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Laísa Dinelli Schiaveto Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica INTRODUÇÃO Principais Causas de Tosse - Síndrome de tosse das vias aéreas superiores; - Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE); - Uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA); - Asma; - Síndrome gripal; - Tuberculose; - DPOC; - Infecções pulmonares; - Bronquiolite; - Neoplasias; - Doenças ocupacionais; - ICC; - Tosse psicogênica. Principais Causas de Dispneia 1. Obstrutivas - Vias aéreas superiores: edema de glote, presença de corpo estranho e neoplasia. - Vias aéreas inferiores: asma e DPOC. 2. Restritivas - Derrame; - Ascite; - Pneumotórax; - Cifoescoliose; - Espondilite anquilosante. 3. Neuromusculares - Síndrome de Guillain-Barré; - Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA); - Miopatias; - Obesidade; - Trauma. 4. Doenças Intersticiais - Fibrose pulmonar intersticial idiopática; - Doenças reumáticas: esclerodermia, artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico; - Pneumocomicoses; - Vasculites. 5. Vascular Pulmonar - Tromboembolismo pulmonar; - SARA. VISÃO GERAL DA DPOC A DPOC é uma doença multissistêmica, de alta prevalência, subdiagnosticada, subtratada e pouco percebida. Compreende uma doença respiratória comum que causa incapacidade substancial, redução da qualidade de vida e risco aumentado de morte prematura. Portanto, de acordo com a OMS, estima-se que seja a 4º causa de morte no mundo, respondendo por 5% de todas as mortes. Um achado fisiopatológico característico, presente em todos os estágios da doença, é a inflamação pulmonar crônica. - Este achado contribuiu para a compreensão da DPOC como uma doença complexa com manifestações pulmonares e extrapulmonares, com a presença de inúmeras comorbidade, como doença cardiovascular, câncer de pulmão, perda de massa muscular, diabetes mellitus e depressão, o que possivelmente tem impacto adicional sobre a qualidade de vida, hospitalizações e redução da sobrevida. É de suma importância destacar que há um corpo substancial de evidências mostrando que o tabagismos é o principal fator de risco para essa doença, sendo, assim, responsável por mais de 90% dos casos. A DPOC abrange uma série de condições patológicas que têm em comum a obstrução não totalmente reversível do fluxo aéreo. A limitação ao fluxo aéreo é geralmente progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões às partículas ou gases nocivos. Nesse sentido, engloba o enfisema pulmonar e a bronquite crônica, mesmo que o enfisema se refira a uma alterações patológica da arquitetura do parênquima pulmonar e a bronquite crônica seja definida clinicamente. Além disso, alguns indivíduos com asma podem, a longo prazo, desenvolver uma obstrução não totalmente reversível ao fluxo Laísa Dinelli Schiaveto aéreo, sendo, portanto, classificados como portadores de DPOC. Por fim, a DPOC é uma doença tratável, no qual o tratamento é efetivo para as manifestações respiratórias. ESTUDO PLATINO De acordo com o estudo PLATINO (Projeto Latino-americano de Investigação em Obstrução Pulmonar): • Prevalência geral de 15,8%, sendo 18% em homens e 14% em mulheres. • Forte associação de DPOC com baixo nível socioeconômico, mesmo após ajuste para tabagismo, ocupação e outros fatores de risco associados à DPOC. • Do total de participantes com o diagnóstico de DPOC, 87,5% não havia sido diagnosticado anteriormente. INDICADORES FUNDAMENTAIS PARA UM DIAGNÓSTICO DE DPOC 1. Tosse Crônica: - Presente de modo intermitente ou todos os dias; - Presente, com frequência, ao longo do dia; - Raramente é apenas noturna; - Pode preceder ou aparecer simultaneamente à dispneia. 2. Produção Crônica de Expectoração: - Qualquer forma de produção crônica de expectoração pode ser indicativa. 3. Exacerbações Agudas: - Episódios repetidos. 4. Dispneia: - Progressiva; - Persistente; - Pior com exercício; - Pior durante infecções respiratórias. 5. História de Exposição aos Fatores de Risco: - Fumaça do tabaco, incluindo outras formas populares locais; - Poeiras/fumaças industriais e produtos químicos ocupacionais; - Fumaça proveniente da cozinha domiciliar, fogão à lenha, carvão e gás de aquecimento. Portanto, deve-se suspeitar de DPOC, quando: • Idade ≥ 40 anos; • Fator de risco (sobretudo tabagismo); • Sintomas respiratórios crônicos: dispneia aos esforços, tosse crônica, produção regular de catarro e/ou crises de bronquite ou chiado. ESTADIAMENTO PARA CLASSIFICAÇÃO ESTADIAMENTO I: DPOC Leve - VEF1/CVF < 0,7 - VEF1 ≥ 80% do previsto - O paciente pode não estar consciente que sua função pulmonar está anormal. ESTADIAMENTO II: DPOC Moderada - VEF1/CVF < 0,7 - 50% ≤ VEF1 < 80% do previsto - Os sintomas progridem com falta de ar tipicamente aparecendo aos esforços. ESTADIAMENTO III: DPOC Grave - VEF1/CVF < 0,7 - 30% ≤ VEF1 < 50% do previsto - A falta de ar tipicamente piora, frequentemente limita as atividades diárias do paciente e começam a aparecer as exacerbações. ESTADIAMENTO IV: DPOC Muito Grave - VEF1/CVF < 0,7 - VEF1 < 30% do previsto OU VEF1 < 50% do previsto associado à insuficiência respiratória crônica - A qualidade de vida está apreciavelmente alterada e as exacerbações podem levar à risco de vida. Laísa Dinelli Schiaveto PREVALÊNCIA DA DPOC De acordo com os estágios de gravidade: • Estágio I: 10,1% • Estágio II: 4,6% • Estágio III: 0,9% • Estágio IV: 0,2% De acordo com a faixa etária: • Entre 40 e 49 anos: 8,4% • Entre 50 e 59 anos: 16,2% • > 60 anos: 25,7% ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) 1. AVALIAÇÃO: A avaliação de indivíduos com suspeita de DPOC deve ser eminentemente clínica, com a utilização da espirometria como ferramenta para medir o grau de obstrução, avaliar o grau de reversibilidade e a progressão da obstrução brônquica, uma vez que tem valor prognóstico. Além disso, é de suma importância a diferenciação entre os possíveis diagnósticos diferenciais. 2. MÉTODOS PARA MELHORAR O DIAGNÓSTICO Com o intuito de melhorar o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento de pessoas com DPOC, deve-se: • Facilitar a referência da APS para o especialista; • Facilitar o acesso à espirometria; • Instrumentalizar a unidade básica com um espirômetro, treinando alguns profissionais da unidade para realizarem o exame. Obs.: A alternativa mais aceita é facilitar o acesso direto à espirometria solicitada pelo médico de família ou generalista. 3. CONDUTA: Em relação à conduta, esta deve incluir pelos menos quatro componentes: • Avaliação e monitoramento da doença; • Redução de fatores de risco; • Manejo do indivíduo com DPOC estável; • Manejo das exacerbações agudas. 4. ACOMPANHAMENTO E TRATAMENTO: Os objetivos do acompanhamento e do tratamento incluem: • Aliviar os sintomas; • Prevenir a progressão da doença; • Melhorar a capacidade física (tolerância aos exercícios); • Melhorar o estado geral de saúde e bem- estar; • Prevenir e tratar complicações; • Prevenir e tratar exacerbações agudas; • Reduzir a mortalidade; • Encaminhar ao especialista quando necessário (função de filtro); • Realizar prevenção quaternária: - Não encaminhar ao especialista quando não necessário; - Não expor a intervenções diagnósticas e terapêuticas desnecessárias; - Prevenir e minimizar os efeitos colaterais do tratamento. TRATAMENTO Tratamento Não Farmacológico • Aconselhamento para cessação do tabagismo; • Educação em saúde e plano de autocuidado; • Avaliação de comorbidades; • Promoção de atividade física; • Vacinação antipneumocócica; • Vacinação anual anti-influenza. Tratamento Farmacológico Os principais objetivos do manejo farmacológico de pessoas com DPOC são: Laísa Dinelli Schiaveto (1) redução na severidadedos sintomas e (2) prevenção das exacerbações. 1. Terapia Broncodilatadora A terapia broncodilatadora é central para o manejo da DPOC. Esse tratamento produz pequenos aumentos da função pulmonar medida pela espirometria e uma redução da hiperinsuflação dinâmica que leva à dispneia da DPOC. Nos casos de DPOC leve, usa-se os broncodilatadores de curta ação, como os beta- 2-agonistas (salbutamol ou fenoterol) e os anticolinérgicos (ipratrópio) podem ser utilizados. Já, nos casos moderados, graves e muito graves, usa-se os broncodilatadores de longa ação como os beta-2-agonistas de longa duração - LABA (formoterol e salmeterol) e os antagonistas muscarínicos de longa ação - LAMA (tiotrópio), uma vez que produzem alívio mais uniforme e duradouro. ENCAMINHAMENTO A maior parte dos indivíduos com DPOC podem ser acompanhados exclusivamente na APS. Entretanto, existem situações que justificam uma avaliação do pneumologista, como: • Incerteza diagnóstica; • DPOC em pessoas com idade < 40 anos; • DPOC em pessoas que possuem um parente de primeiro graus com história de deficiência de alfa-1-antitripsina; • DPOC grave; • Exacerbações frequentes; • Hemoptise; • Dificuldade em controlar os sintomas; • Necessidade de oxigenoterapia domiciliar; • Necessidade de reabilitação pulmonar; • Necessidade de cirurgia. ESPIROMETRIA A espirometria é um técnica utilizada com o objetivo de avaliar a função pulmonar, sendo o método mais fidedigno para se definir a presença ou ausência de distúrbios ventilatórios. Assim, sua realização é fundamental para confirmar a impressão diagnóstica, bem como para excluir diagnósticos diferenciais. Destaca-se que há uma subutilização importante da espirometria na atenção primária (< 35% dos indivíduos com diagnóstico de DPOC) a despeito das recomendações. Portanto, há a necessidade de maior utilização da espirometria como recurso auxiliar diagnóstico. Embora a espirometria isoladamente não seja suficiente para o diagnóstico, uma vez que o rastreamento de DPOC com espirometria não está indicado, sua não utilização resulta em sub ou sobrediagnóstico. INDICAÇÕES: • Identificação de doença pulmonar ou envolvimento pulmonar; • Pacientes com sintomas respiratórios (dispneia, chiado e tosse); • Pacientes com suspeita de DPOC em particular naqueles com história positiva para tabagismo, tosse crônica, dispneia aos esforços, chiado diário e história recorrente de infecções respiratórias; • Monitoramento dos pacientes com DPOC; • Diagnóstico de asma; • Quantificação da doença; • Acompanhamento e resposta terapêutica; • Detecção precoce de doença em paciente tabagista (> 10 maços/ano). • Avaliação de exposições ocupacionais; • Monitorização de efeitos tóxicos de medicamentos; • Avaliação de incapacidade; • Avaliação pré-operatória. CONTRAINDICAÇÕES: • Hemoptise; • Pneumotórax; • Instabilidade cardiocirculatória; • Angina e IAM recente; • Tromboembolismo pulmonar recente; • Edema pulmonar recente; • Aneurismas cerebral, torácico ou abdominal; • Cirurgia ocular, torácica ou abdominal recente; • Náuseas ou vômitos no momento do exame; • HAS não controlada; Laísa Dinelli Schiaveto • Descolamento de retina. PARÂMETROS UTILIZADOS: 1. Capacidade Vital Forçada (CVF) - Volume eliminado em manobra expiratória forçada desde a capacidade pulmonar total (CPT) até o volume residual (VR). - Dá uma estimativa do volume pulmonar. - Não é um dado fidedigno, pois não há como mensurar o VR durante a espirometria. - Expressa em litros. 2. Volume Expiratório Forçado no Primeiro Segundo (VEF1) - Volume de ar eliminado no primeiro segundo da manobra expiratória forçada. - Indica se há atraso na liberação do ar durante a expiração à paciente com DPOC tem tempo de expiração prolongado pelo aprisionamento de ar, por isso, no primeiro segundo, eliminam um volume inferior ao normal. - Auxilia na classificação da gravidade. - Expresso em litros. 3. Razão VEF1/CVF - Índice de Tiffenau. - Indica se há ou não obstrução do fluxo de ar. - Expresso em porcentagem (%). 4. Ventilação Voluntária Máxima (VVM) - Volume máximo de ar ventilado em um período de tempo por repetidas manobras respiratórias forçadas. - Expresso em litros/min. DISTÚRBIO VENTILATÓRIO OBSTRUTIVO E DISTÚRBIO VENTLATÓRIO RESTRITIVO Os distúrbios ventilatórios obstrutivos (DVO) são caracterizados por uma diminuição da taxa de fluxo expiratório devido ao aumenta da resistência das vias aéreas, como nos casos de enfisema pulmonar, bronquiectasia, tuberculose, pneumonia e asma. Já, os distúrbios ventilatórios restritivos (DVR) são caracterizados por uma diminuição da capacidade inspiratória dos pulmões, como nos casos de insuficiência respiratória aguda, doenças pleurais e síndrome do desconforto respiratório agudo. Nesse sentido, a interpretação da espirometria se dá da seguinte forma: Graus de Obstrução (Protocolo ATS/ERS e GOLD) PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ASMA: Início na infância ou adolescência; história pessoal de atopia (rinite, alergia e eczema); história familiar de asma; sem história de tabagismo; variação acentuada do grau de sintomas; sintomas noturnos ou de madrugada; obstrução ao fluxo aéreo amplamente reversível; boa resposta ao corticoide inalatório. A diferenciação com a asma é extremamente importante, visto que as estratégias de tratamento são distintas para as duas condições, embora a cessação do tabagismo seja vital, independente da doença. Nesse sentido, o tratamento da asma inclui o uso de corticoide inalatório em indivíduos com doença persistente para suprimir a inflamação eosinofílica das vias aéreas, enquanto no Laísa Dinelli Schiaveto tratamento da DPOC o corticoide inalatório é pouco responsivo, uma vez que a inflamação é neutrofílica. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: Dispneia paroxística noturna; crepitações nas bases pulmonares; achados de IC ao exame físico; radiografia de tórax mostrando cardiomegalia e edema pulmonar; espirometria com distúrbio ventilatório restritivo. Embora a diferenciação pareça ser simples (cardiomegalia, dispneia paroxística noturna e edema de MMII), muitas vezes, não há subsídios clínicos suficientes para o diagnóstico adequado. Além disso, as duas condições podem estar associadas com alguma frequência, o que torna o manejo ainda mais complicado, principalmente se o generalista não perceber a associações. Assim, nesses casos, é necessário a utilização de exames complementares para a elucidação diagnóstica. TUBERCULOSE: Faixa etária variada; pode ser pouco sintomática; tosse produtiva; hemoptise; febre; sudorese noturna; perda de peso; radiografia de tórax com opacidade em ápices ou cavitação. BRONQUIECTASIAS: Faixa etária variada; tosse com expectoração purulenta diária; radiografia ou tomografia de tórax com dilatação brônquica. CÂNCER PULMONAR: Idade > 50 anos; expectoração; dispneia; dor torácica; fadiga; emagrecimento; radiografia de tórax com opacidade irregular. OUTRAS: bronquiolite obliterante; embolia de pulmão recorrente; massas mediastinais e hipofarígeas e outras obstruções de vias aéreas (bócio); apneia obstrutiva do sono; síndrome de Löeffler; infecções virais e bacterianas; fibrose cística; aspergilose broncopulmonar alérgica; refluxo gastroesofágico. Obs.: Todas essas doenças podem coexistir com DPOC. TABAGISMO O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica, sendo considerado um transtorno mental e comportamental devido ao uso de nicotina (substância psicoativa) com desenvolvimento de dependência e doenças crônicas, decorrentes dos produtos, aditivos e subprodutos do tabaco. De acordo com a OMS, o tabaco mate mais de 8 milhões de pessoa por anos, sendo que mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso diretodesse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo. Portanto, compreende a 1a causa de morte evitável. Cerca de 80% dos fumantes vivem em países de baixa e média renda, onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é maior. Ainda, estatísticas revelam que os fumantes, comparados aos não fumantes, apresentam um risco 10x maior de adoecer de câncer de pulmão, 5x maior de sofrer infarto, bronquite crônica e enfisema pulmonar, e 2x maior de sofrer derrame cerebral. Doenças relacionadas ao Tabagismo O tabagismo contribui para as seguintes doenças: • Doenças crônicas não transmissíveis (bronquite crônica e enfisema pulmonar); • IAM; • AVC; • Tuberculose; • Infecções respiratórias • Úlceras gastrointestinal; • Impotência sexual; • Infertilidade em ambos os sexos; • Osteoporose; • Catarata; • Cânceres: leucemia mieloide aguda, câncer de bexiga, câncer de pâncreas, câncer de fígado, câncer do colo do útero, câncer de esôfago, câncer de rim e ureter, câncer de laringe (cordas vocais), câncer na cavidade oral, câncer de faringe (pescoço), câncer de estômago, câncer de cólon e reto, câncer de traqueia, brônquios e pulmão. Laísa Dinelli Schiaveto Obs.: Os produtos de tabaco que não produzem fumaça também estão associados ou são fator de risco para o desenvolvimento de câncer de cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas, assim como para muitas patologias buco-dentais. Dados Importantes • No Brasil, cerca de 443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo. • R$ 125.148 bilhões são os custos dos danos produzidos pelo cigarro no sistema de saúde e na economia. • Cerca de 161.853 mortes anuais poderiam ser evitadas. • Quanto às mortes anuais atribuíveis aos tabagismos: - 37.686 DPOC; - 33.179 doenças cardíacas; - 25.683 cânceres diversos; - 24.443 câncer de pulmão; - 18.620 tabagismo passivo e outros; - 12.201 pneumonia; - 10.041 AVC. Carga Tabágica O cálculo da carga tabágica é realizado pela multiplicação do nº de maços fumados por dia pelo número de anos de tabagismos. Assim, anos/maço é utilizado para quantificar a exposição do paciente ao tabaco pela vida inteira. Exemplo.: Uma pessoa que fumou 40 cigarros por dia (2 maços) por período de 30 anos possui uma carga tabágica de 60 anos/maço. Abuso e Dependência A nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco, é considerada uma droga, visto que possui propriedades psicoativas. Por isso, ao ser inalada, produz alteração do SNC, trazendo modificação do estado emocional e comportamental do usuário, induzindo, assim, ao abuso e dependência. O quadro de dependência resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo para consumir a droga, estabelecendo-se, assim, um padrão de autoadministração caracterizado pela necessidade, tanto física quanto psicológica, da substância, apesar do conhecimento de seus efeitos prejudiciais à saúde. Benefícios da Cessação do Tabagismo Parar de fumar sempre vale a pena em qualquer momento da vida, mesmo que o fumante já esteja com alguma doença causada pelo cigarro, tais como câncer, enfisema ou derrame. Isso de dá uma vez que: • Pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal (após 20 minutos); • Não há mais nicotina circulante no sangue (após 2 horas); • Nível de oxigênio no sangue se normaliza (após 8 horas); • Pulmões já funcionam melhor (após 12 a 24 horas); • Olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida (após 2 dias); • Respiração se torna mais fácil e a circulação melhora (após 3 semanas); • Risco de morte por IAM é reduzido à metade (após 1 ano); • Risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram (após 10 anos). Laísa Dinelli Schiaveto CASO CLÍNICO IDENTIFICAÇÃO: J.L.S., homem, 62 anos, casado, branco, trabalhador da construção civil (pedreiro). QUEIXA PRINCIPAL E DURAÇÃO: Vem a unidade para uma consulta por demanda livre devido à tosse e cansaço nos últimos 2 dias. HISTÓRIA PREGRESSA DA MOLÉSTIA ATUAL: Paciente conhecido na unidade, hiper frequentador, devido à múltiplas consultas nos últimos anos por motivos similares, devido a exacerbações de seu quadro de tosse. Possui uma “tosse de fumante” crônica, mas relata que, nos últimos 2 meses, vem apresentando tosse, com queixas ocasionais de chiado. Refere, ainda, que nos últimos 2 dias, sua tosse aumentou, a cor do escarro mudou de branco para verde e teve que aumentar a frequência de uso do seu inalador de salbutamol. ANTECEDENTES PESSOAIS: • Histórico de rinite alérgica e asma brônquica na infância, sem internações necessárias. • Faz uso de salbutamol rotineiramente 2x/dia. • Portador de hipertensão arterial em uso de captopril 25 mg 2x/dia. • Duas hospitalizações por pneumonia nos últimos 5 anos. ANTECEDENTES FAMILIARES: • Pais tabagistas. • Pai com histórico de enfisema pulmonar. • Mãe diabética, com histórico de rinossinusite. • Dois irmãos com problemas respiratórios. • Filho com histórico de asma brônquica. HÁBITOS DE VIDA: • Histórico de tabagismos desde os 17 anos, chegando a 60 cigarros/dia e, mesmo com o quadro atual, continua a fumar 2 maços/dia. • Etilista de final de semana. • Sedentário. CARGA TABÁGICA: 135 anos/maço (3 maços x 45 anos). INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO: • Geral: nega febre e emagrecimento. • Cabeça e Pescoço: histórico de rinite e refere alguns episódios de sinusopatia. • Aparelho Respiratório: passado de pneumonia com duas internações nos últimos 5 anos e passado de bronquite na infância. • Aparelho Cardiovascular: queixas ocasionais de palpitações. • Aparelho Gastrointestinal: hábito intestinal regular. • Aparelho Geniturinário: desconforto sobre a região da virilha quando esforço. • Aparelho Locomotor: claudicações quando faz caminhadas de longa distância. EXAME FÍSICO: Sinais Vitais: FC 98 bpm; FR 24 rpm; PA 150/90 mmHg; Sat O2 90% em ar ambiente; T 36,9ºC. Geral: P = 58 kg; Alt = 172cm; IMC: 19,6 kg/m2; sofrimento respiratório moderado; ligeira cianose labial. Aparelho Respiratório: dispneico; tórax com diâmetro anteroposterior ligeiramente aumentado; presença de sibilos expiratórios difusos com uma fase expiratória prolongada; presença de estertores em base do hemitórax direito. Aparelho Cardiovascular: BNR ligeiramente hipofonéticas. Aparelho Abdominal: abdome escavado; indolor à palpação; sem visceromegalias; ligeira hérnia inguinal à direita. Aparelho Locomotor: cifoescoliose para direita; sem edemas de MMII; pulsos pediosos tênues. EXAMES LABORATORIAIS: • Hemograma: - Hemácias 5,2 milhões/mm3 - Hemoglobina 16,8 g/dL - Hematócrito 49% - Leucócitos 6.900 mm3 - Bastonetes 1 mm3 - Segmentados 56 mm3 - Eosinófilos 3 mm3 - Basófilos 0 mm3 - Linfócitos 30 mm3 Laísa Dinelli Schiaveto - Monócitos 10 mm3 - Plaquetas 230.000 mm3 • Glicose em jejum e pós-prandial: - Jejum 103 mg/dL - Pós-prandial 126 mg/dL • Colesterol total e frações; - CT 205 mg/dL - HDL 56 mg/dL - Triglicerídeos 145 mg/dL • Ureia 40 mg/dL; • Creatinina 1,0 mg/dL; • Ferro 96 µg/dL; • Ferritina 30 ng/mL; • Eletroforese de hemoglobina normal; • Urina de rotina normal. EXAMES COMPLEMENTARES: • Raio-X de tórax: Releva diâmetro anteroposterior aumentado e cúpulas diafragmáticas achatadas, mas, fora isso, os campos pulmonares estão limpos. • Espirometria: - CVF normal - VEF1 65% - VEF1/CVF < 70% PERGUNTA-SE: 1. Qual é a causa mais provável da dispneia deste paciente? 2. Quais exames complementares podem ser solicitados para esclarecimento diagnóstico? 3. Que conduta poderíamos assumir frente a este paciente?
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