Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Infecções das vias aéreas superiores Aspectos gerais: Introdução: As infecções de vias aéreas superiores (IVAS) são um dos principais problemas de saúde na criança, correspondendo a 40 a 60% das consultas pediátricas nas Américas e o principal motivo para uso de antibióticos nas crianças. A incidência das infecções respiratórias é inversamente proporcional à idade. Crianças menores de 5 anos apresentam entre 4 e 14 episódios de IVAS por ano, enquanto adultos apresentam, no máximo, 2 a 4 episódios. Imunologia: O trato respiratório constitui a maior superfície de contato com o meio ambiente. Em cada movimento respiratório, inúmeros microorganismos e partículas de poeira entram nele, mas devido ao movimento ciliar e ao sistema imunológico, a região abaixo da laringe mantém-se estéril. Porém, a nasofaringe das crianças pequenas está constantemente colonizada por bactérias. As infecções bacterianas ocorrem quando as bactérias colonizantes conseguem ultrapassar as barreiras da proteção imunológica. Essa penetração é facilitada por lesões celulares causadas por infecções virais, ausência de anticorpos específicos (prematuridade e aleitamento artificial são, portanto, fatores de risco. Os anticorpos passados via placentária para a criança diminuem drasticamente a partir do 6º mês de vida da criança, período o qual ela passa a estar mais suscetível. Epidemiologia: Há uma sazonalidade bem definida em países de clima temperado. A frequência em creches é um importante fator de risco, assim como fatores genéticos, fatores psicológicos e atividade esportiva exagerada. A transmissão das IVAS ocorre por três vias mais importantes: (1) contato pelas mãos diretamente no indivíduo contaminado ou indiretamente por meio de superfícies; (2) micropartículas por meio de aerossóis e (3) partículas grandes por meio de aerossóis por contato direto com o doente contaminado. O reservatório mais importante dos vírus respiratórios são as vias aéreas superiores das crianças. Agentes etiológicos virais: - Picornavirus: abrange os rinovírus e os enterovírus. O rinovírus é o agente etiológico mais frequente nas IVAS. Dentre os enterovírus, temos o Coxsackie, o echovírus e o polivírus. - Adenovírus: acomete crianças mais novas, podendo ser assintomático. Quando sintomático, pode acompanhar faringite e conjuntivite. - Paramixovírus: inclui o parainfluenza, o vírus sincicial respiratório (VSR) e os vírus do sarampo e da caxuma. O parainfluenza é o principal responsável por laringites. - Ortomixovírus: tem como representante único o vírus influenza. Suas infecções costumam ocorrer em epidemias em períodos localizados do ano. Em crianças pequenas manifesta-se como IVAS. - Coronavírus: causa frequente de resfriado comum. Menos descritos. Manifestações clínicas: Rinofaringite viral (resfriado Comum): É uma infecção respiratória alta, caracterizada por congestão nasal, rinorreia e inflamação de garganta. Tem caráter benigno. Os sintomas iniciam-se 2 dias após a inoculação do vírus (rinovírus e coronavírus) ou, no caso do VSR, 5 dias após. A maioria dos pacientes será sintomático por até 7 dias e apenas 10% será sintomático por até 2 semanas. O tratamento é sintomático. Laringotraqueobronquite (crupe): Geralmente causada por vírus (parainfluenza, adenovírus, influenza, rinovírus e enterovírus) e, esporadicamente, pelo Mycoplasma pneumoniae. O paciente apresenta pródromos 1 a 2 dias, com desenvolvimento subsequente de tosse com estridor intermitente. A febre está presente, mas geralmente é inferior a 39ºC e evolui para cura em até 7 dias. O tratamento é sintomático. Hipertrofia de amígdalas e adenoide: As amígdalas palatinas, as adenoides, as amígdalas linguais e o tecido linfóide da parede posterior encontram-se dispostos de forma circular na faringe e recebem o nome de anel de Waldeyer . Essas estruturas são responsáveis por defesa contra infecções, mas a remoção cirúrgica desses tecidos linfóides, não parece trazer consequências imunológicas importantes para as crianças. A hipertrofia de amígdalas e adenóides é secundária à infecção crônica destas estruturas. O tecido linfóide sofre um crescimento adicional quando surtos infecciosos agudos se instalam. Em determinados casos, é indicada a amigdalectomia e a adenoidectomia. Amigdalect. + adenoidectomia: Amigdalectomia: Adenoidectomia: - Apneia obstrutiva do sono; - Hipertrofia adenoamigdaliana associada à cor pulmonale, crescimento deficiente, anormalidades da fala e anormalidades craniofaciais. - Surtos agudos, intensos e frequentes de amigdalites (discutível); - Abscesso peritonsilar; - Amigdalite crônica. - OMA recorrente; - OMC com derrame; - Sinusite e nasofaringite de repetição apesar do tratamento clínico adequado; - Hipertrofia adenoidiana associada a respiração bucal, voz hiponasal, obstrução nasal e secreção contínua. Epiglotite: Forma mais grave de obstrução inflamatória aguda das vias aéreas superiores, causada principalmente pelo H. influenzae. Tem curso fulminante com febre alta, dor de garganta, sialorreia, dispneia e obstrução respiratória rapidamente progressiva e prostração. Deve ser feita a intubação orotraqueal imediatamente e, a falha no tratamento acarreta em óbito. O diagnóstico é feito através da laringoscopia, onde se visualiza uma epiglote vermelho-cereja edemaciada. Rinofaringite ou nasofaringite: É definida pela inflamação das estruturas faríngeas com aparecimento de eritema, edema, exsudato faríngeo, úlceras e vesículas. A maioria das faringites é de etiologia viral (parainfluenza, influenza e coronavírus). O adenovírus é responsável por quadros mais arrastados de faringite exsudativa com adenomegalia. Evolui para resolução espontânea. Deve-se sempre excluir a presença de Streptococcus pyogenes a partir da clínica e da bacteriologia. Clínica: Faringite estreptocócica: Faringite viral: Idade: 5 a 15 anos (pico de incidência). Todas as idades. Estação do ano: Inverno e outono. Todas as estações. Sintomas: Febre de início súbito; faringite severa; cefaleia; dor abdominal; náuseas e vômitos. Faringite leve; febre variável; mialgia; artralgia; dor abdominal em casos de influenza. Sinais: Eritema faríngeo exsudativo; adenomegalia cervical com sensibilidade local; petéquias em palato; hipertrofia amigdaliana; escarlatina; ausência de tosse e de secreção nasal; ausência de conjuntivite e diarreia. Usualmente ausência de exsudato; pode haver úlceras; adenomegalia não dolorosa; enantema; presença frequente de tosse, conjuntivite, rouquidão ou diarreia. O tratamento das faringoamigdalites virais é sintomático. Já das estreptocócicas deve ser feito preferencialmente com penicilina benzatina ou amoxicilina. Rinorreia mucopurulenta : Manifestam-se como secreção nasal, que pode ter aspecto fluido ou mucopurulento (manifestação autolimitada que, isoladamente, não justifica introdução de antibióticos). Pode haver persistência desse sintoma por até 6 dias, acompanhado de febre. Se associado a outros sinais e sintomas de infecção estreptocócica, tratar com penicilina benzatina ou amoxicilina. Rinossinusite: Entre 5 e 10% das IVAS em crianças complicam para sinusites, devido ao edema de mucosa local e aprisionamento de muco nos seios paranasais. O diagnóstico é clínico e deve ser considerado quando a tosse e a secreção nasal/retrofaringea duram por mais de 10 a 14 dias ou quando houver recorrência de febre ou de sinais localizatórios (dor em seios maxilares e frontais, dor à percussão da face). Sintomas persistentes: Sintomas graves: Secreção nasal por mais de 10 dias. Febre acima de 39ºC. Tosse predominantementenoturna. Coriza mucopurulenta por mais de 3 dias. Cefaleia frontal. Dor em região de seios da face, edema facial. O exame radiológico dos seios da face é pouco útil para o diagnóstico (baixa especificidade). A tomografia dos seios da face é indicada em casos de sinusites recorrentes, infecções persistentes ou infecções complicadas. O principal agente etiológico é o Streptococcus pneumoniae, mas o Haemophilus influenzae e o Moraxella catarrhalis também podem causar sinusite. Nas sinusites crônicas (duração de mais de 30 dias), o Staphylococcus aureus e as bactérias anaeróbicas são causas comuns. O tratamento antimicrobiano está indicado apenas em pacientes com mais de 10 dias de coriza mucopurulenta. É feita com amoxicilina. Se não houver resposta ou for um caso de sinusite crônica, associa-se o clavulanato. Otite média aguda (OMA): É a doença bacteriana mais frequentemente diagnosticada em pediatria. É uma complicação do resfriado comum, que, quando associado a uma disfunção da tuba auditiva, leva ao aprisionamento de muco na tuba, que, por sua vez, pode infeccionar. As principais complicações são supurativas (mastoidite, abscesso cerebral), perfuração da membrana timpânica e perda auditiva neurossensorial (complicação de longo prazo, infrequente). A otite média crônica (OMC) geralmente se desenvolve como consequência da OMA recidivante. Alguns vírus podem ser isolados na tuba auditiva, mas não se sabe até que ponto estão envolvidos na fisiopatologia da OMA. Quase sempre há o envolvimento de uma bactéria, em especial: S. pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis e S. pyogenes. Para o diagnóstico de OMA, é necessário: (1) história de início súbito dos sintomas; (2) presença de secreção em ouvido médio; (3) sinais e sintomas inflamatórios de ouvido médio. De forma que há otalgia, abaulamento, diminuição da mobilidade e hiperemia da membrana timpânica e otorreia. A OMA tem resolução espontânea em 1 semana na maioria dos casos, mas como as complicações são potencialmente graves, o tratamento com antibioticoterapia pode ser a escolha do pediatra em quase todos os casos. Deve ser feito com amoxicilina e, em casos de falha, associar clavulanato ou prescrever ceftriaxone. Camila Brito Referências: - Tratado de Pediatria - Sociedade Brasileira de Pediatria; - Medcurso 2019.
Compartilhar