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Artigo - cidade medieval

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A FORMA URBANA MEDIEVAL
RESUMO
Este artigo busca desenvolver uma reflexão sobre a Cidade Medieval, elaborando um breve panorama de posicionamentos historiográficos relacionados a algumas das grandes questões pertinentes à História Urbana Medieval. Parte-se de uma discussão inicial acerca da própria definição de “cidade”, e em seguida desenvolve-se uma reflexão sobre a especificidade da cidade medieval, contrapondo-a à cidade em outros períodos históricos e também contrastando a realidade urbana e a realidade rural na Idade Média
Palavras Chave: Cidades, idade média, muralhas, casas, castelo, praça, comunicação, história.
ABSTRACT
This article seeks to develop a reflection on the Medieval City, preparing a brief overview of historiographical positions related to some of the major issues pertaining to Medieval History Urbana. Part is an initial discussion about the definition of "city", and then develops a reflection on the specificity of the medieval city, in contrast to the city in other historical periods and contrasting urban reality to rural reality Middle Ages
Key Words: Cities, middle age, walls, houses, castle, square, communication, history.
INTRODUÇÃO 
A era medieval é compreendida pela queda do império romano por volta do sec. X e XI. A estabilidade política e o ressurgimento do comércio voltaram a dinamizar as estruturas urbanas. A Idade Média é tratada de forma divergente pelos historiadores. Alguns dizem que foi uma época de trevas, visto que não houve significativos avanços do saber e da arte. De fato, podemos considerar este período como uma fase de transição, uma época de dificuldades e inseguranças para toda a Europa ocidental. No entanto, vale ressaltar que o mesmo foi essencial para o surgimento da civilização moderna, com suas novas ideias e princípios que acabaram mudando o mundo.
A Idade Média é dividida em duas fases: a Alta Idade Média (Séc. V a XI) foi caracterizada essencialmente pelo ápice do sistema feudal. Os trabalhadores realizavam uma espécie de contrato com o senhor feudal: ofereciam trabalho em troca de proteção e abrigo. Por este motivo, não havia mobilidade social e a economia era de subsistência. Já na Baixa Idade Média (Séc. XII a XV) a Europa Ocidental passou a conhecer o seu “renascer” material e cultural. Assim, as situações se inverteram de tal forma que o feudalismo passou a ser um sistema decadente, dando lugar para um ascendente capitalismo comercial apoiado pela burguesia e pelas monarquias nacionais.
1 A CIDADE E SEUS ELEMENTOS
São características da formação de cidades medievais: reocupação de cidades romanas antigas, o crescimento de burgos nas periferias e consequente formação de novas cidades, a reutilização de santuários antigos que geram novos núcleos habitacionais, aldeias rurais que crescem e resultam em mais cidades e etc.
As diferenças morfológicas das cidades em virtude dessas formações acabam por assemelhar-se com o tempo. 
Mudanças funcionais, falta de espaço dentro do perímetro amuralhado, dificuldades na obtenção dos materiais de construção, levam a cidade medieval a utilizar os restos das antigas cidades romanas: pedras de templos e edifícios. A sobreposição de traçados e de construções realiza-se sem uma ordem predefinida e com pontos de apoio nos eixos que ligam as cidades, estradas de passagem, portas das muralhas, pontes sobre os rios, etc. Assim, a formação da cidade medieval vai processar-se organicamente por desenvolvimento das antigas estruturas romanas ou pela fundação de cidades novas organizadas segundo um plano regulador. (LAMAS, 2007, p. 151) 
A escala monumental romana é substituída por ambientes mais íntimos. Há, porém, os diversos sistemas de defesa: muros, muralhas, fossos e torres. À medida que a cidade cresce, novas muralhas são construídas, e estas, delimitam a forma, tamanho e imagem da cidade. As muralhas anteriores não eram destruídas, ou ao menos eram deixados vestígios, e estes se tornavam marcos na cidade.
1.1 AS MURALHAS
A maioria das cidades medievais era circundada por muros, torres, fossos e muralhas, que constituem sua defesa contra qualquer tipo de ataque. Os muros eram também utilizados como divisão: na parte interna ficavam o castelo, casas e pontos de comércios, era aqui, que morava a classe média-alta. Ao externo das muralhas encontravam-se os campos e área rural, que, portanto, abrigavam a classe baixa. A tendência da cidade medieval é de se centralizar, porém a medida que novas terras são conquistadas, os muros eram adaptados aos novos limites.
1.2 O QUARTEIRÃO
O quarteirão medieval é excessivamente denso, não havia controle para construir e o apelo comercial forçava a ocupar quase totalmente o terreno, construindo casas com dois ou até três andares. As pequenas aberturas, devido à grossura das paredes, impediam a ventilação. Por consequência, ambientes mofados e com mau cheiro eram comuns. Tapetes eram usados para reter e disfarçar a umidade. É neste período que o vidro é aperfeiçoado. O formato dos quarteirões variava em relação ao tipo de rua que caracterizava a cidade. Quando a cidade possuía ruas bem estruturadas e divididas, formavam-se quarteirões razoavelmente geométricos. Do contrário, os quarteirões seriam mal organizados e não geométricos.
As cidades medievais podem, de maneira geral, ser classificadas morfologicamente da seguinte maneira:
· Tipo elementar: a cidade se desenvolve ao longo de uma rua principal mais larga que outras, onde pode ter em certo ponto um alargamento que dá espaço a uma praça. É a modalidade mais presente em toda Europa. Ruas secundárias se posicionam em relação a principal de maneira paralela.
· Esquema radiocéntrico: é basicamente uma sobreposição de traçados sobre os restos da cidade “ortogonal” da antiga Roma. Essa tipologia apresenta uma divisa mais ou menos circular. Seu formato pode variar dependendo da presença ou não de alguns elementos e edifícios dominantes na cidade, se a cidade é posicionada sobre uma altura, presença de estradas radiais ou com formato de anéis concêntricos. 
· Esquema de desenvolvimento irregular: caracterizado por um traçado urbano mais compacto ainda, típico das cidades meridionais da Itália sujeitas a dominação árabe-normandas e a influência das trocas com cidades do Oriente.
 Fonte: Lardet (1996)
Morris, 1995, em seu livro “História de la forma urbana”, desfaz a ideia de que as cidades medievais fossem insalubres e excessivamente densas, pois a estreiteza das ruas compensaria pela existência de hortas, jardins e espaços livres no interior dos quarteirões. Essa realidade não está totalmente confirmada, considerando que só viviam no interior da muralha os de classe social mais elevada, mesmo com algum poder aquisitivo, parte deste é entregue para o senhor feudal ou para o reino, esses pátios ou jardins nos internos é privilégio somente dos mais ricos e não se aplica a todas as cidades medievais.
Por mais irregular e às vezes muito ocupado que fosse o quarteirão medieval, ele que fazia da cidade medieval o que ela é, e assume sempre mais a característica da cidade. 
Segundo GOITIA (1992), a cidade medieval apresenta uma forte característica no que diz respeito ao seu aspecto físico. Por necessidades de defesa, a cidade medieval “ fica geralmente situada em locais dificilmente expugnáveis: colinas ou sítios abruptos, ilhas, imediações de rios, procurando principalmente as confluências ou sinuosidades, de modo a utilizar os leitos fluviais como obstáculos para o inimigo”.
1.3 AS RUAS
A rua é o elemento base do espaço medieval, pois era onde acontecia tudo, servem de circulação e de acesso aos edifícios. São concebidas para andar a pé ou com animais de carga. A pavimentação já era utilizada na cidade romana e permanece neste novo modelo. Ligado ao sistema de ruas encontram-se os edifícios com suas fachadas de grande valor comercial, já que os pisos térreos são ocupados por lojas. A rua também é a extensão do mercado, nela se negocia, compra e vende.
Os artesãos se agrupavam por ofício em determinadas ruas. Aatividade que realizavam servia de nome para elas, como rua dos ferreiros, ladeira dos sapateiros. Outros nomes dados às ruas se referiam aos nobres, eclesiásticos, mercadores ou personagens populares que ali residiam.
A insalubridade que caracterizava a cidade medieval era por grande parte causada pela estrutura das ruas. Muitas ruas eram estreitas, sujas e sem ventilação. Há relatos que esses problemas eram compensados com a existência de hortas e jardins no interior dos quarteirões, porém isso era muito raro, sendo que seu uso era mais restrito para elite, especialmente para o castelo. As portas também são um elemento de destaque na cidade, eram portais de entrada e saída espalhados pela cidade ao longo da muralha. Existiam saídas secundarias, além do portal principal da cidade. Eram importante também como pontos de referência, tanto quanto ruas e praças, quando as cidades ficavam muito extensas. 
Em média, as cidades medievais típicas tinham entre 250 a 500 habitantes. À noite, eram silenciosas e muito escuras: não havia iluminação pública. Era comum toque de recolher decretado pelas municipalidades, como prevenção contra assaltos e assassinatos.
1.4 AS CASAS
As casas eram feitas de pedra e madeira. Em geral, eram escuras, pois tinham poucas janelas, a fim de proteger os moradores contra o frio e o calor. No andar térreo das casas que ficavam nas ruas principais, abriam-se pequenas lojas e oficinas, onde trabalhavam os artesãos em seus ofícios. A vida desenvolvia-se num só aposento da casa.
1.5 O MERCADO
O mercado é a principal razão da cidade ser um local de compra e troca de mercadorias e serviços. A posição do mercado varia e acontece simultaneamente em vários locais desde a praça até os centros das cidades ou nas ruas junto às portas dos edifícios. Na época acreditava-se que o mercado não podia acontecer no interior da igreja, pois a troca de mercadoria e dinheiro ia contra o voto de pobreza que os padres e bispos faziam. 
1.6 AS PRAÇAS E LOCAIS PUBLICOS
As praças não são nada mais do que um espaço vazio na estrutura urbana, que se utilizava quase unicamente para o comércio. É na idade média que se começa a esboçar o conceito de praça europeia que atinge seu apogeu no renascimento, a praça como local de reunião social. A praça medieval é um rasgo na geometria irregular e começa a ter funções importantes de comércio e interação social, assim a praça medieval se divide em duas tipologias: praça de mercado e praça da igreja (adro).
A praça era também utilizada para execução pública de criminosos, mesmo sendo macabras, eram consideradas um espetáculo para os habitantes.
Algumas praças tinham peculiaridades: por exemplo, nas cidades de Marostica e Conegliano existe uma praça cujo piso relembra o tabuleiro do jogo de xadrez. Durante as festas dessas cidades a população se reunia para assistir a jogos de xadrez humano. Eram momento de lazer para todos independentemente da classe social. Nas praças aconteciam as justas, verdadeiros torneios de combates travados entre cavaleiros com armas especialmente modificadas para minimizar ferimentos. Tais competições tinham regras férreas a serem respeitadas.
1.7 EDIFICIOS SINGULARES
Na cidade medieval haviam edifícios que se destacavam no traçado urbano. Entre eles a Igreja ou cátedra, local e símbolo de religiosidade, o Castelo, local e símbolo de defesa e de poder os Palácios e torres senhoriais ou Câmara Municipal, símbolo de poder. 
Estes se sobressaem na forma urbana, pela sua escala e pela sua influência. Eles não obedecem ou influenciam o traçado urbano, porém o resto da cidade se desenvolve ao entorno destes, seja o castelo, catedral ou palácio. Localizavam-se no centro ou ao longo da muralha, inserindo-se como parte integrante desta, dependendo do tipo de uso que tinham. Por exemplo, igreja e Câmara Municipal eram geralmente posicionados em correspondência de praças, por ser o local mais frequentado durante o dia, já as torres, muitas vezes eram inseridas diretamente na muralha, pois permitiam uma melhor visão do exterior para eventuais ataques.
Durante o feudalismo medieval (IX a XIV), a propriedade rural pertencente ao senhor feudal era basicamente composta pelo castelo (habitação do senhor feudal), pela igreja (ou capela), pelas aldeias ou vilas camponesas, pelos bosques (chamados de campos abertos ou florestas), pelas terras cultiváveis e pelas áreas de pastagens. 
No feudalismo medieval europeu, o castelo era o cerne da vida econômica, social e política. As batalhas e conflitos durante o período medieval eram frequentes, em razão das possíveis vinganças entre os senhores feudais e por ataques de outras civilizações. Portanto, a principal função destinada aos castelos era a segurança da família do senhor feudal, da nobreza e dos camponeses. Os castelos constituíam enormes fortes, feitos com imensas muralhas, torres, fossos, calabouços e pontes levadiças. Geralmente eram construídos em terrenos elevados, o que facilitava a defesa contra-ataques externos. Nos momentos de ataques de inimigos, todos os habitantes dos feudos, inclusive os servos, se refugiavam dentro dos castelos para proteção. A ponte levadiça era a única entrada que dava acesso ao interior do castelo. Os calabouços serviam como prisão, onde eram deixados os inimigos dos senhores feudais e os prisioneiros de guerra. Nas torres ficavam guardas vigiando permanentemente o castelo. Além disso, nos momentos de batalhas, os arqueiros e outros guerreiros se posicionavam nessas torres.
Atualmente, os castelos medievais preservados ostentam um grande valor simbólico e cultural. A grandiosidade das construções que formam os castelos contribui enormemente para demonstrar a sua imponência arquitetônica. Muitos castelosforam transformados, nos dias atuais, em hotéis, museus e pontos turísticos.
1.8 SISTEMAS DE ABASTECIMENTO E SANEAMENTO BASICO
A água é entendida como um elemento vital para o desenvolvimento econômico. Rodas d´água e moinhos foram projetados para fornecer força motriz na moagem, tecelagem, tinturaria e curtimento, atividades de transformação de propriedades dos senhores feudais. Porém tais elementos eram presentes somente nas áreas externas aos muros da cidade.
A população da Europa tinha um consumo de água de apenas um litro por habitante, diariamente. Inicialmente, o abastecimento de água era feito por meio da captação direta dos rios, porém somente em poucos pontos da cidade era possível encontrar poços, onde os habitantes podiam retirar sua “dose” de água através o uso de baldes. Os pontos de água eram poucos, pois acreditava-se que a realização de sistemas de água encanada a partir de longas distâncias poderia oferecer uma brecha para o ataque de inimigos e invasores. Isso fez com que se tivesse um retrocesso do ponto de vista sanitário (os romanos eram muito mais evoluídos). 
A titularidade sobre a água foi redefinida e fragmentada nas mãos dos aristocratas laicos e dos eclesiásticos. A água deixou de ser um recurso público, gerenciado pelo governo, passando a ser gerenciado coletivamente pelos cidadãos. Parte do consumo diário das famílias era garantida por meio da compra de água transportada por carregadores. O baixo consumo de água acarretou em graves consequências à saúde pública. 
Na Idade Média era normal atirar nas ruas não só o lixo doméstico como também excrementos humanos (utilizava-se o urinol) pelas janelas. Nas casas dos mais ricos era possível encontrar latrinas (pequenos quartinhos cujo uso era exclusivo para necessidades fisiológicas) que normalmente davam diretamente para rua, fazendo com que os excrementos caíssem diretamente na estrada. Tais dejetos somavam-se as fezes dos animais e se acumulavam na rua, propiciando não só mau cheiro como também um ambiente perfeito para proliferação de pragas "urbanas", foi o que deu início ao surto de peste negra na idade média, só um exemplo de como a má higiene e o cuidado do lixo chegou ao extremo. Inicialmente deixava-se que os dejetos se acumulassem em pilhas tão altas, que eram retiradas somente quando o mau cheiro tornava-se insuportável. A sujeira era retirada com a utilização de pás e veículos de tração animal. Esta condição prevaleceu até o final do século XVIII, principalmente nas cidades menores, quando a situação ficou tão intolerável que necessitou-se decretar uma lei que estabelecia um número de dias por semana em que o “carro de limpeza” deveria passar.
A iniciativa de pavimentação das ruas nas cidades europeias, com a finalidade de mantê-las limpas e alinhadas, a partir do final do século XII, exemplos de Paris (1185), Praga (1331), Nuremberg (1368) e Basiléia (1387), tornou-se o marco inicial da retomada da construção de sistemas de drenagem pública das águas de escoamento superficial e o encanamento subterrâneo de águas servidas, estas inicialmente para fossas domésticas e, posteriormente, para os canais pluviais. As primeiras leis públicas notáveis de instalação, controle e uso destes serviços têm origem a partir do século XIV. Eram frequentes os incêndios. As casas, de três ou quatro andares, eram construídas de materiais inflamáveis: paredes de madeira e galhos e tetos de palha ou junco, que ardiam em poucos minutos. Se por um lado os incêndios geravam prejuízos, por outro era benéfico, pois amenizava as condições de sujeira
2 A FORMA URBANA MEDIEVAL E SUAS RELAÇÕES
O modo como a cidade constituiu-se serviu de base para a formação de muitas cidades durante a história das civilizações. O conceito de cidade orgânica fortificou-se através das características medievais. Nos últimos séculos, idealizações feitas por inúmeros arquitetos e/ou outros profissionais tiveram influências do modelo em questão. Cidades-jardins e a própria ideia da cidade modernista tiveram, em algum momento, estudos de tempos anteriores – e é difícil imaginar que a cidade medieval tenha sido excluída das análises. A cidade orgânica não foi previamente planejada para ser orgânica. O crescimento ocorreu de acordo com as necessidades. O relevo cheio de curvas e elevações permitia que vias tortuosas fossem abertas. Traçar linhas retas seria mais trabalhoso e poderia dificultar os percursos. A cidade medieval esteve, de fato, ligada a questões de interação entre o ser humano e a natureza.
Exemplo de cidade orgânica. Braun & Hogenberg. “Antigo mapa da cidade de Aachen.” Título original: “Aquisgranum, vulgo Aich, ad Menapiorum fines, perantiqua Imperij Urbs, Monumento Caroli Magni ... In: “Civitates Orbis Terrarum, ... Part 1. Köln, 1572-1624. Gravura sobre metal, colorida manualmente. 32 x 38 cm. Disponível em: http://www.sanderusmaps.com/antiquemaps/europe/aachen_19178.cfm. Acesso em: 17 março de 2016.
Inicialmente, as cidades de época medieval tinham um comportamento relativamente individualista. O conceito de “Cidade-Estado” fazia com que as cidades tentassem suprir autonomamente e ao máximo possível suas necessidades. Nas cidades medievais eram presentes todos os tipos de profissões, mantendo-as autossuficientes pelo menos em parte. A comunicação mais relevante era a que acontecia entre o centro da cidade (interno dos muros) e campos e fazendas que se encontravam fora da muralha. Esses últimos produziam a mercadoria necessária à sobrevivência da população como também ao comercio.
Com o tempo, o aperfeiçoamento da construção de naves sempre mais resistentes teve-se a possibilidade de cumprir viagens até lugares longes (especialmente do Oriente), dando início até a importação e exportação de mercadoria. Com isto as cidades de toda Europa concentravam suas comunicações com cidades portuárias, especialmente as que se posicionavam na bacia mediterrânea. Cidades como Bari, Genova e Veneza formaram um verdadeiro impero comercial, chegando até a formar a Liga Hanseática.
Com o aumento de viagens a fim comercial, a população medieval começou a abandonar o pensamento individualista, e a efetuar viagens com fins diferenciados. 
Nessa época começaram a acontecer as primeiras viagens culturais, porém eram costume somente das classes nobres. Esse tipo de viagem se consolidou e adquiriu relevância no Renascimento.
Na Idade Média iniciou-se o hábito de cumprir viagens de peregrinação. Nasceram as primeiras trilhas que conduziam para cidades sacras, verdadeiros caminhos para a purificação da alma (alguns exemplos: Via Francigena, Terra Santa, Santiago De Compostela).
Reis e nobres visitavam membros da alta classe social de outras cidades para manter relações pacificas entre os reinos e não favorecer o início de novas guerras. Todas as viagens feitas por terra, aconteciam através estradas de terra que atravessavam bosques e campos isolados. Por isso as viagens via terra eram muito raras e aconteciam somente quando estreitamente necessários, para evitar ataques de ladrões e assassinos. Nem todos podiam ser acompanhados por uma escolta como as famílias reais.
3 A CIDADE MEDIEVAL
Em resumo, as cidades medievais caracterizaram-se por ocuparem espaços claramente definidos por muros, preenchidos por ruas, vielas, praças, que se sucediam dando acesso às edificações em torno dos castelos e das igrejas. Nas praças se desenrolava toda a vida da comunidade, o mercado, as festas religiosas ou pagãs. Estas eram as condições que convinham para garantir o pleno desempenho das funções urbanas da época sem preocupações sanitárias coletivas ou áreas verdes, por exemplo. Algumas dessas cidades se desenvolverem, mas conservaram, pelos motivos mais diversos, espaços como bairros e logradouros que hoje representam um patrimônio de grande importância cultural e turística: Siena, com a sua Piazza del Campo, Carcassone dentro de suas muralhas, Bezalu com sua ponte e portal, e várias outras por toda a Europa. 
4 A CIDADE MEDIEVAL E SEU LEGADO
Com o Iluminismo do século 18 tudoo que remete a Idade Média ou mesmo ao termo adjetivado "medieval" acabara se tornando sinônimo de atraso, de obscurantismo - o que em muitos sentidos é um erro. A mesma cultura medieval que produziu a Inquisição, o Tribunal do Santo Ofício, as torturas horrendas, e perseguições, é o mesmo período que produzira as ordens monásticas, a cavalaria, o canto gregoriano, a arte gótica, etc., ou seja, há neste longo período histórico uma infinidade de "prós e contras". 
Voltando ao argumento inicial, hoje encontramos, no decorrer do ano de 2016, elementos medievos em nosso mundo dito pós-moderno. 
Vamos ao primeiro elemento: o encastelamento da sociedade.
Como se sabe a sociedade feudal, especialmente entre os primeiros séculos da Idade Média (V-IX), acabara por encastelar-se numa série de feudos, de porções de terras quase autossustentáveis em decorrência da insegura vida que se vivia naqueles tempos, afinal as invasões de povo germânicos ainda ocorriam com alguma frequência e permanecer no feudo, cercado por suas longas muralhas e guardadas por milícias pessoais de nobres representava de certa maneira uma vida mais segura.
E hoje, presenciamos quase a mesma realidade, com as devidas diferenças temporais e tecnológicas, contudo há uma nascente lógica em nossa sociedade: o encastelamento da parte privilegiada de nossa população. Inicialmente com a construção dos chamados "condomínios fechados" (lembrando que os feudos também eram conhecidos por domínios) e agora mais além: verdadeiras mega-construções, mini-cidades, dentro de uma cidade, isolando quase que completamente as pessoas do nosso mundo real e, portanto, inseguro. Nestas novas construções, os moradores não necessitam sair de casa mais para ir ao shopping, ao cinema, trabalhar, fazer compras nos supermercados, fazer ginástica, pois tudo isso e tudo o que supostamente encontramos em nossas áreas urbanas já estão à disposição do morador destas "mini-cidades", que são autossuficientes, como verdadeiros domínios feudais, e possuem a melhor tecnologia em termos de segurança e muitos homens treinados para tal.
É cômodo acreditar que apenas na Idade Média, em tempos obscuros, os homens viviam em barbárie, cometendo as mais terríveis atrocidades entre si, basta acompanhar os noticiários atuais para perceber que nossa sede de sangue, terror, e sadismo nada tem de exclusivo com os tempos medievais.
Ainda nos dias atuais, é comum nos depararmos com a realidade aqui descrita, das cidades na idade média. Não é de se estranhar quando falamos de ruas apertadas, escuras e perigosas, ou de condições insalubres de moradia e falta de sistemas básicos de abastecimento e saneamento, tão pouco da divisão injusta e segregada de classes econômicas. Tal realidade ainda é vivida por inúmeras famílias brasileiras, desde os grandes complexos de favelas das capitais até os bairros menos favorecidos de cidades do interior ou até mesmo de regiões rurais mais afastadas dos grandes centros. 
REFERÊNCIAS
ZMITROVICZ, W. O desenvolvimento urbano: a Europa não romana. São Paulo. EPUSP. Boletim Técnico, 1990. 29p.
MUMFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 2.ed. São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora, 1982. 
ARGAN, Giulio Carl. História da arte com história da cidade. 5ª edição – SP Martins Fones, 2005. 
BATTISTONI FILHO, Duílio. Pequena história da arte. 3ª edição – Campinas, SP Papirus, 1989. 
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. SP: Companhia das letras, 1990. 
CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. Edições 70 – Portugal, 2009. HALL, Eduard T. A dimensão oculta. São Paulo Martins Fontes, 2005. 
LAMAS, Jose Manuel Ressano Garcia. Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. FCG e FTC – 2007. 
LE CORBUSIER. Urbanismo. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 
MORRIS, A.E.J. História de la forma urbana. 5ª ed. Espanha: Gustavo Gili, 1995.

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