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Anais do I CoBICET - Trabalho completo Congresso Brasileiro Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia Evento online – 31 de agosto a 04 de setembro de 2020 MOBILIÁRIO, ERGONOMIA, ECODESIGN E SUSTENTABILIDADE – FATORES HISTÓRICOS E APORTE PARA OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DOS PROFISSIONAIS DE DESIGN Wesley Schwerz1, Fernanda Millan Fachi2 1Docente do Instituto Federal do Paraná, Umuarama, Brasil (wesley.schwerz@ifpr.edu.br) 2Mestre pela Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil. Resumo: A revolução industrial trouxe inúmeros impactos ao design de mobiliário. A pesquisa apresenta um compêndio histórico de como se deu o desenvolvimento na área de design, ergonomia, sustentabilidade e ecodesign. Tem-se como objetivo principal, reconhecer os desafios dos profissionais das áreas de design, arquitetos e engenheiros, com base na história, oferecendo aporte a partir da hipótese de que, trabalhar adaptabilidade, multifuncionalidade e flexibilidade é a melhor opção para o momento atual. Palavras-chave: Adaptabilidade; design de mobiliário; ecodesign; ergonomia; sustentabilidade. INTRODUÇÃO Desde os “tempos modernos”, tão bem representado por Charles Chaplin, houveram diversas transformações nos processos de fabricação e nas construções, talvez, este, tenha sido o momento econômico mais importante na história da arquitetura, do design e da engenharia. De 1759 a 1830 a Revolução Industrial transforma a economia, as políticas, culturas, tecnologias e assim, a sociedade, iniciando-se na Inglaterra e na França e, ao longo do tempo se espalhando por todo o mundo (Arruda, 2009). A partir deste momento começa a compreensão de que o design, em conjunto com a arquitetura e a engenharia se transformaria, em um produto único e exclusivo da burguesia, a produção artesanal se torna manufaturada, a burguesia é detentora dos meios de produção e dita o que gera lucro, o que representa riqueza, ou seja, as tendências, e, utilizam desse artifício como representação do progresso da época (Costa Junior, 2007). Foi entre a Revolução Industrial (1759-1830) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que a ergonomia começou a se difundir como ciência, onde se estudaria as relações dos homens com os objetos, na mesma época, em frente à globalização e com a produção em massa (Ribeiro, 2012). De acordo com Souza et al. (2015), a ergonomia é definida como a disciplina, ou ciência que estuda e entende as interações dos seres humanos com outros elementos ou sistemas, com a aplicação de teorias, princípios, dados e metodologias, com a finalidade de otimizar a atividade humana, com bem-estar e favorecer o sistema global. A partir deste conhecimento é possível compreender que a ergonomia é necessária no desenvolvimento de todo e qualquer projeto. A ergonomia por si só é interdisciplinar, pode estar vinculada à anatomia humana, à antropometria, à fisiologia, à biomecânica para à área de projeto, porém pode ter enfoque também na área cognitiva (Souza et al. 2015). De acordo com Arruda (2009), após a Segunda Guerra Mundial, países subdesenvolvidos como o Brasil passam por processos de industrialização, imaginando se tornarem uma potência industrial, porém, não foi este o resultado, houve a dependência externa, ocorreram os processos de metropolização, na qual não teve o mesmo acompanhamento das infraestruturas necessárias, tão pouco contrapontos que garantissem a qualidade de vida, fatores que afetam a economia e o mercado imobiliário até os dias de hoje. Este é o momento onde o impacto ambiental começa, pós-revolução industrial, pois, todo esse “desenvolvimento” e “crescimento” traz consigo vários efeitos secundários não desejados, efeitos estes, negativos para a saúde e a qualidade de vida humana, direta ou indiretamente (Vicente, 2012). Ainda de acordo com Vicente (2012) sabe-se que a Terra é finita e que os problemas ambientais acarretam em problemas sociais, aumento das desigualdades, desenvolvimento dos entraves econômicos, por isso, é importante rever o conceito de “desenvolvimento” pós revolução industrial e atentar-se a possíveis desenvolvimentos sustentáveis, pois irão englobar aspectos de aumento da população, uso dos recursos naturais, os desenvolvimentos das industrias. Os primeiros impactos positivos no mercado imobiliário na visão de arquitetura, técnicas construtivas e design começaram a surgir a partir de 1950, com a arquitetura moderna brasileira. Nesse período começa a produção em série tanto dos componentes construtivos como dos elementos para interiores e este tipo de produção se estende a realidade atual (Santos, 1995). Atualmente o design atende as necessidades sociais, níveis de renda da população, comportamentos de fatores da economia, mudanças no estilo de vida das pessoas, aspectos culturais, ciclo de reposição e até mesmo o investimento em marketing (Arruda, 2009). Mas, deve-se entender o modelo de sociedade que advém da revolução industrial, o modelo atual, que só acredita no desenvolvimento com base no crescimento econômico, que acredita numa abundância de recursos naturais e que é fácil e barato conseguir os recursos, já que não é necessário pagar ao fornecedor, que é a Terra e que existe muita mão de obra e tecnologia para a produção (Vicente, 2012). Dentre os objetivos deste trabalho, tem-se: a compreensão histórica da globalização, a partir da revolução industrial; identificar as transformações históricas dentro do design, da arquitetura e da construção civil de forma geral; entender o mercado imobiliário atual; reconhecer o ato de projetar, de construir, da necessidade de adaptar, dar multifuncionalidade aos produtos, pensar economicamente e sustentavelmente na atualidade, perante os desafios da sociedade contemporânea como um todo. MATERIAL E MÉTODOS Tem-se como metodologia de pesquisa uma revisão bibliográfica, com a utilização de teses, livros e artigos na área, oferecendo assim um suporte teórico sobre a mesma, reunindo informações cuja vertente se enquadra nas categorias de engenharia, construção civil, arquitetura e design, admitindo ter utilidade como referência de pesquisa e como linhas guia importantes no desenvolvimento de projetos adaptáveis e multifuncionais considerando a ergonomia, o ecodesign e a sustentabilidade. Segue-se assim uma abordagem de cunho qualitativo, no qual se analisará o estado-da-arte referente ao tema, pois o objetivo desta pesquisa não é quantificar resultados e sim, investigar de forma subjetiva o tema, trazendo resultados na forma analítica compreensiva, com a finalidade de se criar uma discussão e instigar o assunto entre os profissionais e estudiosos da área. São muitos os fatores a serem considerados na ergonomia, no ecodesign e na sustentabilidade, o que não permite uma compreensão completa em quantificação, trata-se de uma semântica cognitiva, seguindo o objetivo da pesquisa, que, não de abordar esses assuntos com o propósito de defini-los, mas de os verem e analisarem inseridos nos campos de atuação de arquitetos, designers e engenheiros. A história da arquitetura, do design e da construção civil são pontos importantes a serem analisados nesta pesquisa, pois, a partir dos mesmos é possível apresentar como se deu o surgimento dos movimentos que deram início ao cenário atual. RESULTADOS E DISCUSSÃO O design se inicia com o desenvolvimento da ideia, exige raciocínio e técnica para se ter o produto idealizado, ou seja, o projeto a ser executado, um modelo que solucione os problemas encontrados dentro das necessidades humanas (Arruda, 2009). De acordo com Vicente (2012), descrever o design é algo complexo e multifacetado, abrange muitas outras disciplinas e a definição desta atividade já foi suficientemente esclarecidapor diversos outros autores. Para isso, nesta pesquisa pretende-se dar o foco direto para as relações do design com a ergonomia, o ecodesign e a sustentabilidade, trazendo os acontecimentos históricos, explicando a relação do design com estas disciplinas. Ironicamente a ergonomia foi criando o seu legado apenas depois de muitos anos de problemas nos ambientes de trabalho lançados na Revolução Industrial, depois do lançamento de inúmeros designers que não visavam o conforto, apenas o visual. O mesmo ocorreu com o ecodesign, e, assim, a visão de sustentabilidade, disciplinas que só começaram a ser discutidas depois de anos de desrespeito a natureza, tornando-se uma nova responsabilidade profissional com o tempo, se atentando a um sistema de valorização da vida. Para alguns autores, o design surge através de Walter Gropius, o criador da Escola de Bauhaus, entre outros nomes como, Deutscher Werkbund e DeStijl, criando um novo tipo de artista, aquele que se torna útil para a sociedade de alguma maneira (Vicente, 2012). Principalmente tratando-se do design e da indústria moveleira brasileira, não foram os movimentos artísticos que determinaram um estilo brasileiro, mas iniciativas pioneiras, destacando-se na arquitetura Gregori Warchavschick, que sentiu a necessidade de desenvolver mobiliários modernistas que estivessem de acordo com as suas obras, e, a partir deste momento, surgiram designers de renome como: John Graz; Joaquim Tenreiro; o Studio d’Arte Palma, tendo dentre os integrantes a arquiteta Lina Bo Bardi, com o objetivo de firmar uma regionalidade na escolha dos materiais, nas preocupações com o clima, modos de vida e objetos para o povo em 1948, aliando elementos culturais ao modernismo; a Fábrica de Móveis Z, de José Zanine Caldas, também de 1948, com grande preocupação ecológica; Móveis Branco e Preto de, 1952 com design ligado à funcionalidade e proporções anatômicas; Geraldo de Barros; a Mobília Contemporânea de Michel Arnoult e Abel de Barros Lima, pioneira na produção de mobílias modulares e multifuncionais no Brasil em 1955, pensando na simplicidade, praticidade, resistente aos modismos; Sérgio Rodrigues (designer da icônica Poltrona Mole), que se destacou com a iniciativa de produzir móveis de design em preços acessíveis em 1968 (Arruda, 2009). Figura 1. Poltrona Mole de Sérgio Rodrigues (1957). Ainda de acordo com Arruda (2009), em 1962, o design brasileiro ganha uma grande motivação ao seu desenvolvimento, a criação da Escola Superior de Desenho Industrial. O Brasil e o mundo encaravam o estilo modernista como a nova tendência, um tempo de amadurecimento do design no Brasil. Ainda que o modernismo tivesse as suas premissas, este foi um momento para os designers brasileiros pesquisarem e entenderem as tradições culturais, os materiais locais, soluções para a realidade atual, condições econômicas, tecnologia disponível, clima e cotidiano do brasileiro como indivíduo, criando assim, sua originalidade, o design brasileiro. Segundo Ribeiro (2012), é o design que influencia a ambientação do cotidiano, capaz de criar conforto, praticidade, segurança, facetas que se enalteceram com a revolução industrial e que se mantiveram até os tempos atuais. Quando se impõe objetivos para o design, este precisa recorrer a diversas outras disciplinas, como a ergonomia, com ela, se torna capaz a criação de um design que atinja o bem-estar humano, agregando valor ao desenvolvimento do mobiliário (Ribeiro, 2012). No fim dos anos de 1960 nascem os movimentos ambientalistas modernos, com a publicação de livros e até mesmo com o apoio da NASA, trazendo uma maior consciência sobre os problemas ambientais do mundo, alertando a sociedade (Vicente, 2012). O design de mobiliário contemporâneo é diversificado, nos materiais, técnicas e estilo, desde 1970, quando se determina um fim para o estilo moderno, o design brasileiro encara uma nova realidade - o multiculturalismo, na construção civil, apartamentos e casas passam a ter tamanhos cada vez mais reduzidos, mas além de abrigar, as moradias se apropriaram de atividades como repouso, estudo, diversão e trabalho, exigindo flexibilidade e mobilidade. Foi, em 1970, que, pioneiros do design como Buckminster Fuller e Victor Papanek fizeram publicações de livros sobre a profissão de designer, descrevendo que, esta, uma das profissões com o maior potencial de prejudicar tanto o ambiente natural como o ambiente humano (Vicente, 2012). Teve-se um apoio para esta visão mais coerente com o meio ambiente natural e sustentável com a conferência Design for Need de 1976. Já no final dos anos de 1980 começa a surgir uma abordagem mais clara da sustentabilidade com o design, considerando os problemas ambientais, ciclos de vida dos produtos, sem comprometer a qualidade, o custo e a aparência, o qual se chamaria ecodesign considerando ergonomia, funcionalidade e estética. Tem-se aí um foco nos processos industriais e de produtos mais limpos (Vicente, 2012). Com base nas exigências e necessidades dos usuários da época, no Brasil, surge uma variedade de opções, móveis sendo produzidos em massa para consumo popular (produzidos por lojas varejistas), mobílias sem preocupação com o design, os móveis reciclados (uma releitura aos móveis do passado) e o design assinado ou móvel assinado (Arruda, 2009). Nesse último, destaque a produção de Fernando e Humberto Campana, irmãos, brasileiros, com um estilo próprio, no limite entre a arte e o design que criaram designers provocadores, com reflexões sociais. Figura 2. Cadeira Favela de Irmãos Campana (1990). Dos anos de 1990 em diante, o design se torna algo mais acessível, para todos, atendendo as necessidades sociais e a multiculturalidade, influenciada pela globalização mundial e se difunde a preocupação ecológica, a reciclagem e a sustentabilidade (Arruda, 2009). Para os profissionais do design, cria-se responsabilidades de abordar questões referentes ao tempo atual, do ambiente, do desenvolvimento sustentável, da globalização, para não se perder a qualidade de vida e atender a população humana, ou seja, um desenvolvimento que satisfaça as necessidades das gerações do presente sem comprometer a possibilidade de satisfazer as necessidades das gerações futuras (Vicente, 2012). Tem-se como hipótese para este estudo que, a melhor solução para um ambiente, generalizando o público atual, é garantir uma boa escolha dos métodos construtivos, das premissas no ato de projetar e dos mobiliários a serem utilizados. Isso tudo considerando a importância de sua adaptabilidade e multifuncionalidade e, ainda, inserido no fator sustentável, devido aos problemas ambientais atuais, dos acontecimentos relacionados a globalização, como o crescimento populacional, alta concentração demográfica nos grandes centros urbanos, que decorrem em desequilíbrios ecológicos, sociais, culturais e econômicos. Com foco na sustentabilidade, muitas vezes esta disciplina só é compreendida pelo seu fator ecológico, mas ela passa por cinco dimensões que completam o seu significado: Sustentabilidade social, igualdade de direitos e condições de vida da população; sustentabilidade econômica, que funciona para viabilizar o uso de recursos; sustentabilidade ecológica, dos fatores de preservação ambiental; sustentabilidade espacial, com a distribuição racional de cadeias produtivas nos espaços físicos e relações das áreas rurais com as áreas urbanas; e sustentabilidade cultural, ligada aos valores da sociedade, educação, necessidades humanas e peculiaridades culturais (Arruda, 2009). Centrando no design sustentável, os estudos de ciclo de vida e vida útil dos produtos são teoricamente mais discutidos, aplicada a produtos, generalizando o tratamentodos variados produtos existentes, não necessariamente nos que pertencem ao design em si. Esse sistema de ciclo de vida pode ser visto na figura a seguir. Figura 3. Ciclo de Vida de um Objeto. Aplicando-se a sustentabilidade ao ciclo de vida do produto, da pré-produção ao despojamento tem-se a atividade de selecionar os recursos de baixo impacto e reduzir o consumo de qualquer recurso. Da distribuição ao despojamento, considera-se a otimização do tempo de vida do produto, e, exclusivamente no despojamento, estuda-se como entender o tempo de vida do material, facilitando o desmantelamento (Gomes, 2017). De acordo com Vicente (2012) é importante compreender alguns critérios, preocupações que devem ser consideradas e apontadas dentro da sustentabilidade de produtos. Tabela 1. Critérios no Design de Produtos Sustentáveis Critérios Econômicos Critérios Ambientais Critérios Sociais/Éticos Capacidade Técnica Capacidade Financeira Lucro a Curto e Longo Prazo Preço Adequado Minimização de Desperdícios Produção Limpa Materiais Limpos Eco Eficiência Menos Materiais Menos Energia Recursos Renováveis Energias Renováveis Reciclagem Comércio Justo Políticas Justas Empregos de Qualidade Boas Condições de Trabalho Investimento na Comunidade Apoio à Economia Local Livre de Crueldade Maior Valor Melhores Sistemas Participação Igualdade de Gêneros Satisfação das Necessidades Com foco na adaptabilidade e multifuncionalidade, o que define um design adaptável é a sua capacidade de transformação, multifuncionalidade e/ou flexibilidade, de adaptar-se as mudanças necessárias para se tornar eficientemente funcional, permanecendo na vida do consumidor por mais tempo, contribuindo com o impacto econômico, social e ambiental (Ribeiro, 2012). Primeiramente o móvel multifuncional ou flexível, adaptável, tem, a função de exercer diferentes funções, e, em segundo plano tem a função de economizar espaço, por isso a história desses móveis está intimamente relacionada ao modernismo e à arquitetura contemporânea, quando os modelos de residências se tornaram mais compactos e o design teve que, assim se adaptar a essa realidade. É junto com o modernismo que surge o interesse dos arquitetos de desenvolver as mobílias para os próprios projetos, entregar um produto completo, pois o que lhes tinha disponível na época, nominado produto de design, não se adequava a realidade do que projetavam e no modernismo não se projetava para as mobílias existentes e sim para as funcionalidades da sociedade atual, as suas necessidades. Os móveis adaptáveis e multifuncionais possuem uma grande e única história que pode ser contada até mesmo isolada da história do design convencional. Em suma, já existiam desde os antigos egípcios com móveis dobráveis e de fácil transporte, para nômades do deserto, para as tropas da Roma antiga, na idade média, no renascimento e nas grandes navegações. Com o modernismo, surgem as primeiras cadeiras que se transformam em escadas e tábuas de passar roupa que existem até os momentos atuais, as cadeiras no estilo de barbearia com vários ajustes para adequação do corpo e com pinos rotativos no assento para definir a altura. Os armários e estantes modulares que se transformavam em nichos, bancos, mesas, criados inicialmente na Escola de Bauhaus, objetos que foram se evoluindo com o passar do tempo e atendendo as necessidades atuais da sociedade (Gomes, 2017). Tendo o conjunto – design, arquitetura e engenharia - a capacidade de apoiar as atividades humanas, e sua adaptabilidade/multifuncionalidade, de se adequar a circunstâncias diferentes, faz destes, objetos e ambientes em constante transformação, valorizado de forma econômica e social, mas também ambiental, em duas vertentes, de aspecto do ambiente individual ou coletivo (casas e edifícios de uso coletivo) e no do impacto sustentável ao ambiente natural (Schwartz- clauss et al. 2013). Com foco no ecodesign, como disciplina que une o design à sustentabilidade, o mobiliário já concebido por meio do ecodesign é sempre reciclado e reaproveitado como matéria prima na fabricação de outras mobílias, porém, atendendo exclusivamente ao design adaptável, o “uso” do mesmo deve ser elemento chave da vida do móvel, o conceito se liga diretamente ao uso, ou seja, além de durabilidade, deve estar a serviço de diferentes pessoas e diferentes atividades, isso se conquista nas regulagens de alturas de mesas, de cadeiras, inclinações, suporte a cargas, para que assim se mantenha por maior tempo nessa etapa do ciclo que de uso. O ecodesign tem como objetivo facilitar a integração entre considerações ambientais e processos de design mais eficazes e facilitar o desenvolvimento de informação que avaliem a carga ambiental do produto em relação ao sistema, local e atual (Vicente, 2012). Ainda de acordo com Vicente (2012), entre as estratégias do ecodesign tem-se: Selecionar materiais de baixo impacto (ecológico e local, cultural); reduzir o uso de materiais (produção de mobiliário duradouro, simplificado e multifuncional); otimizar técnicas de produção; otimizar sistemas de distribuição; redução do impacto durante o uso do produto; otimizar o tempo de vida; otimizar o fim de vida e desenvolver novos conceitos e movimentos. Com foco na ergonomia, esta disciplina é a base para o desenvolvimento da forma, das soluções projetuais e das medidas ergonomicamente adequadas, permitindo adaptações e reforçando o conceito de móvel multifuncional (Souza et al., 2015). Para entender a eficiência de um mobiliário ou de um novo produto, relacionando a sustentabilidade e a ergonomia, unido aos preceitos do ecodesign, é necessário optar-se por um produto, um único modelo, para que assim se torne capaz a compreensão geral sobre o assunto, já que, de fato, a pesquisa permite um estudo muito abrangente. Este artigo é parte de uma pesquisa maior, onde na definição de parâmetros para o design relacionado a sustentabilidade se trouxe os conceitos do ecodesign, como solução projetual partiu-se da hipótese de que para o momento atual, social, econômico e ambiental, o melhor fator é a adaptabilidade e multifuncionalidade dos produtos, dentre os produtos, com enfoque em cadeiras e dentre as matérias primas o uso da madeira e seus derivados. Tendo como exemplo, na escolha de um produto em específico, os projetos de cadeiras, um dos mobiliários que permite maior evolução ergonômica e capacidade de adaptabilidade, ajustes e multifuncionalidade, veja a tabela a seguir. Tabela 2. Requisitos e Parâmetros para Cadeiras. Requisitos Parâmetros Largura do Assento Minima: 38,1cm; Maxima: 48,3cm. Profundidade do Assento Minima: 30,5cm; Maxima: 45,7cm. Altura do Assento Minima: 35cm; Maxima: 52,8cm. Inclinação da Superfície do Assento Mínima: 0º; Máxima: 5º. Inclinação do Encosto em Relação ao Assento Mínima: 100º; Máxima: 110º. Altura do Encosto para os Braços Mínima: 18cm; Máxima: 29,5cm. Distância entre o Assento e o Apoio para os Pés (ou chão) Mínima: 35,6cm; Máxima: 49cm. Com base nessa tabela, adaptada de Panero e Zeinik (2002), entende-se as medidas mínimas e máximas, os parâmetros para desenvolvimento de projetos de cadeiras. Esses números são obtidos através de estudos antropomórficos, se adequando as dimensões e usos do público alvo do produto, cabe ao designer, arquiteto ou engenheiro saber interpretar estas medidas, não só no desenvolvimento de projeto exclusivo a mobiliário, mas para todas as atividades, sejam nos interiores ou em espaços de uso comum, até mesmo espaços abertos (espaços livres, praças e parques por exemplo). Estudos antropomórficos também podem ser reconhecidosna história da arquitetura e do design, como quando em 1948, Le Corbusier, considerado pai do movimento moderno, desenvolve um sistema métrico para projetos de edificações e mobiliários, o Modulor, que pode ser utilizado até nos tempos atuais (Gomes, 2017). Figura 4. Modulor de Le Corbusier (1948). Tendo em vista essas medidas e estudos antropomórficos que podem ser elaborados exclusivamente para cada linha de produto ou através de estudos de correlatos e revisões bibliográficas, se torna capaz de definir um movimento ou a capacidade de adaptabilidade de cada produto para que este se adeque a necessidade de casa pessoa, para uso fixo de um único indivíduo ou pelas mais variadas pessoas, usos e dimensões. Para isso, muitas vezes estes parâmetros e estudos antropomórficos estão relacionados com tantas outras disciplinas dentro da ergonomia e relacionando à tantos outros produtos e ambientes para que se conquiste mobílias que se transformem, cadeiras que se tornem bancos altos, mesas de centro, ou até mesmo um elemento decorativo, a adaptabilidade é infinita e pode agregar valor na capacidade de servir para diferentes usos. Esta pesquisa centra-se no uso da madeira pois, primeiramente, é o material que corresponde com a maioria das mobílias domésticas e por terem vida útil de 10 anos (nos produtos mais baratos) e 30 anos (nos produtos mais caros); em segundo ponto, porque a deflorestação é um dos principais fatores de agressão ao meio ambiente natural e; porque é considerado um recurso renovável, que pode ser gerido pelo homem (Vicente, 2012). Logo, utilizar a madeira de forma sustentável deve ser apoiado e promovido. Talvez, pareça irônico apresentar a madeira como a matéria prima mais utilizada no design de mobiliário no Brasil, considerando a problemática do país com a Floresta Amazônica e seu desmatamento. O Brasil é conhecido mundialmente de forma positiva pela extensão de suas florestas, mas, negativa por este desmatamento que de fato prejudica o meio ambiente de forma global. Porém, trazendo os conceitos de ecodesign, que assume a importância de valorização local, o Brasil é um grande produtor de madeira, o desenvolvimento do design de mobiliário no país tem fortes raízes com essa produção e é possível adequar esta produção com a utilização da matéria-prima de forma renovável. O design que integra a abordagem de sustentabilidade, ecodesign, permite que agentes como empresas, reduzam os impactos ambientais que os seus produtos e processos causam, por isso, é tão importante que os profissionais que trabalham na área de design, sejam, designers, arquitetos, engenheiros, compreendam a responsabilidade social que lhes foi dada através da sustentabilidade, a oportunidade de fazer a diferença, para a empresa, para o cliente, para a sociedade e o ambiente (Vicente, 2012). Ainda de acordo com Vicente (2012), é necessário definir uma metodologia, um caminho a se seguir com o design nesse momento, porque a quantidade, complexidade e novidade de informações, problemas a serem resolvidos pelos designers são inúmeras. De acordo com Gomes (2017), a multifuncionalidade, adaptabilidade ou flexibilidade pode se reconfigurar, modularizar, tornar o objeto multifuncional, criar articulações, reticular, criar movimento através de pivôs (para criar rotações). Figura 5. 360 Container de Magis (2010), com o Sistema de Pivô. Outros movimentos podem ser inseridos como “telescopiar” (incluir um produto dentro do outro), montar e desmontar, empilhar, comprimir, dobrar, vincar, enrolar, folear e insuflar (Gomes, 2017). Figura 6. Flexible Love (2005), com o Sistema de Folear. Ainda considerando a principal demanda por produtos multifuncionais que é a redução dos espaços, existem os produtos All-In-One, que tratam- se de uma única mobília, um bloco, com todas as funções necessárias para um pequeno apartamento por exemplo (Gomes, 2017). Figura 7. CityHome de MIT (2014) com o Sistema All-In-One. A configuração espacial dos ambientes era dada apenas por “homem – trabalho – descanso”, porém, as novas tecnologias, as diversidades, núcleos familiares tradicionais e não-tradicionais, que surgiram com a globalização revolucionaram os hábitos domésticos e de trabalho, as residências se tornam centros de atividades multifuncionais (Gava, 2015). De acordo com Tiburtino-Silva et al. (2018), o fator territorialidade é de suma importância para o ecodesign, expande a reflexão de cotidiano, espaço vivido, interesses, mercado, cultura e tradição. Por isso, viu-se como necessária a apresentação da hipótese, que o melhor caminho a ser seguido neste momento é de desenvolver produtos com a capacidade multifuncional, adaptável, flexível, relacionado a ergonomia, a sustentabilidade, porque, além de todos os efeitos positivos até então apresentados, instiga a capacidade criativa do designer e pode definir um novo e atual movimento artístico. CONCLUSÃO Perante todas as atividades profissionais do design, arquitetos, designers e engenheiros, não podem descartar a ideia de conscientizar os usuários e aos produtores dos produtos, sobre o consumo. O consumo consciente está intimamente relacionado com qualidade de vida, já que, utilizando adequadamente os produtos, incentiva-se a educação, a longevidade, a segurança, a solidariedade, ao desenvolvimento humano e a sustentabilidade ambiental. Acredita-se, também, que, é de suma importância ligar a realidade acadêmica, ou seja, a formação de novos profissionais com a disciplina de sustentabilidade, pois assim, se desenvolve o assunto, solidifica e beneficia a todos. No desenvolvimento da pesquisa e obtenção de informações, foi possível reconhecer o valor da hipótese aplicada, de que a melhor solução é o design multifuncional, adaptável e flexível. Com isso vê-se a necessidade de se criar um novo movimento na arquitetura, design e construção civil em geral, lançada sobre estes preceitos, pois considera-se aqui, o melhor modelo que atenda às necessidades da sociedade atual. Como sugestão para futuras pesquisas, seria desenvolver um aprofundamento em cada ponto específico neste trabalho discutido, isolando os assuntos, de história, sustentabilidade, ecodesign, necessidades da sociedade atual e relações dos momentos atuais, acontecimentos, com estes materiais históricos, fatores como desmatamento, isolamento social e trabalho remoto (home-office), necessidade de conforto e lazer nas residências. As discussões mais relevantes e atuais da sociedade atual são sobre como tratamos o meio ambiente natural e por isso se torna tão importante o incentivo ao ecodesign e à utilização dos conceitos da sustentabilidade. As aceitações e respeito à diversidade, à cultura, ao modo de viver de cada sociedade apresentam-se como desafios aos profissionais da área, que têm a função de, dentro do design, compreender, assimilar e projetar para essa diversidade. As necessidades de conforto e lazer nas moradias, aliadas às novas condições de trabalho - remoto -, de isolamento social, de privacidade, também são fatores a serem considerados em projetos de design. O design, junto a outras expressões artísticas, sempre esteve à frente das discussões do momento atual, procurando revolução, defendendo direitos, garantindo qualidade de vida para a sociedade de forma geral. Contribuir para um novo movimento artístico com essas teorias é uma forma de garantir que o design continue nestas lutas. AGRADECIMENTOS Nossos agradecimentos aos colegiados do Instituto Federal do Paraná, unidade de Umuarama, pelos incentivos às pesquisas acadêmicas. REFERÊNCIAS ARRUDA, Glória Lúcia Rodriguez Correia de. O Design na Indústria Moveleira Brasileira e seus Aspectos Sustentáveis: estudo de caso no polomoveleiro de Arapongas – PR. Dissertação. Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho: Programa de Pós Graduação em Design, Bauru, 2009. 121p. 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