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Concurso de Pessoas Os crimes unissubjetivos (ou monossubjetivos, ou de concurso eventual) são aqueles que podem ser praticados por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a coautoria e a participação. Os crimes plurissubjetivos (ou de concurso necessário) são aqueles que exigem dois ou mais agentes para a prática do delito em virtude de sua conceituação típica. Eles subdividem-se em três espécies de acordo com o modus operandi: Crimes de condutas paralelas: quando há colaboração nas ações dos sujeitos, Crimes de condutas convergentes: onde as condutas encontram-se somente após o início da execução do delito pois partem de pontos opostos e Crimes de condutas contrapostas: onde as condutas desenvolvem-se umas contra as outras. O concurso de pessoas reside na hipótese da ocorrência de uma prática delitiva decorrente da empreitada de duas ou mais pessoas ligadas para tal fim. Destarte, o concurso de pessoas é a participação consciente e voluntária de duas ou mais pessoas na mesma infração penal. Tem-se a livre convergência de vontades para um fim ilícito comum. São requisitos imprescindíveis à formação do concurso de pessoas: Pluralidade de condutas: cada indivíduo pratica certo ato a fim de alcançar o objetivo criminoso. Tem-se a divisão das tarefas necessárias à execução do crime. Relevância causal entre as ações: as condutas devem estar ligadas, de modo a completarem-se no sentido da consumação do crime. Liame subjetivo ou psicológico entre os agentes: deve haver a ligação entre as vontades dos agentes, as condutas, no concurso de pessoas, são previamente combinadas e não podem fugir do acordado, configurando, portanto, um desígnio comum. Identidade do fato: a pluralidade de pessoas, configurado do concurso de pessoas, deve ter suas condutas direcionadas à prática do mesmo crime. As condutas devem se direcionar ao mesmo fato criminoso. De tal modo, para falarmos em concurso de pessoas, necessariamente, deveremos analisar o preenchimento de todos os requisitos supracitados. Cumpre, neste contexto, mencionar acerca da possibilidade de afastamento do concurso de pessoas quando de uma das pessoas parte um ato destacado - que foge do combinado -, quebrando o liame subjetivo e mudando, inclusive, a identidade do fato. Pois, nesse caso, acaba por ocorrer um desígnio autônomo, fora do combinado e imprevisível em relação aos outros agentes, que compõem o concurso de pessoas. De tal modo, frisa-se que todo desígnio autônomo será respondido por quem o praticou na medida da sua culpabilidade. Ademais, não é por haver, tão somente, concurso de pessoas que se pode falar em associação criminosa, pois esta pressupõe uma organização, entre três ou mais pessoas, com estabilidade para a prática de vários crimes ao longo do tempo. Enquanto o concurso de pessoas pressupõe, apenas, pluralidades de agentes com vontades convergentes para a prática de um ou alguns crimes. Relativamente ao concurso de pessoas, mister se faz a diferenciação entre autoria criminosa e participação. A autoria criminosa pode ser direta ou indireta, sendo que a primeira (autoria direita) dá-se por quem realiza diretamente a ação típica, no todo ou em parte, colaborando diretamente à prática delituosa, enquanto a segunda (autoria indireta) ocorre por quem satisfaz por meio de outrem, inimputável ou sem culpabilidade, o desígnio criminoso. Ainda quanto à autoria, para fins de concurso de pessoas, autor e coautor não se diferenciam. Sendo assim, autor é todo aquele que pode ligar seus atos com a finalidade criminosa consumada ou tentada. Já o partícipe tem uma atividade acessória para a execução do crime. Há a colaboração com a prática de uma ação que em si mesmo se mostra irrelevante ao direito penal. Trata-se da teoria da cooperação dolosamente distinta, uma vez que esta impede que alguém responda por um fato que não estava na sua esfera de vontade ou de conhecimento. Mas, caso o partícipe saiba da finalidade para qual sua colaboração será utilizada, este responderá pela prática delitiva com a pena diminuída de 1/3 a 1/6. Além disso, se algum dos concorrentes quis participar, apenas, de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste. Porém, essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Por fim, pela incomunicabilidade das situações personalíssimas no concurso de pessoas, as características personalíssimas não se comunicam, assim, por exemplo, se duas pessoas entram na casa da mãe de uma delas a fim de furtar, o filho será absolvido, uma vez que subtrair coisa alheia móvel de um ascendente é isento de pena, porém o outro concorrente responderá por furto. Bem como, se duas pessoas matarem a mãe de uma delas, tal agravante recairá apenas sobre o filho. Todavia, tal prescrição encerra exceção quando as circunstâncias e as condições de caráter pessoal forem elementares do crime, de modo que comunicar-se-ão a condição personalíssima. Reside aqui a hipótese de um funcionário público que em concurso de pessoas - com um amigo qualquer - pratica o crime de peculato. Ambos serão sentenciados por tal crime, pois nesse caso, o crime só se concretizou de tal maneira pela competência especial para a prática do crime próprio. Teoria Monista ou Unitária é a regra da aplicação Teoria Pluralista (por exemplo Aborto – Mãe (art 124)/Medico (art 126) ou Corrupção Ativa (317) e Corrupção Passiva (333)). Concurso de Crimes Concurso de crimes ocorre quando o agente, por meio de uma ou mais de uma conduta (ação ou omissão), pratica dois ou mais crimes, estes podendo ser idênticos ou não. O concurso de crimes é subdividido em concurso material, concurso formal e crime continuado, previstos, respectivamente, nos artigos 69, 70 e 71 do Código Penal. Concurso Material (Art. 69 do CP) Ocorre quando o agente, através de mais de uma conduta (ação ou omissão), pratica dois ou mais crimes, ainda que idênticos ou não. Exemplo: Agente A, armado com um revólver, mata B e depois rouba C. Neste exemplo, há duas condutas e dois crimes diferentes (homicídio e roubo), a este resultado com crimes diferentes atribui-se o termo Concurso Material Heterogêneo, já para crimes idênticos, o termo é Concurso Material Homogêneo. No Concurso Material, o agente deve ser punido pela soma das penas privativas de liberdade. É imprescindível que o juiz, ao somar as penas, individualize cada pena antes da soma. Exemplo: Três tentativas de homicídio em Concurso Material. Neste caso, o magistrado deve, primeiramente, aplicar a pena para cada uma das tentativas e, no final, efetuar a adição. Somar as penas antes da individualização viola, claramente, o princípio da individualização da pena, fato que pode anular a sentença. Na hipótese da sentença cumular pena de reclusão e detenção, a de reclusão deverá ser cumprida primeira. Concurso Formal (Art. 70 do CP) Ocorre quando o agente mediante uma conduta (ação ou omissão) pratica dois ou mais crimes, ainda que idênticos ou não. Exemplo: Agente A, com a intenção de tirar a vida da Agente B, grávida de 8 meses, desfere várias facadas em sua nuca, B e o bebê morrem. Aplica-se a pena mais grave, aumentada de 1/6 até 1/2, e somente uma das penas, se iguais, aumentada de 1/6 até 1/2. Aplicam-se as penas, cumulativamente, se a ação ou omissão for dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos. Concurso formal homogêneo: dois ou mais crimes idênticos. o Exemplo: Avançar o sinal vermelho e matar duas pessoas. Dois Homicídios Culposos. Concurso formal heterogêneo: dois ou mais crimes diversos. o Exemplo: Avançar o sinal vermelho e matar uma pessoa e ferir outra. Homicídio e Lesão Corporal. Concurso formal perfeito: o agente não possuía o intuito de praticar os crimes de forma autônoma (culpa). o Exemplo 1: Agente A atira em B para matá-lo, a bala atravessa e atinge C. Dolo + Culpa. o Exemplo 2: Motorista que dirige de forma imprudentea acaba matando três pessoas. Culpa + Culpa. Concurso formal imperfeito: o agente possuía o intuito de praticar os crimes de forma autônoma (dolo). o Exemplo 1: Agente A que atira em C e D, seus desafetos. Dolo + Dolo. Na hipótese IV, a pena sempre será somada. Crime continuado (Art. 71 do CP) O artigo 71 do Código Penal prevê que: "Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições do tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticos, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código". Entende-se que são delitos da mesma espécie os que estiverem previstos no mesmo tipo penal, tanto faz que sejam figuras simples ou qualificadas, dolosas ou culposas, tentadas ou consumadas. A figura do crime continuado do caput do artigo 71 do Código penal constitui um favor legal ao agente que comete vários delitos. Cumpridas as condições do mencionado dispositivo, os fatos serão considerados crime único por razões de política criminal, sendo apenas agravada a pena de um deles, se idênticos, ou do mais grave, se diversos, à fração de 1/6 a 2/3. O reconhecimento de tal modalidade exige uma pluralidade de condutas sucessivas no tempo, que ocorrem de forma periódica e se constituem em delitos da mesma espécie (ofende o mesmo bem jurídico tutelado pela norma – não se exigindo a prática de crimes idênticos). É o caso do indivíduo que é preso após cometer vários furtos, o qual agia sempre da mesma forma. A pena do furto é de 1 a 4 anos, na hipótese da prática de 50 furtos e aplicação da pena máxima em cada um, não seria interessante para o Estado o cumprimento de 4x50=200 anos de pena aplicada ao condenado, o que feriria também o princípio da ressocialização do apenado. Princípios Constitucionais da Pena 1. Principio da Dignidade da Pessoa Humana – A pena deve ser humanizada, não pode-se aplicar penas desumanas, cruéis ao individuo. O condenado deve responder criminalmente por sua conduta, mas sem que sua dignidade seja violada. 2. Principio da prevalência dos Direitos Humanos (Art. 4º, CF) – Este principio vai nos remeter a outros princípios constitucionais, como o principio da dignidade humana, principio da integridade física, etc. 3. Principio da Legalidade (Art. 5º, XXXIX) – Não há pena sem previa cominação legal, sem previsão da conduta em texto legal. Não há crime, e portanto, pena, sem prévia expressão legal. - O principio da Taxatividade decorre deste principio; isto é, não posso ter uma pena absolutamente definitiva ou totalmente abstrata. Deve haver uma probabilidade, um mínimo e um máximo para punibilidade do sujeito, de acordo com o crime especificamente por ele cometido. - A qualidade da pena também está inserida neste principio, isto é, deve ser definido qual tipo da pena (multa, pena de morte, detenção, reclusão, pena alternativa) - “Não há crime sem lei anterior que expressamente o preveja” e “Não há crime sem previa cominação legal.” A legalidade penal deve ser observada na criação do crime, da conduta e da pena. A pena deve ser definida qualitativamente e quantitativamente. 4. Principio da Individualização da Pena (Art. 5º, X, CF) – A lei regerá a individualização da pena. O juiz deve observar a pena em abstrato (a norma) e aplicá-la segundo o sistema. Cria-se um livro convencimento do juiz em relação ao caso concreto, estabelecendo, para tal, a pena adequada, dentro do que já foi estabelecido em lei. Ao adequar a lei ao caso em concreto ocorre uma nova individualização da pena. A terceira diferenciação ocorre na execução penal. O juiz de execução irá adaptar a sentença condenatória em julgado para o condenado. 5. Principio da Proporcionalidade da Pena – O Estado deve racionalizar a proporção do poder que ele possui de aplicar penas a delitos. 6. Principio da Anterioridade Legal – Há a necessidade de ter uma pena prevista anteriormente com a garantia acima tratada. 7. Principio da Humanidade – A pena não é uma vingança sádica em favor da vítima. Deve haver um equilíbrio na aplicação de uma pena, levando em conta a dignidade da pessoa humana, evitando situações sádicas e degradantes. Sanção Penal A sanção penal comporta duas espécies: a pena e a medida de segurança. Primeiramente, trataremos da pena. 1. Conceito de pena: Pena é a sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal. Consiste, ainda, na restrição ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao delinquente, promover sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade. 2. Finalidades da pena: -Existem três teorias que explicam as finalidades das penas: Teoria absoluta ou da retribuição: A pena é vista como a retribuição do mal injusto causado pelo agente quando da prática de uma infração penal. Assim, a pena terá a finalidade de punir o autor do cometimento de uma infração penal. Teoria relativa, finalista, utilitária ou da prevenção: A pena tem um fim prático e imediato de prevenção geral ou especial do crime. A prevenção especial diz respeito ao entendimento de que a pena tratará da readaptação social e segregação social do criminoso, impedindo-o de voltar a delinquir. Já, a prevenção geral é representada pela intimidação dirigida ao ambiente social, ou seja, as pessoas não delinqüem, pois têm medo de receber a punição. Teoria mista, eclética, intermediária ou conciliatória: A pena terá o fim de punir o criminoso e ainda, prevenir a prática de novo crime, isso tudo através da reeducação, além da intimidação coletiva. 3. Característica das penas e princípios constitucionais: Legalidade: A pena deve estar prevista em lei vigente, não se admitindo seja cominada em regulamento ou ato normativo infra legal (Art. 1º, CP). A legalidade penal deve ser observada na criação do crime, na conduta e na pena. Princípio Constitucional equivalente: Art. 5º, XXXIX, CF – Não pode existir crime sem lei que o defina e não pode existir uma pena sem prévia cominação legal, ou seja, não pode existir uma pena sem que a lei, previamente, assim estabeleça; é necessário se saber, de maneira taxativa, a pena que será aplicada. - Esta limitação terá desdobramentos, como a taxatividade. Não posso ter uma pena absolutamente determinada. É necessário que exista uma previsibilidade, conferida pela legalidade penal, através do padrão mínimo e máximo. - Assim, como cidadão é importante conhecermos até quanto o Estado poderá intervir em minha liberdade, quer na perspectiva quantitativa¹, quer na qualitativa². Assim é essencial que se conheça qual o mínimo e máximo de uma pena¹ e como e em quais casos ela se aplica² (qual a “qualidade” da pena). - Critério qualitativo: Tenho o mínimo e o máximo da intervenção estatal em minha liberdade. Anterioridade: A lei já deve estar em vigor na época em que for praticada a infração penal. Princípio Constitucional equivalente: Anterioridade legal: Há, de fato, a necessidade de se ter uma pena prevista anteriormente com a garantia acima tratada. Personalidade: A pena não pode passar da pessoa do condenado. Assim, a pena de multa, por exemplo, não pode ser exigida dos herdeiros do falecido. (Art. 5º, XLV, CF). d) Individualidade: A imposição e cumprimentoda pena devem ser individualizados de acordo com a culpabilidade e o mérito do sentenciado. Princípio Constitucional equivalente: Art. 5º, XLVI, CF - Individualização da pena: A lei regulará a individualização da pena. Existem três momentos da individualização: (i) O legislador teve a necessidade do estabelecimento de uma pena, da sua quantidade e qualidade de extensão. Assim, a primeira individualização é aquela feita pelo próprio legislador. (ii) O juiz deve observar a pena em abstrato (a norma), fazendo, segundo o sistema trifásico proposto por Nelson Hungria, (portanto das circunstâncias judiciais, legais e causas de aumento e diminuição), um cotejo ao caso concreto. Cria-se, assim, um livre convencimento quanto ao caso concreto, estabelecendo para tal, a pena adequada, dentro do que já previsto em lei. (Art. 49, CP). (iii) A terceira que ocorre é aquela da execução penal. Sabe-se que um juiz condena e outro executa. Este último irá adaptar a sentença condenatória em julgado para o sentenciado. Inderrogabilidade: Salvo as exceções legais, a pena não pode deixar de ser aplicada sob nenhum fundamento. Dessa forma, por exemplo, o juiz não pode extinguir a pena de multa levando em conta seu valor irrisório. Proporcionalidade: A pena deve ser proporcional ao crime praticado (art. 5º, XLVI e XLVII) Princípio Constitucional equivalente: Proporcionalidade da pena: O Estado deve racionalizar a proporção do poder que ele possui de aplicar penas a delitos. Humanidade: Não são admitidas as penas de morte, salvo em caso de guerra declarada, perpétuas (art. 75, CP), trabalhos forçados, de banimento e cruéis. Princípio Constitucional equivalente: Art. 5º, XLVII, CF – Humanidade: A pena não é uma vingança sádica. Deve-se, portanto, possuir um equilíbrio na aplicação de uma pena, considerando a dignidade da pessoa humana, evitando por completo situações sádicas e degradantes
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