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MOBILIÁRIO, ERGONOMIA, ECODESIGN E SUSTENTABILIDADE FATORES HISTÓRICOS E APORTE PARA OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DOS PROFISSIONAIS DE DESIGN

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Anais do I CoBICET - Trabalho completo 
Congresso Brasileiro Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia 
Evento online – 31 de agosto a 04 de setembro de 2020 
 
MOBILIÁRIO, ERGONOMIA, ECODESIGN E SUSTENTABILIDADE – 
FATORES HISTÓRICOS E APORTE PARA OS DESAFIOS 
CONTEMPORÂNEOS DOS PROFISSIONAIS DE DESIGN 
 
Wesley Schwerz1, Fernanda Millan Fachi2 
 
1Docente do Instituto Federal do Paraná, Umuarama, Brasil 
(wesley.schwerz@ifpr.edu.br) 
2Mestre pela Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil. 
 
 
Resumo: A revolução industrial trouxe inúmeros impactos ao design de mobiliário. A 
pesquisa apresenta um compêndio histórico de como se deu o desenvolvimento na área de 
design, ergonomia, sustentabilidade e ecodesign. Tem-se como objetivo principal, 
reconhecer os desafios dos profissionais das áreas de design, arquitetos e engenheiros, 
com base na história, oferecendo aporte a partir da hipótese de que, trabalhar 
adaptabilidade, multifuncionalidade e flexibilidade é a melhor opção para o momento 
atual. 
 
Palavras-chave: Adaptabilidade; design de mobiliário; ecodesign; ergonomia; 
sustentabilidade. 
 
 
INTRODUÇÃO 
Desde os “tempos modernos”, tão bem representado 
por Charles Chaplin, houveram diversas 
transformações nos processos de fabricação e nas 
construções, talvez, este, tenha sido o momento 
econômico mais importante na história da 
arquitetura, do design e da engenharia. 
De 1759 a 1830 a Revolução Industrial transforma a 
economia, as políticas, culturas, tecnologias e assim, 
a sociedade, iniciando-se na Inglaterra e na França e, 
ao longo do tempo se espalhando por todo o mundo 
(Arruda, 2009). 
A partir deste momento começa a compreensão de 
que o design, em conjunto com a arquitetura e a 
engenharia se transformaria, em um produto único e 
exclusivo da burguesia, a produção artesanal se torna 
manufaturada, a burguesia é detentora dos meios de 
produção e dita o que gera lucro, o que representa 
riqueza, ou seja, as tendências, e, utilizam desse 
artifício como representação do progresso da época 
(Costa Junior, 2007). 
Foi entre a Revolução Industrial (1759-1830) e a 
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que a 
ergonomia começou a se difundir como ciência, onde 
se estudaria as relações dos homens com os objetos, 
na mesma época, em frente à globalização e com a 
produção em massa (Ribeiro, 2012). 
De acordo com Souza et al. (2015), a ergonomia é 
definida como a disciplina, ou ciência que estuda e 
entende as interações dos seres humanos com outros 
elementos ou sistemas, com a aplicação de teorias, 
princípios, dados e metodologias, com a finalidade de 
otimizar a atividade humana, com bem-estar e 
favorecer o sistema global. A partir deste 
conhecimento é possível compreender que a 
ergonomia é necessária no desenvolvimento de todo 
e qualquer projeto. 
A ergonomia por si só é interdisciplinar, pode estar 
vinculada à anatomia humana, à antropometria, à 
fisiologia, à biomecânica para à área de projeto, 
porém pode ter enfoque também na área cognitiva 
(Souza et al. 2015). 
De acordo com Arruda (2009), após a Segunda 
Guerra Mundial, países subdesenvolvidos como o 
Brasil passam por processos de industrialização, 
imaginando se tornarem uma potência industrial, 
porém, não foi este o resultado, houve a dependência 
externa, ocorreram os processos de metropolização, 
na qual não teve o mesmo acompanhamento das 
infraestruturas necessárias, tão pouco contrapontos 
que garantissem a qualidade de vida, fatores que 
afetam a economia e o mercado imobiliário até os 
dias de hoje. 
Este é o momento onde o impacto ambiental começa, 
pós-revolução industrial, pois, todo esse 
“desenvolvimento” e “crescimento” traz consigo 
vários efeitos secundários não desejados, efeitos 
estes, negativos para a saúde e a qualidade de vida 
humana, direta ou indiretamente (Vicente, 2012). 
Ainda de acordo com Vicente (2012) sabe-se que a 
Terra é finita e que os problemas ambientais 
acarretam em problemas sociais, aumento das 
 
desigualdades, desenvolvimento dos entraves 
econômicos, por isso, é importante rever o conceito 
de “desenvolvimento” pós revolução industrial e 
atentar-se a possíveis desenvolvimentos sustentáveis, 
pois irão englobar aspectos de aumento da 
população, uso dos recursos naturais, os 
desenvolvimentos das industrias. 
Os primeiros impactos positivos no mercado 
imobiliário na visão de arquitetura, técnicas 
construtivas e design começaram a surgir a partir de 
1950, com a arquitetura moderna brasileira. Nesse 
período começa a produção em série tanto dos 
componentes construtivos como dos elementos para 
interiores e este tipo de produção se estende a 
realidade atual (Santos, 1995). 
Atualmente o design atende as necessidades sociais, 
níveis de renda da população, comportamentos de 
fatores da economia, mudanças no estilo de vida das 
pessoas, aspectos culturais, ciclo de reposição e até 
mesmo o investimento em marketing (Arruda, 2009). 
Mas, deve-se entender o modelo de sociedade que 
advém da revolução industrial, o modelo atual, que 
só acredita no desenvolvimento com base no 
crescimento econômico, que acredita numa 
abundância de recursos naturais e que é fácil e barato 
conseguir os recursos, já que não é necessário pagar 
ao fornecedor, que é a Terra e que existe muita mão 
de obra e tecnologia para a produção (Vicente, 2012). 
Dentre os objetivos deste trabalho, tem-se: a 
compreensão histórica da globalização, a partir da 
revolução industrial; identificar as transformações 
históricas dentro do design, da arquitetura e da 
construção civil de forma geral; entender o mercado 
imobiliário atual; reconhecer o ato de projetar, de 
construir, da necessidade de adaptar, dar 
multifuncionalidade aos produtos, pensar 
economicamente e sustentavelmente na atualidade, 
perante os desafios da sociedade contemporânea 
como um todo. 
MATERIAL E MÉTODOS 
Tem-se como metodologia de pesquisa uma revisão 
bibliográfica, com a utilização de teses, livros e 
artigos na área, oferecendo assim um suporte teórico 
sobre a mesma, reunindo informações cuja vertente 
se enquadra nas categorias de engenharia, construção 
civil, arquitetura e design, admitindo ter utilidade 
como referência de pesquisa e como linhas guia 
importantes no desenvolvimento de projetos 
adaptáveis e multifuncionais considerando a 
ergonomia, o ecodesign e a sustentabilidade. 
Segue-se assim uma abordagem de cunho qualitativo, 
no qual se analisará o estado-da-arte referente ao 
tema, pois o objetivo desta pesquisa não é quantificar 
resultados e sim, investigar de forma subjetiva o 
tema, trazendo resultados na forma analítica 
compreensiva, com a finalidade de se criar uma 
discussão e instigar o assunto entre os profissionais e 
estudiosos da área. 
São muitos os fatores a serem considerados na 
ergonomia, no ecodesign e na sustentabilidade, o que 
não permite uma compreensão completa em 
quantificação, trata-se de uma semântica cognitiva, 
seguindo o objetivo da pesquisa, que, não de abordar 
esses assuntos com o propósito de defini-los, mas de 
os verem e analisarem inseridos nos campos de 
atuação de arquitetos, designers e engenheiros. 
A história da arquitetura, do design e da construção 
civil são pontos importantes a serem analisados nesta 
pesquisa, pois, a partir dos mesmos é possível 
apresentar como se deu o surgimento dos 
movimentos que deram início ao cenário atual. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
O design se inicia com o desenvolvimento da ideia, 
exige raciocínio e técnica para se ter o produto 
idealizado, ou seja, o projeto a ser executado, um 
modelo que solucione os problemas encontrados 
dentro das necessidades humanas (Arruda, 2009). 
De acordo com Vicente (2012), descrever o design é 
algo complexo e multifacetado, abrange muitas 
outras disciplinas e a definição desta atividade já foi 
suficientemente esclarecidapor diversos outros 
autores. Para isso, nesta pesquisa pretende-se dar o 
foco direto para as relações do design com a 
ergonomia, o ecodesign e a sustentabilidade, 
trazendo os acontecimentos históricos, explicando a 
relação do design com estas disciplinas. 
Ironicamente a ergonomia foi criando o seu legado 
apenas depois de muitos anos de problemas nos 
ambientes de trabalho lançados na Revolução 
Industrial, depois do lançamento de inúmeros 
designers que não visavam o conforto, apenas o 
visual. O mesmo ocorreu com o ecodesign, e, assim, 
a visão de sustentabilidade, disciplinas que só 
começaram a ser discutidas depois de anos de 
desrespeito a natureza, tornando-se uma nova 
responsabilidade profissional com o tempo, se 
atentando a um sistema de valorização da vida. 
Para alguns autores, o design surge através de Walter 
Gropius, o criador da Escola de Bauhaus, entre 
outros nomes como, Deutscher Werkbund e DeStijl, 
criando um novo tipo de artista, aquele que se torna 
útil para a sociedade de alguma maneira (Vicente, 
2012). 
Principalmente tratando-se do design e da indústria 
moveleira brasileira, não foram os movimentos 
artísticos que determinaram um estilo brasileiro, mas 
iniciativas pioneiras, destacando-se na arquitetura 
Gregori Warchavschick, que sentiu a necessidade de 
desenvolver mobiliários modernistas que estivessem 
de acordo com as suas obras, e, a partir deste 
momento, surgiram designers de renome como: John 
Graz; Joaquim Tenreiro; o Studio d’Arte Palma, 
 
tendo dentre os integrantes a arquiteta Lina Bo Bardi, 
com o objetivo de firmar uma regionalidade na 
escolha dos materiais, nas preocupações com o clima, 
modos de vida e objetos para o povo em 1948, 
aliando elementos culturais ao modernismo; a 
Fábrica de Móveis Z, de José Zanine Caldas, também 
de 1948, com grande preocupação ecológica; Móveis 
Branco e Preto de, 1952 com design ligado à 
funcionalidade e proporções anatômicas; Geraldo de 
Barros; a Mobília Contemporânea de Michel Arnoult 
e Abel de Barros Lima, pioneira na produção de 
mobílias modulares e multifuncionais no Brasil em 
1955, pensando na simplicidade, praticidade, 
resistente aos modismos; Sérgio Rodrigues (designer 
da icônica Poltrona Mole), que se destacou com a 
iniciativa de produzir móveis de design em preços 
acessíveis em 1968 (Arruda, 2009). 
 
Figura 1. Poltrona Mole de Sérgio Rodrigues (1957). 
Ainda de acordo com Arruda (2009), em 1962, o 
design brasileiro ganha uma grande motivação ao seu 
desenvolvimento, a criação da Escola Superior de 
Desenho Industrial. 
O Brasil e o mundo encaravam o estilo modernista 
como a nova tendência, um tempo de 
amadurecimento do design no Brasil. Ainda que o 
modernismo tivesse as suas premissas, este foi um 
momento para os designers brasileiros pesquisarem e 
entenderem as tradições culturais, os materiais locais, 
soluções para a realidade atual, condições 
econômicas, tecnologia disponível, clima e cotidiano 
do brasileiro como indivíduo, criando assim, sua 
originalidade, o design brasileiro. 
Segundo Ribeiro (2012), é o design que influencia a 
ambientação do cotidiano, capaz de criar conforto, 
praticidade, segurança, facetas que se enalteceram 
com a revolução industrial e que se mantiveram até 
os tempos atuais. 
Quando se impõe objetivos para o design, este 
precisa recorrer a diversas outras disciplinas, como a 
ergonomia, com ela, se torna capaz a criação de um 
design que atinja o bem-estar humano, agregando 
valor ao desenvolvimento do mobiliário (Ribeiro, 
2012). 
No fim dos anos de 1960 nascem os movimentos 
ambientalistas modernos, com a publicação de livros 
e até mesmo com o apoio da NASA, trazendo uma 
maior consciência sobre os problemas ambientais do 
mundo, alertando a sociedade (Vicente, 2012). 
O design de mobiliário contemporâneo é 
diversificado, nos materiais, técnicas e estilo, desde 
1970, quando se determina um fim para o estilo 
moderno, o design brasileiro encara uma nova 
realidade - o multiculturalismo, na construção civil, 
apartamentos e casas passam a ter tamanhos cada vez 
mais reduzidos, mas além de abrigar, as moradias se 
apropriaram de atividades como repouso, estudo, 
diversão e trabalho, exigindo flexibilidade e 
mobilidade. 
Foi, em 1970, que, pioneiros do design como 
Buckminster Fuller e Victor Papanek fizeram 
publicações de livros sobre a profissão de designer, 
descrevendo que, esta, uma das profissões com o 
maior potencial de prejudicar tanto o ambiente 
natural como o ambiente humano (Vicente, 2012). 
Teve-se um apoio para esta visão mais coerente com 
o meio ambiente natural e sustentável com a 
conferência Design for Need de 1976. 
Já no final dos anos de 1980 começa a surgir uma 
abordagem mais clara da sustentabilidade com o 
design, considerando os problemas ambientais, ciclos 
de vida dos produtos, sem comprometer a qualidade, 
o custo e a aparência, o qual se chamaria ecodesign 
considerando ergonomia, funcionalidade e estética. 
Tem-se aí um foco nos processos industriais e de 
produtos mais limpos (Vicente, 2012). 
Com base nas exigências e necessidades dos usuários 
da época, no Brasil, surge uma variedade de opções, 
móveis sendo produzidos em massa para consumo 
popular (produzidos por lojas varejistas), mobílias 
sem preocupação com o design, os móveis reciclados 
(uma releitura aos móveis do passado) e o design 
assinado ou móvel assinado (Arruda, 2009). Nesse 
último, destaque a produção de Fernando e Humberto 
Campana, irmãos, brasileiros, com um estilo próprio, 
no limite entre a arte e o design que criaram 
designers provocadores, com reflexões sociais. 
 
Figura 2. Cadeira Favela de Irmãos Campana (1990). 
Dos anos de 1990 em diante, o design se torna algo 
mais acessível, para todos, atendendo as necessidades 
sociais e a multiculturalidade, influenciada pela 
globalização mundial e se difunde a preocupação 
ecológica, a reciclagem e a sustentabilidade (Arruda, 
2009). 
 
Para os profissionais do design, cria-se 
responsabilidades de abordar questões referentes ao 
tempo atual, do ambiente, do desenvolvimento 
sustentável, da globalização, para não se perder a 
qualidade de vida e atender a população humana, ou 
seja, um desenvolvimento que satisfaça as 
necessidades das gerações do presente sem 
comprometer a possibilidade de satisfazer as 
necessidades das gerações futuras (Vicente, 2012). 
Tem-se como hipótese para este estudo que, a melhor 
solução para um ambiente, generalizando o público 
atual, é garantir uma boa escolha dos métodos 
construtivos, das premissas no ato de projetar e dos 
mobiliários a serem utilizados. Isso tudo 
considerando a importância de sua adaptabilidade e 
multifuncionalidade e, ainda, inserido no fator 
sustentável, devido aos problemas ambientais atuais, 
dos acontecimentos relacionados a globalização, 
como o crescimento populacional, alta concentração 
demográfica nos grandes centros urbanos, que 
decorrem em desequilíbrios ecológicos, sociais, 
culturais e econômicos. 
Com foco na sustentabilidade, muitas vezes esta 
disciplina só é compreendida pelo seu fator 
ecológico, mas ela passa por cinco dimensões que 
completam o seu significado: Sustentabilidade social, 
igualdade de direitos e condições de vida da 
população; sustentabilidade econômica, que funciona 
para viabilizar o uso de recursos; sustentabilidade 
ecológica, dos fatores de preservação ambiental; 
sustentabilidade espacial, com a distribuição racional 
de cadeias produtivas nos espaços físicos e relações 
das áreas rurais com as áreas urbanas; e 
sustentabilidade cultural, ligada aos valores da 
sociedade, educação, necessidades humanas e 
peculiaridades culturais (Arruda, 2009). 
Centrando no design sustentável, os estudos de ciclo 
de vida e vida útil dos produtos são teoricamente 
mais discutidos, aplicada a produtos, generalizando o 
tratamentodos variados produtos existentes, não 
necessariamente nos que pertencem ao design em si. 
Esse sistema de ciclo de vida pode ser visto na figura 
a seguir. 
 
Figura 3. Ciclo de Vida de um Objeto. 
Aplicando-se a sustentabilidade ao ciclo de vida do 
produto, da pré-produção ao despojamento tem-se a 
atividade de selecionar os recursos de baixo impacto 
e reduzir o consumo de qualquer recurso. Da 
distribuição ao despojamento, considera-se a 
otimização do tempo de vida do produto, e, 
exclusivamente no despojamento, estuda-se como 
entender o tempo de vida do material, facilitando o 
desmantelamento (Gomes, 2017). 
De acordo com Vicente (2012) é importante 
compreender alguns critérios, preocupações que 
devem ser consideradas e apontadas dentro da 
sustentabilidade de produtos. 
Tabela 1. Critérios no Design de Produtos 
Sustentáveis 
Critérios 
Econômicos 
Critérios 
Ambientais 
Critérios 
Sociais/Éticos 
Capacidade 
Técnica 
Capacidade 
Financeira 
Lucro a Curto 
e Longo Prazo 
Preço 
Adequado 
Minimização 
de 
Desperdícios 
Produção 
Limpa 
Materiais 
Limpos 
Eco Eficiência 
Menos 
Materiais 
Menos Energia 
Recursos 
Renováveis 
Energias 
Renováveis 
Reciclagem 
Comércio Justo 
Políticas Justas 
Empregos de 
Qualidade 
Boas Condições 
de Trabalho 
Investimento na 
Comunidade 
Apoio à 
Economia Local 
Livre de 
Crueldade 
Maior Valor 
Melhores 
Sistemas 
Participação 
Igualdade de 
Gêneros 
Satisfação das 
Necessidades 
Com foco na adaptabilidade e multifuncionalidade, o 
que define um design adaptável é a sua capacidade de 
transformação, multifuncionalidade e/ou 
flexibilidade, de adaptar-se as mudanças necessárias 
para se tornar eficientemente funcional, 
permanecendo na vida do consumidor por mais 
tempo, contribuindo com o impacto econômico, 
social e ambiental (Ribeiro, 2012). 
Primeiramente o móvel multifuncional ou flexível, 
adaptável, tem, a função de exercer diferentes 
funções, e, em segundo plano tem a função de 
economizar espaço, por isso a história desses móveis 
está intimamente relacionada ao modernismo e à 
arquitetura contemporânea, quando os modelos de 
residências se tornaram mais compactos e o design 
teve que, assim se adaptar a essa realidade. 
É junto com o modernismo que surge o interesse dos 
arquitetos de desenvolver as mobílias para os 
próprios projetos, entregar um produto completo, 
pois o que lhes tinha disponível na época, nominado 
 
produto de design, não se adequava a realidade do 
que projetavam e no modernismo não se projetava 
para as mobílias existentes e sim para as 
funcionalidades da sociedade atual, as suas 
necessidades. 
Os móveis adaptáveis e multifuncionais possuem 
uma grande e única história que pode ser contada até 
mesmo isolada da história do design convencional. 
Em suma, já existiam desde os antigos egípcios com 
móveis dobráveis e de fácil transporte, para nômades 
do deserto, para as tropas da Roma antiga, na idade 
média, no renascimento e nas grandes navegações. 
Com o modernismo, surgem as primeiras cadeiras 
que se transformam em escadas e tábuas de passar 
roupa que existem até os momentos atuais, as 
cadeiras no estilo de barbearia com vários ajustes 
para adequação do corpo e com pinos rotativos no 
assento para definir a altura. Os armários e estantes 
modulares que se transformavam em nichos, bancos, 
mesas, criados inicialmente na Escola de Bauhaus, 
objetos que foram se evoluindo com o passar do 
tempo e atendendo as necessidades atuais da 
sociedade (Gomes, 2017). 
Tendo o conjunto – design, arquitetura e engenharia - 
a capacidade de apoiar as atividades humanas, e sua 
adaptabilidade/multifuncionalidade, de se adequar a 
circunstâncias diferentes, faz destes, objetos e 
ambientes em constante transformação, valorizado de 
forma econômica e social, mas também ambiental, 
em duas vertentes, de aspecto do ambiente individual 
ou coletivo (casas e edifícios de uso coletivo) e no do 
impacto sustentável ao ambiente natural (Schwartz-
clauss et al. 2013). 
Com foco no ecodesign, como disciplina que une o 
design à sustentabilidade, o mobiliário já concebido 
por meio do ecodesign é sempre reciclado e 
reaproveitado como matéria prima na fabricação de 
outras mobílias, porém, atendendo exclusivamente ao 
design adaptável, o “uso” do mesmo deve ser 
elemento chave da vida do móvel, o conceito se liga 
diretamente ao uso, ou seja, além de durabilidade, 
deve estar a serviço de diferentes pessoas e diferentes 
atividades, isso se conquista nas regulagens de 
alturas de mesas, de cadeiras, inclinações, suporte a 
cargas, para que assim se mantenha por maior tempo 
nessa etapa do ciclo que de uso. 
O ecodesign tem como objetivo facilitar a integração 
entre considerações ambientais e processos de design 
mais eficazes e facilitar o desenvolvimento de 
informação que avaliem a carga ambiental do 
produto em relação ao sistema, local e atual (Vicente, 
2012). 
Ainda de acordo com Vicente (2012), entre as 
estratégias do ecodesign tem-se: Selecionar materiais 
de baixo impacto (ecológico e local, cultural); reduzir 
o uso de materiais (produção de mobiliário 
duradouro, simplificado e multifuncional); otimizar 
técnicas de produção; otimizar sistemas de 
distribuição; redução do impacto durante o uso do 
produto; otimizar o tempo de vida; otimizar o fim de 
vida e desenvolver novos conceitos e movimentos. 
Com foco na ergonomia, esta disciplina é a base para 
o desenvolvimento da forma, das soluções projetuais 
e das medidas ergonomicamente adequadas, 
permitindo adaptações e reforçando o conceito de 
móvel multifuncional (Souza et al., 2015). 
Para entender a eficiência de um mobiliário ou de um 
novo produto, relacionando a sustentabilidade e a 
ergonomia, unido aos preceitos do ecodesign, é 
necessário optar-se por um produto, um único 
modelo, para que assim se torne capaz a 
compreensão geral sobre o assunto, já que, de fato, a 
pesquisa permite um estudo muito abrangente. 
Este artigo é parte de uma pesquisa maior, onde na 
definição de parâmetros para o design relacionado a 
sustentabilidade se trouxe os conceitos do ecodesign, 
como solução projetual partiu-se da hipótese de que 
para o momento atual, social, econômico e 
ambiental, o melhor fator é a adaptabilidade e 
multifuncionalidade dos produtos, dentre os 
produtos, com enfoque em cadeiras e dentre as 
matérias primas o uso da madeira e seus derivados. 
Tendo como exemplo, na escolha de um produto em 
específico, os projetos de cadeiras, um dos 
mobiliários que permite maior evolução ergonômica 
e capacidade de adaptabilidade, ajustes e 
multifuncionalidade, veja a tabela a seguir. 
Tabela 2. Requisitos e Parâmetros para Cadeiras. 
Requisitos Parâmetros 
Largura do Assento 
Minima: 38,1cm; 
Maxima: 48,3cm. 
Profundidade do Assento 
Minima: 30,5cm; 
Maxima: 45,7cm. 
Altura do Assento 
Minima: 35cm; 
Maxima: 52,8cm. 
Inclinação da Superfície do 
Assento 
Mínima: 0º; 
Máxima: 5º. 
Inclinação do Encosto em 
Relação ao Assento 
Mínima: 100º; 
Máxima: 110º. 
Altura do Encosto para os 
Braços 
Mínima: 18cm; 
Máxima: 29,5cm. 
Distância entre o Assento e 
o Apoio para os Pés (ou 
chão) 
Mínima: 35,6cm; 
Máxima: 49cm. 
Com base nessa tabela, adaptada de Panero e Zeinik 
(2002), entende-se as medidas mínimas e máximas, 
os parâmetros para desenvolvimento de projetos de 
cadeiras. Esses números são obtidos através de 
 
estudos antropomórficos, se adequando as dimensões 
e usos do público alvo do produto, cabe ao designer, 
arquiteto ou engenheiro saber interpretar estas 
medidas, não só no desenvolvimento de projeto 
exclusivo a mobiliário, mas para todas as atividades, 
sejam nos interiores ou em espaços de uso comum, 
até mesmo espaços abertos (espaços livres, praças e 
parques por exemplo). 
Estudos antropomórficos também podem ser 
reconhecidosna história da arquitetura e do design, 
como quando em 1948, Le Corbusier, considerado 
pai do movimento moderno, desenvolve um sistema 
métrico para projetos de edificações e mobiliários, o 
Modulor, que pode ser utilizado até nos tempos 
atuais (Gomes, 2017). 
 
Figura 4. Modulor de Le Corbusier (1948). 
Tendo em vista essas medidas e estudos 
antropomórficos que podem ser elaborados 
exclusivamente para cada linha de produto ou através 
de estudos de correlatos e revisões bibliográficas, se 
torna capaz de definir um movimento ou a 
capacidade de adaptabilidade de cada produto para 
que este se adeque a necessidade de casa pessoa, para 
uso fixo de um único indivíduo ou pelas mais 
variadas pessoas, usos e dimensões. 
Para isso, muitas vezes estes parâmetros e estudos 
antropomórficos estão relacionados com tantas outras 
disciplinas dentro da ergonomia e relacionando à 
tantos outros produtos e ambientes para que se 
conquiste mobílias que se transformem, cadeiras que 
se tornem bancos altos, mesas de centro, ou até 
mesmo um elemento decorativo, a adaptabilidade é 
infinita e pode agregar valor na capacidade de servir 
para diferentes usos. 
Esta pesquisa centra-se no uso da madeira pois, 
primeiramente, é o material que corresponde com a 
maioria das mobílias domésticas e por terem vida útil 
de 10 anos (nos produtos mais baratos) e 30 anos 
(nos produtos mais caros); em segundo ponto, porque 
a deflorestação é um dos principais fatores de 
agressão ao meio ambiente natural e; porque é 
considerado um recurso renovável, que pode ser 
gerido pelo homem (Vicente, 2012). Logo, utilizar a 
madeira de forma sustentável deve ser apoiado e 
promovido. 
Talvez, pareça irônico apresentar a madeira como a 
matéria prima mais utilizada no design de mobiliário 
no Brasil, considerando a problemática do país com a 
Floresta Amazônica e seu desmatamento. O Brasil é 
conhecido mundialmente de forma positiva pela 
extensão de suas florestas, mas, negativa por este 
desmatamento que de fato prejudica o meio ambiente 
de forma global. Porém, trazendo os conceitos de 
ecodesign, que assume a importância de valorização 
local, o Brasil é um grande produtor de madeira, o 
desenvolvimento do design de mobiliário no país tem 
fortes raízes com essa produção e é possível adequar 
esta produção com a utilização da matéria-prima de 
forma renovável. 
O design que integra a abordagem de 
sustentabilidade, ecodesign, permite que agentes 
como empresas, reduzam os impactos ambientais que 
os seus produtos e processos causam, por isso, é tão 
importante que os profissionais que trabalham na 
área de design, sejam, designers, arquitetos, 
engenheiros, compreendam a responsabilidade social 
que lhes foi dada através da sustentabilidade, a 
oportunidade de fazer a diferença, para a empresa, 
para o cliente, para a sociedade e o ambiente 
(Vicente, 2012). 
Ainda de acordo com Vicente (2012), é necessário 
definir uma metodologia, um caminho a se seguir 
com o design nesse momento, porque a quantidade, 
complexidade e novidade de informações, problemas 
a serem resolvidos pelos designers são inúmeras. 
De acordo com Gomes (2017), a 
multifuncionalidade, adaptabilidade ou flexibilidade 
pode se reconfigurar, modularizar, tornar o objeto 
multifuncional, criar articulações, reticular, criar 
movimento através de pivôs (para criar rotações). 
 
Figura 5. 360 Container de Magis (2010), com o 
Sistema de Pivô. 
Outros movimentos podem ser inseridos como 
“telescopiar” (incluir um produto dentro do outro), 
montar e desmontar, empilhar, comprimir, dobrar, 
vincar, enrolar, folear e insuflar (Gomes, 2017). 
 
Figura 6. Flexible Love (2005), com o Sistema de 
Folear. 
 
Ainda considerando a principal demanda por 
produtos multifuncionais que é a redução dos 
espaços, existem os produtos All-In-One, que tratam-
se de uma única mobília, um bloco, com todas as 
funções necessárias para um pequeno apartamento 
por exemplo (Gomes, 2017). 
 
Figura 7. CityHome de MIT (2014) com o Sistema 
All-In-One. 
A configuração espacial dos ambientes era dada 
apenas por “homem – trabalho – descanso”, porém, 
as novas tecnologias, as diversidades, núcleos 
familiares tradicionais e não-tradicionais, que 
surgiram com a globalização revolucionaram os 
hábitos domésticos e de trabalho, as residências se 
tornam centros de atividades multifuncionais (Gava, 
2015). 
De acordo com Tiburtino-Silva et al. (2018), o fator 
territorialidade é de suma importância para o 
ecodesign, expande a reflexão de cotidiano, espaço 
vivido, interesses, mercado, cultura e tradição. 
Por isso, viu-se como necessária a apresentação da 
hipótese, que o melhor caminho a ser seguido neste 
momento é de desenvolver produtos com a 
capacidade multifuncional, adaptável, flexível, 
relacionado a ergonomia, a sustentabilidade, porque, 
além de todos os efeitos positivos até então 
apresentados, instiga a capacidade criativa do 
designer e pode definir um novo e atual movimento 
artístico. 
CONCLUSÃO 
Perante todas as atividades profissionais do design, 
arquitetos, designers e engenheiros, não podem 
descartar a ideia de conscientizar os usuários e aos 
produtores dos produtos, sobre o consumo. 
O consumo consciente está intimamente relacionado 
com qualidade de vida, já que, utilizando 
adequadamente os produtos, incentiva-se a educação, 
a longevidade, a segurança, a solidariedade, ao 
desenvolvimento humano e a sustentabilidade 
ambiental. 
Acredita-se, também, que, é de suma importância 
ligar a realidade acadêmica, ou seja, a formação de 
novos profissionais com a disciplina de 
sustentabilidade, pois assim, se desenvolve o assunto, 
solidifica e beneficia a todos. 
No desenvolvimento da pesquisa e obtenção de 
informações, foi possível reconhecer o valor da 
hipótese aplicada, de que a melhor solução é o design 
multifuncional, adaptável e flexível. Com isso vê-se a 
necessidade de se criar um novo movimento na 
arquitetura, design e construção civil em geral, 
lançada sobre estes preceitos, pois considera-se aqui, 
o melhor modelo que atenda às necessidades da 
sociedade atual. 
Como sugestão para futuras pesquisas, seria 
desenvolver um aprofundamento em cada ponto 
específico neste trabalho discutido, isolando os 
assuntos, de história, sustentabilidade, ecodesign, 
necessidades da sociedade atual e relações dos 
momentos atuais, acontecimentos, com estes 
materiais históricos, fatores como desmatamento, 
isolamento social e trabalho remoto (home-office), 
necessidade de conforto e lazer nas residências. 
As discussões mais relevantes e atuais da sociedade 
atual são sobre como tratamos o meio ambiente 
natural e por isso se torna tão importante o incentivo 
ao ecodesign e à utilização dos conceitos da 
sustentabilidade. As aceitações e respeito à 
diversidade, à cultura, ao modo de viver de cada 
sociedade apresentam-se como desafios aos 
profissionais da área, que têm a função de, dentro do 
design, compreender, assimilar e projetar para essa 
diversidade. As necessidades de conforto e lazer nas 
moradias, aliadas às novas condições de trabalho - 
remoto -, de isolamento social, de privacidade, 
também são fatores a serem considerados em projetos 
de design. 
O design, junto a outras expressões artísticas, sempre 
esteve à frente das discussões do momento atual, 
procurando revolução, defendendo direitos, 
garantindo qualidade de vida para a sociedade de 
forma geral. Contribuir para um novo movimento 
artístico com essas teorias é uma forma de garantir 
que o design continue nestas lutas. 
AGRADECIMENTOS 
Nossos agradecimentos aos colegiados do Instituto 
Federal do Paraná, unidade de Umuarama, pelos 
incentivos às pesquisas acadêmicas. 
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