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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A PLACENTA A placenta é um órgão fetal transitório responsável pelas trocas materno-fetais e produção de vários hormônios, como gonadotrofina coriônica (HCG). A unidade funcional é constituída pelas vilosidades coriais com vasos no interior que circulam o sangue fetal. Elas são banhadas pelo sangue materno no espaço interviloso. O exame da placenta é importante para diagnostico de sofrimento fetal e morte perinatal. A placenta pesa de 400 a 600g e com 18 cm de diâmetro. Macroscopicamente temos a face materna (placa basal – subdividida em cotilédones). Essa face é constituída pela decídua, trofoblasto e fibrina. Na espessura da placenta temos a câmara vilosa. Na outra face temos a face fetal (placa coriônica) que é revestida pela membrana corioamniótica. Vemos o cordão umbilical implantado, podendo estar no centro ou perifericamente. O cordão contem 3 vasos (2 artérias e 1 veia). Geralmente tem 50cm. Revestido pela geléia de Wharton que protege os vasos. Ao microscópio, essa membrana corioamniótica é constituída por âmnio e córion. Âmnio: membrana fina e transparente, epitélio pavimentoso ou plano. Córion (placa corial): tecido conjuntivo + ramos das artérias e veia umbilicais. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A câmara vilosa é constituída pela vilosidade corial, que é a unidade funcional da placenta. Elas variam conforme a idade gestacional (1º trimestre tem 150micrometros e a termo tem 40 micrometros). As vilosidades são constituídas por dupla camada de células: Citotrofoblasto: interna Sinciciotrofoblasto: externa, secreta HCG. Estroma: tecido conjuntivo frouxo, macrófagos (células de Hofbauer), vasos e membrana vasculho-sincicial (32ª semana: trocas por difusão). A placenta a termo tem os vasos mais desenvolvidos (formando a membrana vasculho-sincicial) e vilosidades com menor diâmetro. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Exame macroscópico da placenta: O exame macroscópico da placenta é muito importante. Primeiro verificamos se há opacidade da membrana corioamniótica, que geralmente é muito fina e transparente. Em casos de infecções intraútero essa membrana fica mais opaca, ou nos casos de sofrimento fetal o bebê libera mecônio e impregna essas membranas. Nos casos de hipertensão materna gestacional ocorre doença vascular útero-placentária. Secundaria a ela pode ocorrer infartos na placenta (até 5% do leito placentário com necrose não altera troca materno-fetal). Se esses infartos são frequentes há áreas não funcionais da placenta, causando sofrimento fetal crônico (hipóxia). Outra complicação da hipertensão é a rotura de artérias da decídua formando hematoma retroplacentário, descolando a placenta (descolamento prematuro da placenta – urgência obstétrica). Também observamos o volume e a coloração da placenta. Pode ser pálida nos casos de anemia, infecções, diabetes. Podemos observar também malformação vascular no cordão umbilical (ex. com 2 vasos). É importante para investigar mal formação no sistema cardiovascular do bebê. - Sítio de implantação da placenta: As artérias deciduais (parede uterina) são invadidas por células do trofoblasto (trofoblasto não viloso). Eles substituem parcialmente a parede dessas artérias (remodelamento da parede vascular). Esse remodelamento é uma condição adaptativa fisiológica chamada placentação. Isso causa dilatação dos vasos para aumentar o afluxo de sangue para câmara vilosa e reduzem a contração (relaxados). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Esse processo pode ocorrer de forma inadequada e gerar pré-eclampsia e eclampsia. É uma falha na placentação. As artérias do leito útero-placentario não se dilatam completamente, causando fluxo inadequado e isquemia da placenta. A hipertensão causa lesão arterial e leva à aterose aguda (aterosclerose extremamente rápida na placenta). Formam-se trombos e infartos. Na doença hipertensiva da gravidez tem a lesão arterial e trombose placentária. Se tiver > 40% de descolamento haverá morte fetal. Os infartos placentários ocorrem em placentas normais, mas em pequena quantidade. São mais intensos e comuns em gestantes diabéticas, hipertensas e com doença renal crônica. Na fase aguda dos infartos eles são avermelhados- escuros, endurecidos. Evoluem com o tempo, ficando mais esbranquiçados (hialinização) e depois tem calcificação. Tem forma triangular. Na microscopia vemos só a sombra das vilosidades (vilos fantasmas). Se tiver >10% de áreas de infarto já tem hipóxia fetal e sofrimento fetal crônico. Isso altera o crescimento e desenvolvimento do feto. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO – ECLÂMPSIA E PRÉ-ECLÂMPSIA No mundo as hemorragias são as principais causas de morte materna, mas no Brasil são as doenças hipertensivas. A pré-eclâmpsia (doença hipertensiva própria da gravidez) é um forte exemplo de disfunção placentária. - Modificações fisiológicas da gravidez (circulação): há aumento progressivo do volume plasmático, aumento do débito cardíaco a partir da 8ª semana (máximo entre 20-34 semanas); refratariedade dos vasos maternos à angiotensina; predomínio das prostaglandinas vasodilatadoras (prostaciclinas) e redução da RVP. A expansão do volume plasmático materno tem relação direta com o peso fetal. Quanto maior a volemia materna, melhor irrigação placentária e melhor peso fetal. - Hipertensão arterial: é um sinal clinico e não uma doença. Incomum na mulher jovem, mas é a intercorrência clinica mais frequente na gravidez. A etiologia é multifatorial: vasculopatia prévia, gestação múltipla, multíparas, genética, IMC alto, imunológica, primi paternidade, raça negra, dieta pobre em cálcio, clima frio, idade. Normalmente há invasão trofoblástica extensa. Na hipertensão há invasão trofoblástica inadequada, deficiente. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Assim, há um defeito/predisposição genética, disfunção e adaptação imunológica que levam a anormalidade na placentação (deficiência da invasão citotrofoblástica em arteríolas espiraladas). Isso causa isquemia placentária que libera fatores citotóxicos na circulação materna, com lesão da célula endotelial e que causa vasoespasmo generalizado com disfunção multissistemica. Com o estrangulamento da circulação pode gerar formas anormais de hemácias (esquizócitos). Aumento do sequestro pelo baço e hemólise > anemia hemolítica microangiopatica. Outros marcadores de hemólise serão BI e LDH elevados. O epitélio lesionado será tamponado pelas plaquetas, alto consumo plaquetário na microcirculação. Há plaquetopenia progressiva, hemólise, trombose e coagulopatias. Nos rins, a isquemia causa redução da perfusão e filtração glomerular. Isso causa disfunção da filtração glomerular e perda de proteínas na urina (proteinúria) e aparece aumento do ácido úrico e creatinina séricos. Ou seja, progride para insuficiência renal. Pode haver edema intenso da vulva da mulher por perda intensa das proteínas plasmáticas na urina e o líquido extravasa para o interstício. O vasoespasmo aumenta os níveis pressóricos e pode causar rotura dos vasos da retina e cerebral. No fígado há aumento da RVP e deposito de fibrina nos sinusoides pela isquemia. Há redução da perfusão do fígado e edema (sem proteína o liquido extravasa no interstício). O fígado pode ter necrose hemorrágica periportal e hematoma subcapsular. Há aumento das enzimas hepáticas no soro, icterícia e epigastralgia (distensão da capsula hepática). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Na placenta os infartos diminuem o fluxo sanguíneo e levam a hipóxia crônica e restriçãode crescimento intrauterino do feto (RCIU) por menor oferta de oxigênio e nutrientes. Geralmente causadas por aterose aguda das arteríolas deciduais. Outra complicação é o acidente vascular placentário com rotura de vasos placentários e formação de hematoma retroplacentário. No US vemos déficit de movimentação, líquido amniótico, fluxo reverso da artéria umbilical (componente diastólico negativo – diástole reversa). Em nível cerebral haverá vasoespasmo generalizado, hiperemia, anemia focal, trombose, hemorragias. Sintomatologia visual das mulheres, até perda transitória da visão. Encefalopatia hipertensiva e vasoespasmo podem levar a crise convulsiva ou eclampsia iminente. Eclampsia: sintomatologia da pré-eclampsia (nível pressórico elevado e disfunção sistêmicas) + convulsões. Complicações da eclampsia: Edema pulmonar Hemorragia cerebral; convulsões Amaurose (cegueira) secundaria a descolamento de retina, isquemia ou infarto do lobo occipital. HELLP síndrome: H (hemólise), EL (aumento de enzimas hepáticas), LP (plaquetopenia). Quadro gravíssimo com alta letalidade e morbidade. Então, a eclampsia é caracterizada por convulsões tônico-clônicas generalizadas em gestante com quadro hipertensivo, não causada por epilepsia ou doença convulsiva. Pode ocorrer na gravidez, parto e puerpério. Gestante com convulsão sempre pensamos em eclâmpsia. Sintomas premonitórios (que vai evoluir para eclampsia): Cefaleia persistente occipital Visão borrada ou fotofobia Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Epigastralgia ou dor em hipocôndrio D Hiperreflexia A gestante fica muito agitada e com sensação de morte iminente. Se não for feita intervenção ela evoluirá para convulsões. O tratamento é a antecipação do parto independentemente da idade gestacional. Retirar a placenta! Depois avaliamos a mãe e por fim o feto. INFLAMAÇÃO DA PLACENTE - PLACENTITES Existem duas formas de placentite, a corioamnionite e a vilosite. Corioamnionite: infecção das membranas por via ascendente (trato genital inferior > contaminam líquido amniótico > contamina o feto > pneumonia intraútero > óbito). A membrana corio-amniótica fica espessa e substituída por exsudato purulento. Aspecto macroscópico de maior opacidade dessas membranas. Frequentemente causada pelo Streptococo do grupo B, associado a outros agentes da flora vaginal. Associado a RPM (rotura prematura de membranas), pneumonia neonatal, sepse e meningite neonatais. Esses agentes podem secretar colagenases que destroem a membrana corion- amniótica. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Quanto mais baixa a rotura maior perda de liquido e menor volume amniótico. Quanto menor o líquido amniótico maior o risco de infecção, pois esse liquido tem capacidade significativa bacteriostática. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A corioamnionite clínica aumenta em 141% a chance de ter paralisia cerebral fetal. O feto responde à infecção materna pela síndrome de resposta inflamatória fetal (SRIF). A incidência de corioamnionite é maior nas idades gestacionais menores (diminui incidência nas IG adiantadas). O risco de sepse neonatal aumenta muito em RPM com cultura positiva (8% de risco). As complicações da infecção neonatal podem ser enterocolite necrotizante, pneumonia, hemorragia intraventricular. Conduta: antibioticoterapia de largo espectro e indução do parto. http://anatpat.unicamp.br/lamgin27.html http://anatpat.unicamp.br/lamgin27.html Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Vilosite: infecção materna que atinge o feto por via hematogênica e que pode ter variado grau de comprometimento fetal. Há destruição das vilosidades coriais. A inflamação pode ser inespecífica (infiltrado inflamatório linfoplasmocitario) ou especifica (granulomas). Em alguns casos conseguimos demonstrar o agente inflamatório, mas em outros temos que recorrer ao exame sorológico (anticorpos) e bacteriológico. Os principais agentes são TORCH (toxoplasmose e outras [sífilis, tuberculose, listeriose], rubéola, citomegalovírus, herpes simples). Cursa com óbito fetal, pode afetar múltiplos órgãos fetais, frequentemente SNC, órgãos hematopoiéticos e sistema linfático fetais. Cistos abaixo da membrana da vilosidade corial. Ex. Vilosite por CMV. É característica a inclusão nuclear nas células dos vilos. Ex.2. Vilosite por Toxoplasmose. Vemos célula com vários toxoplasmas no interior. Outras infecções que levam a vilosites são sífilis, rubéola, AIDS, Chagas. Na sífilis a placenta fica pálida, grande e imatura. Há malformação, retardo do crescimento e morte intraútero. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A sífilis congênita é a doença que mais mata fetos. http://anatpat.unicamp.br/lamgin28.html http://anatpat.unicamp.br/lamgin28.html
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