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PSICOLOGIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO AULA 4 Prof. Ademir Bueno 2 ESTUDO DOS FENÔMENOS DE INTERAÇÃO CONVERSA INICIAL Esta aula pretende apresentar o conceito de fenômeno de interação e discorrer sobre a questão do indivíduo e sua interação social. Iniciaremos expondo o conceito de Fenômenos de Interação, seguido da dualidade indivíduo x interação social, trazendo a compreensão da interação e a identidade social do indivíduo, a partir da cultura e integração social apresentada. Entendendo o indivíduo e sua adaptação na sociedade. TEMA 1 – FENÔMENO DE INTERAÇÃO SOCIAL – CONCEITO No capitulo Interação Social e vida cotidiana, Anthony Giddens (2005), conceitua Interação Social como sendo “o processo pelo qual agimos e reagimos em relação àqueles que estão ao nosso redor”. Desta forma, o homem é, por natureza, um ser social. De acordo com Lorena (2013), o indivíduo é produto de um sistema complexo de interações que, de uma forma ou de outra, se sinta pertencendo a uma sociedade, e inserido nesse contexto se relaciona com outros indivíduos, assimilando ali, seus hábitos e costumes que acabam por contribuir para o desenvolvimento da sua personalidade individual, sendo reconhecido mais tarde como sua personalidade social. No entanto, as características dessa personalidade social se tornam menos marcantes a medida que seus relacionamentos interpessoais e interações com o meio vão se ampliando e intensificando. Crédito: Rawpixel.com / Shutterstock 3 TEMA 2 – O INDIVÍDUO X INTERAÇÃO SOCIAL De acordo com Fabio Aranha (1993), as questões das relações sociais interpessoais despertaram o interesse dos estudiosos do comportamento nos primórdios do século XIX, iniciando uma época de questionamento e reflexão sobre os efeitos dos grupos sociais no comportamento humano. Entre 1830 e 1930, verificou-se uma abastada produção de ideias, que, segundo Fabio Aranha (1993), os pontos comuns eram a pressuposição de que as experiências de grupo se encontram entre os mais importantes determinantes da natureza humana, e, a de que os fenômenos sociais são passíveis de investigação científica. O autor afirma que nessa época passou-se a compreender que a experiência social - não somente com adultos, mas também com semelhantes - é de importância central para a ontogênese em muitas espécies (Fabio Aranha apud Hartup, 1983, p. 104). Cabe ressaltar que caso você esteja em um shopping lotado e/ou em um ônibus abarrotado de outras pessoas, esse contato não provocará nenhuma influência entre você e qualquer indivíduo que estiver ao seu lado. Pois, segundo Lorena (2013), para que uma interação social exerça alguma interferência, deverá ocorrer mais que um contato involuntário, necessita haver um diálogo entre os indivíduos. Lorena (2013) afirma que de uma forma mais eficaz, as interações formam o alicerce de toda organização e estrutura social, consistindo em duas, as formas como isso pode ocorrer, sendo elas: • Física – como a proximidade de dois ou mais indivíduos • Meios de comunicação – neste caso sofre influência da televisão, rádio e livros etc.; no presente contexto, tanto quem produz a informação quanto quem recebe sofre influências. • A despeito da internet, a autora diz que esse veículo é diferente, pois consente que mais indivíduos sofram influência momentaneamente. Lorena (2013) ainda diz que as redes sociais e os e-mails compõem novas maneiras de interação. Elas geram fenômenos significativos a ponto de causar alteração no cotidiano dos indivíduos. Giddens chama esse fenômeno de globalização, que culminou por alterar a natureza dos contatos, proporcionando que ocorra uma gama cada vez maior de interações, envolvendo pessoas direta ou indiretamente. 4 Assim, segundo Lorena (2013): O mundo social de cada indivíduo é filtrado de acordo com a posição social e com as peculiaridades de outros. A presença do outro torna-se fundamental para introdução da língua, da cultura, das normas sociais pela criança [...]. A linguagem amplia as possibilidades de comunicação e enriquece as relações sociais e a capacidade de controle entre os seres humanos e deles sobre a natureza (Lorena, 2013, p. 23). Desta forma, é por meio da linguagem que o indivíduo recebe a sociedade, a identidade e a realidade, uma vez que estas estão intimamente relacionadas. TEMA 3 – INTERAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL Sobre interação e identidade Nizet & Rigaux (2014), buscam trazer a compreensão do eu (self) por meio da visão do sociólogo Erving Goffman, partindo da metáfora teatral, seguida pela metáfora das regras e dos ritos. Esses diferentes aportes podem ser sistematizados, afirmando-se que o “eu” é fruto de um processo social, no qual três componentes podem ser identificados. São eles: • O Jogo (na forma lúdica com suas interpretações) – a produção ou desenvolvimento do eu ocorre por meio do envolvimento dos indivíduos na interação. Sendo produzido por ações verbais e não verbais, realizado pelo sujeito e pela interpretação que ele faz do outro. • A sacralidade da face – para Goffman, ao constituir uma ordem social, as regras da interação ocupam a função de construir uma identidade individual sagrada. E é sacralizando (sacrificando) a face individual que a ordem social é respeitada, de acordo com esse autor, sem a ordem social, o indivíduo ficaria sem valor, e até, sem existência. • Os fundamentos cerimoniais do eu – de acordo com Goffman, somente indivíduos com recursos materiais e simbólicos (controle da informação pessoal etc.), são permitidos passar por esse processo. Aqui, o contexto do indivíduo é de extrema importância, pois isso resulta na limitação ou facilitação do acesso aos meios indispensáveis à produção de um eu humano. Desta forma, para o autor, esses três elementos sociais, pelo qual o eu é constituído, dando a 5 ideia de que a identidade não pode resultar unicamente dos atores [...], mas sim, que ela requer uma ordem social estruturada por regras – essencialmente, a da sacralidade da face (a face que representará aos outros) (Nizet & Rigaux, 2014). Falar sobre identidade social e sua interação com o meio, pelo olhar do sociólogo Erving Goffman, traz a luz uma observação do cotidiano dos indivíduos sob uma perspectiva psicodramatista, onde o indivíduo é visto como alguém que representa um papel social nos grupos ao qual encontra-se inserido, se adequando as regras estabelecidas e de algum modo sendo moldado por elas. Para Lorena (2013), todos nós em algum momento ou de alguma forma, nos identificamos com algum grupo social. Seja com o estilo de vida, o jeito de se vestir, lugares que frequentamos, entre outros, são determinantes para dar a identidade suas características. Assim, o que nominamos identidade social, é esse saber responder quem somos. Por fim a autora ressalta que – “a afirmação da identidade social acontece na comparação com os outros membros da sociedade” e que: Na verdade, a identidade social está sempre associada à identificação com um grupo particular e à diferenciação em relação a outros grupos. Esse processo fica evidente quando o adolescente assume determinado estilo de vestimenta, corte de cabelo [...] (Lorena, 2013, p. 23). Percebe-se com isso que este é um período importante pela busca da afirmação da identidade social, onde se procura por outros iguais com as mesma características e interesses. TEMA 4 – CULTURA E INTEGRAÇÃO SOCIAL De acordo com Giddens (2005), quando pensamos na palavra cultura, sempre nos remetemos a coisas mais altivas da mente – a arte, a literatura, a música e a pintura. Para o sociólogo, a cultura se refere às formas de vida dos indivíduos de uma sociedade ou de um grupo dentro da sociedade em seu cotidiano e isso inclui como “eles se vestem, seus costumes matrimoniais e vida familiar, seus padrõesde trabalho, cerimonias religiosas e ocupações de lazer” (Giddens, 2005, pag. 38) Segundo o autor, há uma diferenciação conceitual que varia de uma sociedade para outra, mas as percepções sobre o que as conectam são muito 6 próximas e que uma sociedade é um sistema de interações e interrelações que atrelam os indivíduos uns com os outros. Outra afirmação de Giddens é que os aspectos culturais de uma sociedade é algo aprendido, muito mais do que simplesmente uma herança familiar. Assim, a cultura se torna o processo pelo qual as crianças e outros membros da sociedade aprendem a viver em grupo, sendo esse processo chamado de socialização. Desta forma, a socialização é o principal canal para a transmissão da cultura e integração do indivíduo na sociedade através do tempo e das gerações. Para Lorena (2013), a forma como pensamos, agimos e nos comunicamos são contornos que a cultura encontra para nos transmitir a razão do comportamento humano, suas crenças e ideias. Cabe lembrar que todas as sociedades modernas possuem subculturas – cada uma com seus valores, comportamentos e vocabulários que os diferenciam da cultura predominante. De acordo com ela, o processo de socialização do indivíduo facilita que este desenvolva sua própria personalidade, esta integrada ao seu grupo social, diferenciando-o ao mesmo tempo, dos integrantes dos outros grupos. Lorena traz o seguinte exemplo sobre esta questão: Um indivíduo que nasce no estado de São Paulo apresenta traços sociais relativos aos seguintes grupos sociais: paulista, brasileiro, latino-americano [...]. O modo de falar de alguém que nasceu em Sorocaba, por exemplo, é naturalmente diferente do de alguém que nasceu e mora na capital (Lorena, 2013, pag. 24). Assim, pode-se pensar que um indivíduo de determinado estado dentro de um mesmo país, poderá encontrar dificuldades individuais para se sentir integrado ou parte de um grupo em outro estado, levando em conta as diferenças culturais e comportamentais. TEMA 5 – O INDIVÍDUO E SUA ADAPTAÇÃO NA SOCIEDADE Fábio Aranha (1993), mais recentemente em seus estudos, cita Schaffer (1984), trazendo a luz que esse, ao investigar o processo do desenvolvimento infantil, tece considerações que vêm se somar sobre as questões das adequações do indivíduo ao meio, o mesmo afirma que o desenvolvimento da criança recém-nascida é um esforço conjunto entre a criança e seu cuidador. Consequentemente, à medida que ela vai crescendo, o número e a 7 heterogeneidade de pessoas as quais ela interage, aumentam significativamente. Por conseguinte, as pesquisas “sobre o progresso da criança devem se preocupar tanto com o papel do adulto, quanto com o da criança”. Para o autor o progresso do desenvolvimento da criança não é uma questão de acréscimos quantitativos, mas, sim, de adaptações sequenciais que regularmente ocorrem na vida mental da criança. Fábio Aranha, afirma que as reorganizações na criança determinam mudanças no comportamento do adulto interagente, favorecendo, assim, novas experiências interativas e consequentes novas reorganizações (Fábio Aranha, 1993, p. 24). E que tais transições iniciam pela determinação biológica de cada criança. Assim, cada nível alcançado estipula um conjunto de tarefas desenvolvimentais que devem ser realizadas pela criança e pelo adulto para que ela possa se adequar a essa fase e evoluir para a próxima transição. De acordo com Lorena (2013), o indivíduo passa por diversos processos de adaptações ao longo da vida, o que a autora chama de posições na hierarquia social. Esse processo de socialização e/ou adaptação é nomeado por Lorena, como sendo, posicionamento de status, e este pode ser utilizado para definir algumas características nos grupos. Verificaremos a seguir algumas características dessas posições: • Um indivíduo pode ocupar diversos status durante vida, ele pode ser pai, filho, profissional e cidadão – ao mesmo tempo. Seu status pode mudar de estudante universitário a médico, engenheiro, psicólogo etc. Para Lorena (2013), é importante compreender que as pessoas são o status. Assim, se uma pessoa perde o emprego ou deixa de ocupar determinada posição social, perde o prestígio e o poder a ele atrelado. Ela traz o exemplo de dois tipos de status: 1) Os atribuídos pela sociedade, não importando a qualidade ou o esforço da pessoa. 2) Os que são obtidos pelo próprio esforço do indivíduo. As diferenças de grupos de status residem na possibilidade do consumo de bens, que representam estilos de vida específicos. Pode-se observar que o status principal do indivíduo pode variar, podendo na sociedade moderna estar ligado a profissão, mas no passado estava ligado a religião ou a idade. 8 De modo consequente, podemos entender que há inúmeras formas ao qual o indivíduo se adapta à sociedade, sendo, por meio desse processo que o mesmo desenvolve seu jeito de ser na interação com o meio. NA PRÁTICA Ansiamos com esse conteúdo trazer a compreensão necessária sobre a interação e adaptação do indivíduo na sociedade, levando em consideração que o processo de adaptação é algo mutável de permanente transformação; que a interação é um processo social que se dá por meio das relações sociais que mantemos com as outras pessoas e ocorre desde o nascimento do indivíduo até sua morte. Esse conhecimento pode dar sustentação para a escolha de técnicas adequadas para a intervenção na área da saúde individual ou coletiva na prática do fazer-se Assistente Social. FINALIZANDO Iniciamos a presente aula expondo o conceito de fenômenos de interação, seguido da dualidade – indivíduo x interação social, trazendo a compreensão da interação e a identidade social do indivíduo a partir da cultura e integração social apresentada, entendendo o indivíduo e sua adaptação na sociedade. 9 REFERÊNCIAS GIDDENS, A. Sociologia. Tradução de Sandra Regina Netz. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. PSICOLOGIA Geral e Social / Biblioteca Universitária Pearson – São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. ARANHA, M. S. F. A interação social e o desenvolvimento humano. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 1, n. 3, p. 19-28, dez. 1993. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 389X1993000300004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 25 jun. 2018. Estudo dos Fenômenos de Interação Conversa inicial Tema 1 – Fenômeno de Interação Social – Conceito Tema 2 – O indivíduo X Interação Social Tema 3 – Interação e Identidade Social Tema 4 – Cultura e Integração Social Tema 5 – O Indivíduo e sua adaptação na Sociedade Na prática Ansiamos com esse conteúdo trazer a compreensão necessária sobre a interação e adaptação do indivíduo na sociedade, levando em consideração que o processo de adaptação é algo mutável de permanente transformação; que a interação é um processo social qu... FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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