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88 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 RECRUTAMENTO INTERNO: UMA NOVA PERSPECTIVA SOBRE PL ANO DE CARREIRA Tiago CANALLI1 Érica Fernanda Pereira de ANDRADE2 RESUMO O processo de recrutamento e seleção nas empresas deve ser eficiente para selecionar profissionais capacitados, através de métodos inteligentes de escolha do colaborador, adequando-o a vaga pretendente ou disponível. Em algumas empresas o processo é feito de forma irregular, gerando custos desnecessários, perda de tempo e potencial, além de desmotivar quem já está na empresa e que poderia ocupar a determinada vaga. Por isso, muitas empresas partem para uma melhor estruturação do seu recrutamento interno e plano de carreira, de modo que o colaborador compreenda que o mesmo oferece uma via de mão dupla, onde todos passam a objetivar melhores resultados, justificando assim a escolha pelo tema. O presente estudo teve como objetivo principal avaliar o recrutamento interno e a perspectiva gerada por ele para os colaboradores, com relação ao plano de carreira. Para tanto foi realizado uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, concluindo que é possível empresas de grande porte atrelar os seus interesses de aporte de capital humano com o desenvolvimento e capacitação dos próprios funcionários que trabalham dentro da organização, assim como também elevar a autoestima e a motivação de seus funcionários, para que os funcionários possam ocupar as vagas ofertadas e disponíveis dentro da organização, ligados aos seus desejos de planos com relação à carreira e busca de crescimento profissional. Palavras-chave: Recrutamento. Interno. Plano de Carreira. INTERNAL RECRUITMENT: A NEW PERSPECTIVE ON CAREER P LAN ABSTRACT The process of recruitment and selection in companies must be efficient to select qualified professionals through intelligent choice of developer methods, adapting it to the applicant or available space. In some companies the process is done irregularly, generating unnecessary costs, lost time and potential as well as discourage those already in the company and that could occupy a certain position. Therefore, many companies leave for a better structuring of its internal recruitment and career path, so that the employee understands that it offers a two- way street, where everyone goes to aim for better results, justifying the choice of theme. This study aimed to evaluate the internal recruitment and the outlook generated by it to employees with respect to career path. For that it was conducted a literature search on the topic. Concluding that it is possible to large companies, harness their human capital contribution of interest with the development and training of own employees who work within the organization, as well as raise self esteem and motivation of its staff, so that employees to occupy the vacancies offered and available within the organization, linked to their desires plans regarding career and seeking professional growth. 1 Graduando em Administração, Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama-MG. ticanalli@yahoo.com.br 2 Mestranda em Ciências Ambientais, UNICASTELO, Fernandópolis-SP. Graduada em Administração. Docente do Curso de Administração das Faculdades Integradas de Santa Fé do Sul-SP, FUNEC. ericafernanda.edu@hotmail.com 89 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 Keywords: Recruitment. Internal. Career path. 1 INTRODUÇÃO A área de Recursos Humanos ocupa um dos papéis mais importantes na organização, são várias atividades, desde motivação até atividades que exigem criatividade para a execução dos mesmos. Milkovich e Boudreau (2000) trazem uma ideia de um Recursos Humanos que traz o brilho e criatividade para a organização empresarial, pois são as pessoas que planejam e produzem os produtos e serviços desenvolvidos, verificam a qualidade e as controlam, vendem, controlam os recursos financeiros e estabelecem estratégias e objetivos para a organização. Dentre esses papéis importantes na qual esta área é responsável temos o Recrutamento e Seleção, setor que usa de várias ferramentas e alternativas para desempenhar um bom trabalho, adequando a pessoa certa ao lugar certo dentro da organização. Chiavenato (2005) descreve recrutamento como conjunto de técnicas e procedimentos que visa atrair candidatos qualificados e potencialmente capazes de ocupar cargos dentro da organização, sendo basicamente um sistema de informação pela qual a organização pode divulgar e oferecer ao mercado de recursos humanos as oportunidades de emprego que pretende preencher. Este artigo apresenta mais precisamente o recrutamento interno, como fonte de oportunidade para o colaborador crescer e se desenvolver dentro da organização, sendo uma forma que se capta talentos e potenciais de funcionários que já trabalham na empresa, ou seja, ele é remanejado, sendo transferido ou promovido. Plano de carreira é de fato aonde o funcionário quer chegar dentro da organização, assim ele traça sua meta e objetivos e trabalha para isso acontecer, com isso ele avalia suas aptidões e características positivas e também o que precisa melhorar; através deste levantamento pessoal, deverá elaborar uma estratégia pessoal eficaz para alcançar o objetivo. O objetivo deste estudo é conhecer o recrutamento interno e a perspectiva gerada por ele para os colaboradores, com relação ao plano de carreira em uma empresa, e ainda apresenta como objetivos específicos: identificar a importância do recrutamento interno para os colaboradores e para a organização; avaliar as perspectivas da organização com relação ao plano de carreira; analisar as perspectivas dos colaboradores em relação ao plano de carreira aplicado pela organização. 90 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 Para uma melhor compreensão acerca do tema optou-se por metodologia deste estudo uma pesquisa bibliográfica referente às práticas de recrutamento interno existentes, como também como planejar um plano de carreira mediante as oportunidades de recrutamento interno que a organização oferece, a fim de compreender o assunto de uma forma sistêmica e concisa para atendermos o objetivo proposto. 2 NECESSIDADES INTERNAS E PLANEJAMENTO PESSOAL Para uma boa seleção de pessoas antes de tudo é necessário uma pesquisa interna das necessidades da empresa, pois assim ficará mais eficiente a escolha de uma nova pessoa para o novo cargo pretendido para essa seleção interna. Assim, surgindo oportunidades a empresa buscará as pessoas com os perfis certos e de forma eficiente. Segundo Chiavenato (2009, p. 155), essa pesquisa interna “é a verificação das necessidades da organização em relação às suas carências de RH no curto, médio e longos prazos”. Chiavenato (2009) define ainda essa necessidade como o que a organização precisa de momento ou imediatamente e quais são seus planos futuros de crescimento e desenvolvimento, o que de certa forma significará novos potenciais de recursos humanos. O levantamento interno não é feito somente de forma esporádica ou ocasional, deve ser constante, envolvendo todas as áreas e níveis da organização, para poder passar ao Recursos Humanos suas necessidades de pessoal, e o perfil que de fato esses participantes deverão possuir para ocupar determinada vaga. Em muitas organizações este trabalho é substituído pelo planejamento pessoal, que deverá trazer o mesmo resultado e expectativa. Conforme Chiavenato (2009, p. 155), “o Planejamento Pessoal é o processo de decisão a respeito dos recursos humanos necessários para atingir os objetivos organizacionais, em determinado período de tempo”. Através das afirmações do autor entende-se que é necessário, cada vez mais e constantemente, que as empresas desenvolvam os seus potenciais ativos (empregados), pois com as oportunidadessurgindo, a empresa aproveitará o seu capital interno, dando oportunidades internas, elevando o nível de reconhecimento e satisfação de seus colaboradores, com uma política sólida de desenvolvimento humano e de oportunidades ligada ao plano de carreira. Desenvolvimento é o processo de longo prazo para aperfeiçoar as capacidades e motivações dos empregados a fim de torná-los futuros membros valiosos da organização. O desenvolvimento inclui não apenas o treinamento, mas também a carreira e ou outras experiências. (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 338). 91 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 Capelli (2003) mostra que o desenvolvimento do funcionário na organização, sem sombra de dúvida, trará muitos benefícios para a própria organização: a) aumentam o valor dos ativos humanos da empresa, que são considerados os mais importantes em um número cada vez maior de setores; b) garante que as pessoas competentes estarão preparadas e aptas a ocupar as vagas melhores quando elas surgirem; c) cria um grupo de pessoas que compreende a empresa e o setor e estão preparadas para assumir cargos de comando à medida que a empresa crescer; d) contribui para uma retenção efetiva. Todo funcionário sente-se motivado com a possibilidade do mesmo poder aprender novas habilidades, isso o estimula a aprender e se desenvolver cada vez mais, por outro lado as empresas consideram o desenvolvimento de um funcionário um ótimo investimento, trazendo retorno significativo para a organização, pois assim os colaboradores ficam mais eficientes e satisfeitos com o processo de condução que a empresa possibilita. Conforme Gil (2008), o sistema de manutenção ou recompensa abrange todas as atividades realizadas com a finalidade de criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias para a atuação das pessoas. Com a afirmação dos autores citados acima, obviamente compreende-se que o sucesso da empresa está ligado diretamente aos seus funcionários, uma vez que o capital humano é o que faz a diferença em todos os níveis, um bom investimento nesse sentido sempre terá um retorno muito positivo. Chiavenato (2002) mostra que uma organização depende do desempenho de seu pessoal e de suas competências, ainda mais as que trabalham com o conhecimento, pois isto está relacionado individualmente e coletivamente. Através do planejamento é possível se estabelecer os parâmetros para realização do recrutamento nas organizações. 3 RECRUTAMENTO É um conjunto de técnicas e procedimentos que atrai candidatos com qualidade e capacidade de ocupar cargos dentro da empresa. Isso é um modo de informação pela qual a organização divulga e disponibiliza as oportunidades de emprego que pretende preencher. Para Chiavenato (1999, p. 82), “o papel do recrutamento é divulgar no mercado as oportunidades que as organizações pretendem oferecer para as pessoas que possuem 92 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 determinadas características desejadas”. Para Chiavenato (1999), através do recrutamento a organização mostra para determinados candidatos a oferta de oportunidades de emprego. O recrutamento funciona como uma ponte entre o mercado de trabalho e o mercado de Recursos Humanos. Segundo Gil (2008, p. 93), “recrutamento consiste num processo que visa atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização”. Conforme relatos de Lacombe (2005), o recrutamento é um conjunto de práticas e processos que se usa para atrair candidatos a vagas existentes, sendo a primeira etapa de um processo que termina com contrato definitivo depois do período de experiência. Ao se abrir uma vaga, o recrutamento primeiramente deve fazer uma pesquisa para buscar as características desejadas em pessoas para o cargo que precisa ser ocupado. A maioria das grandes empresas dispõe de um banco de dados de candidatos onde pode ser feita uma busca e recuperar o currículo (LACOMBE, 2005). Para Chiavenato (1986), a função do recrutamento é suprir a seleção de pessoal, ou seja, os candidatos ao emprego. O recrutamento se baseia em quatro pontos: - Quantidade de candidatos: quanto maior o número de candidatos que atenda aos requisitos da vaga será maior a possibilidade de escolher um bom profissional. - Qualidade dos candidatos: o recrutamento deve atrair candidatos com as qualificações exigidas. - Permanência: a permanência dos candidatos é duradoura à medida que haja um bom recrutamento, sendo que, se não houver um bom recrutamento esses candidatos desistirão durante o processo de seleção, ou se forem admitidos ficarão pouco tempo na empresa. - Custo do recrutamento: o custo do recrutamento deve ser moderado. O que pode elevar o custo do recrutamento é o uso inadequado de agências ou anúncios, que atrai grande número de candidatos, fazendo consumir um tempo muito longo na seleção ou mesmo a demora no processo. O que deve se levar em conta durante o recrutamento é a política de pessoal adotado pela empresa, a situação da empresa em relação ao que ela oferece para satisfazer as necessidades básicas e sociais e as aspirações dos trabalhadores, a situação dos mercados de trabalho e de recursos humanos em determinado momento ou a quantidade e qualidade de profissionais procurados disponíveis no local. Conforme Chiavenato (2002 apud CHIAVARO; REICHERT; CUNHA, 2008), pode se considerar que existem várias formas de recrutamento, que pode ser interno (envolvendo 93 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 funcionários da empresa), externo (captação no mercado), misto (captação de pessoal interno e externo), on-line (pela internet) e networking. 3.1 Recrutamento Interno Para Chiavenato (1999, p. 92), “o recrutamento interno atua sobre os candidatos que estão trabalhando dentro da organização”. Segundo Gil (2008) recrutamento dentro da empresa é um bom meio, pois os indivíduos já são conhecidos e a empresa lhes é familiar. Também é um procedimento bem econômico e serve para mostrar que a empresa está interessada em motivar os seus funcionários e promove-los. Gil (2008), porém, complementa que têm um grande peso como desvantagens o fato de criar dificuldades em relação aos empregados, pois, a partir do momento que você entrevista uma pessoa e a recusa pode prejudicar o relacionamento com ela, ou ainda ocorrer manifesto de desagrado dos departamentos quando vê que tem a possibilidade de perder o funcionário do setor. Quadro 1: Recrutamento Interno. Vantagens Desvantagens Aproveitar melhor o potencial humano da organização Pode bloquear as entradas de novas ideias, experiências e expectativas. Motiva e encoraja o desenvolvimento profissional dos atuais funcionários Facilita o conservantismo e favorece a rotina atual Incentiva a permanência dos funcionários e a sua fidelidade a organização Mantém quase inalterado o atual patrimônio humano da organização Ideal para situações de estabilidade e poucas mudanças ambientais Ideal para empresas burocráticas e mecanísticas Não requer socialização organizacional de novos membros Mantém e conserva a cultura organizacional existente Probabilidade de uma melhor seleção, pois os candidatos são bem conhecidos Funciona como um sistema fechado de reciclagem continua Custa financeiramente menos do que fazer recrutamento externo Fonte: Chiavenato (1999, p. 93). 94 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 Para o recrutamento interno, o preenchimento das vagas e oportunidades é feito através dos próprios funcionários atuais, pois são os preferidos e oferece uma carreira de oportunidades ao funcionário. Para Chiavenato (1999), o recrutamento interno costuma envolver: - transferências; - promoções; - promoções com transferência; - programas de desenvolvimento de pessoal;- plano de carreira; Chiavenato (1999) observa que o recrutamento dentro da empresa evita despesas com anúncios, honorários com agências de emprego e custo com período de integração. No que se refere à seleção interna, além de ser um fator motivacional para os colaboradores, traz muitos benefícios para a empresa e oportunidades. O autor ainda ressalta que é mais rápido, evitando demoras como o recrutamento externo exige, o qual causa expectativas do anúncio e espera que esses novos candidatos apareçam, como também a demora natural do processo de admissão externo. O recrutamento interno também valida ainda mais o processo e traz maior segurança na seleção, pois o candidato já é conhecido, consequentemente também já é avaliado durante certo período de tempo em que está na empresa, sendo submetido à apreciação dos chefes envolvidos, não precisando do período experimental, como a integração de uma forma geral. A margem de erro reduz, devido à base de informações que a empresa tem dos funcionários envolvidos no processo. Chiavenato (2009) ainda ressalta as vantagens sobre as questões dos investimentos que a empresa já vem fazendo em seus colaboradores, através de treinamentos pessoais, uma vez que tem o retorno quando o empregado passa a ocupar cargos mais elevados e complexos. Desenvolve também um espírito de competição entre as pessoas, uma vez que as oportunidades existem e são oferecidas às pessoas que demonstrem condições para merecê-las. Conforme citado anteriormente, o que poderá gerar uma boa seleção interna são as definições das políticas dessa ação, estrutura, forma e a elaboração. Bohlander, Scott e Sherman (2005) relatam, no entanto, que o preenchimento de determinada vaga por alguém de dentro da empresa dependerá da disponibilidade do pessoal, das políticas da gestão de pessoas e dos requisitos a serem preenchidos. 95 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 Ainda citando como vantagem do recrutamento interno, Pontes (1996, p. 98) observa que o “recrutamento interno também tem como vantagem o tempo de ambientação do empregado ser menor em relação ao contratado externamente”. Segundo Limongi-França (2009), o recrutamento interno “é a procura de candidatos dentro da própria organização para o preenchimento de uma vaga” e este processo influencia o aperfeiçoamento dos funcionários devido à possibilidade de progressão funcional. Assim, o recrutamento interno é uma forma de elevar a motivação por parte dos funcionários na empresa, fazendo com que procurem sempre se preparar para futuros desafios, se capacitando e elevando o nível de conhecimento e interesse. Chiavenato (2009, p. 163) o define como: [...] uma fonte poderosa de motivação para os empregados: desde que estes vislumbrem a possibilidade de crescimento dentro da organização, graças ás oportunidades oferecidas para uma futura promoção. Quando a empresa desenvolve uma política consistente de recrutamento interno, ela estimula junto a seu pessoal a atitude de constante auto aperfeiçoamento e auto avaliação, no sentido de aproveitar as oportunidades ou mesmo criá-las. Como forma de auxílio para a captação dos talentos internos com mais objetividade possível, é importante que a empresa tenha um banco de dados, que ajuda muito a identificar o talento que a empresa está precisando no momento, o que irá facilitar e muito e com mais eficiência a escolha do funcionário profissional para a vaga em aberta. Conforme Carvalho, Passos e Saraiva (2008), o banco de dados precisa reunir dados e informações sobre todo o histórico profissional dentro da empresa, cursos que o mesmo fez, treinamentos realizados, conhecimentos obtidos e aperfeiçoados dentro e fora da organização, resultados de suas avaliações de desempenho se houver, sendo normalmente usado no processo de recrutamento interno. Com certeza, a empresa servirá de vitrine também para captações no mercado de novos talentos, que enxergarão uma empresa que valoriza seus colaboradores e os incentivam a se preparar cada vez mais, para que possam ocupar futuras oportunidades que surgirão em seus setores. Com uma boa estruturação dessa política, todos saem ganhando satisfação e autoestima. Toda grande Organização tem funcionários com desempenho baixo, médio e alto, mesmo assim as empresas não fazem diferenciação entre eles, visto que é necessário concentrar mais esforços nesse sentido, buscando identificar e reter esses talentos existentes. (CAPPELLI, 2003, p. 18). Ligado ao recrutamento interno, ressalta-se esta oportunidade como forma de plano de carreira, pois, conforme citado pelo autor, é uma fonte poderosa de motivação, também 96 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 serve como uma fonte poderosa para quem almeja o plano de carreira ligado à sua área na organização. Da mesma forma que hoje o colaborador trabalha em uma determinada área, mas passa a ser transferido para outra totalmente diferente de onde estava antes, ocorre também a promoção e a seleção dentro da própria área e isso se trata do plano de carreira também, ou seja, crescer dentro do mesmo setor até atingir o alto nível daquela área. 4 PLANO DE CARREIRA Carreira é a sequência de posição e atividades exercidas e desenvolvidas pelo empregado ao longo do tempo dentro de uma organização, geralmente as empresas elaboram um plano de carreira para preparar as pessoas para ocuparem cargos cada vez mais altos dentro da hierarquia da organização (CHIAVENATO, 2009). Chiavenato (2009) retrata o ser humano como uma fonte de aptidões para produtividade, no entanto haverá uma limitação se essas aptidões não forem bem aproveitadas: o ser humano tem aptidões para produtividade, as quais podem permanecer inativas se o ambiente em que vive e trabalha lhe é restrito e hostil, impedindo o crescimento e a expansão suas potencialidades. O funcionário que tem um plano de carreira traçado tem maior comprometimento com a empresa, se relaciona melhor com as outras pessoas, é mais focado na resolução de problemas e melhorias contínuas em seu setor, pois há um propósito a ser seguido, e ele sabe que se desviar o foco não chegará ao objetivo, é importante acima de tudo ele esteja engajado junto aos objetivos da empresa. Segundo London e Stumph (1982 apud DUTRA, 1996, p. 17), Carreira são as sequências de posições ocupadas e trabalhos realizados durante a vida de uma pessoa. A carreira envolve uma série de estágios e a ocorrência de transições que refletem necessidades, motivos e aspirações individuais e expectativas e imposições da organização e da sociedade. Da perspectiva do indivíduo, engloba o entendimento e a avaliação de sua experiência profissional, enquanto da perspectiva da organização engloba políticas, procedimentos e decisões ligadas a espaços ocupacionais, níveis organizacionais, compensação e movimentação de pessoas. Estas perspectivas são conciliadas dentro de um contexto de constante ajuste, desenvolvimento e mudança. Não basta apenas o funcionário ter um plano de carreira, sendo que a empresa não dá ferramentas para o mesmo se desenvolver ou mesmo não oferece um plano. O recrutamento interno é como uma porta de escape, mas para isso a empresa precisa deixar claro o que ela espera do colaborador que está em busca de um objetivo, pois se a empresa não tem uma 97 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 visão voltada para isso, com certeza ela perderá o talento para uma concorrente, perdendo assim um capital intelectual, portanto é importante que a organização acompanhe nesse sentido seus colaboradores. Chiavenato (2009) compara o plano de carreira: [...] a uma estrada que não existe, na verdade, um caminho plano, asfaltado e conservador que proporcionará o sucesso pessoal e profissional a quem o trilhar. Pelo contrário, o plano de carreira é fruto de umasequência de eventos não tão simétricos, estando, portanto, em constante construção e infelizmente, muitas vezes em “desconstrução”. (CHIAVENATO, 2009, p. 124). Para Araújo e Garcia (2009), as organizações precisam ter em sua estrutura algumas definições que podem facilitar a elaboração de um plano de carreira, tais como: • As metas da empresa; • A pactuação do que é esperado dos colaboradores; • A identificação do perfil necessário; • A qualificação necessária para os cargos; • A estruturação e divulgação do sistema de oportunidades oferecido pela organização. É possível fazer carreira dentro de grandes organizações e até mesmo pequenas, isso ajudará também não só na motivação, como também na retenção de capitais humanos com altos potenciais futuros. Para Chanlat, (1995, p. 69), Aparece a ideia de que a empresa deve preocupar-se em gerir as carreiras de seu pessoal. [...] O termo gestão torna-se uma palavra da moda. E dentro deste contexto de reabilitação da empresa e de hegemonia do discurso gerencial que surge a noção de carreira. Ela é igualmente alimentada pelo novo discurso sobre a gestão de recursos humanos. De agora em diante, o capital humano torna-se essencial nas práticas de gestão [...]. Fazer carreira torna-se possível, em teoria, para todo mundo, porém, na prática, como sabemos, é muitas vezes diferente. Conforme Carvalho e Nascimento (1999), para a empresa ter um bom plano de carreira com uma estrutura sistêmica e sólida, é preciso: a) propiciar carreiras compatíveis de acordo com as necessidades de mão-de-obra definidas no planejamento do RH; b) permitir que os funcionários estejam motivados para o trabalho face à ascensão que lhes é oferecida pela empresa; c) assegurar que a política de formação e desenvolvimento de carreira seja transparente e dinâmica; d) garantir que a direção da empresa possa utilizar o desenvolvimento da carreira como um instrumento efetivo de administração integrada. 98 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 Ou seja, pode-se observar que a estratégia está ligada sempre interinamente ao funcionário, e que a organização deve cada vez mais se atentar para as necessidades do mesmo. Segundo Milkovich (2008), a âncora de carreira é um autoconceito baseado em diferentes motivações e habilidades ocupacionais. Esse autoconceito orienta, estabiliza e integra as experiências profissionais de uma pessoa. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o levantamento bibliográfico realizado, cujo objetivo geral foi conhecer o recrutamento interno e a perspectiva gerada por ele para os colaboradores, com relação ao plano de carreira constatou-se que, em tempos de extrema competitividade por capital humano e talentos, é importante que as empresas enxerguem as necessidades de seus funcionários, como as vontades e desejos de crescimento e desenvolvimento pessoal, pois o colaborador motivado profissionalmente é uma estratégia importante da empresa para obter o seu diferencial. De fato, não é possível encontrar empresas e organizações onde não há insatisfação por parte de algum funcionário devido à falta de oportunidades internas, impedindo que o mesmo possa realizar um planejamento de carreira e crescimento, para isso a organização precisa oferecer uma forma de plano de carreira estabelecida em sua estrutura. É de extrema importância estreitar os laços entre desejo de um funcionário crescer e de se desenvolver com a necessidade da empresa em obter um profissional para uma determinada vaga no futuro, tratando-o assim como um capital intelectual importante a ser aproveitável. Percebe-se o importante papel dos Recursos Humanos em obter um banco de talentos internos, como também desenvolver projetos e caminhos que os mesmos possam trilhar dentro da organização para obter um crescimento. Conclui-se que é possível empresas de grande porte atrelarem os seus interesses de aporte de capital humano com o desenvolvimento e capacitação dos próprios funcionários que trabalham dentro da organização, assim como também elevar a autoestima e a motivação de seus funcionário; que é possível também, por outro lado, que os funcionários possam ocupar as vagas ofertadas e disponíveis dentro da organização, ligados ao seus desejos de plano de carreira planejados, traçados e crescimento profissional. 99 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 3, p. 88-100, jan./jun. 2016 REFERÊNCIAS ARAUJO, L. C. G de; GARCIA, A. A. Gestão de Pessoas: estratégias e integração organizacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. BOHLANDER, G.; SCOTT, S.; SHERMAN, A. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. CAPELLI, P. Contratando e mantendo as melhores pessoas. Rio de Janeiro: Record, 2003. CARVALHO, A. V; NASCIMENTO, L. P. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pioneira, 1999. CARVALHO, I. M. V; PASSOS, A. E. V. M.; SARAIVA, S. B. C. Recrutamento e seleção por competências. Rio de Janeiro: FGV, 2008. CHANLAT, J. F. (coord.). Quais carreiras e para qual sociedade? Revista de Administração de Empresas. São Paulo: FGV, vol.35, n.6, p. 67-75, nov./dez. 1995. CHIAVARO, A. C.; REICHERT, C. B.; CUNHA, T. R. S. Recrutamento e Seleção: um enfoque estratégico no Processo de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas. 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