AA cadeia ramificada (BCAA): leucina, isoleucina e valina 20 – 25% do conteúdo proteico total (30 - 40g/dia) Podem suprir necessidades proteicas aumentadas Melhor biodisponibilidade Leucina pode estimular a regeneração hepática Melhora do estado nutricional Aumento da albumina sérica Melhora do metabolismo energético Insuficiência Hepática • AA cadeia ramificada (BCAA) Indicados: azeite, óleos vegetais, peixes, bebida láctea à base de soja, verduras, frutas, leguminosas Contraindicados: queijos amarelos, gema de ovo, carne bovina, suína e frango Insuficiência Hepática • Prebióticos, probióticos e simbióticos Indicados na prevenção e no tratamento da Encefalopatia Hepática Uso de simbióticos apresenta resultados mais consistentes (probiótico e 10 g de fibra solúvel) Insuficiência Hepática Ascite • Energia: + 1,5 x maior (Aumento GEB até 10%) • PTN: 1,25 – 1,75 g/Kg/peso ideal • Após paracentese com altos volumes: infusão de albumina (8 -10g/L de ascite retirado) --> reduz complicações e tempo de hospitalização • Restrição de sódio: até 2000 mg/dia (restrições mais graves podem ser impostas: 500 - 1000mg/dia) Insuficiência Hepática Ascite • Restrição de líquidos: 1 - 1,5 L/dia, 2/3 por meio de refeições • Se hiponatremia grave ou persistente --> 500 – 750ml + perdas urinárias • Terapia diurética usada com frequência Insuficiência Hepática Transplante Hepático Transplante Hepático Transplante Hepático • Iníciar dieta VO: a partir de 48 a 72h pós-transplante • Recomendações gerais: Refeições pequenas, frequentes e densas em nutrientes Suplementos orais • Indicação de NE: promove proliferação de células hepáticas (até 12h pós-transplante) --> dieta polimérica, de baixa osmolaridade, infusão lenta e progressão gradativa Transplante Hepático • Indicação de NP: Pacientes sem função intestinal adequada Deve ser evitada --> pode afetar função hepática • ENE: GEB + 20% ou 35 - 40 kcal/kg/dia • Desnutrição moderada a grave e infecções: acréscimo de 50% à 75% no GEB ou 45 kcal/kg/dia Transplante Hepático • PTN: 1,2 - 1,5 g/Kg/dia pré e pós-transplante imediato. Depois: normoproteica • LIP: 20 - 30% do VET (desde que paciente não seja hiperlipidêmico) • Fibras + lactobacilos: no pós-operatório imediato --> reduz incidência de complicações infecciosas • NE precoce com mistura de probióticos + fibras --> redução significante das taxas de infecções bacterianas Paciente, sexo feminino, 52 anos, DM2 há 2 anos com uso de metformina. Ao exame físico constata-se aumento do fígado. Na avaliação dos exames de sangue apresenta AST=60U/L e ALT=73U/L, Glicemia de jejum = 122 mg/dl, CT= 250 mg/dl, Triglicérides= 200 mg/dl, HDL = 38 mg/dl. PA= 12x8 mmHg. Nega ingestão de bebidas alcoólicas e AF. Av. antropométrica: P= 95kg (sem edema), E= 1,62m, CC = 95 cm. Hepatologista descarta hepatites e confirma esteatose (USG Abd). Encaminhada ao nutricionista que verifica ingestão de frituras e CHO refinados (5x/semana), consumo diário de doces diet, ingestão de frutas e verduras 1x/dia com monotonia, IH= 1,5L de água/dia, intestino obstipado (a cada 2 dias). Estudo de caso Você é o nutricionista desta pessoa, responda: 1. Qual o diagnóstico nutricional? 2. Quais os objetivos do tratamento nutricional? 3. Qual a conduta nutricional?
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