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VIGILÂNCIA EM SAÚDE 1 VIGILÂNCIA EM SAÚDE VIGILÂNCIA EM SAÚDE 2 Aula 1 - A evolução da Vigilância em Saúde 1.1 – BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE NO MUNDO Cada período histórico e cada sociedade possuiu seu próprio entendimento acerca dos determinantes da saúde, daquilo que condiciona a saúde de sua população. Esses condicionantes ou determinantes da saúde são, em geral, identificados e nivelados como naturais, individuais ou sociais. Desde os primeiros agrupamentos humanos até os dias atuais, a noção e as ações de Vigilância em Saúde têm evoluído de acordo com a compreensão da saúde e com as demandas de cada período histórico. Durante a Pré-História, os primeiros grupos humanos eram essencialmente formados por caçadores e coletores que se deslocavam por diversos territórios de acordo, principalmente, com as condições climáticas. Nesses primeiros agrupamentos, a noção de saúde-doença estava totalmente ligada ao sobrenatural. Os mortos eram sepultados em locais considerados sagrados, junto com objetos que os acompanharam durante sua vida. Estudos arqueológicos mostram evidências de tratamentos clínicos realizados nos mortos; as trepanações, por exemplo, eram provavelmente realizadas no sentido de expulsar os maus espíritos. Na realidade, o homem primitivo entendia a doença como um resultado de poderes sobrenaturais e, assim, pode-se considerar que, desde o início, a história da saúde e da religião estiveram intimamente ligadas: ambas buscavam proteger o indivíduo do mal. As grandes civilizações da Antiguidade, da mesma forma, tinham sua noção de saúde-doença essencialmente ligada ao mágico, ao sobrenatural. A medicina da civilização suméria, a mais antiga de que se tem conhecimento, era baseada na astrologia. Os babilônios, que já conheciam muitas doenças, eram muito aprofundados na astrologia e acreditavam que os demônios eram os causadores das doenças. Os sacerdotes, que atuavam também como médicos, VIGILÂNCIA EM SAÚDE 3 tinham a responsabilidade de diagnosticar os problemas e realizar os rituais necessários para o tratamento. No Egito antigo, as técnicas utilizadas nas práticas de saúde são consideradas como o início do desenvolvimento da medicina científica, mas a ligação do entendimento das questões de saúde- doença com o sobrenatural também era muito presente, inclusive com os sacerdotes sendo os principais praticantes dos rituais de tratamento e cura. Nas antigas civilizações grega e romana, o início de sua medicina foi essencialmente ligado ao mágico e ao sobrenatural, e com o passar do tempo essa concepção começou a sofrer uma real mudança. A Grécia antiga é considerada o berço da medicina científica, caracterizada pela atitude de compreender e explicar os fenômenos associados à saúde-doença, com destaque para os estudos de Hipócrates, o “pai da medicina”. Na Roma antiga, além do desenvolvimento de práticas assistenciais de cunho mais científico, havia ainda uma forte atitude voltada para a saúde pública, especialmente através de ações de saneamento. No entanto, com a queda de Roma, a história da medicina entrou em um período sombrio que modificou bastante a maneira de se entender a saúde e a doença. Era o início da Idade Média e a Igreja passava a dominar o pensamento e as ações em todas as áreas, inclusive na àrea da saúde. O pensamento cristão da época oferecia conforto espiritual, acolhimento e cuidado aos doentes, especialmente durante as grandes epidemias, combatendo fortemente a assistência ligada àquilo que era considerado, por eles, como “magia”. No entanto, esse pensamento cristão não aceitava a investigação científica, porque os fenômenos da saúde-doença passaram a ser entendidos como vontade de Deus, seja por graça ou castigo. Com o Renascimento a Ciência ganhou novo fôlego, forte e definitivo. Nessa época, a medicina passou a se caracterizar por um importante racionalismo científico, baseado no espírito crítico e na experimentação. Com o passar do VIGILÂNCIA EM SAÚDE 4 tempo isso se intensificou, originando a medicina moderna e modificando completamente a compreensão da saúde. 1.2 – HISTÓRICO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Entre as mais remotas práticas de intervenção social na saúde humana em toda a história, especialmente no sentido de tentar impedir a disseminação de doenças, está o isolamento dos indivíduos que posteriormente evoluiu para a prática da quarentena. Essa antiga prática de isolamento pode ser entendida como uma das primeiras ações desenvolvidas com o objetivo de Vigilância em Saúde. As práticas atuais da Vigilância em Saúde estão principalmente baseadas em propostas específicas que tiveram início na Europa do séc. XVIII, que são: a medicina de estado alemã, a medicina urbana francesa e a medicina social inglesa. A disseminação da Vigilância em Saúde pelo mundo enquanto um instrumento entendido como específico e essencial ocorreu principalmente a partir de meados do século XX, durante a campanha voltada para a erradicação da varíola. No caso do Brasil, pode-se considerar que as primeiras ações de uma política de saúde voltada para a população, só têm início a partir do começo do século XX, com as Campanhas Sanitárias de Oswaldo Cruz. Tais campanhas, que também podem ser entendidas como relacionadas à vigilância, buscaram solucionar o problema das graves epidemias que assolavam o país. Embora com muitos percalços, críticas e revoltas, as campanhas acabaram sendo bem sucedidas. Com o passar dos anos, as ações que se relacionavam com a Vigilância foram sendo ampliadas, incluindo basicamente novas medidas de controle de doenças. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 5 O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica foi estruturado em 1975 e no ano seguinte foi criada a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. A partir da criação do Projeto de Estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde (VIGISUS) nos anos 1990, passa-se a incluir também a Vigilância Ambiental no campo da Vigilância em Saúde no Brasil. Aula 2 – Conceitos e Fundamentos Básicos 2.1 – CONCEITOS BÁSICOS Na área da saúde, a noção de vigilância remete à ideia de medidas relativas a vigiar, estar atento, o que acaba remetendo à noção de atenção. No entanto, conceitualmente, a Vigilância em Saúde se relaciona diretamente à forma como a saúde e a doença foram compreendidas pelos indivíduos nos distintos locais e períodos da história. Dessa forma, o entendimento acerca da Vigilância em Saúde requer uma análise de conceitos de outros elementos e dimensões. Aqui, vamos conhecer os conceitos de saúde, doença e risco que, de uma forma ou de outra, estão relacionados ao entendimento da Vigilância em Saúde. a) SAÚDE: Por um longo tempo, a saúde foi entendida e conceituada como um estado em que o indivíduo não estivesse acometido por nenhuma doença. Em outras palavras, a saúde seria conceituada como ausência de doenças. No entanto, esse conceito não atendia plenamente a dimensão do termo. A partir da segunda metade do século XX, a Organização Mundial da Saúde (OMS) buscou um novo conceito para a saúde, que passou a ser definida como um completo estado de bem-estar, incluindo o físico, o mental e o social (não mais apenas a ausência de doenças). VIGILÂNCIA EM SAÚDE 6 b) DOENÇA: De maneira geral, a doença pode ser definida como uma falha ou um desarranjo naqueles mecanismos que são essenciais para que o organismo vivo esteja totalmente adaptado e em equilíbrio. Acontece quando o organismo não reage corretamente à exposição de determinados estímulos que causam desordem na estrutura ou na função de um órgão, de um sistema ou até mesmo do organismo como um todo. Para que uma doença possa se pronunciar, pode haver a ocorrência de dois fatores: agentes patogênicos e/ou fatores de risco.c) RISCO: No que se refere à área da saúde, que é a de nosso interesse, o risco é em geral entendido como a probabilidade de ocorrência de um determinado evento, num período específico, em uma população que se encontre exposta a um fator de risco. No entanto, além da probabilidade de eventos, a Vigilância em Saúde precisa também considerar a possibilidade da ocorrência dos eventos danosos à saúde, o chamado o risco potencial, mesmo que tais eventos não possam ser conhecidos ou que de fato não aconteçam. 2.2 – CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Por muito tempo, o conceito de vigilância esteve muito ligado com a ideia da observação de pessoas com enfermidades. Nos anos 1950, porém, essa noção sofre uma importante mudança que lhe garante uma ampliação, passando a representar também o controle de diversas situações nocivas à saúde nas comunidades. Na década seguinte, a Vigilância em Saúde passou a ser conceituada como: observação contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças mediante a coleta sistemática, VIGILÂNCIA EM SAÚDE 7 consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de outros dados relevantes, e a regular disseminação dessas informações a todos os que necessitam conhecê-la. (BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Curso Básico de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde, 2005) Ainda nos anos 1960 surge a proposta da inclusão, no conceito de Vigilância, do qualificativo epidemiológica, que em seguida foi adotado pela OMS. Ao longo dos anos muitas discussões foram surgindo, especialmente no sentido de buscar uma visão cada vez mais abrangente do instrumento. Entre as propostas centrais se consolidou a visão de organizar as ações em torno de uma ampla vigilância em saúde, que engloba as ações de Vigilância Epidemiológica (voltada para os efeitos sobre a saúde), Vigilância Sanitária (voltada para os perigos de agentes específicos) e a Vigilância em Saúde Ambiental (voltada para exposições a agentes ambientais). A Vigilância em Saúde se baseia na produção, na análise e na disseminação de informações que possam favorecer a garantia da saúde das populações, seja no sentido da observação ou no sentido da tomada de decisões específicas e seu acompanhamento. No Brasil, os seus objetivos incluem: a observação e análise permanentes da situação de saúde da população, articulando-se em um conjunto de ações destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações que vivem em determinados territórios, garantindo-se a integralidade da atenção, o que inclui tanto a abordagem individual VIGILÂNCIA EM SAÚDE 8 como coletiva dos problemas de saúde. (BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília, 2010) Os elementos que compõem a Vigilância em Saúde no Brasil são as próprias ações de vigilância, de promoção da saúde e de prevenção e controle de doenças e outros agravos. Suas diretrizes determinam sua conformação em locus de promoção e desenvolvimento de conhecimentos e técnicas. Além de incluir as ações típicas de Vigilância Epidemiológica, a Vigilância Sanitária e a Vigilância Ambiental em Saúde, o campo da Vigilância em Saúde no Brasil também inclui a Vigilância da Saúde do Trabalhador. Aula 3 – Vigilância Epidemiológica e Sanitária 3.1 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA A Vigilância Epidemiológica se configura como um dos pilares da Vigilância em Saúde que inclui, necessariamente, as suas ações;inclusive por longo tempo a própria noção de Vigilância em Saúde esteve estritamente ligada somente às ações de Vigilância Epidemiológica. Nesse sentido, torna-se bastante clara a grande relevância da Vigilância Epidemiológica para o campo da Vigilância em Saúde e, portanto, para a garantia da saúde, seja do indivíduo ou das populações. No caso do Brasil , a Vigilância Epidemiológica é estruturada oficialmente a partir do ano de 1975, através da Lei nº 6.259, de 30/10/1975, que dispõe sobre a organização das suas ações, sobre o Programa Nacional de Imunizações e estabelece normas relativas a notificação compulsória de doenças, além de outras determinações. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 9 Ainda do ponto de vista da legislação, amplamente relevante para a conformação da Vigilância Epidemiológica, entre os dispositivos relacionados diretamente a esse instrumento estão o Decreto nº 78.231 de 12/08/1976, que regulamentou a Lei nº 6.259, de 30/10/75, a própria Constituição Federal de 1988, que cria o Sistema Único de Saúde (SUS), a Lei nº 8.080/90, a Portaria nº 5, de 21/02/2006 (que define a relação das doenças de notificação compulsória para todo o território nacional) e a Portaria nº. 1.378, de 09/07/2013, que regulamenta as responsabilidades e define as diretrizes para a execução e o financiamento das ações de Vigilância em Saúde. A Lei 8.080/90, conhecida como Lei Orgânica da Saúde, que entrou em vigor em 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, além de outras decisões a respeito do tema. A partir de determinação dessa Lei, a Vigilância Epidemiológica é definida como: um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. (BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990) Com base em sua conceituação, e de acordo com a legislação correspondente, a Vigilância Epidemiológica tem principalmente os seguintes objetivos: VIGILÂNCIA EM SAÚDE 10 • Acompanhamento do comportamento epidemiológico daquelas doenças que estão sendo observadas; • Detecção de casos de surtos e epidemias; • Promoção da aplicação de medidas de controle no tempo correto; • Aprofundamento do entendimento acerca das doenças; • Análise acurada das medidas, dos programas, das intervenções preventivas, do controle, e da erradicação das doenças. Entre as principais etapas da Vigilância Epidemiológica, que são necessárias para o pleno atendimento a seus objetivos, podemos destacar as seguintes: • Detecção e identificação de casos; • Investigação epidemiológica; • Elaboração, organização, estabelecimento e análise de dados e informações; • Indicação, orientação e implementação de medidas de controle; • Resultado do Sistema; • Disseminação de informações; • Avaliação das medidas e ações. A Vigilância Epidemiológica tem a responsabilidade de notificar as questões graves de saúde e os surtos de enfermidades que são de notificação compulsória, os de interesse nacional, estadual e municipal. 3.2 - VIGILÂNCIA SANITÁRIA A Vigilância Sanitária se configura como um dos pilares que representam a organização da Vigilância em Saúde. Suas ações estão relacionadas à área da saúde coletiva e é possível que seja, originalmente, uma das caracterizações mais remotas da saúde pública. No entanto, hoje representa uma de suas faces de maior complexidade. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 11 De acordo com a Lei 8.080/90, a Vigilância Sanitária é entendida como: um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamentecom a saúde. (BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990) No Brasil, através da Lei n. 9.782, foi criada, em janeiro de 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é vinculada ao Ministério da Saúde e integra o SUS (seguindo, portanto, seus princípios e diretrizes). A Anvisa é responsável pelas ações de fiscalização sanitária, voltadas para o monitoramento do mercado e para a averiguação de possíveis irregularidades em empresas e produtos sujeitos à Vigilância, com o objetivo de prevenir ou minimizar os riscos à saúde da população. A Agência funciona como uma autarquia, cujas áreas de atuação envolvem todos aqueles setores que têm correlação com os produtos e serviços que possam, em alguma medida, impactar a saúde dos cidadãos. Entre outras atribuições, a Anvisa é também responsável por coordenar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, junto com outros órgãos públicos relacionados ao setor saúde. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 12 Nesse sentido, cabe considerar que a Vigilância Sanitária se configura como um serviço de saúde, desenvolvendo ações de ampla relevância e com cunho estratégico: do ponto de vista sanitário, regula todas aquelas ações, ambientes e métodos que se relacionam tanto com a produção quanto com o consumo dos bens e serviços, públicos e privados, que sejam relativos à saúde. Nessa perspectiva, se ocupa daquelas áreas do setor produtivo que têm impacto direto na saúde (indústria e comércio de alimentos, de saneantes, de medicamentos, de serviços médico-hospitalares etc.). Portanto, pode-se observar que a Vigilância Sanitária: Conforma um campo singular de articulações complexas entre o domínio econômico, o jurídico-político e o médico- sanitário. Engloba atividades de natureza multiprofissional e interinstitucional que demandam conhecimentos de diversas áreas do saber que se intercomplementam de forma articulada. Constitutiva das práticas em saúde, seu escopo de ação se situa no âmbito da prevenção e controle de riscos, proteção e promoção da saúde. (COSTA, E.A. [org]. Vigilância Sanitária: temas para debate [online]. Salvador: EDUFBA, 2009) Cabe ainda ressaltar que suas ações objetivam, fundamentalmente, proteger os meios de satisfação das necessidades básicas e, embora tais ações sejam exclusivamente de competência do Estado, as questões que envolvem a área da Vigilância Sanitária são de responsabilidade pública. Aula 4 – Vigilância Ambiental e do Trabalho 4.1 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL O campo da Vigilância Ambiental em Saúde teve como ponto de partida a Conferência Pan-Americana sobre Saúde e Ambiente no Desenvolvimento VIGILÂNCIA EM SAÚDE 13 Humano Sustentável (COPASAD), realizada no ano de 1995, em Washington (Estados Unidos), a partir da qual foi elaborado um plano de ação para a região, dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentável. Com base nas propostas definidas na Conferência, o Brasil elaborou o Plano Nacional de Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Sustentável com as diretrizes para sua implementação. Um dos mais relevantes aspectos resultantes da Conferência foi o reconhecimento de que as condições ambientais podem afetar diretamente a situação de saúde dos indivíduos e das populações. Portanto, condições ambientais adversas podem provocar importantes riscos à saúde. Com base nesse importante reconhecimento, que trouxe à tona a necessidade de rever o entendimento das propostas de Vigilância em Saúde então vigentes, passa a se tornar premente a busca por caminhos para integrar a tônica ambiental às práticas da saúde pública. Alinhado com essas perspectivas, o Brasil, através do Ministério da Saúde, se esforçou para estabelecer a saúde ambiental, principalmente através da organização da proposta da Vigilância Ambiental em Saúde. Após diversas propostas e determinações desenvolvidas e oficializadas ao longo dos anos, as competências da Vigilância Ambiental foram atualizadas em 2005, através da efetivação do Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental (SINVSA), incorporado ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e, portanto, integrado aos demais modelos de vigilância. Assim, como parte integrante da Vigilância em Saúde, a Vigilância em Saúde Ambiental é definida como: Um conjunto de ações que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças VIGILÂNCIA EM SAÚDE 14 nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde. (BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.252, de 22 de dezembro de 2009) No que se refere a sua área de atuação, o campo da Vigilância em Saúde Ambiental tem a responsabilidade de desenvolver ações sobre todos aqueles fatores ambientais de risco que possam impactar a saúde humana e também atua nas inter-relações entre o homem e o meio ambiente. Nesse sentido, exige a contínua articulação entre diversos atores nas esferas pública e privada, intra e intersetorial e com a comunidade. De acordo com a legislação, o SINVSA é responsável tanto pela recomendação quanto pela adoção de medidas de promoção da saúde ambiental, de prevenção e de controle dos fatores de riscos relacionados ao seu universo de atuação. Suas ações são direcionadas, principalmente, para as seguintes áreas: - Qualidade da água (relacionada ao consumo humano); - qualidade do ar; - qualidade do solo; - contaminantes ambientais; - desastres naturais e acidentes com produtos perigosos. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 15 Finalmente, cabe aqui a importante observação de que a Vigilância em Saúde Ambiental deve incluir, necessariamente, o ambiente de trabalho. 4.2 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR No Brasil, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora tem como objetivo a adequada determinação das questões e dimensões que se relacionam com a produção e efetivação das ações voltadas para a atenção integral à saúde dos trabalhadores, ressaltando as ações de vigilância. Portanto, a Vigilância em Saúde do Trabalhador, que é uma das dimensões que integram a esfera da Vigilância em Saúde, deve, necessariamente, ser enfatizada no processo dessa política. Nesse sentido, tal política deve promover os meios para o seu fortalecimento e a integração da Vigilância em Saúde do Trabalhador com as outras dimensões da área da Vigilância em Saúde. De acordo com a legislação relacionada, o campo da Vigilância da Saúde do Trabalhador no país: visa à promoção da saúde e à redução da morbimortalidade da população trabalhadora, por meio da integração de ações que intervenham nos agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processo produtivos. (BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.252, de 22 de dezembro de 2009) Assim, as ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador devem ser desenvolvidas de forma integrada, ou seja, devem ser constituídas de ações de VIGILÂNCIA EM SAÚDE 16 promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores expostos aos riscos e agravos relacionados às condições de trabalho. Entre os principais objetivos da Vigilância em Saúde do Trabalhador no Brasil, podem ser destacados os seguintes: • Identificar o perfil da situação de saúde dos trabalhadores, determinando seu perfil socioeconômico e ambiental e evidenciando o território; • Investigar e acompanhar continuamente os riscos à saúde dos trabalhadores e das populações expostas; registrar e monitorar os casos, realizando inquéritos epidemiológicos; • Efetuar, com base nos territórios, estudos da situação de saúde dos trabalhadores; • Realizar a intervenção e controledos fatores de riscos e agravos à saúde dos trabalhadores; • Monitorar adequadamente as intervenções realizadas; • Promover a disseminação de informações; • Elaborar e desenvolver ações de educação em saúde do trabalhador. Aula 5 – Epidemiologia e Processo Saúde-Doença 5.1 – EPIDEMIOLOGIA: CONCEITUAÇÃO E OBJETIVOS VIGILÂNCIA EM SAÚDE 17 Tendo como base a clínica, a estatística e a medicina social, a Epidemiologia pode ser definida como a ciência dedicada ao estudo da distribuição e dos determinantes dos fenômenos e processos relacionados à saúde-doença em humanos. Através da Epidemiologia, busca-se, por meio de medidas que possam atingir a coletividade, produzir conhecimentos e tecnologias voltadas para o favorecimento da saúde dos indivíduos. Desse modo, é uma ciência fundamentalmente social e coletiva, sendo um ramo da área da saúde coletiva. Entre os objetivos fundamentais da Epidemiologia, podemos destacar os seguintes: Caracterizar a extensão, a relevância e a distribuição das situações adversas relacionadas à saúde nas populações; Explorar os dados fundamentais para a determinação das prioridades em saúde; Conhecer os dados necessários para a garantia da adequada elaboração, desenvolvimento e monitoração das ações de promoção e recuperação da saúde da prevenção e controle de doenças; Determinar a etiologia das doenças. Os estudos epidemiológicos são divididos em Epidemiologia Descritiva e Epidemiologia Analítica. A Epidemiologia Descritiva se dedica a analisar a frequência e o comportamento da distribuição das doenças nas populações, considerando os aspectos relacionados às pessoas, ao espaço e ao tempo. Por sua vez, a Epidemiologia Analítica se dedica à análise dos fatores causais que se relacionam com a distribuição das doenças. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 18 5.2 – PROCESSO SAÚDE-DOENÇA No ano de 1947, a Organização Mundial da Saúde adotou o conceito de saúde como: um completo estado de bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença. Tal conceito busca determinar a abrangência da situação de saúde, que, devido à sua complexidade, envolve necessariamente uma série de fatores. O entendimento da condição de saúde pode ser melhor apreendido a partir da união das três seguintes dimensões: a subindividual, a individual e a coletiva. A dimensão subindividual envolve o elemento biológico (fisiológico ou patológico). A saúde é compreendida na variação entre o normal/anormal ou funcional/disfuncional. Nessa dimensão, a doença possui características clínicas específicas e é diagnosticada pelo profissional de saúde. A dimensão individual se baseia numa lógica em que o anormal ou o disfuncional acontece em pessoas que possuem natureza biológica e social desfavoráveis ou inadequadas. Assim, a saúde-doença depende de condições tanto biológicas quanto sociais. Nesse caso, entende-se que o estado de saúde pode variar entre situações extremas. A dimensão coletiva envolve o entendimento de que o processo saúde- doença não pode ser apenas o conjunto da situação biológica e social individual. A condição de saúde depende de um processo social bem maior e mais complexo, que inclui variados fatores e relações que poderão ser determinantes (domicílio, família, região, país etc.). VIGILÂNCIA EM SAÚDE 19 Percebe-se, assim, que a garantia da qualidade da saúde de um indivíduo ou população vai muito além da adequada oferta de serviços de saúde. Para a garantia do direito universal à saúde são necessárias ações muito mais amplas e abrangentes. O Brasil adota oficialmente essa perspectiva, incluindo um conceito amplo e abrangente de saúde definido na Constituição Federal de 1988: Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL. Constituição da República Federativa. Texto Constitucional promulgado em 05 de outubro de 1988) É essencial que os profissionais de saúde compreendam que, tanto a saúde quanto a doença, se relacionam ao contexto de sua abrangência complexa, envolvendo as percepções que os indivíduos e a coletividade têm desses fenômenos. Aula 6 – Critérios Para Inclusão de Agravos 6.1 – DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA O surgimento de novos casos de uma determinada doença, seja transmissível ou não; ou de um agravo, passível de prevenção e controle pelos serviços de saúde, aponta risco para a população, podendo gerar ameaças à VIGILÂNCIA EM SAÚDE 20 saúde individual e coletiva. Assim, torna-se essencial que sejam detectados e controlados em seus estágios iniciais. A notificação compulsória, baseada na lista de agravos constante no instrumento legal próprio, é a comunicação às autoridades sanitárias da ocorrência de casos individuais e de conjuntos de casos ou de surtos de doenças e agravos, sejam eles suspeitos ou que já estejam confirmados. A comunicação deve ser feita pelos profissionais de saúde, ou mesmo por qualquer cidadão, com o objetivo de que as medidas de controle cabíveis e necessárias sejam tomadas. Além das doenças e agravos em seres humanos, qualquer fato que possa acarretar a ocorrência de doenças na população também é de notificação compulsória, como nos casos de alguns eventos ambientais e doenças ou morte de determinados animais. As notificações compulsórias podem ser imediatas ou semanais de acordo com a gravidade do caso. A notificação compulsória imediata (NCI) é a notificação que deve ser realizada no prazo máximo de 24 horas após o conhecimento do episódio de doença, agravo ou evento de saúde pública, através do meio de comunicação mais rápido disponível, A notificação compulsória semanal (NCS) é aquela que deve ser feita no prazo máximo de 7 dias após o conhecimento do episódio de doença ou agravo. Há, ainda, a notificação compulsória negativa: comunicação semanal realizada pelo responsável pelo estabelecimento de saúde à autoridade de saúde, informando que na semana epidemiológica não foi identificado nenhuma doença, agravo ou evento de saúde pública constante da Lista de Notificação Compulsória. (BRASIL. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 21 Ministério da Saúde. Portaria n. 1.271, de 06 de junho de 2014) Os médicos e demais profissionais de saúde, bem como os indivíduos responsáveis pelos serviços públicos e privados que prestam assistência à saúde e ao paciente, estão obrigados a realizar a notificação. As autoridades de saúde têm a responsabilidade de garantir a adequada atualização e divulgação dos dados públicos da notificação compulsória, seja para os profissionais da área da saúde, para os órgãos de controle social ou para a população. A Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional é dada por instrumento legal específico e deve ser periodicamente revisada e atualizada, no sentido de atender às necessidades da situação de saúde. Atualmente, essa lista é definida pela Portaria n. 1.271, de 06 de junho de 2014, e consta de seu anexo. 6.2 – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO Existem variados critérios que são usados para selecionar as enfermidades que integram a relação das doenças de notificação compulsória. A seguir, serão destacados aqueles critérios mais comumente utilizados. O critério que considera o Regulamento Sanitário Internacional determina que as doenças definidas como de notificação compulsória internacional devem ser, obrigatoriamente, incluídas nas listas de todos os países membros da OPAS/OMS. O Regulamento SanitárioInternacional se configura como um instrumento voltado para o estabelecimento de procedimentos que tem como objetivo a proteção contra a disseminação de doenças no âmbito internacional. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 22 Os diversos critérios utilizados são: • Magnitude, que considera aquelas doenças caracterizadas por frequência elevada, que afetam contingentes populacionais amplos e se traduzem pela prevalência, incidência, mortalidade ou pela possibilidade de anos de vida perdidos. • Potencial de disseminação, que considera a capacidade de transmissão da doença através de vetores e outras fontes de infecção e, assim, representa importante risco para outras pessoas ou para as populações. • Vulnerabilidade, se refere aos casos daquelas doenças para as quais há métodos específicos de prevenção e controle, o que possibilita a ação real e efetiva dos serviços de saúde sobre os indivíduos, os grupos e as populações. • Transcendência, que pode ser conceituada da seguinte maneira: um conjunto de características apresentadas por doenças e agravos, de acordo com sua apresentação clínica epidemiológica. (TEIXEIRA, M.G. et al. Seleção das doenças de notificação compulsória: critérios e recomendações para as três esferas de governo. Inf. Epidemiol. Sus v.7 n.1 Brasília mar. 1998) Entre aquelas de maior relevância, pode-se citar: VIGILÂNCIA EM SAÚDE 23 a) Severidade: determinada (mensurada) através dos índices de hospitalizações, letalidade e consequências adversas; b) Relevância econômica: determinada com base em “restrições comerciais, perdas de vida, absenteísmo no trabalho, custo de diagnóstico e tratamento” (TEIXEIRA et al., 1998); c) Relevância social: considera, entre outros, os valores enraizados na sociedade relacionados ao evento, incluindo o estigma, a indignação, o medo etc. • Compromissos internacionais. Com base na premissa de que a situação de saúde do povo de um país qualquer pode influenciar (e, portanto, tem que interessar) a todos os outros países, o Brasil possui acordos com países membros da OPAS/OMS, voltados para elaboração e desenvolvimento de esforços associados que possam auxiliar a atingir metas de controle ou erradicação de determinadas doenças. • Epidemias, surtos e agravos inusitados, através do qual: VIGILÂNCIA EM SAÚDE 24 todas as suspeitas de epidemias ou de ocorrência de agravo inusitado devem ser imediatamente notificadas aos níveis hierárquicos superiores pelo meio mais rápido de comunicação disponível e devidamente investigados. (TEIXEIRA, M.G. et al. Seleção das doenças de notificação compulsória: critérios e recomendações para as três esferas de governo. Inf. Epidemiol. Sus v.7 n.1 Brasília mar. 1998) Nesse caso, os modelos e procedimentos específicos para a notificação têm que ser determinados e instituídos com base na forma de apresentação clínico-epidemiológica do evento. Os critérios aqui discutidos não esgotam o assunto, é fundamental ressaltar que é preciso que sejam sempre observados e analisados conjuntamente. Cabe ainda a observação de que, para a inclusão de uma doença, não é necessário que todos os critérios sejam atendidos ao mesmo tempo. Aula 7 – Avaliação de Sistemas de Vigilância 7.1 – DIRETRIZES DA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE VIGILÂNCIA Os sistemas de Vigilância em Saúde são essenciais para favorecer a garantia da saúde dos indivíduos e populações, devendo ter a capacidade de buscar e observar a situação de saúde, planejar e desenvolver ações necessárias, VIGILÂNCIA EM SAÚDE 25 acompanhar as ações e disseminar informações. No Brasil, a coordenação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde (SNVS) é feita pela Secretaria de Vigilância em Saúde, vinculada ao Ministério da Saúde. Considerando sua ampla relevância, torna-se fundamental que os sistemas de Vigilância em Saúde sejam constantemente avaliados, no sentido de garantir que as questões relacionadas à saúde da população estejam sendo apresentadas e monitoradas adequadamente. Entre os principais objetivos da avaliação de sistemas de Vigilância em Saúde, podem ser destacados os seguintes: - Verificar se os objetivos do sistema foram (ou estão sendo) alcançados; - garantir que as ações de vigilância são, de fato, as mais adequadas às necessidades das questões monitoradas; - analisar se há a necessidade de alguma modificação no sistema; - propor estratégias para a melhoria da qualidade, eficiência e utilidade do sistema. Um sistema de vigilância precisa ter credibilidade e utilidade, para que seu uso possa, de fato, favorecer as ações de observação, prevenção e controle que visem à garantia da situação de saúde. Nesse sentido, a avaliação da real utilidade do sistema precisa ser adequada; para sua determinação, é preciso levar em consideração os atributos dos sistemas, como por exemplo: • Simplicidade: um sistema deve ter a estrutura simplificada, especialmente para facilitar sua operação. Quanto mais simples puder ser o sistema, melhor VIGILÂNCIA EM SAÚDE 26 e mais fácil será sua operação e menos tempo será gasto com análise e manutenção; • Flexibilidade: o sistema precisa ter a capacidade de se adaptar, com poucos recursos (financeiros, humanos e técnicos), às mudanças que possam ser exigidas (relacionadas com novas informações ou mesmo com a própria forma de operação); • Aceitabilidade: o sistema deve ser atrativo para os indivíduos e organizações, no sentido de garantir seu interesse em fornecer dados precisos; • Representatividade: quanto maior for a capacidade do sistema em mostrar com precisão a ocorrência e a distribuição dos eventos, mais representativo ele será; • Estabilidade: o sistema deve ser confiável na sua capacidade de coletar e gerenciar dados e deve ser disponível quando seu uso for necessário. 7.2 – SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE A informação se configura como um dos mais relevantes instrumentos para o campo da Vigilância em Saúde. A tomada de decisões, o desenvolvimento e o acompanhamento das ações gerenciais em saúde podem ser amplamente favorecidos através da efetiva coleta e apresentação de informações corretas, principalmente no sentido de melhor direcionar a elaboração, a implantação e o desenvolvimento das ações voltadas para a melhoria da situação de saúde. Assim, é muito importante contar com Sistemas de Informação da Vigilância em Saúde bem estruturados e desenvolvidos. Sistemas de Vigilância têm sido desenvolvidos para contemplar uma gama de necessidades em saúde pública. Estes VIGILÂNCIA EM SAÚDE 27 sistemas variam de um sistema simples que coleta dados de uma única fonte, até sistemas eletrônicos que recebem dados de muitas fontes em formatos múltiplos, para pesquisas complexas. (Updated guidelines for evaluating public health surveillance systems: recommendations from de Guidelines Working Group. Morbidity and Mortality, 2001) No Brasil, entre os Sistemas de Informações em Saúde que são de interesse maior para a área da vigilância, – ferramentas voltadas para coletar e monitorar, de forma padronizada, dados de relevância para o setor –podem ser destacados os seguintes: • Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM): é voltado para a coleta dos dados de mortalidade, a partir de Declarações de Óbito; • Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC): tem a finalidade de agrupar as informações relacionadas a todos os nascimentos ocorridos no país, a partir de dados provenientes dos Cartórios de Registro Civil; • Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAM): é voltado para a reunião dos dados de notificação e pesquisa acerca das doenças e agravos da Lista Nacional de Notificação Compulsória; • Sistemade Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI): permite analisar o risco de ocorrência de epidemias ou surtos, com base nas informações acerca da quantidade de indivíduos vacinados; Além dos sistemas citados, há ainda outros sistemas de informação em saúde no Brasil que têm importância para a Vigilância, como por exemplo, o Sistema VIGILÂNCIA EM SAÚDE 28 de Vigilância Epidemiológica da Malária (SIVEP – Malária) e o Sistema do Programa Nacional de Controle da Dengue (SisPNCD), entre outros. Aula 8 – Vigilância na Atenção Básica 8.1 – INTEGRAÇÃO ENTRE ATENÇÃO BÁSICA E VIGILÂNCIA EM SAÚDE De maneira geral, os sistemas de saúde cuja orientação é pautada de forma eficiente pela Atenção Básica, costumam ser mais igualitários, apresentar maiores índices de satisfação dos usuários e conseguir melhores resultados com custos mais baixos. No Brasil, a Atenção Básica – representada especialmente pela proposta e processo de trabalho da Estratégia Saúde da Família – tem seu contexto apoiado nas realidades locais e se pauta no entendimento dos indivíduos e do processo saúde-doença com base em toda sua abrangência e complexidade. Suas ações são direcionadas pelos princípios do SUS, mas também por princípios próprios, tais como acessibilidade, territorialização e adscrição da população-alvo, humanização, resolutividade e atenção contínua. Atendendo ao objetivo de garantir a integralidade da assistência, que é uma das diretrizes do SUS, a Vigilância em Saúde tem como uma de suas responsabilidades o dever de se incluir no contexto da construção das redes de atenção, que são organizadas sob a coordenação da Atenção Primária à Saúde. Nesse sentido, é fundamental haver uma efetiva inserção das ações de Vigilância em Saúde nas práticas rotineiras dos profissionais e equipes que atuam regularmente no âmbito da Atenção Primária à Saúde, garantindo o compartilhamento de técnicas e tecnologias. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 29 A integração das práticas da Vigilância em Saúde com a Atenção Básica se conforma especialmente através das ações interdisciplinares, da abordagem integral, do favorecimento do controle social, da exigida proposta de intersetorialidade, da responsabilização territorial que demanda vigilância continuada em saúde, da necessidade de estruturação, avaliação e monitoramento das ações desenvolvidas, entre outras. As principais diretrizes para o favorecimento de uma efetiva integração da Vigilância com a Atenção Básica no Brasil são as seguintes: - Inserção progressiva das atividades próprias de Vigilância nas ações rotineiras das equipes de Saúde da Família, promovendo a harmonização das áreas de atuação; - Integração do planejamento e organização das estratégias e atividades, tanto individuais quanto coletivas; - Avaliação e acompanhamento efetivados e desenvolvidos de forma integrada; - Reorganização das estratégias de ação e das práticas através da integração de métodos e instrumentos capazes de auxiliar “a integração da vigilância, prevenção, proteção, promoção e atenção à saúde, tais como linhas de cuidado, clinica ampliada, apoio matricial, projetos terapêuticos e protocolos, entre outros” (BRASIL, 2010); - Educação continuada dos profissionais envolvidos, pautada na proposta da integração dos campos da gestão, da clínica, da promoção e da vigilância. 8.2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL VIGILÂNCIA EM SAÚDE 30 Há pelo menos duas décadas o Brasil iniciou o processo de busca da reorientação do modelo assistencial com base na Atenção Primária e na Saúde da Família. Isso evidenciou uma grande necessidade de formação e qualificação de profissionais para a atuação nessa área. Nesse sentido, foram inclusive instituídas novas diretrizes curriculares para os cursos da área da saúde. Da mesma forma, o direcionamento da organização das ações de Vigilância em Saúde para a esfera municipal, entre outros fatores, também acabou por demandar esforços continuados de formação profissional adequada. Quando se tem em mente a busca pela melhor forma de monitorar e garantir a qualidade da situação de saúde, o planejamento e desenvolvimento das ações precisam estar em sintonia. As áreas componentes da Vigilância em Saúde são tradicionalmente fundamentadas em saberes e condutas que, muitas vezes, fazem presumir uma total independência entre elas. Nesse sentido, apostar numa formação e qualificação profissional que seja capaz de promover a superação deste entendimento, além de garantir profissionais mais adequados às reais necessidades do perfil da Atenção Básica, acaba sendo uma dinâmica de grande relevância para o setor de saúde. Certamente, instituir novos direcionamentos para os currículos de cursos da área, embora seja uma estratégia relevante, não basta para, por si só, promover a necessária alteração da essência de como as ações são assimiladas e compreendidas. Assim, torna-se essencial que os modelos de formação profissional voltados para a Vigilância em Saúde e Atenção Básica envolvam diversos aspectos e naturezas , incluindo: VIGILÂNCIA EM SAÚDE 31 - Utilizar a pesquisa na formação, especialmente no sentido de instrumentalizar o desenvolvimento do método base da Vigilância em Saúde, pautado na tríade informação-decisão-ação; - Envolver os princípios do planejamento estratégico para, além de favorecer as práticas, facilitar a mobilização e motivação de todos os atores envolvidos na Atenção Básica; - Garantir a plena compreensão dos conceitos-chave e das dimensões sociais para o desenvolvimento pleno do processo; - Educar educadores, ou seja, promover transformações nos saberes e nas formas de transmissão dos mesmos; - Permitir o domínio do entendimento, da aplicação da interdisciplinaridade e da intersetorialidade, na medida em que o acompanhamento das ações desenvolvidas, especialmente quando voltadas para famílias ou comunidade, frequentemente exige a transposição dos limites tradicionais da atenção básica. Na verdade, algumas vezes é necessário até mesmo ultrapassar os limites da própria intersetorialidade. VIGILÂNCIA EM SAÚDE 32 BIBLIOGRAFIA: BRASIL. Constituição da República Federativa. Texto Constitucional promulgado em 05 de outubro de 1988. BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. BRASIL. Projeto VIGISUS – Estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 1998. 203p. BRASIL. Lei n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Curso Básico de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde. 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.252, de 22 de dezembro de 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância à Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. 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