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Laísa Dinelli Schiaveto Doenças Neuromusculares INTRODUÇÃO As doenças neuromusculares são afecções, hereditárias ou adquiridas, que acometem a unidade motora, podendo comprometer os neurônios, raízes nervosas, nervos periféricos, junção neuromuscular ou músculo. Apresentam várias etiologias, sendo comum o comprometimento respiratório, cardiovascular e autonômico. Ainda, devido à resposta anormal aos bloqueadores neuromusculares (BNM), seu uso pode agravar condições clínicas prévias ou causar risco de morte por hipercalcemia. ACOMETIMENTO RESPIRATÓRIO O acometimento, seja ele primário ou secundário, da unidade motora, leva à uma fraqueza da função muscular e aumento da carga elástica induzida pela redução da adesão pulmonar ao tórax, gerando, assim, um declínio da capacidade vital (CV). Ou seja, não há uma expansão adequada da caixa torácica, acarretando na formação de microatelectasias. Além disso, o funcionamento inadequado da musculatura respiratória ocasiona a queda da ventilação, a redução da relação V/P, a redução da hematose e, como consequência, à hipercapnia (> CO2). MÚSCULOS AFETADOS: escalenos, esternocleidomastoídeo, intercostais externos, serrátil, eretor da coluna, bulbares e diafragma. CLASSIFICAÇÃO SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ (SGB) à DEFINIÇÃO: A SGB consiste em uma polineuropatia autoimune, geralmente desencadeada por processo infeccioso agudo, que acomete, sobretudo, o sexo masculino. à SUBTIPOS: à MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Paralisia ascendente simétrica (MMII – MMSS – tronco – cabeça – pescoço); • Reflexos tendíneos profundos reduzidos ou abolidos; • Déficits sensitivos-cutâneos; • Acometimento da musculatura acessória (necessidade de suporte ventilatório); • Disfunção autonômica, predispondo à instabilidade hemodinâmica. à DIAGNÓSTICO: É clínico e laboratorial, sendo baseado nos sintomas e nos achados do exame neurológico, que devem incluir a diminuição ou a perda de reflexos profundos do tendão e punção lombar, bem como na análise do LCR e na eletroneuromiografia. Nesse sentido, de acordo com os Critérios de Brighton, as definições clínicas para o diagnóstico incluem: • Nível 1 de certeza diagnóstica: - Perda de força bilateral e flácida dos membros; - Redução ou abolição dos reflexos tendíneos profundos nos membros afetados; - Padrão de doença monofásico e intervalo entre instalação e ponto máximo de Laísa Dinelli Schiaveto fraqueza entre 12 horas e 28 dias com subsequente platô clínico; - Achados eletrofísicos consistentes com SGB; - Dissociação albuminocitológica (elevação do nível de proteínas no LCR acima do valor normal e contagem total de leucócitos < 50 células/µL no LCR); - Ausência de diagnóstico alternativo identificado que explique perda de força. • Nível 2 de certeza diagnóstica: - Perda de força bilateral e flácida dos membros; - Redução ou abolição dos reflexos tendíneos profundos nos membros afetados; - Padrão de doença monofásico e intervalo entre instalação e ponto máximo de fraqueza entre 12 horas e 28 dias com subsequente platô clínico; - Contagem global de leucócitos no LCR < 50 células/µL (com ou sem elevação das proteínas no LCR acima do valor normal). à TRATAMENTO • Não há cura; porém, os tratamentos podem ajudar na melhora dos sintomas, bem como encurtar a sua duração. • Tratamento de suporte: monitoramento da função muscular, função respiratória, função de deglutição, função autonômica, pressão arterial, frequência e ritmo cardíaco e controle da bexiga/intestino. • Na fase aguda, dada a natureza autoimune, o tratamento é feito com imunoterapia: imunoglobulina intravenosa ou plasmaférese. • Nos casos de persistência da perda de força após a fase aguda, há necessidade de fisioterapia para fortalecimento dos músculos e restauração dos movimentos. ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA) à DEFINIÇÃO: A ELA compreende uma doença progressiva, caracterizada por atrofia muscular secundária a uma degeneração neurológica, que acarreta em paralisia motora irreversível, acometendo, sobretudo, pacientes entre 55-75 anos. - Está associada com fatores genéticos/ hereditários. à MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Perda progressiva da força muscular e enrijecimento (esclerose), inicialmente unilateral (lateral), com atrofia muscular (amiotrófica); • Sintomas piramidais; • Sinal de Babinsky positivo; • Sincinesia (contrações musculares involuntárias que ocorrem com o movimento voluntário de um grupo muscular diferente); • Sinreflexia (reflexos anormalmente bilaterais); • Hiperreflexia (aumento dos reflexos dos músculos e tendões); • Cãibras; • Tremores; • Perda de sensibilidade; • Incapacidade de realizar tarefas rotineiras; • Dificuldades para respirar e engolir; • Engasgar com facilidade; • Babar; • Disfemia (gagueira); • Cabeça caída; • Problemas de dicção (padrão de fala lento ou anormal); • Perda de peso. à DIAGNÓSTICO: Inicialmente, o diagnóstico é clínico, baseado na história e no exame físico. Entretanto, para confirmação diagnóstica, é necessário os seguintes exames: • Hemograma; • Teste respiratório; • TC ou RNM de cabeça e coluna cervical; • Eletroneuromiografia; • Teste genético (se houver histórico familiar); • Estudos de condução nervosa; • Testes de deglutição; • Punção lombar. à TRATAMENTO: • Não há cura; porém o uso de determinados medicamentos, como o riluzol, reduz a velocidade de progressão as doença, prolongando, portanto, a vida do paciente. Laísa Dinelli Schiaveto - Há disponível no SUS. • De acordo com a evolução, pode haver a necessidade de fisioterapia, reabilitação, uso de órteses e uso de cadeira de rodas. • Nutricionista. • Cuidados paliativos. MIASTENIA GRAVIS (MG) à DEFINIÇÃO: A MG é uma doença neuromuscular autoimune causada por anticorpos contra os receptores de acetilcolina (anti-AChR) da junção neuromuscular. à MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Fraqueza progressiva e fadiga da musculatura musculoesquelética de caráter flutuante; • Manifestações oculares, como ptose ou diplopia; • Manifestações bulbares, como disartria, disfagia ou fadiga ao mastigar; • CRISE: insuficiência respiratória associada à fraqueza muscular grave (fatal em 15-20% dos casos). à DIAGNÓSTICO: Inicialmente, o diagnóstico é clínico, com base na história e manifestação clínicas neuromusculares, necessitando a confirmação por exames complementares, tais como: • Eletroneuromiografia; • Dosagem sérica de anticorpos anti-AChR; • Raio-X de mediastino (avaliação do timo). OBS.: Nos casos de anticorpos negativos, recomenda-se a análise genética para miastenia congênita. à TRATAMENTO: Os objetivos do tratamento incluem remissão da doenca, melhora da força muscular e fadiga, melhora da função respiratória, redução do tempo de internação e prevenção de crises miastênicas. • Inibidores da acetilcolinesterase (piridostigmina). • Corticoide (prednisona) é indicado para pacientes que não respondem bem à piridostigmina. • Imunossupressores (azatiprina, ciclosporina e ciclofosfamida). • Imunoglobulina humana ou plasmaférese. • Fisioterapia, sobretudo, respiratória. • CRISE: admissão em UTI, monitorização rigorosa da função respiratória, tratamento da insuficiência respiratória (IOT e VM), cuidados gerais (uso de sonda nasogástrica, sonda vesical, prevenção de TVP, suporte nutricional e traqueostomia) + início de uso de anticolinesterásicos (fase inicial em pacientes sem diagnóstico prévio), imunoglobulina humana ou plasmaférese. DISTROFIA MUSUCULAR DE DUCHENNE (DMD) à DEFINIÇÃO: A DMD é causada por mutações no gene responsável pela síntese da proteína distrofina, a qual é necessária para a formação correta da membrana pós-sináptica da junção neuromuscular. Ocorre na primeira infância, sobretudoentre 3-5 anos. - Apresenta padrão de herança recessivo ligado ao cromossomo X. à MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Atraso no DNPM, quedas frequentes e dificuldade para subir escadas, correr e se levantar do chão (sinais clínicos < 5 anos); • Comprometimento simétrico, inicialmente do músculos da cintura pélvica, atingindo, mais tardiamente, os membros inferiores; Laísa Dinelli Schiaveto • Comprometimento da cintura escapular, sobretudo os músculos serrátil, peitoral, bíceps e braquiorradial (Sinal da Escapula Alada); • Acentuação da lordose lombar; • Escoliose; • Macha anserina (andar de pato); • Sinal de Gowers ou “levantar miopático (levantar-se apoiando sucessivamente as mãos nos diferentes segmentos dos membros inferiores, de baixo para cima, como se a criança estivesse ascendendo sobre si mesma); • Hipertrofia das panturrilhas devido a progressiva necrose muscular, fibrose e infiltração gordurosa; • Andar na ponta dos pés devido a contraturas musculares e retrações dos tendões; • Pé Equinovaro (contração dos músculos gastrocnêmico, sóleo e tibial posterior); • Deformidades esqueléticas; • Comprometimento da função respiratória; • Alterações cardíacas. à DIAGNÓSTICO: • Dosagem de CK; • Análise de mutação do gene DMD; • Biópsia muscular. à TRATAMENTO: • Não há tratamento definitivo. • Medidas de suporte. • Corticoides (prednisona ou deflazacorte). • Fisioterapia. • Suporte ventilatório. • Cirurgias ortopédicas e órteses. • Problemas cardíacos (betabloqueadores ou inibidores de ECA). DISTRODIA MUSCULAR DE BECKER (DMB) à DEFINIÇÃO: A DMB é uma doença genética, na qual a proteína distrofina se encontra particularmente ausente, sobretudo por volta dos 12 anos. - Apresenta padrão de herança recessivo ligado ao cromossomo X. à MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Muito semelhante à DMD, mas consideravelmente mais leves. à DIAGNÓSTICO: • Dosagem de CK; • Análise de mutações do DNA; • Biópsia muscular. à TRATAMENTO: semelhante à DMD. DISTROFIA MUSCULAR DE EMERY-DREIFUSS (DMED) à DEFINIÇÃO: A DMED é a forma de distrofia muscular frequentemente associada a contraturas articulares e defeitos da condução cardíaca, que pode ser causada, principalmente, pela deficiência da proteína emerina na membrana nuclear interna das fibras musculares. Os principais genes associados são emerina, LMNA, nesperina-1, nesperina-2, FHL1, LUMA, SUN1, SUN2 e titina. - Apresenta padrão de herança autossômico dominante, autossômico recessivo ou recessivo ligado ao cromossomo X. à MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Diminuição da força muscular nas cinturas escapular e pélvica; • Hipotrofia e hipotonia difusa com contraturas articulares em coluna cervical, ombros, cotovelos e joelhos; • Marcha anserina (andar de pato); • Disfagia; • Contraturas articulares em cotovelos e tornozelos; • Ausculta cardíaca com ritmo de galope; à DIAGNÓSTICO: • Dosagem de CK; • Análise de mutações do DNA; • ECG (BAV); • Biópsia muscular; à TRATAMENTO: • Não há tratamento definitivo. • Prevenção de contraturas precoces. • Colocação de marca-passo cardíaco. • Profilaxia trombolítica para pacientes com paralisia atrial e fibrilação ou flutter atrial.
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