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Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 1 Transparência, Acesso a Informação e Gestão por Processos: Uma Análise Bibliométrica Ariana da Silva Lauredo Vinícius Batista Gonçalves Andressa Aparecida Santana Furtini Resumo A demanda por maior transparência das organizações públicas pela sociedade tem sido objeto de estudos de um número razoável de trabalhos na atualidade, mesmo em trabalhos onde a mesma não é o foco a sua importância é relatada como necessária, entretanto não se sabe se tais produções existentes consideram, entre outros aspectos, a importância da gestão por processos em suas abordagens. Com isso, viu-se necessário um estudo para verificar se tal abordagem tem sido tema de estudos na área de administração pública. Com isso, foi realizada uma análise bibliográfica dos assuntos, com o objetivo de buscar, a frequência com que é abordada a importância de uma gestão por processos como facilitadora do acesso à informação nas organizações públicas. A proposta foi analisar o quantitativo de artigos que abordam as temáticas transparência e acesso à informação relacionadas à gestão por processos e, a partir dos resultados, desenhar um panorama geral de forma a estabelecer quais relações vem sendo feitas entre as mesmas. O que se pôde concluir com o estudo é que não há uma abordagem significativa do tema dentro dos estudos que citam a importância da transparência publica. Tal fato pode se dar porque os estudos pesquisados ainda priorizam outras formas de gestão como facilitadoras do processo de transparência ou ainda porque encontra-se uma divergência de ideias sobre o que vem a ser a gestão por processos. Palavras-chave: Transparência. Acesso informação. Gestão por processos. Estudo bibliométrico. 1 INTRODUÇÃO A questão da transparência pública se mostrou importante desde que foi delegado ao Estado as funções que objetivam o bem individual e coletivo, isso em troca de cumprimento de deveres e subvenção financeira por parte da sociedade civil. Levando-se em consideração o exposto e o que é apresentado pela Constituição Federal Brasileira de 1988, fica a cargo do Estado estabelecer regras que visem a manutenção da ordem pública, possuindo o mesmo o poder de verificar se o cidadão está cumprindo com os seus deveres, e penalizar caso não esteja. Entretanto o mesmo instrumento legal prevê que o cidadão também deve ter um retorno referente a atuação do Estado para com a sociedade, isso é, prevê o direito de acesso a informação em poder do Estado. Visto que, na atualidade, vem aumentando a cobrança da sociedade pelos seus direitos, cada vez mais há uma cobrança da sociedade para com o Estado no que tange ao cumprimento das funções que lhe foram delegadas. A Constituição Federal de 1988 prevê que o Estado tem o dever de divulgar informações de interesse público. Logo, é importante uma gestão onde a transparência possa ser exercida de forma ágil e eficiente, sendo necessário que a organização pública defina uma forma de gestão que possibilite o atendimento de tais parâmetros. A Lei de Acesso a Informação (LAI), também conhecida como Lei da Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 2 Transparência, proposta pelo Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção, órgão integrante da Controladoria-Geral da União (CGU), e encaminhada ao Congresso Nacional em 2009 trouxe importantes avanços no que concerne a questão da transparência pública. A lei estabelece princípios a serem seguidos pelos órgãos e entidades que sejam controlados direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, que considera que os mesmos devem fornecer informações de interesse público de forma clara, transparente e ágil, assim como considerar a divulgação e acesso a informação a regra, e o sigilo como a exceção. O advento da LAI, trouxe à tona questões de como as organizações iriam se adequar ao devido cumprimento da lei. Ela apresenta os princípios que devem ser seguidos pelas organizações para garantir o seu adequado cumprimento. Para a consolidação da democracia, a transparência e o acesso à informação pública são de extrema importância. Como um dos princípios de boa governança, a transparência incentiva maior responsabilidade e eficiência por parte dos gestores públicos, e a gestão por processos vem a ser uma importante visão para um alcance global desse incentivo dentro de uma organização pública. A importância de uma gestão por processos não se restringe apenas a questão da transparência e do acesso a informação, a organização no geral ganha com agregação de valor aos serviços prestados, eficiência, agilidade e consequente satisfação social. Ao propor o engajamento de todos os integrantes da organização a gestão por processos facilita a reformulação de processos com foco no cidadão, fator que contribuí para facilitar o processo de transparência e acesso a informação. Tais fatos, desse modo expostos, justificam o presente trabalho ao propor-se a analisar os benefícios que uma gestão por processos pode trazer as organizações sobre o processo de transparência pública e acesso a informação, pois as organizações públicas ainda enfrentam dificuldades de adequar as suas estruturas organizacionais e criar ferramentas de forma a facilitar o processo de transparência. Estudos a fim de identificar como as mesmas podem alcançar esse objetivo se fazem necessários. Logo, é importante identificar como a gestão por processos vem sendo considerada nos estudos sobre transparência publica, de forma a verificar se tal modelo de gestão vem servindo de exemplo para instituições públicas que ainda estejam em busca de métodos que visem a adequação ao cumprimento da Lei de Acesso a Informação (Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011), para com isso, se for o caso, estimular a pesquisa referente aos impactos que a mesma pode causar nas instituições e na sociedade. A inspiração para o presente trabalho partiu do que estabelece a LAI, em seu artigo 5º “É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão” (Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011). Dessa forma, como uma forma de atender ao exposto considerou-se que a gestão por processos seria uma opção apropriada para o alcance de tal objetivo. Com isso, o presente estudo tem como objetivo relacionar a transparência e acesso a informação à gestão por processos, de forma a analisar trabalhos que apresentem a gestão por processos como uma prática de gestão para as organizações públicas, de forma a verificar se essa vem sendo uma preocupação abordada em estudos da área. Assim, este trabalho será realizado por meio de uma pesquisa bibliométrica em anais de um encontro na área administração, bem como consulta a revistas voltadas para a área de administração pública. Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 3 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O ACESSO A INFORMAÇÃO PÚBLICA O acesso à informação é um dos direitos reconhecidos internacionalmente, a Declaração Universal do Direitos Humanos, em seu artigo XIX, expressa o direito a liberdade de opinião e expressão, e também de receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras (ONU, 1948). Segundo Silva (2010), a divulgação de informações referentes ao governo visando o controle externo do Estado não é algo atual, mesmo antes da Proclamação da República Brasileira já haviam formas de controle das finanças públicas. Entretanto, apenas após tal marco histórico, com a instituição dos Tribunais de Contas como órgão independente do governo com a função de acompanhar e controlar os gastos do tesouro nacional e que foram criadas leis e políticas que estabeleceram formas decontrole tal qual os moldes atuais. Pode-se dizer que o direito de acesso à informação é algo fundamental nos dias de hoje, e se trata de importante ferramenta para a atuação da democracia. Todo o cidadão, em seu direito democrático, tem o direito de pedir e receber informações que estão sob a guarda de órgãos e entidades públicas. O exposto é defendido claramente com o advento da Constituição Federal Brasileira de 1988, onde estabeleceu um importante marco ao determinar em seu artigo 5º, que: todos tem direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988). O que é reforçado ainda dentro da própria Constituição, ao incluir dentro de seus princípios norteadores a questão da publicidade, constituindo como a obrigação de transparência dos atos do governo, conforme artigo 37 “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos estados, dos distrito federal e dos municípios obedecerá os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” (BRASIL, 1988). A LAI ou Lei da Transparência, de 18 de novembro de 2011, proposta pelo Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção, órgão integrante da Controladoria Geral da União (CGU), e encaminhada ao Congresso Nacional em 2009, veio a representar mais um grande marco em relação ao acesso a informação no Brasil, pois apresenta como dever do Estado a divulgação de informações públicas sem a necessidade de solicitação formal pelo cidadão, instituindo como obrigatória a divulgação das que sejam de interesse coletivo. A lei estabelece os órgãos que estão sujeitos a mesma conforme segue: Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei: I - os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público; II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 2011). A lei estabelece que os órgãos do poder público devem utilizar ferramentas tecnológicas para permitir um maior alcance da informação pela população. Segundo Silva Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 4 (2010), a especificação dessa obrigatoriedade em lei protege o cidadão na exigência de seus direitos, convidando-os ao controle social. Com isso, a LAI vem, segundo Silva (2010, p. 84), “legitimar que se utilize tecnologias da informação e comunicação para atribuir transparência dos atos governamentais”, com isso facilitando a comunicação com a sociedade e o processo democrático. Além de dar garantias de acesso à informação pelos cidadãos e a sua divulgação, a Lei também prevê que sejam criadas formas de proteção das mesmas, evitando- se que as mesmas não possam ser acessadas por sua inexistência, e que a instituição se responsabilize pelo trato adequado das mesmas, conforme explicitado abaixo: Art. 6o Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a: I - gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua divulgação; II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilidade, autenticidade e integridade; e III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, observada a sua disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrição de acesso (BRASIL, 2011). Outro aspecto positivo que a LAI levantou, é o que permite uma maior compreensão das informações divulgadas para a população ao estabelecer que a linguagem utilizada seja clara e de fácil compreensão, isso de forma a permitir um fácil entendimento, facilitando o controle social. Logo, “uma gestão transparente tem como principais características o acesso às informações compreensíveis para todo o cidadão e a abertura para a sua participação no governo” (CRUZ et al. 2010, p. 3). Com isso, cabe aos governos disponibilizar aos cidadãos as informações de interesse público, como uma boa prática de governança na gestão pública e como dever instituído em Lei, assim como também considerar o acesso à informação pública como a regra, e o sigilo como a exceção. 2.2 TRANSPARÊNCIA E CONTROLE SOCIAL A sociedade delega ao Estado o poder de exercício de atividades que visem o bem comum, e em troca paga seus tributos e impostos de forma a possibilitar a execução das mesmas. Através da transparência pública é permitido ao cidadão verificar o que vem sendo feito. O Estado brasileiro ao longo dos anos vem aperfeiçoando cada vez mais os seus mecanismos de transparência, entretanto ainda sente-se uma carência no que se refere a clareza e facilidade de acesso a informação. Na atualidade a transparência pública vem ganhando cada vez mais destaque. A sociedade vem exigindo com maior frequência maior transparência das informações, pressionando as organizações públicas para uma mudança de forma a garantir a população o seu direito de exercer o controle social. O controle social é a participação do cidadão na gestão pública, na fiscalização, no monitoramento e no controle das ações da administração pública, no acompanhamento das políticas, sendo um importante mecanismo de fortalecimento da cidadania. (BRASIL, 2014) Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 5 Há três formas de controle nas organizações públicas, o controle interno, o controle externo, exercido por outros órgãos do governo, e o controle social. Dentre elas, segundo Evangelista (2010), a última vem ser a mais eficaz, visto a sociedade no exercício do controle social representa uma grande arma para o combate à corrupção e aos desmazelos que podem estar presentes na gestão pública, uma forma de controlar os recursos oriundos da mesma que são confiados ao Estado para a promoção do bem-estar social e benefícios a coletividade. Por isso, a obrigação do Estado de prestar contas dos seus gastos (accountability) se faz necessária, pois “no sistema democrático moderno, os princípios centrais são a soberania popular e o controle dos governantes pelos governados” (SANTOS, 2004, citado por EVANGELISTA 2010, p. 12). Por isso é necessária a valorização do controle social, visto que se apresenta como ferramenta para medir a eficácia e efetividade das ações governamentais, uma vez que outras formas de controle não têm se mostrado efetivas. A atuação conjunta entre governo e sociedade pode resultar em valiosos ganhos econômicos, sociais e culturais. Os ganhos econômicos são os advindos dos recursos que o controle social pode evitar que sejam escoados pela corrupção. Os ganhos sociais advêm da elevação da qualidade dos serviços prestados à população pela administração pública e da melhora dos indicadores sociais relativos à saúde e à educação. Os ganhos culturais advêm do fortalecimento de valores importantes para a cidadania, como a responsabilidade sobre a coisa pública. (LIRA et al., 2003, p. 68) Considerando um país de proporções continentais como o Brasil, acaba por justificar as dificuldades encontradas, por isso a importância do apoio da sociedade, no apoio a gestão pública. O controle social, com isso, irá auxiliar a gestão pública, ao evidenciar aos gestores quais as demandas da sociedade e a fiscalização de possíveis desvios de conduta, algo que pode ser extremamente difícil, considerando-se casos como o do Programa Social Bolsa Família, por exemplo, que possuí abrangência é nacional e que constantemente sofre denúncias de mau uso do benefício. No referido casoa importância do controle social se mostra essencial, ficando claro que o poder público não consegue exercer o controle sozinho, com isso cabe a sociedade juntamente, exercer tal função. Outro aspecto importante em relação ao controle social, quando relacionado a gestão pública é referente a aceitação, pois as informações produzidas no Setor Público terão ressonância positiva na sociedade, se esta, em contrapartida, dispuser de meios para interpretá-las, avaliá-las e, assim, puder influenciar o ciclo de decisão governamental (EVANGELISTA, 2010. p. 12). Logo, o incentivo à participação popular na gestão pública é de extrema importância para o controle e melhor aplicação dos gastos públicos, colaborando com isso com a gestão pública. Para fazer com que o cidadão se interesse em participar do processo de controle público, o primeiro passo é a disponibilização de informações de forma clara, transparente e simples. 2.3 GESTÃO POR PROCESSOS Segundo Filho (2010), de acordo com a Fundação Nacional da Qualidade (2009), processo pode ser definido como um conjunto de atividades definidas previamente e Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 6 executadas em sequência de forma a alcançar um resultado que vise atender as necessidades e expectativas dos clientes e interessados. Segundo Harrington (1993, citado por ANJOS et al., 2002), processo é uma ação que recebe uma entrada (input), a qual passa por um processo de transformação (agregando valor) gerando uma saída (output). A definição trazida por Filho (2010), se mostra mais interessante para o presente trabalho, ao colocar os clientes como parte interessada e os processos como atividades voltadas ao atendimento de suas necessidades. Conforme abordado por Moreno et. al (2013), há uma confusão em relação aos termos Bussiness Process Manegement (BPM) e Gestão por Processos, o primeiro aborda os conceitos de "Qualidade Total e da Reengenharia para projetar e melhorar continuamente os processos organizacionais” (MORENO et al., 2013, p. 2), enquanto o segundo aborda os mesmos conceitos aplicados a uma visão sistêmica da organização. Portanto uma organização orientada por processos se utiliza dos conceitos da BPM para alcançar seus objetivos, mas não necessariamente uma organização que utiliza dos mesmos é orientada por processos. Outra confusão que é importante abordar se trata da diferença entre a Gestão de Processos e Gestão por Processos, pois a primeira tem o foco voltado para um processo, gerindo e organizando uma determinada operação, enquanto a segunda, possui uma abordagem mais ampla baseada em uma visão sistêmica dos processos da organização (LOUZADA, 2013). Para organizar uma empresa ou instituição sob a ótica da gestão por processos é necessário que o foco do processo seja o cliente externo, e no caso do setor público o cidadão, que é onde os mesmos começam e terminam. No foco empresarial o objetivo é atender o cliente de forma rápida a um baixo custo, agregando com isso valor ao seu produto, no setor público é atender o cidadão de forma rápida e eficiente, de forma a garantir a satisfação e o bem-estar social. A gestão por processos, "possibilita uma visão integrada de todas as atividades da organização" (FILHO, 2010, p. 128), considera-se também que "processos tem necessidade de evoluírem ao longo de sua vida com o propósito de manter o cliente satisfeito" (FILHO, 2010, p. 128). Essa assertiva aplicada ao contexto de globalização atual, onde as mudanças e exigências por melhorias ocorrem com frequência, exigem uma resposta rápida das instituições públicas, que na grande maioria das vezes, não estão preparadas para acompanhá- las. A gestão por processos pode trazer os seguintes benefícios para a organização, segundo Alencar e Souza (2013): Auxiliar a especificação do trabalho; Possibilitar o desenvolvimento de sistemas informacionais; Incentivar a gestão do conhecimento; E promover o redesenho e a melhoria dos trabalhos realizados. Logo, cabe as organizações saberem aplicá-la de forma a aproveitar ao máximo os seus benefícios e garantir o sucesso da gestão. Neste sentido a governança de processos, segundo Alencar e Souza (2013), visa elaborar e implementar procedimentos, diretrizes e ferramentas que irão direcionar a gestão de processos, com a definição de responsáveis pelos processos, a configuração da estrutura da organização e a coordenação de interação entre as unidades funcionais da organização. Com isso, “um modelo de governança definido contribui no auxílio à gestão por processos, de modo a resolver ou mitigar os problemas apontados” (ALENCAR; SOUZA, 2013, p.11). Segundo Biazzi (2007), uma organização que adota uma visão com foco em processos, permite que se consiga visualizar o trabalho como um todo, permitindo a percepção da interação entre os variados processos de trabalho, ou seja, permite uma visão sistêmica da organização. Tal visão permite que os funcionários não enxerguem apenas as tarefas que fazem parte de suas atribuições, mas sim, que os mesmos estão inseridos dentro de Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 7 um sistema de processos que interagem entre si, e que com isso é necessário que tenham um conhecimento da organização como um todo. A abordagem administrativa da gestão por processos requer e incorpora outros valores à cultura da organização. O amplo conjunto de entidades envolvidas e comprometidas, abrangendo clientes, fornecedores, parceiros e colaboradores da organização, cria uma expectativa de responsabilidade comum quanto aos comportamentos de transparência da informação, cooperação mútua, confiança e demais valores importantes para o trabalho em redes colaborativas (VINHAS, 2008, p. 25-26). Biazzi (2007) ainda aponta que, organizações com estruturas hierárquicas e funcionais, que se trata do modelo clássico, onde há a separação em setores especializados em determinada área, vem sofrendo dificuldades para realizar tarefas, por conta dessa segregação, e que a gestão por processos vem amenizá-las. Na tentativa de encontrar uma melhor compreensão da organização e conseguir as melhorias necessárias para a sua sobrevivência, a abordagem por processo fornece uma alternativa para essa visão estática fragmentada. É necessário que as atividades da organização sejam encaradas não como funções, departamentos ou produtos, mas como processos (BIAZZI, 2007, p. 29). Um dos aspectos da gestão por processos que é importante ser estudado é como ela busca mudar as atitudes das pessoas, dando instruções para o agir no dia-a-dia de uma organização. Tal fato se dá porque é difícil tanto para as pessoas quanto para as organizações enxergarem o todo, ou seja, não enxergar apenas setores, atividades ou processos isoladamente e sim o conjunto de processos que tem por fim agregar valor. 2.4 RELAÇÃO ENTRE A TRANSPARÊNCIA PÚBLICA E A GESTÃO POR PROCESSOS A abordagem da gestão por processos deve ser vista, nessa perspectiva, como uma visão de como seria um funcionamento adequado de uma instituição pública, de forma que seus colaboradores tenham uma visão do ponto de vista do cidadão, procurando enxergar as dificuldades que o mesmo enfrenta quando tem a necessidade de buscar alguma informação pública e pensar em formas de facilitar tal processo. As situações onde o cidadão, na busca por informações públicas, encontra entraves como demora ou um “jogo de empurra”, onde o mesmo é encaminhado para diferentes pessoas ou setores que não são guardiões das informações até que em um momento é encaminhado corretamente, acaba por ser frustrante, também as situações quando as mesmas apresentam uma linguagem de difícil compreensão, desmotivam o cidadão na busca do seu direito de acesso a informação. A situação se agrava quando se considera que o atual mundo globalizado vem exigindode todas as organizações, sejam elas públicas ou privadas, cada vez mais a prestação de serviços com maior eficiência. Segundo Manual de Gestão de Processos do MPF (2013), em organizações públicas, muitas das vezes, até mesmo dentro das próprias não há uma divulgação adequada dos processos organizacionais, e tais informações acabam ficando restritas a setores específicos. Como retrato de uma cultura de sigilo no setor público que a muito imperou, sendo característico de um modelo de organização funcional tradicional, em que a informação fica Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 8 restrita a um setor ou não é repassada de forma adequada. Tal fato dificulta o acesso à informação ao cidadão e também aos próprios membros da organização. De acordo com o Guia de Gestão de Processos do Governo, PNGPD (2011), conhecer e mapear os processos organizacionais desenvolvidos pela instituição e disponibilizar as informações sobre eles promovendo a sua uniformização e descrição em manuais, se encaixa perfeitamente quando o assunto é a eficiência na prestação de informação no âmbito publico. Segundo a LAI, Lei 12.527, art. 5º, o Estado deve garantir o acesso a informação, para isso utilizando-se de procedimentos que sejam objetivos e ágeis, de forma a atender o disposto na lei, é importante que os órgãos públicos busquem formas de facilitar o acesso a informação. Para isso é interessante que busquem sempre se aprimorar e adequar os seus serviços as demandas da sociedade, e uma visão voltada a uma gestão por processos pode ser de grande relevância, agindo de forma a facilitar a transparência e gerar satisfação social. A transparência é um dos princípios da governança pública e as iniciativas que visem aperfeiçoar os mecanismos de transparência de informações acerca da gestão são consideradas boas práticas de governança. De um modo geral, a transparência deve caracterizar todas as atividades realizadas pelos gestores públicos, de maneira que os cidadãos tenham acesso e compreensão daquilo que os gestores governamentais têm realizado a partir do poder de representação que lhes foi confiado (CRUZ; SILVA; SANTOS, 2009, citados por CRUZ et al., 2010, p.03). Outros aspectos apontados pela LAI em seu art. 9º que contribuem para que as organizações públicas possam passar a compreender a importância de uma gestão por processos, de forma a facilitar a transparência e o acesso à informação pública, refere-se à criação de Serviço de Informação ao Cidadão (SIC). Este serviço é específico para atendimento ao público, pois busca atender e orientar aos interessados em obter informações, informar sobre a tramitação de documentos e protocolizar solicitações de acesso a informações. Os serviços exercidos pelos SIC necessitam de uma visão do ponto de vista do cidadão, visto que as pessoas internas as organizações públicas muitas das vezes estão acostumadas com determinados procedimentos que podem parecer corriqueiros, mas que, para o cidadão que não está habituado, acaba se tornando uma tarefa difícil. Também é necessário um engajamento de todas as pessoas envolvidas internamente à organização pública, para que busquem aprimorar os processos de forma a facilitar o acesso as informações pelo cidadão e alimentar o SIC com essas novas informações. A implementação da Lei é o início de um diálogo contínuo entre a Administração Pública e a sociedade, na busca por melhores caminhos para a gestão pública. Ao implantar as ferramentas estabelecidas pela LAI para dar conhecimento ao cidadão, o gestor precisa estar preparado para, continuamente, atender o cidadão e manter ativa a comunicação com a sociedade. (BRASIL, 2013, p. 47) Com isso, o entendimento é de que deve haver uma continua comunicação com a sociedade e que a gestão por processos visa a melhoria de processos do ponto de vista do cidadão, a relação da mesma se mostra benéfica tanto para a sociedade que verá suas demandas atendidas quanto para a organização pública, que melhorará seus processos de forma a atender seu fim com eficiência e agilidade. Em outras palavras, pode-se dizer que um Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 9 governo aberto à comunicação com o cidadão, terá processos mais transparentes (Controladoria Geral da União, 2013). Um exemplo prático e bem sucedido de gestão por processos, é o trazido por Correa (2012) no Boletim Café com Debate, ao apresentar o caso de quando atuava na prefeitura de Santo André (SP) em 1998, e como implantou a primeira Central de Atendimento ao Cidadão do país. Esta central prestava um serviço de atendimento centralizado e complementar que buscava atender ao cidadão nos caso em que ele não sabe qual órgão procurar para obter algum tipo de documento, dado ou informação. Tal feito foi possível após analise e identificação dos vários processos que passavam pelos guichês de atendimento nos diferentes órgãos do governo local, do início ao fim, e após isso colocaram-se no lugar do cidadão, o que lhes permitiu uma visão diferente dos processos, e reavaliação dos mesmos, de forma que houve uma redução no tempo de atendimento de solicitações de informação. Com isso, entende-se que é obrigação do Estado a divulgação de informações de interesse público, e deve ser possibilitado o acesso as informações públicas de forma ágil e eficiente. Estas informações precisam ser claras e de fácil entendimento pela sociedade, para que isso ocorra às organizações públicas devem criar procedimentos que facilitem a transparência e o acesso à informação. Nesse sentido, a gestão por processos possui uma visão voltada ao cidadão, onde os processos são constantemente remodelados de forma a atender as necessidades do cidadão. Este tipo de gestão considera a organização como um todo e prega o engajamento dos funcionários de forma que todos estejam ligados aos objetivos da organização, entretanto tal fato é possível apenas com uma boa comunicação interna. Assim, a gestão por processos se apresenta como uma modalidade de gestão que pode suprir a necessidade de adequação ao exposto na LAI. 3 METODOLOGIA O tipo de pesquisa a ser utilizada será a bibliométrica. Trata-se de pesquisa que elabora “um estudo quantitativo de diversas publicações como livros, teses e artigos acadêmicos de diversos pesquisadores. O objetivo deste tipo de estudo é obter dados e informações a fim de gerar indicadores e um panorama do estudo da temática, do ponto de vista teórico e empírico”. (ANDRADE et al., 2012, p. 6) Esse tipo de pesquisa procura "mapear e gerar diferentes indicadores de tratamento e gestão da informação e do conhecimento" (GUEDES, 2005, p.15), se tratando de um método quantitativo que organiza e torna dados subjetivos em algo objetivo, contribuindo para a análise de dados. A pesquisa pode ser classificada como aplicada, pois visa gerar conhecimentos para a aplicação prática dirigida à solução de problema específico, ao estudar e indicar a possibilidade de implementação da gestão por processos para a facilitação da transparência e acesso à informação. A pesquisa é quantitativa, pois utiliza dados que podem ser quantificados, ao estabelecer em uma amostra a quantidade de artigos que abordam os temas tratados. Trata-se de pesquisa descritiva, pois procura entender melhor um problema ou construir hipóteses, ao procurar entender como a gestão por processos está relacionada a transparência pública e ao acesso a informação. Ademais, adota dados secundários, pois utiliza, em sua maioria, estudos que já possuem dados conclusivos sobre os temas abordados. Se trata também de uma pesquisa bibliográfica, pois abrange a leitura, análise e interpretação de diversas publicações como Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 10 livros, teses e artigos acadêmicos de diversos pesquisadores. O presentetrabalho tem como objeto de estudo artigos publicados em revistas brasileiras na área de Ciências Sociais e artigos apresentados em um encontro na área de administração. Foram analisados todos os artigos dos periódicos e de um congresso compreendendo o período de cinco anos da pesquisa. A escolha dos periódicos ocorreu por meio de vínculo entre a temática pesquisada e o perfil do periódico para o campo de administração pública. Além de periódicos, utilizaram-se os anais do Encontro Nacional da Associação de Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD), neste evento existe uma temática específica para a Administração Pública, entretanto foi realizada uma análise considerando todas as temáticas, visto a possibilidade de um artigo considerando a área pública estar inserido em outra temática. O objetivo foi de verificar a frequência com que a temática gestão por processos é abordada em artigos relacionados à transparência pública. Para a execução da pesquisa foram estabelecidos como critérios de busca artigos que contém palavras-chave ligadas a temática transparência pública e a palavra-chave gestão por processos. Foram analisados um total de 5552 artigos. No que diz respeito a sua classificação no web qualis, considerou-se os periódicos com classificações variando de A2 a B4, nas área de Ciências Sociais. Para a busca dos artigos que se relacionassem com o objetivo do trabalho utilizou-se as ferramentas de busca, tal medida facilitou o processo de coleta de dados. Como determina a definição de pesquisa bibliométrica, que busca avaliar a ocorrência de determinada palavra dentro de um texto, foram definidas palavras chaves relacionadas aos objetivos do trabalho. Esse processo foi dividido em duas etapas onde primeiramente foi realizado o levantamento de artigos que contivessem termos relacionados à temática transparência e, em um segundo momento, realizado o levantamento dos artigos contendo a temática gestão por processos. No primeiro momento buscou-se utilizar termos, abordados ao longo desse trabalho e ligados a noção de transparência pública, conforme segue: transparência, transparente, (relacionada a uma gestão pública transparente ou governo transparente), controle social (visto que a disponibilização de informações de interesse público promovem o controle social das organizações públicas pelos cidadãos), accountability (termo sem tradução para o português, mas entendido no meio administrativo como prestação de contas, associa-se a dever que o Estado tem de prestar contas da aplicação dos recursos públicos), e acesso à informação (considerando a LAI que prega a transparência dos atos do governo). Em relação às palavras-chave do primeiro levantamento, nos casos onde o termo era composto utilizou-se aspas, para que retorno do resultado da pesquisa fosse de artigos que contivessem o termo exato. Não houve exclusão de artigos que contivessem mais de uma das palavras-chave, ou seja, um artigo que contivesse mais de uma das palavras foi contabilizado mais de uma vez. Os dados foram tabulados considerando-se o total de artigos por periódico referente às palavras-chave anteriormente referidas. Após o primeiro levantamento, entre os resultados obtidos, buscou-se os termos gestão por processos e gestão orientada a processos, entre aspas, para que retorno do resultado das pesquisas fosse de artigos que contivessem o termo exato. Com isso, enfim, foi possível chegar-se aos dados a serem analisados. Importante salientar que o uso de aspas na busca das palavras-chave compostas, foi de extrema necessidade, visto que os resultados poderiam trazer artigos que contivessem apenas uma das palavras do termo composto. Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 11 A análise dos dados na segunda etapa considerou não apenas as palavras chave, mas também o tipo de pesquisa, teórica ou empírica, para verificar o quantitativo de artigos que possuem um grau de contribuição em diferentes formas de estudo das temáticas propostas. E por fim foram analisados quantitativamente, os artigos que possuíam uma abordagem voltada ao setor público, visto que o foco do trabalho é a transparência pública, para, com isso chegar-se aos objetos buscados no presente trabalho. 4 ANÁLISE DOS DADOS A análise dos dados foi feita na primeira etapa buscando identificar, através da análise bibliometrica, o quantitativo de artigos que abordavam as palavras-chave relacionadas a transparência e acesso a informação pública. Tais resultados encontram-se na Tabela 1, onde foi realizada uma classificação levando em consideração o número de artigos que abordava cada uma das palavras-chave relacionadas por periódico. Tabela 1 - Relação do quantitativo de artigos analisados Revista ou congresso T o ta l d e a rtig o s tra n sp a rên cia tra n sp a ren te A cco u n ta b ilit y a cesso à in fo rm a çã o co n tro le so cia l Ciências sociais em perspectiva 97 - - - 2 1 Civitas – Revista de Ciências Sociais 147 - - 1 1 6 Dilemas - revista de estudos de conflitos e controle social 129 2 1 - 1 4 Gestão e planejamento 135 2 - - 1 - Gestão Pública – práticas e desafios 87 1 - 1 - 2 RAP - Revista da Administração Pública 327 16 9 14 3 14 Recadm - Revista Eletrônica de Ciência Administrativa 96 - - 1 - 1 Revista do serviço público 113 9 4 7 3 4 Revista Brasileira de Políticas Públicas 76 3 - - - - Total: 1207 33 14 24 11 32 Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 12 Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração 4345 636 339 296 165 674 Total: 5552 669 353 320 176 706 Percentual 100 12,0 6,3 5,7 3,1 12,6 Fonte: Elaborada pelos autores (2017). Em relação à busca por artigos com a temática transparência, apesar da amostra de artigos oriundos de revistas científicas da área de ciências sociais ser de 1207 artigos, o que representa 21,73% do total de artigos, observou-se que não houve resultados tão expressivo quando comparados aos apresentados pelos ENANPAD’s. Tal fato serve para reforçar a contribuição positiva que tal evento vem dando para o estudo da transparência nas organizações. Pode-se também observar que as palavras-chaves que estiveram mais presentes foram “controle social” e transparência, presentes em 702 e 669 artigos, respectivamente, representando um percentual de 12,6% e 12,04% do total de artigos analisados. Tais análises se mostram de grande interesse, pois permite uma relação entre controle social e transparência, ao considerar-se a possibilidade de artigos como mais de uma das palavras, visto que foi prevista a possibilidade de contabilização em mais de uma das categorias de análise e que ambas podem estar relacionadas em um mesmo artigo. Na segunda etapa, buscou-se artigos que relacionassem a gestão por processos dentre os resultados encontrados, não houve um retorno tão significativo quanto o anterior, entretanto é possível classificá-los, para se alcançar o objetivo do estudo, que é o de obter artigos que citem a importância da gestão por projetos como facilitadora do acesso a informação nas organizações públicas. Com isso foi realizada a seguinte classificação: a) segundo a metodologia utilizada e b) segundo as fontes utilizadas na pesquisa. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 2. Tabela 2 - Relação do tipo de metodologia aplicada e quantitativo da amostra de artigos Metodologia Total de artigos Aplicação dos dados Setor público Setor privado Não definido Empírica 11 3 6 2 Teórica 2 - - 2 Total: 13 3 6 4 Fonte: Elaborado pelos autores (2017). A Tabela 2 demonstra que a maioria dos artigos apresenta um enfoque empírico, isso evidencia que as temáticas abordadas vem sendo mais objeto de trabalho de estudos que procuram aaplicação prática do que a teórica. Tal fato pode ser considerado como benéfico para as temáticas abordadas, visto que a relação entre elas tem como objetivo a sugestão de implementação de um modelo de gestão como facilitador para a resolução de problemas de falta de transparência e acesso a informação nas instituições públicas. Considerando-se o objetivo de busca por artigos que relacionassem a gestão de processos como uma visão dentro das organizações públicas, houveram três retornos, sendo Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 13 que dois abordam os termos no âmbito do judiciário, e um aborda os termos no âmbito de uma universidade federal. Dentre os artigos obtidos com esse último levantamento, procurou-se fazer uma análise daqueles que conceituavam uma ou mais das temáticas abordadas, tal resultado poderia ser um indicativo da importância que o trabalho deu às mesmas. Entretanto, nenhum dos artigos apresentou qualquer conceituação, com isso pode-se considerar que nenhuma das temáticas foi o foco principal dos trabalhos encontrados, mas contribuíram para a elaboração de metodologias empíricas sobre determinado assunto (visto que os resultados obtidos foram referentes a pesquisas empíricas). Considerando uma abordagem individual de cada um dos resultados alcançados pode-se concluir que, apesar das diferentes abordagens, todos os autores entendem a transparência como uma demanda que deve ser atendida pela gestão pública, e que para isso devem ser criados mecanismos para facilitar o acesso à informação, dentre eles a gestão por processos. Considerando a análise individual de cada artigo, os principais entendimentos dos trabalhos analisados, em relação à gestão por processos e a transparência pública e acesso à informação, são apresentados a seguir: Segundo Bolzan et al. (2010), a gestão de processos é um dentre outros aspectos (inovação, Sistema de Informações Gerenciais, planejamento participativo e descentralização) que devem ser adotados quando da implantação de um planejamento estratégico, de forma a alcançar eficiência, qualidade nos processos e mudanças gerenciais, promovendo um melhor desempenho institucional. Isso de forma a atender as atuais demandas sociais trazidas com a globalização, como a atuação de grupos de pressão, a demanda por maior transparência e accountability e a diversidade social, que influenciam gestão. Segundo Sena (2013), a transparência teve grande destaque no processo de reforma do judiciário, destacando-a como uma forma de combate a corrupção, que vem a ser um dos grandes motivos do enfraquecimento da democracia, confiança, legitimidade e moral do Estado. Nesse processo, entre outros abordados, a aplicação da gestão por processos, surgiu com o objetivo de aumentar a eficiência e eficácia na gestão do Conselho Nacional de Justiça. Segundo Wolfovitch (2010), através de estudo de caso de um Tribunal de Justiça, enxerga a gestão por processos e de informações, inserida dentro de um planejamento estratégico, dentre outras melhorias, como facilitadora da informatização proporcionando um aumento da transparência. Com isso, chega-se a conclusão que, dentre a amostra de periódicos analisada, não foram encontrados artigos que relacionassem diretamente a gestão por processos como facilitadora na transparência e no acesso a informação pública. Tal fato não evidencia a inexistência de trabalhos referente às temáticas abordadas, mas sim que são necessários mais estudos que considerem a relação entre os assuntos abordados, além de demonstrar que as junções destas duas categoriais teóricas não são exploradas nem teoricamente nem empiricamente, o que abre campo para uma grande possibilidade de estudos futuros, uma vez que a conjugação destas poderiam representar um avanço na administração pública. Por fim, o Manual de Gestão de Processos do MPF (2013), explicita que muitas vezes até mesmo dentro das próprias organizações não há uma divulgação adequada dos processos organizacionais, tal fato dificulta o acesso as informações dentro das mesmas, fazendo com que haja perda de agilidade e transparência. Uma gestão orientada a processos seria uma modalidade efetiva de gestão quando bem aplicada, isso considerando-se o uso de ferramentas que auxiliassem ao alcance desse objetivo. Ao considerar o que apresenta a LAI, Lei 12.527, Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 14 art. 5º, que o Estado deve garantir o acesso a informação, para isso utilizando-se de procedimentos que sejam objetivos e ágeis, vemos que a gestão por processos é uma forma de alcance dessas garantias. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A população brasileira está cada vez mais exigente em relação à transparência pública. A sociedade tem cobrado e participado mais, porém não chega a ser o ideal em relação a uma participação cidadã, contudo já foi dado um grande passo. Cabe então as organizações públicas criarem formas de facilitar ainda mais o acesso à informação para estimular o controle social, de forma transparente e capaz de promover formas de acesso mais eficientes e ágeis aos cidadãos. A LAI prevê que as organizações públicas devem promover formas de facilitar o acesso à informação pública. A gestão por processos é uma visão que atende a essa demanda, pois além de considerar a organização como um sistema e propor que os funcionários tenham essa visão da organização como um todo, considera também a reformulação constante de seus processos do ponto de vista do cidadão, de forma a agregar valor aos serviços prestados e incentivar o controle social. É necessário que as organizações públicas em sua gestão busquem uma maior abertura, de forma a facilitar o diálogo com o cidadão, a fim de buscar formas de atender as demandas sociais. Para isso, é necessário que haja transparência de informações, de forma a estimular a participação da sociedade no processo democrático. A LAI foi uma iniciativa, mas ainda é necessária a sua aplicação efetiva pelos órgãos públicos. Foi verificado que os estudos que apresentam a importância da transparência e acesso a informação nas organizações, sejam públicas ou privadas, ainda dão pouca importância a implantação de uma gestão por processos pelas organizações. Outro aspecto que pode ajudar a explicar a deficiência de trabalhos que abordam as temáticas apresentadas no presente trabalho é a confusão que ainda ocorre entre Gestão por Processos, Gestão de Processos e Bussiness Process Manegement, onde os dois últimos auxiliam a organização ao alcance de uma visão holística servindo como ferramentas a gestão por processos, não se tratando, com isso, de sinônimos da mesma. Entre os artigos analisados para a construção do presente trabalho, foi possível perceber essa confusão, e por isso para um efetivo conhecimento de como a gestão por processos auxilia não apenas os processos de transparência pública e acesso a informação, mas também a organização como um todo, é necessário que haja um maior cuidado na análise do que vem a ser a mesma, de forma que a referida modalidade de gestão possa ser melhor abordada. Com isso, cabe aos gestores públicos analisarem qual a modalidade de gestão melhor se adequa a organização. A gestão por processos apresenta uma visão que atende as demandas de informação de uma organização pública, mas para a consolidação dessa certeza são necessários mais estudos sobre o tema. Os resultados dos artigos pesquisados não relacionavam as temáticas transparência e gestão por processos, assim como elas não eram o foco principal dos trabalhos. Com isso, o retorno apresentado pela análise dos artigos dificultou uma melhor análise de como a gestão por processos tem sido vista dentro do contexto da transparência pública e acesso a informação, visto que não houve resultados que possibilitassem uma análise mais elaborada.Como sugestão para futuros estudos relacionados às temáticas abordadas, há a Rio de Janeiro/RJ – 06 e 07de dezembro de 2018 15 necessidade de uma análise de uma visão orientada a processos visando à facilitação do processo de transparência pública para complementar os estudos na área. Por fim, para orientar futuros estudos, considera-se que uma análise de artigos que relacionem outras visões organizacionais, como a tradicional, burocrática e gerencial (entre outras) poderia ser interessante no sentido de compará-las com a gestão por processos, de forma a analisar se ela se propõe como uma melhor solução para a transparência nas organizações públicas. REFERÊNCIAS ANDRADE, D. M.; REZENDE, R. O.; PEREIRA, V. 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