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DEPENDÊNCIA QUÍMICA – TBL 7 DANIELA FRANCO TRANSTORNO POR USO DE SUBSTÂNCIAS - TUS Reconhecer a dependência química (Transtorno por Uso de Substâncias - TUS) como problema de saúde pública no Brasil, fatores de risco e epidemiologia (substâncias psicoativas mais utilizadas, perfil sócio-cultural-econômico dos usuários). Dependência O uso repetido de uma droga ou substância química. Dependência física indica um estado fisiológico alterado devido à administração repetida de uma droga, cuja cessação resulta em uma síndrome específica. Abuso Uso de qualquer tipo de droga, em geral autoadministrada. São substâncias que podem desencadear no indivíduo a auto-administração repetida, resultando em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo. Classes 1. Álcool; 2. Nicotina; 3. Cocaína; 4. Anfetaminas; 5. Inalantes; 6. Opioides; 7. Ansiolíticos benzodiazepínicos; 8. Maconha. Adição Uso repetido e crescente de uma substância, cuja privação faz surgir sintomas de sofrimento e compulsão Intoxicação Síndrome reversível causada por uma substância específica (p. ex., álcool) que afeta uma ou mais das seguintes funções mentais: memória, orientação, humor, discernimento e funcionamento comportamental, social ou profissional. Abstinência Síndrome específica de cada substância que ocorre após a interrupção ou redução da quantidade da droga ou substância de uso regular durante um período prolongado. Tolerância após a administração repetida, uma determinada dose da droga produz um efeito reduzido, ou doses cada vez maiores são necessárias para se obter o efeito observado com a dose original. Neuroadaptação Alterações neuroquímicas ou neurofisiológicas no corpo que resultam da administração repetida de uma droga. A neuroadaptação explica o fenômeno de tolerância. Codependência Termo usado para se referir a familiares afetados ou que influenciam o comportamento do indivíduo que abusa de substância. Relacionado ao termo facilitador, que é a pessoa que contribui para o comportamento aditivo do indivíduo (p. ex., fornecer drogas diretamente ou os meios para adquiri-la). EPIDEMIOLOGIA 22 milhões de pessoas com idade superior a 12 anos (cerca de 10% da população total do EUA) foram classificadas como tendo um transtorno relacionado a substâncias. Desse grupo, quase 15 milhões eram dependentes ou abusavam de álcool. • Com relação à idade do primeiro uso, aqueles que começaram a usar drogas mais cedo (até 14 anos) tiveram maior probabilidade de se tornar aditos do que os que começaram mais tarde. • Mais homens do que mulheres usam drogas; • índice mais elevado de uso durante a vida se encontra entre índios norte-americanos ou nativos do Alasca; • brancos são mais afetados que negros ou afro- americanos; • indivíduos com algum tipo de formação acadêmica superior utilizam mais substâncias do que os com menor escolaridade; • desempregados apresentam índices mais elevados do que indivíduos com emprego FISIOPATOLOGIA Explicar os mecanismos fisiopatológicos da dependência química, com ênfase no circuito neuronal dopaminérgico de recompensa. O modelo dos transtornos por uso de substâncias é o resultado de um processo no qual múltiplos fatores interagem e influenciam o comportamento do uso de drogas e a perda de discernimento com relação a decisões sobre a utilização de uma determinada substância. A adição é uma “doença cerebral”, em que os processos cruciais que transformam o comportamento de uso voluntário de drogas em uso compulsivo são alterações na estrutura e neuroquímica no cérebro do usuário de droga. A decisão de usar uma droga é influenciada por situações sociais e psicológicas imediatas, bem como pela história mais remota do indivíduo. No caso de algumas drogas, o uso também dá início a processos biológicos associados a tolerância, dependência física e sensibilização. Por sua vez, a tolerância pode reduzir alguns dos efeitos adversos da droga, permitindo ou requerendo o uso de doses maiores, o que pode, então, acelerar ou intensificar o desenvolvimento de dependência física. Aprendizado e condicionamento. As drogas podem reforçar comportamentos anteriores ao interromper um estado nocivo ou aversivo como dor, ansiedade ou depressão. Em algumas situações sociais, o uso de drogas, além de seus efeitos farmacológicos, pode funcionar como reforço se resulta em status especial ou aprovação de amigos. Cada uso da droga evoca reforço positivo rápido, seja como resultado do “barato” (a euforia induzida pela droga), seja como alívio da perturbação do afeto, alívio dos sintomas de abstinência ou uma combinação desses efeitos. Além disso, algumas drogas podem sensibilizar sistemas neurais quanto a seus efeitos de reforço. Usuários de drogas reagem a estímulos relacionados a drogas com aumento de atividade nas regiões límbicas, incluindo a amígdala e o cingulado anterior. Essa ativação relacionada a drogas foi demonstrada com diversas substâncias, incluindo cocaína, opioides e cigarros (nicotina). Vale salientar que as mesmas regiões ativadas por estímulos relacionados à cocaína em seus usuários são ativadas por estímulos sexuais tanto em controles normais quanto em usuários de cocaína. O desejo de consumo mais intenso é despertado por condições associadas à disponibilidade ou ao uso da substância, como observar outra pessoa usar heroína ou acender um cigarro ou receber a oferta de drogas de um amigo. Esses fenômenos de aprendizado e condicionamento podem estar superpostos em todo tipo de psicopatologia preexistente, mas dificuldades preexistentes não são requisitos para o desenvolvimento de comportamento de busca pela substância intensamente reforçado NEUROQUÍMICA Receptores e sistemas de receptores. Os opioides, por exemplo, atuam sobre receptores opioides. Um indivíduo com atividade opioide endógena muito baixa (p. ex., baixas concentrações de endorfinas) ou com atividade excessiva de um antagonista de opioides endógeno pode correr risco de desenvolver dependência de opioide. Mesmo em um indivíduo com funcionamento normal de receptores endógenos e concentração de neurotransmissores, o uso prolongado de uma substância de abuso específica pode, por fim, modular sistemas de receptores no cérebro de forma que a presença da substância exógena é necessária para manter a homeostase. Um processo de nível de receptor dessa natureza pode ser o mecanismo para o desenvolvimento de tolerância no SNC. Emoções e memórias da dependência geradas por meio de conexões dopaminérgicas e daquelas mediadas por opioides. O hipocampo é responsável pela memória e a amígdala pelo conteúdo emocional gerando reforço positivo e negativo. Envolve também as áreas de recompensa do cérebro (área tegmentar ventral, locus ceruleus, núcleo accumbens). Neurotransmissores: Os principais neurotransmissores possivelmente envolvidos no desenvolvimento de abuso e dependência de substância são os sistemas opioides, de catecolamina (particularmente dopamina) e de ácido γ- aminobutírico (GABA). Os neurônios dopaminérgicos na área tegmentar ventral são particularmente importantes. Esses neurônios se projetam para as regiões cortical e límbica, especialmente para o nucleus accumbens. Essa via provavelmente está envolvida com a sensação de recompensa e pode ser o mediador principal dos efeitos de substâncias como anfetamina e cocaína. O locus ceruleus, o maior grupo de neurônios adrenérgicos, provavelmente medeia os efeitos dos opiatos e dos opioides. Essas vias foram chamadas coletivamente de circuito de recompensa do cérebro. COMORBIDADE 50% dos aditos apresentam um transtorno psiquiátrico comórbido. 35 a 60% dos pacientes com abuso ou dependência de substância também satisfazem os critérios diagnósticos para transtorno da personalidadeantissocial. Sintomas depressivos são comuns entre indivíduos com diagnóstico de abuso ou dependência de substância. Cerca de um terço a metade de todos os pacientes que apresentam abuso ou dependência de opioide e cerca de 40% daqueles com abuso ou dependência de álcool satisfazem os critérios para transtorno depressivo maior em algum momento da vida. O uso de substância também é um dos principais fatores precipitantes para suicídio. Indivíduos que abusam de substâncias têm probabilidade 20 vezes maior de morte em decorrência de suicídio do que a população em geral. Relata-se que cerca de 15% dos indivíduos com abuso ou dependência de álcool cometem suicídio. Essa frequência de suicídio perde apenas para a encontada em pacientes com transtorno depressivo maior. DIAGNÓSTICO Um padrão problemático de uso da substância, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. Uso recorrente da substância, resultando no fracasso em desempenhar papéis relevantes no trabalho, na escola ou em casa 2. Uso recorrente da substância em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física 3. Uso continuado da substância apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados 4. Tolerância, definida: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para atingir o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade da substância. 5. Abstinência. 6. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância. 7. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância, na sua utilização ou na recuperação de seus efeitos. 8. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância. 9. O uso da substância é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância. 10. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar uma substância específica. ESTÁGIOS DO TRANSTORNO 1. Pré contemplação O paciente não tem ideia sobre o problema. 2. Contemplação O paciente percebe o problema, mas está ambivalente para promover mudança. 3. Determinação Paciente percebe que tem um problema e que precisa promover mudanças. 4. Ação Paciente pronto para começar a mudança. 5. Manutenção Incorporação da mudança na rotina de vida. 6. Recaída Paciente volta para a contemplação ou pré contemplação SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA Conhecer a epidemiologia, ação no organismo, sintomas de intoxicação e abstinência das seguintes substâncias: álcool, tabaco, maconha, estimulantes (cocaína e anfetaminas), alucinógenos, opióides, solventes-inalantes. Abstinência de substância é o diagnóstico usado para descrever uma síndrome específica que resulta da interrupção abrupta do uso intenso e prolongado de uma substância. ÁLCOOL O álcool é a substância psicoativa usada mais larga e precocemente (a primeira experiência tipicamente ocorre na adolescência) na vida. Trata-se de um depressor do sistema nervoso central (SNC), cujo mecanismo de ação neurofisiológico ainda não está totalmente esclarecido. Em pequenas quantidades, provoca sensação de bem-estar, expansividade, relaxamento e desinibição comportamental, além de comprometimento da coordenação motora. A progressão do consumo de álcool causa comprometimento da atenção e da capacidade de julgamento, humor eufórico, irritado ou deprimido e labilidade afetiva. Os achados característicos incluem hálito alcoólico, fala embriagada, hiperemia conjuntival, ataxia e outras alterações de coordenação. Com doses ainda mais elevadas, há lentificação psicomotora, sonolência e diminuição progressiva do nível de consciência, inclusive com possibilidade de coma. Pode levar à morte, por depressão respiratória ou aspiração de conteúdo gástrico, em intoxicações muito severas. De forma geral, a gravidade dos sintomas da intoxicação mantém relação direta com a alcoolemia. Pode haver amnésia posterior para os eventos ocorridos durante a intoxicação. A resolução é espontânea e geralmente ocorre em um período de até 12 horas após a interrupção do consumo (o organismo metaboliza cerca de 0,015 mg% de álcool/hora). Efeitos do álcool: álcool produz seus efeitos ao se intercalar nas membranas e, desse modo, aumentar a fluidez das membranas com o uso de curto prazo. Com o uso prolongado, no entanto, a teoria postula que as membranas se tornam rígidas ou endurecidas. A fluidez das membranas é essencial para o funcionamento normal dos receptores, dos canais iônicos e de outras proteínas funcionais ligadas a membranas. Atividades nos canais iônicos associadas aos receptores de acetilcolina nicotínica, serotonina 5- hidroxitriptamina3 (5-HT3) e GABA tipo A (GABAA) são intensificadas pelo álcool, enquanto atividades dos canais iônicos associadas aos receptores de glutamato e canais de cálcio disparados por voltagem são inibidas. Como resultado final das atividades moleculares, o álcool funciona como depressor, assim como os barbitúricos e benzodiazepínicos, com os quais o álcool apresenta, parcialmente, tolerância cruzada e dependência cruzada. O uso de álcool está associado a diminuição do sono do movimento rápido dos olhos (sono REM ou sono com sonhos) e do sono profundo (estágio 4) e maior fragmentação do sono, com episódios mais frequentes e mais longos de vigília. Os principais efeitos adversos do uso de álcool estão relacionados a lesões no fígado. O uso de álcool, pode resultar em acúmulo de gorduras e proteínas, as quais produzem a aparência de um fígado gorduroso, às vezes encontrado em exames físicos como um fígado aumentado (hepatomegalia). O uso de álcool, no entanto, está associado ao desenvolvimento de hepatite alcoólica e cirrose hepática. O consumo intenso de álcool em longo prazo está associado ao desenvolvimento de esofagite, gastrite, acloridria e úlceras gástricas. O desenvolvimento de varizes esofágicas pode acompanhar abuso de álcool particularmente intenso; a ruptura dessas varizes é uma emergência médica que costuma resultar em morte por hemorragia. CAFEÍNA Os critérios diagnósticos do DSM-5 para intoxicação por cafeína incluem o consumo recente da substância, geralmente superior a 250 mg. Estima-se que a incidência anual de intoxicação por cafeína seja de 10%. Os sintomas comuns associados à intoxicação por cafeína incluem ansiedade, agitação psicomotora, inquietação, irritabilidade e queixas psicofisiológicas, como abalos musculares, rubor facial, náusea, diurese, perturbação gastrintestinal, suor excessivo, formigamento nos dedos de mãos e pés e insônia. O consumo superior a 1 g de cafeína pode produzir discurso com fluxo errático, confusão de pensamento, arritmias cardíacas, energia inesgotável, agitação acentuada, zumbido e alucinações visuais leves (flashes de luz). O consumo superior a 10 g de cafeína pode causar convulsões tônico- clônicas generalizadas, insuficiência respiratória e morte. O surgimento de sintomas de abstinência reflete a tolerância e a dependência fisiológica que se desenvolvem com o uso contínuo de cafeína. Os sintomas mais comuns são cefaleia e fadiga; outros sintomas incluem ansiedade, irritabilidade, sintomas depressivos leves, prejuízo do desempenho psicomotor, náusea, vômito, fissura por cafeína e dor e rigidez musculares. Sintomas de abstinência de cafeína se iniciam 12 a 24 horas após a última dose, atingindo seu auge em 24 a 48 horas e se resolvendo no prazo de uma semana. CANNABIS O principal componenteda Cannabis é o THC; Em seres humanos, o 9-THC é rapidamente convertido em 11-hidróxi- 9-THC, o metabólito ativo no SNC. O receptor canabinoide, um membro da família de receptores ligados à proteína G, está ligado à proteína G inibitória (Gi), a qual está ligada à adenilciclase de maneira inibitória. O receptor canabinoide é encontrado em suas concentrações mais elevadas nos gânglios basais, no hipocampo e no cerebelo, sendo que concentrações mais baixas encontram-se no córtex cerebral. Esse receptor não é encontrado no tronco encefálico, um fato consistente com os efeitos mínimos da Cannabis sobre as funções respiratória e cardíaca. Estudos com animais demonstraram que os canabinoides afetam os neurônios de monoamina e ácido γ-aminobutírico (GABA). Ao se fumar Cannabis, os efeitos de euforia surgem em minutos, atingem o auge em aproximadamente 30 minutos e duram de 2 a 4 horas. Alguns efeitos motores e cognitivos podem durar de 5 a 12 horas. A intoxicação por Cannabis normalmente intensifica a sensibilidade do usuário a estímulos externos, revela novos detalhes, faz as cores parecerem mais brilhantes e densas e causa a impressão subjetiva de lentidão do tempo. Em doses elevadas, usuários podem experimentar despersonalização e desrealização. Habilidades moToras ficam prejudicadas pelo uso de Cannabis, e o prejuízo dessas habilidades continua depois da dissipação dos efeitos subjetivos e eufóricos. Durante 8 a 12 horas após o uso da substância, o prejuízo nas habilidades motoras do usuário interfere na operação de veículos automotores e maquinário pesado. Ademais, esses efeitos são cumulativos aos efeitos do álcool, que normalmente é usado em combinação com Cannabis. Estudos demonstraram que a cessação do consumo em indivíduos que usam Cannabis diariamente resulta em sintomas de abstinência no período de 1 a 2 semanas da interrupção. Sintomas de abstinência incluem irritabilidade, fissura por Cannabis, nervosismo, ansiedade, insônia, sonhos vívidos ou perturbadores, apetite reduzido, perda de peso, humor deprimido, inquietação, cefaleia, calafrios, dor estomacal, sudorese e tremores. ALUCINÓGENOS LSD atue como agonista parcial em receptores de serotonina pós-sinápticos. Tolerância a LSD e outros alucinógenos se desenvolve com rapidez e torna-se praticamente completa após 3 ou 4 dias de uso contínuo. A tolerância também reverte de modo rápido, em geral depois de 4 a 7 dias. Dependência física e sintomas de abstinência não ocorrem com alucinógenos, mas um usuário pode desenvolver dependência psicológica das experiências que induziram insight em episódios de uso das substâncias. Intoxicação por alucinógenos se caracteriza por alterações comportamentais desadaptativas e perceptuais e por determinados sinais fisiológicos. O diagnóstico diferencial inclui intoxicação anticolinérgica e por anfetaminas e abstinência de álcool. O tra amento mais indicado para intoxicação por alucinógenos é acalmar o paciente; durante Em casos mais graves, antagonistas dopaminérgicos – por exemplo, haloperidol. INALANTES Drogas inalantes (também chamadas de substâncias voláteis ou solventes) são hidrocarbonetos voláteis que se tornam vapores gasosos em temperatura ambiente e são inalados pelo nariz ou pela boca para entrar no fluxo sanguíneo por via pulmonar. Esses compostos normalmente são encontrados em vários produtos de uso doméstico e se dividem em quatro classes comerciais: (1) solventes para colas e adesivos; (2) propelentes (p. ex., latas de tinta em aerossol, laquê para cabelos e creme de barbear); (3) diluentes (p. ex., para tintas e fluidos corretivos); e (4) combustíveis (p. ex., gasolina, propano). Inalantes estão associados a uma série de problemas, incluindo transtorno da conduta, transtornos do humor, suicidalidade e abuso ou negligência de natureza física e sexual. Em alguns casos, o uso precoce de inalantes por um tempo limitado pode indicar um problema de longo prazo de comportamentos externalizantes e propensão a correr riscos. Os critérios diagnósticos para intoxicação por inalantes especificam a presença de alterações comportamentais desadaptativas e pelo menos dois sintomas físicos. O estado de intoxicação costuma ser caracterizado por apatia, redução do funcionamento social e ocupacional, julgamento prejudicado e comportamento impulsivo ou agressivo e pode estar acompanhado de náusea, anorexia, nistagmo, reflexos diminuídos e diplopia. OPIOIDES Endorfinas estão envolvidas na transmissão neuronal e na supressão da dor. Os opioides endógenos também apresentam interações significativas com outros sistemas neuronais, como o dos neurotransmissores dopaminérgicos e dos noradrenérgicos. Vários tipos de dados indicam que as propriedades de recompensa aditivas dos opioides são mediadas por meio da ativação dos neurônios dopaminérgicos da área tegmentar ventral que se projetam para o córtex cerebral e para o sistema límbico. A heroína, o opioide de abuso mais comum, é mais lipossolúvel do que a morfina, o que permite que cruze a barreira hematencefálica mais prontamente e apresente início mais rápido e agradável do que a morfina. Intoxicação por opioides inclui alterações desadaptativas de comportamento e sintomas físicos específicos do uso de opioides. De modo geral, humor alterado, retardo psicomotor, sonolência, fala arrastada e prejuízo de memória e atenção. A regra para definir o início e a duração dos sintomas de abstinência é que substâncias com ação de curta duração tendem a produzir síndromes de abstinência curtas e intensas, e substâncias com ação de longa duração produzem síndromes de abstinência prolongadas, porém leves. Uma exceção à regra é a abstinência precipitada por antagonista narcótico após dependência de opioides de duração prolongada, que pode ser grave. Uma síndrome de abstinência pode ser precipitada pela administração de um antagonista de opioides. Os sintomas podem ter início segundos após a injeção intravenosa de um desses agentes e chegam ao pico em cerca de 1 hora. A síndrome de abstinência completa, incluindo fissura intensa por opioides, normalmente se dá apenas em decorrência de cessação abrupta do uso em indivíduos com dependência de opioides. SEDATIVOS As síndromes de intoxicação induzidas por todos esses fármacos são semelhantes e incluem incoordenação, disartria, nistagmo, prejuízo na memória, marcha instável e, em casos graves, estupor, coma ou morte. A melhor maneira de confirmar o diagnóstico de intoxicação por uma das substâncias dessa classe é a partir de uma amostra de sangue para detecção da substância. Benzodiazepínicos. A intoxicação por benzodiazepínicos pode estar associada a desinibição comportamental, com chance de comportamento hostil ou agressivo em algumas pessoas. Barbitúricos: Quando são administrados em doses relativamente baixas, a síndrome clínica de intoxicação não se distingue da síndrome associada à intoxicação por álcool. Os sintomas incluem lentidão, incoordenação, dificuldade de pensamento, memória prejudicada, fala e compreensão lentas, discernimento falho, impulsos sexuais agressivos e desinibidos, foco de atenção limitado, labilidade emocional e traços básicos de personalidade exagerados. A lentidão normalmente se dissipa em questão de horas, mas, dependendo principalmente da meia-vida da substância de abuso, o prejuízo no julgamento, alteração do humor e o comprometimento das habilidades motoras podem continuar durante 12 a 24 horas. Outros sintomas potenciais são hostilidade, insistência em antagonismo verbal, morosidade e, eventualmente, ideação paranoide e suicida. Os efeitos neurológicos incluem nistagmo, diplopia, estrabismo, marcha atáxica, sinal de Romberg positivo, hipotonia e reflexos superficiais diminuídos. ESTIMULANTES Oscritérios diagnósticos para intoxicação por estimulantes enfatizam os sinais e sintomas comportamentais e físicos do uso dessas substâncias. Indivíduos usam estimulantes por seus efeitos característicos de elação, euforia, autoestima elevada e percepção de melhora em tarefas mentais e físicas. Com doses altas, os sintomas de intoxicação incluem agitação, irritabilidade, julgamento prejudicado, comportamento sexual impulsivo e potencialmente perigoso, agressividade, aumento generalizado da atividade psicomotora e, potencialmente, sintomas de mania. Os sintomas físicos principais associados são taquicardia, hipertensão e midríase. Depois da intoxicação por estimulantes, ocorre um colapso (“caída”, “repé” ou crash), com sintomas de ansiedade, tremor, humor disfórico, letargia, fadiga, pesadelos (acompanhados por sono REM de rebote), cefaleia, suor excessivo, cãibras musculares, cólicas e fome insaciável. Os sintomas de abstinência geralmente atingem o ápice em 2 a 4 dias e se resolvem em uma semana. O sintoma mais grave é a depressão, que pode ser particularmente grave após o uso prolongado de doses elevadas de estimulantes, podendo estar associada a ideação ou comportamento suicidas. Um indivíduo no estado de abstinência pode sentir fissura forte e intensa por cocaína, especialmente porque seu uso pode eliminar os sintomas desagradáveis de abstinência. Pessoas que experimentam abstinência de cocaína costumam tentar se automedicar com álcool, sedativos, hipnóticos ou agentes ansiolíticos, como Diazepam TABACO O desenvolvimento de dependência de tabaco é rápido, provavelmente porque a nicotina ativa o sistema dopaminérgico da área tegmentar ventral, o mesmo sistema afetado por cocaína e anfetamina. O desenvolvimento de dependência é intensificado por fortes fatores sociais que encorajam o tabagismo em alguns contextos e pelos efeitos poderosos de campanhas publicitárias das companhias de tabaco. Abstinência de tabaco O DSM-5 não tem critérios diagnósticos para intoxicação por tabaco, mas inclui uma categoria diagnóstica para abstinência de nicotina. Os sintomas de abstinência podem se desenvolver em 2 horas após o consumo do último cigarro; eles geralmente atingem o auge nas primeiras 24 a 48 horas e podem durar semanas ou meses. Os sintomas comuns incluem uma intensa fissura por tabaco, tensão, irritabilidade, dificuldade de concentração, sonolência e insônia paradoxal, redução da frequência cardíaca e da pressão arterial, aumento do apetite e ganho de peso, redução do desempenho motor e aumento da tensão muscular. SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA Caracterizar, do ponto de vista clínico e fisiopatológico, a síndrome de abstinência alcoólica e seu tratamento. Sinais de intoxicação por álcool ✓ Fala arrastada; ✓ Tontura; ✓ Incoordenação; ✓ Instabilidade de marcha; ✓ Nistagmo; ✓ Prejuízo da atenção ou memória; ✓ Esturpor ou coma; ✓ Visão dupla. A abstinência de álcool, mesmo sem delirium, pode ser grave; ela inclui convulsões e hiperatividade autonômica. Condições que podem predispor a sintomas de abstinência ou agravá-los incluem fadiga, desnutrição, doença física e depressão. Os critérios do DSM-5 para abstinência de álcool requerem a cessação ou redução do uso pesado e prolongado de álcool, bem como a presença de sintomas físicos ou neuropsiquiátricos específicos. O diagnóstico também permite a especificação “com perturbações da percepção”. O sinal clássico de abstinência de álcool é tremor, embora o espectro de sintomas possa se expandir para incluir sintomas psicóticos e de percepção (p. ex., delírios e alucinações), convulsões e os sintomas de delirium tremens (DTs), denominado delirium por álcool no DSM-5. Tremores se desenvolvem de 6 a 8 horas após a interrupção do consumo, convulsões, em 12 a 24 horas, e DTs, a qualquer momento durante as primeiras 72 horas, embora médicos devam estar atentos para o desenvolvimento de DTs durante a primeira semana de abstinência TRATAMENTO O tratamento da intoxicação inclui o asseguramento do término do consumo de álcool, a monitoração dos sinais vitais e o tratamento de suporte. Pode-se prescrever tiamina 100 mg EV ou IM, seguidos de 300 mg VO por 6 dias (prevenção da síndrome de Wernicke-Korsakoff, complicação que ocorre em alcoolistas severos). Deve-se evitar a administração indiscriminada de glicose, exceto em casos de hipoglicemia. Quando necessário, utilizar somente após a prescrição de tiamina. A principal medicação para o controle dos sintomas de abstinência de álcool são os benzodiazepínicos - Caracterização clínica e fisiopatológica da síndrome de Wernicke-Korsakoff e do delirium tremens, bem como sua abordagem terapêutica. DELIRIUM Pacientes com sintomas reconhecidos de abstinência de álcool devem ser monitorados com atenção para impedir a progressão para delirium por abstinência de álcool, a forma mais grave da síndrome de abstinência, também conhecido como DTs. O delirium por abstinência de álcool é uma emergência médica que pode resultar em morbidade e mortalidade significativas. Devido à imprevisibilidade de seu comportamento, esses pacientes podem ser agressivos ou suicidas, ou podem agir em resposta a alucinações ou pensamentos delirantes como se fossem perigos genuínos. Sem tratamento, o DTs tem um índice de mortalidade de 20%, geralmente como resultado de uma doença médica intercorrente, como pneumonia, doença renal, insuficiência hepática ou insuficiência cardíaca. Embora convulsões de abstinência normalmente antecedam o desenvolvimento de delirium por abstinência de álcool, o delirium também pode surgir inesperadamente. A característica fundamental da síndrome é delirium com ocorrência no período de uma semana depois da cessação ou redução da ingestão de álcool. Além dos sintomas de delirium, as características de delirium por intoxicação de álcool incluem hiperatividade autonômica, como taquicardia, diaforese, febre, ansiedade, insônia e hipertensão; O melhor tratamento para DTs é prevenção. O paciente em abstinência de álcool que exibe fenômenos de descontinuação deve ser medicado com benzodiazepínicos. Assim que o delirium surge, no entanto, 50 a 100 mg de clordiazepóxido devem ser ministrados a cada 4 horas VO, ou lorazepam deve ser administrado via intravenosa (IV) caso medicação oral não seja possível. Medicamentos antipsicóticos que podem reduzir o limiar convulsivo devem ser evitados. Uma alimentação rica em calorias e carboidratos, complementada por multivitamínicos, também é importante. SÍNDROME DE WERNICK KORSAKOFF ▪ Encefalopatia de Wernicke: ofalmoplegia, ataxia e confusão mental, reversíveis. ▪ Demência de Krosakoff: quadro demencial irreversível com síndrome amnéstica crônica. Saber qual o princípio do tratamento moderno da drogadição: institucionalização (internação voluntária, involuntária e compulsória) ou não? - Reconhecer o impacto familiar e sócio- econômico da drogadição. Bibliografia básica: 1. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª.ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Capítulo 20 (pg 616-685)
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