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1 Elementos do Direito Penal Aula 03 Romulo Quenehen 2 TEORIA DO CRIME Conceito de Infração Penal A infração penal é um gênero do qual se extraem duas espécies: - Crimes (ou delitos) - Contravenções penais A previsão legal dessa classificação, chamada critério dicotômico, consta no art. 1º da Lei de Introdução do Código Penal (LICP): “Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção (...); considera-se contravenção a infração penal a que a lei comina pena de prisão simples ou multa (...)”. Sujeitos do Crime O sujeito do crime pode ser ativo (autor ou partícipe do crime) ou passivo (suporta a ação criminosa). O Estado é sujeito passivo constante ou formal de todo e qualquer crime (e é o detentor do jus puniendi). Os objetos do crime são materiais (pessoa ou coisa) e jurídicos (bem jurídico tutelado). Exemplo 1: objeto material do furto de um celular = o próprio celular (coisa sobre a qual recaiu a conduta criminosa). Exemplo 2: objeto jurídico do furto de um celular = o patrimônio (bem jurídico tutelado, ou seja, o que a norma penal protege). Conceitos de Crime O crime pode ser conceituado levando-se em conta três aspectos: material, legal e formal ou analítico. 3 Segundo o conceito material, crime é todo comportamento humano que lesa ou expõe a perigo de lesão os bens jurídicos tutelados pelo direito penal. Ele leva em consideração a relevância do mal produzido. Os principais aspectos são: a) comportamento humano; b) causador de lesão ou perigo de lesão; c) lesão ou perigo de lesão direcionados a bens jurídicos. Segundo o conceito formal, crime corresponde à violação da lei penal. Para esse critério, o conceito de crime é o fornecido pelo legislador; corresponde à relação de subsunção ou de concreção entre o fato e a norma penal incriminadora (ex.: Se “João” matar “Pedro”, terá violado a norma penal inserida no art. 121 do Código Penal). O principal aspecto é a violação da lei penal. Segundo o conceito analítico/jurídico, crime, na concepção bipartida (defendida por Damásio de Jesus e Julio Mirabete), é fato típico e antijurídico (ilícito). Já na concepção tripartida (doutrina majoritária), crime é fato típico, antijurídico (ilícito) e culpável. Esse critério se funda nos elementos que compõem a estrutura do crime. Classificação dos Crimes Os crimes podem ser classificados em legal (exemplo: homicídio) ou doutrinário (definido por estudiosos). Dentre as classificações doutrinárias, destacam-se os crimes materiais, formais e de mera conduta. Essa classificação leva em consideração a consumação do crime. Crime consumado é aquele que reúne todos os elementos de sua definição legal. Os crimes materiais se consumam com a produção do resultado naturalístico, como a morte no homicídio. Quando este não se consuma, 4 estaremos diante da tentativa. Os crimes materiais necessitam dos quatro elementos do fato típico, ou seja: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. O crime formal (consumação antecipada) não exige a produção do resultado para a consumação do crime, como a extorsão mediante sequestro (não há necessidade de o resgate ser pago para que o crime se consuma). O crime de mera conduta (simples atividade ou sem resultado) é aquele em que o tipo não acomoda resultado naturalístico, leva-se em conta apenas a conduta. Exemplo: violação de domicílio, desobediência e ato obsceno. Crime Doloso e Crime Culposo (art. 18, CP) Considera-se o crime doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Já o crime culposo ocorre quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Crime Doloso Há três teorias importantes sobre o dolo: a) teoria da representação: exige apenas a previsão do resultado; b) teoria da vontade: exige tanto a previsão quanto a vontade de produzir o resultado; c) teoria do consentimento: há dolo quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado. No Brasil, adota-se a teoria da vontade complementada com a teoria do consentimento. Em síntese, pode-se afirmar que o crime doloso ocorre quando o agente QUIS (dolo direto – teoria da vontade) ou ASSUMIU O RISCO (dolo eventual – teoria do assentimento/consentimento) de produzir o resultado. 5 Atenção: Dolo é regra e culpa é exceção (art. 18, parágrafo 1, CP). O dolo pode ser direto ou indireto: O direto é classificado ainda em 1º ou 2º grau: a) Dolo direto de primeiro grau: o fim é diretamente pretendido pelo agente. b) Dolo direto de segundo grau: o resultado é obtido como consequência necessária à produção do fim. O indireto é classificado em alternativo ou eventual: a) Dolo alternativo: o agente deseja, com igual intensidade, a produção de um ou de outro resultado. b) Dolo eventual: o agente não quer o resultado, mas o prevê e o aceita como possível, assumindo o risco que ele ocorra. Não quer o resultado (teoria da vontade), mas assume o risco (teoria do consentimento). Crime Culposo O CP, art. 18, II, considera culposo o crime quando o agente dá causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia, denominados de modalidades de culpa: a) Imprudência: atuação perigosa, sem atentar às cautelas necessárias. b) Negligência: deixar de observar o que era necessário (negativo). c) Imperícia: inaptidão técnica para o desempenho de arte, ofício ou profissão (culpa profissional). As espécies ou tipos de crime culposo são: a) Culpa consciente: resultado previsível (excesso de confiança). É aquela em que o agente acredita sinceramente que o resultado não se produzirá, embora o preveja (culpa com previsão). Exemplo: racha. 6 b) Culpa inconsciente: é aquela em que o agente não prevê o resultado, embora seja previsível (culpa sem previsão – regra). Exemplo: indivíduo que atinge involuntariamente a pessoa que passava pela rua, porque atirou um objeto pela janela por acreditar que ninguém passaria naquele horário. c) Culpa própria: é aquela em que o agente não quer o resultado e nem assume o risco de produzi-lo. d) Culpa imprópria ou por extensão: na culpa imprópria (art. 20, parágrafo 1), o agente comete o fato em face de erro inescusável e, embora seja fato doloso, é punível culposamente, por política criminal. Atenção: Dolo eventual = prevê resultado (mas dane-se se ocorrer). Culpa consciente = prevê resultado (mas acredita que o resultado não ocorrerá). Referências BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. v. 1. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2015. GRECO, Rogério. Curso de direito penal. v. I. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016.
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