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Literatura Surda - Produção Textual

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Indaial – 2019
Literatura Surda: 
Produção textuaL 
em LibraS
Prof.a Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof.a Janaina Carla da Cruz
Prof.a Liliane Vieira Vega Garrão
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof.ª Janaina Carla da Cruz
Prof.ª Liliane Vieira Vega Garrão
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
B238l
Barbosa, Ana Clarisse Alencar
Literatura surda: produção textual em libras. / Ana Clarisse 
Alencar Barbosa; Janaina Carla da Cruz; Liliane Vieira Vega Garrão. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
165 p.; il.
ISBN 978-85-515-0391-1
1. Literatura Surda. - Brasil. I. Barbosa, Ana Clarisse Alencar. II. 
Cruz, Janaina Carla da. III. Garrão, Liliane Vieira Vega. IV. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 370
III
aPreSentação
Caro acadêmico, seja muito bem-vindo ao Livro Didático Literatura 
Surda! Neste material, você encontrará um universo muito rico, recheado de 
cultura e de olhares muito peculiares. Vamos viajar pela história das pessoas 
surdas! Você já parou para pensar em como era a vida dessas pessoas em 
tempos remotos, quando não existiam políticas públicas nem tecnologias? 
Este livro proporcionará esta reflexão como também trará artefatos da cultura 
e da comunidade surda. 
Não paramos por aí não! Vamos explorar a Literatura Surda no 
Brasil, falar sobre produções de surdos, sobre a Língua de Sinais, sobre a 
importância da contação de histórias para crianças surdas e aprender muito 
sobre Literatura Surda. Convidamos você a entrar nesta aventura com muita 
empatia e curiosidade. Certamente estes conhecimentos mudarão sua forma 
de ver e pensar o sujeito surdo, e caso ainda não tenha nenhum conhecimento 
sobre esta cultura, poderá ampliá-los de forma interessante, pois este livro 
foi pensado com muito carinho partindo das experiências e vivências das 
autoras que estão imersas neste mundo. Iniciemos nossa viagem!
Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof.ª Janaina Carla da Cruz
Prof.ª Liliane Vieira Vega Garrão
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os 
seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que 
possuem o código QR Code, que é um código que 
permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo 
conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está 
em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos 
pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE 
A HISTÓRIA DOS SURDOS ...................................................................................1
TÓPICO 1 – MARCOS HISTÓRICOS ..............................................................................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 MARCOS HISTÓRICOS...................................................................................................................3
2.1 SURDOS NO BRASIL ....................................................................................................................8
3 OS SURDOS TÊM CULTURA E IDENTIDADE? .......................................................................10
4 CONCEITO DE CULTURA SURDA ...............................................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................16
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................17
TÓPICO 2 – PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA ...........................................................19
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................19
2 COMO PODEMOS COMPREENDER E ENVOLVER AS PECULIARIDADES 
DA CULTURA SURDA? ...................................................................................................................19
3 CURIOSIDADES SOBRE A CULTURA SURDA .........................................................................25
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................30
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................31
TÓPICO 3 – A CULTURA SURDA E A LITERATURA ..................................................................33
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................33
2 A REPRESENTAÇÃO IMAGINÁRIA SOBRE A CULTURA SURDA.....................................33
3 ARTEFATOS CULTURAIS DO POVO SURDO ..........................................................................36
3.1 ARTEFATO CULTURAL: LITERATURA SURDA ....................................................................44
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................47
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................53
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................55
UNIDADE 2 – LITERATURA SURDA NO BRASIL ......................................................................57
TÓPICO 1 – A CONTAÇÃO DE ESTÓRIAS ...................................................................................59
1INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................59
2 LITERATURA SURDA NO BRASIL: CONTEXTO HISTÓRICO ...........................................60
3 A IMPORTÂNCIA DO CONTAR ESTÓRIAS .............................................................................65
4 O SURDO COMO CONTADOR DE HISTÓRIAS ......................................................................69
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................71
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................72
TÓPICO 2 – A PRODUÇÃO CULTURAL DOS SURDOS
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................73
2 PRODUÇÃO CULTURAL DE SURDOS EM LÍNGUA DE SINAIS ........................................73
2.1 PRODUÇÕES EDITORIAIS SURDAS ........................................................................................76
Sumário
VIII
3 SUGESTÕES DE PRODUÇÃO CULTURAL DE SURDOS EM LÍNGUA DE SINAIS ........80
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................83
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................84
TÓPICO 3 – A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO .....................................................87
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................87
2 LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA .......................................87
3 LÍNGUA DE SINAIS RESSIGNIFICADA NA INCLUSÃO ......................................................96
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................102
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................109
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111
UNIDADE 3 – DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: 
 A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS .............................113
TÓPICO 1 – LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA ...................115
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115
2 LITERATURA SURDA: UM OLHAR PARA AS NARRATIVAS ..............................................115
2.1 NARRATIVAS E ESCRITAS .........................................................................................................121
2.2 NARRATIVAS SURDAS SOBRE A COMUNIDADE SURDA ................................................121
3 A NARRATIVA EM LÍNGUA DE SINAIS: UM OLHAR SOBRE CLASSIFICADORES ....122
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................128
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129
TÓPICO 2 – POESIA E LÍNGUA DE SINAIS..................................................................................131
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131
2 POESIA EM LÍNGUA DE SINAIS: TRAÇOS DA 
 IDENTIDADE SURDA......................................................................................................................131
3 LITERATURA EM LÍNGUA GESTUAL ........................................................................................138
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................140
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................141
TÓPICO 3 – LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB 
 DIFERENTES POSSIBILIDADES ...............................................................................143
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143
2 LITERATURA INFANTIL DO SÉCULO XXI ................................................................................143
3 POSSIBILIDADES DE LEITURA DA DIFERENÇA SURDA NO CINEMA .........................147
4 DESAFIOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LITERATURA 
 OUVINTE PARA A LÍNGUA DE SINAIS .....................................................................................151
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................156
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................158
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................161
1
UNIDADE 1
MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS 
REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA 
DOS SURDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender como surgiu a história dos surdos na antiguidade;
• refletir a trajetória da vida das pessoas surdas com as suas lutas, derrotas 
e conquistas através da Língua de Sinais;
• discriminar a diferença entre as identidades surda e ouvinte;
• estabelecer relações entre os artefatos da cultura surda;
• apreciar o ser surdo como um sujeito capaz e sem limitações;
• valorizar a comunidade surda presente nos dias atuais.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – MARCOS HISTÓRICOS 
TÓPICO 2 – PARTICULARIDADES DA CULTURA SURDA
TÓPICO 3 – A CULTURA SURDA E A LITERATURA
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
MARCOS HISTÓRICOS
1 INTRODUÇÃO
Vamos percorrer um pouco sobre esses registros históricos da trajetória 
das pessoas surdas. Há variadas versões sobre a história. Encontramos registros 
remotos, como, por exemplo, textos bíblicos e fatos do Egito antigo: “No Egito, 
pensava-se que os surdos tinham sido escolhidos especialmente pelos deuses” 
(SERRAS; SANTOS, 2019, s. p.). O que comprova que, desde o início da 
humanidade, os surdos já se faziam presentes. 
Este livro didático fará você refletir um pouco sobre a história dos surdos, 
contada por uma pessoa surda. Não sei se você já se deu conta, mas muitos dos 
registros escritos foram feitos por pessoas ouvintes, pessoas que viveram ao 
lado da pessoa surda, porém não são surdas, ou seja, não vivenciaram a surdez. 
Neste capítulo, nos atentaremos aos fatos históricos relacionados aos surdos a 
partir do século XVI. 
2 MARCOS HISTÓRICOS
Na história da inclusão, pessoas com qualquer tipo de deficiência eram 
marginalizadas e deixadas a própria sorte, tinham direito à vida, mas ainda 
assim, não tinham o direito de viver. Nesta época, antes de 1750, envolvendo 
pessoas com surdez, trazemos Sacks (1998) para clarear:
A situação das pessoas com surdez pré-linguística antes de 1750 era 
de fato uma calamidade: incapazes de desenvolver a fala e, portanto, 
“mudas”, incapazes de comunicar-se livrementeaté mesmo com 
seus pais e familiares, restritas a alguns sinais e gestos rudimentares, 
isoladas, exceto nas grandes cidades, até mesmo da comunidade de 
pessoas com o mesmo problema, privadas de alfabetização e instrução, 
de todo o conhecimento do mundo, forçadas a fazer os trabalhos 
mais desprezíveis, vivendo sozinhas, muitas vezes à beira da miséria, 
consideradas pela lei e pela sociedade como pouco mais do que imbecis 
– a sorte dos surdos era evidentemente medonha (SACKS, 1998, p. 27).
Conheceremos melhor, a seguir, a história cultural do povo surdo. Todavia, 
o que é um povo surdo? Karin Strobel, surda, doutora pela Universidade Federal 
de Santa Catarina, em uma de suas obras nos diz que o povo surdo é: 
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
4
Um conjunto de sujeitos surdos que não habitam o mesmo local, mas 
que estão ligados por uma origem, tais como a cultura surda, uso da 
Língua de Sinais, têm costumes e interesses semelhantes, histórias 
e tradições comuns e qualquer outro laço compartilhado. Como a 
referência de povo surdo, como qualquer outro grupo, eles também não 
constituem um grupo homogêneo. Têm distintas identidades surdas, 
múltiplas e multifacetadas, construídas também a partir de "marcadores 
de diferença” (STROBEL, 2008b apud WITKOSKI, 2015, p. 25).
A história dos povos surdos surgiu com os professores ouvintes, que 
iniciaram os trabalhos com surdos, filhos dos nobres, através da evolução da 
medicina para a cura da surdez e pelas metodologias utilizadas por ouvintes na 
educação dos surdos. Strobel (2008) também conta que a história cultural dos 
surdos é pouco exposta. Seria uma ligação relevante para a legitimação do modelo 
cultural do ser surdo se existissem registros das próprias pessoas surdas. Ainda 
assim, o atual estudo sobre a história cultural dos surdos, feito pelos próprios 
surdos, vem trazendo uma grande mudança e um novo olhar para essa história.
 
Essa nova perspectiva, trazida agora pelo próprio sujeito surdo, não se 
dá através dos padrões tradicionais. A atual visão da história se constitui a partir 
dos discursos feitos nas associações de comunidades surdas, pelos professores 
surdos que atuam nos ambientes escolares e perpassam desde a Educação Infantil 
até o Ensino Superior, nos encontros de pessoas surdas, fortalecidos por líderes 
surdos, pela luta por uma pedagogia bilíngue, enfim, pelos diversos movimentos 
políticos do povo. No entanto, os registros históricos são escritos feitos através de 
metanarrativas ouvintes. Apesar de terem um imenso valor histórico, pois não 
existiam registros, para o povo surdo esses registros não legitimam sua história, 
por não fazerem parte deste processo. Profissionais e familiares vivenciaram, lado a 
lado, os mais variados avanços de toda a ordem, e o que temos hoje são registros de 
uma visão crítica dos sujeitos ouvintes. Estes nos trazem que ao longo da história 
o povo surdo foi barbarizado, assim como as demais pessoas com deficiência 
sofreram processos discriminatórios e estigmatizantes, pois, naquela época, para a 
sociedade, eram vistos como incapazes e inferiores, por isso, eram castigados.
Metanarrativas: Segundo Silva (2000, p. 78) é “qualquer sistema teórico ou 
filosófico com pretensões de fornecer descrições ou explicações abrangentes e totalizantes 
do mundo ou da vida social. A mesma coisa que ‘grande narrativa’ ou ‘narrativa mestra’”.
NOTA
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
5
No século XVI, os surdos não eram reconhecidos pela lei como pessoas por 
não saberem falar e nem ler. E, por serem considerados incapazes ou desprovidos de 
inteligência não tinham o direito de ter seus nomes incluídos no rol de heranças das 
famílias nobres. Na medida em que os primogênitos surdos não tinham esse direito, os 
nobres sentiam-se ameaçados, pois isso colocava em risco a riqueza de toda a família. 
Nessa época encontram-se registros de que os nobres, a fim de garantir que 
suas fortunas estivessem seguras entre si, organizavam casamentos entre os membros 
das próprias famílias. Foi nesta época que nomes como Pedro Ponce de Léon, os 
Braidwoods, Amman, Perreire e Deschamps começam a aparecer na sociedade, 
ouvintes, de diversos lugares, dispostos a ensinar os filhos surdos dos nobres.
FIGURA 1 – ESTÁTUA DE PEDRO PONCE DE LEÓN EM MADRI
FONTE: Witkoski (2015, p. 29) 
Pedro Ponce de León ensinou aos surdos o uso dos gestos e do alfabeto 
datilológico para a soletração manual. O objetivo de Ponce, ao usar o alfabeto manual, 
era ensinar os surdos a ler e escrever. Conforme a autora surda Strnadová aborda:
A história diz que o alfabeto manual era utilizado na Inglaterra já no 
século VIII pelos monges que fizeram o voto de silêncio. Estão vendo 
como é forte a necessidade de comunicação com as pessoas ao redor? 
Essa necessidade obrigou um servo de Deus a dar um jeito no voto 
sagrado, em quebrá-lo. Não conversavam entre si em voz alta, porém 
seus dedos tagarelavam. Eram monges, mas não bobos (STRNADOVÁ, 
2000 apud WITKOSKI, 2015, p. 29).
Apesar desses profissionais se empenharem no ensino do sujeito surdo, a 
intenção ainda era garantir as heranças. Todavia, nesse momento, a comunicação 
através de sinais também começa a ganhar espaço. A autora Lane (1984 apud 
SACKS, 1998, p. 28), ressalta que: “muitos desses educadores recorriam a sinais e 
soletravam com o dedo para ensinar a falar. De fato, até mesmo os mais célebres 
desses pupilos surdos ensinados a falar conheciam e usavam a Língua de Sinais”. 
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
6
Percebe-se, no decorrer da trajetória histórica, que a Língua de Sinais se 
constitui e se funde à constituição da pessoa surda. Percebe-se, também, o quanto 
o sujeito surdo sofreu com a destituição íntima do seu ser. Entendia-se que, 
naquela época, a surdez pré-linguística fazia da pessoa surda um ser em estado 
deplorável. Essa situação despertou curiosidade e compaixão dos filósofos da 
época. Foi quando o abade francês Sicard fez a seguinte pergunta:
Por que a pessoa surda sem instrução é isolada na natureza e incapaz 
de comunicar-se com outros homens? Por que ela está reduzida a esse 
estado de imbecilidade? Será que sua constituição biológica difere da 
nossa? Será que ela não possui tudo o que precisa para ter sensações, 
adquirir ideias e combiná-las para fazer tudo o que fazemos? Será que 
não recebe impressões sensoriais dos objetos como nós recebemos? Não 
serão essas, como ocorre conosco, a causa das sensações da mente e das 
ideias que a mente adquire? Por que então a pessoa surda permanece 
estúpida enquanto nos tornamos inteligentes? (SACKS, 1998, p. 28).
Segundo o autor, a resposta está no uso dos símbolos. E complementa com 
a explicação de Sicard sobre a existência de um vácuo absoluto de comunicação 
entre a pessoa surda e as outras pessoas. Foi a partir do século XVI que os olhares 
para as pessoas surdas ficaram mais intensos. É neste século, também, que surge 
o abade De l’Epée, figura que muda a história dos surdos para sempre. A maior 
motivação de l’Epée, em relação à marginalização dos surdos, era o fato de ele 
não aceitar que os “surdos-mudos” nasciam e morriam sem serem ouvidos em 
confissão, privados do Catecismo, das Escrituras e das Palavras de Deus. Abade 
l’Epée direcionou sua atenção a seus pupilos surdos, e fez o que nenhum outro 
ouvinte havia feito até o momento:
[...] E então associando sinais a figuras e palavras escritas, o abade 
ensinou-os a ler; e com isso, de um golpe, deu-lhes o acesso aos 
conhecimentos e à cultura do mundo. O sistema de sinais “metódicos” 
De l’Epée – uma combinação da Língua de Sinais nativa com a 
gramática francesa traduzida em Sinais – permitia aos alunos surdos 
escrever o que era dito por meio de um intérprete que se comunicava 
por Sinais, um método tão bem-sucedido que, pela primeira vez, 
permitiu que alunos surdos comuns lessem e escrevessem em francês 
e, assim, adquirissem educação (SACKS,1998, p. 30).
L’Epée fundou uma escola em 1755, que foi a primeira a angariar recursos 
públicos. Em 1776, seu livro escrito de modo revolucionário foi publicado pela 
primeira vez, tornando-se uma obra clássica e disponível em muitas línguas. Abade 
foi um multiplicador de professores para surdos, e quando faleceu, em 1789, já 
contava com vinte e uma escolas para surdos na França e Europa. Em 1971 a escola 
de l’Epée se transforma na National Institution for Deaf-Mutes em Paris, dirigida por 
Sicard. Abade l’Epée transformou a história dos surdos. Em 1779 foi publicado o 
primeiro livro escrito por um surdo, Pierre Desloges, que perdeu a audição aos 
sete anos de idade, vítima de varíola. Aprendeu a língua gestual aos vinte anos. E, 
apesar de ser talentoso, demonstra em seu relato, que não conseguiria participar de 
um discurso lógico se não fosse através da Língua de Sinais. 
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
7
No início de minha enfermidade, enquanto vivi separado de outras 
pessoas surdas [...], não tive conhecimento da Língua de Sinais. Eu 
usava apenas sinais esparsos, isolados e não relacionados. Desconhecia 
a arte de combiná-los para formar imagens distintas com as quais 
podemos representar várias ideias, transmiti-las a nossos iguais e 
conversar em discurso lógico (LANE, 1984 apud SACKS, 1998, p. 31).
Desde então a história dos surdos passou a tomar um novo rumo e os 
surdos agora eram vistos. Embora nem mesmo l’Epée acreditasse que a Língua 
de Sinais fosse completa, capaz de permitir aos seus usuários o discernimento 
para discussão sobre qualquer assunto, os surdos passaram a sair da escuridão e 
a emergir na sociedade. Em 1816, Laurent Clerc chega aos Estados Unidos. Pupilo 
de abade Sicard e do surdo Jean Massieu, Clerc mobilizou professores americanos, 
que até então desconheciam que um surdo poderia ter tamanha inteligência e 
notável educação. Ele e Thomas Gallaudet fundaram a American Asylum for the 
Deaf, em Hartford. É nesse ambiente que o sistema francês de sinais, trazido por 
Clerc, passa a interagir com a língua nativa, e a American Sign Language - ASL 
Língua de Sinais Americana - toma forma e espaço. O desenvolvimento dos 
surdos americanos foi tão eficaz quanto para os surdos da França, difundindo-se 
rapidamente para outras partes do mundo. Prova disso é a University Gallaudet, 
fundada em 1864, e que continua até os dias atuais, sendo a única faculdade de 
ciências humanas do mundo para alunos surdos.
FIGURA 2 – CHARLES-MICHEL L’EPÈE
FONTE: Witkoski (2015, p. 29)
Porém, a história dos surdos passaria por um momento crítico, que 
duraria um século. Após a morte do grande ativista Clerc (1785 – 1869) houve 
uma grande virada contra a Língua de Sinais. Durante todo o percurso em que a 
Língua de Sinais foi crescendo, paralelamente existiam as linhas opostas daqueles 
que acreditavam ser o oralismo a melhor forma de comunicação. Indignavam-se 
com o uso de sinais sem o uso da fala, acreditavam estarem os surdos restritos à 
vida cotidiana. Os professores de surdos viviam verdadeiros dilemas e dividiam-
se entre o oralismo e a comunicação por meio dos sinais.
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
8
 Havia surgido uma profusão de “reformadores” – Samuel Gridley 
Howe e Horace Mann foram exemplos notórios – que clamavam pela 
derrubada dos “obsoletos” asilos que adotavam a Língua de Sinais e 
pela introdução de escolas oralistas “progressivas” [...]. Mas o mais 
importante e poderoso dos representantes “oralistas” foi Alexander 
Graham Bell, que, por um lado, herdou uma tradição familiar de 
ensinar elocução e corrigir os impedimentos da fala (seu pai e seu 
avô destacaram-se nessa área), estando preso a uma estranha mistura 
familiar de surdez (sua mãe e sua esposa eram surdas, mas nunca 
admitiram isso), e, por outro, naturalmente, foi por si só um gênio 
tecnológico. Quando Bell jogou todo o peso de sua imensa autoridade 
e prestígio na defesa do ensino oral para surdos, a balança finalmente 
pendeu, e no célebre Congresso Internacional de Educadores de Surdos, 
realizado em 1880 em Milão, no qual os próprios professores surdos 
foram excluídos da votação, o oralismo saiu vencedor e o uso da Língua 
de Sinais nas escolas foi “oficialmente” abolido (SACKS, 1998, p. 39).
A partir do Congresso de Milão, os professores ouvintes, que na sua 
maioria não conheciam a Língua de Sinais, passaram a ensinar alunos surdos 
ocupando as vagas dos professores surdos, e cada vez mais o inglês foi se tornando 
a língua de instrução de alunos surdos. O oralismo, sem a Língua de Sinais, foi 
deteriorando o aproveitamento educacional das crianças surdas e a instrução dos 
surdos de um modo geral.
FIGURA 3 – IMAGEM DE ALEXANDER GRAHAM BELL E FAMÍLIA
FONTE: Witkoski (2015, p. 29)
2.1 SURDOS NO BRASIL
A história dos surdos no Brasil tem os mais importantes registros a partir 
da fundação do Colégio Nacional para Surdos-Mudos, no século XIX, ideia 
trazida pelo francês E. Huet, que apresentou um relatório com sua intenção de 
fundar uma escola de surdos no Brasil. A seguir, uma breve visita aos momentos 
mais marcantes da fundação dessa escola, apresentados pela autora Strobel:
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
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1855 - Eduardo Huet, professor surdo com experiência de mestrado e cursos 
em Paris, chega ao Brasil sob beneplácido do imperador D. Pedro II, com 
a intenção de abrir uma escola para pessoas surdas. 1857 - Foi fundada a 
primeira escola para surdos no Rio de Janeiro – Brasil, o “Imperial Instituto 
dos Surdos-Mudos”, hoje, “Instituto Nacional de Educação de Surdos”– 
INES, criada pela Lei nº 939 (ou 839?) no dia 26 de setembro. Foi nesta 
escola que surgiu, da mistura da Língua de Sinais francesa com os sistemas 
já usados pelos surdos de várias regiões do Brasil, a LIBRAS (Língua 
Brasileira de Sinais). Dezembro do mesmo ano, Eduardo Huet apresentou 
ao grupo de pessoas, na presença do imperador D. Pedro II, os resultados 
de seu trabalho causando boa impressão. 1861 - Ernest Huet foi embora 
do Brasil, devido aos seus problemas pessoais, para lecionar aos surdos no 
México. Neste período, o INES ficou sendo dirigido por Frei do Carmo que 
logo abandonou o cargo alegando: “Não aguento as confusões” e com isto 
foi substituído por Ernesto do Prado Seixa. 1862 - Foi contratado para cargo 
de diretor do INES, Rio de Janeiro, o Dr. Manoel Magalhães Couto, que 
não tinha experiência de educação com os surdos (STROBEL, 2008, p. 24).
No Brasil, as deliberações do Congresso de Milão afetaram de forma devastadora 
a educação de surdos. O INES também adotou o oralismo e foram cem anos de regressos 
irreversíveis na educação de muitos surdos. Contudo, os anos se passaram, e apesar de 
proibidas, as Línguas de Sinais continuaram vivas e onde existissem surdos reunidos 
havia também a comunicação através dos sinais de forma escondida. Durante muito 
tempo, surdos e ouvintes defensores da comunicação gestual buscaram estratégias e 
recursos para legalizar o uso da Língua de Sinais. No Brasil, a oficialização da Língua 
de Sinais se dá em 2002 através da Lei 10.436, de 24 de abril. Momento de júbilo para 
os surdos brasileiros. A partir da sanção da Lei, os surdos não mais precisaram se 
esconder para se comunicar através daquela que é a sua língua nativa, aquela que traz 
compreensão, que expressa sentimentos, que permite o discurso lógico.
Como mencionamos anteriormente, é rara a história dos surdos ter 
registros dos próprios surdos. Os ouvintes sempre estiveram representando o 
povo surdo. Uma pergunta a se refletir: Onde estão os registros que possuem os 
atos históricos dos surdos que compartilhavam e lutavam ao lado do povo surdo? 
Foram deixados de lado esquecidos, tornaram-se invisíveis? Strobel cita: 
E assim com esses “esquecimentos estereotipados” a história cultural vem 
expondo o povo surdo. Transparece a discriminação da cultura surda. 
Tudo isso fez produzir os movimentos de lutas políticas por consideração, 
a históriasurda, as identidades surdas, a Língua de Sinais e a pedagogia 
surda, fazendo garantir o afastamento da visão de “anormalidade” e 
aproximação de comunidades surdas, povo surdo, sendo considerados 
como sujeitos surdos, diferentes (STROBEL, 2008, p. 91).
Durante cem anos, ouvintes leigos, no que diz respeito à subjetividade da 
pessoa surda, determinaram a forma como eles deveriam se comunicar. Não houve 
em nenhum momento uma empatia com os sentimentos daqueles que estavam 
literalmente “mudos”, sendo privados de usar sua língua materna, tendo as mãos e 
almas acorrentadas em prol de uma cultura majoritária que julgou saber o que era 
melhor para a educação dos surdos. A lei que legaliza a Língua Brasileira de Sinais 
é um elixir para a alma daqueles que tiveram duras marcas de uma grande lacuna 
na sua história. Seus direitos foram capturados e agora são trazidos de volta.
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
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Art.1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a 
Língua Brasileira de Sinais – Libras, além de outros recursos de expressão 
associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais 
- Libras a forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico 
de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui 
um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de 
comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002).
A Lei no 10436/02 libertou o povo surdo brasileiro. Passou a utilizar a sua 
língua materna sem represálias. Por isso, a legalização da Libras é um marco 
importante na história dessa gente. E isso só aconteceu no século XX, lembrando 
que iniciamos nossa narrativa no século XVI. Embora tenha sido um grande e 
precioso passo, a lei não abrange todas as necessidades do sujeito surdo. Ela traz 
pontos importantes, como a garantia por parte do poder público, o apoio ao uso 
e difusão da língua, a garantia ao atendimento de saúde, a obrigatoriedade do 
ensino da língua nos cursos de magistério e licenciaturas. Porém, não há uma 
forma detalhada e específica de como isso deva acontecer, e por não estar claro, 
alguns direitos acabaram ficando em estado latente por três longos anos.
DICAS
Em 2005, a história recebe o Decreto 5626, que vem para regulamentar, 
complementar e ativar a Lei 10436/05, que trata sobre o uso e difusão da Língua de Sinais e 
dispõe também sobre a Lei 10.098/00, que estabelece normas e critérios básicos acerca da 
acessibilidade das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Há a definição também 
de quem é o sujeito surdo e quem é a pessoa com deficiência auditiva, contemplando vários 
aspectos da vida de um cidadão no que diz respeito ao direito à educação, saúde e acesso à 
informação. Confira a Lei 10.436/02 e o Decreto 5626/05 na íntegra, em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10436.htm.
FONTE: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5626.htm. 
Acesso em: 17 jun. 2019.
3 OS SURDOS TÊM CULTURA E IDENTIDADE? 
Quando você visualiza ou ouve a palavra “cultura”, o que lhe vem à mente? E 
quando se trata de “Cultura Surda”, qual aferição você faz? Vamos conhecer um pouco 
sobre uma cultura muito peculiar. O conceito da palavra cultura resulta em muita 
polêmica, pois existem várias opiniões sobre o conceito, idealizadas por pesquisadores 
e, até mesmo, por pessoas leigas. Existem variados conceitos e estudos culturais, porém 
vamos nos ater a um dos significados da palavra e de acordo com o que encontramos 
no dicionário Aurélio, uma das definições menciona que: “cultura” é um “conjunto 
dos hábitos sociais e religiosos, das manifestações intelectuais e artísticas, caracteriza 
uma sociedade, cultura inca, cultura helenística. Normas de comportamento, saberes, 
hábitos ou crenças que diferenciam um grupo de outro” (DICIO, 2019, s. p.).
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
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Partindo desses conceitos, ao pensarmos cultura enquanto conjunto de hábitos 
sociais ou normas de comportamento, subentende-se que as diversidades culturais se 
dão a partir das diferenças regionais. Normalmente, a palavra cultura remete-nos a 
uma comida típica, uma forma de se vestir, e lembramo-nos dos hábitos mais diversos e 
interessantes. Se refletirmos apenas em relação ao nosso país, já encontramos inúmeras 
manifestações culturais, sendo possível encontrar diferenças até mesmo de uma cidade 
para outra, em um mesmo estado. Porém, além de toda essa diversidade, ainda falamos 
de uma cultura majoritária, aquela em que uma grande parte da população faz parte. 
Dentro da cultura majoritária, nasce, cresce e se constitui o sujeito surdo. 
Analisemos o seguinte caso: um bebê surdo nasce em uma cidade do estado do 
Rio de Janeiro - RJ, em uma família tradicional de ouvintes. O bebê irá crescer em um 
ambiente cultural carioca, com seus costumes e tradições daquela região. Entretanto, 
essa criança tem uma particularidade: ela não ouve, é surda. Porém, a maioria dos 
cariocas é ouvinte. Esse bebê receberá, de forma fragmentada, a cultura majoritária de 
sua cidade. Durante sua infância, frequentará escolas e espaços que farão parte da sua 
constituição. Se o sujeito tiver acesso à Língua de Sinais e à comunidade surda, que é a 
minoria, passará a adquirir também a cultura surda.
Talvez seja fácil definir e localizar, no tempo e no espaço, um grupo 
de pessoas, mas quando se trata de refletir sobre o fato de que nessa 
comunidade surgem – ou podem surgir – processos culturais, é comum a 
rejeição à ideia da "cultura surda", trazendo como argumento a concepção 
da cultura universal, a cultura monolítica. Não me parece possível 
compreender ou aceitar o conceito de cultura surda senão através de uma 
leitura multicultural, ou seja, a partir de um olhar de cada cultura em sua 
própria lógica, em sua própria historicidade, em seus próprios processos 
e produções. No contexto, a cultura surda não é uma imagem velada 
de uma hipotética cultura ouvinte. Não é seu revés. Não é uma cultura 
patológica (SKLIAR, 1998 apud WITKOSKI, 2015, p. 85).
O cenário no qual o sujeito surdo nasce e habita passa a constituir também 
a sua identidade. A convivência com seus pares, ou não, será fator determinante 
para essa constituição. O indivíduo que assume a surdez utiliza a Língua de 
Sinais como língua materna e exige o direito ao intérprete de Libras, que luta por 
seus direitos linguísticos e sociais. De acordo com Skliar (1998, p. 63), terá uma 
identidade surda política. 
Se há festas de família, por exemplo, é natural o surdo procurar o 
semelhante surdo. Se na festa não há um semelhante surdo, a tendência é 
fugir para ir ao encontro do surdo onde quer que ele esteja. Somos assim. 
Algo atrai por ser melhor. Juntos é melhor. A maioria surda sempre está 
junto. Estar com amigos surdos é sentir que se tem este parentesco. 
É um parentesco virtual. Isto porque chegamos na profundidade de 
nossas relações de semelhantes. Uma semelhança forte que mantém a 
gente vivo, unido. Se acontecer visitas entre nós ficamos horas falando 
de tudo que é possível. Na família o ouvinte intervém, geralmente o 
pai, a mãe, os irmãos. Ficam ansiosos em relação ao tempo gasto nessa 
forma de comunicação. Nossa comunicação é uma forma de transmitir 
fatos, compreendê-los, valorizá-los na semelhança, no descompasso.
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
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 Quando encontramos uma família de ouvintes que deixa de aderir 
o uso da Língua de Sinais com seu filho surdo, e que busca recursos clínicos 
ou terapêuticos para se comunicar, este passará a adotar um comportamento 
espelhado ao que ele vê e vive em seu cotidiano, com hábitos e costumes ouvintes. 
Essa identidade será uma identidade flutuante, pois este ser, apesar de surdo, irá 
reproduzir-se dentro de aspectos e características ouvintes. 
 
A identidade é interessante porque permite ver um surdo “consciente” 
ou não de ser surdo, porém, vítima da ideologia ouvintistaque segue 
determinando seus comportamentos e aprendizados. Existem alguns 
surdos que querem ser ouvintizados a todo o custo. Desprezam a cultura 
surda, não têm compromisso com a comunidade surda. Outros são 
forçados a viver a situação como que conformados (PERLIN, 2005, p. 65).
Para uma criança surda que nasce em uma família de ouvinte, mas que não 
se identifica com o modo de ser ouvinte, e também não se reconhece como surdo, 
não utiliza a Língua de Sinais, e também não utiliza leitura labial, a identidade 
que se constitui é uma identidade incompleta, pois se considerará inferior aos 
ouvintes. Temos ainda a identidade, que pode ser oriunda de uma identidade 
inconformada ou flutuante, em que, depois de adulto, descobre-se a cultura 
surda, se envolve com a comunidade surda e aprende de forma tardia a Língua 
de Sinais. Será uma identidade de transição. “Transição é o aspecto do momento 
de passagem do mundo ouvinte com representação da identidade ouvinte para a 
identidade surda de experiência mais visual” (PERLIN, 2005, p. 64).
Há também um tipo de identidade que pode acometer qualquer ouvinte: a 
identidade hibrida, que nada mais é que uma pessoa que nasce e se constitui como 
sujeito ouvinte, mas que em um determinado momento de sua vida, seja por acidente, 
idade avançada ou por questões clínicas, perde sua audição. A pessoa passará a 
ter uma identidade que perpassa os dois modos de ser. “Esses surdos conhecem a 
estrutura do português falado e usam-no como língua” (SKLIAR, 1995, p. 63).
DICAS
A professora surda, doutora em Educação, Gladis Perlin (1998), em seu 
livro Identidade Surda, traz detalhadamente as definições das identidades surdas por ela 
pesquisadas. Vale a pena conferir!
4 CONCEITO DE CULTURA SURDA
A cultura surda é um conjunto de costumes daqueles que entendem o 
mundo de uma forma muito diferente da grande maioria. O mundo, para as 
pessoas surdas, acontece a partir da visão, tato, olfato e paladar. A ausência de 
audição faz com que o corpo do sujeito surdo se encarregue em distribuir para os 
demais órgãos sensoriais as funções designadas ao ouvido. 
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
13
Reportemo-nos a uma família tradicional, onde pais ouvintes recebem seu 
bebê também ouvinte. Desde a gestação, os bebês podem ouvir a voz da sua genitora, 
o que é cientificamente comprovado. Já nas primeiras horas de vida, recebe inúmeros 
estímulos auditivos e, depois que chega em casa, familiares e amigos que visitam o 
recém-nascido conversam e direcionam palavras de boas-vindas e desejos dos mais 
variados. Embora o bebê ainda não compreenda o que significam os sons que recebe, 
sendo necessário aprender a ouvir, ainda assim, tem acesso a esses estímulos. Esse 
processo será por toda sua trajetória familiar, escolar e social. Terá acesso a diversas 
informações e poderá selecionar o que é de seu interesse ou não.
Vamos agora nos situar em uma família também tradicional de pais ouvintes, 
mas que recebem um bebê surdo. Vamos nos reportar diretamente ao nascimento 
da criança, uma vez que a surdez pode ser pré-natal (má formação congênita) ou 
pós-natal (o bebê nasce ouvinte e perde a audição depois). A verbalização dos 
familiares, amigos e todos os que estão ao redor do bebê não chegará para ele da 
mesma forma que chega para o bebê ouvinte. O bebê surdo receberá os estímulos 
visuais do cenário. Desde aí as diferenças de constituição de sujeito passam a 
distanciar-se umas das outras e inicia-se também a distinção cultural.
Além da distinção, a criança surda que nasce em berço ouvinte terá outro 
fator determinante na sua formação, que o diferenciará e o afastará muito do 
desenvolvimento de uma criança ouvinte. Ao ser detectada a surdez, os pais iniciam 
uma busca desesperada pela reabilitação do seu filho. Compreende-se que, para os pais, 
a surdez é motivo de angústia e desespero, uma vez que planejaram saúde e perfeição 
para o ser tão desejado. O que os pais acabam por esquecer é que a ida e a vinda aos 
clínicos terapêuticos podem implicar na constituição do ser em desenvolvimento. Toda 
a busca por aparelhos auditivos, implantes cocleares e terapias com o profissional 
fonoaudiólogo, entre outros recursos pode e deve ser feita pelos pais, desde que estes 
não esqueçam que, por trás daqueles ouvidos que “não funcionam”, existe um sujeito 
que compreende o mundo através dos estímulos visuais e que, certamente, para ele, a 
expressão que vê no rosto dos seus pais deve ser angustiante. 
 Essa forma de ver e entender o mundo faz com que a cultura majoritária 
se subdivida. Aí encontramos a cultura surda. Karin Strobel é uma autora surda 
que escreve de forma comovente o livro As imagens do outro sobre a cultura surda 
(2008), pela Universidade Federal de Santa Catarina. Nele, ela traz de forma clara 
e emocionante como se constitui a cultura do sujeito surdo. A autora utiliza o 
significado de cultura a partir da etimologia da palavra em que cultura é um 
verbo que significa “ato de plantar e cultivar as plantas”. Para ela:
[...] os elementos mais importantes da cultura podem ser destacados 
como as habilidades dos sujeitos para construção da sua identidade 
com o uso da linguagem. Ilustrando mais claramente, na “cultura”, a 
palavra natureza significa tanto o que está a nossa volta como o que 
está dentro de nós. Poderíamos usar a metáfora de uma semente que 
é plantada em solo e cresce uma bela planta, mas isso não ocorre sem 
a ajuda da natureza, ou seja, do sol, da chuva, do vento, do fertilizante 
do solo, que faz a semente reagir e desenvolver. A semente que está 
sozinha sem ademão da natureza não cresceria, uma vez que estaria 
abandonada e apodrecendo (STROBEL, 2008, p. 18).
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
14
Diante do belo exemplo, podemos ter uma visão mais poética do que é a 
cultura. Pensando no exemplo da planta, desloquemos nosso pensamento para 
aquele bebê surdo que nasceu em sua cidade natal, em uma família de ouvintes. Esse 
bebê estará fazendo parte de uma cultura, estará recebendo carinho, alimentação 
e saúde. Participará de todos os movimentos sociais com seus familiares. Sendo 
assim, de acordo com a metáfora citada, receberá água, sol, chuva e vento. Contudo, 
faltará o fertilizante, se pensarmos na comunicação da criança.
Convidamos você a ler e a refletir a fábula escrita por Emily Perl Kingsley: 
Bem-vindo à Holanda
Frequentemente sou solicitada a descrever a experiência de criar um filho portador de 
deficiência para tentar ajudar as pessoas que nunca compartilharam dessa experiência 
única a entender, a imaginar como deve ser. É mais ou menos assim... 
Quando você vai ter um bebê, é como planejar uma fabulosa viagem de férias - para a Itália. 
Você compra uma penca de guias de viagem e faz planos maravilhosos. O Coliseu. Davi, de 
Michelangelo. As gôndolas de Veneza. Você pode aprender algumas frases convenientes 
em italiano. É tudo muito empolgante. 
Após meses de ansiosa expectativa, finalmente chega o dia. Você arruma suas malas e vai 
embora. Várias horas depois, o avião aterrissa. A comissária de bordo chega e diz: "Bem-
vindos à Holanda!". "Holanda?!?” Você diz, "Como assim, Holanda? Eu escolhi a Itália. Toda 
a minha vida eu tenho sonhado em ir para a Itália". 
Mas houve uma mudança no plano de voo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você 
deve ficar. 
O mais importante é que eles não te levaram para um lugar horrível, repulsivo, imundo, 
cheio de pestilências, inanição e doenças. É apenas um lugar diferente. 
Então, você deve sair e comprar novas guias de viagem. E você deve aprender todo um novo 
idioma. E você vai conhecer todo um novo grupo de pessoas que você nunca teria conhecido. 
É apenas um lugar diferente. Tem um ritmo mais lento do que a Itália, é menos vistoso que 
a Itália. Mas depois de você estar lá por um tempo e respirar fundo, você olha ao redor e 
começa a perceber que a Holanda tem moinhos de vento, a Holanda tem tulipas, a Holanda 
tem até Rembrandts.Mas todo mundo que você conhece está ocupado indo e voltando da Itália, e todos se 
gabam de quão maravilhosos foram os momentos que eles tiveram lá. E toda sua vida você 
vai dizer "Sim, era para onde eu deveria ter ido. É o que eu tinha planejado". 
E a dor que isso causa não irá embora nunca, jamais, porque a perda desse sonho é uma 
perda extremamente significativa. 
No entanto, se você passar sua vida de luto pelo fato de não ter chegado à Itália, você nunca 
estará livre para aproveitar as coisas muito especiais e absolutamente fascinantes da Holanda.
FONTE: KINGSLEY, E. P. Bem-vindo à Holanda. 1987. Disponível em: http://www.celsoantunes.
com.br/bem-vindo-a-holanda-fabula-escrita-por-emily-pearl-kingsley-em-1987/. Acesso em: 
30 out. 2018.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
15
Essa fábula define o que a maioria dos pais ouvintes sente ao receber o 
laudo de surdez de seu filho. Diferentemente de outras deficiências ou doenças 
que podem ser detectadas durante a gestação, a surdez somente é descoberta após 
o nascimento do bebê. Atualmente, já nas primeiras horas de vida, o bebê passa 
pelo teste da orelhinha e a surdez é detectada precocemente. Muitos surdos são 
contra o teste da orelhinha, pois a partir do momento em que os pais descobrem 
a surdez, esquecem-se de olhar para seus filhos e tentar fazer um contato visual 
que passe segurança. 
Pais passam a correr contra o tempo, alguns discutem, tentando descobrir 
de quem foi a culpa, e apesar que suas vidas giram em torno da surdez do filho, 
acabam se afastando. O documentário: Sou surda e não sabia, de 2009, retrata muito 
bem esse momento de distanciamento entre pais ouvintes e filhos surdos. Vale a 
pena conferir e conhecer melhor o processo de aceitação.
Marcamos essa diferença entre o mundo ouvinte e o mundo surdo e como 
cada um se constitui a fim de que fique mais claro compreender a existência 
de uma cultura minoritária dentro de uma cultura majoritária. No Tópico 2 
adentraremos nas curiosidades dessa cultura encantadora.
16
Neste tópico, você aprendeu que:
• A história dos povos surdos surge com os professores ouvintes que iniciaram os 
trabalhos com surdos filhos dos nobres através da evolução da medicina para a cura 
da surdez e pelas metodologias utilizadas por ouvintes na educação dos surdos. 
• No século XVI, os surdos não eram reconhecidos pela lei como pessoas, por não 
saberem falar e ler. Ainda, considerados incapazes, desprovidos de inteligência, não 
tinham o direito de ter seus nomes incluídos no rol de heranças das famílias nobres. 
• Foi naquela época que nomes como Pedro Ponce de Léon, os Braidwoods, 
Amman, Perreire e Deschamps começam a aparecer na sociedade. Ouvintes, 
de diversos lugares, dispostos a ensinar os filhos surdos dos nobres.
• A partir do Congresso de Milão os professores ouvintes, que na sua maioria não 
conheciam a Língua de Sinais, passaram a ensinar alunos surdos, ocupando as 
vagas dos professores surdos e, cada vez mais, o inglês foi se tornando a língua 
de instrução de alunos surdos.
• A cultura surda é um conjunto de costumes daqueles que entendem o mundo 
de uma forma muito diferente da grande maioria. O mundo para as pessoas 
surdas acontece a partir da visão, tato, olfato e paladar.
RESUMO DO TÓPICO 1
17
1 Relembrando os fatos históricos das pessoas surdas e a sua cultura, revisite 
o texto e assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) L’Epée fundou uma escola em 1775 e foi a primeira a angariar recursos 
públicos. Em 1776 seu livro escrito de modo revolucionário foi publicado pela 
primeira vez, tornando-se uma obra clássica, disponível em muitas línguas.
b) ( ) A história dos surdos no Brasil tem os mais importantes registros a 
partir da fundação do Colégio Nacional para Surdos-Mudos no século 
XX, ideia trazida pelo francês L’Epée, que apresentou um relatório com 
sua intenção de fundar uma escola de surdos no Brasil.
c) ( ) No Brasil, as deliberações do Congresso de Milão afetaram de forma 
devastadora a educação de surdos. O INES também não adotou o oralismo.
d) ( ) A cultura surda é um conjunto de costumes daqueles que entendem 
o mundo de uma forma muito diferente da grande maioria. O mundo 
para as pessoas surdas acontece a partir do oralismo.
e) ( ) A ausência de audição faz com que o corpo do sujeito surdo se encarregue em 
distribuir para os demais órgãos sensoriais as funções designadas ao ouvido. 
2 De acordo com Skliar (1998, p. 28), “talvez seja fácil definir e localizar, no 
tempo e no espaço, um grupo de pessoas, mas quando se trata de refletir 
sobre o fato de que nessa comunidade surgem – ou podem surgir – processos 
culturais, é comum a rejeição à ideia da "cultura surda [...]". Assinale V 
(Verdadeiro) ou F (Falso) às ações que dizem respeito aos processos culturais:
( ) Ao pensarmos cultura enquanto conjunto de hábitos sociais ou normas 
de comportamento, subentende-se que as diversidades culturais se dão a 
partir das igualdades regionais.
( ) O indivíduo que assume a surdez, utiliza a Língua de Sinais como língua 
materna, exige o direito ao intérprete de Libras e que luta por seus direitos 
linguísticos e sociais é o sujeito que assume sua identidade de surdo político.
( ) Há também um tipo de identidade que pode acometer qualquer ouvinte: a 
identidade dupla, que nada mais é que uma pessoa que nasce e se constitui 
como sujeito ouvinte, mas que em um determinado momento de sua vida, seja 
por acidente, idade avançada ou por questões clínicas, perde sua audição.
( ) Toda a busca por aparelhos auditivos, implantes cocleares e terapias com 
o profissional fonoaudiólogo, entre outros recursos, podem e devem ser 
feitos pelos pais, desde que não esqueçam que, por trás daqueles ouvidos 
que “não funcionam”, existe um sujeito que compreende o mundo através 
dos estímulos visuais e, certamente, para ele, a expressão que vê no rosto 
dos seus pais deve ser angustiante. 
AUTOATIVIDADE
18
Agora, assinale a alternativa CORRETA de acordo com o preenchimento anterior:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – V.
3 Como já visto: “Atualmente, já nas primeiras horas de vida, o bebê passa pelo 
teste da orelhinha e a surdez é detectada precocemente. Muitos surdos são contra 
o teste da orelhinha, pois a partir do momento em que os pais descobrem a surdez, 
esquecem-se de olhar para seus filhos e tentar fazer um contato visual que passe 
segurança”. Refletindo sobre o fato de muitos surdos serem contra o teste da 
orelhinha, responda em forma de texto à seguinte pergunta: O surdo está 
equivocado nesse pensamento? Justifique.
19
TÓPICO 2
PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Quando falta a oportunidade de conhecer e/ou conviver com pessoas 
surdas, não compreendemos muitas questões. Não somos capazes de mensurar 
o que é viver e se constituir em um mundo sem som. É encantador entrar 
nesse universo cheio de expressões corporais, faciais e cheio de emoções. Após 
conhecer e conviver com elas, conseguimos ter uma noção de fragmentos da sua 
vida cotidiana. Incrível é viver em um ambiente cheio de limitações, buscando 
estratégias criativas para coexistir. 
Neste tópico, percorreremos acerca das peculiaridades da cultura 
surda. Abordagens nos âmbitos escolar, social e na saúde serão pontos para a 
desconstrução de um olhar que se constituiu do lado de fora da história. Vivemos 
em uma sociedade capitalista na qual dormimos pouco e trabalhamos muito. 
Vivemos correndo em uma busca desenfreada e constante em direção ao primeiro 
lugar. A pergunta que fica é: aonde se quer chegar? Esse campo de batalha que se 
tornou nossas vidas fez acelerar o ritmo dos relógios e quando menos esperamos 
se passou o dia, a semana, o mês e o ano. 
Ainda, lá vamos nós mais uma vez, dormindo com a sensação de 
incompletude. Se mesmo neste ritmo louco conseguirmos mudar nossa postura 
e construir uma nova perspectiva, passaremos a (re) ver nosso tempo e iremospriorizar questões que realmente importam. Reconstruir o olhar acerca das 
pessoas surdas e assumir nosso papel na história também são compromissos. 
Você encontrará, nas próximas linhas, informações que despertarão 
tristeza, preocupação e indignação. No entanto, também perceberá que, com a 
evolução das tecnologias, as barreiras estão cada vez mais sendo quebradas e 
podemos vislumbrar um futuro mais acessível. Dará boas risadas ao conhecer as 
inúmeras curiosidades que estão por trás dessa forma de viver e concluirá que, 
apesar de tantas limitações, somos todos iguais.
2 COMO PODEMOS COMPREENDER E ENVOLVER AS 
PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA?
Desde que as pessoas surdas passaram a ocupar seus espaços na 
sociedade, estabelecer uma comunicação entre surdos e ouvintes tornou-se um 
grande desafio. As duas formas de comunicação são muito distintas. De um lado 
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
20
temos a modalidade gestual-visual e de outro a oral-auditiva. Encontramos aí a 
primeira e maior barreira a ser superada: a barreira linguística. Há de se convir 
que a barreira poderia ser desconstruída, uma vez que ouvintes aprendessem 
a Língua de Sinais. Sacks (1998) mostra que isso é possível quando nos conta 
que, na Ilha Martha’s Vineyard, de Massachussetts, surdos e ouvintes utilizam a 
Língua de Sinais. É, por enquanto, utopia para a nossa realidade.
Para que possamos compreender as peculiaridades dessa cultura, 
precisamos sair um pouco do nosso lugar, deslocar nosso pensamento para fora 
do conforto auditivo, de onde podemos fechar os olhos e ouvir o som do mar. 
Podemos sentar com a família e ouvir as histórias contadas pelos avós. Podemos 
estar sentados em uma sala de aula, ouvindo as explicações de um professor 
enquanto anotamos os aspectos mais relevantes. Em um lugar onde não temos 
dificuldades em compreender os processos da nossa língua na modalidade 
escrita, pois crescemos ouvindo-a e, no momento de transcrevê-la para o papel, 
podemos utilizar nossa memória auditiva como apoio. 
Meus olhos são minha vida, são meu canal primordial, mais intenso, mais 
completo, mais arguto com a realidade, sendo que a percepção é maior, por 
exemplo, se alguém me pergunta como ocorreu um fato. Explicarei o que 
vi, e não ouvi. Se é feita a mesma pergunta para o ouvinte, ele declarará 
pelo contrário: mais do que ouviu do que viu (WITKOSKI, 2015, p. 87).
Ao sairmos de nossa zona de conforto, torna-se mais fácil compreender 
o quão diferente é a constituição de um ser humano que nasce sem a audição. 
Passamos a imaginar como seria viver todos os dias tentando compreender o 
mundo apenas pelas informações captadas visualmente. Façamos agora um 
clássico exercício de empatia: 
• Baixe o volume de sua televisão e tente entender o que está sendo dito no seu 
programa favorito. Vale tentar leitura labial, interpretar expressões corporais, 
imagens etc. 
• Agora, utilize o recurso de legenda oculta (Closed Caption – CC). 
Como se sentiu? Na verdade, o Closed Caption pode não funcionar em 
alguns canais, pois ainda não abrangeu todos os programas televisivos. Embora 
seja uma exigência da lei de acessibilidade, esse recurso ainda deixa muito a 
desejar. Muitas palavras são escritas de modo errôneo e em alguns momentos a 
legenda está em desacordo com o tempo de fala.
Acreditamos que se você fez esse exercício, estará mais sensível para 
compreender as especificidades dessa cultura. Colocando-se no lugar de uma 
pessoa surda, torna-se possível adentrar num campo novo e perceber o motivo 
pelo qual há tantos movimentos em busca de escolas bilíngues, de direito ao 
intérprete de Libras nos locais públicos, de legenda nos filmes. O surdo reivindica 
direito a cada passo dado em um mundo extremamente ouvinte.
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
21
Muitas dúvidas permeiam a mente. A Língua de Sinais é universal? É 
mímica? O surdo vive no silêncio total? Por que ele não oraliza? Ele sabe falar? 
Essas e outras perguntas são frequentes aos intérpretes de Libras e aos surdos. Nos 
cursos e disciplinas de Língua de Sinais, percebe-se que os ouvintes têm inúmeras 
perguntas ao sujeito surdo, mas se calam por receio de ofender. Contudo, para 
se envolver com a cultura surda, o primeiro passo é justamente se aproximar, 
mesmo que seja para fazer uma pergunta que num primeiro momento aparenta 
ser absurda. Só conhecendo se pode envolver. 
Alguns mecanismos são considerados meios de sobrevivência da cultura 
surda. A própria cultura é um meio de sobrevivência quando concebemos que 
a comunicação em Língua de Sinais não é utilizada por todos os brasileiros. 
Ouvintes puxam assunto em qualquer lugar: na fila do banco, na farmácia, ponto 
de ônibus. Em variadas situações, grupos de ouvintes em um instante se juntam 
e comentam sobre assuntos diversos. A deficiência auditiva tem por característica 
física o uso do aparelho auditivo, o que não ocorre com pessoas surdas usuárias 
da Língua de Sinais, que não utilizam o aparelho amplificador e a surdez não é 
percebida, sendo invisível aos olhos do outro. Ainda, quando estão circulando na 
sociedade e são chamadas para uma conversa, sinalizam com o dedo indicador 
direcionado ao ouvido, fazendo a expressão “Não ouço”. Esse gesto provoca 
uma reação imediata de distanciamento e a pessoa ouvinte se desculpa e vai em 
busca de pares para conversar sobre coisas triviais, deixando o surdo de lado. 
Isso não representa um ato de preconceito, simplesmente comprova que as 
pessoas ouvintes não conseguem se comunicar com pessoas surdas com a mesma 
desenvoltura e naturalidade que se comunicam com falantes da mesma língua. 
Partindo do pressuposto que pessoas precisam umas das outras para a 
constituição, a comunidade surda se fomenta a partir de encontros intencionais nas 
associações de surdos. Há momentos de lazer, esporte, cultura e é onde acontece o 
compartilhamento de informações, que é uma das características mais importantes 
da cultura surda, uma vez que há situações difíceis de comunicação durante toda 
a trajetória de vida. As associações de surdos são compostas por diretores não 
ouvintes e tudo lá acontece em Língua de Sinais. É o lugar onde familiares e amigos 
se encontram para debates sobre assuntos sérios e trivialidades do cotidiano e para 
atualização, pois a Língua de Sinais é uma língua viva que se modifica tanto quanto 
a Língua Portuguesa. Novas gírias e novos vocabulários surgem.
Outro mecanismo de sobrevivência da cultura surda é o que Karnopp, 
Klein e Lazzarin (2011, p. 140) chamam de “Arena Educacional”. Embora arena 
pareça ser uma palavra inadequada, por remeter à ideia de combates, lutas e 
batalhas, muitas vezes é assim que a pessoa com surdez se sente no ambiente 
escolar. Conforme estudado no Tópico 1 deste livro, a educação de surdos passou 
por várias fases. Muitos são os desafios desses alunos no ambiente escolar. No 
que diz respeito à educação, ainda está muito longe do ideal e infelizmente 
ainda não se considera a importância da Língua de Sinais nesse espaço. Não se 
cumpre o (bi) linguismo, ou seja, não existem duas línguas permeando o espaço 
escolar, elas não coexistem. Existe apenas uma língua dominante que é a língua 
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
22
oral e uns poucos usuários da Língua de Sinais. Essa situação torna-se prejudicial 
para o desenvolvimento do aluno surdo, pois em momentos escolares, devido à 
dinâmica que na maioria das vezes acontece com todos falando ao mesmo tempo, 
o aluno perde consideravelmente aspectos importantíssimos para a aquisição de 
conceitos. Ao olhar o movimento da sala perde a tradução feita pelo intérprete e, 
ao prestar atenção no intérprete, perde informações visuais.
No processo de aquisição de leitura, um aluno ouvinte, após compreender 
os sons das letras e a junção das sílabas, torna-se capaz de ler qualquer palavra. Ao 
ouvir o som, faz uma ligação com a imagem e automaticamenteacessa o conceito 
dela em sua memória. A criança surda faz isso também, porém utilizando os sinais. 
Ao visualizar um sinal, ela busca em sua memória a imagem, relacionando-a ao 
seu conceito. Porém, quando chega às questões de escrita, a diferença começa a 
aparecer no desenvolvimento dessas duas realidades. A Língua de Sinais não 
traz em sua estrutura pistas que auxiliem na escrita, por ser uma língua visual-
gestual e não oral-auditiva. É nesse ponto que a criança surda vai se distanciando 
da criança ouvinte e, se a escola não der o devido valor e importância, essa lacuna 
tende a crescer de tal forma a não se dar mais conta de resgatar. 
A escola é a instituição responsável pelo ensino/aprendizagem da língua 
escrita. Envolver a cultura surda nesses espaços pode ser uma forma de despertar 
leitores surdos, diminuindo o fracasso na leitura e escrita. A grande magia desse 
processo está no prazer de usufruir de forma autônoma e fluente. Para isso, o 
professor conta com o apoio do profissional intérprete de Libras, que estará em 
sala em todos os momentos. Grande parte dos profissionais julga não dar conta 
de ensinar um aluno surdo pela falta de domínio da sua Língua. Sabemos que 
seria muito mais rico e eficaz o professor conversar diretamente com o aluno surdo, 
sem a necessidade de outro profissional, mas sabemos também que a Língua de 
Sinais, como qualquer outra língua, tem seu tempo de aquisição. Tempo esse que o 
professor não dispõe. Ainda, tendo garantido por lei o direito ao intérprete de Libras, 
o professor pode correr contra o tempo para buscar informações e compreender de 
que forma esse aluno aprende, pois a comunicação acontecerá de qualquer forma. 
Atualmente vemos, em sala de aula, intérpretes que se tornam professores 
do aluno surdo. O profissional, na maioria dos casos e principalmente no que diz 
respeito aos anos finais do ensino fundamental, não tem formação por área. Por 
mais boa vontade que possa demonstrar em auxiliar no ensino do aluno surdo, o 
mesmo não dá conta de assumir esse papel, pois, além de esbarrar nas questões 
curriculares, acaba exercendo uma função que não lhe cabe. 
O intérprete especialista, para atuar na área da educação, deverá ter um 
perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos e entre 
os colegas surdos e os colegas ouvintes. No entanto, as competências 
e responsabilidades desses profissionais não são tão fáceis. Há vários 
problemas de ordem ética que acabam surgindo em função do tipo de 
intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o 
papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel 
do professor. Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, 
comentam e travam discussões em relação aos tópicos abordados 
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
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com o intérprete e não com o professor. O próprio professor delega 
ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos 
desenvolvidos em aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor consulta 
o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo 
ele a pessoa mais indicada a dar um parecer a respeito. O intérprete, por 
sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos professores 
e alunos, acaba sendo sobrecarregado e, também, acaba por confundir 
o seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo 
constituído (QUADROS, 2004, p. 60).
Uma vez que o professor regente ou professor da área busque compreender 
e conhecer o aluno surdo que está sob sua responsabilidade, mais fácil será traçar 
e atingir objetivos de aprendizagem. Vale ressaltar que todos os profissionais 
envolvidos são responsáveis pela aquisição da língua escrita desse aluno. 
Acredita-se que, desconstruindo algumas crenças em relação ao aluno surdo, 
torna-se possível e muito mais fácil constituir sujeitos surdos leitores, usuários 
de uma língua escrita. Com isso, diminuiremos a sensação que muitos surdos 
sentem, como se fossem estrangeiros em seu próprio país.
Já nas escolas bilíngues ou escolas com classes especiais para surdos a 
realidade é muito diferente. Os conteúdos são ministrados por professores usuários 
da Língua de Sinais, que oferecem os conteúdos diretamente nessa língua, sem a 
necessidade de um intérprete de Libras. Os alunos surdos questionam diretamente 
o professor e conseguem acompanhar os questionamentos dos colegas, pois 
tudo o que acontece em sala de aula é na Língua de Sinais. Eles convivem como 
seus pares, participam dos debates, vivenciam diversas situações, reivindicam 
direitos, cumprem seus deveres, tudo em tempo real. Porém, mesmo sendo um 
espaço propício para o sujeito surdo, e estar previsto em lei, ainda há uma grande 
resistência do Ministério da Educação quanto a esse tipo de educação. Por fim, 
vários movimentos para que essas escolas ou classes sejam fechadas acontecem 
com frequência.
A relação entre o surdo e a leitura proficiente tem sido conturbada. O que 
se cultiva é que, exigindo a língua escrita de seu país, está desrespeitando sua 
cultura e sua identidade. Ledo engano. A aquisição da língua escrita é direito de 
todo o cidadão, independentemente da sua língua ser oral ou gestual.
Notamos que esse processo é ainda objeto de estudo para pesquisadores, 
professores e familiares. No que diz respeito à aquisição da leitura e escrita por 
pessoas privadas da audição, a exposição a esses recursos é fator imprescindível. 
Porém, a Língua de Sinais é gestual e a língua escrita não aparece nos momentos 
de sinalização, a não ser em algumas palavras soletradas. Por esse motivo, a 
escrita é pouco utilizada na comunicação das pessoas surdas.
Outro campo delicado para surdos é o da saúde, embora o Decreto 
5626/05 preconize “atendimento às pessoas surdas ou com deficiência auditiva 
na rede de serviços do SUS e empresas que detêm concessão ou permissão de 
serviços públicos de assistência à saúde por profissionais capacitados para o uso 
de Libras ou para sua tradução e interpretação” (BRASIL, 2005). Uma grande 
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
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parcela da população não ouvinte vai a uma consulta médica ou ao plantão 
acompanhada por um familiar ou amigo, por não conseguir se comunicar de 
forma plena. Há relatos de surdos que ficam sem saber o que está acontecendo na 
própria consulta. Acompanhante e médico passam a conversar entre si, fazendo 
repasses fragmentados e resumidos. Essa experiência é fator determinante para 
que o paciente surdo busque o auxílio do tradutor intérprete de libras. Há ainda 
casos em que paciente e médico comunicam-se através da escrita, gerando 
muitas dúvidas por ambas as partes pelas questões linguísticas já mencionadas 
anteriormente.
Refletir sobre as questões de saúde para pessoas surdas nas mais variadas 
situações é também uma forma de se envolver com a cultura. Ouvintes adultos 
vão ao médico, relatam suas queixas, ouvem o diagnóstico e as orientações de 
forma autônoma. Todavia, você já parou para pensar como aquela mãe surda faz 
para se comunicar com o médico no seu pré-natal? E aquele adolescente que tem 
dúvidas e gostaria de ir a uma consulta sem ninguém saber? Para essas pessoas, 
ir ao médico é algo que gera dependência, pois é preciso a mediação de outrem. 
Ainda, por mais que o Decreto 5626/05 ainda traga em seu Artigo 25, no Item 10, 
o “apoio à capacitação e formação de profissionais da rede do SUS para o uso 
de Libras e sua tradução e interpretação” (BRASIL, 2005), não encontramos esse 
profissional nas redes de serviços médicos.
Nesse sentido, nem é incomum para o surdo compartilhar em detalhes 
suas doenças, os procedimentos envolvidos no tratamento médico e todos 
os efeitos colaterais para obter um melhor entendimento de sua condição 
médica. Esse ato de compartilhamento também é feito para dar suporte 
a outros que tenham o potencial de desenvolver condições semelhantes 
de saúde. Por exemplo, um surdo que sofre de distúrbio intestinalou 
diarreia crônica pode descrever explicitamente para seus amigos a 
aparência, textura, cheiro e frequência de suas fezes. Além disso, uma 
descrição vivida da dificuldade de fazer uma coleta de fezes, o embaraço 
de levar a amostra ao laboratório e os procedimentos envolvidos em uma 
colonoscopia são, com frequência, recontados, não deixando espaço para 
a imaginação ou representação equivocada da situação. Essa provisão 
gráfica de informações é benéfica, pois permite que os outros surdos 
aprendam com a experiência dessa pessoa e sejam mais eficientes na 
gestão de sua própria assistência médica (HOLCOMB, 2011, p. 142).
 
A importância das associações de surdos aparece mais uma vez, quando 
emerge a necessidade da relação entre os pares. O envolvimento de ouvintes 
fluentes em Língua de Sinais nesses espaços pode ser a ponte entre os dois mundos. 
Muitas experiências podem ser trocadas nesses momentos e uma cultura pode 
complementar a outra. Há muitas dúvidas, muitas construções irreais e muita 
coisa para se aprender nas duas. Sendo assim, a cultura oferece acesso à resolução 
de problemas historicamente criados. 
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
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3 CURIOSIDADES SOBRE A CULTURA SURDA
Embora existam muitas barreiras a serem enfrentadas, a cultura surda 
tem um aspecto encantador e de valor imensurável. É recheada de curiosidades 
e peculiaridades que vale a pena conhecer e compreender que há muito mais por 
trás de uma pessoa surda do que a falta de audição. Antes de entrar nesse assunto 
tão instigante, vamos verificar como está seu conhecimento acerca dessa cultura. 
Reflita e responda sobre as seguintes perguntas:
1- O surdo pode ter carteira de habilitação? Se sua resposta for sim, explique 
como ele fará se alguém buzinar ou se vier uma ambulância.
2- Dependerá sempre de um ouvinte ou pode adquirir autonomia até mesmo 
para morar sozinho? 
3- Uma mãe surda pode morar sozinha com seu filho?
Vejamos agora o que você acertou:
1- Se a sua primeira resposta foi afirmativa, você está bem informado. Sim, 
o surdo tem o direito de ter sua habilitação. Inclusive o Detran de alguns 
Estados está cadastrando intérpretes de Libras para atuarem nas aulas teóricas 
e práticas. Em alguns locais, as provas já estão em formato acessível na Língua 
de Sinais. De fato, o condutor surdo não ouvirá as buzinas ou mesmo a sirene 
de ambulâncias e viaturas. Entretanto, pode visualizar através dos espelhos os 
sinais de luz emitidos. Para que o condutor surdo seja identificado, deve ser 
colocado no carro, de forma visível, o símbolo nacional de surdez. 
FIGURA 4 – SÍMBOLO NACIONAL DE SURDEZ
FONTE: <https://portaldotransito.com.br/wp-content/uploads/2016/09/simbolo_surdez-
300x225.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2018.
2- Sim, com certeza! Muitos surdos, solteiros ou casados moram sozinhos. 
Atualmente, a tecnologia facilita muito a comunicação. Quando alguém chega 
na casa de uma pessoa que não ouve, pode mandar uma mensagem de texto ou 
via WhatsApp para informar que está aguardando na porta. Mas há também 
inusitadas adaptações que podem ser utilizadas para a acessibilidade e autonomia 
na casa dessas pessoas. Campainhas sonoras são uma boa adaptação. Esses tipos 
de campainhas estão disponíveis para venda, porém, há pessoas que utilizam as 
habilidades criativas e criam seus próprios sistemas de campainha, instaladas 
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
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até mesmo em prédios e são monitoradas por câmeras. Escolas bilíngues ou com 
classes especiais para surdos também adotam o mecanismo de sinais luminosos. 
Nas escolas regulares de ensino, encontram-se alguns projetos objetivando o 
investimento desses equipamentos para a acessibilidade. Os sinais luminosos 
são acoplados ao sinal sonoro da escola e quando este emite o som, as luzes 
instaladas nas salas, banheiros e pátio acendem no mesmo instante. 
FIGURA 5 – CAMPAINHA LUMINOSA
FONTE: <https://proincluir.org/wp-content/themes/incluir/assets/modules/surdez/cultura-
surda/img/01.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2018.
3- Muito bem, acertou se você acredita que uma mãe surda é capaz de cuidar do seu 
bebê sozinha! E há diversas maneiras de saber se o bebê está chorando, algumas 
colocam o bebê na cama e ficam com o braço encostado. Entretanto, essa opção 
não é tão segura, uma vez que a mãe pode dormir profundamente, virando-se 
para o outro lado e não perceber quando o filho se movimenta ou chora. Outra 
parte utiliza o aparelho auditivo durante o sono para ampliar o som do bebê 
chorando, mas isso funciona somente para mães que têm um pouco de resíduo 
auditivo, o que não é o caso de mães com surdez profunda ou severa. É muito 
interessante quando o povo surdo usa a sua criatividade em busca de liberdade e 
autonomia. Alguns até criam engenhocas para captar o som do choro do bebê ou 
qualquer movimento no berço, cujo aparelho vibra embaixo do travesseiro dos 
pais. Contudo, graças às tecnologias que aparelhos modernos e eficazes estão 
sendo produzidos, como é o caso da babá eletrônica com a função “vibrar”. 
FIGURA 6 – BABÁ ELETRÔNICA COM VIBRAÇÃO
FONTE: ENAP (2016, p. 18)
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
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Outras curiosidades fazem parte do cotidiano do não ouvinte:
Para acordar de manhã sem precisar da ajuda de um ouvinte, grande parte 
dos surdos utiliza o celular embaixo do travesseiro. Porém a função “vibrar” do 
celular não tem tanta potência, e alguns acabam se perdendo no horário. Mais 
uma vez a tecnologia está a favor dos surdos e muitos são os recursos para não 
passar da hora. Além de dispositivos que podem ser colocados embaixo do 
travesseiro há, também, relógios de pulso que vibram.
FIGURA 7 – DESPERTADOR PARA SURDOS
FONTE: ENAP (2016, p. 19)
FIGURA 8 – LEGENDA PARA QUEM NÃO OUVE
FONTE: <https://meandros.files.wordpress.com/2007/04/novo-1.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2018.
Você sabia que a maioria dos filmes brasileiros não possui legenda 
em português? Há muitos filmes, brasileiros e estrangeiros, apresentados em 
sessões de cinema que são dublados, sem opção de legenda. Já questionamos 
uma rede de cinemas sobre o fato e a justificativa foi que os filmes dublados são 
mais baratos. Se você também ficou indignado, informe-se para participar da 
campanha “Legenda para quem não ouve, mas se emociona”, que desde 2004 
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
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realiza encontros nos principais festivais de cinema e teatro espalhados pelo 
Brasil, como o CINE-PE, Festival de Cinema de Gramado, Festival de Teatro de 
Curitiba, Festival de Cinema do Rio de Janeiro e muitos outros. 
FIGURA 9 – CAMPANHA LEGENDA NOS FILMES
FONTE: <http://www.legendanacional.com.br/>. Acesso em: 16 dez. 2018.
Há outras curiosidades interessantes sobre os usuários da Língua de Sinais:
• Pessoas que utilizam a língua gestual podem se comunicar estando uma dentro 
do ônibus e a outra do lado de fora.
• Podem comer enquanto falam.
Todavia, alguns fatos engraçados também acontecem:
• Em festas precisam estar sempre próximos a uma mesa para apoiar copos e 
garrafas para liberação das mãos e é comum o usuário derrubar esses objetos 
ou alguém quando faz um sinal.
• Têm surdos que gostam de ir às baladas pois sentem a vibração e muitos 
dançam a noite inteira.
FIGURA 10 – CHARGE
FONTE: <http://www.notisurdo.com.br/icones/almococoinversa.jpg>. 
Acesso em 15 de dezembro de 2018.
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
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FIGURA 11 – CHARGE
FONTE: <http://www.notisurdo.com.br/beneficiossurdos.html>. Acesso em: 15 dez. 2018.
FIGURA 12 – CAMPANHAS SURDAS
FONTE: <https://www.notisurdo.com.br/escolabilingue.html>. Acesso em: 16 dez. 2018. 
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Colocar-se no lugar do surdo torna mais clara a compreensão da sua cultura.
• Existe uma grande diferença entre escolas de inclusão e escolas bilíngues e as 
duas são uma opção da família.
• Alguns mecanismos são considerados meios de sobrevivência

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