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Desconsideração da Personalidade Jurídica

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decidiu o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que foi com o espírito 
"de proteção às entidades religiosas que a Lei Federal n. 10.825, de 2003, 
alterou o art. 44 do Código Civil, a fim de incluir as organizações religiosas 
e os partidos políticos, como pessoas jurídicas de direito privado e, ao mes-
mo tempo, acrescentar o parágrafo primeiro, o qual veda ao p'Oder público 
a negativa do reconhecimento, ou registro dos atos constitutiv.os e necessá-
rios ao seu funcionamento. A vedação presente em tal artigo não pode ser 
considerada como absoluta, cabendo ao Judiciário tutelar interesses a fim 
de certificar-se, precipuamen-te, do ·cumprimento da legislação pátria, vale 
dizer, há que se averiguar se a organização religiosa atende os requisitos 
necessários ao registro do ato constitutivo"66• 
4.1.5. Partidos políticos 
Quanto aos partidos políticos, têm eles natureza própria. Seus fins são 
políticos, não se caracterizando pelo fim econômico ou não. Assim, não 
podem ser associações ou sociedades, nem fundações, porque não têm fim 
cultural, assistencial, moral ou religioso. Não obstante, o Enunciado 142 da 
III Jornada de Direito Civil retromencionada proclama: "Os partidos polí-
ticos, sindicatos e associações ~eligiosas possuem natureza associativa, 
aplicando-se-lhes o Código Civil". Os partidos políticos serão regidos pela 
Lei n. 9.096/95, que regulamenta os arts. 14, § 32 , V, e 17 da Constituição 
Federal. 
Assinale-se, por derradeiro, que o Enunciado 144 da III Jornada de 
Direito Civil enfatiza: "A relação das pessoas jurídicas de direito privado, 
estabelecida no att. 44, incisos I a V, do Código Civil, não é exaustiva". 
Considera-se que o Código de 2002 adota um sistema aberto, alicerçado em 
cláusulas gerais, devendo as relações jurídicas previstas em lei ser conside-
radas abertas, com rol exemplificativo. 
5. Desconsideração da personalidade jurídica 
__ . __ .. .. ... . O ordenamento jurídico confere às pessoas jurídicas per~onalidÇJ.de 
distinta da dos seus ,membros. Esse princípio da autonomia patrimonial 
possibilita que sociedades empresárias sejam utilizadas como instrumento 
66 Ap. 70.027.034.164-Canoas, sn Câm. Cív., reL Des. Lopes do Canto,j. 21-1-2009. 
254 
para a prática de fraudes e abusos de direito contra credores, acarretando-
-lhes prejuízos. 
Pessoas inescrupulosas têm-se aproveitado desse princípio, com a 
intenção de se loeupletarem~em detrimento de terceiros, utilizando a pessoa 
jurídica como uma espécie de "capa" ou "véu" para proteger os seus negó-
cios escusos. 
A~reação a esses abusos ocorreu em diversos países, dando origem à 
teoria da desconsideração da personalidade jurídicá, que recebeu o nome 
de disregard doctrine ou disregard of legal entity, no direito anglo-amerr: 
cano; abus de la notion de personnalité sociafe., no direito francês; teoria 
do superamento della personalità giuridica, na doutrina italiana; teoria da 
penetração - Durchgriff der juristischen Personen, na doutrina alemã. 
Permite tal teoria que o juiz, em casos de fraude e de má-fé, descon-
sidere o princípio de que as pessoas jurídicas têm existência distinta da dos 
seus membros e os efeitos dessa autonomia, para ating:r e vincular os bens 
particulares dos sócios à satisfação das dívidas da sociedade (lifting de 
corporate veil, ou seja, erguendo-se o véu da personalidade jurídica)67 • 
Pode o juiz, nesses casos, como bem esclarece FABIO ULHOA CoELHO, 
"deixar de aplicar as regras de separação patrimonial entre sociedade e 
sócios, ignorando a existência da pessoa jurídica num caso concreto, porque 
é necéssário coibir a fraude perpetrada graças à manipulação de tais regras. 
Não seria possível a coibição se respeitada a autonomia da sociedade. Note-
-se, a decisão judicial que desconsidera a personalidade jurídica da socie-
dade não desfaz o seu ato constitutivo, não o invalida, nem importa a sua 
dissolução. Trata, apenas e rigorosamente, de suspensão episódica da efi-
cácia desse ato. Quer dizer, a constituição da pessoa jurídica não produz 
efeitos apenas no caso em julgamento, permanecendo válida e inteiramen-
67 "Desconsideração da personalidade jurídica. Admissibilidade. Sociedade por quotas de 
responsabilidade limitada. Existência de sérios indícios de que houve dissolução irregular 
·~ ~ -~ .. : .da. sociedade. visando .ou provocando lesão. patrimoniaLa: credores .. Possibilidade de que a 
penhora recaia sobre bens dos sócios" (RT, 785/373). "Empresa executada que se encontra 
fechada. Circunstância que, por si só, não constitui prova irre::'utável do encerramento irre-
gular ou ilícito de suas atividades, nem violação da lei ou do contrato social com propósito 
escuso" (RT, 790/296). "Pretendido comprometimento de bens p::.rticulares dos sócios por 
atos pra.iicados pelá sociedade. Admissibilidade sorriéíúe se~JiotiVéf prova de que a empresa 
tenha sido utilizada como instrumento para a realização de fraude ou abuso de direito" (RT, 
771/258, 773/263;784/282, 791/257). 
255 
te eficaz para todos os outros fins... Em suma, a aplicação da teoria da 
desconsideração não importa dissolução ou_<m.ulação da sociedade"68• 
Cumpre distinguir, pois, despersonalização de desconsideração da 
personalidade jurídica. A primeira acarreta a dissolução da pessoa jurídica 
ou a cassação da autorização para seu funcionamento, enquanto na segunda 
"subsiste o princípio da autonomia subjetiva da pessoa coletiva, distinta da 
pessoa de seus sócios ou componentes, mas essa distinção é afastada, pro-
visoriamente e tão s6 para o caso concreto"69• 
Como no Brasil não havia nenhuma lei que expressamente autorizas-
se a aplicação de tal teoria entre nós, valiam-se os tribunais, para aplicá-la, 
analogicamente, da regra do art. 135 do Código Tributário Nacional, que 
responsabiliza pessoalmente os diretores, gerentes ou representantes de 
pessoas jurídicas de direito privado por créditos correspondentes a obrigações 
tributárias resultantes de atos praticados com "excesso de poderes ou infra-
ção de lei, contrato social ou estatutos". 
Na doutrina, RoBE:"'S REQUIÃO foi o primeiro jurista brasileiro a tratar 
da referida doutrina entre nós, no final dos anos 1960, sustentando a sua 
utilização pelos juízes, independentemente de específica previsão legaF0• E 
o primeiro diploma a se referir a ela é o Código de Defesa do Consumidor 
(Lei n. 8.078, de 11-9-1990) que, no art. 28 e seus parágrafos, aut9riza o 
juiz a desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, "em 
detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, in-
fração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social", 
bem corho nos casos de "falência, estado de insolvência, encerramento ou 
inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração". E, ainda, 
"sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressar-
cimento de prejuízos causados aos consumidores"71 • 
A Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre atividades 
lesivas ao meio ambiente, também permite a desconsideração da pessoa 
:::-c~ Cu~so,ciJ.,_y. 2, p. 4Q!t.:.2. 
69 Fábio Konder Comparato, O poder de controle na sociedade anônima, p. 283. 
70 Aspectos modernos de direito comercial, v. 1, p. 67-86. 
71 "Desconsideração da personalidade jurídica. Verdadeiro consórcio não autorizado. Valor 
das. prestações pago à pessoa dos sócios, inexistindo prova que tenha sido repassado à so-
ciedade. Circunstâncias que caracterizam abuso de poder e em decretação da falência por 
má administração. Aplicação do art. 28 da Lei 8.078/90" (RT, 786/331). 
256 
jurídica "sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de 
prejuízos causados à qualidade do meio ambiente" (art. 42). 
Dentre as regras disciplinadoras da vida associativa em geral, previstas 
no Código Civil, destaca-se a que dispõe sobre a repressão do uso indevido 
da personalidade jurídica, quando esta for desviada de seus objetivos so-
cioeconômicos para a prática de atos ilícitos, ouabusivos. Prescreve, com 
efeito, o art. 50: 
"Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado 
pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, 
a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber in-
tervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de 
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou 
sócios da pessoa jurídica". 
Malgrado o dispositivo transcrito não utilize a expressão "descon-
sideração da personalidade jurídica", a redação original do Projeto de Código 
Civil e as emendas apresentadas demonstram que a intenção do legislador 
era a de incorporá-la ao nosso direito. 
A doutrina e a jurisprudência reconhecem a existência, no direito 
brasileiro, de duas teorias da desconsideração: a) a "teoria maior", que 
prestigia a contribuição doutrinária e em que a comprovação da fraude e do 
abuso por parte dos sócios constitui requisito para que o juiz possa ignorar 
a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas; e b) a "teoria menor", que 
considera o simples prejuízo do credor motivo suficiente para a desconsi-
deração. Esta última não se preocupa em verificar se houve ou não utiliza-
ção fraudulenta do princípio da autonomia patrimonial, nem se houve ou 
não abuso da personalidade. Se a sociedade não possui patrimônio, mas o 
sócio é solvente, isso basta para responsabilizá-lo por obrigações daquela. 
A teoria "maior", por sua vez, divide-se em objetiva e subjetiva. Para 
a primeira, a confusão patrimonial constitui o pressuposto necessário e 
suficiente da desconsideração. Basta, para tanto, a constatação da existência 
de bens de sócio registrados em nome da sociedade, e vice-versa. A teoria 
subjetiva, todavia, não prescinde do elemento anímico, presente nas hipó-
teses de desvio de finalidade e de fraude. É pressuposto inafastáveLpara a : 
desconsideração o abuso da personalidade jurídica. 
Foi adotada, aparentemente, a linha objetivista de FABIO KoNDER CoM-
PARATO, que não se limita às hipóteses de fraude e abuso, de caráter subjeti-
vo e de dif~<{il prova. Segundo a concepção objetiva, o pressuposto da des- " 
consideração se encontra, precipuamente, na confusão patrimonial. Desse 
257 
modo, se pelo exame da escrituração contábil ou das contas bancárias 
apurar-se que a sociedade paga dívidas do sócio, ou este recebe créditos 
dela, ou o inverso, ou constatar-se a existência de bens de sócio registrados 
em nome da sociedade, e-vice-versa, comprovada estará a referida confusão. 
Segundo FABIO ULHOA CoELHO, a formulação objetiva fàcilita a tute-
la dos interesses de credores ou terceiros lesados pelo uso fraudulento do 
princípio da autonomia patrimonial. Observa-se que se admite a descon-
sideração da personalidade jurídica "para coibir atos aparentemente lícitos. 
A ilicitude somente se configurará quando o ato deixa de ser imputado à 
pessoa jurídica da sociedade e passa a ser imputado à pessoa física res-
ponsável pela manipulação fraudulenta ou abusiva do princípio da auto-
nomia patrimonial"72• 
MARLON ToMAZETTE, por sua vez, discorrendo sobre o atual Código, 
afirma: "Ao contrário do que possa parecer, nosso Código não acolhe a 
concepção objetiva da teoria, pois a confusão patrimonial não é fundamen-
to suficiente para a desconsideração, sendo simplesmente um meio impor-
tantíssimo de comprovar o abuso da personalidade jurídica, que ocorre nas 
hipóteses do abuso de direito e, da fraude. Destarte, o necessário para a 
desconsideração é o abuso da personalidade jurídica, que pode ser provado 
inclusive pela configuração de uma t<mfusão patrimonial'm. 
Configura-se a confusão patrimonial quando a sociedade paga dívidas 
do sócio, ou este recebe créditos dela, ou o inverso, não havendo suficiente 
distinção, no plano patrimonial, entre pessoas -o que se pode verificar pela 
escrituração contábil ou pela movimentação de contas de depósito bancário. 
Igualmente constitui confusão, a ensejar a desconsideração da personalida-
de jurídica da sociedade, a existência de bens de sócio registrados em nome 
da sociedade, e vice-versa. Mas, como ressalta FABio ULHOA CoELHO, "ela 
não exaure as hipóteses em que cabe a desconsideração, na medida em que 
nem todas as fraudes se traduzem em confusão patrimonial"74• 
Assiste razão ao mencionado autor quando, na sequência, sustenta que 
a formulação subjetiva da teoria da desconsideração deve ser adotada "cÓmo 
o critério para circunscrever a moldura de situações em que cabe aplicá-la, 
72 Fábio Ulhoa Coelho, Curso, cit., v. 2, p. 43-44. 
-------- --nA desconsideração da personalidade jurídica: A teoria, o Código de Defesa do Consumidor 
e o Novo Código Civil, RT, 794n6. 
74 Curso, cit., v. 2, p. 44. 
258 
ou seja, ela é a mais ajustada à teoria da desconsideração. A formulação 
objetiva, por sua vez, deve auxiliar na facilitação da prova pelo demandan-
te. Quer dizer, deve-se presumir a fraude na manipUlação da autonomia 
patrimonial da pessoa jurídica se demonstrada a confusão entre os patrimô-
nios dela e de um ou mais de seus integrantes, mas não se deve deixar de 
desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade, somente porque o 
demandado demonstrou ser inexistente qualquer tipo de confusão patrimo-
nial, se caracterizada, por outro modo, a fraude". 
Nessa linha, têm os tribunais determinado a desconsideração da per-
sonalidade jurídica nos casos em que a promiscuidade patrimonial é de-
monstrada, autorizando a penhora de bens dos sócios, pois se trata de elo-
quente indicativo de fraude75 . 
Decidiu o Superior Tribunal de Justiça que "a teoria da desconsidera-
ção da personalidade jurídica (disregard doctrine), conquanto encontre 
amparo no direito positivo brasileiro, deve ser aplicada com cautela, diante 
da previsão de autonomia e existência de patrimônios distintos entre as 
pessoas físicas e jurídicas". O relator, Ministro ALDIR PASSARINHO JúNIOR, 
lembrou que a jurisprudência da referida Corte em regra dispf(nsa ação 
autônoma para se levantar o véu da pessoa jurídica, mas somente em casos 
de abuso de direito, desvio de finalidade ou confusão patrimonial é que se 
permite tal providência. Adota-se, assim, ressaltou, "a 'teoria maior' acerca 
da desconsideração da personalidade jurídica, a qual exige a confi,guração 
objetiva de tais requisitos para sua configuração"76• · 
Efetivamente, a desconsideração da pessoa jurídica exige comprovação 
de fraude, abuso de direito, desvio de finalidade ou confusão patrimonial 
para que se aplique a mencionada teoria, não se podendo aceitar corno tal 
a mera insolvência da pessoa jurídica ou dissolução irregular da empresa. 
A propósito, proclamou o Superior Tribunal de Justiça que o fato de o cre-
dor não ter recebido seu crédito frente à sociedade, em decorrência de in-
suficiência do patrimônio social, não é requisito bastante. para autorizar a 
desconsideração da pessoa jurídica77• 
75 TACSP, Agi 835.768-2-São José do Rio Preto, 9a Câm., rei. Juiz João Carlos Garcia; TJRS, 
Ap. 597.013.036, 33 Câm., rei. Des. José Carlos Teixeira Gíorgis, j. 27-ll-1997; STJ, REsp 
767.021-RJ, 1n T., rei. Min. José Delgado, DJU, 12-9-2005. 
76 STJ, REsp 1.098. 712, 4ª T., rei. Min. Aldir Passarinho Júnior; disponível em·www.edito" 
ramagister.com, 5-7-201 O. 
77 STJ, REsp 1.395.288-SP, 3n T., rei. Mín. Nancy Andrighi, j. ll-2-2014. 
259 
A excepcionalidade da aplicação da aludida teoria vem reconhecida 
no Enunciado 146 da li Jornada de Direito Civil do Conselho Nacional de 
Justiça, segundo o qual "Nas relações civis, interpretam-se restritivamente 
os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídiCa previstos no 
art. 50". 
É possível reconhecer-se o abuso da personalidade jurídica, e aplicar 
a disregard doctrine, no processo de execução, sem necessidade de proces-
so autônomo, quando não encontrados bens do devedor e estiverem presen-
tes os pressupostos que autorizam a sua invocação, requerendo-se a penho-
ra diretamente em bens do sócio (ou da sociedade,em caso de desconside-
ração inversa). O redirecionamento da ação exige, contudo, citação do novo 
executado, se não participou da lide78 • 
A propósito, dispõe o art. 134 do novo Código de Processo Civil que 
o "incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de 
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em tí-
tulo executivo extrajudicial". E o art. 135 complementa: "Instaurado o in-
cidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e reque-
rer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. 
O novo Código de Processo Civil, ao tratar do pedido de desconside-
ração da personalidade jurídica como espécie do gênero "intervenção de 
terceiros" e, ao mesmo tempo, qualificá-lo como incidente, toma superado 
o entendimento de que não se exige prévia oitiva do terceiro, cujo patrimô-
nio se quer penhorar. Essa oitiva, agora, torna-se necessária, tornando 
prévia a.oportunidade de manifestação. 
78 Calixto Salomão Filho, O novo direito societário, p. 109. Confira-se a jurisprudência: 
"Penhora em bens de sócio da empresa executada. Inocorrência da citação, em nome próprio, 
como responsável pelo débito. Inadmissibilidade. Corrente dominante na jurisprudência no 
sentido de que a constrição judicial só pode recair sobre bem do sócio tendo este sido regu-
larmente citado para integrar a relação jurídico-processual (RJTJSP, 93/85 e 288, 107/106) 
-o que in ocorreu no caso dos autc;>;" (JTACSP, 1141153-154). No mesmo sentido: RT,785/378. 
V. ainda: "Falência. Extensão dos efeitos da falência de uma empresa a outra. Aplicação da 
.. ·~. .. .. .teoria._da desconsideração da penonalidade jurídica. Possibilidade. Hipótese em que a em-
presa não foi intimada a integrar a lide. Inadmissibilidade. Violação aos princípios constitu-
cionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa" (TJSP, Boletim daMSP, 
2292, 2 a 8/2002, p. 2467-2468). "Execução. Responsabilidade patrimonial. Art. 592, CPC. 
Obrigação e responsabilidade (sclmld e haftung). Disregard doctrine. A responsabilidade pelo 
pagamento do débito pode recair sobre devedores não incluídos no título judicial exequendo 
e não participantes da relação prc.:;essual de conhecimento, considerados os critérios previs-
tos no art. 592 do CPC, sem que haja, com isso, ofensa à coisa julgada" (RSTJ, 1411456). 
260 
Salienta FLÁVIO LUiz Y ARSHELL79 que, "embora o pleito de desconside-
ração- tal como concebido pelo novo CPC- possa ser deduzido e resolvi-
do de forma incidental, isso somente ocorrerá se o requerimento de inclusão 
do responsável não ocorrer desde logo na petição inicial. Se esta última 
hipótese ocorrer, embora sejam inconfundíveis débito e responsabilidade, 
fato é que a pretensão de desconsideração passará a integrar o objeto do 
processo( ... ) Ao acolher o pedido o que o juiz faz é reconhecer a responsa-
bilidade patrimonial e, dessa forma, liberar os meios executivos sobre o 
patrimônio de pessoa que não figura como devedor". 
Proclama a Súmula n. 430 do Superior Tribunal de Justiça: "O inadim-
plemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a res-
ponsabilidade solidária do sócio-gerente". Torna-se evidente, pois, que a 
mera inadimplência no pagamento das obrigações tributárias não acarreta, 
por si só, a responsabilidade dos sócios e o consequente redirecionamento 
da execução fiscal para os sócios da empresa devedora. 
A mesma Corte editou também a Súmula n. 435, concernente ao mes-
mo tema: "Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de 
funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competen-
tes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-geren-
te". Esta súmula procura resolver os casos em que tem aplicação o art. 135 
do Código Tributário Nacional, que considera os administradores "pessoal-
mente responsáveis pelos créditos coqespondentes a obrigações tributárias 
resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, 
contrato social ou estatutos". Entende o s:uperior Tribunal de Justiça, pois, 
que a dissolução irregular da sociedade sem comunicação aos órgãos oficiais 
caracteriza "infração à lei", possibilitando a cobrança das dívidas dos sócios 
administradores, mediante o redirecionamento da execução contra eles. 
No tocante ainda ao redirecionamento da execução contra o sócio, 
entendeu o Superior Tribunal de Justiça que tal ato deve dar-se "no prazo 
de cinco anos da citação da pessoa jurídica, sendo inaplicável o disposto no 
art. 40 da Lei n. 6.830/80, que, além de referir-se ao devedor, e não ao res-
ponsável tributário, deve harmonizar-se com as hipóteses previstas .no art . 
. 174 do Código Tributário.Nacio_nal, .de modo a não tornar imprescritível a:: . 
dívida fiscal". Segundo lembrou a relatora, Ministra ELIANA CALMON, não 
79 Incidente de·lfesconsideração da personalidade jurídica: busca de sua natureza jurídica. In 
Carta Forense, maio/2015, p. A4. 
261 
obstante a citação válida de a pessoa jurídica interromper a prescrição em~­
relação aos responsáveis solidários, no caso de redirecionamento da execu-
ção fiscal, há prescrição intercorrente se decorridos mais de ·cinco anos -
entre a citação da empresa e a citação pessoal dos sócios, de modo a não 
tomar imprescritível a dívida fiscal. Mantém-se, portanto, salientou, "as 
conclusões da decisão agravada, no sentido de que, decorridos mais de 
cinco anos após a citação da empresa, dá-se a prescrição intercorrente, in-
clusive para sócios80". 
Caracteriza-se a desconsideração inversa quando é afastado o princípio 
da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a socieda-
de por obrigação do sócio, como, por exemplo, na hipótese de um dos côn-
juges, ao adquirir bens de maior valor, registrá-los em nome de pessoa jurí-
dica sob seu controle, para livrá-los da partilha a ser realizada nos autos da 
separação judicial. Ao se desconsiderar a autonomia patrimonial, será pos-
sível responsabilizar a pessoa jurídica pelo devido ao ex-cônjuge do sócio81 • 
É comum verificar, nas relações conjugais e de uniões estáveis, que os 
bens adquiridos para uso dos consortes ou companheiros, móveis e imóveis, 
encontram-se registrados em nome de empresas de que participa um deles. 
Como observa GUILLERMO Juuo BoRDA, é fácil encontrar, nas relações afe-
tivas entre marido e mulher, "manobras fraudatórias de um dos cônjuges 
que, valendo-se da estrutura societária, esvazia o patrimônio da sociedade 
conjugal em detrimento do outro (no mais das vezes o marido em prejuízo 
da esposa) e, assim, com colaboração de terceiro, reduzem a zero o patri-
mônio do casal"82• 
Não raras vezes, também, o pai esconde seu patrimônio pessoal, na 
estrutura societária da pessoa jurídica, com o reprovável propósito de es-
80 STJ, Agi 1.247.311, 2a T., rei. Min. Eliana Calmon, disponível em www.editoramagister. 
com, 23-3-2010. 
81 Fábio Ulhoa Coelho, Curso, cit., v. 2, p. 45. 
82 La personajurídica y el corrimiento de[ velo societario, p. 85. Vide, a propósito: ~'Execu-
.. __ çijQ de acordo judicial envqlvendo alimentos e valores devidos à ex-consorte a título de-:-
.-· ffi'êâção. Pedido de desconsideração inversa da personalidade jurídica, a fim de viabilizar a -
penhora de imóvel (apartamento) de propriedade da empresa da qual o executado é irrecu-
savelmente dono. Utilização pessoal e exclusiva do bem pelo devedor. Confusão patrimonial 
evidente" (TJSC, Agi 2011.059371-2, 4'~ Câm., rei. Des. Torret Rocha, j. 3-5-2012); "Des-
consideração da pessoa jurídica. Citação dos sócios em prejuízo de quem foi decretada a· 
desconsideração. Desnecessidade. Ampla defesa e contraditório garantidos com a intimação 
da constrição" (STJ, REsp 1.096.604-DF, 4a T., rei. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2-8-2012). 
262 
quivar-se do pagamento de pensão alimentícia devida ao filho. A aplicação 
da teoria da desconsideração da pessoa jurídica, quanc!o se configurar o 
abuso praticado pelo marido, companheiro ou genitorem detrimento dos 
legítimos interesses de seu cônjuge, companheiro ou t1lho, constituirá um 
freio às fraudes e abusos promovidos sob o véu protetivo da pessoa jurídica. 
Igualmente no campo do direito das sucessões podem ocorrer abusos 
que justificam a aplicação da aludida teoria, especialmente nas hipóteses 
de utilização de pessoas jurídicas por genitores que pretendem beneficiar 
alguns filhos em detrimento de outros, frustrando o direito à herança des-
tes. A aplicação da teoria da desconsideração ÍI)-versa poderá também ser 
invocada pelo prejudicado, para obter o reconhecimento de seu direito 
integral à herança. 
A respeito da desconsideração inversa, enfatizou o Superior Tribunal 
de Justiça: 
"A desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-se 
pelo afastamento da autocomia patrimonial da sociedade, para, contraria-
mente do que ocone na desconsideração da personalidade proprjamente 
dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a responsabi-
lizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio controlador. 
Considerando-se que a finalidade da disregard doctrine é combater a 
utilizaÇão indevida do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer 
também nos casos em que o sócio controlador esvazia o seu patrimônio 
pessoal e o integraliza na pessoa jurídica, conclui-se, de uma interpretação 
teleológica do art. 50 do CC/02, ser possível a desconsideração inversa da 
personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade em razão de 
dívidas contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os requi-
sitos previstos na norma"83• 
O art. 133, § 22 , do novo Código de Processo Civil, ao tratar do inci-
dente da desconsideração da personalidade jurídica, proclama: 
"§ 22 Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desc-onsidera-
ção inversa da personalidade jurídica" . 
. · .. :::..::. :.. ·---·A 411 Turma do Superior'fribunal de:-Justiça;:alinhando-se à posição já· 
adotada pela 3ll Turma (ambas compõem a 2ll Seção), decidiu que a pessoa 
jurídica tem legitimidade para impugnar a desconsideração de sua persona-
83 STJ, REsp 948.1-17-MS, 31 T ... rei. Min. Nancy Andrighi, DJE, 3-8-2010. 
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Jidade jurídica, especialmente quando a empresa se distancia de sua finali-
dade original, de forma fraudulenta, e isso afeta seu patrimônio moral84• 
Tal entendimento aplica-se sobretudo às hipóteses de desconsidera-
ç~o inversa. 
6. Responsabilidade das pessoas jurídicas 
A responsabilidade jurídica por danos em geral pode ser penal e civil. 
A primeira é prevista, como inovação em nosso ordenamento, na Lei n. 
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que trata dos crimes ambientais. 
O Código Penal brasileiro mostrava-se desatualizado para reprimir os 
abusos contra o meio ambiente, visto que ao tempo de sua elaboração não 
havia, ainda, preocupação com o problema ecológico. Urgia, portanto, que 
seTeformulasse a legislação pertinente (Código Penal, Código de Águas, 
Código Florestal, Código de Caça, Código de Pesca, Código de Mineração) 
para que medidas de caráter preventivo e repressivo fossem estabelecidas 
no âmbito penal, capazes de proteger a sanidade do ambiente não só contra 
os atos nocivos de pessoas individuais como também de entidades respon-
sabilizadas pelos delitos ecológicos. 
A citada Lei n. 9.605/98 veio atender a esse reclamo, responsabilizan-
do administrativa, civil e penalmente as pessoas jurídicas "nos casos em que 
a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, 
ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade" (art. 
32 ), não excluída "a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do 
mesmo fato" (parágrafo único). As penas aplicáveis são: multa, restritivas 
de direitos e prestação de serviços à comunidade (art. 21). 
6.1. Responsabilidade das pessoas jurídicas de direito privado 
No âmbito civil, a responsabilidade da pessoa jurídica pode ser con-
tratual e extracontratual, sendo para esse fim equiparada à pessoa natural. 
Na órbita contratual essa.fesponsabilidade, de caráter patrimonial, emerge 
do. art. 389 do Código Civil: "Não cumprida a obrigação, responde o de-
vedorpm:.perdas e danos, mdis juros e atualização-monetária segundo 
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado". 
84 STJ, REsp 1.208.852, 4~ T., rei. Min. Luis Felipe Salomão, disponível em www.conjur. 
com.br, 20-5-2015. 
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