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Letícia Nano- Medicina Unimes Transtornos mentais decorrentes do uso de substâncias psicoativas Substâncias psicoativas ou drogas psicoativas são substâncias que alteram o comportamento do usuário e induzem ao uso novamente. Podem ser classificadas de acordo com efeito no SNC como: - Depressoras: álcool, inalantes, opióides etc - Estimulantes: cocaína, nicotina, anfetamina etc - Alucinógenas: LSD etc No DSM IV era classificado como Abuso e dependência de substâncias. Abuso de substâncias Dependência de substâncias Padrão mal adaptativo de uso com consequências danosas pelo uso repetido da substância Sintomas psicofisiológicos pelo uso contínuo apesar dos problemas significativos a ela. Ex: fracasso repetido em cumprir obrigações importantes, uso repetido em situações que apresente perigo físico, social etc Tolerância, abstinência e comportamento compulsivo com impulso irrefreável *Tolerância: necessidade de quantidades crescentes de substâncias para atingir o efeito desejado ou efeito acentuadamente diminuído com o uso contínuo da substância. *Abstinência: alteração comportamental mal adaptativa, com elementos fisiológicos e cognitivos quando declinam as concentrações de substâncias no sangue e tecidos, cujo indivíduo manteve uso intenso e prolongado. Os sintomas variam de acordo com a substância utilizada, e são mais comuns de serem mensurados na abstinência de álcool, opioides e sedativos, hipnóticos e ansiolíticos. O termo Abuso e dependência de substâncias foi substituído no DSM-v pois acredita-se que as alterações decorrentes do uso de substancias sejam um processo contínuo e mais gradual (muitos casos estavam entre a classificação de abuso e dependência propriamente dita). Características dos Transtornos mentais decorrentes do uso de substâncias psicoativas: 1. Padrão de uso patológico de substância (padrão de risco) 2. Recaídas constantes 3. Fissuras (capacidade incontrolável de uso) 4. Prejuízo social e funcional Uso normal de substâncias psicoativas Uso patológico de substâncias psicoativas Não traz danos Independente da quantidade ou frequência, traz prejuízos à saúde física ou mental Uso ocasional, dentro do contexto social Uso frequente, e até escondido Uso em maiores de 18 anos Uso em menores de 18 anos Não uso em gestantes Uso em gestantes Controle do uso (quando beber e quanto) Não tem controle de uso Não ocasiona problemas sociais Problemas sociais Pode produzir comportamentos violentos (1ª causa de violência doméstica- álcool) Não ocasiona abstinência Sintomas psicológicos ou físicos pela abstinência Letícia Nano- Medicina Unimes Intoxicação A intoxicação é uma síndrome reversível específica ocasionada pela ingestão de uma substância ou exposição a ela. São alterações comportamentais e mal adaptativas (em razão do efeito da substância sob SNC), que se desenvolvem durante ou logo após o uso. Os sintomas não podem ser atribuídos a outra condição médica ou explicados por outro transtorno mental. Ex: beligerância, instabilidade de humor, prejuízo cognitivo, comprometimento de memória, prejuízo de funcionamento social ou ocupacional... Agentes tóxicos Antídotos Anticolinérgicos (atropina e antidepressivo tricíclico – ADT) Fisostigmina Anticolinesterásico (organofosforados) – chumbinho Atropina Benzodiazepínicos Flumazenil Cianeto Nitrito de sódio, tiassulfato de sódio Metanol Etanol Opióides Naxolona Transtornos mentais secundários ao uso de substâncias psicoativas • Álcool: psicose por álcool, alucinose alcóolica, síndrome amnéstica de Korsakoff e outros • Cocaína, Anfetamina: T. Pânico (primário ou secundário) psicose esquizofreniforme, depressão (principalmente na retirada e se mantém) e alterações cognitivas com o uso a longo prazo • Cannabis: síndrome amotivacional (apatia no uso crônico), psicose esquizofreniforme, esquizofrenia (nas pessoas geneticamente predispostas) e alterações cognitivas com o uso a longo prazo • Benzodiazepínico: depressão, outros diversos problemas psiquiátricos • Cafeína: ansiedade e quadros de intoxicação não psiquiátricos • Anabolizantes: Psicose esquizofreniforme, depressão • Alucinógenos (LSD): psicose esquizofreniforme Medicações: • Analgésicos (dolantina, opióides): psicose • Anticolinérgicos: alucinações Álcool Uso nocivo: Homens > 21 unidades/semana Mulheres > 14 unidades/semana 1 unidade = 14 g de álcool ou no Brasil (14g de álcool) ▪ 350ml de cerveja (5%) ▪ 150ml de vinho (12%) ▪ 45ml de destilados (40%) Não produz comportamentos de risco Envolvimento com atividades ilegais para se obter a substância Operar veículos e máquinas sob uso Letícia Nano- Medicina Unimes Alcoolemia e efeitos: Alterações clínicas que parecem dependendo da quantidade de álcool por 100ml de sangue (existem variações pessoais). o 25-30 mg: Sensação de bem estar e menor tempo de reação o 50-60mg : desinibição e maior risco de acidentes o 75-80mg; menor coordenação física e grande desinibição o >150 mg: fala pastosa, amnésia e embriaguez manifesta o >360 mg: embriaguez absoluta e perda da consciência o >500 mg: Coma e possibilidade de morte O padrão de uso nocivo é diagnosticado principalmente por consequências físicas, mentais, sociais e ambientais. Marcadores biológicos como aumento específico de transferrina deficiente em carboidratos TDC, VCM, GGT, TGP e TGO podem sugerir uso regular de mais de 8 doses por dia de álcool, mas sem valor clínico importante. Classificação DSM V • Intoxicação por álcool • Abstinência de álcool • Transtorno por uso de álcool • Outros transtornos induzidos pelo álcool • Transtornos induzido por álcool não especificado O álcool ingerido passa pelo estomago e é absorvido pelo intestino, caindo na corrente sanguínea. A passagem de álcool para o sangue é proporcional à velocidade que ele é ingerido. A presença de alimentos no intestino lentifica a absorção intestinal. No sangue, o álcool ao chegar no fígado é metabolizado em acetaldeído e depois acetato por outras enzimas. O processo de degradação do álcool obedece a um ritmo fixo, se ultrapassado pela quantidade consumida, se dá a intoxicação por álcool (estado de embriaguez). A quantidade de enzimas metabolizadoras de álcool é variável, tornando-se mais resistente a ele, de acordo com o uso contínuo (relação com a tolerância). Tanto o acetaldeído quanto o acetato, e o álcool excedente são eliminados pelo rim. As quantidades que retornam ao sangue e passam pelo sangue, são metabolizadas em água e gás carbônico que são expelidos pelos pulmões. Apesar de ser extremamente calórico, o álcool não fornece material estocável, sendo sua energia somente utilizável enquanto circula ou então é perdida. O dano direto do álcool no cérebro é um assunto discutido, mas sabe-se que o córtex pré frontal é a parte mas alterada, responsável pelas funções corticais superiores como raciocínio, capacidade abstração, lógica etc. Há relação da quantidade de álcool ingerida e extensão do córtex acometido. A segunda parte mais alterada é o cerebelo e parte relacionada à memória. Outro mecanismo de lesão cerebral é pelo stress oxidativo, decorrente da metabolização do etanol, produzindo altos níveis intracelulares de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. CID 11 • Padrões de consumo nocivo • Dependência de álcool • Abstinência de álcool • Delírio induzido por álcool • Transtorno psicótico induzido pelo álcool • Outros transtornos induzidos pelo álcoolLetícia Nano- Medicina Unimes Álcool definição Quadro clínico Tratamento Intoxicação SIndrome reversível durante ou após o uso do álcool, pela ingestão excessiva Euforia, fala pastosa, ataxia, nistagmo, prejuízos memoria atenção, e rebaixamento da consciência e até coma. Pode ter comportamentos inadequados *Intoxicação patológica: condição em que ingestão de pequenas doses refletem grande alteração de comportamento (violento, crepuscularização de consciência e amnesia lacunar Medidas de suporte, atenção para traumas cranioencefálicos e broncoaspiração, e receber tiamina sempre antes da infusão de soro glicosado para evitar sd de Wernick Korsakoff Agitação: haloperidol CUIDADO NÃO usar benzodiazepínicos (rebaixamento) Síndrome abstinência SIndrome em pessoas que interrompem o consumo de álcool após longo e intenso uso Manifestações se iniciam 6-8 horas da última bebida. Manifestações leves (grau I): tremores, insônia, vômitos, ansiedade, irritabilidade Grau II: grau I+ alucinações Grau III: grau II + convulsões (tônico-clônico generalizada) Grau IV: delirium tremens Tiamina 1 amp IM 30min antes da glicose, hidratação, contenção no leito, benzodiazepínicos VO, Diazepam VO 10 mg/hora até sedar (máx 60 mg/dia) Haloperidol: abaixar limiar convulsivo- NÃO USAR Delirium tremens É um estado confusional agudo na forma mais grave de abstinência alcóolica (grau IV) Ocorre após 12-72 horas da última ingestão. Tremores, agitação psicomotora, taquicardia, sudorese, náuseas, vômitos, febre, ilusões, alucinações táteis e visuais, desorientação têmporo-espacial, ansiedade, crises convulsivas Potencialmente fatal -> desequilíbrio hidroeletrolítico Tiamina 1 amp IM 30min antes da glicose, hidratação, contenção no leito, benzodiazepínicos VO, Diazepam VO 10 mg/hora até sedar (máx 60 mg/dia), exames laboratoriais, TC (se pronto socorrro) Sd. Wernick Korsakoff Síndrome causada pela carência de vitamina B1 (tiamina)associada a ingestão continuada de carboidrato Incoordenação motora (ataxia cerebelar), movimentos oculares rítmicos (nistagmo), paralisia de certos músculos oculares, confusão mental, déficit de memória e fabulações (vai preenchendo a memória com imaginações) *O déficit de memória pode ser permanente Tiamina 1 AMP IM 8/8h por 3 dias depois VO Alucinose alcóolica Quadro psicótico em indivíduos com dependência de álcool, na maior parte em abstinência Consciência vigil, delírio de perseguição, alucinação auditiva, agitação psicomotora. Abstinência de no mínimo 1 mês Haloperidol na fase aguda e medicação para dependência Dependência Tolerância, abstinência e comportamento compulsivo com impulso irrefreável Sintomas psicofisiológicos pelo uso contínuo apesar dos problemas significativos a ela Naltrexona VO: diminui desejo – dose única obs.: hepatotoxicidade Acamprosato inibe glutamato 3x/dia DIssulfiram: dose única obs.: reações toxicas Letícia Nano- Medicina Unimes Efeitos crônicos SIndrome amnésica de Wernick- Korsakoff A encefalopatia de Wernicke resulta da ingestão ou absorção inadequada de tiamina associada à ingestão continuada de carboidratos. O alcoolismo grave é condição subjacente comum. A ingestão excessiva de álcool interfere na absorção de tiamina do trato GI e no armazenamento hepático de tiamina; a nutrição ruim associada ao alcoolismo muitas vezes impede o consumo adequado de tiamina.A forma metabolicamente ativa da tiamina é o pirofosfato de tiamina, que desempenha um papel importante como um co-fator como coenzima no metabolismo da glicose. As enzimas que são dependentes de pirofosfato de tiamina estão associadas com o ciclo de Krebs), que catalisam a oxidação do piruvato, α-cetoglutarato e aminoácidos de cadeia ramificada. Assim, qualquer coisa que estimular o metabolismo da glicose vai agravar essa deficiência de tiamina clínica ou sub-clínica existente. Em pacientes com alcoolismo crônico, com deficiência de tiamina prévia, em quadro de intoxicação ou abstinência em que se é administrado glicose sem a reposição da tiamina prévia, a deficiência de tiamina se intensifica, e manifesta-se na síndrome Wernicke-Korsakoff. A demência de Korsakoff leva a um quadro de déficit de memória, que pode ser persistente mesmo após o tratamento. Prevenção: administração tiamina Tratamento: administração tiamina Demência alcóolica A síndrome demencial alcóolica é semelhante às demais demências. No uso intenso e prolongado (mesmo sem a SWK), o álcool pode provocar lesões difusas no cérebro, prejudicando, além da memória, a capacidade de julgamento, abstração de conceitos, personalidade e o comportamento como um todo. Tratamento ambulatorial Avaliação motivação alcoolismo • Pré contemplação: não acha que precisa parar • Contemplação: visualiza o problema mas não quer tratar agora • Ação: está determinado ->> agir, mostrar plano de tratamento • Manutenção: fazendo plano de ação Saber que existem recaídas e orientar o paciente. Política redução de danos: diminuir as doses de álcool pode ser benéfica. Não é muito utilizado no Brasil.
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