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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA 1º Ano Disciplina: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO HISTÓRICO Código: Total Horas/1o Semestre:10 Créditos (SNATCA):4 Número de Temas: 06 INSTITUTO SUPER INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico i Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico ii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela Coordenação Pelo design Direção Académica do ISCED Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED Financiamento e Logística Pela Revisão Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) Elaborado Por: Hermenegildo A. Lange (Mestre em Ensino de História) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 1 Índice Visão geral Benvindo à Disciplina/Módulo de Evolução do Pensamento Histórico O homem desde que se conhece como tal sempre preocupou-se em saber de onde vem e para onde vai. As mais antigas tentativas de resposta a essa preocupação datam do III milénio a.C. altura em que a existência, na suméria, de um sistema de escrita já evoluído, permitiu fixar algumas das crenças dos homens daquela região. É neste contexto que surgem as cosmogonias e mitografias como literaturas pré-científicas de caracter histórico. A cientificação da História, tal como a cientificação de qualquer outra forma de pensamento, não resultou de um processo rápido. A definição do objecto e do método da História tem sido até hoje um processo lento e continuo. Nos dias que correm, apesar de o processo de cientificação da História já ter passado por todas as fases que nos permitem considera-la como ciência nomotética, a verdade é que esse processo parece manter-se fora do domínio comum. Portanto, a finalidade desde módulo é percorrer esta distância que vai das cosmogonias até a História como ciência. Ao terminar o estudo deste módulo de Evolução do Pensamento Histórico deverá ser capaz de: Objectivos Específicos do módulo Definir o conceito de Historiografia; Identificar as principais correntes historiográficas; Identificar a principal fonte para o conhecimento da historiografia judaica; Identificar a principal característica da historiografia judaica; ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 2 Descrever o papel de Heródoto para a cientificação da História. Descrever o ambiente politica que permitiu a Heródoto ter uma reflexão livre da História. Caracterizar a Historiografia Romana; Descrever a historiografia cristã antiga; Explicar os factores da rápida propagação do cristianismo; Descrever a concepção histórica cristã medieval; Explicar o contexto do surgimento da Historiografia renascentista; Descrever as principais ideias do positivismo; Explicar os factores que contribuíram para a fraca influência da historiografia Marxista; Descrever os factores que marcaram a crise da História nos princípios do seculo XX; Descrever a concepção histórica da “História Nova”. Descrever as limitações do estruturalismo; Apresentar as particularidades da Historiografia Africana; Identificar as primeiras literaturas históricas em África; Identificar os principais historiadores africanos. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Ensino de História do ISCED e outros como Gestão. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 3 Como está estruturado este módulo Este módulo de Evolução do Pensamento Histórico, para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Ensino de História, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades,. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes caracteristicas: Puros exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades práticas algunas incluido estudo de caso. Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD- ROOM, DVD. Para elém deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 4 Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresntam duas caracteristicas: primeeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas.Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/doceentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exrcícios de avaliação é uma grande vantagem. Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico- Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em goso de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 5 que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se existirem. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 6 Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalhjo intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistemáticamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os seriços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 7 Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou admibistrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficar’a a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame finalda disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma viloção do direito intelectual do(s) autor(es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 8 Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e concistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentada de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizaos, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 9 TEMA – I: INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO HISTÓRICO. UNIDADE Temática 1.1. Conceito de História UNIDADE Temática 1.2. Conceito de Historiografia UNIDADE Temática 1.1. Conceito de História Introdução A palavra “História” é uma palavra velhíssima, tao velha que houve quem se cansasse dela. Desde que ela apareceu há mais de dois mil anos na boca dos homens mudou muito de conteúdo. Por isso há interesse neste módulo de antes de tudo tratarmos de trazer um vocabulário funcional para o termo. Não se trata de apresentar um conceito axiomático mas sim, uma perspectiva de utilização do termo nas várias acepções científicas que modernamente se atribuem ao vocábulo. Vamos apresentar e comentar algumas definições destacando elementos indispensáveis para entender o que modernamente se percebe por História. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Definir o conceito História; Descrever o caracter polissémico do conceito História; Identificar a importância do conhecimento Histórico. Desenvolvimento O desejo de conhecer o passado e projectar o futuro tem sido um dos grandes desejos do género humano. Por isso, foi erguendo monumentos, construindo sepulturas para a eternidade, fazendo a cronica do seu tempo, tudo isso para transmitir às gerações vindouras a memoria daquilo que fez. Graças a esse desejo, dispõe hoje a investigação histórica de abundantes fontes de informação acerca do passado. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 10 A palavra História é de origem grega, sendo a sua forma original Histriae e passou através do latim para a grande parte dos idiomas modernos. Este termo, para os gregos, significava investigação ou inquéritos. Entretanto, nos tempos que correm, este conceito é utilizado tanto para designar a narrativa dos acontecimentos como a própria série deles. Corresponde o exposto acima a dizer que por história entende-se o conjunto dos acontecimentos que caracterizam uma determinada época, região, país, etc. O processo histórico constitui-se com a dinâmica da própria humanidade e portanto está sempre presente, independentemente da nossa vontade, podendo ser ou não do nosso conhecimento. O conhecimento, pelo homem, do processo histórico, torna-se possível através das informações sobre o mesmo que são recolhidas e fornecidas pelos historiadores. A esse conjunto de informações sobre o passado dos homens se chama conhecimento histórico é a ciência histórica. Georges Lefebvre, um dos grandes historiadores do século XX, definiu história nos seguintes termos: “A história é a memória do género humano, o que lhe dá consciência de si mesmo, isto é, da sua identidade no tempo, desde da sua origem; é por consequência o relato do que, no passado, dará uma nova recordação dos homens”. Mas a realidade não se estrutura só no tempo mas também no espaço que o homem modifica e dele se apropria. Segundo Besselaar (1958 :29), a história é a ciência dos actos humanos do passado e dos vários factores que neles influíram, vistos na sua sucessão temporal. Para Bernheim (sd :15), a ciência histórica estuda e expõe os fatos do desenvolvimento do homem nas suas manifestações (singulares, típicas e colectivas) como ser social no tempo e no espaço. Como podemos ver, não existe uma única definição de história porque cada definição enquadra-se num determinado tempo e numa determinada perspectiva do historiador: é polissémico. Apesar desta polissemia reconhece-se em cada conceito a presença das palavras “ciência e homem”. A história é uma ciência não só porque a exposição histórica supõe uma série de pesquisas de caracter científico mas também porque obedece ao princípio cientifico de questionar as causas e as consequências dos acontecimentos, mostrando o encadeamento dos mesmos através dos tempos. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 11 O homem é a causa por excelência da História porque são as suas acções dotadas de projecção social que interessam a História. Desde o aparecimento da humanidade até a actualidade as gerações se sucedem deixando umas às outras apreciável legado, rico em experiencias e conquistas materiais e espirituais que preenchem as páginas da História. Mas esse processo enfrenta por vezes dificuldades relacionadas com a decifração das escritas antigas, com a interpretação da linguagem e comportamento dos indivíduos que viveram em sistemas históricos diferentes do nosso. Cada sistema dispõe de códigos próprios de linguagem e de valores. A importância do conhecimento histórico reside no facto de permitir conhecer o passado que é uma ferramenta principal para compreender o presente e perspectivar o futuro. Sumário Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos o conceito de História e sua importância onde constatamos basicamente que: O conceito de História foitomando varias formas de acordo com a corrente historiográfica a que esteve associado. Portanto, não existe uma única definição. Apesar desta polissemia reconhece-se em cada conceito a presença das palavras “ciência e homem”. A História permite ao homem compreender o presente a partir do passado e, com esses subsídios projectar o futuro. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 12 1. Defina História. 2. Explica por que razão é difícil se dar um conceito acabado e único de História. 3. Qual é a importância do estudo da História? 4. Quais são as palavras-chave e comuns que constituem o conceito História. Respostas: 1. Rever do 2º ao 4º parágrafo, páginas 10; 2. Rever o 5º parágrafo da página 10; 3. Rever o parágrafo antes do sumario da página 11; 4. Rever o 5º parágrafo da página 10. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes) Completa a frase seguinte: Designa-se por conhecimento histórico…… Só uma das seguintes respostas é correcta. a) Ao conjunto dos acontecimentos que se dão com a humanidade, independentemente do seu alcance pelo homem. b) As acções do homem no tempo e espaço. c) Ao conhecimento pelo homem do processo histórico atraves das informações recplhidas fornecidas pelos historiadores d) O vestigios do passado humano. UNIDADE Temática 1.2. Conceito de Historiografia Introdução Nesta unidade abordamos o conceito Historiografia. Este conceito está intimamente ligado ao conceito História. Embora a palavra História remonte aos gregos, o hábito de registar os acontecimentos do passado foi muito anterior aos gregos. O modo e a finalidade com que se escreveu a História não foram sempre os mesmos. Primeiro foram exaltadas as forças sobrenaturais, depois vieram “os grandes homens” (reis, generais, etc..) e mas tarde os sujeitos da História assim por diante. O mesmo acontece com a sua conservação e transmissão. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 13 Durante vários milénios de existência humana o passado foi sendo transmitido de geração em geração por via da oralidade e da experiencia, só mais tarde apareceu a escrita. A historiografia encarrega-se em descrever este processo. Portanto, compreende não só a reconstituição do processo da cientificação mas também a reconstituição do processo de elaboração da problemática histórica. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Definir o conceito Historiografia; Descrever a evolução da produção historiográfica; Identificar os elementos que caracterizam uma historiografia. Desenvolvimento O registo do passado dos homens começou por volta do quarto milénio a.n.e., quando surgiu a escrita. De facto o aparecimento da escrita levou os sacerdotes a tentar, pela primeira vez, fixar por escrito o passado religioso, ate ai conservado e transmitido por via oral. Na mesma altura começaram a ser registadas as memórias dos antigos heroísmos guerreiros (tradição épica). Neste processo foram produzidas as mais antigas cosmogonias e mitografias, as primeiras formas de literatura histórica que se conhecem. “A história nasceu do mito, como a filosofia e a ciência”. Com estas produções deu-se um importante passo na conservação das antigas produções cosmogónicas e épicas, reduzindo-se o perigo de caírem no esquecimento ou aparecerem deturpadas. As cosmogonias são os registos das primeiras tentativas, pré-cientificas, de explicação do universo, uma explicação que inclui tanto elementos naturais como sobrenaturais. A produção deste tipo de literatura não resultou de acções intencionais de fazer historia mas sim da tentativa de explicar problemas elementares como a origem da comunidade, os fins para que caminha e o seu próprio presente, bem como da necessidade de transmitir para a posteridade os nomes dos reis e dos importantes e ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 14 suas façanhas épicas. O objectivo principal da produção desta literatura era apenas o de narrar os acontecimentos, com o fim de engrandecer a figura ou os deuses. Podemos assim concluir que na antiguidade oriental fazia-se abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade. O objecto de estudo da história eram os deuses e os homens importantes a quem se atribuía total responsabilidade pela evolução da sociedade. As informações, de origem mitológica, não eram sujeitas a qualquer tipo de investigação ou explicação causal. Era uma história que não se preocupava com a verdade nem com a objectividade. Não obstante, a produção desta literatura revelou-se um grande contributo para o conhecimento da história do oriente antigo, visto terem surgido neste processo importantes materiais sobre a história daquela região, nomeadamente anais, listas de dinastias ou de soberanos, listas dos sacerdotes, inscrições comemorativas e biografias importantes. Para se chegar ao conhecimento histórico ocorre a um trabalho de busca de informações sobre o processo histórico. Ora esse trabalho é realizado pelo homem, mais concretamente pelo historiador e, por isso, a este, se chama sujeito do conhecimento, aquele que faz, que produz o conhecimento, (através da sua actividade intelectual). A busca de informações sobre o passado dos homens não teve sempre carácter científico. A história como ciência, na concepção actual do termo só surge no século XIX. Até chegar a esse ponto a história passou por um longo período de aperfeiçoamento, a nível das suas técnicas e meios de trabalho, das metodologias, acompanhando o desenvolvimento da própria sociedade. Portanto a cada etapa de desenvolvimento da sociedade correspondem uma forma própria de encarar e fazer a história, ou seja um tipo de historiografia. A Historiografia pode ser definida como o conjunto de obras concernentes a um assunto histórico, como exemplo a produção histórica de uma época. Quando se diz historiografia moçambicana refere-se as obras escritas sobre a história de Moçambique, por autores nacionais ou estrangeiros. A historiografia inclui tudo quanto foi escrito para proporcionar informações sobre o passado humano como testemunho. Integram esta literatura os relatos autobiográficos e memorialistas desde que sejam referentes a aspectos da vida social mais amplos do que os estritamente pessoais. A história oral também ocupa um lugar, tanto quando este conceito designa as tradições históricas transmitidas oralmente, nos ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 15 povos sem escrita, como quando se refere ao registo escrito ou por gravação de depoimentos orais de autores ou testemunhas de acontecimentos históricos. No sentido mais amplo a história da historiografia não se reduz ao estudo das principais obras históricas de cada época ou civilização, compreende também trabalhos de metodologia, publicação de documentos, ensino de história e apreciação de obras literárias de teor histórico. A história da historiografia está também ligada a história das ideias, pois os historiadores estão sempre ligados às correntes de pensamento do seu tempo. Uma retrospectiva, embora resumida, da historiografia, compreende não só a reconstituição do processo de cientificação da História, mas também a reconstituição do processo de elaboração da problemática histórica, ouseja do estudo da génese de conceitos, do sujeito do processo histórico, de objectivos da Historia entre outros. Bernheim, autor de um famoso estudo sobre o “Método da História e da Filosofia da História”, distinguiu na maneira de conhecer e de escrever a história, três diferentes etapas: a História narrativa, a Historia pragmática ou didaáctica e a História genética. A História narrativa e a pragmática assinalam o período pré-científico da Historiografia. A história genética marca o caracter científico a que chegou a Historiografia moderna. Portanto, as historiografias que se descrevem a seguir enquadram-se em algumas destas etapas. 1.2.1. Cosmogonias Como já se disse, as cosmogonias contam-se entre as primeiras tentativas pré-cientificas de explicação da formação do universo. Nessa explicação, não intervêm apenas elementos naturais mas também elementos sobrenaturais. Vejamos a seguir como aparecem associados os dois elementos em algumas das cosmogonias mais conhecidas. Segundo os vedas (Índia): “ Ele criou em primeiro lugar a água, na qual depositou um germe. Este germe tornou-se ovo, resplandecente como ouro, radiante como uma estrela. Nele originou-se Brama, princípio de toda a vida.” Segundo os antigos textos sumérios a formação do mundo teria se ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 16 processado da seguinte forma: “ 1. Ao princípio era o mar primordial (…). 2. Este mar primordial produziu a montanha cósmica, composta do céu e da terra ainda unidos. 3. Personificados e concebidos como deuses de forma humana, o céu, ou seja o deus An, desempenhou o papel de macho e a terra, isto é, Ki, o de fémea. Da sua união nasceu o Deus do ar Enlil. 4. Enlil, o deus do ar, separou o céu da terra e, enquanto seu pai, Na, levava o céu, Enlil levava a Terra, sua mãe. A união de Enlil e sua mãe, a Terra, foi a origem do universo organizado – a criação do homem, dos animais e das plantas e o estabelecimento da civilização.” Segundo a Biblia, livro sagrado dos Hebreus: “1. No princípio criou Deus o céu e a Terra. 2. A Terra porém era vã e vazia; e as trevas cobriam a face do abismo, e o espirito de Deus era levado sobre as águas. 3. E disse Deus: Faça-se a luz. E foi feita a luz. 4. E viu Deus que a luz era boa; e separou a luz das trevas. 5. E chamou à luz dia e às trevas noite; e da tarde e da manha fez o primeiro dia. 6. Disse também Deus: faça-se o firmamento no meio das águas, e separem-se umas águas das outras. 7. E fez Deus o firmamento, e separou as águas que estavam por cima do firmamento. E assim se fez. 8. E chamou Deus ao firmamento Céu; e da tarde e da manha se fez o segundo dia. 9. Disse também Deus: as águas que estão debaixo do céu, ajuntem-se num mesmo lugar, e o elemento árido apareça. E assim se faz. 10. E chamou Deus ao elemento árido Terra, e ao agregado das águas Mares. E viu Deus que isto era bom (….).” Como podemos notar, associado ao elemento natural, o elemento sobre natural parece gozar do mesmo caracter intemporal de que goza o mito. Na realidade, apesar da sua aparente intemporalidade, o elemento sobrenatural traz consigo a marca indelével do tempo. A maior ou menor importância de um deus em relação à posição que ocupa na hierarquia do respectivo panteão, está intimamente associado ao processo de integração política dos Estados. Sempre que uma cidade lidera o processo de integração de um estado, o seu deus ascende à categoria de deus principal desse estado e, a classe sacerdotal a ele associada também assume a categoria correspondente. Foi o que aconteceu na Suméria onde An, era deus da cidade de Uruk, a principal cidade daquele tempo. O mesmo aconteceu na unificação do Egipto com o deus Falcão do clã de ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 17 Menes. Na Índia, Brama era o deus da principal classe sacerdotal Sumário Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos a Historiografia no que diz respeito ao conceito, características e evolução. Nesta abordagem constatamos o seguinte: A Historiografia pode ser definida como o conjunto de obras concernentes a um assunto histórico, como exemplo a produção histórica de uma época. A história da historiografia não se reduz ao estudo das principais obras históricas de cada época ou civilização, compreende também trabalhos de metodologia, publicação de documentos, ensino de história e apreciação de obras literárias de teor histórico. Portanto, está ligada às correntes de pensamento de um determinado período histórico. Cada etapa de desenvolvimento da sociedade corresponde a uma forma própria de encarar e fazer a história, ou seja um tipo de historiografia. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 5. Defina historiografia. 6. Descreve o processo de evolução da produção historiográfica. 7. Na antiguidade oriental fazia-se abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade. Comenta. 8. As cosmogonias e mitografias, as primeiras formas de literatura histórica que se conhecem. Descreve-as 9. Quais são os componentes de uma historiografia? 10. Descreve as principais cosmogonias do Oriente Antigo. Respostas: 5. Rever o último parágrafo da página 14. 6. Rever do 1º ao 3º parágrafo da página 14. 7. Rever o 1º parágrafo da página 14. 8. Rever os últimos parágrafos das páginas 13 e 16. 9. Rever o 1º e 2º parágrafo da página 15. 10. Rever o último parágrafo da página 15 e toda a página 16. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes) ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 18 A História como ciência na concepção actual do termo surge….. Só uma das seguintes respostas é correcta. a) Na antiguidade oriental. b) No seculo XIX. c) No século XX. d) Com a escrita. Na Antiguidade Oriental abordagem histórica era: Só uma das seguintes respostas é correcta. a) Mítica e teocrática; b) Científica e pragmática; c) Oral; d) Total e crítica; e) totalmente teocrática. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 19 TEMA – II: HISTORIOGRAFIA ANTIGA. UNIDADE Temática 2.1. Historiografia Judaica UNIDADE Temática 2.2. Historiografia Grega UNIDADE Temática 2.3. Historiografia Romana UNIDADE Temática 2.4. Historiografia Cristã Antiga UNIDADE Temática 2.1. Historiografia Judaica Introdução A historiografia judaica antiga baseia-se na Bíblia, velho Testamento. A Bíblia é uma grandiosa obra que pela natureza e variedade de géneros literários nela contidos constitui literatura nacional do povo judaico e portanto uma importante fonte de informação da história judaica e dos povos com quem os judeus estavam em contacto. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Identificar a principal fonte para o conhecimento da historiografia judaica; Identificar a principal característica da historiografia judaica; Descrever as principais formas de poder entre os judeus; Identificar os responsáveis pela produção e conservação da historiografia judaica. Desenvolvimento Escrita e conservada pelos sacerdotes, a Bíblia constituiu para os judeus um instrumento de unidade, que era posta em causa pelo contacto com outros povos, a que os judeus eram sujeitos por ser um povo nómada. O papel dos sacerdotes na conservação por escrito do legado de um determinado povo foisempre inquestionável. Desde as ruinas neolíticas de Chatal Huyuk aos impérios contemporâneos, a presença da comunidade de sacerdotes e leigos deixou vários testemunhos que o tempo não consegue eliminar. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 20 Existiam duas formas de poder entre os judeus: o poder espiritual, dos sacerdotes, e o poder temporal, dos reis, sempre em aliança ou em rivalidade ou em luta. O desentendimento entre estes dois poderes resultava do facto de os sacerdotes pretenderem a unidade do povo judaico, recusando, por isso o contacto com outros povos, enquanto os reis priorizavam o alargamento do território, integrando as populações vencidas o que significava a admissão no mesmo panteão nacional os deuses dos vencidos. A Bíblia funcionou portanto como instrumento dos objectivos da classe sacerdotal, conservando um carácter exclusivista de defesa da tradição judaica e de ataque a tudo o que lhe fosse estranho. A Bíblia corresponde: - Um conjunto de seis obras (Hexateuco) assim intituladas: Genesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio e Josué. Exceptuando o Deuteronómio e o Levítico, que são códigos de leis, os restantes constituem a história dos Hebreus desde a origem ate à sua instalação na Palestina (canaan), depois do exilio no Egipto; - Um conjunto de oito livros, conhecidos por livros históricos: Juízes, Rute, Samuel, Reis, Cronicas, Esdras e Noémia Ester e finalmente Jonas. - Livros poéticos: Salmos, Lamentações, Poesia erótica (Salmo XLV e Cântico dos Cânticos), Poesia didactica (Jó, Proverbios, e Eclesiastes); - Livros proféticos: Isaías, Jeremias, Ezequiel e outros profetas; - Os livros apocalípticos: Livro de Daniel; - Livros apócrifos: livro dos Macabeus, livro de Judite, etc. Estes livros não têm todos a mesma idade. “ O canto de Débora” que faz parte do V livro dos juízes, é das composições mais antigas da Bíblia, não excedendo porem o seculo XII a. C.; o que não quer não possa haver nele algum fragmento ainda mais antigo. Dos Códigos, o mais antigo parece ser o da Aliança. O cântico dos Cânticos é um livro erótico, não sagrado, mas pelo simples facto de fazer parte do património judeu, levou com que eles atribuíssem-lhe um caracter sagrado Baseada na bíblia, a historiografia judaica teve como principal característica a incapacidade de aceder a uma concepção universalista do homem, ou seja a limitação do homem ao homem judeu. Assim, para os judeus, a história da humanidade passava a confundir-se com a história judaica contada na Bíblia. Os povos apenas eram referenciados na medida em que tivessem algum relacionamento com os judeus. Como livro sagrado dos católicos, protestantes e cristãos ortodoxos, a Bíblia, teve uma credibilidade quase universal e ate ao século XIX constituiu a única fonte da história dos judeus e dos povos do médio ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 21 oriente, com quem estiveram em contacto. Só no século XIX, com a decifração dos escritos egípcios e sumérios surgiu uma alternativa para as fontes da história judaica. A Bíblia passaria a ocupar um lugar secundário como fonte histórica. Sumário Nesta Unidade temática 2.1 abordamos fundamentalmente a historiografia judaica. Na nossa abordagem percebemos que foi a principal historiografia na Antiguidade Oriental. A principal fonte para o seu conhecimento é a Bíblia Sagrada concretamente o Velho Testamento, produzido e conservado pelos sacerdotes. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 11. Identifica a principal fonte para o conhecimento da Historiografia judaica. 12. Identifica o papel da Bíblia para os judeus. 13. Quem escreveu e conservou a Bíblia. 14. Existiam entre os judeus duas formas de poder. Refira-se a essas formas de poder e às causas do seu desentendimento. 15. Descreve a principal característica da historiografia judaica. Respostas: 11. Rever a introdução da página 18. 12. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento da página 19. 13. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento da página 19. 14. Rever o 1º parágrafo da página 20. 15. Rever o penúltimo parágrafo da página 20. UNIDADE Temática 2.2. Historiografia Grega Introdução A Grécia antiga ocupava no Mediterrâneo um território pouco extenso, mas muito variado sob o ponto de vista geográfico que compreendia o Sul da Península Balcânica, as ilhas do mar Egeu e do ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 22 mar Jónio e as costas ocidentais da Asia Menor. O territorio da Grécia Antiga é uma especie de museu a céu aberto porque s materiais da arqueologia, os papiros as ruínas cidades, os edifícios isolados e outras construções, assim como os objectos de uso doméstico, melhor nos informam sobre esta região. São estas fontes e outras que nos permitem compreender o pensamento histórico grego. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Descrever o papel de Heródoto para a cientificação da História. Descrever o ambiente politica que permitiu a Heródoto ter uma reflexão livre da História. Caracterizar o processo de produção histórica na Grécia. Identificar os principais historiadores gregos. Desenvolvimento “A história nasceu na Grécia” é frequente ouvir-se dizer. Na Grécia também existiu a abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade como no oriente antigo. Dos vários mitos destacou-se o mito das cinco idades que considerava que a humanidade tinha passado por cinco etapas de evolução nomeadamente a idade do ouro, da prata, do bronze, dos heróis e do ferro. Entre estas, a etapa do ouro e a melhor porque nela não havia preocupações, sofrimento, velhice, etc. Entretanto de acordo com o conceito de ciência não podemos ainda falar nesta altura de uma ciência histórica. A cientificação da história só terá início na Grécia clássica. É o que nos leva a falar do surgimento da história na Grécia. Este logro dos gregos tem explicação no facto de a Grécia desse tempo ter conseguido avançar em muitas áreas de desenvolvimento social, a partir do século V a.c. Neste século vivia-se na Grécia, uma sociedade democrática, fruto de cerca de três séculos de reformas, iniciadas por Dracon e que atingiram o seu pico no reinado de Péricles. Portanto a Atenas do século V destaca-se dos restantes estados da época pois pôde conceber e aplicar os princípios da igualdade perante ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 23 a lei, da liberdade individual e da fraternidade, embora com algumas reservas, principalmente ligadas com o alcance das referidas reformas democráticas. Este contexto, de abertura da vida nacional a todos os cidadãos, levou a Grécia antiga a se destacar em vários domínios da vida incluindo o do pensamento. É assim que o pensamento grego da época revelava já uma maturidade que se reflectia no desenvolvimento de várias ciências entre as quais a História. O surgimento e desenvolvimento da história na Grécia deve-se em grande parte ao papel de Heródoto de Halicarnasso (484- 424),“o pai da Historia”. É claro que havia na Grécia antiga muitas pessoas reflectindo sobre questões de carácter racional incluindo a história, mas foi Heródoto o primeiro a adoptar uma atitude científica, daí que lhe atribua a “paternidade da Historia” Na sua obra “Historias” Heródoto tentou para além de escrever sobre os gregos, falar dos bárbaros, reconstituiros factos e apresentar a razão deles. A ele também se deve uma visão e uma abordagem universalista dos homens pois, como cidadão oriundo da nobreza, Heródoto teve facilidades de viajar e escrever sobre varias regiões (Egipto, Mesopotâmia, etc) incutindo desse modo uma visão mais global do homem e do universo. Era a passagem da historiografia gentílica a historiografia ecuménica (universal). Numa das passagens do livro de Heródoto, Historias, pode se ler: Eis a exposição do inquérito empreendido por Heródoto de Thouriori para impedir que as acções cometidas pelos homens se apaguem da memoria com o tempo e que grandes e admiráveis factos, levados a cabo tanto do lado dos gregos como do lado dos bárbaros, cessem de ser nomeados, finalmente e sobretudo, o que foi causa de entrarem em guerra uns contra outros (…) Até aqui, falei segundo a minha observação, reflexão e informação, mas a partir de agora passarei a referir a tradição egípcia, tal como a ouvi, acresce ainda um pouco do que vi (…). O meu dever é referir a tradição mas de modo algum sou obrigado a acreditar nela” A história de Heródoto é feita com base em testemunhos fidedignos, ou seja dignos de crédito. Assim ele preferiu servir-se da tradição oral, mas sempre aquela prestada por protagonistas ou testemunhas dos acontecimentos, bem como o seu testemunho ocular. No caminho de Heródoto esteve também Tucídides, cujo grande contributo para a história foi o início do questionamento das fontes, procurando apurar a sua veracidade e credibilidade. Foi o que ele fez na sua obra “Historia da guerra do Peloponeso” ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 24 que escreveu servindo-se do seu próprio testemunho de participante. Tucídides revelou-se superior a Heródoto na inteligência crítica, na arte e na solidez do saber. As ideias de Tucídides sobre a história da guerra do Peloponeso.“ (…) Só falo como testemunha ocular, ou depois duma critica das minhas informações, tão completa quanto possível (…)” Outros historiadores deram corpo à história grega como foram os casos de Xenofonte, Plutarco, Eforo, etc. Observando os trabalhos de Heródoto e Tucídides verificamos que os gregos começaram a caminhar para a cientificação da história. A sua história tem um objecto de estudo, uma metodologia própria e um objectivo bem definido. Senão vejamos: - Estuda-se, o passado e o presente dos homens ou simplesmente o Homem; - Alarga-se a noção de fonte histórica que para além da tradição oral passa a considerar os testemunhos oculares; - Cria-se uma metodologia que integra a recolha de dados através da observação e da informação, a reflexão, analise critica e a comparação das fontes e finalmente a síntese; Portanto na Grécia clássica temos uma história humanista (seu objecto de estudo é o homem), cientifica (inicia-se neste caminho), auto- reveladora (procura a projecção do presente no futuro, ensinar aos homens o seu passado e a relação entre o passado e o presente, para revelar o sentido da acção humana) e pragmática, porque tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o futuro. Embora dando notáveis passos a nível da história os gregos revelaram ainda algumas insuficiências. Os historiadores gregos viram-se confrontados e até encurralados pela contradição entre o ideal de história universal baseada em fontes fidedignas e a incapacidade de falar de regiões relativamente afastadas, pois o nível de desenvolvimento dos transportes não permitia ir para longe e são praticamente inexistentes informações escritas sobre essas regiões. Deste modo eles vêm-se condenados a ter que fazer a história que negam, a história de alguns povos, de algumas regiões, a história regional e não a universal que defendem. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 25 Por outro lado as fontes orais e os testemunhos oculares não permitem abarcar períodos de tempo relativamente longos mantendo a fidelidade numa historia que busca de facto a verdade, pelo que ficam também a este nível limitados. Sumário Nesta Unidade temática 2.2 estudamos e descrevemos a Historiografia Grega onde contatamos que tinha uma visão humanista (seu objecto de estudo é o homem), cientifica (inicia-se neste caminho), auto- reveladora (procura a projecção do presente no futuro, ensinar aos homens o seu passado e a relação entre o passado e o presente, para revelar o sentido da acção humana) e pragmática, porque tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o futuro. O pioneiro deste processo de cientificação da história foi Heródoto, o que lhe mereceu a designação de pai da História. Para alem dele houve outros historiadores que se dedicaram à produção histórica como é o caso de Tucídides. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 16. Explica por que razão Heródoto é considerado “Pai da História”? 17. Descreve as condições políticas da Grécia que permitiram a evolução da ciência. 18. Explica em que se baseiava a historia feita por Heródoto. 19. Nomeia os principais historiadores gregos. 20. A historiografia grega era humanista, cientifica, auto- reveladora e pragmática. Comenta a afirmação! Respostas: 16. Rever do 2º a 4º parágrafo da página 23. 17. Rever o último parágrafo da página 22. 18. Rever o último parágrafo da página 23. 19. Rever o 2º e 3º parágrafo da página 24. 20. Rever o penúltimo parágrafo da página 24. ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 26 UNIDADE Temática 2.3. Historiografia Romana Introdução Roma localiza-se na península itálica no Mediterrâneo tal como a Grécia. Enquanto a Grécia está rodeada de ilhas e o seu litoral é muito recortado, facilitando a navegação e o comércio, na Itália tal não acontece. Do III ao I seculo a.n.e graças a um exército de cidadãos hábil e disciplinado, Roma lançou-se à conquista de toda a bacia Mediterrâneo e Norte de África transformando-se num grande imperio. A historiografia deste periodo procurou ajustar-se às ideias politicas da época cuja finalidade era exaltar e preservar o imperio. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Caracterizar a Historiografia Romana; Identificar os principais historiadores romanos; Diferenciar a Historiografia Romana da Historiografia grega Desenvolvimento A constituição do império romano incluiu entre outros processos a conquista de vários estados na Europa, Ásia e norte da África. Ora este facto sugere uma miscelânea de povos, costumes, formas de vida, etc. Num só estado que é o império romano. Desta situação resulta em Roma um desenvolvimento social, do qual se inclui o âmbito do pensamento, bastante influenciado pelas outras civilizações. Temos assim que a nível da História os romanos recorrem, a princípio, à língua e aos moldes de outros povos, em particular os gregos que, como dissemos atrás tinham avançado bastante neste campo. Os romanos não copiaram mecanicamente dos gregos procuraram dar forma própria moldaram os ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 27 ensinamentos gregos atribuindo-lhes forma própria. Deste processo resultou a produção de uma história tipicamente romana, assente na íntima relação com o passado. Outro elemento historiográfico exclusivamente romano é o carácter político ou seja a prática da historiografia feita pelos homens políticos,em estreita relação com a política prática que conduz a historiografia política, orientada para fins políticos e não encarrada como conhecimento. Portanto a história é em geral, para os romanos, uma exaltação da cidade e do império, adquirindo um carácter nacional e patriótico. É uma história apologética e pragmática. O predomínio, entre as produções historiográficas da Roma antiga, dos anais (anotações dos principais acontecimentos políticos) demonstra bem o seu carácter nacional. Dentre os principais historiadores romanos destacam-se: Políbio É um historiador de origem grega que viveu, como prisioneiro, em Roma e lá produziu quase toda a sua obra histórica e, naturalmente, sobre o império romano. Foi o responsável pela transmissão das tendências racionalistas da historiografia grega a Roma, sendo por isso contrário a história oficial, defendida por muitos historiadores romanos com destaque para Tito Lívio que por vezes recorria a mitologia para sustentar as suas ideias. Aplicou a Historia o modelo de ciclo, conduzindo à concepção segundo a qual a Historia é o conhecimento do geral, daquilo que se repete, que obedece a leis e por isso susceptível de previsão Tito Lívio Diferentemente de Políbio, esteve mais virado para o passado, tido, pelos romanos, como fonte de virtudes nacionais. Foi um intelectual ao serviço da política imperial, cuja preocupação maior foi elevar bem alto o rei e o império romanos não hesitando quando a defesa passasse pela deturpação da verdade, ou impusesses o recurso à mitologia. Tácito politico e homem das letras, foi autor de uma importante obra histórica com o senão de ter misturado, por vezes, indevidamente a historia com o género literário. O seu maior defeito terá sido fazer uma comparação unilateral dos romanos com os bárbaros, os bretões e os germanos revelando-se percursor da teoria do “bom selvagem”, ao apresentar uns como os de costumes mais puros e outros mais corruptos. Outros historiadores romanos foram Flávio Josefo, Salústio, Plutarco e ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 28 Suetónio. Sumário Nesta Unidade temática 2.3 abordamos a Historiografia Romana. Nesta abordagem foi possível notar que era dominada pelo carácter político ou seja a prática da historiografia feita pelos homens políticos, orientada para fins políticos e não encarrada como conhecimento. Portanto a história é em geral, para os romanos, uma exaltação da cidade e do império, adquirindo um carácter nacional e patriótico. É uma história apologética e pragmática. A grande preocupação era exaltar a grandeza do império romano cujo mérito era atribuído aos “grandes homens”- os imperadores. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 21. O elemento historiográfico característico romano é o carácter político. Comenta. 22. Descreve a principal característica da Historiografia Romana. 23. Nomeie os principais historiadores romanos. Respostas: 21. Rever o 2º parágrafo da página 27 22. Rever o 2º parágrafo da página 27 23. Rever o do 3º ao 5º parágrafo da página 27 UNIDADE Temática 2.4. Historiografia Cristã Antiga Introdução A Historiografia Cristã Antiga, como o próprio nome sugere encarnou basicamente as ideias do cristianismo. Durante a Idade Média, a política era grandemente influenciada pela questão espiritual. Para a sociedade medieval, o rei não era, simplesmente, uma instituição política, mas sim uma manifestação divina, tendo o papel de integrar o ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 29 homem no cosmos. A igreja cristã foi uma das mais poderosas instituições do período medieval. Nesta história, medieval o papel principal no processo histórico é atribuído a Deus e seus agentes e, aos reis e seus prelados. Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade Média. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Descrever a concepção histórica cristã antiga; Explicar os factores da rápida propagação do cristianismo; Identificar os principais historiadores cristãos da antiguidade; Identificar as principais obras dos historiadores cristãos da antiguidade. Desenvolvimento O cristianismo surgiu na Palestina no contexto da conquista daquele território pelos romanos. Portanto, foi de lá que se propagou para as restantes partes do mundo o que em grande parte foi facilitado pelo facto de transportar uma mensagem social e ecuménica, assumindo-se anti-esclavagista. Existiam, no seio da igreja, duas facções: uma mística e outra gnóstica que pretendia racionalizar o pensamento religioso, ou seja, sujeitar à razão as ideias religiosas. Estas divisões que constituem uma ameaça à estabilidade do cristianismo levaram à imposição da unidade doutrinária e ao fim da livre discussão no seio da igreja, determinada no Concilio de Niceia em 325. 2.4.1 A concepção cristã da História Desde o princípio o cristianismo assumiu-se como religião universalista e histórica, ou seja, teve a sua concepção do universo e de evolução da ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 30 humanidade. Para os cristãos a história é um combate permanente entre Lúcifer (o mal) e Deus (o bem) e a sua trajectória, irreversível e oposta à concepção cíclica defendia pelos gregos e romanos, começa com o pecado original, passa pela redenção e termina com o juízo final. A ideia principal é que, devido ao pecado original, o homem espalhou o mal em toda a terra e Cristo apareceu para estabelecer a ordem e fazer triunfar a igreja, numa luta que terminara com o juízo final. Deste modo a terra é apenas um local transitório para expiação e redenção do pecado e o homem em vida tem a oportunidade de se preparar para o juízo final. Entre as fontes da história cristã existem as doutrinárias e as históricas. Muitos documentos históricos foram destruídos alegadamente por serem apócrifos, ou seja, inautênticos. Contudo em história este procedimento é de todo condenável pois as fraudes também são matéria de estudo. Portanto não se pode entender tal atitude de outra maneira que não a tentativa de manter uma unidade doutrinária. Isto leva-nos a afirmar que a história cristã baseou-se, em informações tendenciosas previamente seleccionadas e por isso construiu uma visão de história humana com um ponto de vista apologético. 2.4.2 Os historiadores cristãos antigos Eusébio de Cesareia (260- 339) Foi o principal obreiro da história cristã. Produziu uma crónica que consistia de uma cronografia e de conones cronológicos. A cronografia resumia a história universal povo por povo, argumentando a favor da prioridade, no tempo, de Moisés e da Bíblia. Os canones eram tábuas cronológicas que assinalavam os sincronismos entre a história sagrada e a profana. A cronologia bíblica começa com a data da criação seguindo-se a do povo judeu até ao nascimento de Cristo, com a qual começava a história cristã. A história eclesiástica de Eusébio, bem documentada ia de Cristo até Constantinopla. Eusébio trouxe para primeiro plano da igreja cristã os judeus. Cassiodoro (487-583) Reuniu e traduziu do grego três historiadores eclesiásticos, continuadores da historia de Eusébio, nomeadamente Sócrates (380- 450), Sozomeno (finais do século IV- 443) e Teodoreto (393-457). Escreveu também uma história gótica e uma crónica da ISCED CURSO: Ensino de História;1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 31 época de Adão ao ano 519. Santo Agostinho (354-430) foi o autor da primeira e até hoje a mais importante filosofia cristã de história. O seu livro “De Civitae Dei” (A cidade de Deus) foi uma tentativa de negar a afirmação dos pagãos segundo a qual a tomada de Roma por Alàrico e os saques dos vândalos eram motivados pelo desapego à antiga religião romana. Orósio (até 418) procurou mostrar em “sete livros de história contra os pagãos” Que os tempos anteriores a Cristo tinham sido mais tempestuosos que os posteriores, como forma de rejeitar a ideia dos pagãos de querer culpar o abandono dos cultos anteriores a Cristo pelas desgraças que afligiam o império romano, em particular as invasões dos povos bárbaros. Com a obra de Eusébio e com as continuações de Sócrates, Sozomeno e Teodoreto e ainda o manual latino que deles tirou Cassiodoro, se formou o corpo da história da igreja que alimentou a idade média. Foi do cristianismo a autoria da primeira filosofia de história, a tentativa de determinar as leis porque se rege o curso dos acontecimentos. Os seus defensores procuraram mostrar como o mundo seguiu um desígnio de Deus na sua longa preparação para o advento de Cristo. A partir desse ponto central a humanidade continuaria uma marcha de sofrimentos até ao juízo final. Esta ideia foi exposta por S. Agostinho no seu livro “Cidade de Deus ”e a demonstração coube a Paulo Orósio no seu “sete livros de história contra os pagãos”, uma continuação de “cidade de Deus”. É portanto a história providencialista, em que a evolução da humanidade aparece como providência divina. Sumário Nesta Unidade temática 2.4 descrevemos a Historiografia cristã Antiga. É uma história providencialista, porque a evolução da humanidade aparece como providência divina. Os seus defensores procuraram mostrar como o mundo seguiu um desígnio de Deus na ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 32 sua longa preparação para o advento de Cristo. Nega a concepção cíclica da História dada pelos gregos e romanos. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 24. Descreve a concepção histórica do cristianismo na antiguidade. 25. Indica os factores da rápida propagação do cristianismo. 26. Nomeia os principais historiadores cristãos antigos. 27. A historiografia crista antiga era apologética e providencialista. Justifica. Respostas: 24. Rever o último parágrafo da página 29. 25. Rever o 1º parágrafo do desenvolvimento desta unidade (página 29) 26. Rever as páginas 30 e 31. 27. Rever o último parágrafo da pagina 31 (antes do sumario desta unidade) TEMA – III: HISTORIOGRAFIA MEDIEVAL. UNIDADE Temática 3.1. Historiografia Cristã Medieval UNIDADE Temática 3.1. A Historiografia Cristã Medieval Introdução Com a queda do império Romano do Ocidente, um novo contexto histórico ira surgir, caracterizado pela desestruturação da economia urbana e comercial e o regresso a uma economia essencialmente agrícola e de subsistência, da qual resultara, fatalmente, o isolamento das populações. Este isolamento contribuirá para o fortalecimento de uma nova mentalidade pluralista muito próxima da mentalidade gentílica (em que os laços de ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 33 consanguinidade seriam substituídos pelos estreitos vínculos de identidade religiosa, da comunhão da mesma fé) – uma espécie de comunitarismo moral e religioso, em que o Pai ancestral e carnal de gens é substituído pelo «Pai do Céu» cristão. Não era, com efeito, na Alta Idade Média, manter de pé o modelo de cristianismo ecuménico do século I, pela mesma razão que não era possível erguer viva, sobre as infra-estruturas duma sociedade rural, a cultura duma sociedade urbana. Repara-se que tanto o ecumenismo grego como o ecumenismo romano tinham sido fenómenos de expansão, consequentes ao estabelecimento de amplas relações entre povos diferentes. Ora o que se dá idade Média europeia é precisamente o contrário. É uma regressão em vez de uma expansão: as populações refluem novamente aos campos. As cidades arruínam- se, as rotas comerciais encurtam-se e acabam, em muitos casos, por desaparecer. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Caracterizar a sociedade Medieval; Descrever a concepção histórica cristã medieval; Caracterizar a literatura cristã medieval; Identificar os principais responsáveis pela produção histórica medieval. Desenvolvimento O império romano do ocidente desmoronou-se no século V na sequência da tomada de Roma pelos bárbaros em 476. A destruição do império romano do ocidente, marcou o fim da antiguidade esclavagista e o início da Idade Media, feudal, a substituição de formas de vida, política, económica, social, até ai estabelecidas. As populações abandonaram as cidades retornando ao campo onde se organizaram em pequenas comunidades rurais baseadas na identidade religiosa (nisto, difere das primeiras comunidades rurais ligadas por consanguinidade. Na esfera económica, a economia urbana, comercial, deu lugar a economia rural, agrícola, de subsistência. Instala-se uma mentalidade particularista onde cada comunidade ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 34 tenta ser auto-suficiente, pois a dispersão dificulta os contactos. A nível social os marcos essenciais a destruição das tradicionais relações dos povos devido a degradação das vias e meio de comunicação. Tecnologicamente a regressão manifestou-se pelo desaparecimento das especializações. O cristianismo integra-se neste quadro, criando o Mosteiro Beneditino, que a partir do século VI passa a servir de núcleo a uma população cujo destino seria a gradual integração na sua estrutura, em condição de dependência. Nesta altura o trabalho é encarado como uma provação, mas os Mosteiros irão rapidamente enriquecer passando a empresas geradoras de excedentes, comparáveis a qualquer outro domínio senhorial. Era a transformação do cristianismo, de religião igualitária em religião classista. No século XI, regista-se um considerável crescimento agrícola. Ao mesmo tempo aumenta a população e ressurge a vida urbana. Inicia- se uma nova revolução comercial em choque com o sistema feudal. No decorrer do século XVIII regista-se um notável progresso na estrutura profissional que se manifesta numa acentuada diferenciação profissional num grau de especialização cada vez maior e na melhoria do estatuto do trabalhador ao nível dos ofícios, particularmente nas artes liberais e por vezes na arte mecânica. Era a passagem da sociedade rural e urbana, agrícola a comercial. Este processo é portanto muito próximo aquele que se regista na primeira revolução urbana com a diferença de que no lugar das casas estavam os mosteiros e em vez do surgimento de cidades dá-se o ressurgimento das cidades romanas. Mais ainda na primeira revolução urbana o poder espiritual sobrepunha-se ao temporal e no século XIC acontece o contrário. 3.1.1. A concepção histórica Medieval A instituição típica mediante a qual cristianismo medieval se adapta à evolução económica, passa a ser a partir do século VI, o mosteiro beneditino. Típica, não só porque simula uma comunidade de «irmão» igualiza na tarefa comum de trabalhar a terra, (na realidade, fortemente hierarquizados entre si), mas porque, pela sua natureza ISCEDCURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 35 económica – religiosa, se prestava a servir de núcleo a uma população cujo destino viria a ser gradual integração nas malhas da sua estrutura, nas condições dos servos de gleba, de artesoes servis ou rendeiros; na condição, em suma, de dependentes. Na realidade, desde a fundação dos mosteiros que a relação entre os monges e as populações indígenas era marcada pelo distanciamento e pela desconfiança. Proveniente, geralmente, dos meios urbanos, os monges não constituíram um elemento estranho ao meio rural, não só porque a regra do fundador obrigava a viver à sua própria custa, mas ainda porque logo entre eles e a população indígena se ergueu a muralha da dicotomia preconceituosa que dividia cristãos e pagãos, urbanos (cultos) e rústicos. As populações eram pagãs porque, agarradas ainda a velhos hábitos e a velhas crenças, resistiam ou se opunham ao ardor proselitista do clero; e eram rústicas, porque eram incultas, selvagens e indigentes. No contexto histórico da idade média, predomina uma história cristã, cuja produção é da responsabilidade dos monges. Os géneros mais dominantes são os anais e as crónicas. Tanto uns como outros são narrativas sobretudo de factos políticos e militares, que tomam por unidade temáticos períodos mais ou menos longos. A diferença reside no facto de que os anais dividem as épocas estudadas em períodos de um ano, relatando secamente os factos. Também constituem literatura histórica cristã medieval as hagiografias, as historias, as actas de sínodos e concílios, as bulas, e outros diplomas de origem papal, as obras de clérigos seculares, os manuais dos confessores e outras de carácter eclesiástico. Em princípio, a historiografia crista medieval, assim como as fontes de origem eclesiástica prevalecem ate ao seculo XIII. Mas nem todas as fontes medievais até essa data são obrigatoriamente de origem eclesiástica. Quer para o entendimento crítico da historiografia crista, quer para efeito de novas abordagens historiográficas torna-se indispenavel recorrer também às fontes provenientes da cultura popular mais profunda, ou seja, folclore. É ao que parece, desse folclore que emergem produções como as cancões de gesta (supostamente de origem nobre), desvios religiosos como as heresias cátara, valdense e patarina, e géneros poéticos. Nesta história, medieval o papel principal no processo histórico é ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 36 atribuído a Deus e seus agentes e, aos reis e seus prelados. É a estes que se atribui responsabilidade pela evolução histórica da humanidade e portanto são eles o objecto de estudo da história. A nível metodológico a interpretação dos dogmas divinos constitui a principal operação do historiador em detrimento da investigação das razoes humanas. Os aspectos morais sobrepõem-se aos vividos na explicação dos fenómenos. Sumário Nesta Unidade temática 3.1 fizemos a bordagem sobre a histografia cristã medieval cuja produção foi da responsabilidade dos monges. A instituição típica mediante a qual cristianismo medieval se simboliza é o mosteiro beneditino. Nesta historiografia, o papel principal no processo histórico é atribuído a Deus e aos reis. É a estes que se atribui responsabilidade pela evolução histórica da humanidade e portanto são eles o objecto de estudo da história. A interpretação dos dogmas divinos constitui a principal operação do historiador em detrimento da investigação das razões humanas. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 28. Descreva a emergência da sociedade medieval. 29. Identifique os responsáveis pela produção histórica medieval. 30. Identifique as principais obras literárias da historiografia cristã medieval. 31. Diferencie os anais das crónicas. 32. Descreve a principal característica da Historiografia Cristã Medieval. Respostas: 28. Rever a introdução desta Unidade (página 32). 29. Rever o 2º parágrafo da página 35 30. Rever o 2º e 3º parágrafo da página 35 31. Rever o 2º parágrafo da página 35. 32. Rever o 1º paragrafo da pagina 36 (antes do sumario desta unidade temática). ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 37 TEMA – IV: HISTORIOGRAFIA MODERNA. UNIDADE Temática 4.1. Historiografia Renascentista UNIDADE Temática 4.2. Historiografia Racionalista UNIDADE Temática 4.1. Historiografia Renascentista Introdução A Historiografia Renascentista representa a visão histórica crítica da reforma protestante. A reforma protestante constituiu, na realidade, a segunda grande revolução da burguesia europeia, depois do movimento comunal. A burguesia lutava pela emancipação espiritual, pela independência das igrejas nacionais bem como pela liberdade individual de pensar. É esta reformulação renascentista da imagem e pepel do homem no universo que caracteriza principalmente esta historiografia também conhecida por Historiografia quatrocentista. Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos Explicar o contexto de surgimento da Historiografia Renascentista; Identificar os responsáveis pela produção historiográfica renascentista; Identificar os principais historiadores renascentistas; Explicar as características da historiografia renascentista. Desenvolvimento A reforma protestante constitui um dos acontecimentos mais marcantes, se não o mais marcante desta época. Quando, sob a égide papal, Portugal e Espanha assinaram o tratado de Tordesilhas as burguesias holandesa, inglesa e francesa, em oposição a este tratado, decidiram proclamar a independência das igrejas nacionais, ISCED CURSO: Ensino de História; 1° Ano Disciplina/Módulo: Evolução do Pensamento Histórico 38 desafiando, portanto, a autoridade supranacional da igreja romana. Este acontecimento foi antecedido por outra grande revolução da burguesia europeia, o movimento comunal. A luta da burguesia pela sua emancipação espiritual estava assim a começar tendo como pano de fundo a rejeição do regime católico- feudal e a implantação de uma nova ordem mais condizente com o desenvolvimento da burguesia. É portanto uma revolução cultural marcada pelo desejo de mudanças o renascimento cuja tónica dominante é a tentativa do homem de sair da sua menoridade (incapacidade de atingir a sua felicidade sem o recurso e o apoio de outrem). Instiga-se a confiança no homem. A evolução dos séculos XV- XVI favoreceu o surgimento de um pensamento humanista que defende o livre arbítrio, o valor da experiencia e o desejo de gloria individual, que conduziu historia humanista, que coloca no centro do seu estudo o homem, reduzindo o papel de deus. O homem vai se sentindo cada vez mais o construtor e responsável do processo histórico. A história evoluiu inspirando-se na consciência humanista e na imitação da antiguidade clássica. É assim que entre os humanistas alia-se uma nova consciência do mundo e da vida à idealização da antiguidade com tentativas de secularização da história. Nesta altura já não são os teólogos e monges mas sim os poetas, literatos, diplomatas, estadistas que escrevem historia falando criticamente do passado nacional ou urbano. Há portanto um alargamento da temática histórica, muito embora prevaleçam os aspectos políticos. Para além do objecto, os humanistas alteram também a forma medieval de exposição, a crónica. Passam então a predominar os anais, numa história orientada
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