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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SITUAÇÃO PROBLEMA 1: “TUDO TEM GOSTO DE PALHA” Ana Luiza Dutra Oliveira Caroline de Lima Leandro Fernanda Fernandes Andrade João Otávio Leal Farina Leonardo Santos Assis Matheus Ribeiro Leite Dutra Matheus Teixeira Silva Paula Kathlyn de Oliveira Rafael Junior Tecchio Romullo Augusto Bastos de Oliveira Rones Dias da Costa Filho MINEIROS-GO 2019 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SITUAÇÃO PROBLEMA 1: “TUDO TEM GOSTO DE PALHA” Relatório apresentado ao Centro Universitário de Mineiros como requisito parcial para obtenção de nota na disciplina de Tutoria do Curso de Medicina. Orientado pela professora Dra. Carol. MINEIROS-GO 2019 3 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................................4 2.OBJETIVOS .........................................................................................................................5 2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................5 2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................5 3.DISCUSSÃO .........................................................................................................................6 3.1...........................................................................................................................................6 3.2...........................................................................................................................................7 3.3...........................................................................................................................................9 3.4..........................................................................................................................................11 3.5..........................................................................................................................................15 3.6..........................................................................................................................................17 3.7..........................................................................................................................................22 3.8..........................................................................................................................................24 3.9..........................................................................................................................................27 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................31 5. REFERÊNCIAS .................................................................................................................32 4 1. INTRODUÇÃO A diferenciação e percepção de alimentos indesejáveis ou letais, dos que nos dão prazer e que são nutritivos estão diretamente ligados ao sentido de olfação e gustação. Eles também geram respostas fisiológicas que estão envolvidas na digestão e no uso dos alimentos. A olfação ainda permite que indivíduos reconheçam uns aos outros. Ainda pode-se dizer que a olfação e a gustação estão diretamente ligadas às funções emocionais e comportamentais primitivas do nosso sistema nervoso. O problema permite entender mais sobre o funcionamento desses dois sentidos, visando o conhecimento anatômico, histológico e fisiológico das estruturas relacionadas a esses dois sentidos, vem como compreender as vias nervosas responsáveis pela transferência de tais estímulos. Também nos proporciona compreender as principais causas de alterações da olfação e da gustação assim como o impacto que tais alterações causas ao individuo Será relatado também sobre as diversas formas de identificação de alterações tireoidianas, com enfoque na situação em que cada uma deve ser utilizada, além de, reconhecer os marcadores específicos para casos de carcinoma medular de tireoide. 5 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral: Compreender as funções sensoriais (olfato, paladar) e suas alterações. 2.2 Objetivos específicos: ✓ Compreender o funcionamento da Bioeletrogênese; ✓ Defina gustação e Olfação; ✓ Caracterizar a Função e a estrutura da língua e nariz; ✓ Descrever as vias neurológicas e sensitivas relacionadas a gustação e olfação; ✓ Caracterizar a integração sensorial entre olfação e gustação; ✓ Citar as principais alterações da olfação e gustação; ✓ Compreender o impacto biopsicossocial decorrente das alterações de gustação e olfação; ✓ Discutir os marcadores laboratoriais da tireoide; ✓ Apontar os marcadores laboratoriais do carcinoma medular de tireoide (BRAF, Calcitonina, Tireoglobulina). 6 3. DISCUSSÃO 3.1 Compreender o funcionamento da Bioeletrogênese. Bioeletrogênese é a formação de potencial elétrico ou de diferença de potenciais em um sistema biológico. A carga elétrica externa da membrana plasmática é positiva e no interior é negativa. Tais cargas são baseadas na concentração de íons. A distribuição dos íons é diferente, tendo maior concentração de sódio do lado de fora da célula e maior concentração de potássio no interior da célula. Esses são os principais íons para a bioeletrogênese. A célula em repouso é estimulada, por um neurotransmissor ou por um estímulo elétrico, por exemplo, alterando a permeabilidade de membrana e, com isso, há a inversão do potencial. A tal evento foi dado o nome de despolarização ou polarização invertida. Logo, se internamente a carga era negativa, vai ficar positiva. Após a despolarização a célula começa a voltar ao seu perfil de repouso, que é a repolarização. Depois da repolarização ainda tem a hiperpolarização. O processo de bioletrogênese pode ser divido em três etapas • Repouso É o potencial de repouso da membrana, antes do início do potencial de ação. Diz-se que a membrana está “polarizada” durante esse estágio, em razão do potencial de membrana de -90 milivolts negativo existente. • Despolarização A membrana fica subitamente muito permeável aos íons sódio, permitindo que grande número de íons sódio positivamente carregados se difunda para o interior do axônio. 7 • Repolarização Em alguns décimos de milésimos de segundo após a membrana ter ficado muito permeável aos íons sódio, os canais de sódio começam a se fechar, e os canais de potássio se abrem mais que o normal. Então, a rápida difusão dos íons potássio para o exterior restabelece o potencial de repouso negativo da membrana. Ainda pode haver situações em que ocorre uma hiperpolarização onde a célula está mais polarizada do que o normal (repouso). Nessa etapa tem o efluxo de potássio e começa a haver um desequilíbrio desse íon, pois a bomba de sódio e potássio continua jogando potássio para dentro da célula, gerando uma eletronegatividade maior que a no estado de repouso. Depois esse íon sai da célula e o equilíbrio é reestabelecido. 3.2 Defina gustação e Olfação. • Sentido da Gustação: A gustação é principalmente função dos botões gustatórios presentes na boa, mas é comum a experiência de que a olfação também contribui intensamente para a percepção do paladar. Além disso, a textura do alimento, detectadapelos sensores de tato da boca, e a presença de substâncias no alimento que estimulam as terminações dolorosas, tais como a pimenta, alteram sensivelmente a experiência do paladar. A importância do paladar reside no fato de que ele permite à pessoa selecionar substâncias específicas, de acordo com os seus desejos e frequentemente de acordo com as necessidades metabólicas dos tecidos corporais. As identidades de substâncias químicas específicas, que excitam os diferentes receptores gustatórios não são completamente conhecidas. Ainda assim, estudos psicofisiológicos e neurofisiológicos identificaram pelo menos 13 receptores químicos possíveis ou prováveis nas células gustatórias, como descrito a seguir: dois receptores para sódio, dois receptores para potássio, um receptor para cloreto, um receptor para adenosina, um receptor para inosina, dois receptores para doce, dois receptores para amargo, um receptor para glutamato e um receptor para o íon hidrogênio. A pessoa pode perceber centenas de diferentes gostos. Supõe-se que eles sejam combinações das sensações gustatórias elementares, da mesma forma como as cores que vemos são combinações das três cores primárias. Gosto Azedo: é causado pelos ácidos, ou seja, pela concentração de íon hidrogênio, e a intensidade dessa sensação é aproximadamente proporcional ao logaritmo de concentração do íon hidrogênio, isto é, quanto mais ácido o alimento, mais forte se torna a sensação de azedo. 8 Gosto Salgado: é provocado, por sais ionizados, principalmente pela concentração de íons sódio. A qualidade do gosto varia ligeiramente de um sal para outro porque alguns sais provocam outras sensações gustatórias além do salgado. Os cátions de sais sódio, são os principais responsáveis pelo gosto salgado. Gosto Doce: não é induzido por categoria de uma única substância química. Alguns tipos de substâncias que provocam este gosto são: açucares, glicóis, álcoois, aldeídos, cetonas, amidos, ésteres, alguns aminoácidos halogenados, e sais inorgânicos de chumbo e berílio. Deve-se ressaltar que a maioria das substâncias que induzem o gosto doce é orgânica. Gosto Amargo: assim como o gosto doce, não é induzido por um tipo único de agente químico. Nesse caso, novamente as substâncias que provocam o gosto amargo são quase exclusivamente substâncias orgânicas. Duas classes particulares de substâncias destacam-se como indutoras das sensações de gosto amargo: (1) substâncias orgânicas de cadeia longa, que contêm nitrogênio e (2) alcaloides. Os alcaloides incluem muitos dos fármacos utilizados como medicamentos, como quinina, cafeína, estricnina enictina. O gosto amargo, é uma forma de defesa para o corpo, já que várias toxinas, possuem alcaloides, e normalmente há rejeição a deglutição dessas toxinas. Gosto Umami: é uma palavra japonesa para designar a sensação de gosto prazerosa que é qualitativamente diferente do azedo, do salgado, do doce ou amargo. Umami é o gosto predominante dos alimentos que contêm L-glutamato, tais como caldos de carne e queijo amadurecido, e alguns fisiologistas o consideram como categoria separada, a quinta categoria de estímulo primário do paladar. • Sentido da Olfação: A olfação é o menos conhecido dos nossos sentidos. Isso é resultado, em parte, do fato de que o sentido da olfação é fenômeno subjetivo que não pode ser estudado facilmente em animais inferiores. Outro problema complicador é que o sentido da olfação é pouco desenvolvido nos seres humanos em comparação com os animais inferiores. Há cílios olfatórios projetados pela superfície apical das células olfatórias, e são esses cílios que respondem aos odores presentes no ar que estimulam as células olfatória. Entre as células olfatórias na membrana olfatória, encontram-se muitas pequenas glândulas de Bowman secretoras de muco na superfície olfatória No passado, a maioria dos fisiologistas estava convencida de que poucas sensações primárias discretas eram responsáveis por muitas sensações olfatórias, da mesma forma que a visão e o tato de que também dependem de poucas sensações primárias selecionadas. Com base em estudos psicológicos, tenta-se classificar essas sensações como: (1) cânfora, (2) 9 almiscarado, (3) floral, (4) hortelã, (5) etéreo, (6) irritante, (7) pútrido. É certo que essa lista não representa as verdadeiras sensações primárias olfatórias. A natureza afetiva da olfação, mais ainda que a gustação, tem a qualidade afetiva de ser agradável ou desagradável. Por isso, a olfação é provavelmente mais importante do que a gustação para a seleção dos alimentos. De fato, a pessoa que previamente ingeriu alimento que o desagradou, em geral, sente náuseas com o odor desse alimento na segunda ocasião. Inversamente, bom perfume pode ser potente estimulante das emoções humanas. Além disso, em alguns animais inferiores, os odores são os principais estimulantes dos impulsos sexuais. Limiar para olfação é uma das principais características da olfação é a quantidade- minuto do agente estimulante no ar que pode provocar sensação olfatória. Por exemplo, a substância metilmercaptano pode ser percebida quando apenas 25 trilionésimos de uma grama estão presentes em cada mililitro de ar. Em razão desse limiar extremamente baixo, essa substância é misturada com gás natural para dar ao gás um odor que pode ser detectado, mesmo quando pequenas quantidades de gás vazarem de um gasodulto. Graduações de intensidade da olfação: embora as concentrações limiares das substâncias que evocam a olfação sejam extremamente baixas para muitas substâncias odorantes (se não a maioria), concentrações somente 10 a 50 vezes maiores que o limiar evocam a intensidade máxima da olfação. Isso contrasta com a maioria dos outros sistemas sensoriais, em que os limites de discriminação de intensidade são enormes – por exemplo, 500.000 para um no caso do olho e 1 trilhão para um no caso do ouvido. Essa diferença poderia ser explicada pelo fato de que a olfação está mais relacionada à detecção da presença ou ausência de substâncias odorantes do que à detecção quantitativa de suas intensidades. 3.3 Caracterizar a Função e a estrutura da língua e nariz. A língua é o principal órgão do paladar e um importante órgão da fala, além de auxiliar na mastigação e deglutição. É constituída por músculo esquelético recoberto por mucosa e junto com os músculos associados, forma o assoalho da cavidade oral. A língua é dividida em metade laterais simétricas por um septo mediano que se estende por todo o seu comprimento, e está fixada ao osso hioide, ao processo estiloide do osso temporal e à mandíbula. As metades da língua são conjuntos idênticos de músculos extrínsecos e intrínsecos. Os músculos intrínsecos da língua, que se originam fora da língua (fixam-se aos ossos na área) e se inserem nos tecidos conjuntivos na língua, são o hioglosso, genioglosso e estiloglosso. Os músculos extrínsecos movem a língua de um lado para outro, para dentro e 10 para fora, a fim de manobrar o alimento para mastigação, transformá-lo em uma massa arredondada e empurrá-lo até a parte posterior da boca para deglutição. Eles também formam o assoalho da boca, mantêm a língua em posição e auxiliam a fala. Os músculos intrínsecos originam-se e inserem-se no tecido conjuntivo da língua e modificam o formato e o tamanho da língua para a fala e a deglutição. Os músculos intrínsecos são o longitudinal superior, longitudinal inferior, transverso da língua e vertical da língua. (TORTORA, 2013) O frênulo da língua, uma prega de mucosa na linha mediana da face inferior da língua, está fixado ao assoalho da boca e ajuda a limitar o movimento posterior da língua. Quando o frênulo da língua é curto ou rígido demais, distúrbio denominado anquiloglossia, diz-se que a pessoa tem a língua presa em razão do comprometimento da fala. O dorso e as faces laterais da língua são cobertospor papilas, projeções da lâmina própria recobertas por epitélio estratificado pavimentoso. Muitas papilas contêm canalículos gustatórios, os receptores da gustação. As papilas fungiformes são elevações em forma de cogumelos distribuídas entre as papilas filiformes, que são mais numerosas. Elas estão dispersas sobre o dorso da língua, mas concentradas principalmente na margem da língua. Apresentam-se como pontos vermelhos na superfície da língua, e a maioria delas contém calículos gustatórios. São vermelhas em razão da alta densidade de capilares sob um epitélio fino e não queratinizado (TORTORA, 2013). As circunvaladas são dispostas na forma de V invertido na superfície posterior da língua, todas elas contêm calículos gustatórios. As papilas folhadas estão localizadas nas bordas laterais da língua, mas a maioria de seus calículos gustatórios degenera no início da infância. As papilas filiformes são projeções pontiagudas, distribuídas em fileiras paralelas sobre os dois terços anteriores da língua. Embora não tenham calículos gustatórios, as papilas filiformes contêm receptores táteis e aumentam o atrito entre a língua e o alimento, tornando mais fácil para a língua descolar o alimento na cavidade oral. A cor branca manchada da língua é consequência das células queratinizadas mortas na extremidades dessas abundantes papilas filiformes. (TORTORA, 2013). Nariz O nariz é um órgão especial na entrada para o sistema respiratório, que é dividido em parte externa e parte interna, denominada cavidade nasal. O nariz externo tem a forma de uma pirâmide, de base inferior, e cuja face posterior se ajusta verticalmente no 1/3 médio da face. As faces laterais do nariz apresentam uma saliência semilunar que recebe o nome de asa do nariz. 11 O ar entra no trato respiratório através de duas aberturas chamadas narinas. Em seguida, flui pelas cavidades nasais direita e esquerda, que estão revestidas por mucosa respiratória. O septo nasal, formado por osso (vômer e etmóide) e cartilagem, separa essas duas cavidades. Os pelos do interior das narinas filtram grandes partículas de poeira que poderiam ser inaladas. Além disso, a cavidade nasal contêm células receptoras para o olfato e torna o ar condicionado, ou seja, ele é filtrado, umedecido e aquecido. A cavidade nasal é a escavação que encontramos no interior do nariz, ela é subdividida em dois compartimentos um direito e outro esquerdo. Cada compartimento dispõe de um orifício anterior que é a narina e um posterior denominado coana. As coanas fazem a comunicação da cavidade nasal com a faringe. Na parede lateral da cavidade nasal encontramos as conchas nasais que são divididas em superior, média e inferior. O esqueleto ósseo do nariz é formado pelo osso frontal, ossos nasais e maxilares. A cavidade nasal contêm ainda aberturas de drenagem, pelas quais o muco dos seios paranasais é drenado. O seios paranasais compreendem os seios maxilares, frontal, etmoidal e o esfenoidal. 3.4 Descrever as vias neurológicas e sensitivas relacionadas a gustação e olfação. As vias sensoriais fazem parte da composição das vias aferentes do sistema nervoso periférico, e possuem três finalidades, sendo essas: sentir o ambiente externo e interno, e perceber a movimentação e o posicionamento do corpo. Essa percepção é realizada através das células sensoriais, mediante a mecanismos que envolvem a abertura e fechamento dos canais iônicos e ativação de diversos receptores capazes de captar os diferentes estímulos internos ou externos. Dessa forma, é possível destacar duas das vias aferentes que penetram o Sistema Nervoso Central, por meio dos Nervos Cranianos, sendo essas: vias gustativas e vias olfativas. • Vias gustativas O processo se inicia quando se ingere uma substância e essa ativa as células receptoras gustativas presentes na língua, os chamados botões gustativos que se localiza nas papilas gustativas. Como essas células receptoras não possuem axônios, a informação será transmitida sinapticamente aos terminais de fibras aferentes que compõem os VII, IX, X dos pares cranianos. Assim, caso o impulso seja gerado no 2/3 anterior da língua, essa informação será transmitida para o Nervo Lingual, em seguida para o ramo corda do tímpano do Nervo Facial (VII par). Por outro lado, se esse impulso for originado nas papilas circunvaladas ou em outra 12 porção da parte posterior irá para o Nervo Glossofaríngeo (IX par), e por fim, poucos serão originados na base ou em outras partes da região faríngea, como em botões gustativos presentes na epiglote são inervados pelo Nervo Vago (X par). Além disso, existe um neurotransmissor principal responsável pela comunicação entre a célula receptora e a fibra aferente, sendo esse o ATP, esse é liberado na fenda sináptica e alcança receptores purinérgicos na membrana pós-sináptica do neurônio sensorial primário. Em seguida, as informações gustatórias são transmitidas para o núcleo do trato solitário (NST), esse localizado no bulbo do trono cerebral. Em seguida, neurônios de 2 ordem da porção gustativa do NST projetam para o núcleo ventral posteromedial do tálamo. Posteriormente, continua por uma via gustativa específica, através dos neurônios de 3 ordem que projetam as informações para a extremidade inferior do giro pó-central no córtex cerebral parietal/ primário, e ocorre a projeção para a fissura silviana e na área insular opercular anterior. Esse córtex primário projeta para o núcleo central da amígdala e de lá para o hipotálamo, e para uma porção do córtex orbitofrontal, esse sendo denominado como córtex secundário. Esse segundo córtex recebe projeções de outras modalidades sensoriais, como olfação, visão, somestesia, assim contribui para a integração multimodal que constitui o sabor dos alimentos. Há um conjunto de reflexos envolvidos no controle de ações motoras e vegetativas durante a ingestão dos alimentos. Dessa maneira, as informações ao saírem do trato solitário, são encaminhadas para o tronco cerebral e vão para os núcleos salivares superiores e inferiores, por exemplo, esses emitem um sinal para as glândulas submandibular, sublingual e parótidas, que irão controlar a secreção de saliva. Além disso, esses reflexos são importantes para adaptação de um organismo ao seu ambiente. 13 • Vias olfatórias O olfato é responsável pela transdução das moléculas químicas, presentes no meio externo. Nesse sentido, a percepção das diferentes substâncias químicas é realizada por receptores presentes nas células receptoras olfativas do epitélio olfativo, localizado no alto da cavidade nasal. Assim, os axônios destas células projetam os sinais para os bulbos olfatórios, sendo as fibras que projetam posteriormente ao bulbo são chamadas Nervo Olfatório (I par) ou trato, em suas porções especializadas que são denominas como glomérulos olfatórios, responsáveis por transmitir o impulso nervoso. 14 Em seguida, são encaminhadas para o córtex olfativo, localizado na região temporal inferior, e estruturas vizinhas no lobo temporal. Esse córtex olfatório é subdivido em 5 áreas principais, sendo essas: a) Núcleo Olfatório Anterior: possui a função de mediar a comunicação entre as regiões bilateralmente simétricas dos dois bulbos olfatórios. b) Córtex Pirifome: é a principal área envolvida na discriminação olfatória c) Tubérculo Olfatório: responsável por enviar projeções ao núcleo mediodorsal do tálamo, que por sua vez, se projeta ao córtex orbitofrontal, envolvido na perpecpção olfatória consciente d) Núcleo Cortical da Amídala e o Córtex Entorrinal: ambos se projetam para o hipotálamo e o hipocampo e parecem estar envolvidos nos atributos afetivos que acompanham o estímulo olfatório. Vale destacar, que ao contrário dos demais sistemas sensoriais, a informação sensorial atinge o córtex de modo direto, sem passar pelo tálamo,porém a percepção consciente do odor parecer ser mediada por uma via iniciada no tubérculo olfatório, e segue de acordo com a letra c já mencionada. Além disso, cada célula receptora expressa apenas uma proteína receptora, assim células semelhantes projetam-se para o mesmo glomérulo olfativo, desse modo existe uma separação espacial, no bulbo olfatório. Diante disso, assim como acontece na gustação, os diferentes odores são interpretados no córtex, devido a ativação diferencial específica das várias populações de células receptoras. 15 3.5 Caracterizar a integração sensorial entre olfação e gustação. Os sentidos químicos são aqueles que possuem receptores dependentes de excitação por substâncias químicas. Os sentidos gustativos e olfativos são um deles. Os receptores 16 gustativos são excitados por substancias químicas contidas nos alimentos, já os receptores olfativos são excitados pelas substancias presentes nos ar. Os centros do olfato e do gosto no cérebro combinam as informações obtidas pela língua e pelo nariz, para juntos codificarem os sabores. Os sabores são identificados pelas papilas gustativas presentes na língua, ao passo que, os odores são percebidos pelos nervos localizados no nariz. No entanto, a gustação e a olfação estão intimamente relacionadas. Ambas as sensações são transmitidas ao cérebro, a fim de as informações sejam integradas e os sabores possam ser reconhecidos e apreciados. Alguns sabores, como o salgado, o amargo, o doce e o ácido podem ser reconhecidos independentemente do olfato, porém, outros sabores mais complexos, como o da framboesa, necessitam de ambos os sentidos. Por esse motivo é que, em algumas situações em que o olfato está comprometido, como em uma gripe, não sentimos o gosto de alguns alimentos. O cheiro acrescenta um enorme valor ao paladar e contribui para que caracterizemos e o sabor; a mastigação intensifica o olfato por liberar as partículas do alimento. Ao comer uma fruta, por exemplo, o aroma dela chega até o nariz e se dissolve na mucosa que recobre as células sensíveis ao cheiro (receptores olfatórios). Estas células enviam sinais nervosos para parte olfativa do cérebro que reconhece o gosto da fruta, e assim você sabe que fruta está comendo. Sendo assim, enquanto mastigamos, sentimos simultaneamente o paladar e o cheiro. Dessa forma, pode-se dizer que o epitélio olfativo tem a maior contribuição para as sensações de gosto, apesar da impressão do gosto ser na boca. 17 3.6 Citar as principais alterações da olfação e gustação. O olfato e o paladar são sentidos químicos. Assim, os sistemas neurais que intermedeiam estas sensações, os sistemas gustatório e olfatório, estão entre aqueles filogeneticamente mais antigos do encéfalo e ao perceberem substâncias químicas na cavidade oral e nasal trabalham em conjunto. As sensações surgem pela ligação de moléculas com os receptores da olfação e gustação. Como os impulsos se propagam para o sistema límbico e também para as áreas corticais superiores, certos odores e gostos podem desencadear fortes respostas emocionais ou grande fluxo de memórias. A importância do paladar está no fato de que ele deixa uma pessoa escolher substâncias específicas conforme for os seus desejos e, frequentemente, de acordo com as necessidades metabólicas dos tecidos corpóreos. A olfação, mais ainda que a gustação, tem a qualidade afetiva de ser agradável ou desagradável. Por isso, a olfação é, provavelmente, mais importante do que a gustação para a escolha de alimentos. Sabe-se que a gustação é antes de tudo uma função dos corpúsculos gustativos da boca, mas é experiência comum que o sentido do olfato contribui fortemente para notar o gosto. É muito importante lembrar a sua relação com a gustação, pois sem o olfato não sentimos de forma correta o gosto dos alimentos, perdendo assim o apetite e o prazer com a alimentação. Os botões gustativos diminuem com a idade e as papilas gustativas, que atingem seu máximo de desenvolvimento na puberdade, começam a atrofiar na mulher entre 40-45 anos e no homem aos 50 anos. Falando da olfação, a queda da sensibilidade olfativa com a idade pode ser devido à degeneração de células centrais e ser independente de modificações periféricas do aparelho olfativo. Porém, a capacidade de se regenerar do epitélio olfatório cai com a idade. A qualidade e intensidade da percepção olfatória dependem do estado anatômico e funcional do epitélio nasal e dos sistemas nervosos central e periférico. Rinites e resfriados prolongados podem causar hiposmia, que é a perda moderada da sensibilidade olfativa. As alterações do olfato e do paladar podem estar ligadas com problemas nasosseptais, polipose nasal e congestão nasal crônica por causa de rinites alérgicas e não-alérgicas. Uma lesão no sistema olfatório, como resultado de um traumatismo craniano, ou mesmo, um resfriado comum, o qual impede a condução de moléculas transportadas pelo ar nas cavidades nasais, pode diminuir o sabor, ainda que as sensações básicas do gosto doce, ácido, salgado e amargo estejam sem alteração. O olfato pode ajudar, também, no diagnóstico precoce de algumas doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson. O resultado mostra que o comprometimento do olfato, e, consequentemente, do paladar, é um sinal 18 importante para o diagnóstico cedo da doença, em uma fase na qual os sintomas motores típicos como: tremores, rigidez e lentidão para fazer os movimentos ainda não apareceram. Nesse sentido, torna-se importante a realização de estudos das mudanças do olfato e do paladar para descobrir precocemente, e assim um tratamento mais eficiente, na intenção de diminuir o avanço das doenças e possíveis complicações que possam levar a perda olfatória e gustatória e, desta forma, diminuir a gravidade dos sintomas. Dessa forma, diversas entidades nosológicas cursam com alterações olfatórias e gustativas, podendo ser congênitas ou adquiridas, sendo as mais citadas na literatura: doença nasal e sinusal obstrutiva, infecções de vias aéreas superiores, traumatismo cranioencefálico, envelhecimento, causa congênita, exposição a tóxicos, algumas medicações, neoplasias nasais ou intracranianas, alterações psiquiátricas, doenças neurológicas, iatrogenia e idiopática. As anormalidades do paladar e do olfato comprovaram ser um tema bem mais complexo do que se reconhecia anteriormente e também estão presentes em situações como deficiência de vitaminas B6, B12, A e de zinco ou de cobre, tabagismo, gravidez, anestesia geral, traumas dentários, arrinencefalia e desvios do septo nasal. A obstrução é a causa mais comum de distúrbio olfatório. Se a obstrução é total, o indivíduo apresenta anosmia em que as moléculas odoríferas não atingem o epitélio olfatório, liberando a obstrução a habilidade olfatória volta. A porção ântero-medial da parte inferior do corneto médio funciona como reguladora do fluxo aéreo para a região olfatória. Obstrução nesta área crítica por edema da mucosa, pólipos, tumores, deformidades ósseas, cirurgias entre corneto médio e septo nasal ou trauma podem diminuir ou eliminar a habilidade olfatória. Isso pode acontecer mesmo quando a cavidade inferior pareça normal. Podem ocorrer em qualquer faixa etária, com predominância em mulheres. Os pacientes geralmente dizem ter perda progressiva e gradual da olfação, flutuante, podendo ocorrer perdas agudas com infecções agudas e exposição a alérgenos. As infecções de vias aéreas superiores também formam uma das principais causas de perda olfatória. A maioria em indivíduos entre 40 e 60 anos de idade, dos quais 70-80% são mulheres, muitas vezes por obstrução do fluxo aéreo e se resolve em um período de um a três dias. Em alguns poucos casos a olfação não retorna ao normal. Na biópsia, pode existir metaplasia, com diminuiçãoou ausência de receptores olfatórios e com troca por epitélio respiratório em alguns casos. A perda olfatória é proporcional à perda neuronal e a previsão é pobre. Um terço recupera-se espontaneamente com ou sem tratamento, ocorrendo mais frequentemente hiposmia que anosmia. Dificilmente ocorre fantosmia que é sentir um odor que não é real. 19 Traumatismos cranioencefálicos (TCE) podem gerar danos aos nervos olfativos na lâmina cribiforme devido as forças de golpe ou contragolpe. Em adultos a perda da olfação é de 5-10%, já em crianças é de 1,3-3,2%. É maior no sexo masculino, com cerca de 60% dos casos. Em geral o grau de perda está associado à gravidade do trauma, o que não significa dizer que um trauma mínimo não possa estar associado à anosmia. O início da perda geralmente é imediato, mas alguns pacientes só percebem após alguns meses. Parosmias são comuns. Amnésia nas primeiras 24 horas está associada à anosmia permanente em mais de 90% dos casos. Quando há preservação parcial da olfação tem-se observado diminuição da discriminação dos odores. A causa exata ainda não foi estabelecida. A teoria mais popular presume uma lesão dos nervos quando estes deixam o topo da lâmina cribiforme. A lesão pode ser no córtex frontal, pois alguns pacientes além de anosmia pós TCE também apresentam alterações psicossociais. A tomografia computadorizada é geralmente normal, podendo em alguns casos revelar fratura da lâmina cribiforme. A hiposmia ocorre mais em lesão frontal; a anosmia em lesão occipital, cinco vezes mais frequente. Cerca de 8 a 39% dos pacientes recuperam a função, dos quais 75% nos três primeiros meses. O limiar olfatório diminui com a idade (1% ao ano), sendo esse efeito menor nas mulheres que nos homens. Os idosos têm uma taxa maior de diminuição da olfação para uns odores do que para outros, com diminuição da habilidade para discriminar o sabor na comida do cotidiano. Esta redução olfatória se deve ao processo fisiológico de envelhecimento (presbiosmia), ocorrendo na sexta ou sétima década, ou às doenças de Alzheimer e Parkinson. A disfunção olfatória é um dos sinais mais prevalentes na Doença de Parkinson. Observam-se alterações de discriminação, identificação e limiar olfatório. A hiposmia é um dos sinais que pode anteceder os sintomas motores da patologia. Em uma pesquisa recente foi encontrado que 80% dos pacientes com esta patologia apresentaram anormalidade da identificação olfatória, comparados aos controles. Na anosmia congênita, a possível fisiopatologia seria a degeneração ou atrofia do epitélio e/ou bulbo olfatório no processo de desenvolvimento. Geralmente é um achado isolado, mas há anosmia familiar associada a calvície prematura e cefaleia vascular, sendo hereditária, dominante, com penetrância variável. A Síndrome de Kallmann é a causa mais comum de disfunção olfatória congênita, com anosmia e hipogonadismo hipogonadotrófico, além de anormalidades renais, criptorquidismo, surdez, deformidades médiofaciais e diabetes. É causada por um defeito na migração dos neurônios que produzem o hormônio de liberação de gonadotrofinas (GnRH) e dos neurônios que formam os nervos olfatórios. A 20 anosmia está relacionada à deficiência de GnRH porque a migração e diferenciação dos neurônios secretores de GnRH dependem da formação do bulbo olfatório. Os indivíduos acometidos não entendem o conceito de odor, portanto não sentem a sua falta. Pelo fato de geralmente ainda persistirem alguns quimiorreceptores intactos, odores acres, irritantes e gustação podem ser detectados normalmente. Quando há exposição do sistema olfatório a substâncias tóxicas, a perda olfatória pode ocorrer em dias ou anos, podendo ser reversível ou permanente. O grau de lesão parece estar relacionado ao tempo de exposição e a concentração e toxicidade do agente, comumente associado ao tabaco. São exemplos de drogas que afetam a olfação: anfetaminas, antibióticos como: aminoglicosídeos e tetraciclina. Além disso, cocaína, derivados de petróleo, dióxido sulfúrico, etanol, formaldeido, metais pesados, metanol, monóxido de carbono, nicotina, solventes orgânicos, sulfato de zinco (tópico) e tetracloreto de carbono. Em relação ao fumo, acarreta sérias consequências no processo digestivo, já que ocasiona alterações na boca, nariz e na mucosa estomacal. Os agentes químicos presentes no cigarro atuam como irritantes da mucosa bucal, ressecando-a e provocando aumento da camada de queratina. O tabaco também promove mudanças nas papilas gustativas, o que impede que o fumante sinta o real sabor dos alimentos. É prejudicial também para a mucosa olfativa, já que o efeito térmico pode levar a lesões, mudando também o olfato. O cigarro causa diminuição na secreção salivar, deixando uma sensação de boca seca, denominada xerostomia. Esse sintoma provoca dificuldade na mastigação, deglutição e fonação, além de tornar a mucosa bucal mais sensível, podendo surgir feridas na boca e fissuras na língua. Além disso, o tabagismo está ligado aos cânceres de lábio e da cavidade bucal, faringe, laringe e esôfago. A causa não tem um único fator definido, ela depende de uma série de fatores sistêmicos, como doenças sistêmicas e deficiências nutricionais. Já em relação aos medicamentos, costumam afetar mais a gustação que a olfação. Na maior parte das vezes a olfação volta com a suspensão da medicação, mas existem casos de lesão permanente. Drogas que afetam a composição do muco podem alterar a olfação, como os beta-adrenérgicos, colinérgicos e agentes peptidérgicos. Os processos neoplásicos também precisam de atenção, com destaque para os de localização intranasal, como pólipos nasais, papiloma, carcinoma epidermoide, adenoma, estesioneuroblastoma, que é um tumor neuroolfativo raro, pois bloqueiam o fluxo aéreo para fenda olfatória ou por destruição local do aparelho olfatório. As neoplasias intracranianas que envolvem a superfície orbital do cérebro podem causar anosmia unilateral. Meningiomas da crista esfenoidal ou do sulco olfatório e gliomas 21 do lobo frontal podem lesar os bulbos ou os tratos olfatórios. Anosmia pode também ocorrer em associação a outros tumores do lobo frontal e a lesões parasselares e hipofisárias. Em meningiomas do sulco olfatório ou da área da lâmina cribiforme, anosmia unilateral ocorre precocemente, evoluindo para anosmia bilateral, acompanhada com frequência de neuropatia óptica. A síndrome de Foster Kennedy consiste em anosmia acompanhada de atrofia óptica ipsilateral unilateral e papiledema contralateral, oriunda classicamente de um grande tumor envolvendo a região orbitofrontal. Certas doenças psiquiátricas se relacionam com distúrbios da olfação. A esquizofrenia pode cursar com alucinações olfatórias em 15% a 30% das vezes. Pacientes com depressão maior podem apresentar mesmo sintoma, mas geralmente possui habilidade olfatória mantida. A fantosmia pode se apresentar como aura em pacientes com epilepsia do lobo temporal. A iatrogenia não pode deixar de ser falada como fator etiológico importante. Em procedimentos cirúrgicos pode acontecer dano neural e estreitamento do fluxo nasal por alterações anatômicas ou tecido cicatricial. Mudanças no olfato e no paladar ocorrem após laringectomia total, pois o paciente passa a respirar diretamente pela traqueia e o ar não passa através do nariz para os órgãos olfativos terminais. Como o olfato e o paladar estão bem ligados, as sensações de paladar são alteradas. Mas, com o passar do tempo, o paciente vai se acomodar com este problema, o que pode justificar o fato de nem todos os pacientes falarem que aconteceu mudança no olfato. Em cirurgias da fossa anterior e pós neurocirurgia transesfenoidal pode ocorrer lesão de lâmina cribiforme. A radioterapia também está inclusa no conjunto de condições que levam a disfunções do olfato e paladar, assim como as de causas idiopáticas,geralmente em adultos jovens, na meia idade e saudáveis. Na Hanseníase, as alterações de olfato podem ser encontradas em qualquer forma clínica da doença. Além disso, é uma queixa muito comum nessa doença e pode ser encontrada mais fácil na forma lepromatosa, sendo referido que este acometimento estivesse relacionado com a gravidade das alterações clínicas na mucosa nasal. Poucos casos de distúrbio do olfato têm origem neurológica. Esclerose múltipla pode causar alterações do olfato devido a envolvimento das vias olfatórias. Condições neurológicas diversas que causam anosmia, ou seja, a perda do olfato, incluem hidrocefalia, acometimento da artéria cerebral anterior próximo à sua origem, meningite basilar, abscessos do lobo frontal e doença de Refsum. Lobectomias temporais que incluam o córtex piriforme podem causar deficiência para perceber os odores. A hiperosmia geralmente é funcional, mas pode acontecer em alguns tipos de abuso de drogas e enxaqueca. 22 Alucinações olfativas se devem mais frequentemente a psicose, mas podem decorrer de uma lesão do sistema olfativo central, geralmente neoplásica ou vascular, ou como manifestação de crise convulsiva. As assim chamadas crises uncinadas são crises parciais complexas ou do lobo temporal precedidas de uma aura olfativa ou gustativa, geralmente desagradável, e quase sempre acompanhadas, enquanto o paciente perde a consciência, de movimentos de estalar os lábios e ou de mastigação. Esses ataques são tipicamente vindos de um foco convulsivo envolvendo estruturas do lobo temporal medial. O paladar pode ser afetado em casos de lesões do nervo facial proximais à saída da corda timpânica. Já no caso de distúrbios gustativos permanentes, estes podem sobrevir após paralisia facial de Bell, que é um distúrbio de instalação repentina, sem causa aparente, marcado pelo enfraquecimento ou paralisia dos músculos de um dos lados do rosto. Disfunções do paladar e do olfato com frequência acontecem juntas, pois as anormalidades do paladar se devem geralmente a disfunção olfativa. Disgeusia que é uma alteração na percepção do paladar, pode ser um efeito direto ou indireto de condições malignas. Hipergeusia em que a percepção do paladar está aumentada e parageusias que é quando sente um gosto metálico na comida, podem ocorrer em psicoses e no transtorno de conversão. Alucinações gustativas podem ocorrer em crises parciais complexas e nos tumores envolvendo o uncus ou o opérculo parietal e frequentemente ocorrem em conjunto com as alucinações olfatórias. Pacientes idosos desenvolvem por vezes disgeusia de origem obscura que pode ocasionar anorexia e perda de peso. A sensibilidade gustativa aumentada ocorre em pacientes com doença de Addison, deficiência da hipófise e fibrose cística. Lesões do nervo lingual podem causar perda do paladar juntamente com perda da sensação exteroceptiva do lado da língua afetado. 3.7 Compreender o impacto biopsicossocial decorrente das alterações de gustação e olfação. Os sentidos de olfação e gustação fornecem um meio de avaliar moléculas voláteis no ambiente e os componentes voláteis e não-voláteis dos alimentos. Desse modo, os humanos e outros mamíferos são capazes de discriminar uma grande variedade de odores e sabores. Diversas entidades nosológicas cursam com alterações olfatórias e gustativas, podendo ser congênitas ou adquiridas, sendo as mais citadas na literatura: doença nasal e sinusal obstrutiva, infecções de vias aéreas superiores, traumatismo crânio-encefálico, envelhecimento, causa congênita, exposição a tóxicos, algumas medicações, neoplasias nasais ou intracranianas, alterações psiquiátricas, doenças neurológicas, iatrogenia e idiopática. 23 As anormalidades do paladar e do olfato comprovaram ser um tema bem mais complexo do que se reconhecia anteriormente e também estão presentes em situações como deficiência de vitaminas (B6, B12, A) e de zinco ou de cobre, tabagismo, gravidez, anestesia geral, traumas dentários, arrinencefalia e desvios do septo nasal. Quando se trata da terceira idade, entendemos que essas perdas, tão frequentes entre os idosos, podem comprometer sua comunicação nas relações sociais, os isolando. Também, temos que atentar para a poluição sonora como um fator prejudicial no entendimento da fala para o idoso; principalmente, se este for portador de uma perda auditiva. Sendo assim, a comunicação torna-se mais vital para o idoso, à medida que o processo de envelhecimento progride. Garcia Pinto (1987, apud OLIVEIRA, 2001) refere-se a esse processo como “uma das perdas de antigos referenciais de vida, implicando no abandono de elementos da realidade e de si mesmo, gerando uma consequente crise de identidade” (p. 68). Partindo desse pressuposto, acreditamos que com a redução da audição no idoso, essa etapa da vida é dolorosamente vivenciada; pois o idoso, devido a essa incapacidade, pode passar por desorientado ou sofrendo de memória insuficiente, trazendo inúmeros transtornos para sua vida cotidiana. Quando essa perda é grave percebemos um aumento dos problemas sociais ou psicológicos, corroborando a afirmativa de Garcia Pinto (1998): “o isolamento da pessoa idosa e o consequente declínio da qualidade de sua comunicação, devido aos déficts sensoriais, causam profundo impacto na sua interação social” (p.20). De acordo com o pensamento do autor, apreendemos que a audição normal mantém o idoso em interação intelectual e social. Quanto ao olfato, esse sentido está, extremamente ligado à grande perda do interesse e motivação nessa idade; isto porque, com o envelhecimento, esses sentidos ficam bastante reduzidos, além de se tornarem menos eficientes, provocando inadequações no processo de ingestão de alimento prejudiciais, tais como: mais sal e açucares, prejudicando a saúde do idoso; também a não transmissão de odores, interrompendo a transmissão das informações ao cérebro, as quais são de capital importância para a autonomia do idoso. Podemos constatar que os órgãos dos sentidos humanos são estruturas bastante complexas, nos quais se processam mecanismos vitais para a sobrevivência da espécie. Os órgãos dos sentidos, para o homem, estão relacionados a inúmeras formas de exploração tais como: olhar, escutar, cheirar, provar, palpar, o que mantém uma significação ao ciclo de vida. Diante de tais evidências, consideramos que é de capital importância analisar as consequências biopsicossociais da população. 24 3.8 Discutir os marcadores laboratoriais da tireoide. Disfunções tireoidianas são condições de grande recorrência na prática clínica e podem apresentar significativas consequências. O auxílio de testes laboratoriais de qualidade é de fundamental importância para o diagnóstico preciso dos distúrbios da tireoide, uma vez que, na maioria dos pacientes, os sinais e sintomas da doença são sutis ou ausentes, sendo assim, apenas os testes bioquímicos são capazes detectar o transtorno. Atualmente existem vários exames para identificação de doenças tireoidianas, alguns são mais específicos, usados apenas em determinados casos, e outros são essenciais para a detecção de problemas na glândula. Nos consensos médicos atuais do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o exame inicial para identificar as doenças relacionadas ao funcionamento tireoidiano é a dosagem do hormônio tireoestimulante (TSH). • Dosagem do TSH A dosagem do TSH é o teste mais confiável para o diagnóstico das formas primárias de hipotireoidismo e hipertireoidismo, principalmente em regime ambulatorial. A secreção hipofisária de TSH regula a secreção de T4 (tiroxina) e T3 (triiodotironina), dessa forma, pequenas alterações nas concentrações dos hormônios tireoidianos livres resultam em grandes alterações nas concentrações séricas de TSH, o que torna o TSH como o melhor indicador de alteraçõesdiscretas na produção tireoidiana. Os ensaios clínicos de primeira geração do TSH permitiam apenas o diagnóstico de hipotireoidismo. Com a utilização dos ensaios de TSH de segunda geração e terceira geração, foi possível a detecção do hipertireoidismo. Os ensaios de primeira geração, apresentam uma sensibilidade de 75% e especificidade de 90%. Os ensaios de segunda geração são capazes de aumentar a certeza diagnóstica, pois possuem sensibilidade de 96% e especificidade de 93%. O exame de terceira geração pouco se diferencia do exame de segunda geração, apresentando sensibilidade de 97% e especificidade de 93%, porém, permite o resultado do exame em dezoito minutos. A secreção do TSH ocorre de forma pulsátil, tendo o seu pico de maior secreção entre 22 horas e 4 horas da madrugada, tendo nível médio de 1,3 e 1,4 mUI/L, com limites inferiores entre 0,3 e 0,5 mUI/L e limites superiores entre 3,9 e 5,5 mUI/L. Variações na concentração sérica de TSH podem ser atribuídas a essa secreção pulsátil e á liberação noturna do TSH. O valor de referência de TSH sérico normal para adultos está entre 0,4 e 4,5 mUI/L. 25 O TSH sérico deve ser dosado como triagem em pacientes acima de 35 anos a cada cinco anos, em gestante e em pacientes com fatores de risco para disfunção tireoidiana, adultos ou crianças. No caso de uma dosagem com TSH elevado, uma segunda amostra confirmatória deve ser realizada antes de se instituir o tratamento, acompanhada da dosagem de T4 livre. Devem ser consideradas outras condições, além das doenças tireoidianas, diante de um TSH alterado como: alteração fisiológica da gestação, presença de doença grave não tireoidiana, uso de medicações (Lítio, dopamina e outras mais). • Dosagem das Iodotironinas (T3 e T4) A tiroxina é o principal hormônio secretado pela glândula tireoide. Cerca de 80% da triiodotironina plasmática é derivada da conversão periférica do T4 nos diversos tecidos. Os hormônios tireoidianos circulam na corrente sanguínea quase totalmente ligados ás proteínas plasmáticas e apenas 0,02% do T4 e 0,2% do T3 circulam de forma livre. Hormônio livre, é aquele biologicamente ativo. As concentrações de T4L e T3L são mais relevantes do que as do hormônio total. TSH e T4L são utilizados de rotina na avaliação da função tireoidiana e no seguimento do tratamento do hipertireoidismo e do hipotireoidismo. O T4L não é suscetível ás alterações nas proteínas transportadoras de hormônio tireoidiano. O T3 tem baixa acurácia para o diagnóstico de hipotireoidismo, já que a conversão aumentada de T4 para T3 mantém concentração sérica de T3 nos limites normais até o hipotireoidismo se tornar grave. A dosagem do T3, em conjunto com a interpretação do T4L, tem utilidade no diagnóstico e monitoramento do hipertireoidismo. As concentrações séricas de T3 e T4 total e livre são medidas por imunoensaios competitivos. O valor de referência do T4T para adultos é de 4,5 até 12,6 μg/dL e para o T3T de 80 a 180 ng/dL. Os métodos que são usados de rotina para medir T3 e T4 livre, são dependentes de proteínas ligadoras de hormônios tireoideanos. Logo, esse método não é totalmente confiável quando utilizado em portadores de doenças não tireoidiana, de alterações nas proteínas transportadoras (alterações de afinidade à globulina ligadora de tiroxina – TGB ou proteínas transportadoras anormais) e de anticorpos anti-T3 e anti-T4. Os valores de referência para adultos quanto ao método direto comparativo de T4L são de 0,7 á 1,8 ng/dL, e do T3L são de 2,3 á 5,0 pg/mL. 26 OS níveis séricos de T3 e T4 podem se alterar em qualquer condição, hereditária ou adquirida, que influencie os níveis de proteínas plasmáticas, principalmente a TGB. Pacientes que fazem usos de medicações como fenitoína, carbamazepina, furosemida, anticoncepcionais orais, entre outros, podem apresentar alterações nos níveis séricos de T4 e T3. • Anticorpos Antiperoxidase (Anti TOP), Anticorpos Antitireoglobulina (Anti – Tg), Anticorpos Anti-receptores de TSH (TRAb) Os três principais antígenos tireoidianos envolvidos na patogênese das doenças autoimunes da tireoide (DAT) são: tireoglobulina (Tg), tireoperoxidase (TPO) e receptor de TSH (TSH-R). Esse teste detecta doenças tireoidianas autoimunes como doença de Graves e Tireoidite de Hashimoto, que por sua vez, são as causas mais comuns de hipotireoidismo e hipertireoidismo. Altos níveis de anticorpos antitireoidianos estão geralmente presentes no soro de pacientes com DAT. Entretanto, em uma proporção significativa de indivíduos saudáveis, níveis de anticorpo antitireoglobulina e de antitireoperoxidase podem ser detectados, variando de 9% a 25% . Os TgAb estão presentes em 70% a 80% dos pacientes com tireoidite autoimune, em 30% a 40% dos pacientes com doença de Graves e em 10% a 15% dos pacientes com doenças não autoimunes da tireoide. Os TPOAb estão presentes no soro de 90% a 95% dos pacientes com tireoide autoimune, em cerca de 80% dos pacientes com doença de Graves e em 10% a 15% dos pacientes com doenças não autoimunes da tireoide. É possível realizar a dosagem de TgAb e TPOAb quando há suspeita de tireoide autoimune, com base na história familiar, na presença de hipotireiodismo primário ou de bócio difuso. No entanto, a ausência não exclui uma tireoidite, pois em uma minoria dos pacientes os anticorpos podem ser indetectáveis. Por outro lado, a presença dos anticorpos por si só não é suficiente para fazer o diagnóstico de doença autoimune da tireoide, uma vez que uma minoria de indivíduos normais e de pacientes com doença não autoimune da tireoide pode ter níveis detectáveis de anticorpos. Portanto, outros testes clínicos são necessários para confirmar o diagnóstico de tireoide autoimune, como a ultrassonografia de tireoide. Independente da doença tireoidiana subjacente, os TPOAb são mais frequentemente observados do que os TgAb e são o teste mais sensível para detectar DAT. A pesquisa de TgAb e TPOAg está indicada durante o tratamento com amiodarona, interferon e lítio, pois a presença desses autoanticorpos aumenta o risco de alterações da função tireoidiana decorrentes de tratamentos com essas drogas. 27 • Triagem Neonatal (Teste do Pezinho) Deve ser realizada no recém-nascido entre o 3° e 6° dia de vida. O teste consiste na dosagem do TSH e T4 total em amostra de sangue seco em papel de filtro retiradas do calcanhar do bebê. É recomendado um segundo teste confirmatório, que deve ocorrer entre a primeira e segunda semana de vida. • Ultrassonografia, punção aspirativa por agulha fina e biópsia Auxilia na identificação da natureza do nódulo de tireoide sendo ele benigno ou maligno. A ultrassonografia também é útil também para indicar a necessidade de realizar a punção aspirativa por agulha fina, método considerado padrão ouro para esclarecimento da natureza dos nódulos suspeitos. 3.9 Apontar os marcadores laboratoriais do carcinoma medular de tireoide (BRAF, Calcitonina, Tireoglobulina). A causa mais comum do carcinoma papilar de tireóide (PTC) é uma única mutação no gene BRAF, presente em 50% dos casos na dependência da idade e do sub-tipo histológico. Há 3 isoformas da quinase serina-treonina RAF nas células de mamíferos, A-RAF, B-RAF e C-RAF(RAF1); C- RAF é expressa de modo ubíquo, enquanto que B- RAF é altamente expressa em neurônios e testículos e em menores níveis nas células hematopoiéticas e na tiróide. Seu interesse em oncologia deriva-se da observação da presença de mutações ativadoras do gene BRAF em diversos tipos de câncer, dos quais o mais prevalente é o melanoma, que apresenta mutação em aproximadamente 70% dos casos. Vários estudos nos últimos 2 anos demonstraram, depois da observação pioneira de Kimura e cols, que uma mutação no gene BRAF está presente na maioria dos casos de PTC (29 a 83%). Trata-se de uma mutação somática dotipo transversão de timina para adenina no exon 15 de BRAF, que causa a substituição, na proteína, do aminoácido valina por glutamato. Esta mutação produz a ativação constitu- tiva da BRAF quinase, pois insere um resíduo carregado negativamente adjacente a um sítio de fosforilação, o que causa a ruptura de interações hidrofóbicas entre resíduos exatamente no local de ligação de ATP que mantinha a conformação inativa. Além disso, demonstrou-se recentemente que a super-expressão do BRAF mutado em células tiroideanas de camundongos transgênicos causa PTC (16). Cerca de 30 artigos publicados na literatura entre 2003-2005 referentes a pacientes adultos, com casuísticas apresentando diversidade geográfica, étnica e dos sub-tipos histológicos dos tumores, evidenciaram a presença da mutação T1799A em 810/1856 casos de PTC (44%), 0/165 de FTC (0%), 23/94 (24%) de carcinoma anaplásico da tiróide (ATC), 28 0/542 (0%) de neoplasias benignas da tiróide e 0/65 (0%) de carcinoma medular de tiróide (MTC) (6). Desta forma, há forte evidência clínica de que essa mutação está presente apenas em PTC e em alguns ATC (talvez derivados de PTC), mas nunca em FTC, neoplasias benignas da tiróide e MTC. Além disso, é também a mutação mais prevalente entre todas as alterações genéticas no câncer de tiróide. Os dados da literatura evidenciam que a muta- ção T1799A mostra prevalência variável na depen- dência do sub-tipo de PTC, sendo maior na forma mais agressiva (tumor de células altas com 37/48 casos, 77%), intermediária na forma clássica (246/411 dos casos, 60%) e menor na forma variante folicular (21/175, 12%). Interessantemente, as formas clássica e de células altas são as que apresentam maior incidência de metástases para os linfonodos cervicais, o que reforça o papel da mutação do BRAF como uma força motriz na evolução do PTC. A mutação BRAF deve ocorrer precocemente no desenvolvimento de PTC, pois tem se evidenciado sua presença em microcarcinomas papilíferos. Outro aspecto fascinante da mutação BRAF é o fato de ela ser mutuamente exclusiva relativamente às demais alterações genéticas presentes no câncer de tiróide, ou seja, não há descrição de mutações BRAF em casos onde foram identificados rearranjos RET/ PTC ou RAS; de certa forma, esse fato não seria surpreendente, pois, como vimos, essas alterações genéticas estão na mesma via da MAP quinase e bastaria apenas uma delas para causar a tumorigênese. Esta proximidade na via da MAP quinase (entre a mutação BRAF, o rearranjo RET/PTC e RAS) deve ser a razão do fenótipo semelhante observado no PTC, diferentemente das alterações genéticas presentes em pontos distintos da via e observadas em FTC ou MTC, o que foi comprovado em trabalho recente de Melillo e cols., que evidenciaram que RET/PTC, RAS e BRAF induzem a proliferação e invasividade das células foliculares da tiróide por ativarem um programa estimulatório comum dos genes das quimoquinas CXCL1 e CXL10 e seus receptores. A idade de início de apresentação da doença nos pacientes que apresentam a mutação BRAF também diverge daqueles que apresentam rearranjo RET/PTC; de modo geral, a idade é um fator importante na determinação da dominância dessas alterações, pois o rearranjo RET/PTC tende a ocorrer em crianças vítimas do acidente de Chernobyl, enquanto que a mutação B R A F , em adultos. Nos casos de PTC descritos em crianças vítimas do acidente nuclear em Chernobyl, imaginava-se que a radiação per se seria a força maior na gênese do rearranjo RET/PTC; porém, estudos recentes com adultos de Chernobyl com PTC evidenciam baixa prevalência de RET/PTC e elevada prevalência da mutação BRAF, independente de história de radiação. Desta forma, acredita-se que as células foliculares das crianças 29 apresentem uma propriedade intrínseca de serem mais susceptíveis para rearranjos cromossômicos e que a radiação favoreça essa ocorrência. Outra vantagem da descoberta da existência da mutação BRAF no PTC tem sido sua utilização potencial no diagnóstico e no prognóstico do câncer de tiróide. A pesquisa da mutação pode melhorar a qualidade da citologia aspirativa do nódulo de tiróide, pois além de confirmar os casos com diagnóstico citológico sugestivo de PTC, pode discriminar com certeza casos duvidosos; assim, em estudo recente, 7/53 (13%) amostras com diagnóstico de benignidade e 1/14 (7%) amostras com diagnóstico de tiroidite foram positivas para BRAF e, em conseqüência, o diagnóstico foi corrigido para PTC. Outro estudo evidencia que 8% das citologias com diagnóstico indeterminado são positivas para BRAF. Além disso, a presença de BRAF está relacionada a pior prognóstico, como a associação com invasão extra- tiroideana, estádio avançado e metástases. Entretanto, os casos negativos para a mutação não excluem malignidade e devem ser vistos com cautela, principalmente nos casos de PTC multifocais, onde somente um dos nódulos foi investigado na citologia. Recentemente, outras mutações raras de BRAF têm sido descritas em PTC: K601E na forma variante folicular e a fusão do gene BRAF com AKAP9 por uma inversão paracêntrica do braço longo do cromossoma 7, resultando num oncogene recombinante que ocorre em PTC induzido por radiação. Interessantemente, nosso grupo descreveu uma nova mutação no gene BRAF, presente nas metástases para linfonodos em PTC, mas ausente no tumor primário, o que seria consistente com um papel facilitador de BRAF na progressão do PTC nos linfonodos. Esta mutação, uma deleção de 3 nucleotídeos, resulta na substituição V600E e na deleção do aminoácido 601. Uma mutação em tandem no gene BRAF, que também resulta na substituição V600E, foi identificada em metástases para linfonodos de PTC. É possível que exista também um potencial terapêutico nos casos de mutação BRAF. Como se sabe, especialmente nos pacientes mais idosos (provavelmente BRAF positivos), frequentemente o PTC evolui com invasão local para músculo e traquéia e apresenta metástases recorrentes para linfonodos. Para esses casos, o tratamento habitual com tiroidectomia total e ablação com radioiodo não cura os pacientes, e haveria a indicação do uso de inibidores das RAF quinases, que apresentam resultados encorajadores in vitro e em animais. Um desses inibidores, o Bay 43- 9006, apresenta capacidade de inibir o mutante V600E em células derivadas de PTC. A calcitonina, o principal produto secretório das células C, é considerado o marcador bioquímico para diagnóstico e seguimento pós-operatório dos pacientes com CMT. No entanto, a dosagem basal de calcitonina sérica não apresenta boa sensibilidade no 30 rastreamento de indivíduos portadores de CMT que não apresentam tumor palpável, pois sua concentração pode ser normal na fase de hiperplasia de células C. Nestes casos, testes de estimulação da secreção de calcitonina podem mostrar a hiper-responsividade das células anômalas, possibilitando o diagnóstico. Os testes provocativos da secreção de calcitonina pela infusão de pentagastrina ou cálcio e pentagastrina têm sido utilizados há mais de 30 anos. Mais recentemente, o uso de omeprazol, um bloqueador da bomba de prótons gástrica que, em última instância, estimula a secreção endógena de gastrina, foi utilizado na tentativa de se detectar precocemente portadores assintomáticos de NEM 2A (neoplasia endócrina múltipla). Erdogan e cols, utilizando teste com omeprazol, observaram elevação de calcitonina em três membros de famílias com NEM 2A. Contudo, estes resultados não foram confirmados por estudos de Viegas e cols. Estes testes são indicados em parentes de primeiro grau dos pacientes com diagnóstico de NEM 2A e apresentam desvantagens adicionais, pois devem ser repetidos em intervalos regulares a partir dos 3-5 anos de idade até 35-40 anos de vida, apresentam alta incidência de efeitoscolaterais e não têm seus resultados padronizados para os primeiros anos de vida. Adicionalmente, os testes bioquímicos apresentam resultados falso-negativos, às vezes não diagnosticando indivíduos assintomáticos portadores de hiperplasia de células C ou mesmo CMT. Além disso, devido ao fato de a hiperplasia de células C poder estar presente tanto em tireóide normal, em até 3,6% dos casos de CMT esporádico, como em outras condições clínicas que não o CMT, podem resultar em resultados falso-positivos entre 5 e 18% dos casos. A tireoglobulina é uma proteína produzida pela glândula tireoide. O nível da tireoglobulina no sangue não pode ser utilizado para diagnosticar o câncer de tireoide, mas pode ser útil após o tratamento. A melhor maneira de tratar o câncer de tireoide é a cirurgia, seguida do tratamento com iodo radioativo para destruir quaisquer células remanescentes da tireoide. Estes tratamentos provocam diminuição do nível de tireoglobulina no sangue. Um nível alto da tireoglobulina após o tratamento pode significar que a doença ainda está presente, ou ser um sinal de recidiva. 31 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todo o conteúdo supracitado, foi possível compreender, portanto, a importância do sentido de olfação e gustação, seu funcionamento fisiológico, bem como entender a anatomia das estruturas relacionadas, em especial, as vias efetoras. Assim como compreender a relação entre ambos. Sendo assim, as alterações desse sistema também foram de grande importância e amplamente discutidos no relatório, de modo a compreende-las e discutir como elas podem afetar os portadores, assim como também associar aos marcadores laboratoriais. Sendo assim, a discussão acerca dessa semana problema se demonstrou de suma importância uma vez que foi possível compreender tais patologias relacionadas a olfação e gustação de modo a aprimorar o conhecimento medico e facilitar lidar com situações relacionadas que possam surgir no dia a dia da profissão. 32 4 REFERÊNCIAS HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. BALDO, Marcus Vinícius C. Gustação e Olfação. In: AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. Cap. 20. p. 306-308 USP, Rede For - Rede São Paulo de Formação Docente -. Fisiologia: Sistema Nervoso. 2011. 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