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METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS

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METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS
	Em relação às proteínas, a síntese proteica começa no núcleo, com o processo de transcrição, processamento do RNA mensageiro, seu amadurecimento, vai para o citoplasma onde vai haver a tradução desse RNA mensageiro nos ribossomos e essa proteína vai sofrer sua conformação (primária, secundária, terciária e quaternária). Essa parte já foi estudada na disciplina de Processos Biológicos. Em PBOA vamos estudar como vamos utilizar essa proteína e esse aminoácido do ponto de vista energético.
	Proteínas são moléculas muito grandes, são biomoléculas formadas por polímeros de aminoácidos, para conseguirmos utilizá-las do ponto de vista energético é preciso quebrá-las, ou seja, vamos utilizar os aminoácidos. Todas as proteínas da alimentação que formos utilizar deverão ser quebradas ou em aminoácidos ou em peptídeos pequenos, di ou tripeptídeos. Só tem um momento da vida em que vamos conseguir absorver proteínas inteiras sem mudar a conformação delas, que é nas primeiras 24/48 horas de vida, que é o momento em que o filhote mama o colostro. A placenta dos mamíferos não permite a passagem de uma grande quantidade de anticorpos maternos, e esses anticorpos são proteínas muito grandes. Para não perder sua função não pode perde sua conformação estrutural, nas primeiras 24/48 horas de vida o TGI dos filhotes sofre algumas alterações funcionais que permite com que as proteínas cheguem sem ser desnaturadas. As enzimas digestivas não estão ativas, o estômago não está com o pH ácido, e as proteínas conseguem chegar inteiras até o intestino delgado, e lá através do fenômeno de transporte de filocitose esses anticorpos vão ser absorvidos. Assim vão manter a saúde do filhote nos primeiros meses de vida até o filhote produzir seus próprios anticorpos.
ETAPAS DA DIGESTÃO DE PROTEÍNAS
	A primeira etapa é a desnaturação proteica.
É preciso quebrar as estruturas quaternária, terciária e secundária para, depois, quebrar a primária. 
	O primeiro fenômeno que se faz para desnaturação das proteínas é o estresse mecânico na boca, que é a mastigação. Vai começar a quebrar as proteínas, e depois continua a desnaturação ácida dentro do estômago. Dentro do estômago tem a primeira enzima digestiva proteolítica (digere as proteínas) que é a pepsina – são produzidas na forma de zimogênio ou pró-enzimas: enzimas inativas. São enzimas inativas dentro da célula para não digerirem as próprias proteínas. Quando chegarem no local de ação vão ser ativadas. Quando chegarem no pH ácido do estômago vão ser ativadas.
	Depois esse bolo alimentar acidificado vai cair no duodeno, lá vai estimular a liberação da colecistocina, que vai estimular a liberação dos ácinos pancreáticos, sais biliares e enzimas pancreáticas (que estavam na forma de zimogênio até então). No glicocálice dos enterócitos existe moléculas chamada entreopeptidases, são enzimas que quebram o tripsinogênio o transformando em tripsina. E a própria tripsina vai ter ação para ativar outras tripsinas e todas as outras enzimas. 
	Se isto ocorrer no pâncreas pode ocasionar um quadro de pancreatite.
	Estas enzimas começam a quebrar a estrutura primária das proteínas e começam a liberar os aminoácidos, ou deixando só pequenos peptídeos. Os aminoácidos isolados e peptídeos vão ser absorvidos no jejuno e no íleo. 
	Existem mais de 300 aminoácidos na natureza, porém, apenas 20 vão fazer parte das proteínas. O que difere um aminoácido do outro? Todos eles tem um grupamento amina, todos eles tem um grupamento ácido, o que os diferencia é a cadeia lateral carbonada. Uns tem cadeia aromática, outros tem cadeia ácida, outros cadeia ramificada, são moléculas diferentes, com tamanhos diferentes, vão ter várias formas de absorção diferentes, vão ter sete sistemas de transporte aqui. Difusão, difusão facilitada, no caso dos dipeptídeos até transporte ativo para absorção dos aminoácidos. 
Uma vez absorvidos vão ser secretados pela membrana basolateral dos enterócitos para o sistema porta. A veia porta vai levar boa parte desses aminoácidos para o fígado. Mas o intestino cobra um pedágio para isso. Isso depende muito do valor biológico e capacidade de digestão dessa proteína, aproximadamente 60% dos aminoácidos que passam pelo sistema porta chegam até o fígado; 10% dos aminoácidos ficam no intestino para síntese proteica - é uma quantidade alta, pois as células do intestino tem uma taxa de mitose muito grande e precisam de muita proteína, o que as faz um alvo fácil de vírus (células que se multiplicam muito rápido); 30% dos aminoácidos serão digeridos e catabolizados pelo intestino. 
Nos carboidratos e gorduras encontramos os seguintes ácidos: carbono, hidrogênio, oxigênio. Eles vão ser oxidados até CO2 e H2O. As proteínas têm uma característica diferente, elas têm um átomo a mais, o nitrogênio. Todo aminoácido que for utilizado como energia vai ter que ter esse nitrogênio removido, esse catabolismo intestinal gera uma quantidade grande de amônia (NH3). Independente de ser no intestino ou nas nossas células, usou o aminoácido como energia ele vai virar amônia, a gente precisa remover esse nitrogênio do aminoácido para usar ele. 
RUMINANTE
Nos ruminantes vai ser diferente. Vão ter duas características que precisamos lembrar: a base da alimentação deles é a forragem, que tem baixo teor de proteína. Essa forragem vai para uma câmara fermentativa, que é o rúmen, e lá as bactérias vão produzir uma quantidade razoável de proteínas. Se essa quantidade de proteína aumenta muito deixa a água muito viscosa (gelatina) e corre o risco de formar timpanismo bolhoso (não consegue expelir o gás).
O TGI dos animais é proporcional ao tipo de alimentação que eles comem, como os herbívoros precisam de câmara fermentativa, o intestino deles é todo direcionado a fermentar os polissacarídeos, já a proteína eles têm uma perda grande, não são tão bons para absorver proteínas, mas mesmo assim eles conseguem manter as necessidades proteica deles, a partir da produção de aminoácidos e proteínas pelas bactérias no rúmen.
As bactérias do rúmen são especialmente ativas nos processos de síntese proteica e podem utilizar como substratos pata essa síntese, além doas aminoácidos, outras fontes de nitrogênio não-protéico (amônia, nitratos, amidas) como precursores para formar novos aminoácidos. Os protozoários supremsuas necessidades de proteínas consumindo bactérias.
A ureia que ingressa no rúmen, seja com a dieta, seja com a saliva, é rapidamente atacada pela uréase, enzima de origem bacteriana, que a hidrolisa em duas moléculas de amônia, liberando CO2.
A NH4 no rúmen, em presença de adequada quantidade de compostos energéticos que sirvam como fonte de esqueletos carbonados, atua como substrato para que as bactérias possam sintetizar aminoácidos, os quais, por sua vez, são necessários para a síntese de proteína bacteriana. A NH4 em excesso no rúmen é absorvida e enviada via portal para o fígado, onde se metaboliza em ureia, mediante o ciclo da ureia. Esta ureia pode passar à circulação e pode ser excretada pela urina ou reciclada de novo para o rúmen via sanguínea ou via salivar. Os anteriores fatos permitem que o ruminante possa economizar compostos nitrogenados e obter proteína a partir de fontes de nitrogênio não-proteico, como a ureia, a qual é utilizada como fonte suplementar na dieta desses animais. 
A proteína microbiana é digerida no abomaso e no intestino de igual forma que nos monogástricos, com absorção de aminoácidos no duodeno e no jejuno. No cego, ocorre hidrólise proteica, mas não há absorção de aminoácidos.
DESTINO DOS AMINOÁCIDOS
A principal função dos aminoácidos é a síntese de proteínas. Depois vão ser utilizados na produção de outras biomoléculas importantes (Ex: L-triptofano – precursor da serotonina, utilizado para tratar distúrbios de comportamento, tais como fobias e ansiedade, aumenta a quantidade de serotonina no cérebro; Tirosina – adrenalina, noradrenalina).
O restante vai ser utilizado como fonte de energia, para isso é preciso removero grupamento amina, tirar o nitrogênio dele, e mesmo assim, ingerirmos mais aminoácidos que a nossa capacidade de sintetizar proteína, produzir biomoléculas ou utilizar como energia, a gente não faz estoque circulante de aminoácido, ele vai ser eliminado na urina, vai acontecer um fenômeno chamado de Hiperfiltração glomerular induzida por aminoácidos, com base nisso há alguns mitos que o pessoal fala, como: comer excesso de proteína pode causar lesão no rim. Um rim saudável não vai ter problema nenhum. 
ESTRUTURA DOS AMINOÁCIDOS
Eles têm um carbono alfa e quatro ligantes diferentes: hidrogênio, cadeia lateral, ácido carboxílico e grupamento amina. 
Para utilizá-los como fonte de energia é preciso remover o grupamento amina. Ao remover o grupamento amina ele deixa de ser um aminoácido e vira um alfa-cetoácido, que é uma cadeia carbonada, vai se comportar ou como carboidrato ou um lipídeo. Vai depender do metabolismo.
Exemplos de aminoácidos e seus alfa-cetoácidos:
Alanina Piruvato
Glutamato Cetoglutarato
Aspartato Oxalacetato
ELIMINAÇÃO DO NITROGÊNIO
É preciso remover o nitrogênio do grupamento amina devido à sua toxicidade. O nitrogênio causa nos animais um quadro de encefalopatia hepática, ele convulsiona, entra em coma, por causa do excesso de nitrogênio. Independente da origem desse nitrogênio, é preciso transformar essa amônia em ureia. 
A amônia é pouco tóxica e é eliminada mais facilmente na urina. Vai ter algumas funções na urina. 
O aminoácido não perde o grupamento amina do nada, ele faz uma reação de transaminação, é uma reação de transferência da amina, o aminoácido dá a sua amina para outro aminoácido e quando ele faz isso ele se transforma no alfa-cetoácido. Mas ele não perde simplesmente, o único que vai perder gratuitamente é o glutamato, os outros aminoácidos precisam da transaminação.
Uma vez esse alfa-cetoácido livre, ele pode ser oxidado e vai dar origem ao piruvato, acetil-CoA, acetoacetil-CoA, ou outro intermediário do ciclo de Krebs. Dependendo do que esse alfa-cetoácido virar, ele entra no ciclo de Krebs ou pode ser usado na gliconeogênese para formar glicose, ou vai ser usado na cetogênese para formar corpos cetônicos. Independente disso ele vai virar energia, pode virar de forma direta – entrando no ciclo de Krebs, ou de forma indireta – se transformando em glicose ou corpos cetônicos. 
Dependendo do que ele vira pode ser classificado em glicogênico ou cetogênico:
Aminoácidos glicogênicos ou gliconeogênicos – são aqueles aminoácidos que quando começam seu processo de degradação viram ou piruvato ou intermediário do ciclo de Krebs. Eles são assim chamados, pois, ou viram energia, ou são utilizados na gliconeogênese e terão chance de virar glicose.
Aminoácidos cetogênicos – são aqueles aminoácidos que vão virar ou Acetil-CoA ou Acetoacetil-CoA. Quando isso acontece, ele pode entrar no ciclo de Krebs e virar energia, ou ele pode ser utilizado para formação de corpos cetônicos. 
A grande maioria dos aminoácidos são aminoácidos gliconeogênicos. Lembrar do efeito poupador do propionato nos ruminantes – dava uma dieta que aumentava a quantidade de ácido propiônico, ele produzia mais glicose a partir do ácido propiônico e deixava usar esses aminoácidos para produzir glicose. Esses aminoácidos eram retidos na musculatura e ele ganhava massa muscular. 
ELIMINAÇÃO DO NITROGÊNIO – 3 ETAPAS
TRANSAMINÇÃO – FORMAÇÃO DA AMÔNIA – FORMAÇÃO DA UREIA
1ª) Transaminação 
	Transferência do grupamento amina de um aminoácido para o outro. Para um aminoácido ser utilizado como fonte de energia é preciso que ele seja transformado em um alfa-cetoácido. 
	A reação de transaminação vai ocorrer tendo o mesmo alfa-cetoácido de um lado da reação, só muda o outro. Há aproximadamente 12 transminases no organismo, ou seja, doze possibilidades de reação, mas o produto vai ser sempre o mesmo: alfa-cetoglutarato, que recebe o grupamento amina (NH3) e vai se transformar no glutamato.
	Essa reação é reversível. Esse glutamato pode ter dois destinos possíveis para esse nitrogênio: pode chegar no final da reação e ter um outro alfa-cetoácido diferente e ele ser utilizado para formar um outro aminoácido (aminoácido não-essencial) – só temos transaminases capazes de fazer essa reação em aminoácidos não-essenciais.
Dependendo da espécie há doze transaminases no organismo, ou seja, são 13 aminoácidos não essenciais (12 + glutamato); em média sobram de 6 a 8 aminoácidos essenciais .
Duas transaminases com aplicação clínica:
Aspartato aminotransferase (TGO) – faz a transferência do aspartato para o glutamato. Tem em grande quantidade no fígado e nos músculos. Vai ser utilizada para indicar lesão muscular e, principalmente, lesão hepática. A concentração dela aumenta no sangue quando houver lesão hepática e muscular. 
Alanina aminotrasferase (TGP) – faz a transferência da alanina para o glutamato. É mais específica do fígado. Quando ela aumenta no sangue indica lesão hepática.
Independente da enzima e do substrato que ela utiliza, um deles é sempre o mesmo: o alfa-cetoglutarato e o glutamato. 
2ª) Destinos do glutamato
	Pode simplesmente formar outro aminoácido não essencial, transfere para um alfa-cetoácido e cria um aminoácido.
	Ou pode perder o grupamento amina: desaminação oxidativa.
	Gliconeogênese – o papel que glutamato pode dar para esse nitrogênio dele é favorecer o transporte de aminoácidos no sangue para eles serem utilizados na gliconeogênese, principalmente da alanina – principal aminoácido que pode virar glicose e distúrbios em seu metabolismo podem causar hipoglicemia neonatal. O músculo e o fígado fazem essa troca. O papel da transaminase está no fígado e no músculo, só que ela ocorre em sentidos contrários. 
	No músculo o piruvato tem que virar alanina, o alfa-cetoácido tem que virar um aminoácido. O piruvato tem que receber um grupamento amina, chega o glutamato, doa o grupamento amina e vira o alfa-cetoglutarato. Transforma o piruvato em alanina. A alanina vai para o sangue, chega no fígado e a alanina tem que ser transformada em um piruvato, tem que perder o grupamento amina, vai perder para um alfa-cetoglutarato. Quando ele faz essa segunda etapa é muito importante, se o glutamato perde esse grupamento amina e não doa pra ninguém vira um alfa-cetoglutarato, que é um intermediário do ciclo de Krebs.
	Glutamina – está sendo considerada um nutracêutico muito importante. É uma fonte de energia que as células conseguem utilizar sem utilizar carboidratos. Isso é uma vantagem para o paciente com câncer. Exceto para o paciente que tenha tumor no cérebro, pois o cérebro gosta de glutamina para se alimentar. 
	Cérebro tem quatro fontes de energia que gosta de utilizar: a principal é a glicose, depois a glutamina, lactato e corpos cetônicos. Utilizam esses quatro combustíveis. 
3ª) Ciclo da Ureia 
	Transformação da amônia em ureia para poder eliminar na urina.
	O ciclo da ureia vai começar no fígado, mais precisamente nas mitocôndrias hepáticas. Começa na matriz mitocondrial, mas termina no citoplasma das células hepáticas. 
É uma via cíclica, começa com uma molécula, faz todo um ciclo e termina na mesma molécula. 
São cinco reações com um gasto de energia muito grande, mas é importante, pois elimina essa molécula que é muito tóxica para o organismo. 
Na primeira reação ele prepara a amônia para ela ser incorporada no ciclo. Começa com dois aminoácidos não padrão (são aminoácidos que não fazem parte das proteínas). Ornitina recebe a amônia e vira citrulina (medicações a base de ornitina e citrulina estimulam o ciclo da ureia e atuam como hepatoptotetores – aceleram a eliminação de amônia do organismo). 
A última etapa antes da produção da ureia é a arginina. A arginina está sendo produzida no organismo. Mas a arginina é considerada um aminoácido essencial em quase todas as espécies, na verdade é considerada um aminoácido semi-essencial, é aquele aminoácido que a gente até produz, mas em quantidade muito pequena, precisa conseguir na alimentação. Toda vez que faltararginina, o organismo vai roubar do ciclo da ureia e utilizar na síntese de proteínas do organismo. O resultado disso é um acúmulo de amônia no sangue. 
Entre as espécies domésticas, o mais sensível vai ser o gato. Gato quando tem deficiência de arginina vai desenvolver um quadro de hiperamonemia fatal – acumula muita amônia no sangue e morre. Ele é mais sensível, pois é extremamente dependente da proteína, é muito carnívoro. 
PS : a arginina vem antes da ornitina no ciclo da ureia.
O aspartato não vai ter problema de deficiência, pois o próprio ciclo vai regenerar seus dejetos, transformando em mais aspartato. 
A arginina é então hidrolisada na última etapa do ciclo catalisada pela arginase, produzindo ureia e regenerando a ornitina, que retorna para a mitocôndria, dando continuidade ao ciclo.
Todo o processo é energeticamente custoso e o ATP (adenosina trifosfato) utilizado provém da oxidação do acetil-CoA pela degradação dos esqueletos de carbono dos aminoácidos.
A regulação deste ciclo envolve a ativação alostérica por N-acetilglutamato, sintetizado a partir de glutamato e acetil-CoA pela enzima N-acetilglutamato sintase seguido de um processo de hidrólise. As demais etapas da via são controladas pela concentração do substrato disponível.
O ciclo da ureia é uma via que se autoperpetua. 
FORMAS DE EXCREÇÃO DO NITROGÊNIO
A ureia é a principal forma de eliminar a ureia nos mamíferos. Outras espécies vão ter outras formas de eliminar o nitrogênio. Aqui está se tratando do nitrogênio proteico, ou seja, do nitrogênio proveniente das proteínas. 
A proteína vai ser quebrada em aminoácido, o aminoácido vai ser quebrado em alfa-cetoácido, e o nitrogênio que está aqui vai ser eliminado como ureia. Mas ele não vai ser o único nitrogênio que vamos eliminar, existem outras fontes de nitrogênio no organismo, um exemplo são os nucleotídeos, que formam os ácidos nucleicos, mas esse nitrogênio é eliminado de uma maneira diferente. 
Ainda, há aminoácidos não padrão, são aminoácidos que não fazem parte das proteínas, a exemplo da creatina. A creatina não vai ser transformada em alfa-cetoácido, vai ser eliminada como um composto nitrogenado, que é a creatinina. As purinas vão ser degradadas até ácido úrico.
O alfa-cetoácido pode ser glicogênico ou cetogênico, pois pode se comportar como uma glicose ou um lipídeo, eles podem ser oxidados, só que esse nitrogênio é tóxico, precisa ser eliminado do organismo. 
Os seres vivos podem eliminar o nitrogênio como amônia, como ureia ou como ácido úrico, isso depende da característica evolutiva desses seres vivos e do ambiente em que eles estão. Ex: os seres aquáticos podem eliminar amônia direto, pois ela se dilui no ambiente, se fosse um mamífero precisaria produzir uma quantidade enorme de urina para conseguir diluir essa amônia. Na evolução das espécies, as vias metabólicas que surgiram e transformaram a amônia em moléculas menos tóxicas e com isso os indivíduos precisavam de menos águas para se manter vivos permitiu que os seres vivos saíssem da água e dominassem o meio terrestre. 
Nos indivíduos que eliminam amônia, denominamos AMONIOTÉLICOS, são basicamente as fases larvais dos anfíbios e os peixes de escama. Essa amônia tem um papel extremamente importante, eles vão eliminar pelas brânquias ou pela pele e vai ter importância na regulação do equilíbrio hidrossalino deles. Como o rim deles não funciona tão bem, eles têm que manter o sódio no organismo fazendo troca iônica com o meio ambiente, eles trocam amônia por sódio na pele ou nas brânquias e com isso conseguem manter o equilíbrio hidrossalino adequado. Mas isso só é possível por que esses indivíduos diluem essa amônia no meio ambiente. 
UREOTÉLICOS – anfíbios adultos, alguns peixes cartilaginosos e os mamíferos. Essa via metabólica permitiu que alguns seres pudessem começar a sair da água, pois transformavam a amônia numa molécula menos tóxica e com isso precisavam de menos água para sobreviver. Essa ureia não é só uma forma de eliminação ou de reduzir a toxicidade do nitrogênio, mas ela também serve como uma molécula osmótica no nosso organismo, principalmente na reabsorção de água vai ser importante. Porém, para produzir a ureia precisamos do ciclo da cornitina, ou ciclo da ureia, que é uma via metabólica que tem gasto de energia, tem que gastar energia para reduzir a toxicidade do nitrogênio. 
URICOTÉLICOS – são os seres que vão eliminar ácido úrico. O ácido úrico é uma molécula insolúvel, é preciso pouquíssima água para eliminar ele. Vai ser a forma de as aves e alguns répteis eliminarem o nitrogênio do organismo. É uma forma semi-sólida, as aves não urinam, não uma urina líquida. No caso das aves, o rim delas não é tão eficiente quanto o rim dos mamíferos, metade do rim é tipo mamífero e metade do rim é tipo réptil, que não tem uma alça de henle eficiente, o rim dela consegue reabsorver aproximadamente 70% de água, mas mesmo assim a urina é semi-sólida, pois o aparelho urinário das aves termina na cloaca – que é onde termina o aparelho digestivo e o aparelho reprodutor. Quando a ave produz urina, essa urina vai até a cloaca e sofre peristaltismo reverso, ao invés de eliminar a urina, a urina entra para o intestino grosso e a função do intestino grosso é a absorção de água. A absorção final de água que deveria ser no rim das aves é no intestino grosso. A urina não precisa ser líquida, pois o ácido úrico não é solúvel e a urina vai ser expelida no momento que ela defecar. 
Os mamíferos também produzem ácido úrico, porém a grande maioria dos mamíferos transforma o ácido úrico na alantoína, aproximadamente 10% do nitrogênio que a gente elimina na urina é não proteico e a grande maioria dos mamíferos vai pegar as purinas e degradar até as alantoínas, com exceção dos primatas e do dálmata. O ácido úrico é transformado em alantoína por uma enzima chamada uricase e essas espécies ou não possuem a uricase ou ela não funciona de forma satisfatória. 
EXCESSO DE ÁCIDO URICO
O ácido úrico é insolúvel, se ele for produzido e parar dentro das articulações (é a mesma coisa que jogar areia dentro de uma articulação), vai mexer a articulação e vai ficar algo rangendo, trancando a articulação, em primatas, aves e répteis vai causar o quadro de gota – inflamação articular por excesso de ácido úrico. 
Um problema do excesso de ácido úrico no dálmata são cálculos de urato de amônio, cálculos na urina, são cálculos radiolucentes (não aparece na radiografia), é preciso fazer uma técnica de uretrocistografia de duplo contraste (põe uma no paciente, esvazia a bexiga, injeta um contraste negativo, que é o ar, e um contraste positivo). O dálmata é 16 vezes mais predisposto a desenvolver cálculo de urato de amônio do que qualquer outra raça de cão. 
Para evitar o desenvolvimento desses cálculos no dálmata é recomendada uma dieta com parte baseada em proteína animal originada do ovo, especialmente do ovo não galado, pois vai conter grande quantidade de proteína e pouco material genético. 
Todos os compostos nitrogenados serão eliminados na urina, se o rim estiver funcionando bem, os compostos nitrogenados estarão normais no sangue, se o rim parar de funcionar, os compostos nitrogenados estarão altos. Assim, conseguimos utilizar os compostos nitrogenados como marcadores de função renal. Esses marcadores vão variar de forma inversa à função renal. O rim filtra o plasma e a função renal é medida através da taxa de filtração glomerular, que varia de forma inversa aos compostos nitrogenados, principalmente ureia e creatinina. 
MARCADORES DE FUNÇÃO RENAL
UREIA
Proveniente da degradação de proteínas. O nitrogênio proveniente delas vai passar pelo ciclo da ureia ou ciclo da ornitina. Vai acontecer no fígado. Há duas fontes de amônia que vão virar ureia no fígado: uma fonte exógena proveniente da digestão da alimentação (vinda do intestino através do sistema porta); e uma fonte que são as proteínas endógenas que vão sofrer proteólise e o glutamato pode liberar essa amônia. 
Essa amônia vai ser transformada em ureia evai para o sangue e o rim a elimina. Independente da fonte, essa ureia está sendo produzida a partir da degradação das proteínas – tanto endógenas quanto exógenas. 
A concentração de ureia pode sofrer algumas influências importantes, se eu como mais proteínas, a tendência é que eu produza mais ureia, se comer menos proteínas produz menos ureia – quantidade de proteína influencia no valor da ureia. Se acabou de comer e dosa a ureia no sangue a tendência é que a ureia esteja mais alta no sangue. Isso pode causar confusão na interpretação do exame se não for feito em jejum.
Outro problema é a hemorragia gastrointestinal alta, a proteína do sangue vai estar digerida, vai ter um quadro de melena (sangue digerido nas fezes – fezes de coloração escura), toda a proteína do sangue foi digerida, liberou amônia e vai virar ureia. Se for sangue proveniente do intestino grosso a gente chama de hematoquesia, é o sangue vivo e não vai causar alteração de ureia.
Alterações fora do rim podem alterar o valor do exame, o que pode levar a um erro de interpretação. Como ela é importante para a osmorregulação, o rim pode reabsorver mais ou menos ureia, então a produção e eliminação não vão ocorrer de forma constante e pode comprometer a interpretação de exames dependendo do momento fisiológico em que foi coletado. Pode não haver alteração nenhuma no paciente, apenas influência de fatores extrarrenais. Não é possível dar um diagnóstico baseado somente nos valores da ureia, pois é extremamente falho. 
AUMENTO DA UREIA 
A principal causa é a disfunção no trato urinário, toda vez que acumularmos compostos nitrogenados no sangue (ureia e creatinina) chamamos isso de AZOTEMIA. O paciente que tem aumento de ureia e creatinina no sangue é um paciente azotêmico. Ele tem muitos azotos no sangue. Azoto é o nitrogênio. 
A azotemia pode ser classificada de três formas:
1 – Se o paciente tem aumento de ureia e creatinina porque o sangue não está chegando até o rim, ou porque ele tem doença cardíaca, ou porque a pressão arterial está muito baixa, ou, pois está muito desidratado. É um problema que está acontecendo antes do rim. Um quarto do débito cardíaco deve chegar no rim (25%), se chegar menos que isso, tudo que deveria chegar até o rim começa a acumular no sangue e como isso está acontecendo antes do rim chamamos de AZOTEMIA PRÉ-RENAL.
2 – Vão ter quadros que o paciente vai acumular a ureia ou a creatinina em função de uma doença no rim, é o rim que não está filtrando, nesse caso é uma AZOTEMIA RENAL.
3 – Há aqueles casos em que o indivíduo tem a quantidade de sangue que deve chegando até o rim, o rim está funcionando normalmente, mas na hora dele eliminar essa urina há uma obstrução, nesse caso há uma AZOTEMIA PÓS-RENAL. Pode haver uma obstrução ou uma ruptura do trato urinário. As espécies mais suscetíveis à obstrução são os gatos (uretra estreita), pequenos ruminantes (processo uretral), cães (osso peniano).
Dietas com alto teor de proteína podem alterar a ureia, se come muita proteína degrada os aminoácidos, os aminoácidos viram amônia e essa amônia vira ureia. 
Pacientes que tem hemorragia no trato gastro intestinal – também degrada as proteínas da alimentação, paciente com catabolismo proteico importante, em jejum prolongado, paciente com síndrome de má absorção intestinal, se não consegue manter o balanço energético tem que consumir as reservas dele, paciente com infecção, febre, tudo que causar catabolismo. Cachorro idoso tem perda de massa muscular e cataboliza mais proteína, não significa que a ureia na urina signifique problema renal – degrada o excesso de proteína).
DIMINUIÇÃO DO VALOR DE UREIA 
Dietas com baixo teor de proteínas. Uso de anabolizantes (não tem aminoácido disponível para ser degradado, causa um quadro de balanço de nitrogênio positivo, o nitrogênio vai ser incorporado pelo músculo, se o músculo incorpora o aminoácido no músculo não vai liberar amônia e, consequentemente, não vai liberar ureia, a ureia baixa. 
Doenças hepáticas – tem uma lesão nas células hepáticas que não faz o ciclo da ureia. A ureia baixa e a amônia sobe (encefalopatia hepática). 
A ureia é um marcador de função renal, mas ela tem suas falhas como marcador de função renal. 
CREATININA
É outro marcador de função renal, é outro composto nitrogenado que a gente vai poder eliminar pela urina e que é decorrente da degradação da creatina muscular. A creatina é um aminoácido que está no músculo e tem a função de estabilizar a energia que está no músculo. A creatina rouba um fosfato do ATP, vira fosfocreatina e fica mais estável no músculo para contração e trabalho muscular. Com o tempo essa creatina vai ficando velha e vai sofrendo degradação não enzimática, que é um processo da molécula, e ela acaba eliminada como creatinina. 
A creatinina é produzida de forma constante, à medida que a creatina vai envelhecendo vai sendo produzida. Não é porque o músculo está trabalhando mais ou menos que vai degradar mais ou menos, não tem uma ação enzimática, não é uma degradação por consumo ou por lesão, é simplesmente por envelhecimento da molécula. Independente de lesão muscular, a taxa da degradação da creatinina vai ser a mesma. 
O que possa influenciar um pouquinho, talvez, seja a massa muscular que esse indivíduo tenha. Quanto maior a massa muscular maior a perda de creatinina, mas não é uma diferença significativa. Não há fatores extrarrenais que influenciam no valor de creatinina. Se o músculo está trabalhando ou não, se está lesionado ou não, não vai ser isso que vai liberar mais ou menos creatinina no músculo. 
A alimentação pode influenciar? Talvez. Mas de forma muito pequena. Se comermos carne vermelha cozida, no momento em que aquecemos a creatina, transformamos a creatina em creatinina. Essa creatinina ingerida na alimentação vai ser eliminada na urina. Vai ser um aumento transitório e, geralmente, insignificante. Não é considerada uma influência importante. 
A eliminação da creatinina vai se dar de forma constante, isso faz com que ela seja um marcador de função renal muito mais fidedigno, pois independente do horário que for dosada o valor vai ser sempre o mesmo. A única coisa que pode influenciar o valor da creatinina vai ser a taxa de filtração glomerular. Um trabalho feito em colônias de gatos mostrou que enquanto os gatos eram mais jovens eles tinham um valor de creatinina um pouco mais alto, na medida em que ele ia envelhecendo, ia diminuindo a massa muscular e ia diminuindo também a creatinina, pois tinha menos creatina no músculo, até que chega em uma idade que o rim começa a falhar a creatinina volta a subir. A massa muscular pode influenciar, mas mesmo assim está dentro do valor de referência da espécie. Se pegarmos os valores de referência de um cão, o mesmo valor de referência usado para um Dogue de Bordeaux, que é musculoso, vai ser usado para um Pinscher que é esquálido. Cão é a espécie que tem a maior diversidade fenotípica. 
O que realmente vai aumentar a creatinina vai ser a azotemia pré-rena, renal e pós-renal. Para ter alteração nos exames de creatinina tem que ter alteração renal. Ou o sangue não está chegando ao rim, ou o rim não está conseguindo filtrar o plasma ou o animal não está conseguindo eliminar a urina. 
A creatinina tem um problema como avaliador de função renal: é um avaliador tardio. Demora a alteração no exame. O animal já pode ter lesão, mas ainda não apareceu no exame. O rim tem uma reserva funcional de 66%, ou seja, pode perder 66% da função renal e ainda continuar sobrevivendo. O exame de taxa de filtração glomerular dá um resultado muito mais fidedigno, mas é muito mais difícil de fazer, exige muitas coletas de sangue ou sondagem. Há outros exames que podem apontar lesão renal, mas são muito caros, creatinina é um exame muito barato. 
TRANSAMINASES DE INTERESSE CLÍNICO
ALANINA AMINOTRANSFERASE – ALT (TGP)
É uma transaminase com alta concentração no tecido hepático. É uma enzima bastante hepatoespecífica, é utilizada para detectar lesão no fígado. Tem alta concentraçãono fígado de humanos, cães e gatos, vai estar em baixa concentração no fígado de grandes animais. 
Outra característica dessa enzima é que, no hepatócito, vai estar em grande quantidade livre no citoplasma. É uma enzima de extravasamento, quando tem uma lesão na célula hepática, essa enzima extravasa pra fora e vai aumentar a sua concentração no sangue, ao verificar o aumento da dosagem dessa enzima no sangue o indivíduo vai apresentar uma lesão no fígado. Esse extravasamento vai ter uma característica: quanto mais células acometidas, mais a lesão vai ser geral. É uma enzima muito ao para verificar a extensão da gravidade da lesão. Quanto maior o grau de comprometimento do fígado, maior o grau de ALT liberada. 
Porém, ela não consegue dizer a gravidade da lesão. Como ela é uma enzima que está livre no citoplasma, alterações de permeabilidade da membrana vão fazer com que a enzima passe para o lado de fora. Lesões subletais das células, ou seja, a célula não morreu, apenas diminuiu sua permeabilidade e começa a sair, aumenta lá fora. E a necrose, se a célula morrer, romper, explodir, libera a mesma quantidade. Então eu não sei se o comprometimento apontado no exame é uma necrose, em que não há mais volta, ou uma lesão subletal. Não há como afirmar a gravidade da lesão. 
É uma enzima de escolha para avaliar lesão hepática em cães e gatos. 
ASPARTATO AMINOTRANSFERASE – AST (TGO)
Não é uma enzima hepatoespecífica. Isto porque vai ter tanto no fígado quanto no músculo. Se dosar a AST no paciente e ela aparecer alta não se sabe se é uma lesão hepática ou muscular. Está presente em grande quantidade nas células do cão, gato, equino, ruminantes. 
A AST está presente em pequena quantidade livre no citoplasma, a maior parte dela está presa nas membranas das mitocôndrias. Lesão subletal não vai liberar grande quantidade de AST, pois este não está presente em grande quantidade no citoplasma. Se a AST aumentar no sangue pode indicar uma lesão hepática grave, pois a célula precisa se romper para que a AST chegue à corrente sanguínea. 
O problema da AST aumentada é que indica lesão grave, mas não se sabe o local, ou vai ser no fígado ou vai ser no músculo. Para verificar se a lesão é hepática ou muscular devemos solicitar o exame de uma enzima que só tem no músculo: a creatina-quinase (CK). Como vamos interpretar o resultado? Aumento de AST e aumento de CK a lesão está no músculo; aumento de AST e CK normal a lesão está no fígado. Se o aumento for nas duas não está descartada a lesão no fígado.
Em pequenos animais podemos medir a ALT e a AST:
	
	Lesão hepática grave
	Lesão hepática
	Lesão muscular
	ALT
	Aumentada
	Aumentada
	Normal
	AST
	Aumentada
	Normal
	Aumentada
IMPORTÂNCIA DA UREIA NA NUTRIÇÃO DOS RUMINANTES
Os ruminantes não podem consumir muita proteína, pois aumenta a viscosidade do líquido ruminal e o gás que estava sendo produzido lá dentro começa a formar uma bolha e essa bolha não rompe, ele não consegue eliminar esse gás e desenvolve um quadro de timpanismo. 
Para conseguir os aminoácidos os ruminantes utilizam a ureia da saliva e do organismo no rúmen, que é transformada em amônia (uma enzima bacteriana chamada uréase vai quebrar a ureia e transformar em amônia). Essa amônia vai ser incorporada em cadeias carbonadas que ela está gerando lá, formando os aminoácidos bacterianos, que serão utilizados para formar as proteínas bacterianas, e o ruminante vai se aproveitar dessa proteína e desse aminoácido. 
Podemos utilizar esse processo suplementando a ureia na alimentação do gado, porém o excesso de ureia pode causar um quadro de intoxicação nesse ruminante. Se o ruminante ingerir muita ureia a uréase vai quebrar essa ureia em amônia e vai ter um monte de amônia sendo absorvida. Essa amônia que está sendo absorvida vai ir para o ciclo da ureia, vai se transformar em ureia e vai chegar um momento que essa via metabólica vai ter um limitante, não vai dar conta de transformar toda aquela amônia em ureia e boa parte dessa amônia começa a ser incorporada nos alfa-cetoácidos, que estão presentes nas células do sangue desse indivíduo. O alfa-cetoácido que tem maior afinidade para essa amônia é o alfa-cetoglutarato, que começa a ser removido do ciclo de Krebs para ser transformado em glutamato, que vai ser transformado em glutamina que vai eliminar amônia no rim. Com isso acontece um problema, o ciclo de Krebs vai ficar parado devido à retirada do alfa-cetoglutarato e o ciclo de Krebs tem uma importância muito grande para os ruminantes, pois ele faz a absorção dos carboidratos via gliconeogênese e para isso necessita do ciclo de Krebs, se não tem o ciclo de Krebs acontecendo não vai conseguir fazer glicose. Aí surgem dois problemas: acúmulo de amônia que tóxica para o sistema nervoso central e o animal acaba ficando hipoglicêmico, não está tendo energia para as células do sistema nervoso central. O animal pode morrer bem rápido por intoxicação por ureia, é uma intoxicação bem grave. 
METABOLISMO DAS PORFIRINAS E CONJUGAÇÃO HEPÁTICA
As porfirinas são biomoléculas que fazem parte de algumas proteínas para estabilizar essas proteínas. São moléculas que tem formato cíclico, vários anéis cíclicos, que vão estabilizar os íons metálicos no interior da proteína. Boa parte das proteínas que tem um grupo protético de ferro ou qualquer outro metal no meio vai depender das porfirinas para deixar esse íon estável lá dentro. Principalmente a hemoglobina. Cada uma das quatro subunidades da hemoglobina tem uma unidade de ferro e precisa desse anel de porfirina para estabilizar a molécula. 
Quando a porfirina está fora das proteínas que tem metal no meio é extremamente tóxica. A porfirina terá que ser transformada em outra biomolécula, rapidamente, para que o indivíduo não se intoxique. A porfirina será transformada em bilirrubina para ter sua toxicidade reduzida. 
Quando não conseguimos fazer isso desenvolvemos doenças chamadas de porfiríases, que são bem descritas em medicina e já tem algumas porfiríases descritas em medicina veterinária, especialmente em suínos e bovinos. Nos suínos os dentes e ossos começam a ficar amarelados e costumam ter morte rápida; nos ruminantes costumam ter fotosensibilidade com lesões graves de pele. 
As porfirinas vão ser degradadas em dois momentos: um momento fora do fígado e um momento no fígado. Esse segundo momento, que é a parte final da degradação da porfirina, tem o nome de conjugação hepática. É uma via metabólica que o fígado faz para neutralizar o passe da eliminação de diversas substâncias do organismo, tanto substâncias endógenas quanto substâncias exógenas. Vai metabolizar medicamento, hormônios e substâncias tóxicas no organismo. 
Funcionamento do fígado
O fígado tem os lóbulos hepáticos, circundados por tecido conjuntivo; a tríade portal, que é onde chega o ramo da artéria hepática, o ramo da veia portica e sai o ducto colédoco. Apenas 30% da nutrição do fígado chega pela artéria hepática, aproximadamente 70% dela chega pela veia porta, ou seja, o sangue que está vindo do intestino, com tudo que a gente absorveu. 
O sangue chega pela veia porta e vai fluir para a veia centrolobular, o sangue flui pelos cordões lobulares, que são chamados de sinusóides hepáticos, no sentido contrário ao fluxo sanguíneo vamos ter o fluxo biliar, os canalículos biliares vão sair da região centrobiliar em sentido ao ducto biliar. Gera um mecanismo de contra fluxo, o sangue num sentindo e as células hepáticas pegando para as vilosidades, absorvendo tudo que tem nesse sangue, processa esse material e joga para o canalículo biliar aquilo que não é bom, lá vai para o intestino ser eliminado nas fezes. O fígado vai ter um papel muito importante na desintoxicação do organismo. 
Funções do fígado: detoxicação e biotransformação (elimina aquilo que faz mal). Vai ajudar a neutralizar e eliminar substâncias que não fazem bem para o organismo. Muitas substâncias não vão ser eliminadas na bile, um exemplo é a amônia, que vai chegar no fígado, ser transformada em ureiae vai ser eliminada pelos rins. 
CONJUGAÇÃO HEPÁTICA
É uma via metabólica de duas fases: 
A primeira fase começa nas cisternas do retículo endoplasmático liso, que contém dilatações que têm citocromo P450, que é a principal enzima da fase I. A fase I pega a substância, hidrolisa essa substância tóxica ou estranha do organismo, prepara ela para deixar mais reativa para entrar na fase II.
Na fase II vai ser a conjugação propriamente dita, é a hora que vai juntar uma coisa na substância para neutralizar ela e facilitar sua eliminação. Geralmente o que o organismo faz: pega as substâncias que geralmente são hidrofóbicas e transforma-as em substâncias hidrofílicas. Essas substâncias podem ser eliminadas pela urina, pelo fígado, tanto faz.
BILIRRUBINA
A bilirrubina vai ser metabolizada em dois momentos diferentes: 
Primeiro a porfirina vai ser transformada em bilirrubina indireta ou não-conjugada, isso vai acontecer dentro dos macrófagos, a principal molécula que doa profirinas é a hemoglobina, onde houver destruição de hemácia no organismo vai haver produção de hemoglobina indireta. A bilirrubina indireta é hidrofóbica, por isso não é fácil de ser eliminada, toda vez que se liga a uma proteína vira uma molécula muito grande. Essa bilirrubina indireta vai ter que ir até o fígado e no fígado vai ser transformada em bilirrubina direta ou conjugada, agora ela vira uma molécula hidrofílica e consegue ser eliminada mais facilmente do organismo.
Todas as proteínas que tem o grupamento M, que é o grupamento das porfirinas, quando elas forem degradadas o íon metálico delas vai ser reciclado, vão fazer parte de uma nova proteína, a porção proteica vai ser quebrada até aminoácido, o organismo pode fazer o que quiser com esses aminoácidos, mas a porção porfirina tem que ser eliminada, pois é tóxica. 
A principal proteína doadora de grupamento M é a hemoglobina. Essa porfirina dentro das células fagocitárias vai ser transformada em uma bilirrubina indireta, hidrofóbica, libera no sangue, vai se ligar a uma proteína para poder circular no sangue, geralmente vai se ligar à albumina. A bilirrubina indireta vai ficar circulando até chegar ao fígado, chegou ao fígado, na célula hepática, libera a proteína para voltar para o sangue, até então não deixou de ser hidrofóbica, não vai circular livre no citoplasma, vai ter que se ligar à ligandina. Fica ligada à ligandina até chegar à conjugação hepática, se ligar a dois ácidos glicurônicos e virar bilirrubina conjugada. Essa bilirrubina hepática um pouco vai para o sangue e fica circulando, mas a grande maioria vai para os canalículos biliares e dos canalículos biliares vai para a vesícula biliar, nas espécies que tem, e acaba indo para o intestino. No intestino essa bilirrubina conjugada vai sofrer oxidação e vai ser transformada em uma molécula chamada urobilinogênio. Esse urobilinogênio, 90% dele, aproximadamente, fica no intestino e continua sendo oxidado até coprobilina, que vão dar a coloração amarronzada para as fezes. Acontece que 10% desse urobilinogênio volta para o fígado pelo sistema porta e do sistema porta acaba parando nos rins e vai ser eliminado na urina. O exame de urina vai ter três etapas: o primeiro é a avaliação do aspecto físico, se é turvo, se é límpido, a coloração, pH, densidade, depois dessa parte macroscópica tem uma fita reagente que tem 10 almofadinhas que serão mergulhada na urina e comparadas a uma escala de cor, cada almofadinha lê um parâmetro específico, um deles é o urobilinogênio, e ele deve marcar positivo, se não aparecer urobilinogênio é indicação de que a bile não está indo para o intestino e alguma coisa está impedindo o fluxo biliar. É um exame precoce para diagnosticar lesão no fluxo biliar. É o que aparece antes das fezes ficarem esbranquiçadas e a bile ir para o sangue, deixando as mucosas ictéricas. Nos cães e gatos é comum o urobilinogênio aparecer como negativo, pois a quantidade é muito pequena para ser detectada pela fitinha, que foi desenvolvida para a urina humana, mas não quer dizer que ele tenha alguma doença. 
Depois de conjugada, a bilirrubina precisa sair da célula hepática. Essa é uma etapa importante do processo, ela vai precisar de energia para ser eliminada e tem algumas doenças que podem interferir nessa eliminação. Em medicina são bem conhecidas, mas na veterinária as ovelhas da raça Corriedale parecem ter um distúrbio de secreção de bilirrubina, elas produzem direitinho a bilirrubina, mas não eliminar ela. 
Utilização das bilirrubinas na avaliação do paciente:
Existem três bilirrubinas no sangue: a conjugada, a não-conjugada e a soma das duas (total). A gente só consegue dosar a bilirrubina total e a bilirrubina conjugada. O valor da bilirrubina não-conjugada se descobre diminuindo o valor da bilirrubina conjugada do total. Precisamos saber os valores delas, pois são produzidas em locais diferentes em condições diferentes. 
Bilirrubina indireta ou não-conjugada:
É produzida antes do fígado, só vai se tornar conjugada no momento em que entrar na célula hepática. Pode haver aumento da bilirrubina antes dela entrar na célula hepática. Vamos chamar isso de Hiperbilirrubinemia pré-hepática.
Bilirrubina direta ou conjugada:
Entrou no fígado e foi conjugada, só vai deixar de ser bilirrubina quando se transformar em urobilinogênio na luz do intestino. Desde a célula hepática até chegar à luz do intestino ela é bilirrubina conjugada. Pode acontecer uma hiperbilirrubinemia hepática ou pó-hepática. 
HIPERBILIRRUBINEMIA
A bilirrubina pode aumentar no sangue por três fatores: 
Por produção excessiva da bilirrubina indireta, vai ser um quadro de hemólise, pois com a quebra da hemácia vai ser liberada hemoglobina e dentro dela tem o grupamento M, que é a porfina, que vai ser transformada em bilirrubina. A principal proteína que vai dar origem à bilirrubina vai ser a hemoglobina.
Também pode acontecer que a célula hepática não consegue captar e não consegue conjugar a bilirrubina, a célula hepática não consegue processar a bilirrubina.
Ou pode ser um problema no fluxo biliar. 
HIPERBILIRRUBINEMIA PRÉ-HEPÁTICA OU HEMOLÍTICA
Se eu tenho um quadro hemolítico, está aumentando muito a bilirrubina, pois está sendo produzida muita bilirrubina indireta essa bilirrubina indireta vai ser produzida nos macrófagos. Isto vai acontecer antes do fígado. É um evento pré-hepático. 
A principal causa de hiperbilirrubinemia pré-hepática é a hemólise. Essa hemólise pode ser causada por alteração de osmolaridade, intoxicação por água, deficiências das enzimas piruvato quinase e fosfofutoquinase, isto porque as hemácias só utilizam a glicose na via anaeróbica, se ela não tem uma enzima dessa via anaeróbica ela não vai conseguir produzir glicose, não vai conseguir manter o equilíbrio nem a homoestase e essa célula vai morrer. Quadros infecciosos podem causar hemólise, babésia, anaplasma, angélia, micoplasma, tem uma gama de doenças que podem fazer isso. Quadros tóxicos podem causar hemólise, intoxicação por paracetamol nos gatos, intoxicação por cebola, intoxicação por anestésico local, vitamina k. 
Vai haver uma grande produção de bilirrubina indireta, aumenta a bilirrubina total, pois a bilirrubina indireta está aumentada.
Outro exame que pode ajudar nesse caso é um hemograma, se espera que o paciente esteja anêmico. Hematócrito baixo, valor de hemoglobina baixo. 
HIPERBILIRRUBINEMIA HEPÁTICA
Quadro hepático é um pouco mais complicado. O que pode causar aumento de bilirrubina hepática? O fígado pode não estar recebendo a quantidade de sangue adequada e as células não conseguem captar essa bilirrubina. Pode ser um fígado que tem uma diminuição grave no número de células. Pode ter uma doença hepática que não deixa o fígado captar.
Nesses casos a bilirrubina indireta vai estar aumentada, pois não tem célula para conjugar, ele ainda não conjugou.
Pode ser também o caso do paciente que conjuga a bilirrubina, mas não consegue eliminar ela, não consegue jogar ela no canalículo biliar. Nesse caso vai aumentar a bilirrubinaconjugada. 
É esperado que aumente a bilirrubina total, pois provavelmente a indireta está aumentada. 
Hiperbilirrubinemia de retenção: acontece em equinos e bovinos quando estão em jejum prolongado. O jejum prolongado vai deixar o organismo em balanço energético negativo, estimulando o glucagon, que vai estimular a glicogenólise e a gliconeogênese, após a lipólise da gordura periférica estimula a lípase hormônio sensível, o ácido graxo, que vai chegar até o fígado. Chegando ao fígado ele entra, mas é uma molécula hidrofóbica, como a bilirrubina direta, esse ácido graxo vai se ligar à ligandina – a mesma proteína que ligava a bilirrubina indireta. Os pacientes que têm acúmulo de gordura no fígado, vai chegar um momento que a ligandina vai estar toda saturada com ácidos graxos e a bilirrubina indireta vai chegar ao fígado para ser conjugada e não vai voltar para o sangue. Vai fazer o aumento da bilirrubina indireta. Deve-se á saturação da ligandina. 
HIPERBILIRRUBINEMIA PÓS-HEPÁTICA
Vai ocorrer por obstrução do fluxo biliar. A bilirrubina indireta chega ao fígado, é conjugada, mas quando chega ao canalículo biliar não consegue ser eliminada no intestino e acaba sendo regurgitada no sangue. 
Nesse caso, aumenta a bilirrubina total e a bilirrubina conjugada. Ela saiu do hepatócito, mas não conseguiu chegar ao intestino.
A bilirrubina conjugada é uma molécula hidrofílica, se acumular bilirrubina conjugada no sangue ela pode começar a aparecer na urina. Se aparecer um paciente com bilirrubinúria, é um paciente que tem aumento de bilirrubina direta no sangue. Se ela fosse hidrofóbica não seria eliminada na urina, pois estaria ligada a uma proteína, que é uma molécula muito grande.
Alguns bovinos podem apresentar traços de bilirrubina na urina, se apresentar uma cruz de bilirrubina na urina já não é normal, pode apresentar traços de bilirrubina na urina. Alguns cães machos não castrados podem apresentar uma cruz de bilirrubina se a densidade urinária dele for bem alta. 
Se aparecer bilirrubina na urina do gato é normal? Não. Se aparecer bilirrubina na urina do cavalo vai ser normal? Não. Vai indicar sempre aumento de bilirrubina conjugada no sangue, provavelmente, pós-hepática. 
A manifestação clínica da hiperbilirrubinemia vai ser a icterícia. A icterícia pode ser pré-hepática, hepática e pós-hepática, assim como a classificação da hiperbilirrubinemia. 
Os exames de bilirrubina vão ser mais utilizados em grandes animais.

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