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Autores: Profa. Nancely Huminhick Vieira Profa. Ana Elena Salvi Prof. Mário Henrique de Castro Caldeira Colaboradores: Profa. Patrícia Scarabelli Prof. Adilson Silva Oliveira História da Arte Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Professores conteudistas: Nancely Huminhick Vieira / Ana Elena Salvi / Mário Henrique de Castro Caldeira Nancely Huminhick Vieira É graduada em Artes Plásticas pela Unesp (1994), além de mestre (2004) e doutora em Educação (2010) – sendo que em ambas as titulações a fotografia foi seu objeto de pesquisa. Atuou durante dois anos como professora da pós‑graduação EaD em Artes pelo projeto Redefor em parceria com a Secretaria da Educação e a Unesp. É professora da UNIP e do Mackenzie em diversas disciplinas da área fotográfica, além de ser coordenadora da pós‑graduação em Fotografia da UNIP. Trabalhou como fotógrafa durante vários anos nas seguintes áreas: book, cult, still e eventos. Atualmente desenvolve pesquisa com o tema fotografia cultural. Ana Elena Salvi Graduou‑se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), em 1976, e pela mesma instituição fez o mestrado, em 2001, e o doutorado, em 2005. Exerceu cargo de arquiteta e urbanista na Secretaria de Obras e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, na Prefeitura do município de São Paulo e em escritório próprio. Iniciou carreira docente, em 1987, na Universidade Católica de Santos e, a partir de 1994, na Universidade Paulista (UNIP), na qual exerce o cargo de Coordenadora Geral nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores, colaborando com a elaboração de material didático nessas áreas. Mário Henrique de Castro Caldeira Graduou‑se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), em 1994, e pela mesma instituição fez o mestrado, em 1999, e o doutorado, em 2006. Atuou como arquiteto em vários projetos desde 1994, e como professor em graduação de Arquitetura e Urbanismo desde 1996. Na Universidade Paulista (UNIP), leciona desde 2000, contribuindo também com a elaboração de material didático para cursos de graduação de Arquitetura e Urbanismo, Design de Interiores e Desenho Industrial. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) V658h Vieira, Nancely Huminhick. História da Arte / Nancely Huminhick Vieira, Ana Elena Salvi, Mário Henrique de Castro Caldeira. ‑ São Paulo: Editora Sol, 2018. 176 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2‑094/18, ISSN 1517‑9230. 1.Classicismo. 2. Vanguarda artística. 3. Arte moderna. I. Salvi, Ana Elena. II. Caldeira, Mário Henrique de Castro. III. Título CDU 7(091) U502.09 – 19 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Vitor Andrade Marcilia Brito Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Sumário História da Arte APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 O QUE É ARTE? ....................................................................................................................................................9 1.1 Definições de arte ...................................................................................................................................9 1.2 Importância do estudo da arte no design de interiores ....................................................... 10 1.3 Transformações da arte ao longo do tempo ............................................................................. 11 2 DO CLASSICISMO ANTIGO À ARTE NA ERA DAS REVOLUÇÕES .................................................... 12 2.1 Classicismo .............................................................................................................................................. 12 2.1.1 Arte na Grécia antiga ............................................................................................................................ 12 2.1.2 Arte na Roma antiga ............................................................................................................................. 13 2.2 Crise do Classicismo: relação entre Oriente e Ocidente na Idade Média (476‑1453) 14 2.2.1 Arte cristã no Império Bizantino ...................................................................................................... 15 2.2.2 Arte cristã na Europa ocidental medieval..................................................................................... 16 2.3 Retorno aos valores clássicos .......................................................................................................... 17 2.3.1 Renascimento: a razão e a arte ........................................................................................................ 17 2.3.2 Maneirismo: clássico e anticlássico ................................................................................................. 22 2.3.3 Barroco: invenção do movimento ................................................................................................... 24 2.4 Arte na era das Revoluções .............................................................................................................. 28 2.4.1 Laicização da arte e Revolução Francesa ...................................................................................... 28 2.4.2 Arte e Revolução Industrial ................................................................................................................ 29 Unidade II 3 NOVAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX .................. 403.1 Síntese da forma na obra pictórica de Paul Cézanne............................................................ 40 3.2 Busca da ruptura com os padrões clássicos: pintura, design e arquitetura ................. 41 3.3 Pontilhismo ............................................................................................................................................. 42 3.4 Impressionismo ..................................................................................................................................... 42 3.5 Fauvismo .................................................................................................................................................. 44 4 DAS VANGUARDAS ARTÍSTICAS À ARTE PÓS‑VANGUARDA ......................................................... 44 4.1 Era da máquina e vanguardas artísticas ..................................................................................... 44 4.1.1 Movimentos transformadores da arte: ismos ............................................................................. 44 4.1.2 Arte abstrata e Bauhaus ...................................................................................................................... 53 4.2 Realizações da arte pós‑vanguarda .............................................................................................. 54 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 4.2.1 Papel do artista e crise da modernidade ....................................................................................... 54 4.2.2 Pop Art ........................................................................................................................................................ 55 4.2.3 Op Art .......................................................................................................................................................... 57 4.2.4 Pós‑modernidade e perspectivas da arte no século XXI ......................................................... 57 Unidade III 5 ARTE RUPESTRE E ARTES INDÍGENAS NO BRASIL ............................................................................. 63 5.1 Arte rupestre no Brasil ....................................................................................................................... 63 5.1.1 Pré‑História ............................................................................................................................................... 63 5.1.2 Tradições da arte rupestre brasileira ............................................................................................... 68 5.2 Artes indígenas ...................................................................................................................................... 74 5.2.1 Grafismo ..................................................................................................................................................... 76 5.3 Arte plumária ......................................................................................................................................... 87 6 ARTE COLONIAL NO BRASIL ........................................................................................................................ 92 6.1 Período jesuítico ................................................................................................................................... 92 6.2 Aleijadinho .............................................................................................................................................. 99 6.3 Fotografia de paisagem e experiências pictóricas ................................................................103 Unidade IV 7 A ARTE MODERNA ........................................................................................................................................110 7.1 Semana de Arte Moderna no Brasil ............................................................................................114 7.2 Grupo dos Cinco e os movimentos modernistas ...................................................................121 8 FIGURAÇÃO X ABSTRAÇÃO .......................................................................................................................128 8.1 Alfredo Volpi .........................................................................................................................................128 8.2 Claudio Tozzi ........................................................................................................................................135 8.3 Gustavo Rosa .......................................................................................................................................143 7 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 APRESENTAÇÃO A disciplina História da Arte no Design de Interiores aborda as questões da Arte ao introduzir o aluno na discussão da produção artística ao longo da história, caracterizada pela diversidade e fragmentação, pela permanência e pelo afastamento das questões clássicas, bem como por sua inter‑relação com outras produções artísticas. A crise do clássico, recorrente ao longo do tempo e enquanto ruptura de seus conceitos desvenda a relação existente entre a produção artística e o espaço‑tempo. A disciplina de História da Arte visa desenvolver a percepção do aluno e fornecer instrumentos de análise e interpretação da produção artística ocidental internacional e a nacional. Além das principais fases da História da Arte em que o clássico se manifesta, com suas referências e releituras da Antiguidade, é dada ênfase ao período da Arte Moderna, ou de Vanguarda, e à Arte Contemporânea, centrada nas relações arte‑público, arte‑materiais, arte‑espaço. Para o bom aproveitamento dos conhecimentos da disciplina, é recomendado que o(a) discente procure frequentar exposições de arte em museus, galerias e feiras de arte, assim como visitar on‑line museus internacionais e sites de arte. É importante frequentar também peças de teatro, cinemas de arte, espetáculos de música, ópera etc., pois somente com a experimentação e vivência da obra de arte é que é possível aumentar a percepção e as sensações decorrentes dessa fruição. INTRODUÇÃO O potencial de criação do homem é a mola propulsora da evolução. Ele afeta não só o mundo físico ao qual estamos acostumados, mas também a própria condição humana e os contextos culturais. Para tanto, “a percepção consciente na ação humana se nos afigura como uma premissa básica da criação, pois além de resolver situações imediatas, o homem é capaz de a elas se antecipar mentalmente” (OSTROWER, 2001, p. 10). Nossa capacidade de expressar a percepção vem de formas simbólicas de comunicação, como a fala, mas aquela que se encontra na essência da criação é a habilidade de expressar por meio de ordenações, ou seja, pelas formas. “Se a fala representa um modo de ordenar, o comportamento também é ordenação. A pintura é ordenação, a arquitetura, a música, a dança, ou qualquer outra prática significante” (OSTROWER, 1998, p. 24). Apesar de as formas de convivência coletiva dos primórdios da vida do homem primata serem desconhecidas, entendemos que seu comportamento era social, como observaram os arqueólogos a partir dos fósseis encontrados: mãos livres, caninos atrofiados, postura ereta, maiorcapacidade craniana em comparação com a dos outros primatas. Apesar de inconclusivos, vários indícios apontam a hominização do nosso ancestral. A manifestação artística é um deles. 8 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 As teorias no campo do design de interiores alimentam‑se direta ou indiretamente de diversos outros campos do saber humano e, dentre eles, está a esfera do conhecimento produzido pelas teorias artísticas. Estas, por sua vez, possuem uma dinâmica mais intensa do que a do design de interiores, por razões de sua própria materialidade e forma de produção. Por isso, é fundamental desenvolver um olhar atento sobre o objeto artístico, suas concepções e teorias, sua forma de produção e investigar como, em qualquer período da história, o projeto de interiores, a arquitetura e a cidade (os edifícios e os espaços abertos) sofreram influências significativas da produção artística. 9 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Unidade I 1 O QUE É ARTE? 1.1 Definições de arte O conceito de arte é alterado de acordo com a época e a cultura. Pode ser separado ou não, como é entendido hoje na civilização ocidental, do artesanato, da ciência, da religião e da técnica no sentido tecnológico. Essa mutabilidade do conceito depende tanto daqueles que produzem os objetos que receberão a definição de obra de arte, quanto da sociedade na qual esses mesmos objetos são feitos. Assim, entre os povos ditos primitivos, a arte, a religião e o conhecimento acumulado não existiam de forma separada, tampouco havia o artista como figura autônoma dentro dessas sociedades. Naquele momento, arte era um conceito aplicado a certas habilidades que algumas pessoas possuíam para realizar uma tarefa. Para os gregos antigos do século V a.C., a palavra usada para definir arte, ou capacidade de realizar algo a partir de certas habilidades e conhecimentos, era tekné, que etimologicamente deu origem à palavra técnica que usamos hoje. Para aqueles gregos havia a arte, ou técnica, de se fazer esculturas, pinturas, sapatos ou navios. O termo arte, com o passar dos séculos, (e dependendo das sociedades nas quais se verificar a existência desse conceito), modificou‑se bastante. Na Europa, durante um longo período, o termo servia para designar uma atividade relacionada à capacidade de criar objetos, pinturas, obras com muita qualidade, perícia e talento. Atualmente, arte é um termo relacionado à criação de imagens, sons, objetos, espaços (virtuais ou físicos), que contenham alguma qualidade plástica que se destaque a partir do ponto de vista da sociedade. O reconhecimento dessas qualidades, em geral, é feito por um crítico ou por alguém cuja opinião seja ouvida. É essa opinião, quando aceita pela sociedade dentro da qual ela foi emitida, que irá determinar o que é e o que não é arte, assim como o que é e o que não é obra‑prima. Observação O significado de obra‑prima vem do período medieval. Para um artífice, artesão, pintor, escultor, ourives – ou qualquer outra profissão que dependesse de um conhecimento específico – ser chamado de mestre, dependeria da sua capacidade de criar uma obra‑prima, ou seja, algo resultante de seu trabalho, que fosse avaliada por seus pares, e nela reconhecessem um grande talento e qualidade. 10 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I 1.2 Importância do estudo da arte no design de interiores Uma das formas mais comuns de influência e relação entre arte e o design de interiores acontece quando as formas plásticas de um determinado movimento ou teoria artística são aplicadas diretamente em um projeto. Um exemplo conhecido é a forte presença do De Stijl (neoplasticismo), na primeira metade do século XX, em diversas áreas da arquitetura, do desenho industrial e do design de interiores. Sua estética abstrata radical está descrita no próprio nome: sua coloração deveria limitar‑se às três cores primárias (vermelho, azul e amarelo), acrescentando o preto, o cinza e o branco, e os seus elementos compositivos eram formados apenas por linhas verticais e horizontais e superfícies retangulares. O fundador do movimento foi Theo van Doesburg (1883‑1931), que aplicou a estética neoplástica no projeto de interiores de um café, o L’Aubette, em Estrasburgo, na Áustria, em 1929. Veja a comparação entre as figuras a seguir e note como os aspectos plásticos de uma pintura neoplasticista de Piet Mondrian (1872‑1944) aparecem nitidamente nas formas, acabamentos e cores usadas no projeto de interiores do café. Observe ainda que a pintura é anterior ao projeto do café, indicando que as formas plásticas e a escolha das cores foram desenvolvidas em obras como essa e depois usadas como referência para o projeto do ambiente. Figura 1 – Piet Mondrian, Composição em losângulo com Vermelho, Cinza, Azul, Amarelo e Preto, 1924‑5, óleo sobre tela 11 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Figura 2 – Theo Van Doesburg, Café L’Aubette, 1929 Saiba mais Para você ter uma visão mais ampla da História da Arte e perceber as inúmeras variações e riquezas, é importante ampliar a sua leitura, incluindo livros como este: FARTHING, S. Tudo sobre arte: os movimentos e as obras mais importantes de todos os tempos. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. 1.3 Transformações da arte ao longo do tempo Para melhor compreender a enorme quantidade de informações, momentos, tendências e movimentos artísticos, recorre‑se geralmente às linhas do tempo (ou linhas cronológicas), para que assim se permita uma visualização sequencial dos diversos períodos que a arte percorreu na história humana. Porém, qualquer tentativa de estabelecer uma linha cronológica que organize temporalmente os diversos momentos pelos quais cada civilização construiu seus objetos artísticos (com seus valores socioculturais e técnicas específicas), esbarra na dificuldade de definição de datas e conceitos exatos. Além disso, ao longo do tempo, certas classificações que costumavam ser consideradas adequadas podem e vão sendo questionadas e alteradas. Um exemplo disso foi o Maneirismo, que tendo ocorrido no século XVI, recebeu sua definição teórica na última década do século XIX. Por isso, as linhas do tempo devem ser utilizadas dentro de um limite bastante claro: elas contribuem muito para compreender de maneira geral as transformações da arte ao longo da história, mas devem ser vistas com cautela quando o intuito é estudar mais detalhadamente uma obra de arte, a vida de um artista ou um movimento, com uma visão de estudioso, mais específica. É muito comum que certos movimentos artísticos ocorram contemporaneamente. Também é habitual encontrar opiniões de autoresque divergem entre si sobre um determinado assunto, data ou conceito. É 12 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I também importante destacar que existem períodos de indefinição (transição) sobre a arte, nos quais um momento e um conceito muito bem definidos estão sendo substituído por outros, ainda não muito claros. Assim, neste texto privilegiou‑se abordar conceitos e definições mais cristalizadas e geralmente aceitas como corretas sobre a definição de arte e da importância real de alguns objetos artísticos. Mas, com o passar do tempo, certamente essas noções poderão ser alteradas. 2 DO CLASSICISMO ANTIGO À ARTE NA ERA DAS REVOLUÇÕES 2.1 Classicismo 2.1.1 Arte na Grécia antiga Foi a partir do século V a.C. que se deu o auge da arte grega. Nesse momento teve início a busca da representação do corpo humano de uma maneira mais fiel à realidade visível que o compõe. Os gregos, ao contrário dos egípcios (apesar de ainda influenciados por eles), basearam suas realizações escultóricas nas observações diretas do corpo a ser representado, e não na reprodução de um conhecimento pronto que dizia como deveria ser essa representação. Isso também se estendeu à pintura. A influência da arte egípcia, apesar de limitadora (pois se baseava em regras de representação rígidas), deu uma contribuição importante à arte grega no seu auge: no Egito, a representação tentava ser a mais detalhada e completa possível, estimulando o artista grego a continuar explorando a anatomia dos ossos e músculos, e a formar uma imagem convincente da figura humana, inclusive debaixo das roupagens das esculturas. A busca de mostrar não apenas a forma do corpo, mas também seu movimento, fez parte da arte grega. Os jogos e exibições esportivas requisitavam estátuas que representassem o mais fielmente possível os chamados “atletas” da época. Observação Composição, nas artes plásticas, é a maneira pela qual o artista organiza espacialmente as cores, volumes, formas, linhas e quaisquer outros elementos que façam parte da obra. A composição é essencial quando a obra de arte possui um tema ou assunto, pois é ela que contribui para construir a narrativa a ser apreendida pelo espectador. Por outro lado, algumas obras de arte não possuem um tema, assunto, ou cena identificável. Nesse caso, o autor do trabalho preferiu privilegiar apenas a composição. Esta famosa estátua reúne as inquietações de Míron, escultor grego, em busca da representação da figura em movimento. O ângulo de visão mais satisfatório – de perfil, com o rosto de frente para o observador da escultura – permite que se possa observar a elaborada composição, baseada em uma linha de curvas acentuadas que percorrem a estátua de cima a baixo, combinada com a ampla curva descrita pelos braços e pela linha dos ombros, prolongando‑se pela perna esquerda, que está retraída. 13 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE A capacidade dessa escultura de transmitir um alto grau de realidade anatômica era uma das características da arte grega na época. Figura 3 ‑ Míron – Discóbolo (cerca de 460 a.C.) Cópia feita no período da Roma antiga. Museu Nacional, Nápoles, Itália 2.1.2 Arte na Roma antiga A arte do antigo Império Romano do Ocidente foi muito influenciada pela cultura da Grécia antiga e pelos etruscos, estendendo‑se do século VIII a.C. ao século V d.C.. Difundiu‑se por diversas expressões artísticas, desde a construção de edifícios públicos, até a pintura afresco, a escultura, entre outras formas de manifestação, mas foi na arquitetura e na escultura que se pôde visualizar com mais nitidez os avanços e influências da arte romana clássica. A escultura da Roma antiga desenvolveu‑se em toda a área de influência romana, com seu foco na metrópole, entre os séculos VI a.C. e V d.C.. Em sua origem, derivou da escultura grega, primeiro por meio da herança etrusca, e logo diretamente com a própria Grécia, durante o período helenista. Apesar da reconhecida influência da escultura grega em toda a Roma antiga, hoje se pode afirmar que os artífices romanos não eram meros copiadores. Eles deram importantes contribuições para a escultura, principalmente na criação de obras feitas especificamente para grandes monumentos públicos, nas quais a capacidade de uma estátua de expressar significados vinculados ao poder de Roma era algo fundamental e conseguido com muita dedicação e talento dos escultores da época. A reprodução de bustos, rostos, e perfis em relevo era de grande qualidade. 14 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I A seguir, Augusto de Prima Porta, revelada em 1863 na vila de Augusto César, em Roma, Itália. Atualmente está exposta no Braccio Nuovo, no Museu do Vaticano. A estátua que representa Augusto César, imperador romano, foi baseada no Doríforo de Policleto (escultor grego) do século V a.C., e foi talhada em mármore. Ainda contém alguns resquícios de tintas douradas, púrpuras, azuis e outras cores com as quais ela foi policromada. Figura 4 ‑ Autor desconhecido ‑ Augusto de Prima Porta Mármore. Museu Vaticano, Itália Classicismo greco-romano • influenciou com intensidade a formação do mundo ocidental; • privilegiou a representação física com fidelidade ao mundo real; • criou um padrão de beleza ideal a partir de uma interpretação do mundo real. 2.2 Crise do Classicismo: relação entre Oriente e Ocidente na Idade Média (476-1453) A queda do Império Romano é assinalada pela conquista de Roma no ano de 476 pelos povos germânicos, combinada com a ascensão do cristianismo como religião oficial, a qual se impôs, paulatinamente, sobre as antigas crenças (tanto as romanas como as das tribos germânicas), que passaram a ser tratadas como pagãs. Esse processo teve lugar tanto no Ocidente como no Leste europeu e em ambas as regiões, entretanto, permaneceu o desejo de retomar a pujança do antigo Império Romano. Assim, enquanto a parte ocidental do continente assistiu, na Idade Média, à formação do Sacro Império Romano Germânico, na banda oriental, formou‑se o denominado Império Romano do 15 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Oriente ou Império Bizantino, cuja capital era Bizâncio ou Constantinopla (atual Istambul, na Turquia). A queda do Império Bizantino, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453, marca o fim do período medieval. Essa época caracterizou‑se, no campo artístico, pelo predomínio dos temas da religião cristã, pela busca da representação do sagrado na pintura, na escultura e na arquitetura. Porém, a arte cristã medieval pode ser dividida em arte bizantina e arte medieval do Ocidente. 2.2.1 Arte cristãno Império Bizantino O Império Bizantino manteve‑se distanciado das influências dos povos bárbaros germânicos. Em Bizâncio, e nas áreas sob seu controle, desenvolveu‑se uma arte cristã, cujo auge ocorreu no século VI, no Império de Justiniano I, e que combinava influências da arte romana, grega antiga e do Oriente Médio. A própria localização geográfica de Constantinopla, na fronteira entre o Oriente e o Ocidente, era favorável a essa confluência artística. Há que se considerar ainda a constante ingerência do clero cristão do Oriente sobre a arte bizantina, o que contribuía para torná‑la profundamente religiosa. Ademais, o próprio Imperador do Oriente devia o seu poder ao caráter teocrático do Império Bizantino, motivo pelo qual a produção de obras de arte era estimulada, com mosaicos nos quais era representado, com sua cabeça aureolada, geralmente ladeando a própria Virgem Maria e o menino Jesus. Na arte bizantina, há um destaque para pintura parietal (em paredes), a pintura mural, as iluminuras, a tapeçaria e os mosaicos. No período bizantino, o uso da cúpula apoiada sobre pendentes e os arcobotantes possibilitaram aumentar significativamente o tamanho das edificações e, consequentemente seu espaço interno. Mas apesar disso, e do aumento da quantidade de aberturas nas fachadas das construções, as paredes ainda eram grossas, lisas e amplas. Os mosaicos e afrescos bizantinos tinham como uma de suas finalidades, ornamentar e enriquecer essas extensas superfícies, transmitindo, ao mesmo tempo, as imagens de reis, rainhas, santos, santas, clérigos e outros personagens da religião cristã. A Basílica de San Vitale possui alguns dos mais interessantes afrescos do período bizantino, como se pode ver a seguir. Figura 5 ‑ Foto da Basílica de San Vitale, Ravena, Itália 16 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I Figura 6 – Theodora. Mosaico no interior da Basilica de San Vitale 2.2.2 Arte cristã na Europa ocidental medieval No Ocidente medieval, caracterizado pelo feudalismo, a arte também foi predominantemente cristã. O próprio sistema feudal, marcado pela organização política fragmentada em feudos e pela divisão social em oratore (os que oram), belatore (os que guerreiam) e laboratore (os que trabalham, especialmente lavrando a terra), era legitimado pela Igreja cristã, pois essa forma de organização política e social era considerada a expressão da vontade de Deus na Terra, que somente podia ser interpretada e compreendida pelos clérigos. Neste sentido, a arte do Ocidente medieval voltava‑se especialmente para a representação dos desígnios divinos, com imagens do céu e do inferno, de modo a ensinar o caminho da salvação cristã à população, que em sua quase totalidade era analfabeta. Costuma‑se dividir a trajetória da história da arte do Ocidente medieval em três momentos significativos: a arte românica, o renascimento carolíngio e a arte gótica. • arte românica: corresponde ao período do auge do feudalismo, sendo, portanto, a expressão artística da sociedade rural feudal acima descrita; • renascimento carolíngio: foi aquela arte produzida durante o império de Carlos Magno, a partir do ano de 800, em que se buscou a volta aos padrões clássicos, apesar do predomínio da orientação religiosa cristã; • arte gótica: desenvolveu‑se na crise do feudalismo, quando floresceram novamente a cultura urbana, as universidades e as ordens monásticas (cistercienses, franciscanos, dominicanos e beneditinos), que contribuíram para a primeira reforma da Igreja cristã, no sentido de sua reaproximação com os valores originais da fé. La Maestà, conhecida como A Virgem com vinte anjos e dezenove santos, é um amplo conjunto de várias pinturas com frente e verso, feitas por Duccio di Boninsegna, em 1308, para a cidade de Siena, Itália. A face da obra mostrada a seguir representa a Virgem em majestade, flanqueada por anjos e santos. Essa pintura serviu como referência para uma importante mudança na arte italiana: o período bizantino teve como uma de suas características a representação do corpo humano de uma maneira 17 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE simplificada, com alterações anatômicas que evitavam o reconhecimento do sexo das figuras, e outras modificações nas proporções de partes do corpo humano. A obra La Maestà estimulou outros artistas da época a modificarem essa forma de representação, buscando uma pintura mais realista do ponto de vista físico, mais próximo à anatomia e fisionomia das pessoas daquela região. Outra característica da pintura da época é a maneira utilizada pelo autor da obra para demonstrar a hierarquia na composição do quadro: a importância de cada personagem dentro da cena está diretamente relacionada ao tamanho da sua imagem, ou seja, quanto mais importante é a figura, maior é o seu tamanho. Não havia a preocupação em representar as imagens em escala real em relação ao conjunto, tampouco em criar profundidade por meio da redução de tamanho das figuras, ou seja, cada figura é proporcional em si, mas não necessariamente em relação às outras imagens. A composição é bastante nítida, feita com o propósito de valorizar a Virgem. Posicionada no centro, ela tem quase todos os olhares dos personagens que a cercam voltados para si. Para o observador, é inevitável ter o olhar dirigido fortemente para o rosto dela. Figura 7 ‑ Duccio di Boninsegna ‑ La Maestà. (1308 ‑ 1311) Pintura sobre madeira. Museu da Catedral, Siena, Itália Lembrete A simplificação da representação do corpo humano na La Maestà também está presente nos mosaicos bizantinos que representavam figuras humanas: a imagem da religião devia se sobrepor à da carne. 2.3 Retorno aos valores clássicos 2.3.1 Renascimento: a razão e a arte A palavra renascença significa nascer de novo ou ressurgir. Para os italianos, e principalmente os artistas florentinos do século XIV, a arte que estava sendo produzida era considerada de qualidade porque recuperava aquela do período do Império Romano. Foi na cidade de Florença que esse sentimento se manifestou de modo mais intenso. Foi também nesse momento que um grupo de artistas se dispôs deliberadamente a criar uma nova arte e a romper com as ideias do passado recente, tendo como líder Filippo Brunelleschi, que ficou encarregado da conclusão da cúpula da catedral de Florença. Sua proposta 18 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I era de que as formas da arquitetura clássica (colunas, frontões, proporções, etc.) fossem livremente usadas para criar novos modos de harmonia e beleza. Para os grandes mestres da Renascença, os novos recursos e descobertas da arte nunca foram um fim em si. Os artistas sempre os utilizaram com o propósito de aproximar ainda mais do nosso espírito, o significado de seus temas. É desse período a invenção de uma forma de representação que dominou, durante alguns séculos, a criação de imagens que reproduzem o mundo real: a perspectiva. Atribui‑sea Filippo Brunelleschi sua invenção, e apesar do surgimento de outras formas de representação, a perspectiva é usada até hoje, inclusive no mundo virtual da informática. A perspectiva, com seu método de representação quase científico, e de certa forma, matemático, também se inseria na visão dos mestres florentinos do século XV, que se voltaram para o uso da racionalidade como forma de explicar o mundo. Essa técnica, associada aos conhecimentos que os artistas possuíam sobre a anatomia humana, (provenientes de seus estudos em cadáveres), geravam imagens com uma exatidão que impressionava a todos os observadores da época. O quadro a seguir gerou grande espanto devido à ilusão criada (pela disposição e proporção dos corpos), que fazia com que os fiéis imaginassem ali a extensão de outra capela, tal a realidade elaborada pelo uso da perspectiva. Na imagem à direita, as linhas que estruturam o afresco convergem para o ponto de fuga, que se encontra na altura dos olhos do observador, “convidando‑o” a participar da composição. Figura 8 ‑ Masaccio (Tommaso de San Giovanni Valdano ou Tommaso de San Giovanni di Simone Guidi) ‑ A Santíssima Trindade (1401‑1428) Afresco, Santa Maria Novella, Florença, Itália 19 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Enquanto na Itália os florentinos buscavam a exatidão da representação por meio da perspectiva com ponto de fuga (perspectiva cônica) e com um profundo conhecimento da anatomia humana, no norte da Europa, Jan van Eyck, um artista flamenco, da região onde hoje se encontram os Países Baixos, buscava essa mesma exatidão, porém de outra maneira. A solução por ele adotada foi materializar a ilusão do mundo real por meio da cuidadosa e paciente composição de uma imagem pela somatória de detalhes precisos, reproduzindo, da maneira mais completa possível, o que os olhos viam no universo real. Apesar de van Eyck também se utilizar de uma característica da perspectiva (a de criar a ilusão de profundidade por meio da redução do tamanho dos objetos à medida que se afastam do plano do observador), são os detalhes que convencem o espectador de que aquelas imagens são um espelho do mundo real. Para conseguir a exatidão, ele aperfeiçoou significativamente sua capacidade de pintar, inventando a pintura a óleo, que permite uma grande riqueza de detalhes. Uma das principais contribuições dos artistas, tanto na Itália (sul da Europa) quanto em Flandres (norte da Europa), foi a demonstração de que a arte podia ser usada não só para contar a história sagrada de uma forma comovente (uma das principais preocupações da Igreja católica), mas para refletir também um fragmento do mundo real. Giovanni Arnolfini era um negociante italiano, que se estabeleceu em Bruges com sua esposa. O casal foi representado por van Eyck no interior de uma residência, que reflete o seu cotidiano. Isso é possível perceber devido ao alto grau de detalhamento realista que foi utilizado para mostrar elementos domésticos como o cãozinho (na parte inferior do quadro), as frutas (na mesa) e o espelho, na parede ao fundo. Esse espelho se converte em um interessante elemento no quadro, pois em uma observação mais detalhada, é possível perceber nele a presença de outros personagens na cena. Apesar da aparente naturalidade e simplicidade da cena, são vários os elementos simbólicos que remetem ao matrimônio, representado de forma discreta pelo autor da pintura, como era hábito entre os artistas da época. Figura 9 ‑ Jan van Eyck ‑ O casal Arnolfini (1434) National Gallery, Londres, Inglaterra 20 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I Nesse ambiente, os artistas passaram a organizar‑se em corporações bastante fechadas, que correspondiam aos sindicatos de hoje. A transmissão do conhecimento também era restrita: não havia escolas e os interessados em aprender algo tinham que começar bem cedo, como jovem aprendiz de algum mestre habilitado. É nesse ambiente, no século XVI, que se formaram algumas gerações de artistas e arquitetos mais importantes da Itália e que se tornariam referência para o mundo ocidental nos séculos seguintes, criando algumas das obras mais significativas da arte na Europa. Mas, ao contrário de outros períodos na História, os artistas que hoje reconhecemos como grandes mestres, já eram reconhecidos como tal naquele período. O artista era tratado como indivíduo criativo, autor único de talento incomparável, quando reconhecido como tal por seus pares. A ideia do artista, e também do arquiteto, como ser criador, único ou principal, responsável pelas qualidades de sua obra, se consolida nessa época. É daí que provêm nomes da Península Itálica como Leonardo da Vinci, Rafael, Michelangelo, Fra Angelico e Ticiano, e do norte da Europa, como Albrecht Dürer e Hans Holbein e vários outros mestres famosos. Não é por acaso que durante a Renascença o artista consolida‑se como mestre dotado de autonomia, não podendo alcançar fama e glória sem explorar os mistérios da natureza e sondar as leis secretas do universo. Para isso os artistas, principalmente depois de Alberti, deveriam ser completos: intelectuais, músicos, estudiosos da natureza em seus vários aspectos, letrados, filósofos. Essa situação é muito diferente do que acontecia antes, como já foi dito na apresentação deste texto. Até então, o artista se confundia com o artesão, profissional que produzia desde objetos do cotidiano, como sapatos e roupas até pinturas e grandes esculturas, mediante encomendas específicas. A ascensão dos grandes mestres, em face de um preconceito que existia contra pintores e escultores, se deve em parte à necessidade que os nobres e ricos mercadores, desejosos de ascender socialmente, tinham de construir belos edifícios, fazer túmulos suntuosos, ou oferecer uma pintura para o altar‑mor de alguma igreja famosa. Foi na arquitetura que essa mudança ocorreu de forma mais acentuada. Os mestres eruditos do século XV, conhecedores do passado clássico por meio dos escritos de Vitrúvio (construtor e escritor que viveu no império romano), desejavam realizar obras usando como referência a arquitetura de Roma e Grécia antigas. O arquiteto renascentista buscava projetar e construir um edifício no qual pudesse aplicar todo o seu conhecimento de proporção, simetria e regularidade, características daquela arquitetura. Donato Bramante teve essa oportunidade e realizou o Tempietto (pequeno templo), no início do século XVI. Essa escolha também estava carregada do desejo de utilizar a razão, incrustada na matemática e na geometria, para criar formas perfeitas, segundo aqueles construtores. Lembrete As artes clássicas grega e romana foram, durante muitos séculos, referência para inúmeros arquitetos, escultores e pintores, que buscavam no passado uma beleza idealizada, como foi mostrado anteriormente. Leonardo da Vinci (1452‑1519) foi aprendiz em uma importante oficina de Florença, e destacou‑ se como uma das mais capazes e ricas personalidades de todos os tempos. Estudou, ampliou os conhecimentos, criou e imaginou artefatos que somente viriam a se tornar realidade séculos depois. 21 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg aniz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Atuou nas áreas de medicina, anatomia, engenharia militar, ótica, arquitetura, pintura, geometria, entre outros campos. Em uma das suas mais conhecidas obras, a Mona Lisa, Leonardo consegue superar os mestres anteriores, usando uma técnica de pintura denominada sfumato, que possibilitou criar uma ilusão de vivacidade nunca antes conseguida na pintura de uma figura humana. Figura 10 ‑ Leonardo da Vinci ‑ Mona Lisa, ou La Gioconda (1503‑1507) Óleo sobre madeira. Museu do Louvre, Paris, França Neste detalhe do rosto da Mona Lisa se pode perceber o uso da técnica do sfumato: as pinceladas aparentes de uma pintura são retiradas usando verniz de madeira, que corrói a tinta, deixando um gradiente perfeito no local. Como consequência da técnica, é quase impossível perceber pinceladas nesta e em outras obras de Leonardo da Vinci. Observação Sfumato é uma palavra italiana, usada por Leonardo da Vinci para descrever uma técnica que resultava em uma pintura sem linhas ou limites, semelhante à fumaça. Para obter esse efeito, a transição entre uma cor e outra é feita por meio de um gradiente, ou seja, a sobreposição de vários níveis intermediários de tonalidades ou matizes, indo suavemente de uma cor para outra. O objetivo é reduzir o contraste, ou seja, suavizar a diferença abrupta de uma área da pintura para outra. Leonardo foi um dos artistas que mais contribuiu para o aprimoramento dessa técnica, a qual alguns pesquisadores consideram que foi ele, o próprio criador dela. Hoje, o sfumato faz parte do conhecimento básico transmitido a todos os estudantes de artes em geral, consequência de sua popularização, iniciada no Renascimento. Certamente, o mais famoso exemplo da aplicação dessa técnica seja o rosto de Mona Lisa, principalmente seu sorriso, adjetivado popularmente de “enigmático”. 22 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I Principais características do Renascimento: • os artistas e intelectuais se voltam para o estudo do passado clássico, e utilizam esse conhecimento para produzirem e criarem arquitetura e arte; • o uso da razão como forma de explicar e de intervir no mundo, contrapondo‑se ao teocentrismo (a religião no centro do universo); • o uso da matemática e da geometria para elaborar formas arquitetônicas e representações pictóricas, inclusive por meio da perspectiva; • a busca da representação mais semelhante à realidade visível. 2.3.2 Maneirismo: clássico e anticlássico Outro grande florentino cuja obra tornou tão famosa a arte italiana do século XVI, foi Michelangelo Buonarrotti (1475‑1564). Em sua longa vida, foi testemunha de uma completa mudança na posição do artista dentro da sociedade. A sua capacidade de representar o corpo humano em qualquer posição ficou logo conhecida, e nisso superou todos os antigos mestres. Essa habilidade foi desenvolvida a partir do estudo da anatomia humana feita diretamente em cadáveres, como Leonardo da Vinci e outros artistas já haviam feito. Em uma de suas obras, a pintura do teto da Capela Sistina, pode‑se admirar toda a habilidade e imaginação de Michelangelo em manipular a anatomia do corpo humano. Até hoje, aquelas imagens nos seduzem e são reproduzidas pelo mundo inteiro, resultado de um árduo trabalho de quatro anos de extrema dedicação. Porém, Michelangelo não pode ser considerado um artista exclusivamente renascentista. Apesar de seu trabalho estar carregado de premissas semelhantes às de outros artistas da época, que acreditavam na razão como meio de intervir, conhecer o mundo e criar obras perfeitas, Michelangelo não se limitou a esse ideal. A partir de suas obras arquitetônicas (o vestíbulo com a escada da Biblioteca Laurenciana), urbanas (Piazza del Campidoglio, ou Praça do Capitólio, Roma, Itália, feita entre 1536 e 1546) e até mesmo de pintura (o teto da Capela Sistina), ele começou a criar uma posição anticlássica, que iniciava uma contraposição a certa rigidez clássica característica de obras mais antigas de outros artistas. Essa situação anticlássica pode ser percebida nas suas obras por meio de um elo em comum entre elas: a utilização de formas clássicas de uma forma diferente, sem uma organização exclusivamente lógica e geométrica, buscando elaborar composições plásticas inovadoras por meio de novas maneiras de criar espaços, esculturas, pinturas, representações humanas, e até mesmo espaços urbanos. Essa posição de Michelangelo deu origem ao período chamado de Maneirismo, que significa à maneira de, ou seja, de acordo com a vontade do artista. Tem início um momento na história da arte europeia – que se contraporia ao Renascimento – que privilegiou os desejos pessoais e o talento individual dos artistas e arquitetos em criarem arte segundo seus princípios individuais, ao contrário de perseguir regras matemáticas, geométricas, ou, como já foi dito, clássicas. O momento 23 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE anticlássico então se inicia e se manifesta de forma mais intensa no período seguinte, o Barroco, ficando este a serviço dos interesses de uma das mais fortes instituições que havia na Europa naquele momento, a Igreja católica. Figura 11 ‑ Michelangelo Buonarroti ‑ vista geral do interior do teto da Capela Sistina Figura 12 ‑ Michelangelo Buonarroti ‑ Maria e Jesus, detalhe do Juízo Final. (1534‑1541)8 Capela Sistina, Roma, Itália 24 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I Quando Michelangelo foi contratado para realizar o teto da Capela Sistina, ele já era um escultor e artista consagrado. Suas esculturas, com uma anatomia manipulada de forma magistral graças aos seus conhecimentos do corpo humano, já o definiam como um dos grandes artistas da transição entre o Renascimento e o Barroco. Ao ser chamado para realizar um grande trabalho de afresco, Michelangelo já havia realizado trabalhos de pintura, mas não desse porte. A escolha do artista foi inovadora: a sua pintura não seguiu os cânones renascentistas, optando por realizar a transposição de formas escultóricas e tridimensionais para um trabalho bidimensional. Daí a percepção de que as imagens no famoso teto da capela são representações de esculturas de caráter masculino, o que realça a plasticidade do conjunto que consumiu parte da vida e da saúde de Michelangelo. Observação Gradiente É a transição de uma área de uma pintura com uma determinada cor, matiz, luz ou sombra para outra. Essa transição pode ser feita de maneira suave, com pouco ou nenhum contraste (como o sfumato renascentista), ou realizada de maneira mais intensa, com mais contraste entre as diversas cores utilizadas para fazer o salto entre uma área e outra da pintura. Principais características do Maneirismo: • período de transição entre o Barroco e o Renascimento;• o desejo e a capacidade pessoal do artista se sobrepõem às regras clássicas; • manipulação de formas antigas de uma nova maneira; • invenção de novas formas plásticas, mas com alguma influência ainda das artes greco‑romanas. 2.3.3 Barroco: invenção do movimento Na história da arte, o momento que sucede ao Renascimento e Maneirismo, é chamado de Barroco. Originalmente, esse nome fora dado a algumas obras como um meio de caracterizá‑las como grosseiras e absurdas, ou seja, dando um sentido pejorativo. Essa denominação foi atribuída à arquitetura e às obras de arte produzidas durante o século XVII, por homens que insistiam em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser usadas ou combinadas senão da maneira adotada na Antiguidade por gregos e romanos. Na foto abaixo, está reproduzido o conjunto de estátuas feito em mármore que forma o centro da capela Cornaro, na qual a estrutura arquitetônica, as esculturas e os elementos decorativos formam um todo unitário, ou seja, um cenário completo. A representação do drama se materializa de maneira cenográfica no centro da capela. Em ambos os lados, abrem‑se duas cavidades, como se fossem palcos, nas quais se debruçam estátuas que representam a família Cornaro. 25 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE A santa, arrebatada de amor divino, se junta a seu esposo místico. A materialização desse ato espiritual tem uma explicação formal, na qual estão presentes aspectos puramente carnais e eróticos. Essa ambiguidade, marcada pela convivência, na mesma obra, de referenciais do cristianismo e do paganismo, constitui uma característica do período barroco, intencionalmente utilizada pelo autor da escultura. Figura 13 ‑ Gian Lorenzo Bernini ‑ Êxtase de Santa Teresa. (1645‑1652) Santa Maria della Vittoria, Roma, Itália Observação Desde a formação da Igreja católica até meados do século XX, era muito comum que igrejas e capelas fossem utilizadas como túmulos. Muitas delas eram construídas especificamente para serem utilizadas como jazigos de famílias inteiras ou de personalidades poderosas, como reis e papas. Para esse serviço, contratavam‑se grandes artistas, que nelas realizavam obras que, muitas vezes, extrapolavam sua mera utilização como sepulcro. Michelangelo Buonarroti e Lorenzo Bernini são alguns desses artistas. Em muitas dessas construções, encontram‑se algumas das mais belas obras de arte do mundo ocidental. Esse rigor na utilização e na reprodução de formas provenientes da Grécia e da Roma antigas foi o critério utilizado pelos críticos para denominar as obras de arte que não seguiam os cânones clássicos de barroco (esse era um termo comumente usado para denominar uma pérola imperfeita, com deformações). O que os arquitetos e artistas barrocos faziam era, aos olhos de seus críticos, modificar 26 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I as regras clássicas e organizar suas obras segundo uma lógica e um raciocínio próprios, reinventando a maneira de usar as formas tradicionais e até mesmo criando outras. Já no Maneirismo, na Igreja Il Gesù, de Giacomo della Porta (1538? – 1602), o uso das formas clássicas (frontões, colunas, capitéis) foi feito de uma maneira inovadora. Além disso, della Porta empregou formas como a voluta (posicionada na parte superior da fachada), que sequer existia no passado clássico. No entanto é preciso ressaltar que, essas composições aparentemente anticlássicas, não são meros caprichos, e estão, na verdade, a serviço da composição formal do edifício, e de uma melhor organização da estrutura da edificação. Isso significa que aqueles artistas e arquitetos do período não faziam essas invenções e modificações arbitrariamente. Eles reconheceram e exploraram a capacidade de invenção que se transformaria mais tarde, com as devidas diferenças conceituais, em uma das buscas mais intensas nas artes plásticas e na arquitetura a partir do início do século XX: a obsessão pela novidade. A fachada da Igreja Il Gesù (cerca de 1564), feita por Giacomo della Porta é representativa da utilização dos elementos clássicos de maneira anticlássica, característica maneirista. Nota‑se o frontão e o entablamento com reentrâncias e saliências e as pilastras duplas na parte superior. Na parte inferior, percebem‑se os plintos e pilastras duplas, com portal com colunas e pilastras e frontão sob um arco. A maneira de compor todos esses elementos abre as possibilidades de busca do movimento desenvolvido e aprimorado no Barroco. As volutas e as imagens em nichos quebram a bidimensionalidade do plano da fachada. Mas, o mais importante, é que a planta da igreja passa a ter nova forma, isto é, planta em nave única, que será adotada em todo o período Barroco. Por isso, Il Gesù, obra maneirista, é a precursora das inovações barrocas. Figura 14 ‑ Foto da fachada da Igreja Il Gesù em Roma, Itália 27 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Na pintura, assim como na arquitetura, os artistas também tiveram que recorrer a novos métodos de trabalho que se aprofundaram no século XVII: a ênfase sobre a luz e a cor; o desprezo pelo equilíbrio simples e a preferência por composições mais complicadas. Começa, também no século XVI, um costume na sociedade, que até então não havia anteriormente. Iniciava‑se a prática do debate sobre a arte e os seus movimentos, inclusive com questões sobre hierarquia (qual obra era a melhor dentre outras). A representação naturalista escolhida por Caravaggio adota como modelo a realidade mais fiel possível à cena, e utiliza uma luz artificial, que ilumina de forma conceitual o espaço da composição de maior importância para o tema do quadro. Por isso, a luz incide de fora sobre a figura de São Pedro, captando com nitidez sua atitude diante do martírio de ser crucificado. A luz, dessa forma, auxilia Caravaggio a transmitir sua mensagem com veracidade. O santo tem uma expressão, entre temerosa e surpresa, que está muito distante da exaltação mística dos santos barrocos. Neste quadro, o personagem foi introduzido ao seu drama, e sua instabilidade emocional é a melhor prova de que se trata de um homem real. Figura 15 ‑ Michelangelo Merisi (Caravaggio) ‑ Crucifixão de São Pedro (1601) Igreja de Santa Maria Del Poppolo, Roma, Itália É possível apreciar as qualidades de uma composição de uma obra de arte mesmo que não se conheça a história ou tema representado. Basta observar como os elementos que compõem a pintura, escultura, alto ou baixo relevo, desenho, ou qualquer outro suporte, estão organizados e direcionam o olhar do observador. 28 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I Principaiscaracterísticas do Barroco: • na pintura, há uma valorização dos contrastes intensos, para aumentar a dramaticidade das cenas; • na arquitetura, a manipulação das formas clássicas não utiliza referências rígidas, havendo até mesmo a criação de novas formas, que não existiam no passado clássico. A composição plástica do edifício é mais importante do que o uso de regras antigas; • a Igreja católica, para se recuperar do enfrentamento com o Protestantismo, utiliza a arte e a arquitetura para difundir suas ideias. 2.4 Arte na era das Revoluções O período compreendido entre os anos de 1776 e 1848 foi marcado, tanto na Europa como na América, por importantes movimentos que conduziram à transformação da sociedade ocidental. Esses movimentos foram: a Primeira Revolução Industrial, ocorrida inicialmente na Inglaterra a partir de 1750, e que modificou o modo de produção econômico e as próprias relações sociais na Europa; a Revolução Americana (1776), da qual resultaram a independência dos Estados Unidos e o início da derrocada do antigo sistema colonial no continente americano; a Revolução Francesa (1789), que pôs fim ao sistema feudal na França; e as diversas revoluções que eclodiram em diferentes regiões da Europa no ano 1848, com base em ideais como o liberalismo, o socialismo e o nacionalismo, princípios novos que conduziram à derrubada das relações políticas, econômicas e sociais que predominavam no continente desde a Idade Média. A produção artística desse período de intensas transformações também sofreu modificações importantes, como será observado a seguir. 2.4.1 Laicização da arte e Revolução Francesa A Revolução Francesa constituiu um dos mais importantes momentos da história da civilização ocidental, sendo responsável pelo estabelecimento dos princípios humanistas da igualdade, da liberdade e da fraternidade, que se contrapunham ao sistema de privilégios do Antigo Regime. Fundada nos ideais da racionalidade iluminista, a Revolução Francesa abriu as portas para uma nova forma de arte, que não mais expressaria a vontade divina, mas os anseios, dramas e práticas cotidianas dos próprios seres humanos. Foi neste sentido que a arte ocidental caminhou, a partir de então, na direção de sua constante laicização: os temas bíblicos foram substituídos, na pintura e na escultura, por temas mitológicos e do cotidiano burguês. Ademais, os artistas passaram a servir não mais à Igreja, doravante decadente como centro de irradiação do poder político, mas aos novos líderes políticos, em especial Napoleão Bonaparte, tornado imperador francês em 1799, e que pretendeu estender a toda a Europa os ideais da Revolução Francesa e suplantar a sua principal rival, a Inglaterra, no campo econômico, como principal fornecedora de produtos industrializados para o velho continente e para o Novo Mundo. Em diferentes obras, a representação de temas da mitologia greco‑romana servia ao propósito de simbolização do caráter eterno do poder, encarnado na figura de Napoleão. Particularmente, no que se refere à pintura, predominava o denominado academicismo, pois os artistas seguiam modelos e regras que eram aprendidas nas escolas de Belas Artes. Entre os pintores do período, cabe destacar a 29 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE atuação de Jacques‑Louis David, artista oficial do Império napoleônico, cujas obras representam momentos históricos, cenas mitológicas, paisagens, além de retratos e nus, em geral carregados de realismo e emoção. A pintura a seguir, chamada A morte de Marat ou Marat assassinado, retrata o revolucionário francês Jean‑Paul Marat em sua casa, após ter sido assassinado por Charlotte Corday em 13 de julho. Note que, na caixa de madeira cuja forma se assemelha à uma pedra tumular, há uma inscrição, tratando‑se de uma homenagem a Marat, quem o pintor conhecia em vida e supostamente teria visto um dia antes de sua morte. Figura 16 ‑ Jacques‑Louis David ‑ A morte de Marat ou Marat assassinado (Marat assassiné) (1793)1 Óleo sobre tela. Musées royaux des Beaux‑Arts de Belgique, Bruxelas, Bélgica 2.4.2 Arte e Revolução Industrial 2.4.2.1 Realismo A pintura Realista desenvolveu‑se principalmente na França, na segunda metade do século XIX, paralelamente ao contínuo processo de transformação promovido, sobretudo nas cidades, pela Revolução Industrial. O Realismo consistiu numa nova estética, a qual se fundava no propósito de aplicar, no campo artístico, o mesmo rigor de interpretação e domínio da natureza conquistado no campo científico. Neste sentido, a arte preconizava o abandono da subjetividade e da emoção, caracterizando‑se pela busca da objetividade, de modo racional. 30 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I Principais características da arte realista: • a pintura apresenta cunho cientificista, pois visa representar o real com o mesmo grau de objetividade com que os cientistas analisam fenômenos naturais. A pintura realista apresentava portanto, caráter documental; • os artistas realistas não idealizam a natureza, nem buscam melhorá‑la ao representá‑la em suas obras. O belo está na própria realidade do modo como ela é, cumprindo apenas ao artista reproduzi‑la em sua verdade; • as pinturas são marcadas pela sua sobriedade e pela minuciosidade da representação, revelando os aspectos próprios da realidade; • em decorrência da ênfase na objetividade e na minúcia, as obras de arte realistas caracterizam‑se por expressarem o mais fielmente possível a realidade em detalhes, adquirindo um caráter descritivo; • a obra de arte constitui veículo de denúncia das injustiças sociais, protestando, de forma politizada, em favor dos oprimidos e desfavorecidos, revelando a desigualdade existente entre a pobreza do proletariado e a riqueza dos burgueses. Alçados a heróis da sociedade industrial, os operários e miseráveis constituem temas privilegiados das pinturas realistas, em substituição aos heróis idealizados da pintura da época do Romantismo. O principal representante do Realismo, na pintura, é Gustave Courbet (1819‑1877), que retratou em suas obras, principalmente, cenas da vida cotidiana das classes trabalhadoras. Courbet era declaradamente socialista. Outro artista importante ligado ao Realismo é Jean‑François Millet, homem muito religioso, amante da natureza e que trabalhara desde jovem no campo. Sua pintura representa, sobretudo, os vínculos entre o homem e a terra. Figura 17 ‑ Gustave Courbet ‑ Moças Peneirando o Trigo (1854) Museu de Belas Artes, Nantes, França 31 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Além da obra pictórica de Courbet e Millet, cabe fazer referência, no Realismo, à produção do escultor Auguste Rodin, que se afastou dos princípios idealistas e procurou criar estátuas que representavam a realidade no modo como ela é, dando preferência a temáticas contemporâneas e à busca de registrar o momento específico de uma atitude, como na sua obra O Beijo. Na esculturaO Beijo, de Rodin, é possível observar as principais características da obra deste que foi o mais importante escultor realista. Sua importância reside, entre outros fatores, na sua ruptura com os padrões clássicos das esculturas, buscando novas proporções e ensaiando torções e movimentos com forte inspiração em Michelangelo. Figura 18 ‑ Auguste Rodin ‑ O Beijo (Le Baiser) (década de 1890) Escultura em mármore. Museu Rodin, Paris, França 2.4.2.2 Naturalismo A partir de 1830, surge uma nova forma de representação da realidade com as inovações que a máquina permitia: a fotografia. Os artistas perceberam o limite das possibilidades da arte na mimese do real. Abandonando um pouco as questões ideológicas (crítica social) do Realismo, os artistas naturalistas empreenderam uma caminhada em busca da reprodução fiel das paisagens urbanas ou não, sem o caráter idealizado do Realismo. Sua prática ocorria ao ar livre, característica adotada posteriormente também pelos impressionistas para garantir o contato direto com o real. 32 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I Entre os principais artistas naturalistas estão Theodore Rousseau (1812‑1867) e Camille Corot (1796‑1875). Em sua fase italiana, Corot, no início do século XIX, privilegiava as paisagens elaboradas com volumes, cuja luz construía as formas a partir do contraste com as sombras. As tonalidades das cores complementam a construção minuciosa da paisagem. Figura 19 ‑ Jean Baptiste Camille Corot ‑ Forum visto do Jardim Farnese (1826) Papel montado sobre tela. Museu do Louvre, Paris, França 2.4.2.3 Romantismo No Romantismo, os artistas afastaram‑se da representação do real. O interesse era o de representar valores sociais simbolizados nas próprias pinturas por figuras humanas, seus trajes, seus gestos e mesmo os objetos que portavam. A pintura adquire um caráter eminentemente retórico, tornando‑se um discurso sobre o real, representando as mudanças sociais e políticas decorrentes da ascensão da burguesia ao poder. Por esse motivo, as cenas do cotidiano, do povo e seus costumes são os preferidos pelos artistas. Um dos artistas mais representativos desse período foi Eugène Delacroix (1798‑1863), autor do primeiro quadro político da História da Arte, A Liberdade guiando o povo (1830). A ideia de liberdade estava impregnada de valores nacionalistas e de independência da pátria. Delacroix sintetiza nesta obra os principais elementos da pintura romântica: a sua forte carga emocional e o apelo a símbolos da nacionalidade e liberdade, que representavam a ideia de mobilização das camadas populares no caminho da libertação dos grilhões do Antigo Regime. 33 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Figura 20 ‑ Eugène Delacroix ‑ A Liberdade guiando o povo (28 de julho 1830) Óleo sobre tela (260 x 325 cm). Museu do Louvre, Paris, França Resumo A definição de arte é mutável, e depende muito do momento histórico. Além disso, o uso desse conceito nem sempre existiu. Portanto, o conceito de arte usado hoje serve para descrever uma qualidade pertencente a algo criado para ser visto como uma obra de arte, mas que, para alcançar esse patamar, necessita ter algum valor reconhecido por um público. Um desses valores, que caracteriza intensamente a noção de arte, é a capacidade de um objeto, edifício, texto, imagem, som ou qualquer outro suporte físico, de estimular nossos sentidos, físicos e intelectuais, não dependendo de qualquer relação com uma finalidade prática, ou função. Mas lembre‑se: esse conceito pode e certamente se modificará ao longo do tempo. Um exemplo dessa mutabilidade da arte é o reconhecimento de que os valores artísticos são móveis e podem ser encontrados em objetos ou locais nunca antes imaginados, como numa revista em quadrinhos ou numa página da internet. Inicialmente, o conceito de arte encontra‑se ligado a objetos que tinham uma finalidade, seja glorificar algum aspecto religioso ou personalidades importantes da época, seja como formar de retratar uma imagem com conteúdo importante, como o quadro de um casal. Por sua vez, cada período possui um conjunto de características de destaque. 34 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 Unidade I No Classicismo greco‑romano foi privilegiada a representação física com uma intenção de ser fiel ao mundo real, mas com grande dose de idealismo das formas humanas. Isso significa que nessa época se criou um padrão de beleza ideal a partir de uma interpretação do mundo real. As obras desse período tiveram enorme influência na formação do mundo ocidental. Na pintura bizantina, os artistas criaram formas humanas para representar apenas o ser, e não o aspecto físico das pessoas. Essa arte serviu como ornamento das enormes e lisas paredes dos templos religiosos construídos com a estrutura maciça da época. A arte medieval muda os princípios adotados no período anterior e começa a valorizar mais a forma humana. Seu foco é a capacidade de criar narrativas sobre temas religiosos. A religião é o principal tema da época e aparece vinculada profundamente à quase toda manifestação artística de qualidade. No Renascimento, os artistas e intelectuais se voltam para o estudo do passado clássico e utilizam esse conhecimento para produzir e criar arquitetura e arte, aplicando a matemática e a geometria para elaborar formas arquitetônicas e representações pictóricas, inclusive por meio da perspectiva. O Maneirismo é o período de transição entre o Barroco e o Renascimento. Nele o desejo e a capacidade pessoal do artista se sobrepõem às regras clássicas, manipulando as formas antigas de uma nova maneira. No Barroco, que é uma espécie de extensão do Maneirismo há, na pintura, a valorização dos contrastes intensos, para aumentar a dramaticidade das cenas; e, na arquitetura, a manipulação das formas clássicas não utiliza referências rígidas, havendo, até mesmo, a criação de novas formas, que não existiam no passado clássico. Já na pintura realista, os artistas não idealizam a natureza, nem buscam melhorá‑la ao representá‑la em suas obras. Elas são marcadas pela sua sobriedade e pelo profundo detalhamento da representação. Nessa época, a obra de arte foi usada como veículo de denúncia das injustiças sociais, protestando, de forma politizada, em favor dos oprimidos e desfavorecidos, revelando a desigualdade existente entre a pobreza do proletariado e a riqueza dos burgueses. 35 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 // R eo rg an iz aç ão /re di m en sio na m en to : R ev isã o: M ar cí lia / Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 02 /0 8/ 20 18 HISTÓRIA DA ARTE Exercícios Questão 1. Leia o texto a seguir de Jorge Coli. A hierarquia dos objetos A arte instala‑se em nosso mundo por meio do aparato
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