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DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

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Capítulo I – Do estado de defesa e do estado de sítio
Arts. 136 a 141 Da Constituição da República Federativa do Brasil
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Durante o que se convencionou chamar de período de crise (regimes democráticos), deve-se preservar o equilíbrio e estabilidade na ordem constitucional.
	Não é o reconhecimento simples da existência de um estado de exceção, mas de uma forma de exorcizar os abalos políticos, com um mínimo de sacrifício aos direitos e às garantias constitucionais.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Vencer este período de crise implica o afastamento ou esvaziamento temporário de direitos cujo respeito, em situações normais, a lei impõe a todos, inclusive às autoridades e aos detentores do poder.
	É por isso que tais restrições não tinham lugar na época do absolutismo, pois, quando todas as prerrogativas estavam nas mãos de uma só pessoa, o monarca, que poderia usar as medidas que bem entendesse, tais mecanismos não eram adequados para enfrentar turbulências políticas.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Conclui-se que as organizações constitucionais do período de crise surgem com os regimes democráticos liberais. 
	Assim o Constituinte previu não somente a possibilidade da ocorrência de crises institucionais, mas armou o Estado de Direito de instrumentos de autodefesa, que lhe permite restabelecer o pleno funcionamento das instituições democráticas.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Conceitua-se, portanto, como sistema constitucional de crise, o conjunto de normas, constitucionalmente previstas, voltadas a restabelecer o equilíbrio e a normalidade institucional, com a admissão de limites, temporários, para o gozo de certas liberdades públicas.
	Não se pode falar em supressão total de direitos e garantias individuais, pois, em que pese reclamar o momento a adoção de medidas rigorosas, não se confundem com coerção, como por exemplo a tortura, confisco, assassinato, prova ilícita, etc.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Sistema de legalidade ordinário, no qual os direitos e garantias fundamentais impõe limites ao poder político.
	Sistema de legalidade extraordinário, no qual as situações de crise, traduzidas por agitações sociais, políticas, econômicas, ideológicas, ou afins, importam restrição a direitos fundamentais e suspensão de garantias constitucionais, sob pena de embaraçamento à atividade da organização estatal.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Os mecanismos de combate à crise devem estar embasados em três princípios:
Da necessidade, eg: ameaça à paz social, caso contrário se dá oportunidade ao arbítrio e golpe de Estado;
Da temporariedade, eg: duração necessária para restabelecer a ordem e a estabilidade, caso contrário se estabelece uma ditadura;
Da proporcionalidade, eg: deve ser proporcional aos fatos que justificaram a sua decretação, caso contrário é abuso de poder ou ilegalidade.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	No Brasil a previsão de normas para deter as crises existe desde a Constituição de 1824 e 1891, quando já se conhecia o estado de sítio. O estado de defesa surge com a Constituição de 1988.
	
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Foi em 16 de março de 1913, que o governo de Hermes da Fonseca assistiu na capital federal, à manifestação de cerca de dez mil pessoas contra a deportação de sindicalistas, em cumprimento à nova lei que determinava a expulsão do país de estrangeiros envolvidos em greves.
	Em 8 de outubro de 1913 a pedido do Presidente foi decretado o estado de sítio na capital federal, na tentativa de conter a onda de greves e controlar o movimento operário.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	Para restaurar a estabilidade e o equilíbrio institucional, a Constituição previu, embasada nos princípios anteriormente registrados, a decretação do estado de defesa e do estado de sítio, medidas que tem por fim a superação da crise, pelo cumprimento de todos requisitos constitucionais, sob pena de responsabilidade política, criminal e civil dos agentes públicos que a invoquem sem a observância de seus pressupostos formais e materiais.
EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE NA ORDEM CONSTITUCIONAL
	O Judiciário pode exercer o controle da legalidade do estado de defesa e do estado de sítio e reprimir abusos, mas não está autorizado a examinar a discricionariedade do ato que o decretou, por se tratar de um ato político.
	O STF já disse que se tratando de ato de natureza política, o Judiciário não pode entrar na apreciação dos fatos que o motivaram.
ESTADO DE DEFESA
	Segundo o art. 136 da CRFB/88:
	O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.
	competência condição finalidade local objeto motivo
ESTADO DE DEFESA
	O estado de defesa é mais brando e sua decretação não depende de autorização do Congresso Nacional. 
	O Presidente precisará enviar o texto do decreto para avaliação do Congresso em até 24 horas após anunciá-lo.
	 O Congresso tem dez dia para confirmar com maioria absoluta dos votos ou revogar a medida.
	Deve-se ressaltar que a audiência dos Conselhos da República e da Defesa Nacional é obrigatória. 
	Tem natureza consultiva, não vinculam o Presidente, mas a sua ausência acarretar inconstitucionalidade.
	O Congresso Nacional poderá rejeitar a medida adotada pelo Presidente, responsabilizando-o.
ESTADO DE DEFESA
	Pressupostos materiais para a decretação:
	A) existência de grave e iminente instabilidade institucional que ameace a ordem pública e a paz social (EX: traficantes no RJ, manifestações em julho de 2013 na copa das confederações);
	B) as calamidades de grandes proporções na natureza, de modo a gerar séria perturbação da ordem.
ESTADO DE DEFESA
	Pressupostos formais para a decretação:
	A) a manifestação prévia do Conselho da República e do Conselho de Segurança Nacional;
	B) a decretação pelo Presidente da República após serem ouvidos ditos Conselhos;
	C) a determinação, no decreto do Presidente da República do tempo de sua duração, que, conforme dispõe o art. 136, § 2º, CR, não poderá ser superior a 30 dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem os motivos pelos quais foi decretado;
	D) determinação das áreas abrangidas;
	E) as medidas coercitivas que devem vigorar durante a sua vigência.
EFEITOS DA DECRETAÇÃO
	O estado de defesa possibilita maior poder investigatório ao aparelho do Estado e a tomada de decisões que permitam endurecer a resposta à ação indesejada.
	Passa a ser possível :
	A) a restrição (não supressão) dos direitos de reunião, ainda que realizada no seio das associações; sigilo de correspondências e de comunicação telegráfica e telefônica;
	B) ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipóteses de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.
EFEITOS DA DECRETAÇÃO
	A prisão por 10 dias para investigação, pode ser decretada, por autoridade administrativa, neste caso, tão logo efetue-se a prisão, a autoridade policial deve comunicar ao juiz, a quem cabe decidir por manter a prisão para interrogatório, determinando o devido exame de corpo de delito, para garantir que não haja tortura ou, então, relaxar a prisão. 
	A comunicação deve estar acompanhada de declaração do estado físico e mental do detido.
ATUAÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL - CN
	Controle político imediato - A decretação do estado de defesa e sua prorrogação, bem como sua justificativa, deverá ser apreciada, dentro de 24 horas, pelo CN, que decidirá, por maioria absoluta, sobre sua oportunidade, após apreciá-la, dentro de 10 dias contados de seu recebimento.
	Quando estiverde recesso deverá ser convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias e deverá continuar funcionando enquanto durar o estado de defesa. 
ATUAÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL - CN
	Controle político concomitante - A Mesa do Congresso Nacional (Presidente do Senado Federal, 1º Vice Presidente da Câmara dos Deputados, 2º Vice Presidente do Senado Federal, 1º Secretário da Câmara dos Deputados, 2 º Secretário do Senado Federal, 3º Secretário da Câmara dos Deputados e 4º Secretário do Senado Federal), ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta por 5 membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa.
ATUAÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL - CN
	Aprovado o decreto, seguirá. Se rejeitado, cessarão imediatamente os seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores.
	Controle político sucessivo ou a posteriori - Nos termos do art. 141 e seu parágrafo único, logo que cesse o estado de defesa, o Presidente deverá relatar a especificação e a justificação das medidas adotadas, as restrições aplicadas, bem como a relação nominal dos atingidos ao CN.
	Caso não haja aceitação das medidas adotadas, poderá ser caracterizado crime de responsabilidade do Presidente, com as consequências previstas no art. 86.
ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO
	Controle jurisdicional concomitante – haverá controle da prisão executada pelo executor da medida, nos termos do art. 136, §3º, da CR. 
	Controle jurisdicional sucessivo ou a posteriori – nos termos do art. 141, caput, cessado o estado de defesa, cessarão seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícito cometidos por seus executores ou agentes.
ESTADO DE SÍTIO
	Conforme previsão contida nos arts. 137 a 139, como medida excepcional, é instrumento próprio para preservar e defender o Estado Democrático de Direito e a soberania nacional em caso de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
	Trata-se de um regime extraordinário, temporário e emergencial, no qual garantias constitucionais ficarão suspensas, para restauração da normalidade das instituições democráticas alteradas por comoções de grave repercussão, ineficiência das medidas adotadas no estado de defesa ou beligerância com Estados estrangeiros.
ESTADO DE SÍTIO
	O estado de sítio é proveniente da República Francesa. O Decreto 10 de julho de 1791 e o Ato Adicional de 22 de abril de 1815 admitiam a declaração do état de siége como resultado de guerra ou agressão armada estrangeira (sítio real) e desordem interna (sítio fícto).
	No Brasil indevidamente o estado de sítio foi realizado durante o Estado Novo de Getúlio Vargas e na ditadura militar.
ESTADO DE SÍTIO
	Pressupostos materiais:
	A) grave comoção de repercussão nacional ou a ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medidas tomadas durante o estado de defesa (com prazo de 30 dias, prorrogáveis por 30 dias);
	B) declaração de guerra ou resposta a agressão estrangeira armada (enquanto durar).
ESTADO DE SÍTIO
	Pressupostos formais:
	A) Consulta ao Conselho da República e ao Conselho de Defesa Nacional (não vinculativo);
	B) autorização do CN para a sua decretação;
	C) decreto do Presidente indicando sua duração, as normas necessárias para a sua execução, quais as garantias constitucionais ficarão suspensas. Depois de publicado, o Presidente designará o seu executor.
EFEITOS DA DECRETAÇÃO
	A CRFB/88 estabeleceu no art. 139 as medidas que podem ser tomadas, no caso do art. 137, I:
	A) obrigação de permanência em localidade determinada;
	B) detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
	C) restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações (não atinge parlamentares desde que em suas Casas Legislativas e autorizados pelas respectivas Mesas) e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão;
	D) suspensão da liberdade de reunião;
	E) busca e apreensão em domicílio;
	F) intervenção nas empresas prestadoras de serviços públicos.
EFEITOS DA DECRETAÇÃO
	A CRFB/88 estabeleceu no art. 139 as medidas que podem ser tomadas, somente no caso do art. 137, I, deixando de expressamente identificar as medidas que seriam tomadas no caso do art. 137, II.
	Em tese existem duas possibilidades:
	TESE 1 - afirma que qualquer garantia poderá ser suspensa, desde que:
	 a) observados os princípios da necessidade, temporariedade e proporcionalidade;
	b) prévia autorização do CN; 
	c) indicação da duração, normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas.
EFEITOS DA DECRETAÇÃO
	TESE 2 - Somente poderão ser aplicadas as medidas descritas no art. 139: a) obrigação de permanência em localidade determinada; b) detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; c) restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações (não atinge parlamentares desde que em suas Casas Legislativas e autorizados pelas respectivas Mesas) e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão; d) suspensão da liberdade de reunião; e) busca e apreensão em domicílio; f) intervenção nas empresas prestadoras de serviços públicos.
	Em qualquer caso, deve-se observar o disposto no art. 5º, XLVII, a, CR.
ATUAÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL - CN
Realiza-se prévia (no momento em que autoriza sua decretação) ou simultaneamente pelo CN (a Mesa do CN, ouvidos os líderes partidários, designará uma Comissão composta de 5 membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de sítio).
Cessado o estado de sítio, serão relatadas em mensagem ao CN (que fará o controle político sucessivo ou a posteriori), pelo Presidente as especificações e a justificação das medidas, bem como a relação nominal dos atingidos.
ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO
	Controle jurisdicional concomitante – qualquer lesão ou ameaça de direito, abuso ou excesso de poder, não poderão ser deixar de ser apreciados pelo Poder Judiciário.
	Controle jurisdicional sucessivo ou a posteriori – nos termos do art. 141, caput, cessado o estado de defesa, cessarão seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícito cometidos por seus executores ou agentes.
IMUNIDADES PARLAMENTARES
	No estado de defesa: subsistirão, não há previsão de suspensão.
	No estado de sítio: subsistirão, podendo ser suspensas pelo voto de 2/3 dos membros da respectiva casa, nos atos praticados fora do CN e incompatíveis com a medida adotada.
Defensoria Pública de SP/2010
	A ocorrência de calamidade de graves proporções na natureza possibilita ao Presidente da República decretar, nos termos da CR:
	A) estado de calamidade pública
	B) estado de sítio
	C) estado de defesa
	D) intervenção federal
	E) intervenção de ordem pública

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