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Patrícia do Couto Nascimento Faria Gestão da Inovação em Processos Patrícia do Couto Nascimento Faria FERRAMENTAS DE GESTÃO Belo Horizonte Agosto de 2016 COPYRIGHT © 2016 GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO Todos os direitos reservados ao: Grupo Ănima Educação Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Edição Grupo Ănima Educação Vice Presidência Arthur Sperandeo de Macedo Coordenação de Produção Gislene Garcia Nora de Oliveira Ilustração e Capa Alexandre de Souza Paz Monsserrate Leonardo Antonio Aguiar Equipe EaD Conheça a Autora Patrícia do Couto Nascimento Faria é graduada em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2003) e Mestre em Administração (ênfase em Administração Mercadológica e Estratégia) pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007). Tem experiência na área de administração, atuou principalmente com consultoria e docência, notadamente nos temas: marketing (mercadologia), estratégia, projetos e novos negócios. Lecionou em cursos de graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em vários campus, assim como na UNA campus Aimorés, disciplinas relacionadas à Administração Geral, Marketing e Projetos, além de ter orientado trabalhos de conclusão de curso em ambas as instituições. Lecionou disciplinas para pós-graduação em Administração pela PUCMINAS, em Pouso Alegre e em Belo Horizonte. Apresentação da disciplina Administração é uma área cujo corpo de conhecimento começou a se formar de modo sistemático e consistente notadamente a partir do século XX. Apesar de os esforços no sentido de prever, organizar, dirigir e controlar já serem observados há milênios nas mais diversas culturas e nações pelo mundo, eles começaram a ser sistematizados com o surgimento das grandes corporações. Dos anos 1900 para cá, a rapidez, a intensidade e a complexidade das mudanças trouxeram desafios e uma realidade que demandam ferramentas de gestão capazes de tornar os processos e projetos mais inovadores e eficientes. Dessa forma, permite a exploração dos recursos e das capacidades de modo a gerar vantagens competitivas sustentáveis. A disciplina apresentará o conceito de inovação aplicado à gestão. Percorrer-se-á a linha evolutiva dos estudos, a fim de trazer um mapeamento da importância prática da inovação catalisadora de vantagens competitivas para as organizações. Compreendido o conceito, o próximo passo, será discutir os diferentes tipos de inovação, os quais podem ser classificados sob óticas diversas, desde a área de negócio impactada, passando pelo grau de impacto, a relação com as necessidades do mercado e o nível de controle da empresa sobre o processo. Diagnosticar qual é a inovação mais adequada a cada situação/contexto e a contribuição de um conjunto de diferentes tipos de inovação para determinada organização desperta os gestores para as várias possibilidades que o conceito traz. Em um momento da disciplina apresentaremos as culturas, tanto interna quanto externa à organização, como lócus que devem favorecer o desenvolvimento da inovação. Serão listados os principais elementos contribuintes de uma e de outra para que a inovação se estabeleça enquanto um processo contínuo. Seguindo a linha processual, serão abordadas as gestões específicas que compõem a organização com foco em projetos e nos processos não como coisas mutuamente excludentes, mas dentro de uma visão sinérgica, em que há multiplicação de esforços para a busca de vantagens competitivas para a organização. Também analisaremos a resposta das organizações ao dinamismo e às mudanças ambientais. É nela que são apresentados os principais modelos de gestão e debatidas as principais diferenças de aplicações entre eles. São também vislumbrados os novos caminhos que se apresentam para a gestão. Debruçaremos sobre questões que assumem o papel cada vez mais preponderante no que diz respeito à inovação dos processos organizacionais, tanto devido à legislação quanto em função de uma conscientização maior por parte de grupos sociais que exigem uma mudança de postura das empresas enquanto clientes, funcionários, acionistas ou parte de outros grupos com os quais as organizações interagem diretamente. Redes organizacionais é um assunto que também será abordado na unidadde. Pensar em inovar e estabelecer vantagens competitivas sustentáveis pode ser um processo facilitado por parcerias. É importante compreender os tipos, modo como se formam, se mantêm e podem desenvolver uma integração estratégica. Por fim, abordaremos a gestão estratégica do conhecimento, sua importância para o aprendizado organizacional. Compreender e aplicar ferramentas de gestão passa pelo desenvolvimento da competência de realizar uma acurada leitura ambiental e tomar as decisões mais acertadas em cada situação/contexto, o que é otimizado pelo conhecimento e o aprendizado decorrente dele. UNIDADE 1 001 Inovação e Gestão: Uma Introdução 002 O Desenvolvimento do Conceito Inovação 004 Evolução Histórica dos Estudos Sobre Inovação Aplicada à Gestão 006 Gestão da Inovação Como Fonte de Vantagem Competitiva 015 Tendências de Inovação 024 Revisão 029 UNIDADE 2 032 Tipos de Inovação 033 Segundo a Área de Negócio Impactada 035 Segundo o Grau de Impacto Provocado 046 Segundo a Relação com as Necessidades do Mercado 050 Segundo o Grau de Controle que a Empresa Exerce Sobre o Processo 052 Revisão 061 REFERÊNCIAS 131 UNIDADE 3 061 Cultura de Inovação, Gestão de Inovação e Mudanças 062 Cultura Interna: Estabelecendo um Ambiente Favorável à Inovação 064 Cultura Externa: O “Habitat” da Empresa é Amigo da Inovação? 070 Personas de Inovação 073 Criatividade Empreendedora 076 Estrutura Organizacional de Empresas Inovadoras 077 Como Inovar: Modelos de Processos de Inovação 080 Visão Estratégica da Inovação e Mudanças 084 Revisão 091 UNIDADE 4 093 Gestões Específicas: Uma Abordagem Estratégica Processuale Integrada 094 Uma Visão de Conjunto 096 A Abordagem Processual 100 As Gestões Específicas 105 As Gestões e as Fases dos Projetos 119 Fatores Críticos para o Sucesso dos Processos Organizacionais 121 Revisão 129 Inovação e Gestão: Uma Introdução • O Desenvolvimento do Conceito Inovação • Evolução Histórica dos Estudos Sobre Inovação Aplicada à Gestão • Gestão da Inovação Como Fonte de Vantagem Competitiva • Tendências de Inovação Introdução O conceito de inovação varia bastante, principalmente em função de sua aplicação. De acordo com o Relatório de Inovação do Reino Unido (2003), “Inovação é a exploração com sucesso de novas ideias”. Essa definição é um modo resumido de compreender o conceito. Para as organizações, sucesso pode ser aumentar o faturamento, conquistar novos mercados, aumentar as margens de lucro, entre outros benefícios. De modo sintético, tudo o que pode agregar valor aos produtos e serviços, ou no caminho de produção ou distribuição desses – na percepção dos clientes - são inovações que devem ser buscadas pelas organizações. A presente unidade tem por objetivo geral identificar o papel da inovação como ferramenta, recurso estratégico para que as organizações sejam capazes de gerar vantagens competitivas. O mapeamento das principais definições de inovação é o pontapé inicial da unidade. O passo seguinte é buscar compreender a evolução histórica da aplicação da inovação nas organizações, de um recurso inicialmente restrito à pesquisa e desenvolvimento de produtos, a um espectro de possibilidades na atualidade, com variações não apenas no local onde ocorre, mas também em termos de intensidade. Essa linha evolutivada inovação nas empresas trouxe a oportunidade da gestão da inovação e esse olhar estratégico, de planejamento, implementação e controle – de modo sintético – permite que a inovação seja um processo sistemático, capaz de gerar vantagem competitiva sustentável para a organização. Trazida à tona a possibilidade de gerenciar de forma estratégica a inovação, a unidade é encerrada com tendências de inovação aplicadas ao universo empresarial. Compreender quem são e para onde se encaminham, esse é o pontapé inicial para que as organizações estabeleçam a inovação como um processo estratégico, sistemático e contínuo. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 04 O Desenvolvimento do Conceito Inovação Definir inovação e o tipo desta pode influenciar na operacionalização do construto. A inovação é um dos temas mais importantes e estratégicos para a gestão e, de modo mais direto, para o marketing. A ideia central para o sucesso de uma nova oferta no mercado consiste em sua rápida aceitação pelos denominados adotantes iniciais e, na sequência, sua propagação para os demais. (MIDGLEY; DOWLING, 1978). São inúmeros os conceitos de inovação apresentados na literatura. Definir inovação e o tipo desta pode influenciar na operacionalização do construto, uma vez que os aspectos abordados nas diferentes conceituações consideram partes específicas do complexo processo de inovação. Quando se olha para os primórdios da utilização do termo, um dos primeiros nomes que vêm à mente é Schumpeter. Sob o paradigma schumpeteriano (SCHUMPETER, 1982) e neoschumpeteriano (NELSON; WINTER, 1982; NELSON, 2006), o conceito inovação está relacionado a mudanças, evoluções e novas combinações de fatores que desenvolvem e mantêm o desequilíbrio socioeconômico existente. Desequilíbrio mesmo! É o que faz com que o desenvolvimento siga em curso. De acordo com Utterback (1971), a inovação é definida como uma invenção que alcançou a fase de introdução no mercado, no caso de um novo produto e, no caso de um novo processo, a fase do primeiro uso. A invenção, sob essa perspectiva, pode ser compreendida como uma solução original para uma necessidade ou desejo. A inovação seria um conceito distinto de invenção, por exemplo, por sua exploração comercial. Tálamo (2002), em uma linha próxima, define inovação como algo abrangente, que vai além da novidade ou da invenção. Entre a invenção e a chegada de um produto, um novo equipamento ou GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 05 um novo processo ao consumidor final existem diversas etapas e atividades funcionais a se realizar, como desenvolvimento, compras, produção, logística. O autor sugere que inovar compreende disponibilizar uma invenção para consumo em larga escala. Essa definição nos remete à de Teece e Jorde (1990), no que diz respeito à existência de fases a serem cumpridas pela inovação antes de sua chegada ao mercado. A inovação, enquanto processo, para esses autores, engloba a busca, a descoberta, o desenvolvimento, a melhoria, a adoção e a comercialização de novos processos, estruturas organizacionais, procedimentos e produtos. Uma distinção digna de nota é feita por Gopalakrishnan (2000). O autor diferencia a visão de economistas e teóricos organizacionais. Enquanto para os primeiros inovação é um produto, processo ou prática nova para a indústria, para os últimos a novidade é para a organização. Existe, entre ambos, uma diferença em termos de alcance do impacto. Crossan e Apaydin (2010), em uma revisão de literatura sobre o tema inovação, a conceituaram como produzir ou adotar, assimilar e explorar um valor que acrescente novidades nas esferas econômica e social, renovação e novas ampliações de produtos, serviços e mercados, o desenvolvimento de novos métodos produtivos e a criação de novos sistemas de gestão. Em síntese, é processo e também é resultado. O Manual de OSLO – um conjunto de diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre atividades inovadoras –, de acordo com a FINEP (2016), compreende a empresa inovadora como aquela que realiza pelo menos uma inovação durante o período de análise, por exemplo, dentro de um ano. Inovação, de acordo com esse manual, é a implementação de um produto, bem ou serviço, novo ou significativamente melhorado, ou um processo, um novo método de marketing, uma nova metodologia organizacional nas práticas de negócios, seja na organização ou nas relações com seu exterior. A inovação, enquanto processo, para esses autores, engloba a busca, a descoberta, o desenvolvimento, a melhoria, a adoção. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 06 A Pesquisa de Inovação (PINTEC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, se concentra nas inovações de produto e processo, mas incorpora também em seu escopo inovações de natureza organizacional e de marketing. Grande parte da inovação do setor de serviços e da indústria de transformação de baixa tecnologia não é apreendida de modo adequado pelo conceito de inovação restrito a produto e a processo. Inovação, para Luiz Serafim, head de marketing da 3M Brasil, é o “processo de transformar uma ideia diferenciada em oferta real, precificada, comunicada e disponibilizada ao público-alvo, atendendo às necessidades dos clientes com maior valor percebido em relação às alternativas existentes. ” (SERAFIM, 2016). Assim, conclui-se o conceito de inovação como aquilo que a organização desenvolve e entrega, que tem valor na percepção dos clientes. Isso engloba desde inovações em produtos e serviços, assim como em demais pontos de contato da empresa com o consumidor ou outros públicos capazes de influenciar essa percepção. Em resumo, são muitas as possibilidades de inovar e, por tabela, os cuidados com os pontos de interação também. Evolução Histórica dos Estudos Sobre Inovação Aplicada à Gestão A evolução de estudos sobre inovação, no que se aplica à gestão, possui relação com a busca de melhores resultados por parte das organizações em um ambiente de mudanças cada vez mais frequentes e intensas. Uma pressão crescente por inovação, assim como por menores custos e uma redução no tempo de Conclui-se o conceito de inovação como aquilo que a organização desenvolve e entrega. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 07 desenvolvimento de novos produtos e serviços, impulsionam a busca por novas formas de organização. (SANTAMARIA, 2007). As grandes mudanças tecnológicas são acompanhadas por transformações econômicas, sociais e institucionais. Uma vez que a tecnologia não se “propaga” no vácuo, necessita de todo um aparato jurídico, econômico, de condições político-sociais e de organizações adequadas para sobreviver e se desenvolver. Pode-se visualizar a inovação aplicada à gestão como analisada sob três perspectivas principais, a fim de facilitar a compreensão desse desenvolvimento: teorias econômicas da tecnologia, inovação e competitividade e, finalmente, gestão da inovação. Teorias Econômicas da Tecnologia Voltando para o século XVI, é possível perceber que o processo de acumulação primitiva de capital, associado às revoluções burguesas que se iniciaram na ocasião, criou as condições necessárias para o surgimento de inovações técnicas que originaram a manufatura. A Revolução Industrial, do ponto de vista da tecnologia, pode ser caracterizada por uma substituição da habilidade e esforço humanos pelas máquinas, pela introdução de novas fontes inanimadas de energia e pela utilização de matérias-primas novas, e muito mais abundantes, principalmente a substituição de substâncias animais ou vegetais por minerais. Além das inovações técnicas, ocorreram importantes inovações organizacionais, a exemplo da divisão do trabalho, que à épocaainda não eram produto da ciência, mas de empirismo – observações, especulações e experimentação prática. O pioneirismo de Adam Smith e David Ricardo quanto à análise, tanto das causas quanto das consequências da automação da manufatura, se deve ao fato de se preocuparem com a identificação da origem da riqueza das nações, assim como seus impactos sobre renda e trabalho. Identificar a tecnologia como fator que confere dinamismo econômico diverge na essência do pensamento dos É possível perceber que o processo de acumulação primitiva de capital, associado às revoluções burguesas que se iniciaram na ocasião. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 08 fisiocratas, os quais defendiam que somente a terra ou a natureza teriam a capacidade de produzir algo novo. Atividades como o comércio e a indústria seriam meros meios de transformação dos produtos da terra. Duas correntes de pensamento econômico bastante influentes até hoje surgiram na segunda metade do século XIX, enquanto transformações estruturais na economia mundial estavam em curso. Apesar de terem assumido direções diametralmente opostas no que diz respeito ao papel da tecnologia na dinâmica da economia, ambas possuem destaque, tanto a visão marxista quanto a neoclássica. Karl Marx retoma a tradição clássica para o estudo do processo de criação do valor e reconhece a tecnologia como alavanca do processo de evolução do capitalismo. Por outro lado, a corrente neoclássica possui como objetos centrais de seus estudos a formação de preços e a alocação de recursos. As hipóteses sobre equilíbrio e concorrência acabam por afastar as preocupações essenciais da escola clássica sobre origens e impactos da riqueza das nações. A questão tecnológica, nesse contexto, é negligenciada, considerada um fator externo ao debate econômico. Para compreender esse olhar, há que considerar o contexto tecnológico e institucional em vigor no final do século XIX. Nesse sentido, algumas premissas sobre as quais se fundamentaram a teoria neoclássica e a da firma não soam irreais. Naquele momento foram considerados o princípio de concorrência (apesar de não perfeita), a tecnologia como um fator externo (incorporada nas máquinas e trabalhadores), o tamanho ótimo e o equilíbrio da firma (em um ambiente de mudança tecnológica lenta) e informações disponíveis (ainda em redutos privilegiados dos grandes distritos industriais). Esse quadro, aliado aos precários instrumentos metodológicos, à falta de dados quantitativos à época, além de uma motivação ideológica de combate às ideias de Marx, podem explicar os desenvolvimentos iniciais da teoria neoclássica. Atividades como o comércio e a indústria seriam meros meios de transformação dos produtos da terra. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 09 Em termos práticos, analisado no mesmo contexto histórico, Marx foi capaz de diagnosticar melhor o papel da tecnologia na dinâmica da economia. Em vez de recorrer a um modelo abstrato para tentar compreender o funcionamento econômico, parte para a análise crítica da economia capitalista. A inovação é vista como uma arma competitiva que permite ao empreendedor produzir de modo mais eficiente, e que reduz a dependência da mão de obra e superar/ eliminar concorrentes. Essa visão de Marx sobre o papel da inovação no processo de competição entre as organizações impactou o estudo sobre gestão da inovação e foi incorporada nas obras de Schumpeter, um dos principais autores da área, assim como nas de seus seguidores. Veio então a era fordista e com ela a difusão de inovações tanto tecnológicas quanto organizacionais, o que permitiu o aparecimento da grande empresa, assim como a profissionalização das atividades relativas à pesquisa e desenvolvimento (P&D). Por isso, o estudo dos impactos do processo de centralização do capital na organização da firma e do mercado passou a ser cada vez mais objeto de interesse da teoria econômica. Contribuições diversas vieram para compor o instrumental de análise da corrente teórica que ficou conhecida como administração científica, diversificando-a: sociologia, teoria behaviorista e outras ciências do comportamento, além de aperfeiçoamentos na metodologia empírica. Na teoria econômica neoclássica, a organização era vista como em um papel passivo e a ruptura dessa visão abriu caminho para o desenvolvimento das teorias da firma, muito como resposta à crescente importância da grande corporação. Foi reconhecida a importância do conhecimento e da mudança tecnológica, apesar de ainda não haver os instrumentos metodológicos adequados para incorporá-los e consolidá-los à análise econômica. Na teoria econômica neoclássica, a organização era vista como em um papel passivo. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 010 Schumpeter, assim como Karl Marx, considera que a mudança tecnológica constitui o motor do desenvolvimento, e que revoluciona a estrutura econômica por dentro em um processo de destruição criativa ou de criação destruidora. O progresso tecnológico é considerado um processo qualitativo mais do que quantitativo, na medida em que gera novos hábitos de consumo. Uma das principais críticas de Schumpeter a seus economistas contemporâneos diz respeito à sua preocupação em analisar o modo como o capitalismo administrava as estruturas existentes, relegando a questão mais importante sobre a maneira como criava e destruía essas estruturas. A compreensão da história das grandes corporações demanda uma leitura dos ensaios de Alfred Chandler. Uma coletânea deles foi realizada por McCraw e publicada em 1998, em português, pela Editora da Fundação Getúlio Vargas. No último quarto do século XX, o modelo de Ford, Taylor e companhia, que dominava a economia mundial até então, começa a dar sinais de esgotamento. Com a diminuição/escassez de recursos naturais, as formas rígidas de organizações produtivas passaram a “pesar” para a competitividade e o surgimento da microeletrônica no contexto comercial tornou a sociedade cada vez mais exigente em relação às organizações. Novas possibilidades de inovação e de organização da produção se abrem às empresas em função das tecnologias, tanto de informação quanto de comunicação. O processo de destruição criadora que afeta a economia mundial desde os primórdios da Revolução Industrial se torna cada vez mais intenso e renovado. A análise dessa nova era ficou a cargo da denominada escola evolucionista ou neo schumpeteriana, estabelecida quase quatro décadas depois de publicado “Capitalismo, socialismo e Novas possibilidades de inovação e de organização da produção se abrem às empresas em função das tecnologias. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 011 democracia”, de Schumpeter, em 1942. Além de atribuir a dinâmica econômica às inovações em produtos, processos e à forma de organizar a produção, eles atualizam o debate na medida em que rejeitam o princípio do equilíbrio de mercado, diante do ambiente coletivo de mudanças proporcionadas por agentes individuais. A tecnologia, na visão dos neo schumpeterianos, é um elemento interno, presente nas relações de produção e na valorização do capital, em oposição à teoria neoclássica, que a via como uma variável externa. Vale destacar que a formulação de novos conceitos é bastante atrelada à abertura para o multidisciplinar da Administração e até da Engenharia de Produção que, por serem de aplicação mais prática, empírica, são mais receptivas às ideias evolucionistas do que o campo teórico das ciências relativas à Economia. Inovação e Competitividade Chegamos a um segundo momento, de associar inovação à competitividade. Para iniciar, vale identificar os principais tipos de inovação e os fatores que os induzem. As inovações incrementais são aquelas realizadas cotidianamente nas organizações, via processo de aprendizado.Por outro lado, as inovações denominadas radicais são descontínuas no tempo e no espaço, e geralmente são originárias de pesquisa e desenvolvimento. Outra percepção diz respeito à parte das inovações serem “puxadas” por demandas de usuários e consumidores (demand-pull) e outra parte ser fruto de avanços da ciência e da tecnologia (technology push). O desenvolvimento tecnológico possui estreita relação com políticas públicas e sociais do cenário em que a organização se encontra, assim como a condições econômicas e custos de fatores As inovações incrementais são aquelas realizadas cotidianamente nas organizações, via processo de aprendizado. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 012 de produção. A análise da difusão de novas tecnologias no que tange à economia pode ser realizada em quatro dimensões: direção ou trajetória tecnológica, ritmo ou velocidade de difusão, fatores condicionantes e impactos econômicos, sociais e ambientais. As organizações inovadoras chegam ao ponto em que recorrem a informações e conhecimentos que possuem origem interna e externa. No ambiente interno, as principais fontes de inovação são as atividades de pesquisa e desenvolvimento, melhorias incrementais obtidas por meio de aprendizado, experiências e programas de qualidade, assim como via “cópia” de produtos pioneiros por meio de engenharia reversa. A empresa, para tanto, precisa dispor de rotinas dinâmicas para desenvolver capacitação tecnológica e transformar produtos e processos. No ambiente externo, as fontes de tecnologia abrangem uma ampla gama de procedimentos de diferentes níveis de complexidade. Desde as mais simples e baratas formas de obter informações sobre tecnologia (consultas a sites especializados na Internet, participação em cursos de especialização, compra de livros e revistas técnicas, visitas a feiras, congressos e exposição, e troca informal de informações com parceiros de negócios) às mais complexas (aquisição de bens de capital, contratação de consultoria externa, cooperação com universidades e centros de pesquisa, participação em projetos conjuntos de pesquisa e contratos de transferência de tecnologia). Cabe destacar a importância dos fluxos externos de informação sobre tecnologia, principalmente para as empresas de pequeno e médio porte, que não possuem atividades formais de pesquisa e desenvolvimento. No que se refere à tecnologia, é essencial pontuar a questão das normas e regulamentos que definem o acesso e o nível de adoção por um determinado setor/segmento. A infraestrutura que delineia a tecnologia adotada/desenvolvida é conhecida como tecnologias É essencial pontuar a questão das normas e regulamentos que de nem o acesso e o nível de adoção por um determinado setor/segmento. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 013 industriais básicas (TIB) e inclui normas (voluntárias), regulamentos (obrigatórios), certificação por entidade independente que comprove a adequação do produto e do processo aos parâmetros físicos e químicos convencionais, assim como laboratórios que atestem a confiabilidade e a credibilidade das medições efetuadas pela produção. Para quem tem interesse em se aprofundar sobre TIB, tem-se o site do INMETRO (www.inmetro.gov.br) que é uma ótima opção. Ainda explorando o lado de fora das organizações, é essencial analisar o setor da atividade, a localização geográfica, a origem do capital e o porte do empreendimento para compreender a adoção e o desenvolvimento da tecnologia. Essa compreensão do impacto setorial dividiu-os em relação à difusão de tecnologia em produtores de commodities, setores tradicionais, produtores de bens duráveis, fornecedores e difusores do progresso técnico, cada categoria representando uma trajetória tecnológica distinta. Enquanto há setores intensivos em processos produtivos, nos quais a competitividade está intimamente relacionada a escalas elevadas e produtos pouco diferenciados, homogêneos, há outros em que a competitividade é pautada em diferenciação de produtos. A escala (e o porte) da empresa é fundamental para determinar sua capacidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento – P&D. Apesar de em geral as inovações serem concentradas em grandes empresas que dispõem de recursos e capacitação para desenvolver novos produtos, serviços e processos, há micro e pequenas empresas inovadores, principalmente em novos setores e em redes de empresas. As novas tecnologias de comunicação, como a internet, contribuem muito para que pequenas empresas minimizem as dificuldades de acesso a informações tecnológicas. É essencial analisar o setor da atividade, a localização geográ ca, a origem do capital e o porte do empreendimento. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 014 Quebradas as barreiras geográficas em uma era de aldeia global, o papel da informação e do conhecido é o de base das economias do mundo afora. Não há como atrelar o desempenho da exportação de um país apenas às vantagens competitivas naturais e a um custo baixo de produção. É preciso ir além, estabelecer e desenvolver a competitividade pela capacitação para construir vantagens dinâmicas a partir da inovação tecnológica e do aproveitamento de oportunidades. Fatores econômicos são muito tênues e esporádicos para explicar mudanças na competitividade em longo prazo. O desenvolvimento de um país compreendido como um processo está atrelado à participação em indústrias novas, dinâmicas e intensivas em conhecimento. Agregar valor ao produto ou serviço demanda conhecimento, o qual engloba um amplo conjunto de tecnologias que vão muito além das aplicadas a produtos e processos, envolvendo também estratégias empresariais, acesso a informações comerciais, jurídicas, econômicas, assim como sobre tecnologia gerencial, conhecimento para inovar e produtos, e processos às exigências dos importadores. Mesmo os produtores de commodities e produtos tradicionais precisam incorporar infraestrutura tecnológica para adequar seus processos e produtos às crescentes mudanças e exigências dos mercados. A percepção de que a inovação é um processo capaz de gerar vantagens competitivas sustentáveis para a organização acendeu um sinal de alerta para as organizações sobre a importância de melhorar continuamente sua gestão. Este é o terceiro momento da incorporação e da exploração da inovação. A Gestão da Inovação Trabalhar estrategicamente o processo de inovação é questão de sobrevivência para as organizações, notadamente em setores intensivos em tecnologia. Estratégia diz respeito a fazer o meio de campo entre os ambientes externo e interno. Há que fazer a É preciso ir além, estabelecer e desenvolver a competitividade pela capacitação para construir vantagens dinâmicas. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 015 leitura das oportunidades e ameaças, e estar pronto em termos de recursos e competências para que as forças possam ser exploradas para aproveitar, de modo mais eficiente possível, as oportunidades que se apresentem. Enquanto a vantagem competitiva pode advir de tamanho ou patrimônio, entre outros fatores, o cenário está gradativamente mudando em favor daquelas organizações que conseguem mobilizar conhecimento e avanços tecnológicos, e conceber a criação de novidades em suas ofertas (produtos/serviços), nas formas como criam, lançam e disponibilizam essas ofertas. Os estudos se encaminham para buscar compreender o papel da estrutura das organizações, tanto no que diz respeito à forma como se organizam internamente e nas relações interorganizacionais, mas também em termos de gestão de recursos humanos, cultura organizacional, inovações organizacionais relativas à qualidade, produção, logística etc. Gestão de conhecimento e o aprendizado decorrente dela, as redes, são alguns modos de estabelecer a inovação enquanto um processo contínuoe estratégico. Gestão da Inovação Como Fonte de Vantagem Competitiva Simplesmente desejar a ocorrência da inovação não é suficiente – é necessário gerenciar o processo de modo ativo. Para fazer isso, de modo resumido, três os fatores são essenciais: • geração de novas ideias: pode surgir por meio da inspiração, por transferência de outro contexto, de questionamentos advindos de necessidades de clientes ou usuários, via pesquisa de ponta ou de uma combinação de ideias pré- Gestão de conhecimento e o aprendizado decorrente dela, as redes, são alguns modos de estabelecer a inovação. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 016 existentes em algo novo. Podem também ter origem da construção de modelos alternativos para o futuro e da exploração de opções abertas dentro desse universo de alternativas; • seleção das melhores ideias: apesar de parecer simples, como saber quais as melhores ideias sem experimentá- las? A única certeza, na gestão e especialmente em um ambiente complexo e dinâmico, são as incertezas. O único modo de descobrir se uma ideia realmente vale ou não a pena é começar a desenvolvê-la, colocar em prática. A escolha de uma ideia errada pode, por vezes, signifcar o fim de jogo (game over); • implementação da nova ideia: transformar a ideia em um produto, serviço ou processo acabado ao qual as pessoas possam ter acesso e demandar. Gerenciar a inovação passa pela compreensão das formas que ela pode assumir, as quais podem ser resumidas em quatro diferentes dimensões de mudança – ou os denominados 4Ps da inovação: • inovação de produto (ou serviço): diz respeito a mudanças nas coisas (produtos/serviços) que uma organização oferta – por exemplo, um novo design de automóvel, um novo pacote de seguro contra acidentes para praticantes de esportes radicais; • inovação de processo: refere-se a modificações nos modos em que produtos/serviços são criados, ofertados ou apresentados ao cliente – entre os muitos exemplos. Podem ser listadas mudanças de rotina ou sequência burocrática para renovação de assinaturas de revistas; • inovação de posicionamento: são mudanças no contexto em que as coisas (produtos/serviços) são introduzidas – um exemplo clássico são as Havaianas, que originalmente eram um produto barato e “honesto”, chinelo para uso em casa e que se tornou um produto fashion; GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 017 • inovação de paradigma (modelo mental): diz respeito aos modelos mentais básicos que direcionam as ações da organização, ou seja, os modos como se percebe a realidade organizacional. Por exemplo, nessa categoria estão a mudança de produção de automóveis para em larga escala, em massa, por Ford, e o surgimento de linhas aéreas com tarifas econômicas. Cabe ressaltar, relativamente aos 4Ps da inovação, que a presença de uma não exclui a de outra(s). Uma vez apresentados os diferentes tipos e níveis, é preciso encarar a inovação como uma sequência estendida de atividades, ou seja, um processo. Pode-se resumir a inovação como a sequência de atividades envolvidas em um processo para fazer de uma ideia ou possibilidade uma oferta de valor real. FIGURA 1 – Processo Básico para Concretizar uma Inovação Fonte: Elaborada pela autora. Apresentar os passos básicos do processo é um modo de alertar para que nenhuma das etapas falte. Os modelos já são uma representação reduzida da realidade, se forem realizados de modo parcial, incompleto, o fracasso “bate à porta”. Por exemplo, se a inovação for encarada como forte capacidade de P&D, pode acontecer uma miopia em termos de mercado – o valor precisa existir na percepção do cliente. Se inovação é compreendida como progresso tecnológico, pode não ter apelo comercial. Se apenas a “prata da casa” for capaz de gerar ou criar, o “não ser inventado aqui” pode ocasionar a perda de boas ideias ou parcerias estratégicas. E se por outro lado só se valoriza a geração e a criação “do lado de fora”, ocorre pouca ou nenhuma aprendizagem ou desenvolvimento de competências no que diz respeito à inovação internamente. É preciso encarar a inovação como uma sequência estendida de atividades, ou seja, um processo. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 018 Compreendida em seus traços básicos e como processo a questão da gestão da inovação, é essencial expandir os horizontes para relacioná-la às possibilidades de geração de vantagens competitivas por meio dela. A teoria sobre inovação explora bastante a relação entre inovação e desempenho empresarial. Freeman (1994) aponta que existe muito pouca discordância entre economistas sobre a importância da inovação para o desenvolvimento econômico no longo prazo. A análise do conceito inovação sob as perspectivas de Adam Smith, passando por Marx, Schumpeter, é unânime no que diz respeito ao papel das mudanças técnicas e organizacionais enquanto impulsionadoras do crescimento da produtividade. Motohashi (1998) visualiza um consenso de diversos teóricos sobre a inovação enquanto promotora de produtividade, de demanda por novos produtos e elemento de melhoria de eficiência, sendo essencial para o crescimento econômico. Apesar disso, destaca a dificuldade de mapeamento do mecanismo de atuação da inovação em função da heterogeneidade das empresas e setores. Destaca também não ser fácil garantir o retorno financeiro do processo de inovação. A vantagem competitiva começou a ser abordada a partir dos anos 1970 por diversas correntes do pensamento econômico, sob perspectivas conceituais distintas. Um grupo importante de contribuições às teorias sobre vantagem competitiva concentra-se na dinâmica da organização, dos mercados e da concorrência, com enfoque mais nos processos de mudança e inovação do que nas estruturas das indústrias ou em arranjos estáveis de recursos. Um segundo grupo contribui por meio da elaboração de ideias incorporadas às teorias dos processos de mercados e na teoria dos recursos, em busca de formular uma teoria de formação das competências organizacionais em ambientes de alta complexidade e mudanças constantes. A teoria sobre inovação explora bastante a relação entre inovação e desempenho empresarial. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 019 Percebe-se que, desde a consideração da concorrência dentro de um olhar de planejamento estratégico por parte das organizações, a busca da vantagem competitiva é presente. O que mudou, desde a teoria da organização industrial até chegar a das capacidades dinâmicas foi o enfoque. Apesar de as fontes da vantagem competitiva serem recursos e capacidades, ao longo do tempo foi necessário desenvolver uma estrutura flexível para que as capacidades possam se ajustar à velocidade das mudanças de mercado. No quadro abaixo pode ser visualizada uma síntese das principais características de teorias importantes sobre vantagem competitiva, que destaca a teoria de processos de mercado - que tem como um de seus fundadores Schumpeter – por ser pautada na inovação como geradora de vantagem competitiva. QUADRO 1 – Comparação das Teorias sobre Vantagem Competitiva Fonte: Elaborada pela autora. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 020 Fonte: Adaptado de Vasconcelos e Cyrino (2016). O próximo quadro apresenta vantagens competitivas que podem ser estabelecidas por meio de inovações. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 021 QUADRO 2 – Vantagens Competitivas Geradas por inovações GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 022 Fonte: Adaptado de Tidd, Bessant e Pavitt (2008). Apresentadas vários lócus de inovação, a estratégia pode ser considerada um processo de exploração de um espaço, definido por quatro tipos básicos de inovação – 4Ps: produto (e serviço), processo, posição e paradigma (modelo mental). Cada um dos 4Ps de inovação pode ocorrer ao longo de um eixo que varia de mudança incrementala radical. A área indicada pela figura a seguir é o espaço de inovação potencial dentro do qual uma empresa pode operar. Quando a organização atua e por que – e quais áreas por ventura negligencia – são questões que se colocam para a estratégia de inovação. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 023 FIGURA 2 - O Espaço de Inovação Fonte: Adaptado de Bessant e Tidd (2009). Como apresentado anteriormente, inclusive na ilustração prévia, o grau de inovação pode ir de melhorias incrementais menores (inovação incremental) até mudanças bastante radicais, que realmente transformam o modo como percebemos e utilizamos os produtos/serviços ou o que tenha sido inovado. Um ponto importante também a ser compreendido em relação à inovação diz respeito à possibilidade de modificar algo em seus componentes ou alterar a arquitetura de todo o sistema. Vale destacar que esse último tipo de mudança (sistema) apresenta impacto nos níveis de subsistemas, podendo impactar o nível dos componentes. O inverso não costuma ser verdadeiro, ou seja, uma modificação em um componente pode não impactar nem o subsistema e muito menos o sistema como um todo, no que diz respeito a ajustes em outras partes. A próxima figura ilustra a relação entre sistemas, subsistemas e componentes, e o nível de inovação, que pode ir do incremental ao radical, ao longo de um contínuo. Uma modi cação em um componente pode não impactar nem o subsistema e muito menos o sistema como um todo. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 024 FIGURA 3 – Níveis de Inovação Fonte: Adaptado de Bessant e Tidd (2009). A inovação, para gerar vantagem competitiva, precisa estabelecer valor na percepção do cliente. Mais do que isso, precisa ser rara, preferencialmente de difícil imitação e um recurso, ou competência explorado pela organização. Vale destacar que a inovação pode ir muito além de produtos e serviços, pode ocorrer em processos, tecnologia (inclusive gerencial), no modo como se estrutura o negócio etc. Há que olhar de modo sistemático para fora da empresa e contrapor as oportunidades com as competências centrais da empresa, a fim de inovar nos pontos que realmente agreguem valor para o mercado, e de modo sustentável, duradouro. Tendências de Inovação As tendências em inovação variam de setor para setor. Se considerar a indústria, por exemplo, podem ser listadas algumas tendências mundiais, de acordo com a GE Reports Brasil (2016): • uso de novos materiais e nanotecnologia; • análise preditiva de dados; GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 025 • manufatura aditiva ou impressão 3D; • supercomputadores com altíssima velocidade de processamento e grande capacidade de memória; • uso de realidade aumentada e realidade virtual; • automação industrial e robótica. No que diz respeito à gestão da inovação, basicamente podem ser listadas três abordagens principais, que podem ser vislumbradas ainda por muitas organizações como tendências, listadas a seguir e sintetizadas no quadro abaixo. QUADRO 3 – Síntese de Três Abordagens para a Gestão da Inovação Fonte: Adaptado de Canongia e outros (2016). GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 026 É importante notar que, independente da abordagem, a presença de redes é comum a todas elas. Essa é uma das tendências que não se restringe a determinado setor. A importância da integração da cadeia logística como um todo, no que tange à geração de valor, é um dos motores da inovação, seja internamente às organizações que compõem os elos dessa cadeia, seja nas relações interorganizacionais. Por mais que o nome gestão do conhecimento venha representar uma abordagem, é possível diagnosticar o mapeamento e uma sistematização de conhecimentos também nas abordagens prévias. A gestão do conhecimento e a aprendizagem organizacional são pilares para as empresas que pretendem gerenciar a inovação em busca do estabelecimento de vantagens competitivas sustentáveis. Independente do setor analisado, a revolução tecnológica/digital é um catalisador dos processos que se referem à gestão da informação e da comunicação, notadamente no que se refere à integração, um dos elementos mais valorizados pelo mercado, à medida que pode conferir agilidade de resposta às demandas. As questões ambiental, social e ética também estão nas pautas de todas as empresas que trabalham o planejamento estratégico e a vantagem competitiva como processos sistematizados, se não como elemento que agrega valor ao produto final na percepção do cliente, como possibilidade de economia, de redução de custos em longo prazo. De modo resumido, algumas das variáveis mais marcantes que influenciam o cenário competitivo e que invariavelmente reescrevem as regras do jogo são estas: • a globalização de mercados e o fornecimento de tecnologia; • o surgimento de tecnologias que permitem o modo “virtual” de trabalho e a gestão do conhecimento; A revolução tecnológica/digital é um catalisador dos processos que se referem à gestão da informação e da comunicação. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 027 • o crescimento da preocupação com sustentabilidade – social, ambiental e ética; e • o aumento da atividade em rede como modelo de negócio. Compreendidos o conceito inovação e a evolução histórica dos estudos e de sua prática nas organizações, assim como o papel estratégico e as tendências no sentido de seu gerenciamento, as unidades seguintes voltar-se-ão para uma melhor compreensão aplicada da inovação no contexto gerencial. Inovação e Vida! Em meados dos anos 1980, um estudo da Shell indicava que o índice médio de sobrevivência de uma empresa de grande porte era de somente metade do tempo de vida de um ser humano. Desde então, as pressões sobre as empresas têm crescido consideravelmente de todos os lados – com o resultado inevitável de que a expectativa de vida se tornou ainda mais reduzida. Muitos estudos procuram pela mudança na composição de fatores essenciais e chamam a atenção para o legado que antes eram empresas grandes e, em sua época, inovadoras. Foster e Kaplan, por exemplo, afirmam que, das 500 empresas que originalmente compunham a lista da Standard and Poor’s em 1857, apenas 74 permaneceram na lista até 1997. Das 12 empresas que compunham o topo da lista do índice Dow Jones em 1900, apenas uma – a General Electric – sobrevive até hoje. Até mesmo gigantes aparentemente robustos como IBM, GM ou Kodak podem, subitamente, apresentar sinais de esgotamento, enquanto que para as empresas menores o cenário é ainda pior, uma vez que lhes falta a proteção de uma base de recursos maior. Algumas empresas precisaram mudar drasticamente para sobreviver no negócio. Uma empresa fundada no início do século XIX, por exemplo, que tinha botas Wellington e papel higiênico no seu rol de produtos, hoje é umas das maiores e mais bem-sucedidas no mundo das telecomunicações. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 028 A Nokia iniciou suas atividades como madeireira e serraria, fabricando equipamentos para o corte de árvores na Finlândia. Passou a explorar a indústria do papel e, a partir dela, atingiu o “escritório sem papel” da TI – e nesse ponto chegou aos telefones celulares. Outro fabricante de telefones celulares – a Vodafone Airtouch – cresceu em proporções gigantescas com a fusão com uma empresa chamada Mannesman, que desde sua fundação em meados de 1870, tem sido mais comumente associada com a invenção e produção de tubos de aço. A Tui é a empresa que hoje possui a Thomson, a agência de viagens do Reino Unido que é atualmente a maior agência de turismo europeia. Suas origens, entretanto, estão nas minas da velha Prússia, onde era estabelecida como uma estatal de exploração de chumbo e fundição. Fundada há cerca de cem anos, a Kodak possuía como base de seu negócio a produção e o processamento de filme, e a venda de serviçosassociados ao mercado fotográfico de massa. Ainda que esse último conjunto de competências seja altamente relevante (mesmo depois das mudanças drásticas sofridas pela tecnologia em câmeras), o abandono da revelação química molhada na câmera escura (mergulhando filme e papel em emulsões) em favor da imagem digital representou uma mudança profunda para a empresa. Ela precisou – em uma operação global com uma força de trabalho de milhares de pessoas – abandonar as velhas competências, que provavelmente não seriam necessárias no futuro, enquanto adquiria e absorvia, concomitantemente, novas tecnologias de ponta no campo da eletrônica e das comunicações. Embora tenha feito esforços tremendos para passar de fabricante de filmes a participante central da indústria da imagem digital, a Kodak sofreu uma transição bastante difícil e, em 2012, entrou com um pedido de proteção contra falência. É significativo o fato de que esse não foi o fim da empresa; ao invés disso, ela reagrupou-se em torno de outras tecnologias de base e desenvolveu novas diretrizes para o crescimento inovador em áreas como a de impressão de alto volume e velocidade. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 029 Revisão Por meio dessa unidade foram trazidas à tona diversas definições de inovação, com o objetivo de estabelecer um conceito para orientar o desenvolvimento do conteúdo da disciplina, bastante pautado em inovação. Para a disciplina Ferramentas de Gestão é adotado o conceito de inovação como aquilo que a organização desenvolve e gera valor na percepção do cliente. Isso engloba desde inovações em produtos e serviços, assim como em demais pontos de contato da empresa com o consumidor ou outros públicos capazes de influenciar essa percepção. Em resumo, são muitas as possibilidades de inovar e, por tabela, os cuidados com os pontos de interação também. Um passeio pela linha histórica dos estudos sobre inovação aplicada à Administração e a disciplinas que contribuíram para os estudos gerenciais se oportuno para buscar compreender a evolução do conceito inovação nesse contexto prático. As teorias econômicas sobre a firma têm modos de incorporar a questão da mudança tecnológica, desde os tempos da Revolução Industrial até a atualidade. É notório que essa mudança provoca transformações no funcionamento da economia, mas que essas, por sua vez, não são facilmente incorporadas pelas teorias econômicas. No que diz respeito à relação entre inovação e competitividade, foram apresentados os principais tipos de inovação de um modo resumido, assim como origens mais corriqueiras. Do ambiente externo, foram identificadas variáveis como políticas públicas e sociais, o ambiente econômico e custo de fatores de produção, além de questões específicas como setor, localização e infraestrutura como importantes para o desenvolvimento tecnológico, para as inovações. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 030 A gestão da inovação é bastante atrelada à exploração estratégica do conceito e a capacidade de geração de vantagens competitivas. Para tanto, há que ter um olhar atento às oportunidades e ameaças do ambiente externo, assim como um conhecimento das forças e fraquezas decorrentes de recursos e competências organizacionais. Diante do ambiente concorrencial cada vez mais dinâmico, amplo e intenso, há que estabelecer a inovação enquanto um processo sistematizado, a fim de ter o melhor desempenho empresarial possível. Finaliza a unidade um olhar sobre as tendências relativas à inovação, quando se destaca o quão variáveis e específicas por setor essas podem ser, mas coloca-se em evidência questões como as sociais, as ambientais, as éticas e relativas à gestão e ao aprendizado. É essencial, na medida em que se administra de modo estratégico, absorver nos produtos, serviços, processos e outros pontos de interação o que agrega valor na percepção dos clientes e de quem os pode influenciar em seu processo de compra e relacionamento com a organização. • Livros sugeridos: o SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia Editora Zahar. • Artigos sugeridos: o BRITO, R. P. de., BRITO, L. A. L. (2012). Vantagem Competitiva, Criação de valor e seus efeitos sobre o Desempenho. RAE-Revista de Administração de Empresas, 52(1), 70-84. http://dx.doi.org/10.1590/ S0034-75902012000100006 o ÁVILA, O.M.S. A inovação tecnológica no ambiente empresarial brasileiro. Disponível em: <http://200.232.30.99/busca/artigo.asp?num_ artigo=818> Acesso em: 30 ago. 2016. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 1 031 • Portais indicados: o bgi.inventta.net o www.inovacao.unicamp.br/ o www.3minovacao.com.br/ o www.sebrae.com.br/inovacao o inovacao.usp.br/ • Filmes sugeridos: o Tucker: um homem e seu sonho o A invenção de Hugo Cabret (2011) o O segredo do meu sucesso GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 032 Tipos de Inovação • Segundo a Área de Negócio Impactada • Segundo o Grau de Impacto Provocado • Segundo a Relação com as Necessidades do Mercado • Segundo o Grau de Controle que a Empresa Exerce Sobre o Processo Introdução Compreendido o conceito de inovação, seu papel e sua importância no que diz respeito à gestão estratégica e à possibilidade de geração de vantagem competitiva sustentável, é tempo de compreender mais profundamente seus tipos. Inovação aplicada à gestão pode ser analisada à luz de diferentes recortes, como a área de negócio impactada, o grau do impacto provocado, a relação com as necessidades de mercado e o grau de controle que a organização exerce sobre o processo. Analisar a área de negócio impactada pela inovação significa, basicamente, distinguir o local de ocorrência da inovação, se no produto/serviço ou no processo. Considerar o grau de impacto da inovação diz respeito a compreender se foi uma melhoria (inovação incremental) ou a inserção de algo completamente novo (inovação radical). Entre um tipo e outro, há diferentes níveis de impacto, o que alguns autores classificam como semirradical. A relação com as necessidades de mercado é uma tipologia proposta por Gundling (2000): são as inovações dos tipos A, B e C. O tipo A são radicais com o olhar no consumidor; B, as radicais desenvolvidas em laboratórios e, posteriormente, confrontadas com as necessidades dos potenciais clientes; C, são as radicais incrementais. Ainda sob essa perspectiva, é possível dividir as inovações em puxadas pelo mercado ou empurradas pela tecnologia/ciência. Outra divisão pode ser feita em relação ao alcance da novidade – se ela chega apenas para a empresa (inovações relativas ou firm-only TPP innovation) ou se para o mercado de um modo geral (inovações absolutas ou worldwide TPP innovation). Por fim, a unidade abordará a perspectiva do grau de controle da organização sobre o processo, que basicamente divide as inovações em dois grupos: inovação aberta e inovação fechada. A classificação em uma abordagem não é mutuamente excludente em relação às demais. Por vezes, serão complementares. O objetivo é compreender múltiplas facetas da inovação, como as aplicações, vantagens e desvantagens de cada uma, para que, enquanto funcionários, gestores ou consultores, as pessoas envolvidas possam tomar as melhores decisões possíveis para cada organização, unidade de negócio ou produto. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 035 Segundo a Área de Negócio Impactada Uma distinção costumeira quando se fala em inovação é entre produto/serviço ou processo. Inovação de produto é aquela em que se introduz um bem ou serviço novo ou melhorado, de modo significativo, em características ou funcionalidades. A inovação de processo refere-se à introdução de um novo modo de produção, atendimento, distribuição etc. Se não for novo, será, pelo menos, significativamente melhorado. As inovações de produto e de processo compõema denominada inovação tecnológica – única que constava na primeira e segunda edição do Manual de Oslo. Esse manual é uma publicação conjunta da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Gabinete de Estatísticas da União Europeia, tendo o objetivo de estabelecer diretrizes em nível internacional para tentar alinhar a coleta e a interpretação de dados sobre inovação. As edições citadas foram, respectivamente, em 1992 e 1997. Na terceira edição, em 2005, o conceito de inovação foi ampliado e passou a incluir, muito em função do setor de serviços, as inovações de marketing e as organizacionais. O manual em vigência concentra-se em inovação tecnológica de produto e processo (TPP), mas aponta diretrizes para outros modos de inovação, como mudanças organizacionais. Destaca a inovação em serviços, sua complexidade e peculiaridades. O conceito de inovação foi ampliado e passou a incluir, muito em função do setor de serviços, as inovações de marketing e as organizacionais. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 036 A expressão TPP innovation, que aparece em algumas definições do Manual de Oslo (OCDE, 2005), significa technological product and / or process (TPP) innovattion, isto é, inovação tecnológica de produto e/ou processo. Inovação de marketing, segundo o Manual de Oslo, diz respeito à implementação de um novo método de marketing, com modificações consideráveis na concepção e no desenvolvimento do produto, em sua embalagem, posicionamento, promoção ou precificação. Em síntese, são alterações que buscam atender melhor às necessidades e aos desejos dos consumidores. As inovações organizacionais ou de gestão referem-se à adoção de novas práticas ou métodos gerenciais na empresa, o que inclui seus relacionamentos externos. Em síntese, de acordo com o Manual de Oslo, pode-se dividir as inovações em tecnológicas e não tecnológicas, sendo as primeiras subdivididas em produtos (serviços) e processos, e as últimas, em marketing e organizacionais. FIGURA 4 – Tipos de inovação de acordo com o Manual de Oslo Fonte: Elaborado pela autora. Vale compreender, mais detalhadamente, cada um desses tipos de inovação. Vejamos. Pode-se dividir as inovações em tecnológicas e não tecnológicas, sendo as primeiras subdivididas em produtos (serviços) e processos. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 037 Inovações Tecnológicas Inovação de Produto De acordo com o portal do Ministério das Comunicações (2016), inovação tecnológica é toda novidade implantada pelo setor produtivo, por meio de pesquisas ou investimentos que resultam em um novo produto ou no aprimoramento de produtos, ou que aumente a eficiência do processo produtivo. A inovação de produto diz respeito a produtos tecnologicamente novos e a produtos tecnologicamente aprimorados. A mudança tecnológica ou lançamento, no que diz respeito a produtos e serviços, é o tipo de inovação mais facilmente identificável pelo consumidor, que costuma ver a modificação de imediato. Especialmente em mercados dinâmicos e de intensa concorrência, os clientes já possuem uma expectativa por mudanças tecnológicas significativas e frequentes. Eles foram “bem (mal) acostumados”, e ainda se mantêm assim: antes de uma aquisição já planejam a próxima. Setores que utilizam intensivamente a tecnologia, como o de telefonia celular, aproveitam-se dessa capacidade de inovação da indústria e estimulam esse desejo. A demanda diz respeito a inovações não tecnológicas que se valem de inovações tecnológicas. Por mais que separemos os conceitos, pretendendo facilitar a sua compreensão, na prática, eles se misturam, fundem-se nas organizações. Um produto novo pode ser definido como aquele bem ou serviço cujas características fundamentais (especificidades técnicas, componentes, materiais, software incorporado, funções ou usos pretendidos) diferem substancialmente dos produtos previamente fabricados (ou prestados, no caso de serviços) pela empresa (BNDES, 2016). GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 038 Ainda segundo o Banco, o aprimoramento ou aperfeiçoamento significativo diz respeito a um produto existente, que teve o desempenho consideravelmente aumentado. Se analisamos um produto simples, veremos que seu aperfeiçoamento pode se dar no sentido da redução de custo ou obtenção da melhoria de desempenho, por utilizar matérias-primas ou componentes de maior rendimento, por exemplo. No caso de um produto complexo, com bastantes componentes ou que envolva a integração de diversos subsistemas, o aprimoramento pode ser oriundo de modificações parciais em um dos componentes ou subsistemas. Quanto aos serviços, uma considerável melhoria pode ser obtida por meio da adição de uma nova função ou da retirada de redundâncias ou retrabalhos, ou mudanças que resultem em maior eficiência, facilidade ou velocidade da experiência. O conceito de ciclo de vida do produto é muito importante para as abordagens da produção e do marketing. Compreender a inovação de produtos passa por esse entendimento. Kotler (1998) refere-se ao ciclo de vida da demanda/tecnologia como o ponto de partida, isto é, os produtos são desenvolvidos para atender a uma determinada necessidade ou desejo e, para suprir isso,, são estabelecidos, em ciclos crescentes, novas tecnologias. Ainda para o autor, em um dado ciclo de vida da demanda/ tecnologia, é estabelecida uma sucessão de formas de produto que satisfazem a uma necessidade ou desejo específicos. Dito de outro modo, os produtos têm suas formas modificadas conforme as necessidades ou os desejos que surgem/se modificam. O conceito de ciclo de vida do produto é muito importante para as abordagens da produção e do marketing. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 039 Nesse sentido, cabe ter um cuidado especial para não focar na forma do produto ou na marca como se fosse o produto, porque o ciclo de vida de uma marca é apenas uma parte, uma etapa do ciclo de vida do produto. Na prática, se um fabricante de telefone analógico se prende a essa forma de produto, pode não notar a (r) evolução da tecnologia digital e ser pego de surpresa com o fim da tecnologia analógica. Devem ser considerados, na visão de Kotler (1998), pelo menos quatro pontos principais quanto ao ciclo de vida de um produto: • os produtos têm vida limitada, ou seja, um ciclo de vida (lançamento, crescimento, maturidade e declínio); • as vendas do produto passam por etapas distintas, cada uma com seus desafios, oportunidades e problemas; • os lucros crescem ou diminuem de acordo com a fase do ciclo de vida do produto; • os produtos requerem estratégias diferentes de marketing, finanças, produção, compras e recursos humanos em cada estágio do seu ciclo de vida. A figura abaixo apresenta graficamente o ciclo de vida de um produto, desde o desenvolvimento até o seu declínio. FIGURA 5 – Ciclo de vida do produto: do desenvolvimento ao declínio Fonte: Adaptado de Kotler (1998). GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 040 Assim, o quadro a seguir visa facilitar a compreensão e a comparação de como são os comportamentos de produção e marketing ao longo das etapas do ciclo de vida do produto. QUADRO 4 – Comportamentos da produção e do marketing ao longo do ciclo de vida do produto GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 041 A fim de auxiliar na compreensão das fases do CVP e do ciclo como um todo, o próximo quadro sintetiza os estágios do ciclo de vida do produto. Vale destacar que, apesar de as fases parecerem ter limites claramente definidos, na prática, deve-se estar bastante atento aos elementos de cada um dos estágios, porque os limites entre um e outro não são nitidamente identificáveis. QUADRO 5 – Etapas do ciclo de vida do produto Fonte: Elaborado pela autora. No que tange ao desenvolvimento de produtos, Kotler e Keller(2006) apresentam seis alternativas, conforme apresentadas abaixo. Fonte: Elaborado pela autora. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 042 • Produtos novos: aqueles que criam/estabelecem um novo mercado. • Linhas de produto novas: permitem às empresas entrarem em mercados já existentes, mas novos para elas. • Acréscimos a linhas de produtos existentes: incrementos em linhas de produto com as quais a organização trabalha – mais diversidade de cores, tamanhos, sabores, embalagens etc. • Aperfeiçoamento e revisão de produtos existentes: novos produtos que possam substituir os existentes com melhor desempenho e entregando um maior valor percebido ao cliente. • Reposicionamento: redirecionar os produtos para novos mercados ou segmentos. Reduções de custo: novos produtos semelhantes aos já existentes, mas com custo de produção inferior. Inovação de Processo De acordo com o BNDES (2016), inovação de processo é a introdução na empresa de um processo produtivo novo ou significativamente aperfeiçoado. Significa introduzir tecnologia nova de produção ou consideravelmente aprimorada; métodos mais eficientes para a oferta de serviços ou manuseio de produtos (também novos ou substancialmente melhorados); adquirir equipamentos e softwares novos ou melhorados significativamente em atividades de suporte ao processo produtivo. O resultado dessa inovação de processo, seja pela adoção do novo ou daquilo que foi aperfeiçoado, deve ser de grande impacto em termos de aumento da qualidade do produto (bem ou serviço) ou da diminuição de seu custo unitário, seja na fabricação ou na entrega. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 043 Quando se pensa em inovação, geralmente somos remetidos aos produtos e serviços das organizações. Isso acontece porque, rapidamente, esse novo se traduz em uma funcionalidade a qual o cliente é capaz de atribuir valor e preço. Mas as aplicações de tecnologia vão muito além dos produtos. Mudanças tecnológicas fazem parte da produção e da entrega de serviços como um todo e podem ser traduzidas em produtos e serviços melhores, mais rápidos e de menor custo. Geralmente são invisíveis aos olhos dos clientes, mas são essenciais para a competitividade de um produto. Podem ser citadas, como exemplos, as tecnologias de processamento de alimentos, de montagem de automóveis, refinamento de petróleo, geração de energia e manufatura em todos os setores. Os processos tecnológicos envolvem também o material utilizado na produção (manufatura e materiais são intimamente relacionados). As organizações devem se empenhar em melhorar continuamente os processos tecnológicos, tanto para aumentar a qualidade dos produtos e serviços existentes quanto para reduzir custos. Vivemos um tempo em que há pouca diferença entre um produto (serviço) e outro. Isso ocorre porque o olhar das empresas se volta muito para a redução de custos, pois, muitas vezes, essa é a única maneira de enfrentar a concorrência. Compreendidas as inovações tecnológicas (de produtos/serviços e processos), o passo seguinte é analisar as inovações não tecnológicas (de marketing e gerenciais). Mas as aplicações de tecnologia vão muito além dos produtos. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 044 Inovações não Tecnológicas Inovação de Marketing Inovação Gerencial As inovações não tecnológicas abrangem as atividades de inovação excluídas da inovação tecnológica, ou seja, incluem todas as atividades de inovação das organizações que não se relacionam à introdução de um produto, serviço ou processo tecnologicamente novo ou substancialmente modificado. Nessa categoria, de acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 2005), estão as inovações de marketing e as organizacionais. As inovações de marketing, segundo o Manual de Oslo (OCDE, 2005), são a implementação de um novo método de marketing com modificações substanciais na concepção de um produto ou em sua embalagem, posicionamento, promoção ou precificação. Em síntese, refere-se aos 4Ps do marketing (produto, promoção, praça e precificação) – o que não está diretamente envolvido com a tecnologia de produção faz parte dessa categoria. A inovação organizacional, gerencial ou de negócios diz respeito à implementação de novos métodos gerenciais nas práticas de negócios da empresa [rotinas e procedimentos], na organização do local de trabalho [distribuição de responsabilidades e poder de decisão] ou em seus relacionamentos externos [com outras firmas e instituições públicas]. Esses métodos buscam melhorar o desempenho e a eficiência, por meio da redução de custos administrativos ou da transação, do aumento da satisfação no trabalho (e por consequência da produtividade), do acesso a ativos não transacionáveis (como o conhecimento externo não codificado) ou da redução dos custos de suprimento (OCDE, 2005). A inovação organizacional, gerencial ou de negócios diz respeito à implementação de novos métodos gerenciais nas práticas de negócios da empresa. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 045 Inovar, nesse aspecto, está relacionado à execução das atividades relativas às funções básicas de um administrador - planejar, organizar, dirigir e controlar –, de modo novo ou melhorado, de forma a agregar valor ao negócio na percepção do cliente, o que pode vir por meio da redução de custo ou aumento de eficácia e eficiência. Na visão de autores, como Lam (2005) e Hamel (2007), as inovações gerenciais estão intimamente relacionadas a outros tipos de inovação, por exemplo, às tecnológicas (produtos, serviços, processos). Apesar das nomenclaturas mais diversas possíveis e dos limites tênues com as demais inovações, o foco desse tipo de inovação está ligado, em essência, à criação ou adoção de novos modos de gestão e organização, que pode ter ou não o suporte de tecnologia – o que vai depender dos aspectos sociais da organização. Essa perspectiva inicial da inovação sob o recorte da área de negócio impactada usou, como fio condutor, a questão da tecnologia e dividiu as inovações dentro do universo organizacional em: tecnológicas e não tecnológicas. O quadro abaixo apresenta exemplos de cada uma das quatro categorias da classificação da inovação, de acordo com a área de negócio impactada. QUADRO 6 – Exemplos de inovação tecnológica e não tecnológica GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 046 Fonte: Elaborado pela autora. Segundo o Grau de Impacto Provocado A inovação pode ser classificada também de acordo com o seu grau, ou seja, o nível de impacto que causa na área ou na organização em que é aplicada. A categorização mais utilizada (tradicional) é a que opõe inovação incremental e inovação radical. A inovação incremental pode ser conceituada como aquela que introduz melhorias ou aperfeiçoamentos graduais em um produto, serviço, processo ou prática gerencial já existente. A maioria das inovações enquadra-se nessa categoria. Leva a melhorias moderadas nos produtos, serviços, processos ou nas práticas de gestão em vigor. Pode ser visualizada como o caminho para resolver um problema ou aproveitar uma oportunidade: a meta é clara, mas o modo de resolução, não. Denomina-se melhoria contínua a sucessão de inovações incrementais ao longo do tempo. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 047 Por sua vez, a inovação radical refere-se à introdução de novos produtos, serviços, processos ou práticas de gestão, que geram o desenvolvimento de novos negócios, expandem-se em novas indústrias ou causam uma modificação significativa em toda a indústria. Tendem à criação de novos valores de mercado. Inovações incrementais são aquelas pequenas melhorias ou mudanças que mantêm a base do produto ou serviço, sendo reconhecidas de “bate pronto” pelo consumidor. Como exemplos, podemos citar a inovação do motor 1.0 para 1.6, do videocassete de 4 para 5 cabeças e do hambúrguerpara cheeseburger. Já as inovações radicais são as de maior impacto no mercado. Entre os exemplos, estão a mudança do freio a disco para o freio ABS, da lanchonete no formato tradicional para o formato delivery, do videocassete para o DVD player. No setor de serviços, a inovação se deu, por exemplo, ao modificarem a forma de se realizar um saque bancário: deixou de ser apenas nos guichês com funcionários, passando a oferecer a opção dos caixas eletrônicos. Em síntese, enquanto a inovação incremental refere-se a modificações em algo existente na organização, a radical pressupõe a criação/introdução de alguma novidade no mercado, criando novos valores. A indústria automobilística, com suas atualizações anuais (a cada ano, uma versão de carro diferente), “usa e abusa” da inovação incremental. Mas, quando lança um novo modelo de automóvel, nesse caso está optando pela inovação radical. Alguns autores utilizam a terminologia inovação semirradical para enquadrar inovações entre um extremo e outro dos graus de impacto. Para eles, considerando a inovação um resultado da interação entre uma tecnologia e um produto, serviço ou processo, se uma das partes é nova e outra existente, falamos sobre inovação semirradical. Se ambas as partes são novas, radical. Se ambas são existentes, tanto a tecnologia quanto o algo sobre o qual atua, é incremental. Alguns autores utilizam a terminologia inovação semirradical para enquadrar inovações entre um extremo e outro. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 048 Fonte: Adaptado de Damião (2016). O quadro seguinte apresenta as seis alavancas para a inovação. Enquanto a inovação incremental depende muito das tecnologias e dos modelos existentes, embora possa haver ligeiras mudanças em alguns elementos (pois a maior parte permanece intocada), a radical envolve mudança das alavancas tanto na tecnologia quanto no modelo de negócio (mas usualmente não em todas as seis alavancas possíveis). Para completar, as inovações semirradicais possibilitam a introdução de pouca ou nenhuma mudança nas alavancas de um dos impulsionadores da inovação – tecnologia ou modelo de negócios. Em síntese, inovação sempre diz respeito à combinação de alguma coisa antiga com algo novo dos estágios de tecnologia e modelos de negócios. QUADRO 7 – Alavancas e tipos de inovação FIGURA 6 – Modelo de classificação de inovações de acordo com o grau de impacto GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 049 Fonte: Elaborado pela autora. Indo além, tem sido utilizado, na atualidade, o termo inovação disruptiva. O que ele significa? O que abrange? As inovações disruptivas seriam as surpreendentes. Disruptiva significa revolucionária. É quando ocorre a criação de algo inesperado, que a maioria das pessoas não acreditava ser possível acontecer. Diante dessas inovações, é criado algo novo ou é satisfeita uma necessidade até então desconhecida – o que pode estabelecer novas indústrias ou transformar as existentes. Um exemplo de invenção disruptiva, que revolucionou o mercado de impressão, foi o lançamento da impressora a laser EARS da Xerox, com capacidade de imprimir uma cópia por segundo. Outro termo adotado, relativo ao grau de impacto, é inovação substancial, que significa uma melhoria contínua, que incrementa / aperfeiçoa um produto ou ideia existente. Independentemente do objeto de inovação na organização, as inovações podem ter níveis variáveis de impacto, de incrementais a radicais, e, quanto mais surpreendentes e revolucionárias, criando uma nova indústria ou modificando profundamente uma existente, são consideradas disruptivas. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 050 Segundo a Relação com as Necessidades do Mercado Classificar a inovação de acordo com as relações de mercado diz respeito ao relacionamento entre o grau de impacto da inovação com as necessidades, os desejos e as expectativas do cliente. O que define cada categoria é a perspectiva do consumidor. Para Gundling (2000), proponente dessa categorização, as inovações podem ser dos tipos A, B e C. Mas o que isso significa? As inovações do tipo A são as mais radicais (“revolucionárias”) dentre as que extrapolam as necessidades e os desejos do consumidor – geralmente nem existia uma expectativa,e o resultado acaba sendo a criação de indústrias completamente novas. Por sua vez, as inovações do tipo B são radicais, a exemplo da A – mas nem tanto. São desenvolvidas em laboratório antes de serem confrontadas com as necessidades, os desejos e as expectativas dos consumidores. Elas modificam a referência, a base da competição em um segmento. Por fim, as inovações do tipo C são aquelas incrementais, que se limitam a atender às necessidades e aos desejos do consumidor. Em geral, são extensões de linhas existentes, consistindo em uma ampliação na linha de produtos da empresa direcionada para os consumidores atuais. O autor ainda ressalta a importância de um processo de inovação radical, no sentido de que geralmente desenvolve inovações tecnológicas para ser implementado, o que seria uma espécie de espiral tecnológica. O que define cada categoria é a perspectiva do consumidor. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 051 Outro tipo de classificação decorrente da relação entre inovação e necessidades/desejos do mercado é o que categoriza as inovações entre puxadas pelo mercado (market pull) e empurradas pela tecnologia (technology push). Uma inovação puxada pelo mercado ou pela demanda (demand pull) é a que se estabelece para responder a uma necessidade ou a um desejo do mercado. Normalmente são inovações incrementais, de melhoria sobre o já existente. As inovações empurradas pela tecnologia ou pela ciência (science push), por sua vez, são resultado de pesquisa e desenvolvimento (P&D), visando surpreender o mercado com algo completamente novo. As inovações radicais costumam enquadrar-se neste tipo. Outra categorização, nessa perspectiva, divide as inovações entre as que introduzem novidade para a empresa (inovações relativas) e as que estabelecem algo novo para o mercado como um todo (inovações absolutas). Para o Manual de Oslo (2005), as primeiras são denominadas inovação apenas da empresa (firm-only TPP innovation) e as últimas, inovação para o mundo todo (worldwide TPP innovation). Cabe ressaltar que TPP significa ‘tecnológicas em produtos e processos’. Apresentada a tipologia com vistas para o mercado, um último olhar para classificar inovações refere-se ao grau/nível de controle que a empresa exerce sobre o processo. Um último olhar para classificar inovações refere-se ao grau/ nível de controle que a empresa exerce sobre o processo. GESTÃO DA INOVAÇÃO EM PROCESSOS unidade 2 052 Segundo o Grau de Controle que a Empresa Exerce Sobre o Processo Conceitos relativamente recentes foram cunhados por William Chesbrough (2003), fundador e diretor do Center for Open Innovation da Haas School of Business, da Universidade da California, Berkeley: inovação aberta (open innovation) e inovação fechada (close innovation). Inovação fechada é aquela que ocorre geralmente dentro das organizações, na qual as pesquisas, o desenvolvimento de novos produtos e a comercialização ocorrem dentro nos limites da empresa. Por limites, devem ser compreendidos os recursos sob o controle da organização – desde os financeiros, passando pelos produtivos e chegando nos humanos. Dito de outro modo, tradicionalmente, ao produzir uma inovação, a empresa tinha que ser capaz, autossuficiente, para participar do processo com todos os recursos necessários para essa produção. Entre esses itens, podem ser citados: • profissionais muito bem preparados e treinados, sendo melhores que os da concorrência; • cuidado com todas as fases do produto, desde as ideias iniciais à comercialização; • garantia de pioneirismo, isto é,
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