Prévia do material em texto
MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA 1º Ano Disciplina: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO HISTÓRICO Código: Total Horas/1o Semestre:10 Créditos (SNATCA):4 Número de Temas: 06 INSTITUTO SUPER INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico i Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico ii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela Coordenação Pelo design Direção Académica do ISCED Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED Financiamento e Logística Pela Revisão Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) Elaborado Por: Hermenegildo A. Lange (Mestre em Ensino de História) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 1 Índice Visão geral Benvindo à Disciplina/Módulo de Evolução do Pensamento Histórico O homem desde que se conhece como tal sempre preocupou-se em saber de onde vem e para onde vai. As mais antigas tentativas de resposta a essa preocupação datam do III milénio a.C. altura em que a existência, na suméria, de um sistema de escrita já evoluído, permitiu fixar algumas das crenças dos homens daquela região. É neste contexto que surgem as cosmogonias e mitografias como literaturas pré-científicas de caracter histórico. A cientificação da História, tal como a cientificação de qualquer outra forma de pensamento, não resultou de um processo rápido. A definição do objecto e do método da História tem sido até hoje um processo lento e continuo. Nos dias que correm, apesar de o processo de cientificação da História já ter passado por todas as fases que nos permitem considera-la como ciência nomotética, a verdade é que esse processo parece manter-se fora do domínio comum. Portanto, a finalidade desde módulo é percorrer esta distância que vai das cosmogonias até a História como ciência. Ao terminar o estudo deste módulo de Evolução do Pensamento Histórico deverá ser capaz de: Objectivos Específicos do módulo Definir o conceito de Historiografia; Identificar as principais correntes historiográficas; Identificar a principal fonte para o conhecimento da historiografia judaica; Identificar a principal característica da historiografia judaica; ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 2 Descrever o papel de Heródoto para a cientificação da História. Descrever o ambiente politica que permitiu a Heródoto ter uma reflexão livre da História. Caracterizar a Historiografia Romana; Descrever a historiografia cristã antiga; Explicar os factores da rápida propagação do cristianismo; Descrever a concepção histórica cristã medieval; Explicar o contexto do surgimento da Historiografia renascentista; Descrever as principais ideias do positivismo; Explicar os factores que contribuíram para a fraca influência da historiografia Marxista; Descrever os factores que marcaram a crise da História nos princípios do seculo XX; Descrever a concepção histórica da “História Nova”. Descrever as limitações do estruturalismo; Apresentar as particularidades da Historiografia Africana; Identificar as primeiras literaturas históricas em África; Identificar os principais historiadores africanos. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Ensino de História do ISCED e outros como Gestão. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 3 Como está estruturado este módulo Este módulo de Evolução do Pensamento Histórico, para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Ensino de História, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades,. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes caracteristicas: Puros exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades práticas algunas incluido estudo de caso. Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD- ROOM, DVD. Para elém deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 4 Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresntam duas caracteristicas: primeeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas.Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/doceentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exrcícios de avaliação é uma grande vantagem. Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico- Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em goso de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 5 que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se existirem. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 6 Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalhjo intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistemáticamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os seriços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 7 Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou admibistrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficar’a a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame finalda disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma viloção do direito intelectual do(s) autor(es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 8 Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e concistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentada de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizaos, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 9 TEMA – I: INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO HISTÓRICO. UNIDADE Temática 1.1. Conceito de História UNIDADE Temática 1.2. Conceito de Historiografia UNIDADE Temática 1.1. Conceito de História Introdução A palavra “História” é uma palavra velhíssima, tao velha que houve quem se cansasse dela. Desde que ela apareceu há mais de dois mil anos na boca dos homens mudou muito de conteúdo. Por isso há interesse neste módulo de antes de tudo tratarmos de trazer um vocabulário funcional para o termo. Não se trata de apresentar um conceito axiomático mas sim, uma perspectiva de utilização do termo nas várias acepções científicas que modernamente se atribuem ao vocábulo. Vamos apresentar e comentar algumas definições destacando elementos indispensáveis para entender o que modernamente se percebe por História. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Definir o conceito História; Descrever o caracter polissémico do conceito História; Identificar a importância do conhecimento Histórico. Desenvolvimento O desejo de conhecer o passado e projectar o futuro tem sido um dos grandes desejos do género humano. Por isso, foi erguendo monumentos, construindo sepulturas para a eternidade, fazendo a cronica do seu tempo, tudo isso para transmitir às gerações vindouras a memoria daquilo que fez. Graças a esse desejo, dispõe hoje a investigação histórica de abundantes fontes de informação acerca do passado. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 10 A palavra História é de origem grega, sendo a sua forma original Histriae e passou através do latim para a grande parte dos idiomas modernos. Este termo, para os gregos, significava investigação ou inquéritos. Entretanto, nos tempos que correm, este conceito é utilizado tanto para designar a narrativa dos acontecimentos como a própria série deles. Corresponde o exposto acima a dizer que por história entende-se o conjunto dos acontecimentos que caracterizam uma determinada época, região, país, etc. O processo histórico constitui-se com a dinâmica da própria humanidade e portanto está sempre presente, independentemente da nossa vontade, podendo ser ou não do nosso conhecimento. O conhecimento, pelo homem, do processo histórico, torna-se possível através das informações sobre o mesmo que são recolhidas e fornecidas pelos historiadores. A esse conjunto de informações sobre o passado dos homens se chama conhecimento histórico é a ciência histórica. Georges Lefebvre, um dos grandes historiadores do século XX, definiu história nos seguintes termos: “A história é a memória do género humano, o que lhe dá consciência de si mesmo, isto é, da sua identidade no tempo, desde da sua origem; é por consequência o relato do que, no passado, dará uma nova recordação dos homens”. Mas a realidade não se estrutura só no tempo mas também no espaço que o homem modifica e dele se apropria. Segundo Besselaar (1958 :29), a história é a ciência dos actos humanos do passado e dos vários factores que neles influíram, vistos na sua sucessão temporal. Para Bernheim (sd :15), a ciência histórica estuda e expõe os fatos do desenvolvimento do homem nas suas manifestações (singulares, típicas e colectivas) como ser social no tempo e no espaço. Como podemos ver, não existe uma única definição de história porque cada definição enquadra-se num determinado tempo e numa determinada perspectiva do historiador: é polissémico. Apesar desta polissemia reconhece-se em cada conceito a presença das palavras “ciência e homem”. A história é uma ciência não só porque a exposição histórica supõe uma série de pesquisas de caracter científico mas também porque obedece ao princípio cientifico de questionar as causas e as consequências dos acontecimentos, mostrando o encadeamento dos mesmos através dos tempos. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 11 O homem é a causa por excelência da História porque são as suas acções dotadas de projecção social que interessam a História. Desde o aparecimento da humanidade até a actualidade as gerações se sucedem deixando umas às outras apreciável legado, rico em experiencias e conquistas materiais e espirituais que preenchem as páginas da História. Mas esse processo enfrenta por vezes dificuldades relacionadas com a decifração das escritas antigas, com a interpretação da linguagem e comportamento dos indivíduos que viveram em sistemas históricos diferentes do nosso. Cada sistema dispõe de códigos próprios de linguagem e de valores. A importância do conhecimento histórico reside no facto de permitir conhecer o passado que é uma ferramenta principal para compreender o presente e perspectivar o futuro. Sumário Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos o conceito de História e sua importância onde constatamos basicamente que: O conceito de História foitomando varias formas de acordo com a corrente historiográfica a que esteve associado. Portanto, não existe uma única definição. Apesar desta polissemia reconhece-se em cada conceito a presença das palavras “ciência e homem”. A História permite ao homem compreender o presente a partir do passado e, com esses subsídios projectar o futuro. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 12 1. Defina História. 2. Explica por que razão é difícil se dar um conceito acabado e único de História. 3. Qual é a importância do estudo da História? 4. Quais são as palavras-chave e comuns que constituem o conceito História. Respostas: 1. Rever do 2º ao 4º parágrafo, páginas 10; 2. Rever o 5º parágrafo da página 10; 3. Rever o parágrafo antes do sumario da página 11; 4. Rever o 5º parágrafo da página 10. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes) Completa a frase seguinte: Designa-se por conhecimento histórico…… Só uma das seguintes respostas é correcta. a) Ao conjunto dos acontecimentos que se dão com a humanidade, independentemente do seu alcance pelo homem. b) As acções do homem no tempo e espaço. c) Ao conhecimento pelo homem do processo histórico atraves das informações recplhidas fornecidas pelos historiadores d) O vestigios do passado humano. UNIDADE Temática 1.2. Conceito de Historiografia Introdução Nesta unidade abordamos o conceito Historiografia. Este conceito está intimamente ligado ao conceito História. Embora a palavra História remonte aos gregos, o hábito de registar os acontecimentos do passado foi muito anterior aos gregos. O modo e a finalidade com que se escreveu a História não foram sempre os mesmos. Primeiro foram exaltadas as forças sobrenaturais, depois vieram “os grandes homens” (reis, generais, etc..) e mas tarde os sujeitos da História assim por diante. O mesmo acontece com a sua conservação e transmissão. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 13 Durante vários milénios de existência humana o passado foi sendo transmitido de geração em geração por via da oralidade e da experiencia, só mais tarde apareceu a escrita. A historiografia encarrega-se em descrever este processo. Portanto, compreende não só a reconstituição do processo da cientificação mas também a reconstituição do processo de elaboração da problemática histórica. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Definir o conceito Historiografia; Descrever a evolução da produção historiográfica; Identificar os elementos que caracterizam uma historiografia. Desenvolvimento O registo do passado dos homens começou por volta do quarto milénio a.n.e., quando surgiu a escrita. De facto o aparecimento da escrita levou os sacerdotes a tentar, pela primeira vez, fixar por escrito o passado religioso, ate ai conservado e transmitido por via oral. Na mesma altura começaram a ser registadas as memórias dos antigos heroísmos guerreiros (tradição épica). Neste processo foram produzidas as mais antigas cosmogonias e mitografias, as primeiras formas de literatura histórica que se conhecem. “A história nasceu do mito, como a filosofia e a ciência”. Com estas produções deu-se um importante passo na conservação das antigas produções cosmogónicas e épicas, reduzindo-se o perigo de caírem no esquecimento ou aparecerem deturpadas. As cosmogonias são os registos das primeiras tentativas, pré-cientificas, de explicação do universo, uma explicação que inclui tanto elementos naturais como sobrenaturais. A produção deste tipo de literatura não resultou de acções intencionais de fazer historia mas sim da tentativa de explicar problemas elementares como a origem da comunidade, os fins para que caminha e o seu próprio presente, bem como da necessidade de transmitir para a posteridade os nomes dos reis e dos importantes e ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 14 suas façanhas épicas. O objectivo principal da produção desta literatura era apenas o de narrar os acontecimentos, com o fim de engrandecer a figura ou os deuses. Podemos assim concluir que na antiguidade oriental fazia-se abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade. O objecto de estudo da história eram os deuses e os homens importantes a quem se atribuía total responsabilidade pela evolução da sociedade. As informações, de origem mitológica, não eram sujeitas a qualquer tipo de investigação ou explicação causal. Era uma história que não se preocupava com a verdade nem com a objectividade. Não obstante, a produção desta literatura revelou-se um grande contributo para o conhecimento da história do oriente antigo, visto terem surgido neste processo importantes materiais sobre a história daquela região, nomeadamente anais, listas de dinastias ou de soberanos, listas dos sacerdotes, inscrições comemorativas e biografias importantes. Para se chegar ao conhecimento histórico ocorre a um trabalho de busca de informações sobre o processo histórico. Ora esse trabalho é realizado pelo homem, mais concretamente pelo historiador e, por isso, a este, se chama sujeito do conhecimento, aquele que faz, que produz o conhecimento, (através da sua actividade intelectual). A busca de informações sobre o passado dos homens não teve sempre carácter científico. A história como ciência, na concepção actual do termo só surge no século XIX. Até chegar a esse ponto a história passou por um longo período de aperfeiçoamento, a nível das suas técnicas e meios de trabalho, das metodologias, acompanhando o desenvolvimento da própria sociedade. Portanto a cada etapa de desenvolvimento da sociedade correspondem uma forma própria de encarar e fazer a história, ou seja um tipo de historiografia. A Historiografia pode ser definida como o conjunto de obras concernentes a um assunto histórico, como exemplo a produção histórica de uma época. Quando se diz historiografia moçambicana refere-se as obras escritas sobre a história de Moçambique, por autores nacionais ou estrangeiros. A historiografia inclui tudo quanto foi escrito para proporcionar informações sobre o passado humano como testemunho. Integram esta literatura os relatos autobiográficos e memorialistas desde que sejam referentes a aspectos da vida social mais amplos do que os estritamente pessoais. A história oral também ocupa um lugar, tanto quando este conceito designa as tradições históricas transmitidas oralmente, nos ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 15 povos sem escrita, como quando se refere ao registo escrito ou por gravação de depoimentos orais de autores ou testemunhas de acontecimentos históricos. No sentido mais amplo a história da historiografia não se reduz ao estudo das principais obras históricas de cada época ou civilização, compreende também trabalhos de metodologia, publicação de documentos, ensino de história e apreciação de obras literárias de teor histórico. A história da historiografia está também ligada a história das ideias, pois os historiadores estão sempre ligados às correntes de pensamento do seu tempo. Uma retrospectiva, embora resumida, da historiografia, compreende não só a reconstituição do processo de cientificação da História, mas também a reconstituição do processo de elaboração da problemática histórica, ouseja do estudo da génese de conceitos, do sujeito do processo histórico, de objectivos da Historia entre outros. Bernheim, autor de um famoso estudo sobre o “Método da História e da Filosofia da História”, distinguiu na maneira de conhecer e de escrever a história, três diferentes etapas: a História narrativa, a Historia pragmática ou didaáctica e a História genética. A História narrativa e a pragmática assinalam o período pré-científico da Historiografia. A história genética marca o caracter científico a que chegou a Historiografia moderna. Portanto, as historiografias que se descrevem a seguir enquadram-se em algumas destas etapas. 1.2.1. Cosmogonias Como já se disse, as cosmogonias contam-se entre as primeiras tentativas pré-cientificas de explicação da formação do universo. Nessa explicação, não intervêm apenas elementos naturais mas também elementos sobrenaturais. Vejamos a seguir como aparecem associados os dois elementos em algumas das cosmogonias mais conhecidas. Segundo os vedas (Índia): “ Ele criou em primeiro lugar a água, na qual depositou um germe. Este germe tornou-se ovo, resplandecente como ouro, radiante como uma estrela. Nele originou-se Brama, princípio de toda a vida.” Segundo os antigos textos sumérios a formação do mundo teria se ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 16 processado da seguinte forma: “ 1. Ao princípio era o mar primordial (…). 2. Este mar primordial produziu a montanha cósmica, composta do céu e da terra ainda unidos. 3. Personificados e concebidos como deuses de forma humana, o céu, ou seja o deus An, desempenhou o papel de macho e a terra, isto é, Ki, o de fémea. Da sua união nasceu o Deus do ar Enlil. 4. Enlil, o deus do ar, separou o céu da terra e, enquanto seu pai, Na, levava o céu, Enlil levava a Terra, sua mãe. A união de Enlil e sua mãe, a Terra, foi a origem do universo organizado – a criação do homem, dos animais e das plantas e o estabelecimento da civilização.” Segundo a Biblia, livro sagrado dos Hebreus: “1. No princípio criou Deus o céu e a Terra. 2. A Terra porém era vã e vazia; e as trevas cobriam a face do abismo, e o espirito de Deus era levado sobre as águas. 3. E disse Deus: Faça-se a luz. E foi feita a luz. 4. E viu Deus que a luz era boa; e separou a luz das trevas. 5. E chamou à luz dia e às trevas noite; e da tarde e da manha fez o primeiro dia. 6. Disse também Deus: faça-se o firmamento no meio das águas, e separem-se umas águas das outras. 7. E fez Deus o firmamento, e separou as águas que estavam por cima do firmamento. E assim se fez. 8. E chamou Deus ao firmamento Céu; e da tarde e da manha se fez o segundo dia. 9. Disse também Deus: as águas que estão debaixo do céu, ajuntem-se num mesmo lugar, e o elemento árido apareça. E assim se faz. 10. E chamou Deus ao elemento árido Terra, e ao agregado das águas Mares. E viu Deus que isto era bom (….).” Como podemos notar, associado ao elemento natural, o elemento sobre natural parece gozar do mesmo caracter intemporal de que goza o mito. Na realidade, apesar da sua aparente intemporalidade, o elemento sobrenatural traz consigo a marca indelével do tempo. A maior ou menor importância de um deus em relação à posição que ocupa na hierarquia do respectivo panteão, está intimamente associado ao processo de integração política dos Estados. Sempre que uma cidade lidera o processo de integração de um estado, o seu deus ascende à categoria de deus principal desse estado e, a classe sacerdotal a ele associada também assume a categoria correspondente. Foi o que aconteceu na Suméria onde An, era deus da cidade de Uruk, a principal cidade daquele tempo. O mesmo aconteceu na unificação do Egipto com o deus Falcão do clã de ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 17 Menes. Na Índia, Brama era o deus da principal classe sacerdotal Sumário Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos a Historiografia no que diz respeito ao conceito, características e evolução. Nesta abordagem constatamos o seguinte: A Historiografia pode ser definida como o conjunto de obras concernentes a um assunto histórico, como exemplo a produção histórica de uma época. A história da historiografia não se reduz ao estudo das principais obras históricas de cada época ou civilização, compreende também trabalhos de metodologia, publicação de documentos, ensino de história e apreciação de obras literárias de teor histórico. Portanto, está ligada às correntes de pensamento de um determinado período histórico. Cada etapa de desenvolvimento da sociedade corresponde a uma forma própria de encarar e fazer a história, ou seja um tipo de historiografia. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 5. Defina historiografia. 6. Descreve o processo de evolução da produção historiográfica. 7. Na antiguidade oriental fazia-se abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade. Comenta. 8. As cosmogonias e mitografias, as primeiras formas de literatura histórica que se conhecem. Descreve-as 9. Quais são os componentes de uma historiografia? 10. Descreve as principais cosmogonias do Oriente Antigo. Respostas: 5. Rever o último parágrafo da página 14. 6. Rever do 1º ao 3º parágrafo da página 14. 7. Rever o 1º parágrafo da página 14. 8. Rever os últimos parágrafos das páginas 13 e 16. 9. Rever o 1º e 2º parágrafo da página 15. 10. Rever o último parágrafo da página 15 e toda a página 16. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 18 A História como ciência na concepção actual do termo surge….. Só uma das seguintes respostas é correcta. a) Na antiguidade oriental. b) No seculo XIX. c) No século XX. d) Com a escrita. Na Antiguidade Oriental abordagem histórica era: Só uma das seguintes respostas é correcta. a) Mítica e teocrática; b) Científica e pragmática; c) Oral; d) Total e crítica; e) totalmente teocrática. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 19 TEMA – II: HISTORIOGRAFIA ANTIGA. UNIDADE Temática 2.1. Historiografia Judaica UNIDADE Temática 2.2. Historiografia Grega UNIDADE Temática 2.3. Historiografia Romana UNIDADE Temática 2.4. Historiografia Cristã Antiga UNIDADE Temática 2.1. Historiografia Judaica Introdução A historiografia judaica antiga baseia-se na Bíblia, velho Testamento. A Bíblia é uma grandiosa obra que pela natureza e variedade de géneros literários nela contidos constitui literatura nacional do povo judaico e portanto uma importante fonte de informação da história judaica e dos povos com quem os judeus estavam em contacto. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Identificar a principal fonte para o conhecimento da historiografia judaica; Identificar a principal característica da historiografia judaica; Descrever as principais formas de poder entre os judeus; Identificar os responsáveis pela produção e conservação da historiografia judaica. Desenvolvimento Escrita e conservada pelos sacerdotes, a Bíblia constituiu para os judeus um instrumento de unidade, que era posta em causa pelo contacto com outros povos, a que os judeus eram sujeitos por ser um povo nómada. O papel dos sacerdotes na conservação por escrito do legado de um determinado povo foisempre inquestionável. Desde as ruinas neolíticas de Chatal Huyuk aos impérios contemporâneos, a presença da comunidade de sacerdotes e leigos deixou vários testemunhos que o tempo não consegue eliminar. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 20 Existiam duas formas de poder entre os judeus: o poder espiritual, dos sacerdotes, e o poder temporal, dos reis, sempre em aliança ou em rivalidade ou em luta. O desentendimento entre estes dois poderes resultava do facto de os sacerdotes pretenderem a unidade do povo judaico, recusando, por isso o contacto com outros povos, enquanto os reis priorizavam o alargamento do território, integrando as populações vencidas o que significava a admissão no mesmo panteão nacional os deuses dos vencidos. A Bíblia funcionou portanto como instrumento dos objectivos da classe sacerdotal, conservando um carácter exclusivista de defesa da tradição judaica e de ataque a tudo o que lhe fosse estranho. A Bíblia corresponde: - Um conjunto de seis obras (Hexateuco) assim intituladas: Genesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio e Josué. Exceptuando o Deuteronómio e o Levítico, que são códigos de leis, os restantes constituem a história dos Hebreus desde a origem ate à sua instalação na Palestina (canaan), depois do exilio no Egipto; - Um conjunto de oito livros, conhecidos por livros históricos: Juízes, Rute, Samuel, Reis, Cronicas, Esdras e Noémia Ester e finalmente Jonas. - Livros poéticos: Salmos, Lamentações, Poesia erótica (Salmo XLV e Cântico dos Cânticos), Poesia didactica (Jó, Proverbios, e Eclesiastes); - Livros proféticos: Isaías, Jeremias, Ezequiel e outros profetas; - Os livros apocalípticos: Livro de Daniel; - Livros apócrifos: livro dos Macabeus, livro de Judite, etc. Estes livros não têm todos a mesma idade. “ O canto de Débora” que faz parte do V livro dos juízes, é das composições mais antigas da Bíblia, não excedendo porem o seculo XII a. C.; o que não quer não possa haver nele algum fragmento ainda mais antigo. Dos Códigos, o mais antigo parece ser o da Aliança. O cântico dos Cânticos é um livro erótico, não sagrado, mas pelo simples facto de fazer parte do património judeu, levou com que eles atribuíssem-lhe um caracter sagrado Baseada na bíblia, a historiografia judaica teve como principal característica a incapacidade de aceder a uma concepção universalista do homem, ou seja a limitação do homem ao homem judeu. Assim, para os judeus, a história da humanidade passava a confundir-se com a história judaica contada na Bíblia. Os povos apenas eram referenciados na medida em que tivessem algum relacionamento com os judeus. Como livro sagrado dos católicos, protestantes e cristãos ortodoxos, a Bíblia, teve uma credibilidade quase universal e ate ao século XIX constituiu a única fonte da história dos judeus e dos povos do médio ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 21 oriente, com quem estiveram em contacto. Só no século XIX, com a decifração dos escritos egípcios e sumérios surgiu uma alternativa para as fontes da história judaica. A Bíblia passaria a ocupar um lugar secundário como fonte histórica. Sumário Nesta Unidade temática 2.1 abordamos fundamentalmente a historiografia judaica. Na nossa abordagem percebemos que foi a principal historiografia na Antiguidade Oriental. A principal fonte para o seu conhecimento é a Bíblia Sagrada concretamente o Velho Testamento, produzido e conservado pelos sacerdotes. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 11. Identifica a principal fonte para o conhecimento da Historiografia judaica. 12. Identifica o papel da Bíblia para os judeus. 13. Quem escreveu e conservou a Bíblia. 14. Existiam entre os judeus duas formas de poder. Refira-se a essas formas de poder e às causas do seu desentendimento. 15. Descreve a principal característica da historiografia judaica. Respostas: 11. Rever a introdução da página 18. 12. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento da página 19. 13. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento da página 19. 14. Rever o 1º parágrafo da página 20. 15. Rever o penúltimo parágrafo da página 20. UNIDADE Temática 2.2. Historiografia Grega Introdução A Grécia antiga ocupava no Mediterrâneo um território pouco extenso, mas muito variado sob o ponto de vista geográfico que compreendia o Sul da Península Balcânica, as ilhas do mar Egeu e do ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 22 mar Jónio e as costas ocidentais da Asia Menor. O territorio da Grécia Antiga é uma especie de museu a céu aberto porque s materiais da arqueologia, os papiros as ruínas cidades, os edifícios isolados e outras construções, assim como os objectos de uso doméstico, melhor nos informam sobre esta região. São estas fontes e outras que nos permitem compreender o pensamento histórico grego. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Descrever o papel de Heródoto para a cientificação da História. Descrever o ambiente politica que permitiu a Heródoto ter uma reflexão livre da História. Caracterizar o processo de produção histórica na Grécia. Identificar os principais historiadores gregos. Desenvolvimento “A história nasceu na Grécia” é frequente ouvir-se dizer. Na Grécia também existiu a abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade como no oriente antigo. Dos vários mitos destacou-se o mito das cinco idades que considerava que a humanidade tinha passado por cinco etapas de evolução nomeadamente a idade do ouro, da prata, do bronze, dos heróis e do ferro. Entre estas, a etapa do ouro e a melhor porque nela não havia preocupações, sofrimento, velhice, etc. Entretanto de acordo com o conceito de ciência não podemos ainda falar nesta altura de uma ciência histórica. A cientificação da história só terá início na Grécia clássica. É o que nos leva a falar do surgimento da história na Grécia. Este logro dos gregos tem explicação no facto de a Grécia desse tempo ter conseguido avançar em muitas áreas de desenvolvimento social, a partir do século V a.c. Neste século vivia-se na Grécia, uma sociedade democrática, fruto de cerca de três séculos de reformas, iniciadas por Dracon e que atingiram o seu pico no reinado de Péricles. Portanto a Atenas do século V destaca-se dos restantes estados da época pois pôde conceber e aplicar os princípios da igualdade perante ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 23 a lei, da liberdade individual e da fraternidade, embora com algumas reservas, principalmente ligadas com o alcance das referidas reformas democráticas. Este contexto, de abertura da vida nacional a todos os cidadãos, levou a Grécia antiga a se destacar em vários domínios da vida incluindo o do pensamento. É assim que o pensamento grego da época revelava já uma maturidade que se reflectia no desenvolvimento de várias ciências entre as quais a História. O surgimento e desenvolvimento da história na Grécia deve-se em grande parte ao papel de Heródoto de Halicarnasso (484- 424),“o pai da Historia”. É claro que havia na Grécia antiga muitas pessoas reflectindo sobre questões de carácter racional incluindo a história, mas foi Heródoto o primeiro a adoptar uma atitude científica, daí que lhe atribua a “paternidade da Historia” Na sua obra “Historias” Heródoto tentou para além de escrever sobre os gregos, falar dos bárbaros, reconstituiros factos e apresentar a razão deles. A ele também se deve uma visão e uma abordagem universalista dos homens pois, como cidadão oriundo da nobreza, Heródoto teve facilidades de viajar e escrever sobre varias regiões (Egipto, Mesopotâmia, etc) incutindo desse modo uma visão mais global do homem e do universo. Era a passagem da historiografia gentílica a historiografia ecuménica (universal). Numa das passagens do livro de Heródoto, Historias, pode se ler: Eis a exposição do inquérito empreendido por Heródoto de Thouriori para impedir que as acções cometidas pelos homens se apaguem da memoria com o tempo e que grandes e admiráveis factos, levados a cabo tanto do lado dos gregos como do lado dos bárbaros, cessem de ser nomeados, finalmente e sobretudo, o que foi causa de entrarem em guerra uns contra outros (…) Até aqui, falei segundo a minha observação, reflexão e informação, mas a partir de agora passarei a referir a tradição egípcia, tal como a ouvi, acresce ainda um pouco do que vi (…). O meu dever é referir a tradição mas de modo algum sou obrigado a acreditar nela” A história de Heródoto é feita com base em testemunhos fidedignos, ou seja dignos de crédito. Assim ele preferiu servir-se da tradição oral, mas sempre aquela prestada por protagonistas ou testemunhas dos acontecimentos, bem como o seu testemunho ocular. No caminho de Heródoto esteve também Tucídides, cujo grande contributo para a história foi o início do questionamento das fontes, procurando apurar a sua veracidade e credibilidade. Foi o que ele fez na sua obra “Historia da guerra do Peloponeso” ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 24 que escreveu servindo-se do seu próprio testemunho de participante. Tucídides revelou-se superior a Heródoto na inteligência crítica, na arte e na solidez do saber. As ideias de Tucídides sobre a história da guerra do Peloponeso.“ (…) Só falo como testemunha ocular, ou depois duma critica das minhas informações, tão completa quanto possível (…)” Outros historiadores deram corpo à história grega como foram os casos de Xenofonte, Plutarco, Eforo, etc. Observando os trabalhos de Heródoto e Tucídides verificamos que os gregos começaram a caminhar para a cientificação da história. A sua história tem um objecto de estudo, uma metodologia própria e um objectivo bem definido. Senão vejamos: - Estuda-se, o passado e o presente dos homens ou simplesmente o Homem; - Alarga-se a noção de fonte histórica que para além da tradição oral passa a considerar os testemunhos oculares; - Cria-se uma metodologia que integra a recolha de dados através da observação e da informação, a reflexão, analise critica e a comparação das fontes e finalmente a síntese; Portanto na Grécia clássica temos uma história humanista (seu objecto de estudo é o homem), cientifica (inicia-se neste caminho), auto- reveladora (procura a projecção do presente no futuro, ensinar aos homens o seu passado e a relação entre o passado e o presente, para revelar o sentido da acção humana) e pragmática, porque tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o futuro. Embora dando notáveis passos a nível da história os gregos revelaram ainda algumas insuficiências. Os historiadores gregos viram-se confrontados e até encurralados pela contradição entre o ideal de história universal baseada em fontes fidedignas e a incapacidade de falar de regiões relativamente afastadas, pois o nível de desenvolvimento dos transportes não permitia ir para longe e são praticamente inexistentes informações escritas sobre essas regiões. Deste modo eles vêm-se condenados a ter que fazer a história que negam, a história de alguns povos, de algumas regiões, a história regional e não a universal que defendem. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 25 Por outro lado as fontes orais e os testemunhos oculares não permitem abarcar períodos de tempo relativamente longos mantendo a fidelidade numa historia que busca de facto a verdade, pelo que ficam também a este nível limitados. Sumário Nesta Unidade temática 2.2 estudamos e descrevemos a Historiografia Grega onde contatamos que tinha uma visão humanista (seu objecto de estudo é o homem), cientifica (inicia-se neste caminho), auto- reveladora (procura a projecção do presente no futuro, ensinar aos homens o seu passado e a relação entre o passado e o presente, para revelar o sentido da acção humana) e pragmática, porque tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o futuro. O pioneiro deste processo de cientificação da história foi Heródoto, o que lhe mereceu a designação de pai da História. Para alem dele houve outros historiadores que se dedicaram à produção histórica como é o caso de Tucídides. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 16. Explica por que razão Heródoto é considerado “Pai da História”? 17. Descreve as condições políticas da Grécia que permitiram a evolução da ciência. 18. Explica em que se baseiava a historia feita por Heródoto. 19. Nomeia os principais historiadores gregos. 20. A historiografia grega era humanista, cientifica, auto- reveladora e pragmática. Comenta a afirmação! Respostas: 16. Rever do 2º a 4º parágrafo da página 23. 17. Rever o último parágrafo da página 22. 18. Rever o último parágrafo da página 23. 19. Rever o 2º e 3º parágrafo da página 24. 20. Rever o penúltimo parágrafo da página 24. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 26 UNIDADE Temática 2.3. Historiografia Romana Introdução Roma localiza-se na península itálica no Mediterrâneo tal como a Grécia. Enquanto a Grécia está rodeada de ilhas e o seu litoral é muito recortado, facilitando a navegação e o comércio, na Itália tal não acontece. Do III ao I seculo a.n.e graças a um exército de cidadãos hábil e disciplinado, Roma lançou-se à conquista de toda a bacia Mediterrâneo e Norte de África transformando-se num grande imperio. A historiografia deste periodo procurou ajustar-se às ideias politicas da época cuja finalidade era exaltar e preservar o imperio. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Caracterizar a Historiografia Romana; Identificar os principais historiadores romanos; Diferenciar a Historiografia Romana da Historiografia grega Desenvolvimento A constituição do império romano incluiu entre outros processos a conquista de vários estados na Europa, Ásia e norte da África. Ora este facto sugere uma miscelânea de povos, costumes, formas de vida, etc. Num só estado que é o império romano. Desta situação resulta em Roma um desenvolvimento social, do qual se inclui o âmbito do pensamento, bastante influenciado pelas outras civilizações. Temos assim que a nível da História os romanos recorrem, a princípio, à língua e aos moldes de outros povos, em particular os gregos que, como dissemos atrás tinham avançado bastante neste campo. Os romanos não copiaram mecanicamente dos gregos procuraram dar forma própria moldaram os ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 27 ensinamentos gregos atribuindo-lhes forma própria. Deste processo resultou a produção de uma história tipicamente romana, assente na íntima relação com o passado. Outro elemento historiográfico exclusivamente romano é o carácter político ou seja a prática da historiografia feita pelos homens políticos,em estreita relação com a política prática que conduz a historiografia política, orientada para fins políticos e não encarrada como conhecimento. Portanto a história é em geral, para os romanos, uma exaltação da cidade e do império, adquirindo um carácter nacional e patriótico. É uma história apologética e pragmática. O predomínio, entre as produções historiográficas da Roma antiga, dos anais (anotações dos principais acontecimentos políticos) demonstra bem o seu carácter nacional. Dentre os principais historiadores romanos destacam-se: Políbio É um historiador de origem grega que viveu, como prisioneiro, em Roma e lá produziu quase toda a sua obra histórica e, naturalmente, sobre o império romano. Foi o responsável pela transmissão das tendências racionalistas da historiografia grega a Roma, sendo por isso contrário a história oficial, defendida por muitos historiadores romanos com destaque para Tito Lívio que por vezes recorria a mitologia para sustentar as suas ideias. Aplicou a Historia o modelo de ciclo, conduzindo à concepção segundo a qual a Historia é o conhecimento do geral, daquilo que se repete, que obedece a leis e por isso susceptível de previsão Tito Lívio Diferentemente de Políbio, esteve mais virado para o passado, tido, pelos romanos, como fonte de virtudes nacionais. Foi um intelectual ao serviço da política imperial, cuja preocupação maior foi elevar bem alto o rei e o império romanos não hesitando quando a defesa passasse pela deturpação da verdade, ou impusesses o recurso à mitologia. Tácito politico e homem das letras, foi autor de uma importante obra histórica com o senão de ter misturado, por vezes, indevidamente a historia com o género literário. O seu maior defeito terá sido fazer uma comparação unilateral dos romanos com os bárbaros, os bretões e os germanos revelando-se percursor da teoria do “bom selvagem”, ao apresentar uns como os de costumes mais puros e outros mais corruptos. Outros historiadores romanos foram Flávio Josefo, Salústio, Plutarco e ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 28 Suetónio. Sumário Nesta Unidade temática 2.3 abordamos a Historiografia Romana. Nesta abordagem foi possível notar que era dominada pelo carácter político ou seja a prática da historiografia feita pelos homens políticos, orientada para fins políticos e não encarrada como conhecimento. Portanto a história é em geral, para os romanos, uma exaltação da cidade e do império, adquirindo um carácter nacional e patriótico. É uma história apologética e pragmática. A grande preocupação era exaltar a grandeza do império romano cujo mérito era atribuído aos “grandes homens”- os imperadores. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 21. O elemento historiográfico característico romano é o carácter político. Comenta. 22. Descreve a principal característica da Historiografia Romana. 23. Nomeie os principais historiadores romanos. Respostas: 21. Rever o 2º parágrafo da página 27 22. Rever o 2º parágrafo da página 27 23. Rever o do 3º ao 5º parágrafo da página 27 UNIDADE Temática 2.4. Historiografia Cristã Antiga Introdução A Historiografia Cristã Antiga, como o próprio nome sugere encarnou basicamente as ideias do cristianismo. Durante a Idade Média, a política era grandemente influenciada pela questão espiritual. Para a sociedade medieval, o rei não era, simplesmente, uma instituição política, mas sim uma manifestação divina, tendo o papel de integrar o ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 29 homem no cosmos. A igreja cristã foi uma das mais poderosas instituições do período medieval. Nesta história, medieval o papel principal no processo histórico é atribuído a Deus e seus agentes e, aos reis e seus prelados. Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade Média. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Descrever a concepção histórica cristã antiga; Explicar os factores da rápida propagação do cristianismo; Identificar os principais historiadores cristãos da antiguidade; Identificar as principais obras dos historiadores cristãos da antiguidade. Desenvolvimento O cristianismo surgiu na Palestina no contexto da conquista daquele território pelos romanos. Portanto, foi de lá que se propagou para as restantes partes do mundo o que em grande parte foi facilitado pelo facto de transportar uma mensagem social e ecuménica, assumindo-se anti-esclavagista. Existiam, no seio da igreja, duas facções: uma mística e outra gnóstica que pretendia racionalizar o pensamento religioso, ou seja, sujeitar à razão as ideias religiosas. Estas divisões que constituem uma ameaça à estabilidade do cristianismo levaram à imposição da unidade doutrinária e ao fim da livre discussão no seio da igreja, determinada no Concilio de Niceia em 325. 2.4.1 A concepção cristã da História Desde o princípio o cristianismo assumiu-se como religião universalista e histórica, ou seja, teve a sua concepção do universo e de evolução da ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 30 humanidade. Para os cristãos a história é um combate permanente entre Lúcifer (o mal) e Deus (o bem) e a sua trajectória, irreversível e oposta à concepção cíclica defendia pelos gregos e romanos, começa com o pecado original, passa pela redenção e termina com o juízo final. A ideia principal é que, devido ao pecado original, o homem espalhou o mal em toda a terra e Cristo apareceu para estabelecer a ordem e fazer triunfar a igreja, numa luta que terminara com o juízo final. Deste modo a terra é apenas um local transitório para expiação e redenção do pecado e o homem em vida tem a oportunidade de se preparar para o juízo final. Entre as fontes da história cristã existem as doutrinárias e as históricas. Muitos documentos históricos foram destruídos alegadamente por serem apócrifos, ou seja, inautênticos. Contudo em história este procedimento é de todo condenável pois as fraudes também são matéria de estudo. Portanto não se pode entender tal atitude de outra maneira que não a tentativa de manter uma unidade doutrinária. Isto leva-nos a afirmar que a história cristã baseou-se, em informações tendenciosas previamente seleccionadas e por isso construiu uma visão de história humana com um ponto de vista apologético. 2.4.2 Os historiadores cristãos antigos Eusébio de Cesareia (260- 339) Foi o principal obreiro da história cristã. Produziu uma crónica que consistia de uma cronografia e de conones cronológicos. A cronografia resumia a história universal povo por povo, argumentando a favor da prioridade, no tempo, de Moisés e da Bíblia. Os canones eram tábuas cronológicas que assinalavam os sincronismos entre a história sagrada e a profana. A cronologia bíblica começa com a data da criação seguindo-se a do povo judeu até ao nascimento de Cristo, com a qual começava a história cristã. A história eclesiástica de Eusébio, bem documentada ia de Cristo até Constantinopla. Eusébio trouxe para primeiro plano da igreja cristã os judeus. Cassiodoro (487-583) Reuniu e traduziu do grego três historiadores eclesiásticos, continuadores da historia de Eusébio, nomeadamente Sócrates (380- 450), Sozomeno (finais do século IV- 443) e Teodoreto (393-457). Escreveu também uma história gótica e uma crónica da ISCED CURSO: Ensino de História;1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 31 época de Adão ao ano 519. Santo Agostinho (354-430) foi o autor da primeira e até hoje a mais importante filosofia cristã de história. O seu livro “De Civitae Dei” (A cidade de Deus) foi uma tentativa de negar a afirmação dos pagãos segundo a qual a tomada de Roma por Alàrico e os saques dos vândalos eram motivados pelo desapego à antiga religião romana. Orósio (até 418) procurou mostrar em “sete livros de história contra os pagãos” Que os tempos anteriores a Cristo tinham sido mais tempestuosos que os posteriores, como forma de rejeitar a ideia dos pagãos de querer culpar o abandono dos cultos anteriores a Cristo pelas desgraças que afligiam o império romano, em particular as invasões dos povos bárbaros. Com a obra de Eusébio e com as continuações de Sócrates, Sozomeno e Teodoreto e ainda o manual latino que deles tirou Cassiodoro, se formou o corpo da história da igreja que alimentou a idade média. Foi do cristianismo a autoria da primeira filosofia de história, a tentativa de determinar as leis porque se rege o curso dos acontecimentos. Os seus defensores procuraram mostrar como o mundo seguiu um desígnio de Deus na sua longa preparação para o advento de Cristo. A partir desse ponto central a humanidade continuaria uma marcha de sofrimentos até ao juízo final. Esta ideia foi exposta por S. Agostinho no seu livro “Cidade de Deus ”e a demonstração coube a Paulo Orósio no seu “sete livros de história contra os pagãos”, uma continuação de “cidade de Deus”. É portanto a história providencialista, em que a evolução da humanidade aparece como providência divina. Sumário Nesta Unidade temática 2.4 descrevemos a Historiografia cristã Antiga. É uma história providencialista, porque a evolução da humanidade aparece como providência divina. Os seus defensores procuraram mostrar como o mundo seguiu um desígnio de Deus na ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 32 sua longa preparação para o advento de Cristo. Nega a concepção cíclica da História dada pelos gregos e romanos. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 24. Descreve a concepção histórica do cristianismo na antiguidade. 25. Indica os factores da rápida propagação do cristianismo. 26. Nomeia os principais historiadores cristãos antigos. 27. A historiografia crista antiga era apologética e providencialista. Justifica. Respostas: 24. Rever o último parágrafo da página 29. 25. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento desta unidade (página 29) 26. Rever as páginas 30 e 31. 27. Rever o último parágrafo da pagina 31 (antes do sumario desta unidade) TEMA – III: HISTORIOGRAFIA MEDIEVAL. UNIDADE Temática 3.1. Historiografia Cristã Medieval UNIDADE Temática 3.1. A Historiografia Cristã Medieval Introdução Com a queda do império Romano do Ocidente, um novo contexto histórico ira surgir, caracterizado pela desestruturação da economia urbana e comercial e o regresso a uma economia essencialmente agrícola e de subsistência, da qual resultara, fatalmente, o isolamento das populações. Este isolamento contribuirá para o fortalecimento de uma nova mentalidade pluralista muito próxima da mentalidade gentílica (em que os laços de ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 33 consanguinidade seriam substituídos pelos estreitos vínculos de identidade religiosa, da comunhão da mesma fé) – uma espécie de comunitarismo moral e religioso, em que o Pai ancestral e carnal de gens é substituído pelo «Pai do Céu» cristão. Não era, com efeito, na Alta Idade Média, manter de pé o modelo de cristianismo ecuménico do século I, pela mesma razão que não era possível erguer viva, sobre as infra-estruturas duma sociedade rural, a cultura duma sociedade urbana. Repara-se que tanto o ecumenismo grego como o ecumenismo romano tinham sido fenómenos de expansão, consequentes ao estabelecimento de amplas relações entre povos diferentes. Ora o que se dá idade Média europeia é precisamente o contrário. É uma regressão em vez de uma expansão: as populações refluem novamente aos campos. As cidades arruínam- se, as rotas comerciais encurtam-se e acabam, em muitos casos, por desaparecer. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Caracterizar a sociedade Medieval; Descrever a concepção histórica cristã medieval; Caracterizar a literatura cristã medieval; Identificar os principais responsáveis pela produção histórica medieval. Desenvolvimento O império romano do ocidente desmoronou-se no século V na sequência da tomada de Roma pelos bárbaros em 476. A destruição do império romano do ocidente, marcou o fim da antiguidade esclavagista e o início da Idade Media, feudal, a substituição de formas de vida, política, económica, social, até ai estabelecidas. As populações abandonaram as cidades retornando ao campo onde se organizaram em pequenas comunidades rurais baseadas na identidade religiosa (nisto, difere das primeiras comunidades rurais ligadas por consanguinidade. Na esfera económica, a economia urbana, comercial, deu lugar a economia rural, agrícola, de subsistência. Instala-se uma mentalidade particularista onde cada comunidade ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 34 tenta ser auto-suficiente, pois a dispersão dificulta os contactos. A nível social os marcos essenciais a destruição das tradicionais relações dos povos devido a degradação das vias e meio de comunicação. Tecnologicamente a regressão manifestou-se pelo desaparecimento das especializações. O cristianismo integra-se neste quadro, criando o Mosteiro Beneditino, que a partir do século VI passa a servir de núcleo a uma população cujo destino seria a gradual integração na sua estrutura, em condição de dependência. Nesta altura o trabalho é encarado como uma provação, mas os Mosteiros irão rapidamente enriquecer passando a empresas geradoras de excedentes, comparáveis a qualquer outro domínio senhorial. Era a transformação do cristianismo, de religião igualitária em religião classista. No século XI, regista-se um considerável crescimento agrícola. Ao mesmo tempo aumenta a população e ressurge a vida urbana. Inicia- se uma nova revolução comercial em choque com o sistema feudal. No decorrer do século XVIII regista-se um notável progresso na estrutura profissional que se manifesta numa acentuada diferenciação profissional num grau de especialização cada vez maior e na melhoria do estatuto do trabalhador ao nível dos ofícios, particularmente nas artes liberais e por vezes na arte mecânica. Era a passagem da sociedade rural e urbana, agrícola a comercial. Este processo é portanto muito próximo aquele que se regista na primeira revolução urbana com a diferença de que no lugar das casas estavam os mosteiros e em vez do surgimento de cidades dá-se o ressurgimento das cidades romanas. Mais ainda na primeira revolução urbana o poder espiritual sobrepunha-se ao temporal e no século XIC acontece o contrário. 3.1.1. A concepção histórica Medieval A instituição típica mediante a qual cristianismo medieval se adapta à evolução económica, passa a ser a partir do século VI, o mosteiro beneditino. Típica, não só porque simula uma comunidade de «irmão» igualiza na tarefa comum de trabalhar a terra, (na realidade, fortemente hierarquizados entre si), mas porque, pela sua natureza ISCEDCURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 35 económica – religiosa, se prestava a servir de núcleo a uma população cujo destino viria a ser gradual integração nas malhas da sua estrutura, nas condições dos servos de gleba, de artesoes servis ou rendeiros; na condição, em suma, de dependentes. Na realidade, desde a fundação dos mosteiros que a relação entre os monges e as populações indígenas era marcada pelo distanciamento e pela desconfiança. Proveniente, geralmente, dos meios urbanos, os monges não constituíram um elemento estranho ao meio rural, não só porque a regra do fundador obrigava a viver à sua própria custa, mas ainda porque logo entre eles e a população indígena se ergueu a muralha da dicotomia preconceituosa que dividia cristãos e pagãos, urbanos (cultos) e rústicos. As populações eram pagãs porque, agarradas ainda a velhos hábitos e a velhas crenças, resistiam ou se opunham ao ardor proselitista do clero; e eram rústicas, porque eram incultas, selvagens e indigentes. No contexto histórico da idade média, predomina uma história cristã, cuja produção é da responsabilidade dos monges. Os géneros mais dominantes são os anais e as crónicas. Tanto uns como outros são narrativas sobretudo de factos políticos e militares, que tomam por unidade temáticos períodos mais ou menos longos. A diferença reside no facto de que os anais dividem as épocas estudadas em períodos de um ano, relatando secamente os factos. Também constituem literatura histórica cristã medieval as hagiografias, as historias, as actas de sínodos e concílios, as bulas, e outros diplomas de origem papal, as obras de clérigos seculares, os manuais dos confessores e outras de carácter eclesiástico. Em princípio, a historiografia crista medieval, assim como as fontes de origem eclesiástica prevalecem ate ao seculo XIII. Mas nem todas as fontes medievais até essa data são obrigatoriamente de origem eclesiástica. Quer para o entendimento crítico da historiografia crista, quer para efeito de novas abordagens historiográficas torna-se indispenavel recorrer também às fontes provenientes da cultura popular mais profunda, ou seja, folclore. É ao que parece, desse folclore que emergem produções como as cancões de gesta (supostamente de origem nobre), desvios religiosos como as heresias cátara, valdense e patarina, e géneros poéticos. Nesta história, medieval o papel principal no processo histórico é ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 36 atribuído a Deus e seus agentes e, aos reis e seus prelados. É a estes que se atribui responsabilidade pela evolução histórica da humanidade e portanto são eles o objecto de estudo da história. A nível metodológico a interpretação dos dogmas divinos constitui a principal operação do historiador em detrimento da investigação das razoes humanas. Os aspectos morais sobrepõem-se aos vividos na explicação dos fenómenos. Sumário Nesta Unidade temática 3.1 fizemos a bordagem sobre a histografia cristã medieval cuja produção foi da responsabilidade dos monges. A instituição típica mediante a qual cristianismo medieval se simboliza é o mosteiro beneditino. Nesta historiografia, o papel principal no processo histórico é atribuído a Deus e aos reis. É a estes que se atribui responsabilidade pela evolução histórica da humanidade e portanto são eles o objecto de estudo da história. A interpretação dos dogmas divinos constitui a principal operação do historiador em detrimento da investigação das razões humanas. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 28. Descreva a emergência da sociedade medieval. 29. Identifique os responsáveis pela produção histórica medieval. 30. Identifique as principais obras literárias da historiografia cristã medieval. 31. Diferencie os anais das crónicas. 32. Descreve a principal característica da Historiografia Cristã Medieval. Respostas: 28. Rever a introdução desta Unidade (página 32). 29. Rever o 2º parágrafo da página 35 30. Rever o 2º e 3º parágrafo da página 35 31. Rever o 2º parágrafo da página 35. 32. Rever o 1º paragrafo da pagina 36 (antes do sumario desta unidade temática). ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 37 TEMA – IV: HISTORIOGRAFIA MODERNA. UNIDADE Temática 4.1. Historiografia Renascentista UNIDADE Temática 4.2. Historiografia Racionalista UNIDADE Temática 4.1. Historiografia Renascentista Introdução A Historiografia Renascentista representa a visão histórica crítica da reforma protestante. A reforma protestante constituiu, na realidade, a segunda grande revolução da burguesia europeia, depois do movimento comunal. A burguesia lutava pela emancipação espiritual, pela independência das igrejas nacionais bem como pela liberdade individual de pensar. É esta reformulação renascentista da imagem e pepel do homem no universo que caracteriza principalmente esta historiografia também conhecida por Historiografia quatrocentista. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Explicar o contexto de surgimento da Historiografia Renascentista; Identificar os responsáveis pela produção historiográfica renascentista; Identificar os principais historiadores renascentistas; Explicar as características da historiografia renascentista. Desenvolvimento A reforma protestante constitui um dos acontecimentos mais marcantes, se não o mais marcante desta época. Quando, sob a égide papal, Portugal e Espanha assinaram o tratado de Tordesilhas as burguesias holandesa, inglesa e francesa, em oposição a este tratado, decidiram proclamar a independência das igrejas nacionais, ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 38 desafiando, portanto, a autoridade supranacional da igreja romana. Este acontecimento foi antecedido por outra grande revolução da burguesia europeia, o movimento comunal. A luta da burguesia pela sua emancipação espiritual estava assim a começar tendo como pano de fundo a rejeição do regime católico- feudal e a implantação de uma nova ordem mais condizente com o desenvolvimento da burguesia. É portanto uma revolução cultural marcada pelo desejo de mudanças o renascimento cuja tónica dominante é a tentativa do homem de sair da sua menoridade (incapacidade de atingir a sua felicidade sem o recurso e o apoio de outrem). Instiga-se a confiança no homem. A evolução dos séculos XV- XVI favoreceu o surgimento de um pensamento humanista que defende o livre arbítrio, o valor da experiencia e o desejo de gloria individual, que conduziu historia humanista, que coloca no centro do seu estudo o homem, reduzindo o papel de deus. O homem vai se sentindo cada vez mais o construtor e responsável do processo histórico. A história evoluiu inspirando-se na consciência humanista e na imitação da antiguidade clássica. É assim que entre os humanistas alia-se uma nova consciência do mundo e da vida à idealização da antiguidade com tentativas de secularização da história. Nesta altura já não são os teólogos e monges mas sim os poetas, literatos, diplomatas, estadistas que escrevem historia falando criticamente do passado nacional ou urbano. Há portanto um alargamento da temática histórica, muito embora prevaleçam os aspectos políticos. Para além do objecto, os humanistas alteram também a forma medieval de exposição, a crónica. Passam então a predominar os anais, numa história orientadapara a política que tem na biografia a principal forma de exposição histórica. O pensamento humanista deu também lugar a ideia da relatividade das coisas e ao surgimento de um novo critério de vontade, a experiencia, que fez crescer a coerência racional entre a teoria e prática e impôs o hábito de submeter a validade dos juízos à sua comprovação. O humanismo foi apenas o pensamento dominante pois a par da história humanista, critica, anticlerical e antinobriarca houve nos séculos XV e XVI uma historiografia exemplar preocupada em servir uma determinada ideologia ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 39 (normalmente a do poder) podendo até sacrificar a verdade se tal finalidade assim o justificar. A nível metodológico a história recebe com os humanistas importantes subsídios. Inicia-se com eles a ordenação metódica das fontes graças as contribuições de Flávio Biondo, Tristano Calchi, Lourenzo Valla, Bernardo Giustiniani entre outros. Flávio Biondo começou a reunir e a comparar as fontes de certas épocas com algum sentido crítico, enquanto a calchi se atribui o mérito de ter iniciado o uso de documentos e inscrições. Por seu turno lourenzo valla foi o primeiro a defender a crítica filosófica das fontes medievais. Finalmente a giustiniani se deve a crítica da sua possibilidade de aplicação prática. 4.1.1. Representantes da história humanista renascentista Nicolau Maquiavel (1469-1527) - foi o mentor, no século XV de uma nova concepção de Estado: o Estado temporal, soberano, totalmente independente da tutela da igreja, centralizado e único. Entende que o regime republicano com eleição de dirigentes é o ideal do estado. É um ponto de vista inspirado na sociedade quatrocentista, na qual a burguesia aspirava a formação de mercados nacionais cada vez mais amplos e politica e economicamente integrados por forma a segurar a livre circulação dos seus produtos. Nas suas obras“ Discorsi sopra la prima década de Tito Lívio e II Príncipe”Maquiavel adopta já uma atitude científica procurando explicar os fenómenos sociais que descreve pela intervenção de factores naturais como o clima, a natureza humana, etc. Considera ele que se Deus e a fortuna tȇm alguma margem de intervenção na historia, ao homem cabe pelo menos metade dessa intervenção. Lourenzo Valla (1407- 1457) - A sua obra“ De falso credita et emetita constantine” passa a assinalar, a partir de 1440, o nascimento de um dos maiores instrumentos de critica histórica: a filosofia humanística (comparação de estilos documentais, erros de tradução, etc) Método com o qual descobriu a falsidade da “Doação de Constantine” e, numerosas deturpações contidas no Novo Testamento. Francis Bacon (1561- 1626) defende a superioridade dos tempos actuais em relação aos antigos e a ciência experimental sobre as ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 40 concepções teóricas do passado. Para ele as ciências devem ser renovadas e colocadas ao serviço do progresso da humanidade através das leis da natureza. Jean Bodin (1530- 1596) Compôs um “methodus ad facilem historiarum cognitionum” (1566) onde defende que a historia não deve ser fabulosa, mas uma espécie de tábua da verdade e dos acontecimentos; e quem a ela se dedica não deve começar pela historia de Deus, mas pela dos homens. Defendia igualmente a influência do clima sobre a natureza física e psíquica dos homens. Fernão Lopes- O prólogo da crónica de D. João L, de que ele é autor, é um documento notável no ponto de vista da definição de historiografia. Nele está patente a sua defesa da independência do historiador perante as autoridades e sentido da sua responsabilidade perante o povo, procedimentos que colocam-no na vanguarda dos historiadores europeus do seu tempo. Para F. Lopes o motor da Historia, já à maneira do que viria a ser para a historiografia romântica liberal, é a sociedade no seu conjunto, ou mais propriamente, o povo. Nalguns casos, principalmente quando os reis tratavam a nação com equidistância entre a nobreza e a burguesia, o historiador reflectindo em certa medida a ideologia oficial, esforça-se por analisar os problemas e os homens com isenção e objectividade. Portanto um passo importante do século XV foi a formulação da regra de ouro da história, a de que aquele que escreve história de acontecimentos deve conhecer e encadernar os factos, as datas, os projectos e os resultados. Sumário Nesta Unidade temática 4.1 estudamos a historiografia renascentista no que diz respeito ao contexto do seu surgimento, características e representantes. Na abordagem constatamos entre muitos aspectos que a evolução dos séculos XV- XVI favoreceu o surgimento de um pensamento que defende o livre arbítrio, o valor da experiencia e o desejo de gloria individual, que conduziu historia humanista, que coloca no centro do seu estudo o homem, reduzindo o papel de deus. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 41 É portanto neste contexto de revolução cultural marcada pelo desejo de mudanças que a historiografia renascentista nasce e expande-se em substituição da historiografia cristã e teocrática. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 33. A reforma protestante constitui um dos acontecimentos mais marcantes para o triunfo do pensamento renascentista. Explique o contexto do surgimento do renascimento. 34. O pensamento humanista revolucionou a visão histórica quanto a: objecto de estudo, metodologia, produção literária e natureza dos autores. Comenta. 35. Descreva o contributo de Maquiavel para a historiografia renascentista. 36. Nomeie os outros historiadores renascentistas. 37. Explique a regra de ouro da História surgida no século XV. Respostas: 33. Rever do 1º ao 3º parágrafo do desenvolvimento desta unidade (paginas 37 e 38). 34. Rever o penúltimo e ultimo paragrafo da pagina 38; 35. Rever o 1º e 2º parágrafo do ponto 4.1.1 página 39. 36. Rever as páginas 39 e 40. 37. Rever o ultimo parágrafo da página 40 (antes do sumario desta unidade temática) UNIDADE Temática 4.2. Historiografia Racionalista (séculos XVII e XVIII) Introdução O panorama do século XVII é profundamente agitado por acontecimentos de vária ordem nomeadamente: a formação dos impérios coloniais holandês, francês e inglês; as guerras religiosas, as revoluções políticas e sociais. As contradições entre as formas de pensamento começam acentuar-se. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 42 Na historiografia aparece a teoria providencialista que admitia que o processo histórico é determinado não só pela intervenção de Deus, mas também pela intervenção de causas naturais ou causas particulares das revoluções dos impérios. Este providencialismo resultou da convergência do movimento contra-reformista de unidade católica e das concepções absolutistas de poder interessado na defesa da origem divina do poder. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Descrever as principais ideias do iluminismo; Descrever o contexto do surgimento da historiografia racionalista; Identificar os principais historiadores racionalistas; Explicar a visão racionalista sobre o objecto, metodologia e finalidade da história. Desenvolvimento A partir de meados do século XVII o ambiente é de transição do feudalismo ao capitalismono qual está presente a luta sempre inerente a este tipo de situações. Iniciada praticamente no século XIV, esta luta era agora claramente favorável aos burgueses, embora não na mesma dimensão em todos os países da Europa. A Inglaterra adiantou-se a nível do capitalismo industrial enquanto a Franca se no âmbito da consciência revolucionaria com os antagonismos entre e a aristocracia. O século XVII é também marcado pela constituição de impérios coloniais por parte dos holandeses, franceses e ingleses, que já detinham a supremacia nos mares depois de suplantarem os portugueses e espanhóis Neste período dá-se também uma certa evolução material, com o aparecimento dos correios e vias de comunicação organizadas, arquivos públicos, etc., Bem como uma evolução do valor da ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 43 experiencia na construção da ciência, afirmação do método cientifico. A nível das relações de produção ocorre a passagem da economia feudal à economia capitalista. 4.2.1. O iluminismo As ideias burguesas vão se impondo e defendendo particularmente dois procedimentos básicos: o domínio da natureza pelo trabalho; e o conhecimento da realidade através da experiencia e da interpretação cientifica. É portanto um pensamento novo oposto a ideologia medieval dominante e que pretende tomar como critério de vontade apenas a razão. E sob esta visão o homem recusa a menoridade (radicada na incapacidade de alguém se servir do próprio entendimento, sem a direcção de outrem) e procura acreditar naquilo que lhe é dado entender, no seu próprio raciocínio. É o Iluminismo baseado na razão e mais sábios, transferindo esses atributos ao homem moderno, para os burgueses, verdadeiramente experiente e espiritualmente maduro. A filosofia passa para o controle da burguesia e rejeita todos os preconceitos que entravam a felicidade dos homens. A nível da religião o iluminismo implantou a mentalidade produzida na renascença, no humanismo e na reforma e difundiu o Deísmo (religião sem dogmas), que defende que Deus criou o homem livre e concedeu- lhe autonomia plena e, dotando-o de razão para poder superar todas as dificuldades, já não intervêm na sua vida particular ou comunitário. Os homens do século XVIII recusam as normas, a autoridade, os dogmas. Não são cristãos e no lugar do direito divino crêem no direito natural. Portanto as ideias principais do Iluminismo são: A razão - tudo deve ser sujeito a uma análise racional, tendo como alvos principais a religião e as instituições político-sociais; O progresso- sobretudo no campo científico-técnico; A paz- que deve assentar na igualdade e fraternidade entre os homens. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 44 Para o iluminismo, a razão é o supremo critério do valor para a religião, a filosofia, as ciências, os Estado e a economia. No quadro descrito as ciências irão evoluir no caminho do iluminismo onde a tradição é questionada e o saber livresco substituído, como critério da verdade, pela experiencia sensorial. Valoriza-se o homem livre ou em libertação do dogma e da veneração dos antigos. Só se reconhece o progresso do espírito humano na iluminação e na razão secularizada. Entretanto a evidência sensorial, como critério de verdade, é mais aplicável as ciências naturais e menos ao domínio das ideias e por isso a sua implantação sugere uma certa preferência por aquela área de pensamento em detrimento desta. Não obstante, este ambiente relativamente hostil, o interesse pela história não se extinguiu. René Descartes introduziu, como critério de verdade, e evidência racional, consistindo num longo trabalho critico, através de sucessivas analises e sínteses, a acompanhadas de uma atitude metódica. Surge assim o método crítico de investigação, a base da história científica. 4.2.2. A historiografia racionalista Sob o fundo do iluminismo deve-se a partir do século XVII uma história racionalista. A história providencialista que tenta se adaptar as mudanças em curso e deixa de interpretar os fenómenos históricos apenas no seu aspecto dogmático, admitindo a intervenção do homem no processo histórico, mas continua defendendo a origem divina do poder (foi o caso Bousset). Num outro extremo os burgueses tentam fazer uma historia dirigida contra a igreja e que defendem a origem popular do poder, como fez Arnold.. À margem desta história das lutas religiosas surgem, nos países onde prevalecia a mentalidade católico-feudal, nomeadamente no sul e no ocidente uma historiografia politica, interna e católica. Com os Beneditinos franceses iniciou-se um tratamento mais cuidado e profundo das ciências auxiliares, nomeadamente a diplomática e da paleografia com os franceses a construção da narrativa histórica começa com investigação dos factos, sua classificação por épocas e temas, críticas filológicas e organização em reportórios ou dicionários. Já no século XVIII a temática da Historia alargou-se com o ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 45 aparecimento de uma história global abarcando as grandes linhas da evolução da sociedade (política, económica, cultural etc). O surgimento de uma história da civilização material; a história deixa de ser limitada ao campo político- militar. A consciência histórica dos racionalistas está bem patente no seguinte aspecto da autoria de Voltaire. “ A história da Europa tornou-se um imenso processo de contratos de casamentos de genealogias que, fazem passar despercebidos os grandes acontecimentos, o conhecimento das leis e dos costumes objectos bem mais dignos de atenção. Eu queria descobrir qual era a sociedade dos homens, como se vivia no interior das famílias, que artes eram cultivadas.” A nível metodológico a razão burguesa incita a crítica minuciosa para o apuramento da autenticidade, veracidade e exactidão das fontes. A curiosidade e a dúvida passam a ser os maiores impulsionadores da busca do conhecimento histórico. Pretende-se uma narrativa histórica racional e objectiva que recusa o secundário e supérfluo. A função da história também se altera deixando de servir as pessoas (importantes/ poderosas) individualmente para passar a servir a burguesia, como classe, e seus ideais sociais e políticos. 4.2.3. Representantes da História Racionalista Charles de Secondat (1689-1755), o Barão de Montesquieu, mais conhecido por Montesquieu- Centrou-se particularmente no estudo da filosofia politica que procura explica-la por um determinismo científico, manisfestando particular preocupação pelas grandes correntes sociais. Monstra pouco espírito critico para alem de admitir lendas e cometer erros na datação dos acontecimentos. A sua obra de relevo o “espírito da leis ”contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento da ciência judaíca. Francois Arouet, vulgo Voltaire (1694-1778) inaugurou uma história verdadeiramente humana, debruçando-se sobre política, finanças, religião, aspectos demográficos, económicos, etc. Mas nem sempre a sua narrativa é isenta. Admite o anedotico e a sua filosofia histórica é determinista e pessimista. Antoine de Condorcet (1743- 1794)- Defende uma historia global e cosmopolita. Foi Robert Jacques Turgot, um dos percurssores do ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 46 positivismo. Jean Jacques Rousseau (1778) – Critica os valores tradicionais católicos feudais e defendea valorização da sensibilidade e da personalidade livre e natural, contribuindo assim para uma compreensão profunda da realidade histórica. Sumário Nesta Unidade temática 4.2 concentramo-nos na historiografia racionalista como concepção histórica do iluminismo. Para o iluminismo, a razão é o supremo critério do valor para a religião, a filosofia, as ciências, os Estado e a economia. Graças a isso, as ciências irão evoluir no caminho do iluminismo onde a tradição é questionada e o saber livresco como critério da verdade é substituído, pela experiencia sensorial. É neste contexto que a partir do século XVII emerge uma história racionalista. A temática da Historia alargou-se com o aparecimento de uma história global abarcando as grandes linhas da evolução da sociedade (política, económica, cultural etc). A função da história também se altera deixando de servir as pessoas (importantes/ poderosas) individualmente para passar a servir a burguesia, como classe, e seus ideais sociais e políticos. A história deixa de ser limitada ao campo político- militar. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 47 38. O iluminismo representa um pensamento novo oposto a ideologia medieval. Descreve as principais ideias do iluminismo. 39. Explique a relação entre o iluminismo e a historiografia racionalista. 40. Quais as modificações trazidas pelo racionalismo no processo de produção histórica. 41. Apresente as ideias dos principais historiadores iluministas. Respostas: 38. Rever o ultimo parágrafo da página 43. 39. Rever o 1º parágrafo do ponto 4.2.2. (pagina 44). 40. Rever do 3º ao 5º parágrafo da página 45. 41. Rever o 1º parágrafo da página 45; UNIDADE Temática 4.3. Historiografia Romântica Introdução Dois acontecimentos marcaram de modo particular o final do século XVIII, a Revolução industrial e a Revolução francesa. Aliança entre a ciência e a técnica e Revolução Industrial deu lugar, permitiu encontrar soluções aplicáveis tanto na indústria como na agricultura, na circulação e na investigação científica. No século XIX a Revolução Industrial contava já com contributo de sucessivos científicos e técnicos suficiente para servir de base construção de novos valores e ao renascimento de novas esperanças no futuro do homem. A tecnologia desenvolve-se deixando de depender das invenções dos práticos sem formação teórica para passar a depender de operários especializados e devidamente orientados pelos cientistas. Era um contexto particularmente favorável a implantação de um pensamento cientifico capaz dar respostas as questões postas pela razão e as exigências postas pelas necessidades humanas. A industrialização trouxe progressos materiais e com elas novas exigências nas ciências naturais, mas também trouxe uma seriem de problemas a nível da sociedade tais como a propriedade privada, as relações de classe, etc. E pondo o seu estudo pelas ciências ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 48 sociais como filosofia, sociologia, pedagogia. Portanto o século XIX é em vários aspectos o prolongamento o das ideias iluminista mas com algumas situações histórico-filosóficas novas o que, no conjunto, conduz a uma diferenciação nas maneiras de encarar e explicar a evolução da humanidade. Como resultado surge uma grande divisão do pensamento em várias correntes que a nível da história vai conduzir a uma fragmentação das suas concepções. Assim no princípio do século divulgou-se o romantismo, enquanto na segunda metade dava-se o aparecimento dos embriões das ideias científicas nomeadamente o positivismo, o historicismo e o socialismo científico. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Descrever o contexto histórico do século XVIII; Explicar a influência da Revolução francesa para o surgimento do romantismo; Descrever a concepção histórica da historiografia romântica; Nomear os principais historiadores românticos. Desenvolvimento A revolução francesa iniciada na segunda metade do seculo XVIII, influenciou bastante o pensamento do seculo XIX. Ela permitiu a expressão de sentimentos a muitos reprimidos, criando um clima emotiva que favoreceu a implantação e expansão de romantismo. O romantismo insere a defesa de ideias próprias como a liberdade politica, a pátria, arte, a moral, etc. É também pela exaltação do excepcional dos homens de forte carácter, da natureza e contra tudo o que insira fórmulas clássicas pré-estabelecidas. Surgido no contexto da Revolução francesa, o romantismo reflectiu em si as várias camadas sociais envolvida na dita Revolução, assim destacaram-se três tendências/ direcções distintas no seio do ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 49 romantismo: Romantismo conservador das velhas classes privilegiadas, a nobreza e o clero, e cuja essência era o seu desejo de repor a velha ordem aristocrática. Era por tanto a aspiração da reposição do poder do rei e da supremacia da igreja. Romantismo liberal- a ideologia da burguesia vencedora na Revolução francesa e que portanto julga efectivamente realizados os ideais da Revolução. Aspira a implantação de um novo regime, burguês, assente nos ideais defendidos quando da revolução francesa. Romantismo socialista defendido pelo San Cullotes, o proletariado, que ao longo da guerra desempenharam papel de relevo, determinante mesmo, mas que no fim viram melhorada em nada a sua condição social, tendo apenas como dizia um dos ideólogo desta camada mudado apenas o seu pressor- tinham passado do jugo dos reis dos reis e dos clero para o da burguesia. No contexto do romantismo como não poderia deixar de ser registaram-se formas próprias de concepção de história. A nível da investigação histórica, os historiadores românticos prestam particular atenção ao passado especialmente a idade media, vista por todos um momento particular embora por razoes diferentes. Enquanto para os conservadores ela é o centro das virtudes, o momento em que se instalou o regime ideias, para os liberais tinha sido o período do início da constituição da classe e da sociedade burguesa. Na época romântica há também a destacar a adaptação de novos objectos de estudos em história abandonando-se a história que trata exclusivamente dos factos políticos e individuais e iniciando outra que considera também os ideológicos e mentais e que se preocupa com o conhecimento das sociedades e das suas instituições bem como outros povos, civilizações e costumes. As metodologias tiveram igualmente inovação na época romântica com o surgimento do método científico assente no elevado espírito de rigor, de prudência, de reserva que pressupõe um tratamento cuidado dos factos antes de proceder a generalizações. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 50 4.3.2. Representantes da história Romântica Francois Guizot (1787-1874) Debruçando-se sobre o facto histórico a respeito do que a apresenta uma ideia mais ampla considerando que não é apenas o acontecimento que deve ser encarado como tal, mas também a relação entre os acontecimentos. Afirma por outro lado Guizot, que o facto histórico não deve ser limitado ao político mais instintivo ao facto da civilização. Augustin Thierry (1795-1856) Luta pela substituição da históriados grandes e dos príncipes pela das massas. Peca por ser pouco rigoroso na crítica das fontes. Jules Michelet (1798-1874) é o precursor da actual “história total”. Presta atenção especial aos factos económico-sociais, culturais, religiosos, e psicológicos. Alexandre Herculano – Seguiu o caminho de Guizot e Thierry. Dá grande importância a sociedade e a valoração do povo trabalhador. Procurou, no lugar da história dos indivíduos e peripécias, fazer a história da colectividade através das instituições, do direito, sentimentos colectivos, relações políticas entre as diversas formações e classes sociais. Sumário O romantismo reflectiu em si as várias camadas sociais envolvidas na Revolução Francesa, assim destacaram-se três tendências/ direcções distintas no seio da sociedade: o romantismo conservador, o romantismo liberal e o romantismo socialista. No contexto do romantismo registaram-se formas próprias de concepção de história, os historiadores românticos prestam particular atenção ao passado especialmente a idade media, vista por todos um momento particular embora por razoes diferentes. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 51 42. Descrever o contexto politico do século XVIII. 43. Descreva o papel da Revolução Francesa para a emergência da historiografia romântica. 44. Caracteriza as principais correntes da historiografia romântica. 45. Quais são as principais inovações da historiografia romântica no contexto de produção histórica? 46. Nomeie os principais representantes da historiografia romântica. Respostas: 42. Rever a introdução desta unidade temática (paginas 47 e 48). 43. Rever o 1º e 2º parágrafo do desenvolvimento desta unidade temática (pagina 48); 44. Rever do 1º ao 3º parágrafo da página 49; 45. Rever o penúltimo e último parágrafo da página 49 46. Rever a página 50; UNIDADE Temática 4.4. Historiografia Positivista Introdução O positivismo surgiu no âmbito da euforia científica do século XIX tendo como principal teórico filósofo Alemão Auguste Comte (1798 – 1857). Surge na altura, e sob impulso, do triunfo da Burguesia, do regime parlamentar, da elite e da fortuna; e no período do impasse entre o idealismo e o materialismo pré-marxista. O positivismo admitia a relatividade do conhecimento, negava expressamente a possibilidade do conhecimento absoluto. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 52 Objectivos específicos Descrever o contexto científico do surgimento do positivismo; Explicar a principal tese do positivismo; Identificar o principal ideólogo do positivismo; Apresentar as limitações do positivismo. Desenvolvimento Tentando resolver o conflito que se instalara entre os idealistas e os materialistas, em que os primeiros defendiam a primazia do espírito sobre a natureza e a evolução autónoma daquela, enquanto os materialistas advogavam o contrário, Comte avançou uma ideia segundo a qual não existe conhecimento absoluto. Admitindo sempre a existência de uma área incognoscível vedada à razão humana, sugere que apenas os fenómenos são cognoscíveis. Portanto Positivismo Comtiano restringe os conhecimentos aos fenómenos e às relações entre os fenómenos. Como dizia A. Comte: “ Não podemos conhecer o que esta para além da experiencia, e as reivindicações metafísicas quanto ao conhecimento de inobserváveis “essências” reais e de “causas finais” são pretensões sem nenhuma garantia. O modelo de investigação, em todas as esferas deve portanto ser o dos processos adaptados pelas ciências empíricas particulares, cujo objectivo único é descobrir as regras que governam a sucessão e a coexistência de fenómenos”. É a este sistema, que defende a relatividade do conhecimento em oposição ao conhecimento absoluto e é pelo objectivismo em oposição ao subjectivismo, que Comte chamou Positivismo. A análise de Comte alastrou-se para o campo da sociedade, sustentando que a evolução da humanidade tinha conhecido três etapas correspondentes a outros tantos estádios de desenvolvimento do intelecto humano. 1° O estado teológico - em que as causas dos fenómenos eram atribuídos a Deus ou aos Deuses, que corresponde politicamente ao estado Teocrático; ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 53 2° O estado metafísico - em que as causas dos fenómenos eram vagas ou imaginárias, politicamente conotado com o estado Anárquico; 3° O Estado positivo no qual os fenómenos têm causas naturais e que corresponde ao estado Sociocrático. 4.4.1. Historiografia Positivista Inspirou-se na noção positivista de ciências da natureza. Para eles o processo histórico era idêntico ao processo natural, por isso os métodos das ciências da natureza eram aplicáveis à interpretação da história. Corresponde a dizer que os historiadores positivistas privilegiaram a determinação dos factos, pois segundo a sua ideia que só os fenómenos são cognoscíveis este era o único caminho para se chegar ao conhecimento. Portanto o aspecto dominante da historiografia positivista foi a sua tendência de confundir o conhecimento histórico coma recolha e classificação dos factos, procurando depois o historiador formular leis de evolução histórica da humanidade e estabelecer em seguida os factos com rigor crítico dogmático. Assim o que os positivistas produziram foi acima de tudo um conhecimento histórico pormenorizado resultante de um exame cuidado das fontes. A consciência histórica passou a se identificar com o escrúpulo infinito em relação a todo o facto isolado, o que conduz a uma história assente na monografia. De ponto de vista metodológico privilegiou-se a compilação acompanhada de uma busca constante de fontes sujeitas, depois a um rigoroso exame crítico. Os positivistas consideravam que não era trabalho do historiador estabelecer as relações entre os factos, mas sim dos sociólogo, que aparecia como um super-historiador que fazia ascender a história à categoria de ciência. Embora se possam fazer inúmeras críticas aos positivistas reconhece- se nas suas ideias importantes contributos para a ciência histórica. Podemos a este respeito mencionar a ideia de que a sociedade humana constitui o objecto de estudo de investigação científica como qualquer outro, a ser compreendido a luz de leis verificáveis em correlação com os factos observados. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 54 Também teve mérito ao reivindicar a interpretação dos chamados fenómenos psíquicos ou mentais. Outro ideal positivista de grande valor histórico é a sua perspectiva colectivista e a sua convicção de que as forças sociais e intelectuais básicas constituem a verdadeira determinante da evolução histórica, uma vez que a eficiência da legislação e da iniciativa política dependem do grau em que se adaptam a tais forças. Na historiografia positivista critica-se particularmente a ânsia de encontrar leis, o realce exaustivo das fontes limitando demasiado o papel interpretativo do historiador na construção histórica. Para além disso é uma história que privilegia os aspectos institucionais e políticos. Critica-se nela igualmente o facto de ser uma história que trabalha a nível de eventos e do tempo curto em detrimento das estruturas edas conjunturas (sobre as dimensões do tempo histórico falaremos mais a frentes). A acepção positivista do facto histórico é também questionável. 4.4.2. Os historiadores positivistas Ernest Renan (1823-1892) – Tentou dar uma explicação racional aos milagres referidos na tradição cristã. Hipolite Taine (1828-1893) – Atribuiu importância aos factos económicos mas deixa-se levar pela sua preferência pela aristocracia. Para além disso confia em fontes suspeitas. Fustel de Coulanges (1830-1889) – Procura explicar a estrutura das sociedades antigas só pelo facto religioso. Limita a crítica história ao estudo minucioso e imparcial dos documentos apesar de não se preocupar com a origem e a credibilidade das fontes narrativas. Para ele “ a historia não é uma arte, é uma pura ciência”. Consiste como qualquer outra ciência em verificar os factos, analisa-los, aproxima-los, em anotar o elo duns com os outros. Sua única ambição é ver bem os factos e compreende-los com exactidão. Fustel crê que não se pode ser um verdadeiro historiador sem independência de espírito. Sumário Nesta Unidade temática 4.4 discutimos as características e principais ideias da historiografia positivista onde constatamos que: ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 55 Para os historiadores positivistas o processo histórico era idêntico ao processo natural, por isso os métodos das ciências da natureza eram aplicáveis à interpretação da história. O aspecto dominante desta historiografia foi a sua tendência de confundir o conhecimento histórico com a recolha e classificação dos factos, procurando depois o historiador formular leis de evolução histórica da humanidade. Por isso, do ponto de vista metodológico privilegiou-se a compilação acompanhada de uma busca constante de fontes sujeitas, depois a um rigoroso exame crítico. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 47. Nomeie o principal teórico do positivismo. 48. Em que contexto surgiu o positivismo? 49. Apresenta as principais etapas da evolução da sociedade segundo Comte? 50. Qual é o aspecto dominante da historiografia positivista? 51. Descreve o papel do historiador na visão positivista? 52. Quais são as críticas que se podem fazer à historiografia positivista? Respostas: 47. Rever o 1º parágrafo da introdução desta unidade temática (pagina 51). 48. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento desta unidade temática (página 52); 49. Rever o último parágrafo da página 52. 50. Rever o 2º paragrafo do ponto 4.4.1 (pagina 53); 51. Rever o 2º paragrafo do ponto 4.4.1 (pagina 53); 52. Rever o 2º paragrafo da página 54. UNIDADE Temática 4.5. Historiografia Marxista Introdução A historiografia marxista teve Marx e Engels como seus principais teóricos. Partindo do princípio de que a importância histórica das actividades humanas deve ser avaliada de acordo com a importância do papel que essas actividades ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 56 desempenham nos processos de sobrevivência, o marxismo procedeu a divisão geral da história da humanidade em períodos, adoptando como critério, a evolução dos modos de produção. Contrariando a filosofia dominante na época que dava primazia às ideias, o marxismo vai privilegiar a matéria, por isso, é também conhecido por materialismo histórico. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Identificar o principal ideólogo da historiografia Marxista; Explicar a principal tese de Marx para evolução das sociedades; Descrever o contexto socioeconómico do surgimento da historiografia Marxista; Explicar os factores que contribuíram para a fraca influência da historiografia Marxista; Indicar os principais historiadores marxistas. Desenvolvimento O socialismo científico foi fundado por Karl Marx (1818-1883) e Frederich Engels (1816-1895) que foram os seus maiores representantes no século XIX. O contexto do seu surgimento é denominado de luta entre o capital e o trabalho, pela exploração da mão-de-obra e, consequentemente, por revoltas e lutas armadas. É igualmente momento da expansão da revolução industrial e do capitalismo, do triunfo dos movimentos nacionalistas, das ideias autonomistas dos povos, do sindicalismo. As ideias de Marx e Engels foram no essencial produto da sua tentativa de compreensão e explicação dos fenómenos do seu tempo, que segundo Marx dá o produto e expressão da luta de classes entre o proletariado e a burguesia. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 57 O pensamento de Marx não foi uma inovação, mas sim a continuação e sobretudo o melhoramento e crítica de ideias já avançadas por figuras como John Ball, Thomas More, Feuerbach, Rousseau, Hegel, Darwim, os socialistas utópicos, etc. Sem menosprezar os outros predecessores de Marx, Hegel foi quem, com as suas ideias, impulsionou particularmente o pensamento marxista, o socialismo cientifico. Criticando Hegel, que defendia que todo o processo histórico é uma transformação mudanças das vontades humanas que se exprimem pela acção, Marx considerou que também as formas de vida, que se exprimem as ideias, se transformam modificando estas. Dai concluiu que é a realidade exterior que cabe o papel essencial e dinâmico sendo, por isso, as realidades económicas a força motriz do processo histórico. Para Marx é a realidade económica que determina as relações de produção que por sua vez geram as relações sociais específicas, que movidas por interesses anatagonicos conferem o processo histórico a sua própria dinâmica de luta de classes. 4.5.1 A concepção marxista da Historia A concepção marxista tem como base o processo produtivo e a compreensão da forma de intercâmbio relacionada e criada por este modo de produção. Tenta explicar as várias produções teoréticas e as várias formas de consciência, de religião, de filosofia, de moral, a partir da sociedade, o que permite, evidentemente, representar a coisa na sua totalidade. A concepção marxista histórica, não explica a prática a partir da ideia, mas a formação das ideias a partir da prática material. Deste modo entende-se que não é a crítica mas a revolução, a força impulsionadora da história e bem assim da religião, da filosofia e das demais teorias. Do exposto acima surge que para os marxistas a historia das sociedades humanas consiste numa sucessão de modos de produção – esclavagismo, feudalismo, capitalismo – no seio de cada um dos quais a estrutura económica impõe-se à super-estrutura jurídica, política ideologia, embora haja interacção entre todos estes factores, pois a história é globalizante. A passagem de um modo de produção para o ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 58 outro resulta da luta de classes – contradição sempre presente quando as forças produtivas entram em choque com as relações de produção. Mostra portanto que as circunstancias fazem os homens, tanto como os homens fazem as circunstancia. Pois bem a concepção marxista de história alarga o objecto de estudo da história pois implica estudo das condições materiais de existência dos homens e da existência das técnicas e de desenvolvimento económico no contexto global das relações industriais. Pressupõe também o estudo do papel das massas no processo histórico. Vários subsídios ao nível da metodologiaforam legados pelos marxistas a história moderna. Os marxistas deixaram de se limitar a simples descrição para passar a contemplar no seu trabalho a investigação de processos sociais e económicos mais complexos e de maior amplitude; introduziram uma nova tendência de história – a história global, que abarca diferentes aspectos da vida social (económica, politica, mental) e que sobrevaloriza as estruturas sobre os acontecimentos, o colectivo sobre o individual, o quotidiano sobre o acidental. O marxismo iniciou igualmente uma nova história problemática, interdisciplinar, apoiada na longa duração e numa perspectiva global. Apesar do seu papel inegável mérito a concepção marxista de história não teve inserção e muito menos influenciou o pensamento historiográfico do seu tempo. A razão disso é que o marxismo mais do que uma simples direcção de pensamento integrou igualmente a contestação dos seus autores ao sistema capitalista na altura em que o capitalismo era o modo de produção dominante, o que levou ao chamado bloqueio antimarxista. Alguns reparos devem entretanto ser feitos a história marxista: A sobrevalorização das estruturas económicas sobre os restantes que leva a que todos os fenómenos sejam explicados com base na economia; A colocação das mentalidades na super-estrutura, contrariando a actual tendência da historia que é a de colocá-las como ponto fulcral da evolução histórica. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 59 É uma história que acredita numa evolução linear, considerando um único modelo de construção do processo histórico. Tentava lutar contra a concepção capitalista da evolução da sociedade, numa fase em que o capitalismo estava consolidado e em franco desenvolvimento. Sumário Nesta Unidade temática 4.5 estudamos e discutimos a historiografia marxista no que diz respeito a origem, o principal defensor, as principais ideias bem como o seu desenvolvimento. Disto destacamos fundamentalmente que foi defendida por Karl Marx e Frederich Engels. O contexto do surgimento desta historiografia é denominado pela luta entre o capital e o trabalho, pela exploração da mão-de-obra e, consequentemente, por revoltas e lutas armadas. Foi com base neste contexto que Para Marx é a realidade económica que determina o processo histórico e a própria dinâmica de luta de classes. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 53. Em que contexto surge a Historiografia Marxista? 54. Qual é a principal tese do marxismo? 55. A concepção marxista de história não teve inserção e muito menos influenciou o pensamento historiográfico do seu tempo. Explica porquê? Respostas: 53. Rever o 1º e 2º parágrafo do desenvolvimento desta unidade temática (página 56) 54. Rever o último parágrafo da página 57; 55. Rever o último parágrafo da página 58; ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 60 TEMA – V: A Nova Concepção da Historia a partir da segunda Metade do século XX. UNIDADE Temática 5.1. A crise da História no início do seculo XX UNIDADE Temática 5.2. Os Annales e o surgimento da História Nova (1929-1946) UNIDADE Temática 5.3. História Estrutural. UNIDADE Temática 5.1. A crise da História no início do seculo XX Introdução As ciências Sociais ou humanas surgem em sua forma moderna, na segunda metade século XIX em resultado das mudanças que foram se operando no século XVIII, nomeadamente: a revolução industrial, a revolução americana de 1776 e a revolução Francesa de1789. Alguns inquietam-se com tais mudanças e desejariam conter seus efeitos; outros, que delas tiram proveito, gostariam de propiciar que a nova ordem se estabelecesse sem confrontos. Desenvolvem-se então as ciências humanas, com o objetivo de compreender e intervir na ordem social da mesma forma que as ciências naturais tentavam dominar a natureza. Surgem e desenvolvem-se assim: a ciência econômica, a ciência política, a sociologia, a psicologia, e a geografia humana. Estas ciências iriam partilhar o mesmo objecto de estudo da História. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Situar a crise da História no tempo; Descrever as causas da crise da história; Explicar as manifestações da crise da História. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 61 Desenvolvimento Nos princípios do século XIX a história era dona e senhora do conhecimento humano, uma vez que por privilegiar os aspectos políticos, institucionais e culturais, como era característico da história positivista, tornou-se o domínio preferido dos dirigentes, o único modelo susceptível de fornecer normas de acção. A partir do século XX a história começou a perder importância devido a vários factores: 1- A crítica feita por novas correntes historiográficas a história tradicional. O materialismo histórico que trouxe uma nova concepção, materialista, de história acentuando o papel das massas e não dos indivíduos, a importância da história estrutural e de longa duração em detrimento daquela que privilegia os aspectos particulares e factuais, o estudos das economias e das sociedades no lugar dos aspectos políticos, a descontinuidade do processo histórico e o papel de luta de classes. Teoria da revisão da síntese histórica “a revué de sinthese historique” fundada por Henri Berri, em 1900 marcou a ruptura do positivismo e o historicismo. A visão analítica, factual e monográfica foi substituída pela síntese; Em 1903 François Simiand denunciou a história politica, individual e cronológica. 2- As novas correntes de pensamento Os estudos filosóficos – que alargaram o conhecimento do homem de si mesmo; O estruturalismo – cujo surgimento alterou o conceito do homem e da própria história. 3- A evolução científica da época – a rápida evolução dos conhecimentos científicos, que agora se renovam constantemente, revolucionam os quadros do saber estabelecido que assim deixa de ser um facto acabado para ser algo em constante mudança, como os homens. 4- A emergência das ciências sociais e humanas A história começa a perder na segunda metade do século XIX o exclusivo do conhecimento do homem devido a individualização e a institucionalização, como ciências, de novos campos de análise e compreensão dos fenómenos sociais e humanos: sociologia, Geografia humana, Antropologia social e cultural, etc. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 62 O aparecimento destas ciências e a sua entrada no campo que antes era exclusivo da história veio colocar aos historiadores três novos problemas, nomeadamente o da definição do conteúdo específico da história, o da reformulação da sua função objectiva nas sociedades modernas e o da metodologia. 5.1.1. As manifestações da crise da Historia Dissemos que a história entrou num momento de crise nos princípios do século porque a partir desta altura e na sequência dos factores mencionados acima a história deixa de monopolizar o conhecimento do homem e das civilizações, ou seja, neste momento já não é só a história que nos fornece todas as informações relativas ao homem. A crise se também manifesta pelo facto de certas questões que antes eram tratadas em história terem passado para outros domínios do conhecimento, o que corresponde a dizer que foram arrancados da história certos conteúdos. Para além disso a históriaperdeu credibilidade por se atrasar na adopção de uma metodologia científica própria e a sua função específica começou a ser contestada. Em alguns países a História chegou mesmo a ser retirada nos curricula escolares pelo facto de ser generalista e sem aspecto específico no homem que era também objecto de outras ciências sociais. Sumário Nesta Unidade temática 5.1 discutimos fundamentalmente a crise da História. Neste contexto é importante reter que a História até princípios do seculo XIX conservava o monopólio do conhecimento do homem, mas este papel iria perder no final do mesmo seculo, devido principalmente a emergência de novas ciências sociais que também tinham o homem como objecto de estudo. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 63 56. Situe a crise da História no tempo. 57. Descreve os factores que conduziram à crise da História. 58. Quais foram as principais manifestações da crise da História? Respostas: 56. Rever o 1º e 2º parágrafo do desenvolvimento desta unidade temática (página 61) 57. Rever do 3º ao ultimo parágrafo da página 61. 58. Rever o ponto 5.1.1(pagina 62). UNIDADE Temática 5.2. Os Annales e o surgimento da História Nova (1929-1946) Introdução A História ganhou muito com o contacto com outras ciências humanas e sociais. É deste contacto que sai a “História Nova”. Mas tal contacto levanta problemas, quer ao nível dos campos de observação, quer ao nível dos métodos, quer ao nível mais geral da relação entre as ciências humanas em que existem tentativas de “domínio” de umas ciências sociais por outras. Dado que todas elas têm como objecto o conhecimento do homem, segundo perspectivas e métodos próprios, a interdisciplinaridade das ciências sociais tem sido extremamente frutuosa na tentativa de compreensão dos problemas humanos. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Identificar os meios usados pela História para superar a crise; Identificar os criadores da revista Annales; Descrever o contributo da revista Annales para superar a crise; Descrever a concepção histórica da “História Nova”. Desenvolvimento ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 64 Nos princípios do século XX, como já dissemos anteriormente, viveu-se um momento de contestação a história tradicional e procura de novos caminhos a nível de pensamento. Impunha-se uma reformulação o que começou com a criação da revista Annales por Lucien Febre e Marc Bloch em 1929. Nos Annales foram publicadas varias ideias novas sobre a história, produzidas a partir da evolução historiográfica dos séculos XVIII e XIX, tornando-se esta revista uma verdadeira escola historiográfica. Até 1946 os Annales tiveram nos seus fundadores os maiores impulsionadores o que não significa que tenham trabalhado totalmente sozinhos nesta transformação da história. Durante esta fase ocorreram importantes modificações na ciência histórica. Um dos pressupostos básicos da história dos Annales era a luta contra a historiografia positivista tradicional. Era portanto a luta contra a história politica e individualizada, factual e superficial, opondo a esta história a dos homens e populações totais, económica e social que se pretendia elevar a uma história comparada das civilizações. Buscava-se uma história explicativa, problemática e não automática, profunda e total. A história dos Annales propõe um alargamento do território do historiador ou seja uma historia total, global. Recusa a selecção simples dos factos e a valorização apenas dos referentes aos dirigentes da vida pública ou a classe dominante. Considera importante todos os factos que influam nas condições basilares de existência da sociedade modelando atitudes de vários grupos na vida real dos seus componentes. É portanto uma história de todos os homens ou simplesmente a história humana. O desejo dos Annales sobre o alcance da história está bem expresso na seguinte frase de Marc Bloch: “A verdadeira história é uma história Universal”. Os Annales apresentam uma nova visão de documento histórico. Para eles o documento histórico não é só o escrito, mas também o figurado, o vestígio arqueológico, a informação oral, etc. Tudo o que pode informar sobre o passado dos homens. Finalmente, os Annales têm também uma atitude diferente da dos positivistas no que diz respeito ao papel do historiado, pois para eles tem um papel activo na construção histórica. Para os Annales o facto nunca existe, senão num certo contexto e que o acontecimento só chega a categoria de facto histórico depois que o historiador o tiver conduzido a isso integrando-o numa determinada ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 65 teia de relações. Por isso o facto histórico é uma criação do historiador. Sendo assim, embora sem os exageros dos historicistas, os Annales conferem ao historiador um papel importante na construção do conhecimento histórico. Também lutaram por uma história que não se limitasse a descrever os acontecimentos mas que procurasse resolver ou pelo menos colocar problemas pela história -problema, para eles a grande história. 5.2.1. A evolução da historiografia a partir de 1946 A partir de 1946 a revista annales alargou os seus horizontes já com L. Febre sozinho a frente da direcção (Marc Bloch foi assassinado pelos Nazis em 1944) mas contando com uma valiosa colaboração de Robert Mandrou, Marc Ferro, Cherles Morazé, Fernand Braudel, Vitorino Magalhães Godinho, etc. A “Historia nova”, procura estruturar-se melhor, definir os seus campos, a sua problemática, os seus métodos e técnicas (…) Por todos os países, vão surgindo novas maneiras de ver a história, adaptadas muitas vezes as condições e problemáticas nacionais. Dai a multiplicidade de obras que vão saindo a lume sobre metodologia e epistemologia novas da história, mas também novas obras sobre problemas até há pouco tempo desprezadas pelos historiadores: a família, o amor, as festas populares, o clima etc.” Portanto a história regista a partir de 1946 uma reformulação: (i) a nível de objecto de estudo – com a adopção de novos objectos como a família, a sexualidade, a morte, a delinquência, a religião popular etc. Até ai reservados a outras ciências sociais. Também busca novos heróis: marginais, mulheres, camponeses, operários, etc. Tudo o que diz respeito ao homem é agora matéria de estudo em história. (ii) a nível metodológico – aperfeiçoando o seu método de investigação e analise e encontrar novas técnicas e meios de investigação podendo assim usar muitas e novas fontes históricas, o que se deveu a evolução cientifica da época, em geral, e ao aperfeiçoamento das ciências auxiliares da historia em particular. Deste desenvolvimento resulta um alargamento no âmbito cronológico da história. Surge assim na história nova há uma espécie de dialéctica entre o passado e o presente, em que se procura compreender o presente pelo passado e o passado pelo presente. (iii) no campo geográfico – Passando a defender a universalidade em oposição ao eurocentrismo. A história ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 66 nova nega a sobrevalorização de certos povos minimizando outros. É também contra a análise individualizada dos diferentes povos propondo a integração das sociedades num todo, destacando-se claramenteos delineamentos, marcando as relações e as inter- influencias, as condições de isolamento, discernindo o centro donde partem as invenções numa sucessão cronológica, daqueles que as recebem. Sumário Nesta Unidade temática 5.2 descrevemos as tentativas de superação da crise da História através da revista Annales e mais tarde a História Nova. A partir de 1946 a revista annales alargou os seus horizontes inaugurando uma nova era que ficou conhecida como “Historia nova”. A História nova, procura estruturar-se melhor, definir os seus campos, a sua problemática, os seus métodos e técnicas. Tudo o que diz respeito ao homem é agora matéria de estudo em história. Com estes avanços a História reconquistou o seu espaço ao definir como objecto de estudo o homem no tempo e espaço abordando aspectos económicos, culturais, políticos, etc.. Por isso assumiu-se como ciência de síntese e as outras ciências sociais passaram a ser ciências auxiliares da História, apelando à interdisciplinaridade. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 59. Na unidade anterior ficou claro que a Historia entrou em crise com a emergência de novas ciências sociais. Quais foram os meios usados pela história para superar a crise? 60. Quem foi o fundador da revista annales?. 61. Em que contexto aparece a História Nova? 62. Qual foi o contributo da Historia Nova para Historia Global? 63. Qual foi a concepção histórica da História Nova? Respostas: 59. Rever as páginas 64 e 65. 60. Rever o 1º parágrafo da página 64. 61. Rever o 1º e 2º parágrafo do ponto 5.2.1 (página 65). 62. Rever os três últimos parágrafos da página 65. 63. Rever o 3º paragrafo do ponto 5.2.1 (pagina 65). ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 67 UNIDADE Temática 5.3. Historia Estrutural Introdução O Estruturalismo, uma outra visão da História Nova, é produto do princípio da totalidade, segundo o qual, a realidade se encontra totalmente integrada, não havendo nada que não faça parte do todo. O alargamento do objecto de estudo da História, obriga com frequência à interdisciplinaridade na perspectiva a realidade na sua totalidade. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Identificar o principal teórico da História Estrutural; Caracterizar a História Estrutural; Descrever as principais limitações do estruturalismo; Descrever as tentativas da História nova para superar as críticas a que estava sujeita a História. Desenvolvimento Após a morte de Lucien Febre em 1956, os annales passaram para a direcção de Fernand Braudel e iniciou-se, uma nova etapa na evolução da história particularmente desde que em 1956 Braudel publicou o seu artigo “Historia e ciências sociais: a longa duração”contendo as linhas mestras da actual etapa da história nova: a história estrutural baseada na longa duração. A Estrutura designa particularmente as formas e as actividades relativamente permanentes nas relações de proporções, nas dimensões relativas, nas relações entre as forças de produção. Em geral as estruturas envolvem lentamente, mas certas modificações podem tomar a forma de mutações violentas como por exemplo uma inovação técnica, uma revolução política, etc. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 68 5.3.1. Características da Historia Estrutural A recusa da concepção positivista do facto singular como objectivo principal do conhecimento histórico impôs que a história recorresse a conceitos de outras ciências sociais. Neste contexto a conjuntura e a estrutura entram no âmbito da história, que agora pretende privilegiar o conjunto, as grandes massas, estar atenta as flutuações, dinâmica no tempo e no espaço. A partir desta base Braudel e o Sociólogo Gurvitch introduziram as noções de geo-história e o complexo histórico – geográfico, viria se a tornar num importante subsidio para a periodização e síntese histórica. Estas noções permitem fazer mais inteligível o que parece como caótico, integrando os acontecimentos em estrutura, num espaço determinado. 1) Introduz-se um novo conceito de tempo histórico, recusando o tratamento dado ao tempo pelas correntes tradicionais. Braudel sugere que o tempo histórico deve ser medido de acordo com a duração, sequencia, permanência ou mudança dos fenómenos e não pela sequência do calendário pois, nem sempre o tempo social coincide com o tempo cronológico. Partindo desta base Braudel propõe um modelo triplo de duração histórica: - Um tempo curto (o tempo dos acontecimentos se ocupa com as ocorrências de superfície que não exige nem investigação nem analise profunda; - A média duração estuda as pequenas variações cíclicas as conjunturas. - A longa duração estuda as grandes repetições ou as grandes permanências. É o tempo das esturraras ou a historia estrutural. 2) A aproximação das ciências sociais e o valor da interdisciplinaridade. O ideal de historia total e a teoria de longa duração levaram a historia a uma maior aproximação com as ciências humanas e sociais, a interdisciplinaridade, a fim de captar o social na sai totalidade. De facto seria impensável fazer-se o tipo de história que se defende nesta altura sem o recurso a outros campos do saber. Assim a história tem ligação com a Antropologia, sociologia, economia, geografia, psicologia, linguística, ciências da vida, matemática, etc. 3) A revolução nas metodologias - a especialização e o trabalho em equipe ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 69 A historia total, global, interdisciplinar e comparativa que se pretende na historia nova impõe cada vez a especialização, apoiada e completada, por um trabalho de equipe interdisciplinar e integrador. - A crítica a história nova Não obstante aos progressos registados ao longo dos séculos de aperfeiçoamentos a todos níveis continuam em pleno século XX a se apontar incorrecções na ciência histórica. Aliás isso não é de espantar pois todo o conhecimento é relativo e, nunca se constituiu como um dado feito, esta em constante reformulação. Entre as limitações da história estrutural aponta-se em primeiro lugar a falta de originalidade, afirmando, os críticos, que os annales ao atribuírem a dignidade histórica a outros heróis e a outros campos, sem mudar a perspectiva, sem fizeram mas do que retirar esses elementos a outras ciências, portanto a nova historia não tem nada de original. Na continuação das críticas considera-se que a história nova, ao mesmo tempo que suscitou o gosto pela história aproveitou-se dela para fazer da história uma forma de literatura, um espectáculo enquanto o historiador se transformava num encenador. Consideram assim que a história feita como entendiam os historiadores da escola nova acabou perdendo rigor científico passando a partir da intriga, da “conversa de café”. Mas não terminaram por aqui as criticas. Considera-se igualmente que a tentativa de explicação da problemática do passado, conduz o historiador a reflectir, na suas obras, mas nos problemas do presente, de que é portador e com os quais se identifica do que nos da época sobre que se debruça. Assim a história perde objectividade. Outros aspectos criticados na historia nova são a dispersão de atenção do historiador pelos campos da sociedade, economia, psicologia etc. e a consequente especialização que, dizem, leva uma imagem de uma historia em fatias, aos bocados, devido a muitos trabalhos que passam a ser necessários na historia nova e; perspectiva demasiado sincronia da históriaestrutural e o desprezo pelo acontecimento e pela diacronia que se entende como movimentos que desvirtuam o sentido da historia. - As novas propostas As críticas à história nova foram acompanhadas pelo surgimento, nos anos setenta, na Inglaterra e EUA, de novas correntes historiográficas, por um lado herdeiras da história nova e, por outro lado, reagindo contra aquilo que se pode considerar limitações dessa história. Estas correntes dão corpo a uma nova perspectiva histórica chamada novo Estruturalismo. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 70 5.3.2. O novo estruturalismo Entre as suas ideias chave: (i) O retorno à narrativa e a divisão linear do discurso histórico; (ii) O progresso a valorização do acontecimento, agora integrado sob todos os prismas, no seu próprio tempo; (iii) O retorno à história política. O novo estruturalismo é por uma nova noção de tempo que nega a tradicional, que o coloca como pano de fundo dos acontecimentos, propondo que se encare como parte intrínseca do acontecimento. Assim segue-se a princípio a tripla dimensão iniciada por Braudel, mas considera-se que o historiador deve ser atencioso no seu tratamento evitando sobrevalorizar uns e menosprezar outros. Sumário Nesta Unidade temática 5.3 estudamos e discutimos a Historia Estrutural onde podemos reter principalmente as ideias que se seguem. A história estrutural foi teorizada principalmente por Fernan Braudel e defendia que a realidade histórica é feita de realidades de duração diferente: a longa duração das estruturas, a média duração das conjunturas e a curta duração dos factos. Trouxe igualmente a ideia de História total em oposição à História compartimentada em social, económica, etc.. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 71 64. Quem foi o fundador da História Estrutural? 65. O que entende por conjuntura e Estrutura? 66. O que entende por História total? 67. A História Estrutural, tal como as outras correntes, foi muito criticada. Quais são as principais críticas a que estava sujeita. Respostas: 64. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento desta unidade temática (pagina 67) 65. Rever o 1º parágrafo do ponto 5.3.1 página 68. 66. Rever os 3 últimos parágrafos da pagina 68. 67. Rever a página 69. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 72 TEMA – 6: A Historiografia Africana e Moçambicana UNIDADE Temática 6.1. Historiografia Africana UNIDADE Temática 6.2. Historiografia Moçambicana UNIDADE Temática 6.1: Evolução da historiografia africana Introdução Depois da análise historiográfica feita desde a antiguidade ate a época contemporânea, tratando da Europa e parte do oriente, passamos à análise da historiografia africana. Diferentemente das outras historiografias, a concepção africana da História foi sempre questionada, ou mesmo considerada inexistente. A visão eurocêntrica da história resultou da convergência do Renascimento, do Iluminismo e da evolução científica e industrial. Partindo do que chamavam herança greco-romana única os eurocentristas julgavam os objectivos, os conhecimentos, poder e riqueza da sua sociedade preponderantes e que como tal a civilização europeia devia se sobrepor as demais. Consequentemente a sua Historia era chave de todo o conhecimento e dos outros em especial a Africa sem nenhuma importância. Hegel (1770-1813) definiu explicitamente essa posição em sua Filosofia das Historia, que contem afirmações como as que se sequem: “A África não é um continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem desenvolvimento. Os povos negros são incapazes de se desenvolver e de receber uma educação. Eles sempre foram tal como os vemos hoje”. Este ponto de vista manteve-se no século XIX e tem ainda alguns adeptos em pleno segundo XX. Portanto, o que se pretende nesta abordagem é uma tentativa de mergulhar nos imensos problemas ligados a elaborações e concepção da história como ciência em África. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 73 Objectivos específicos Periodizar a Historiografia Africana; Identificar as primeiras literaturas históricas em África. Identificar os principais historiadores africanos; Descrever as principais limitações da historiografia africa; Identificar as principais fontes para a Historiografia Africana. Desenvolvimento O homem é um animal histórico. O homem africano não escapa a esta definição. Como em toda a parte, ele faz sua história e tem uma concepção dessa história. No plano dos fatos, as obras e as provas de sua capacidade criativa estão ai sob nossos olhos em formas de práticas agrárias, direitos consuetudinários, organizações políticas, produções artísticas, celebrações religiosas e refinados códigos de etiqueta. Desde o aparecimento dos primeiros homens, os Africanos criaram ao longo de milénios uma sociedade autónoma que unicamente pela sua vitalidade é testemunha do génio histórico de seus autores. Sendo a consciência histórica um reflexo de cada sociedade, e mesmo de cada fase significativa na evolução de cada sociedade, compreender-se-á que a concepção que os Africanos possuem sobre sua própria história e de história em geral seja marcada por seu singular desenvolvimento. O simples fato do isolamento das sociedades é suficiente para condicionar estreitamente a visão histórica. Os primeiros trabalhos sobre a Historia da África são tão antigos quanto o início da história escrita. Os primeiros trabalhos sobre a história de África surgiram praticamente com o surgimento da escrita. Entretanto esses são referentes ao norte de África que integrava as civilizações do velho mundo mediterrânico e islâmica medieval. Entre os primeiros historiadores da África, encontra-se um importante e grande historiador no sentido amplo do termo: referimo-nos a Ibn Khaldun (1332-1406) que, se fosse mais conhecido pelos especialistas ocidentais, poderia legitimamente roubar de Heródoto o título de “pai da Historia”. Ibn Khaldun era norte-Africano nascido em Túnis. Uma parte de sua obra é consagrada a África e às suas relações com outros povos do Mediterrâneo e do Oriente Próximo. Da compreensão dessas relações ele induziu uma concepção que faz da Historia um fenómeno cíclico, no qual os nômades das estepes e dos desertos conquistaram as terras aráveis dos povos sedentários e ai estabeleceram vários reinos, que, depois de cerca de três ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 74 gerações, perderam sua vitalidade e se tornaram vítimas de novas invasões de nômades Ibn khaldun distingue-se de seus contemporâneos não somente por ter conhecido uma filosofia da história, mas também – e talvez principalmente – por não ter, como os demais atribuído o mesmo peso e o mesmo valor a todo o fragmento de informação que pudesse encontrar sobre o passado; acredita que era preciso aproximar-se da verdade passo a passo, através da crítica e da comparação. Na África ocidental, norte de Sudão e África Oriental as melhores informações são de autores árabes que lá passaram ou se tinham instalado para o comércio. Dentre eles se destacam al-Mas´udi (que morreupor volta de +950), al-Bakri (1029-1094), al-Idrisi (1154), Yakut (cerca de 1200), Abu´Fida (1273-1331), al´Umari (1301-1349), Ibn Battuta (1304-1369) e Hassan Ibn Mohammad al-Wuzza´n (conhecido na Europa pelo nome de Leão, o Africano, 1494-1552 aproximadamente) são de grande importância para reconstrução da história de África, em particular do Sudão ocidental e central, durante o período compreendido entre os séculos IX e XV. O essencial da contribuição de cada um deles consiste numa descrição das regiões da África a partir das informações que puderam colher na época em que escreveram. Quando o Islã atravessou o Saara e se expandiu ao longo da costa ocidental trazendo consigo a escrita árabe, os negros africanos passaram a utilizar textos escritos ao lado dos documentos orais do que já dispunham para conservar sua história. Os mais elaborados dentre esses primeiros exemplos de obras de Historia actualmente conhecidas são o Ta´rikh al-sudan e o Tar´rikh el –Fattash, ambos escritos em Tombucto principalmente no século XVII. É importante distinguir os Tar’ikh de Tombuctu de outras obras históricas escritas em árabe para os africanos, tais como as conhecidas pelos nomes de Crónica de Kano e Cronica de Kilwa. Estes últimos nos oferecem somente anotações directas, por escrito, de tradições que até então eram, sem dúvida alguma, transmitidas oralmente, embora uma versão da Cronica de Kilwa pareça ter sido utilizada pelo historiador português de Barros no século XVI. A África tropical continuava fechada, sem conhecer a escrita com o seu passado conservando-se e transmitindo-se por via da oralidade e da experiencia. Nesta região o estudo foi bastante limitado e as informações de autores antigos para além de raras, não inspiram muita confiança. Só na época clássica as primeiras fontes credíveis sobre o mar vermelho e o indico escritas por mercadores. No século XV os europeus começaram o contacto com a costa africana dando origem à produção de obras literárias de valor histórico. Quatro regiões da África tropical foram ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 75 objecto de particular atenção: a Costa da Guine na África Ocidental; a região do Baixo Zaire e de Angola; o vale do Zambeze e as terras altas vizinhas, e, por fim, a Etiopia. Nessas regiões, durante os séculos XVI e XVII, houve uma considerável penetração em direcção ao interior. Havia diferença de interesses entre os comerciantes e os missionários. Enquanto os africanos forneciam as mercadorias que os europeus desejavam comprar, como era em geral o caso da Guiné, os negociantes não se sentiam impelidos a mudar a sociedade africana; eles se contentavam em observa-la. Os missionários, ao contrário, sentiam-se obrigados a tentar alterar o que encontravam e, nessas condições, um certo grau de conhecimento da história de África poderia lhes ser útil. Na Etiópia, as bases já existiam. Podia-se apreender o gueez e aperfeiçoar seu estudo, bem como utilizar as crónicas e outros escritos nesta língua. Obras históricas sobre a Etiópia foram elaboradas por dois eminentes pioneiros entre os missionários, Pedro Paez (morto em 1622) e Manoel de Almeida (1569-1646), e uma história completa foi escrita por um dos primeiros orientalistas da Europa, Hiob Ludolf (1634-1707). No baixo vale do Congo e em Angola, assim como no vale do Zambeze e em suas imediações, os interesses comerciais eram provavelmente mais fortes que os da evangelização. Os contactos com os missionários cristãos parecem ter desempenhado um papel significativo. Assim, floresceu em Uganda uma escola importante de historiadores locais desde a época de A. Kagwa (cuja primeira obra foi publicada em 1906); ao mesmo tempo, R. C. C. Law anotou, para a região ioruba, 22 historiadores que haviam publicado trabalhos antes de 1940, em geral (como alias os autores ugandeses) em línguas nativas. A promoção de uma história de África descolonizada começa por volta de 1947, quando intelectuais africanos começaram a definir a sua concepção em relação ao passado africano e a buscar nele as fontes de uma identidade cultural negada pelo colonialismo. Estes intelectuais refinaram e ampliaram as técnicas de metodologia histórica desembaraçando-a, ao mesmo tempo, de uma serie de mitos e preconceitos subjectivos. A partir de 1948, a historiografia da África vai progressivamente se assemelhando à de qualquer outra parte do mundo. É evidente que possui problemas específicos, como a escassez relativa de fontes escritas para os períodos antigos e consequente necessidade de laçar mãos de outras fontes como a tradição oral a linguística ou a arqueologia. Mas, embora a historiografia africana tenha traduzido importantes contribuições no que diz respeito ao uso e a interpretação dessas fontes, ela não se distingue fundamentalmente da historiografia de outros países da América latina, da Ásia e da Europa que enfrentaram problemas análogos. Assim foram criadas ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 76 Universidades com departamentos de Historia marcando um novo impulso à Historia de África. As independências dos países africanos a partir da década de 1960 criaram um renovado interesse pela Africa e uma considerável curiosidade popular. A implantação da nova história de África foi obra de historiadores profissionais que fizeram dela o objecto do seu ensino e os seus escritos. O estudo da história de África constitui hoje uma actividade bem estabelecida, a cargo de especialistas de alto nível. Seu desenvolvimento ulterior será assegurado pelos intercâmbios interafricanos e pelas relações entre Universidades de África e de outras partes do mundo. Sumário Nesta Unidade temática 6.1 estudamos e discutimos a Historiografia Africana. Nesta abordagem constatamos que Diferentemente das outras historiografias, a concepção africana da História foi sempre questionada, ou mesmo considerada inexistente devido a raridade de fontes escritas referentes a períodos mais recuados. Os trabalhos mais antigos sobre a Historia da África são referentes ao norte de África que integrava as civilizações do velho mundo mediterrânico e islâmica medieval. A África tropical entrou na histórica a partir do século XV quando os europeus começaram o contacto com a costa africana dando origem à produção de obras literárias de valor histórico. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 77 68. A história africana sempre foi negada pelo Ocidente. Explica as razões. 69. Havia diferença de interesses entre os comerciantes e os missionários. Qual foi o papel dessa diferença para a produção histórica? 70. De que período datam as primeiras obras de caracter histórico em África? 71. Quais foram os principais historiadores da África antiga? 72. Qual é o principal contributo dos primeiros autores àrabes? 73. A partir do seculo XV os europeus atravessaram o Saara preocupando se com quatro regiões tropicais. Quais? 74. Apresenta as principais limitações da Historiografia africana. Respostas: 68. Rever a introdução desta unidade temática. 69. Rever o 2º parágrafo da página 75. 70. Rever o penúltimo e ultimo paragrafo da página 73. 71. Rever o ultimo parágrafo da página 73 72. Rever o 3º parágrafo da página 74. 73. Rever o ultimo parágrafo da página 74. 74. Rever o penúltimo paragrafo da página 74; UNIDADE Temática 6.2: Historiografia Moçambique Introdução Embora de diversa proveniência e qualidade, é relativamente abundante adocumentação ao dispor dos estudiosos que procuram dedicar-se à historiografia de Moçambique. Mas para que possa ser convenientemente aproveitada torna-se indispensável o seu conhecimento com suficiente pormenor. Como também exige cuidadosa ponderação e infinita paciência quer a identificação dos elementos supérfluos e indignos de confiança quer a particularização das informações respeitantes aos agrupamentos étnico- linguísticos tradicionais. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 78 Objectivos específicos Descrever a evolução das fontes para a História de Moçambique; Explicar as dificuldades da historiografia moçambicana; Descrever as principais limitações da historiografia Moçambicana. Desenvolvimento A reconstituição de certos períodos da Historia de Moçambique enferma muitas vezes de uma falta de informações escritas fiáveis ou de fontes inacessíveis aos investigadores. Deste modo, em muitos casos a informação oral acaba sendo a única fonte disponível. A literatura sobre História de Moçambique para períodos anteriores ao século XV é muito escassa exceptuando alguns relatos do seculo X dos mercadores árabes como Ibn Shahriyar e Al-Mas’udi. Estes relatos referem-se à baia de Sofala como terminar de ouro. A África tropical continuava fechada, sem conhecer a escrita com o seu passado conservando-se e transmitindo-se por via da oralidade e da experiencia. A partir do século XV, graças aos contactos com os europeus aparece uma literatura histórica que para além de raras, não inspiram muita confiança porque são da autoria dos europeus que retratavam aspectos culturais e políticos das sociedades moçambicanas. Os primeiros relatos referem-se ao vale do Zambeze e todo litoral de Moçambique como primeiros locais com quem os europeus entraram em contacto. É de grande importância para este período o “diário de bordo” da viagem de Vasco da Gama da autoria do Álvaro Velho. A maioria dos estudiosos da História de Moçambique são unanimes em reconhecer que a historiografia colonial deixou uma base fragilíssima em termos de estrutura de fontes. A documentação deste período é rica em descrições de natureza etnográfica, memoria de viajantes e legislação colonial, apresentando tendências para um registo fraco das lutas populares contra o sistema colonial, da introdução desse sistema e do seu impacto na formação social moçambicana, tornando muito difícil a reconstituição da História. Depois da segunda Guerra Mundial, as circunstancias e a atmosfera política estimularam o aparecimento de uma literatura marcada por uma rejeição da cultura colonial. São exemplos dessa tendência os poemas de Noemia de Sousa, José Craveirinha, João Dias, João Albazine etc. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 79 Com a independência nacional em 1975 os historiadores moçambicanos começam um processo sem precedentes para a produção de uma história de Moçambique descolonizado. Surgiu uma geração de estudiosos nacionais que procurou romper com a historiografia herdada do colonialismo, tentando fazer uma problematização. No contexto escolar, é o período em que se lançam as bases para a elaboração dos futuros manuais de história, o que marcou uma ruptura com o sistema de educação colonial. Como consequência, em 1978 surge o primeiro manual de história para 5ª e 6ª Classes, intitulado “África: Das origens ao século XV”. Em 1982 foi publicada a primeira obra de História de Moçambique intitulada: “História de Moçambique: Primeiras Sociedades Sedentarias e o Impacto dos mercadores (200/300 – 1886) da autoria de Historiadores ligados à Universidade Eduardo Mondlane. Dessa data em diante multiplicaram-se as publicações de historiadores nacionais focalizando eixos temáticos como por exemplo: Resistências, prazos do vale do Zambeze, tráfico de escravos, movimentos de libertação nacional entre outros. Em 1991, estudiosos ligados ao Centro de Estudos africanos publicaram uma coletânea de artigos intitulada: “ Moçambique 16 anos de Historiografia: Focos, Problemas, Metodologias, Desafios para a década de 90”. Esta obra em termos práticos apresenta os problemas que um estudioso da História de Moçambique pode enfrentar na reconstituição do processo histórico de Moçambique. Ensaia também algumas tentativas metodológicas para compensar a extrema escassez de fontes. Sumário Nesta Unidade temática 6.2 estudamos e discutimos a Historiografia Moçambicana onde retivemos o seguinte: A reconstituição de certos períodos da Historia de Moçambique enferma muitas vezes de uma falta de informações escritas fiáveis ou de fontes inacessíveis aos investigadores. Em muitos casos a informação oral acaba sendo a única fonte disponível. Com a independência nacional em 1975 os historiadores moçambicanos começam um processo sem precedentes para a produção de uma história de Moçambique descolonizado. Surgiu uma geração de estudiosos nacionais que procurou romper com a ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 80 historiografia herdada do colonialismo, tentando fazer uma problematização. Como consequencia começou a aprecer uma vasta literatura sobre a história de Moçambique Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 75. De que período datam as primeiras obras de caracter histórico em Moçambique? 76. Qual é o principal contributo dos autores coloniais? 77. Apresenta as principais limitações da Historiografia Moçambicana. Respostas: 75. Rever o 2º parágrafo do desenvolvimento desta unidade temática (pagina 78). 76. Rever o penúltimo parágrafo da página 78. 77. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento desta unidade temática (pagina 78). ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 81 Bibliografia JOSÉ, Alexandrino e MENESES, Paula Maria G. Moçambique 16 anos de Historiografia: Focos, problemas, Metodologias, Desafios para a década de 90, VOL.I Moçambique, 1991. BARROS, José D´ Assunção. O campo da História, Petrópolis, editora vozes, 2004. BLOCH, Marc. Apologia da História: ou o ofício do historiador, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BLOCH, Marc. Introdução à História, Mira-Sintra: publicações Europa- América, 1997. BOURDE, Guy e Marti, Hervé. As escolas históricas, Lisboa: publicações Europa-América, 1983. BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais, Lisboa: editorial presença, 1990. BRAUDEL, Fernand. Reflexões sobre a história, São Paulo: Martins fontes, 2002. BURKE, Peter (org). A escrita da História: novas perspectivas, São Paulo: UNESP, 1992. BURKE, Peter. A escola dos Annales, São Paulo: 2ª edição, UNESP, 1991. CARDOSO, Ciro F.. Ensaios racionalistas, Rio de Janeiro: campus, 1988. FEBVRE, Lucien. Combates pela História, Lisboa: presença, 1989. GARDINER, Patrick. Teorias da História, Lisboa: Fundaçao Calouste Gulbenkian, 1984. GOMES, Raúl Rodrigues. Introdução ao pensamento Histórico, Lisboa: livros horizonte, 1988. KI-ZERBO, J. História da África Negra I. Lisboa, Publicações Europa- América,1972. LE GOFF, Jacques (org.). A História Nova, São Paulo: Martins Fontes, 2001. MENDES, José M. Amado. História como ciência, Lisboa: Coimbra editora, 1987. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico82 RAMA, Carlos. Teoria de História, Coimbra, livraria Almedina, 1980. REIS, José Carlos. Tempo, História e Evasão, Campinas: papiros, 1994. SCHAFF, Adam. História e verdade, Lisboa: editorial estampa, 2ª edição, 1994. WEHLING, Amo. A invenção da História – estudos sobre Historicismo, Rio de janiro: Uffi Gama Filho, 1994. WHITE, hayden. Meta-história. A imaginação Histórica do século XIX, São Paulo: EDUSP, 1992.