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SEMINÁRIO III – FLN – EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Paulo José Stramosk Questões 1. Defina o conceito “decadência” no âmbito do direito tributário. Nas palavras de Aurora Tomazini de Carvalho (Decadência e prescrição em direito tributário, MP Editora, p. 41-42), a decadência pode ser conceituada sob 3 enfoques: a- “norma cuja hipótese descre o fato do não exercício de um direito dentro de certo período de tempo e o consequente prescreve a perda deste direito por seu titular (instância normativa); b- “fatos jurídicos consubstanciam-se no relato em linguagem competente de um acontecimento social, a inércia do titular do direito durante um determinado período de tempo (instância factual); e c- “efeitos jurídicos consubstanciam-se na perda jurídica de um direito subjetivo por seu titular” (instância efectual). (a) Com base na bibliografia indicada para desenvolvimento deste seminário apresente as diferentes acepções do conceito “decadência”. Paulo de Barros Carvalho (Direito tributário linguagem e método. Ed. Noeses, 3ª Edição, 2009. p. 560) destaca “seis acepções para o vocábulo ‘decadência’, no campo do direito tributário: (i) “decadência” como norma geral e abstrata; (ii) como a hipótese dessa norma, descrevendo o termo final de um lapso de tempo; (iii) como o consequente da norma geral e abstrata, tipificando o efeito extintivo; (iv) como norma individual e concreta que constitui o fato de haver decorrido o tempo referido na regra geral e abstrata, no mesmo instante em que determina, no consequente, o efeito fulminante de desconstituir uma relação existente; (v) como o antecedente desta última norma individual e concreta; e (vi) tão só como o consequente, também desta última regra”. Para Eurico Marcos Diniz de Santi, citado por Aurora Tomazini de Carvalho (Decadência e prescrição em direito tributário, MP Editora, p. 41) a decadência possui duas acepções distintas: 1- “decadência do direito do fisco: a perda da competência administrativa do fisco para constituir o crédito, em decorrência do decurso de certo período de tempo sem que se tenha exercitado”; e 2- “decadência do direito do contribuinte: a perda da legitimidade do contribuinte de repetir o indébito na esfera administrativa, em decorrência do decurso de certo período de tempo, sem que o tenha exercitado”. (b) Construa a respectiva estrutura normativa para cada acepção (ex. NGA, NIC, antecedente, consequente...), indicando qual(is) dessa(s) estrutura(s) normativa(s) são norma em sentido estrito. Em relação àquelas indicadas por Eurico Marcos Diniz de Santi, citado por Aurora Tomazini de Barros (Decadência e prescrição em direito tributário, MP Editora, p. 45-46 e 49) tem-se que: Decadência do direito do Fisco (5 regras): 1ª – NGA: Não previsão de pagamento antecipado, não ocorrência do pagamento antecipado, não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, não ocorrência de anulação. NIC: Perda da competência administrativa do Fisco para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos do primeiro dia do exercício seguinte àquele que ocorreu o evento tributário. 2ª – NGA: não ocorrência do pagamento antecipado (independe de previsão), não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, existência de notificação, não ocorrência de anulação. NIC: Perda da competência administrativa do Fisco para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos da data da notificação. 3ª – NGA: ocorrência do pagamento antecipado (com previsão de pagamento), não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, ausência de notificação, não ocorrência de anulação. NIC: Perda da competência administrativa do Fisco para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos do evento tributário. 4ª – NGA: previsão de pagamento antecipado, ocorrência de dolo, fraude ou simulação, ocorrência de notificação e não ocorrência de anulação. NIC: Perda da competência administrativa do Fisco para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos da notificação de dolo, fraude ou simulação. 5ª – NGA: existência de decisão administrativa ou judicial que anule lançamento anterior. NIC: Perda da competência administrativa do Fisco para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos da decisão anulatória do lançamento anterior. Decadência do direito do contribuinte (2 regras): 1ª – NGA: Não ocorrência de anulação de decisão anterior que motivou o pagamento. NIC: Perda do direito de repetir o indébito administrativamente a contar o prazo de 5 anos da data do pagamento. 2ª – NGA: Anulação de decisão anterior que motivou o pagamento, desde que dentro do prazo de 5 anos do pagamento. NIC: Perda do direito de repetir o indébito administrativamente a contar o prazo de 5 anos da data da reforma da decisão que havia motivado o pagamento. (c) É correta a afirmação de que a decadência opera-se automática e infalivelmente? Justifique sua resposta. No campo filosófico do direito, a decadência não se opera de forma automática e infalível, uma vez que o Direito não toca situações sociais, pois é um mundo paralelo e intelectual. Nas palavras de Argos Campos Ribeiro Simões (Decadência: artigo 150, § 4º x artigo 173, I na aplicação a dois casos relevantes: creditamento indevido e ICMS-importação “por conta e ordem”. Leitura complementar desse seminário e sem indicação bibliográfica para citação apropriada): Nesta linha de pensamento, temos que normas não são passíveis de incidência automática sobre acontecimentos sociais; mas são incididas pela atividade de construção linguística do homem ao relatar juridicamente tais acontecimentos no processo denominado “aplicação” do Direito. É importante destacar que a teoria jurídica tradicional acredita na aplicabilidade automática e infalível da norma no plano factual, uma vez que esse sistema teórico não faz distinção entre os planos de direito positivo e de realidade social. Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho, a aplicação da norma é automática e infalível, apenas, em relação ao fato jurídico (CARVALHO, Aurora Tomazini. Teoria geral do direito (o Construtivismo Lógico-Semântico). 2009). (d) Quanto aos efeitos da decadência em relação ao crédito tributário (arts. 150 e 173, do CTN), pode-se afirmar que sejam: (i) extintivos ou (ii) impeditivos? Justifique sua resposta. Para Paulo de Barros Carvalho (Direito tributário linguagem e método. 3ª Edição, editora Noeses. p. 561) o efeito extintivo previsto no art. 173 do CTN “é o do desaparecimento do direito da Fazenda, consistente em exercer sua competência administrativa para constituir o crédito tributário”. Esse efeito extintivo da obrigação tributária, portanto, “quando o fato da decadência for reconhecido posteriormente à instalação da obrigação tributária” (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 23ª Edição, Editora Saraiva. p. 543). (e) Diferençar, se possível: (i) decadência do direito de lançar, (ii) prescrição do direito de o Fisco cobrar o crédito tributário, (iii) decadência do direito do contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário e (iv) prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito tributário. Nas palavras de Eurico M. D. de Santi, citado por Aurora Tomazini de Barros (Decadência e prescrição em direito tributário, MP Editora, p. 41): Decadência do direito de lançar: “perda da competência administrativa do fisco para constituir o crédito tributário”. Prescrição do direito do Fisco de cobrar o crédito tributário: “perda do direito do fisco de ingressar com o processo executivo fiscal”. Decadência do direito do contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário: “a perda da legitimidade do contribuinte de repetir o indébito na esfera administrativa” – “perda da competência da administração para constituir o indébito tributário”. Prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébitotributário: “perda do direito do contribuinte de pleitear o seu débito tributário, indébito na esfera judicial” – “aqui também há uma perda da competência do judiciário para constituir o indébito tributário”. 2. Conjugando o art. 146, III, “b”, da CF e o princípio da autonomia dos entes federativos, responda: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei ordinária, podem estabelecer prazo diverso do constante no CTN para a decadência e prescrição de seus créditos? E mediante lei complementar estadual ou municipal? (Vide anexo I e Súmula Vinculante n. 8 do STF). Inicialmente é importante destacar que a disciplina de normas gerais de direito tributário, como é o caso da decadência e da prescrição, não é cabível em lei ordinária, mas, somente, por lei-complementar, como determinado na Súmula Vinculante n. 8 do STF. Ademais, é vedado a estados e municípios alterar o prazo decadencial ou prescricional previsto no CTN, uma vez que o interesse da constituição é manter a homogeneidade da matéria. 3. Quando começa a contar o prazo de decadência para o Fisco lançar nos tributos sujeitos ao lançamento de ofício? E nos tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”? Se não houver o que homologar, o prazo passa a ser o dos tributos sujeitos ao lançamento de ofício (vide anexos II e III)? E no caso de fraude (vide anexo IV)? O prazo decadencial para o fisco lançar os tributos sujeitos ao lançamento de ofício inicia-se no primeiro dia do exercício fiscal subsequente ao evento tributário (art. 173, I, do CTN). O prazo decadencial para o fisco lançar os tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”, em regra, inicia-se com a ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN). Não declarado o débito pelo contribuinte, o prazo a ser aplicado é o previsto no art. 173, I, do CTN, nos termos da Súmula n. 555 do STJ. No caso de fraude, aplica-se o art. 173, I, do CTN também. 4. Como deve ser interpretado o parágrafo único do art. 173 do CTN? Que se entende por “medida preparatória indispensável ao lançamento”? Tal medida tem apenas o condão de antecipar o termo inicial da contagem do prazo prescrito no inciso I ou pode também postergá-lo? Trata-se de causa de interrupção do prazo decadencial? (Vide anexo V e VI). O parágrafo único do art. 173 do CTN expressamente afirma que: O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. Ou seja, permite à fazenda a antecipação da constituição do crédito tributário, mediante notificação do contribuinte de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento, como é o caso da intimação do contribuinte quanto à instauração de processo de fiscalização. Essa norma não permite a postergação da contagem do prazo prescrito no inciso I, bem como não é causa de interrupção do prazo decadencial. 5. A Lei n. 11.051/04 trouxe previsão de prescrição intercorrente no processo judicial. Quanto ao processo administrativo fiscal, existe prescrição intercorrente no seu curso? E no decorrer do processo executivo fiscal? Qual é o tratamento mais adequado em caso de falta de intimação da Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua manifestação antes da decisão que decreta a prescrição intercorrente? É possível que a decretação da prescrição intercorrente seja ilidida? Justificar (vide anexos VII, VIII e IX e X). O Carf defende que não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo, conforme súmula 11 desse conselho, em que pese tenha precedentes da sua incidência, como é o caso do Processo n. 5013446- 32.2019.4.03.6100, da 2ª Vara Cível Federal de São Paulo. A Lei n. 6.830/80 prevê a incidência da prescrição intercorrente, art. 40, § 4º, no processo judicial, inclusive é matéria sumulada pelo STJ (Súmula 314). No § 5º do mesmo dispositivo há previsão de quando será dispensada a manifestação prévia da Fazenda Pública. A oitiva da Fazenda Pública é regra procedimental prevista na Lei n. 6.830/80 e, por isso, deve ser observada. De qualquer maneira, é importante destacar que a não intimação da Fazenda Pública para se manifestar não gera prejuízo, uma vez que a prescrição intercorrente já se perfectibilizou quando da intimação da Fazenda, ou seja, a manifestação não terá o condão de afastar a prescrição. Assim, entendo que a regra de intimação da Fazenda Pública para se manifestar deve ser aplicada, mas, caso não ocorra, deverá ser analisada e comprovada a prejudicialidade gerada por esse equívoco processual, sob pena de mitigação da norma e, consequentemente, a decretação da prescrição não será ilidida. 6. Qual o marco inicial da contagem do prazo para redirecionamento da execução fiscal contra os sócios? Trata-se de prazo decadencial ou prescricional? É possível compreender que o mesmo fato jurídico “dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal de débito não-tributário. (Vide anexos XI, XII e XIII) O prazo prescricional para redireccionamento da execução fiscal contra os sócios conta-se da citação da empresa no processo expropriatório. A Súmula 435 do STJ declara que a presunção da dissolução irregular da empresa é suficiente para permitir o redireccionamento da execução fiscal aos sócios, da mesma forma que permite o redireccionamento da execução fiscal de débito não-tributário, como também é permitido no direito privado, art. 1.033 a 1.038 do CC. 7. Sobre a decadência/prescrição do direito de repetir o indébito tributário pergunta-se: a) Quais indébitos estão sujeitos ao art. 3º da LC n. 118/05: todos, independente da data do pagamento indevido; aqueles cuja restituição seja requerida depois do termo inicial de sua vigência; ou somente os pagamentos efetuados após iniciada sua vigência? Justificar (vide anexos XIV e XV). O art. 3º da LC n. 118/05, em que pese indicar natureza interpretativa, possui intenção modificativa do art. 168 do CTN, como bem declarou o STF no julgamento do RE 566.621/RS (rela. Mina. Ellen Gracie, DJ de 11-10-2011). No julgamento desse recurso extraordinário o STF fixou entendimento que o prazo quinquenal será aplicado nas ações ajuizadas após a vacatio legis de 120 dias prevista no art. 4º da LC n. 118/05, ou seja, naquelas protocoladas após 9-6-2005. Esse prazo prescricional dos tributos sujeitos a lançamento por homologação é de cinco anos e conta-se do pagamento antecipado de que trata o art. 150, § 1º, do CTN. b) No caso de lei tributária julgada inconstitucional em ADIN (sem modulação de efeitos), como fica o prazo para repetir o indébito tributário? Conta-se do pagamento indevido ou o termo inicial seria a “data da declaração de inconstitucionalidade da lei que fundamentou o gravame”? (Vide anexos XVI e XVII). O Carf entende que declarada a inconstitucionalidade de norma em ADIN, a decadência do indébito é de 5 anos e seu prazo inicia com o trânsito em julgado da decisão que reconheceu a inconstitucionalidade (Acórdão n. 1402- 000.481). O STJ, em contrapartida, entende que esse prazo prescricional é contado a partir do pagamento indevido (REsp n. 1.110.578/SP – Anexo XVI do material de apoio.
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