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GESTÃO FINANCEIRA Eduardo Olbera Ferrer 2 SUMÁRIO 1 OS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ........................... 3 2 AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E A SUA ANÁLISE ............................ 9 3 O VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO ....................................................... 30 4 FLUXO DE CAIXA .................................................................................... 53 5 ORÇAMENTO DE CAPITAL ...................................................................... 64 6 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E MERCADO DE CAPITAIS ................. 78 3 1 OS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1.1 A administração financeira e a globalização Nunca na história da humanidade houve tantas transformações na forma dos seres humanos pensarem, agirem, se comunicarem. O avanço da tecnologia diminuiu as distâncias possibilitando as pessoas terem acesso a informações, culturas e valores de todas as partes do globo. Os mercados passaram a não mais ser vistos localmente, mas internacionalmente. Hoje é possível para qualquer um com acesso a computador importar o que quiser e de onde quiser, por exemplo. Da mesma maneira o capital agora busca possibilidades de investimentos que possibilitem retornos cada vez melhores a um nível de risco previamente analisado. Além dessa vantagem, esse cenário permite também uma diversificação cada vez maior em seus portfólios trazendo mais segurança. É com esse meio ambiente que as empresas precisam interagir para sobreviver. Não há mais espaço para ineficiência nos meios de produção, pois isso impactará negativamente na rentabilidade gerada e, consequentemente, aumentará o risco de desinvestimento. As empresas que não conseguirem se encaixar nesse novo cenário fatalmente serão fechadas ou simplesmente vendidas. No início de 2018, a rede de churrascarias Fogo de Chão foi vendida para o fundo de investimentos norte-americano Rhône Capital em uma transação de US$ 560 milhões. É um bom exemplo da internacionalização de capital que busca retornos cada vez maiores em seus portfólios de investimento (FOGO, 2018). 4 A bem da verdade, todas as áreas das empresas precisam agregar valor para a organização. Os recursos humanos precisam contratar profissionais cada vez mais qualificados e desenvolver meios para alinhar estrategicamente as suas competências às necessidades da empresa; os profissionais de marketing precisam identificar mercados cada vez mais promissores e desenvolver estratégias de crescimento; por sua vez, a administração financeira também tem seus desafios: administrar da maneira mais eficiente possível os recursos financeiros da empresa. Segundo Gitman (2017), A administração financeira refere-se ao conjunto de atribuições do administrador financeiro de uma empresa. Este é o profissional responsável pelas finanças de qualquer tipo de organização: de capital fechado ou aberto, grande ou pequena, com ou sem fins lucrativos. Ele realiza as mais diversas tarefas, como desenvolver um planejamento ou orçamento, conceder crédito aos clientes, avaliar propostas envolvendo grandes dispêndios e captar fundos para financiar as operações da empresa. (GITMAN, 2017, p. 4) 1.2 A dinâmica das decisões financeiras Gitman (2017) estabelece as seguintes funções para a administração financeira no ambiente das empresas: 5 É importante observar que a redução dos custos financeiros é o meio pelo qual a administração financeira pode agregar valor para a organização. 1.3 Administração financeira e contabilidade A Contabilidade é a ciência que busca, por meio de normas de escrituração e registro, fornecer informações financeiras sobre as empresas, posicionando quanto a situação estática em um determinado período. Entre as principais informações fornecidas pela Contabilidade, destacam-se o balanço patrimonial, que informa a posição patrimonial da empresa, e a demonstração de resultado do exercício, que mostra como foi a performance comercial em determinado exercício. É importante observar que esses documentos são escriturados conforme uma legislação específica estabelecida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo “o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais”. (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS) Os relatórios contábeis são, assim, escriturados com base no chamado regime de competência em função de questões fiscais. No entanto, fornecem informações relevantes para o administrador financeiro quando os exercícios fiscais são analisados comparativamente, pois permitem avaliar a evolução da liquidez e do endividamento financeiro, por exemplo. Para esse fim, são feitas análises vertical/horizontal e análises de índices financeiros. O regime de competência é aquele no qual são registradas todas as movimentações financeiras da empresa, independentemente de entradas ou saídas efetivas de caixa. 6 1.4 Administração financeira e economia Os administradores financeiros precisam estar atentos às questões de caráter macro e microeconômico, uma vez que podem impactar negativamente nos negócios. As variáveis macroambientais fogem ao controle do administrador e se constituem em questões de caráter econômico, político-social ou mesmo cultural. O crescimento do PIB pode influenciar no nível do emprego e, consequentemente, na capacidade de compra das pessoas; instabilidades políticas e sociais podem influenciar a legislação o que, por sua vez, poderá impactar negativamente para as famílias. Um bom exemplo é o que ocorreu na Venezuela que, antes do período chavista, era um dos melhores países da América Latina, se não o melhor, para os investidores. Hoje, sofre com uma das crises econômicas mais graves de sua história, passando a se tornar o pior país para investimento. Além de aspectos de caráter macroeconômico como os já citados, há também questões de caráter microeconômicos. Segundo Gitman (2017, p. 17), o mais importante princípio econômico usado na administração financeira é o da análise marginal custo-benefício, com base na qual as decisões financeiras devem ser tomadas e as ações devem ser implementadas – somente quando os benefícios adicionais superarem os custos marginais. As receitas marginais são obtidas analisando-se o aumento na receita total decorrente do aumento da venda de mais uma unidade em relação ao montante vendido. Os custos marginais são obtidos analisando-se o incremento no custo total decorrente do aumento de produção de uma unidade em relação ao montante vendido. Por exemplo, vamos supor que uma empresa esteja estudando avaliar a substituição de uma máquina. A máquina nova trará uma receita de R$ 80.000,00 enquanto que a máquina antiga gerava uma receita de R$ 30.000,00. O custo da máquina nova é de R$ 40.000,00, mas a venda da máquina antiga gerará uma receita de R$ 20.000,00. Seria vantajosa a substituição nessas condições? Consideremos aqui a operação feita à vista: 7 1.5 Administrador financeiro O administrador financeiro precisa estar atento ao meio ambiente o qual interage, pois cada vez mais a competição pelo mercado aumenta. É preciso ter raciocínio lógico, analítico e conhecimento do todo que envolve as operações empresariais para que se possa tomar as melhores decisões para que possam atingir o seu principal desafio: criar valor para o acionista. Para tal fim, o administrador financeiro deve realizar então as funções de planejamentofinanceiro, tomar decisões de investimento e tomar decisões de financiamento tanto no que tange ao curto como o longo prazo. O curto prazo consiste em administrar o capital de giro; o longo prazo consiste em tomar decisões de investimento notadamente em ativos industriais. É comum observar que 99% das atividades do administrador financeiro se dá no curto prazo, pois envolve sobretudo o dia a dia da empresa, realizando atividade de conciliação bancária, de recebimento e de pagamento. No entanto, o longo prazo envolve estudos bem elaborados e as decisões precisam ser bem fundamentadas, pois um viés estratégico pode falir uma empresa! Receita com a máquina nova: R$ 80.000,00 (–) Receita com a máquina antiga: R$ 30.000,00 (=) Benefícios marginais: R$ 50.000,00 Custo de aquisição da máquina nova: R$ 40.000,00 (–) Receita de venda da máquina antiga: R$ 20.000,00 (=) Custos marginais: R$ 20.000,00 Benefício líquido = R$ 50.000,00 – R$ 20.000,00 8 No que tange a sua profissão, o administrador financeiro pode ocupar cargos que vão do assistente ou analista financeiro júnior até o cargo de diretor financeiro apoiando as atividades de tesouraria, como contas a pagar e a receber, analisando a capacidade de pagamento de clientes para determinação de linhas de crédito, negociação de créditos em litígio (cobrança de inadimplentes), além de operações de hedge e câmbio. Os salários podem variar muito, mas dificilmente são inferiores a US$ 500,00 conforme cotação de 30 de maio de 2018. SAIBA MAIS No vídeo “O que os recrutadores buscam para trabalhar no Mercado Financeiro”, Carol Medeiros conta o que escutou dos recrutadores ao perguntar o que é preciso para trabalhar no mercado financeiro e se certificação é diferencial ou não. Disponível em: <https://goo.gl/Eepkha>. Acesso em: 13 jun. 2018. REFERÊNCIAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Conheça o CPC. Disponível em: <https://goo.gl/aGweyC>. Acesso em: 8 jun. 2018. FERREIRA, José Antônio Stark. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. FOGO de chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso em: 8 jun. 2018. GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. MEGLIORINI, Evandir; SILVA, Marco Aurélio Valim Reis da. Administração brasileira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. 9 2 AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E A SUA ANÁLISE 2.1 A análise das demonstrações financeiras Conforme Gitman (2017, p. 68), “as informações contidas no quadro das demonstrações financeiras básicas são muito importantes para diversas partes interessadas que necessitam regularmente de medidas de desempenho da empresa”. No que se refere ao administrador financeiro, a análise serve como uma forma de avaliar o desempenho da organização assim como fornecer tendências considerando o ritmo do crescimento dos resultados. Para o analista externo, a análise serve para avaliar a capacidade de pagamento da empresa, a evolução do seu endividamento e sua capacidade de geração de caixa, o que é muito importante para uma eventual avaliação de concessão de crédito. 2.2 A análise horizontal e a análise vertical As análises horizontal e vertical são uma metodologia da análise de balanços que tem como principal finalidade avaliar a evolução das contas da empresa sobre diversos aspectos, como a estocagem, o endividamento de curto e longo prazos, o faturamento e as despesas operacionais. A análise começa com o planilhamento do balanço patrimonial, no qual são consolidadas as contas de maior relevância. Normalmente, o exercício de análise é feito para três períodos. Depois é feita a análise horizontal e a análise vertical. 10 Exemplo: Planilhamento do balanço patrimonial da empresa Natura S.A. entre os exercícios de 2014 a 2016 Ativo 2014 2015 2016 Caixa, bancos e investimentos 1.695,9 2.783,6 2.298,8 Contas a receber de clientes 847,4 909,0 1.051,9 Estoques 890,0 963,6 835,9 Impostos a recuperar 240,3 320,3 329,4 Outros direitos 565,4 1.041,8 286,7 Total dos ativos circulantes 4.239,0 6.018,3 4.802,7 Impostos e depósitos judiciais 593,6 789,7 1.076,5 Outros ativos não circulantes 85,6 17,6 23,0 Permanente e intangível 2.281,3 2.568,7 2.518,8 Total dos ativos não circulantes 2.960,5 3.376,0 3.618,3 Total dos ativos 7.199,5 9.394,3 8.421,0 11 Passivo 2014 2015 2016 Empréstimos e financiamentos 1.466,5 2.161,3 1.764,4 Fornecedores 599,6 802,8 814,9 Salários a pagar 210,5 201,2 208,1 Impostos a pagar 715,4 1.047,9 1.075,4 Outras obrigações de curto prazo 126,7 359,4 314,8 Total dos passivos circulantes 3.118,7 4.572,6 4.177,6 Empréstimos e financiamentos 2.514,6 3.374,4 2.625,6 Impostos a pagar 98,9 87,7 237,5 Outras dívidas de longo prazo 318,6 281,9 384,0 Total dos passivos não circulantes 2.932,1 3.744,0 3.247,1 Capital social 427,0 427,0 427,0 Reservas de lucros 326,4 544,1 809,5 Outros 395,2 106,6 –240,2 Total do patrimônio líquido 1.148,6 1.077,7 996,3 Total dos passivos 7.199,4 9.394,3 8.421,0 12 DRE 2014 2015 2016 Receita líquida de vendas 7.408,4 7.899,0 7.912,6 CPV –2.250,1 –2.415,9 –2.446,9 Lucro Bruto 5.158,3 5.483,1 5.465,7 Despesas com vendas –2.680,0 –3.020,5 –3.110,1 Despesas administrativas –1.133,3 –1.271,5 –1.327,0 Outras receitas/(despesas) operacionais 19,8 65,7 54,4 Lucro operacional 1.364,8 1.256,8 1.083,0 Receitas/(despesas) financeiras –268,2 –381,4 –656,0 LAIR 1.096,6 875,4 427,0 Impostos –355,1 –352,6 –118,6 Lucro líquido do exercício 741,5 522,8 308,4 A análise horizontal é uma metodologia de análise de balanços que objetiva analisar as variações de uma mesma conta ou subgrupo de contas do balanço patrimonial em termos absolutos. A ideia é a de se detectar grandes variações para depois comparar com a análise vertical (em termos relativos) e a partir daí então se avaliar a evolução patrimonial da empresa. Para se realizar a análise, primeiro se toma o período mais antigo como base 100 (100%). Depois, se avalia se houve aumento ou redução em termos percentuais em relação a esse período. O cálculo para se analisar a variação entre os períodos analisados segue a seguinte fórmula: AH = [(saldo ano posterior/saldo ano base ou anterior) –1] x 100 13 Análise horizontal: ativos Análise de Balanços da Natura S.A. Ativo 2014 AH 2015 AH 2016 AH Caixa, bancos e investimentos 1.695,90 100 2.783,60 64,1 2.298,80 –17,4 Contas a receber de clientes 847,4 100 909 7,3 1.051,90 15,7 Estoques 890 100 963,6 8,3 835,9 –13,3 Impostos a recuperar 240,3 100 320,3 33,3 329,4 2,8 Outros direitos 565,4 100 1.041,80 84,3 286,7 –72,5 Total dos ativos circulantes 4.239,00 100 6.018,30 42 4.802,70 –20,2 Impostos e depósitos judiciais 593,6 100 789,7 33 1.076,50 36,3 Outros ativos não circulantes 85,6 100 17,6 –79,4 23 30,7 Permanente e intangível 2.281,30 100 2.568,70 12,6 2.518,80 –1,9 Total dos ativos não circulantes 2.960,50 100 3.376,00 14 3.618,30 7,2 Total dos ativos 7.199,50 100 9.394,30 30,5 8.421,00 –10,4 Pela análise é possível perceber grandes variações na conta caixa da empresa que aumentou 64,1% entre 2014 e 2015 e reduziu 17,4% no ano de 2016. Houve ligeiro crescimento da conta de clientes e a empresa perceptivelmente está otimizando os seus estoques. 14 Análise horizontal: passivos Passivos 2014 AH 2015 AH 2016 AH Empréstimos e financiamentos1.466,50 100 2.161,30 47,4 1.764,40 –18,4 Fornecedores 599,6 100 802,8 33,9 814,9 1,5 Salários a pagar 210,5 100 201,2 -4,4 208,1 3,4 Impostos a pagar 715,4 100 1.047,90 46,5 1.075,40 2,6 Outras obrigações de curto prazo 126,7 100 359,4 183,7 235,1 –34,6 Total dos passivos circulantes 3.118,70 100 4.572,60 46,6 4.097,90 –10,4 Empréstimos e financiamentos 2.514,60 100 3.374,40 34,2 2.625,60 –22,2 Impostos a pagar 98,9 100 87,7 –11,3 237,5 170,8 Outras dívidas de longo prazo 318,6 100 281,9 –11,5 384 36,2 Total dos passivos não circulantes 2.932,10 100 3.744,00 27,7 3.247,10 –13,3 Capital social 427 100 427 0 427 0 Reservas de lucros 326,4 100 544,1 66,7 809,5 48,8 Outros 395,2 100 106,6 –73 –240,2 –25,3 Total do patrimônio líquido 1.148,60 100 1.077,70 –6,2 996,3 –7,6 Total dos passivos 7.199,40 100 9.394,30 30,5 8.341,30 –11,2 15 É possível perceber uma oscilação muito grande no endividamento de curto e longo prazo nos anos de 2014 e 2015 com redução também grande no ano de 2016, fazendo com que os números voltassem praticamente aos mesmos patamares de 2014. Chama também a atenção a redução, embora pequena, mas constante do patrimônio líquido nos períodos analisados. Houve aumento na conta impostos a pagar entre 2014 e 2015 e esse número ficou constante em 2016. Análise Horizontal: Demonstração de Resultado DRE 2014 AH 2015 AH 2016 AH Receita líquida de vendas 7.408,4 100 7.899,0 6,6 7.912,6 0,2 CPV –2.250,1 100 –2.415,9 7,4 –2.446,9 1,3 Lucro Bruto 5.158,3 100 5.483,1 6,3 5.465,7 –0,3 Despesas com vendas –2.680,0 100 –3.020,5 12,7 –3.110,1 3 Despesas administrativas –1.133,3 100 –1.271,5 12,2 –1.327,0 4,4 Outras receitas/(despesas) operacionais 19,8 100 65,7 231,8 54,4 –17,2 Lucro operacional 1.364,8 100 1.256,8 –7,9 1.083,0 –13,8 Receitas/(despesas) financeiras –268,2 100 –381,4 42,2 –656,0 72 LAIR 1.096,6 100 875,4 –20,2 427,0 –51,2 Impostos –355,1 100 –352,6 –0,7 –118,6 –66,4 Lucro líquido do exercício 741,5 100 522,8 –29,5 308,4 –41 16 Aqui se verifica que as vendas estão praticamente no mesmo patamar nos períodos analisados. Houve, contudo, crescimento gradual e constante das despesas com vendas e administrativas e, destacadamente, das despesas financeiras – 42% entre 2014 e 2015 e 72% entre 2015 e 2016 – o que reflete o elevado perfil de alavancagem da empresa, comprometendo inclusive o resultado que vem demonstrando piora nos períodos analisados. Depois de feita a análise horizontal, é feita complementarmente a análise vertical. A proposta é cruzar as informações das oscilações destacadas na análise horizontal para checar se o crescimento não foi apenas proporcional ao crescimento dos demais números da empresa. Por definição, a análise vertical é uma metodologia de análise de balanços que busca avaliar a evolução das contas do balanço patrimonial de maneira proporcional. A proposta é a de se avaliar a participação de uma conta ou subgrupo de contas do balanço sobre um todo e a partir daí analisar a sua evolução comparativamente entre os períodos analisados. Para os ativos e passivos, a metodologia de cálculo é a mesma, mudando apenas na DRE: AV = (saldo da conta/total dos ativos/passivos) x 100 (ativos e passivos) AV = (saldo da conta/vendas líquidas) x 100 (demonstração de resultado) 17 Análise vertical: ativos Ativo 2014 AV 2015 AV 2016 AV Caixa, bancos e investimentos 1.695,9 23,6 2.783,6 29,6 2.298,8 27,3 Contas a receber de clientes 847,4 11,8 909,0 9,7 1.051,9 12,5 Estoques 890,0 12,4 963,6 10,3 835,9 9,9 Impostos a recuperar 240,3 3,3 320,3 3,4 329,4 3,9 Outros direitos 565,4 7,9 1.041,8 11,1 286,7 3,4 Total dos ativos circulantes 4.239,0 58,9 6.018,3 64,1 4.802,7 57 Impostos e depósitos judiciais 593,6 8,2 789,7 8,4 1.076,5 12,8 Outros ativos não circulantes 85,6 1,2 17,6 0,2 23,0 0,3 Permanente e intangível 2.281,3 31,7 2.568,7 27,3 2.518,8 29,9 Total dos ativos não circulantes 2.960,5 41,1 3.376,0 35,9 3.618,3 43 Total dos ativos 7.199,5 100 9.394,3 100 8.421,0 100 Aqui, é possível verificar na conta caixa destacada na análise horizontal que houve oscilação de fato em termos relativos, mas não tão expressiva (oscilação de menos de 5%). Há uma redução gradual e proporcional da conta estoques, mostrando que de fato a empresa está buscando trabalhar em níveis menores, o que contribui positivamente para a geração de caixa da empresa. 18 Passivos 2014 AV 2015 AV 2016 AV Empréstimos e financiamentos 1.466,50 20,4 2.161,30 23 1.764,40 21,2 Fornecedores 599,6 8,3 802,8 8,5 814,9 9,8 Salários a pagar 210,5 2,9 201,2 2,1 208,1 2,5 Impostos a pagar 715,4 9,9 1.047,90 11,2 1.075,40 12,9 Outras obrigações de curto prazo 126,7 1,8 359,4 3,8 235,1 2,8 Total dos passivos circulantes 3.118,70 43,3 281,9 48,7 384,0 49,1 Empréstimos e financiamentos 2.514,60 34,9 3.374,40 35,9 3.247,1 31,5 Impostos a pagar 98,9 1,4 87,7 0,9 427,0 2,8 Outras dívidas de longo prazo 318,6 4,4 281,9 3 809,5 4,6 Total dos passivos não circulantes 2.932,10 40,7 3.744,0 39,9 3.247,10 38,9 Capital social 427 5,9 427 4,5 427 5,1 Reservas de lucros 326,4 4,5 544,1 5,8 809,5 9,7 Outros 395,2 5,5 106,6 1,1 –240,2 –2,9 Total do patrimônio líquido 1.148,60 16 1.077,70 11,5 996,3 11,9 Total dos passivos 7.199,40 100 9.394,30 100 8.341,30 100 O endividamento de curto e longo prazo mostra um pequeno crescimento entre 2014 e 2015 em termos proporcionais, voltando quase aos mesmos níveis em 2016, no qual se verifica que de fato a empresa vem operando da mesma maneira quanto à gestão do passivo financeiro nos períodos analisados. O patrimônio líquido mostrou redução entre 2014 e 2015 e ficou no mesmo patamar em 2016. 19 Análise vertical da Demonstração de Resultado (DRE) DRE 2014 AV 2015 AV 2016 AV Receita líquida de vendas 7.408,4 100 7.899,0 100 7.912,6 100 CPV –2.250,1 –30,4 –2.415,9 –30,6 –2.446,9 –30,9 Lucro Bruto 5.158,3 69,6 5.483,1 69,4 5.465,7 69,1 Despesas com vendas –2.680,0 –36,2 –3.020,5 –38,2 –3.110,1 –39,3 Despesas administrativas –1.133,3 –15,3 –1.271,5 –16,1 –1.327,0 –16,8 Outras receitas/(despesas) operacionais 19,8 0,3 65,7 0,8 54,4 0,7 Lucro operacional 1.364,8 18,4 1.256,8 15,9 1.083,0 13,7 Receitas/(despesas) financeiras –268,2 –3,6 –381,4 –4,8 –656,0 –8,3 LAIR 1.096,6 14,8 875,4 11,1 427,0 5,4 Impostos –355,1 –4,8 –352,6 –4,5 –118,6 –1,5 Lucro líquido do exercício 741,5 10 522,8 6,6 308,4 3,9 É possível observar que a empresa teve pequeno crescimento, mas gradual e constante, tanto nas despesas de vendas como administrativas. As despesas financeiras mais que dobraram nos períodos analisados, prejudicando, dessa maneira, o resultado da empresa. Após essas análises se faz necessário buscar uma explicação para as oscilações apontadas. Muitas dessas explicações constam nas próprias notas explicativas dos balanços, mas, complementarmente, é necessário buscar informações na mídia especializada. E, na época, a empresa de fato acusou o impacto do crescimento de grandes concorrentes do mesmo setor, além de terem reconhecido trabalhar com uma estrutura administrativa inchada. 20 2.3 Análise de índices financeiros Conforme Gitman (2017, p. 70), “a análise de índices envolve métodos de cálculo e interpretação de índices financeiros com a finalidade de analisar e monitorar o desempenho da empresa”. Completam MEGLIORINI e SILVA (2009, p. 49) explicando que “os índices econômico-financeiros são obtidos por meio da relação entre as contas ou os grupos de contasdas demonstrações contábeis e podem ser agrupados de diferentes maneiras”. Ainda segundo os autores, os índices mais comuns são os de liquidez, de atividade, de endividamento e de lucratividade. 2.3.1 Índices de liquidez Os índices de liquidez indicam a capacidade de a empresa honrar os seus compromissos. Os índices de liquidez mais comuns são: 21 Cada um desses índices indica quantos reais a empresa possui para cada R$ 1,00 de dívida. Dessa forma, quanto maior do que 1 for cada índice, melhor. Para o cálculo são utilizadas as seguintes fórmulas: A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de liquidez da Natura S.A. para o ano de 2014: Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: Cálculos dos índices 2014 2015 2016 Liquidez corrente 1,4 1,3 1,1 Liquidez seca 1,1 1,1 0,9 Liquidez geral 0,8 0,8 1,1 22 Em que se percebe que a empresa possui boa capacidade para honrar seus compromissos tanto de curto como de longo prazo, observado o resultado próximo de 1. 2.3.2 Índices de atividade Segundo Gitman (2017, p. 76), “os índices de atividade medem a velocidade com que várias contas são convertidas em vendas ou caixa, entradas ou saídas. Em certo sentido, os índices de atividade medem a eficiência com que a empresa opera em uma série de dimensões, tais como gestão de estoque, desembolsos e recebimentos.” O resultado prático desses índices é o ciclo operacional que mede o tempo que uma empresa leva para converter em dinheiro as suas operações. Para financiá-lo, num primeiro momento, a empresa deve buscar prazos com seus fornecedores. Ao subtrair o prazo médio de pagamentos do ciclo operacional, chega-se ao resultado do CICLO FINANCEIRO que é o período que a empresa fica com o caixa a descoberto e vai precisar financiá-lo com operações de desconto de duplicatas. Quanto maior o ciclo financeiro, pior para a empresa, pois maior vai ser a demanda por crédito o que vai prejudicar a sua rentabilidade. Entre os pontos a serem analisados, destaca-se aqui o prazo médio dos estoques, pois indica se a empresa está administrando o nível de sua produção de maneira adequada. Em momentos de crise, pode sair mais barato para a empresa negociar férias coletivas, por exemplo, para reduzir os custos de estocagem e de produção. 23 Existem basicamente cinco índices de atividade: Cujas fórmulas são, respectivamente: 24 A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de atividade da Natura S.A. para o ano de 2014: Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: 2014 2015 2016 Prazo Médio de Estoques 142,4 143,6 123,0 Prazo Médio de Recebimentos 41,2 41,4 47,9 Ciclo Operacional 183,6 185,0 170,8 Prazo Médio de Pagamentos 95,9 119,6 119,9 Ciclo Financeiro 87,6 65,4 50,9 De onde se percebe que a empresa vem reduzindo os seus estoques, desenvolvendo uma política mais rígida junto aos seus fornecedores, uma vez que se verifica o aumento nos prazos médios de pagamento, o que contribuiu para melhora de seu ciclo financeiro. 25 2.3.3 Índices de endividamento Segundo Gitman (2017, p. 79), O índice de endividamento de uma empresa indica o volume de dinheiro de terceiros usado para gerar lucros. Em geral, o analista financeiro está mais preocupado com as dívidas de longo prazo, porque elas comprometem a empresa com uma série de pagamentos contratuais. Quanto mais dívida a empresa tiver, maior é o risco de não poder honrar seus pagamentos de dívidas contratuais. Aqui serão destacadas duas medidas, sendo a participação de terceiros sobre o capital próprio (P/PL) e o Exigível total sobre o ativo total (P/AT) dados por: Em P/PL, quanto maior do que 1 pior, pois indica haver mais capital de terceiros aplicados na empresa do que recursos dos sócios; já em P/AT indica a participação do capital de terceiros na composição de ativos da empresa sendo que quanto mais próximo de 1, pior. A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de endividamento da Natura S.A. para o ano de 2014: 26 Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: 2014 2015 2016 P/PL 5,3 7,7 7,5 P/AT 0,84 0,89 0,88 Aqui se percebe que a empresa está com elevada alavancagem considerando que para cada R$ 1,00 de capital próprio há R$ 7,00 de capital de terceiros. Verifica-se também que a participação de capital de terceiros no ativo total é de quase 90%. 2.3.4 Índices de rentabilidade Segundo Gitman (2017) os indicadores de rentabilidade buscam avaliar o retorno auferido pela empresa, considerando determinados parâmetros. As bases de comparação adotadas para o estudo dos resultados empresariais são: • Retorno sobre o ativo (ROA); • Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE). Segundo Gitman (2017), o ROA “mede a eficácia geral da administração na geração de lucro com o ativo disponível. Quanto mais alto for o retorno da empresa, melhor” (2017, p. 85). Seu cálculo é dado por: Sendo que o lucro operacional líquido é calculado deduzindo-se os impostos do resultado operacional. Já o ROE mostra o retorno dos recursos aplicados na empresa por seus proprietários, ou seja, para cada R$ 1,00 investido de recursos próprios, mostra o quanto os sócios têm de retorno. Seu cálculo é dado por: 27 A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de rentabilidade da Natura S.A. para o ano de 2014: Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados: 2014 2015 2016 ROE % 64,6 48,5 31,0 ROA % 14,0 9,6 11,5 É possível perceber que todos os índices da empresa vêm tendo queda de rentabilidade tanto sobre o ativo como sobre o patrimônio líquido. Em 2016 por exemplo, para cada R$ 100,00 investidos na empresa, os sócios tiveram um retorno de R$ 31,00. 2.4 A criação de valor: o EVA® e o MVA® O capital é uma “commoditie” internacional e dessa maneira a sua aquisição é cada vez mais disputada pelas empresas. Como recompensa para esses investidores as empresas precisam gerar retornos cada vez maiores, ou seja, precisam criar valor econômico ou valor econômico agregado. Conforme Megliorini e Valim (2009), as empresas precisam criar valor que pelo menos seja maior do que o seu custo de capital, pois, caso contrário, estarão destruindo valor. As medidas de mensuração de valor que serão aqui expostas são o EVA® e o MVA®. 28 Segundo os autores, o EVA® seria o resultado de uma empresa após a dedução do custo do capital próprio. Caso o resultado seja positivo, existe criação de valor para o acionista; caso contrário, destruição de valor. Entretanto, em seu cômputo, é considerado também os custos de capital de terceiros, pois é necessário analisar a criação de valor como sendo resultante da subtração dos custos totais de capital. A combinação de capital próprio e de terceiros que existe para financiar uma empresa evidencia a sua estrutura de capital. Ao calcular o custo de capital de uma empresa, é preciso considerar que as fontes de capital próprio e de terceiros possuem diferentes custos. Assim sendo, é necessário o cálculo do custo médio ponderado de capital (CMPC ou WACC em sua sigla em inglês – Weighted Average Cost Capital). O EVA® seria dado por: EVA = Resultado Operacional Líquido – (WACC x Investimento) WACC = (Ke x PL) x (Ki x Wp) Sendo que: Ke = custo de capital próprio Wpl = participação do capital próprio Ki = custo do capital de terceiros Wp = participação do capital de terceiros 29 O MVA® é uma avaliação calculada tendo como base as expectativas do mercado com relação ao investimento criar valor. Ainda segundo os autores, esse resultado seria o valor intangível do negócio, chamado de goodwill que foi gerado em função de sua gestão. Conforme Megliorinie Valim (2009) o MVA® seria o valor presente do EVA®: REFERÊNCIAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Conheça o CPC. Disponível em: <https://goo.gl/aGweyC>. Acesso em: 8 jun. 2018. FERREIRA, José Antônio Stark. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. FOGO de chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso em: 8 jun. 2018. GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. MEGLIORINI, Evandir; SILVA, Marco Aurélio Valim Reis da. Administração brasileira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. 30 3 O VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO Em finanças há um jargão famoso que ilustra bem a questão do valor do dinheiro no tempo: “um dólar hoje vale mais do que um dólar amanhã”. Isso se dá diante da expectativa de se investir esse capital hoje e receber uma remuneração maior do que receber esse capital somente no futuro. É perceptível então que a problemática do valor do dinheiro no tempo é uma questão da remuneração do capital e do custo de oportunidade que se assume ao não contar com o recurso em mãos hoje. Conforme Gitman (2017), O valor do dinheiro no tempo refere-se à observação de que é melhor receber o dinheiro mais cedo em vez de mais tarde. O dinheiro que você tem na mão hoje pode ser investido para obter uma taxa de retorno positiva, produzindo mais dinheiro amanhã. Por essa razão, uma unidade monetária (como $ 1) hoje vale mais do que a unidade monetária no futuro. (GITMAN, 2017, p. 166) 3.1 Juros Conforme Megliorini e Valim (2009, p. 20), “quando aplicamos recursos no mercado financeiro ou o emprestamos para alguém, estamos abdicando de um consumo presente para receber um “prêmio” no futuro, que é o juro. Desse modo, o juro pode ser entendido como a remuneração do capital”, ou seja, o preço a ser recebido ou pago por emprestar ou tomar emprestado recursos de terceiros. Os juros e o tempo são duas variáveis diretamente associadas: quanto maior for o tempo que o capital ficar tomado, maiores os juros a serem pagos. Dessa forma, o administrador financeiro precisa gerenciar essa questão por impactar diretamente sobre os custos de capital: quanto maior for o uso de capital de terceiros, maiores serão os custos financeiros e isso impactará negativamente na rentabilidade dos negócios. 31 Os juros normalmente são expressos sobre a forma de taxa (%). A relação entre a remuneração do capital e o capital usado é denominada taxa de juros. Considere por exemplo os juros de R$ 100,00 gerados sobre um capital de R$ 1.000,00. A taxa é obtida da seguinte maneira: Percebam que o valor calculado foi multiplicado por 100 para que o resultado se dê em termos porcentuais. A remuneração de juros sobre o capital e sua posterior reaplicação é denominada capitalização. Há dois critérios de capitalização de taxas de juros: • A capitalização pode se dar linearmente sobre o principal, ou seja, os cálculos dos juros são feitos somente sobre o principal. Esse critério é denominado juros simples; • A capitalização pode se dar exponencialmente sobre o principal, ou seja, os juros não são calculados sobre o principal, mas sobre o saldo devedor acumulado ocorrendo juros sobre juros periodicamente. Esse critério é denominado juros compostos. Nas duas metodologias, os juros gerados sobre um principal aumentam em função do tempo, mas no caso da capitalização composta, os juros gerados são maiores. Nas operações de curto prazo, normalmente são usados juros simples, já nas operações de longo prazo, são usados juros compostos. Antes de se iniciar a demonstração da resolução de problemas envolvendo juros simples e compostos, é importante estabelecer o conceito de algumas variáveis: 32 Variável Definição Principal ou valor presente É o valor negociado nas operações financeiras, sendo expresso nas calculadoras financeiras pela sigla PV (Present Value ou valor presente em inglês). Taxa de juros Relação entre os juros e o principal, sendo indicada nas calculadoras pela letra i de interest rates ou taxa de juros em inglês. Montante ou valor futuro É a soma do principal mais os juros. É expresso nas calculadoras pela sigla FV (Future Value ou valor futuro em inglês). Parcelas Servem para indicar as situações nas quais o retorno do capital não se dá de uma única vez. Nesse caso, é indicada nas calculadoras financeiras pela sigla PMT (payments ou pagamentos em inglês). Juros Remuneração do capital. Nas fórmulas será indicada pela letra J. Período Período da operação. Nas fórmulas e nas calculadoras é expresso pela letra n (number of periods ou número de períodos em inglês) Fonte: autor As resoluções dos problemas serão realizadas usando fórmulas matemáticas, a calculadora financeira HP 12C e o software Excel®. 3.2 Taxas equivalentes Por definição, Megliorini e Valim (2009), taxas equivalentes são taxas de juros que geram os mesmos montantes quando aplicadas sobre um mesmo capital e prazo. Ex.: 2,0% a.m; 6,12% a.t. e 12,62% a.s. são equivalentes. FV = R$ 100,00 x (1+0,02)12 = R$ 126,82 FV = R$ 100,00 x (1+0,0612)4 = R$ 126,82 FV = R$ 100,00 x (1+0,1262)2 = R$ 126,82 33 A fórmula usada para o cálculo de taxas equivalentes é dada por: Sendo que: ie = taxa de juros equivalente a uma parte de determinado intervalo do tempo i = taxa de juros efetiva do período Prazo que eu tenho: grandeza temporal da taxa de juros informada Prazo que eu quero: grandeza temporal da taxa de juros que se quer a equivalência Por exemplo, quais seriam as taxas de juros equivalentes para os períodos mensal e trimestral equivalentes a 21% ao ano? Resolução: fórmulas Sabe-se que 1 ano possui 12 meses e quatro trimestres. Dessa forma: 34 Resolução: calculadora HP 12C Comando Significado F REG Limpa memória 0.21 enter Taxa de juros já dividida por 100 1 + Soma-se 1 12 1/x yx Calcula-se o inverso de 12 e depois (1,12)1/12 1 – 100 x (multiplica) Taxa equivalente mensal Por esse caminho se chega a taxa de 1,6% ao mês Comando Significado F REG Limpa memória 0.21 enter Taxa de juros já dividida por 100 1 + Soma-se 1 12 1/x yx Calcula-se o inverso de 4 e depois (1,12)1/4 1 – 100 x (multiplica) Taxa equivalente mensal Por esse caminho se chega a taxa de 4,88% ao trimestre Resolução: software Excel® No caso do Excel®, a resolução se dá pelo uso do comando POTÊNCIA e aplicação da fórmula conforme indicado: 35 Soma-se 1 mais a taxa de juros, coloca-se ponto e vírgula; a conversão do prazo como se pede (1 ano para 12 meses e 1 ano para quatro trimestres), tudo entre parênteses e ao final subtrai-se 1. 3.3 Juros simples e juros compostos Conforme foi dito no início deste capítulo, os sistemas de capitalização podem ser lineares (juros simples) ou exponenciais (juros compostos). A seguir será analisada essa temática. Aqui, cabe observar que nas operações analisadas o retorno do capital somente se dará no final do período considerado nos problemas. 3.3.1 Cálculos envolvendo juros simples Como dito anteriormente, a capitalização dos juros se dá somente sobre o principal. Considerando os significados das siglas expostas, as fórmulas usadas para os cálculos em juros simples são as seguintes: 36 Exemplos: Calcule o valor futuro e os juros de uma aplicação de R$ 100.000,00 efetuada pelo prazo de 8 meses a uma taxa de juros simples de 18% ao ano. Resolução: Primeiro se calcula os juros proporcionais. Como se tratam de juros simples, a taxa proporcional é calculada simplesmente dividindo-se os juros ao ano por 12 meses.Dessa forma: i = 18%/12 = 1,5% Depois se aplica a fórmula: FV = $ 100.000 x (1 + 0,015 x 8) = R$ 112.000,00 Os juros são calculados pela diferença entre o valor futuro e o principal: J = R$ 112.000,00 – R$ 100.000,00 = R$ 12.000,00. Que capital gerou rendimento de R$ 350,00 durante 10 meses a uma taxa de 1,0% ao mês? Resolução: PV = R$ 350,00 / 0,01 x 10 = R$ 3.500,00 Pedro pagou ao Banco JuroAlto R$ 10,00 por um dia de atraso sobre uma prestação de R$ 150,00. Qual foi a taxa mensal de juros aplicada pelo banco? Resolução: I = R$ 10,00 / R$ 150,00 x 1 = 0,0667 x 100 = 6,67% ao dia; i (mensal) = 6,67% x 30 (dias) = 200% ao mês 37 Determine o valor da aplicação cujo valor de resgate bruto foi de R$ 90.000,00 por um período de 1 mês sabendo que a taxa de juros foi de 2,0% ao mês. Resolução: PV = R$ 90.000,00 / (1 + 0,02 x 1) = R$ 88.235,29 Durante quanto tempo foi aplicado um capital de R$ 1.000,00 que gerou rendimentos de R$ 300,00 a uma taxa de juros de 1,5% ao mês? Resolução: N = R$ 300,00 / R$ 1.000,00 x 0,015 = 20 meses 3.3.2 Juros compostos Juros compostos são definidos por Gitman (2017, p.170) como “juros que são obtidos em um determinado depósito e que tornam-se parte do principal no final de um período especificado”. As fórmulas de juros compostos são as seguintes: 38 Aqui também serão desenvolvidos os cálculos envolvendo o uso da calculadora financeira HP 12C e do software Excel® além das fórmulas acima. As funções de períodos, taxas, parcelas, valor presente e futuro já foram expostas. Cabe informar que nas operações com a financeira é relevante teclar fclx para limpar a memória. A tecla f também serve para ativar as funções em laranja na calculadora; a tecla g faz o mesmo. Exemplos: Se uma pessoa desejar obter $ 200.000,00 dentro de um ano, quanto deverá aplicar hoje num fundo que rende 3,0% a.t.? Em outras palavras, qual é o valor presente dessa aplicação? Pela HP 12C: 200000 CHS FV 3 i 4 n PV = R$ 177.697,41 Pelo software Excel®: uso da função VP 39 Calcular o valor futuro de um capital investido de R$ 10.000,00 aplicado a taxa de 1,5% ao mês durante 10 meses. Qual o tempo que um investimento de R$ 10.000,00 precisa ficar aplicado para gerar um valor futuro de R$ 15.000,00 a uma taxa de 1,5% ao mês? Pela HP 12C 15000 CHS FV 10000 PV 1.5 i N? = 28 meses 40 Pelo software Excel®: uso da função NPER A que taxa mensal uma quantia de R$ 8.000,00 gerou um valor futuro de R$ 9.500,00 no prazo de 6 meses? Pela HP 12C: 9500 CHS FV 8000 PV 6n i = 2,91% Pelo software Excel®: uso da função TAXA 41 3.4 Séries uniformes de pagamentos As operações mais comuns do mercado financeiro de financiamentos de longo prazo envolvem parcelamentos. Esse tema é abordado na literatura financeira quando se explicam resoluções de problemas em séries uniformes de pagamentos. A série uniforme de pagamentos é aquela que prevê o pagamento de um determinado valor futuro parceladamente, ou seja, em uma série de pagamentos do mesmo valor em prazos iguais, normalmente de 30 dias. É o tipo de financiamento realizado para aquisição de bens de maior valor agregado, como carros, imóveis e alguns eletrodomésticos de alto valor. O primeiro pagamento pode se dar a vista (antecipada) ou após 30 dias (postecipada). As fórmulas de cálculo variam dependendo da forma de pagamento. Fórmulas: Na primeira fórmula, você tem o valor das parcelas, o prazo e a taxa de juros e quer saber o valor à vista do bem: 42 Na segunda fórmula, você tem o valor à vista do bem, o prazo e as taxas e quer calcular as parcelas: Na terceira fórmula, você tem o valor de uma série de depósitos, o prazo e a taxa de juros e quer calcular o valor futuro acumulado: Na quarta fórmula, você quer saber o quanto vai ter de depositar mensalmente para acumular determinado valor, sabendo prazo e taxa: Exemplos de cálculos: séries uniformes de pagamentos postecipados Um cidadão financiou a compra de um carro com parcelas de R$ 850,00 a uma taxa de juros de 1,5% ao mês pelo prazo de 24 meses. Qual foi o valor do saldo financiado? 43 Excel®: função VP Como se trata de uma série de pagamentos postecipada, não foi preciso especificar o tipo (0 usado nas séries antecipadas, default do sistema ou 1 para séries antecipadas). Um carro teve um saldo devedor de R$ 10.000,00 financiado a uma taxa de juros de 1,5% ao mês pelo prazo de 24 meses. De quanto foi o valor da parcela? (Desconsidere IOF e demais taxas). 44 No Excel®: função PGTO Você vai começar a depositar R$ 100,00 mensalmente em uma aplicação que paga rendimentos de 0,8% ao mês pensando nos estudos de seu filho que acabou de nascer. O resgate será feito quando ele tiver 18 anos de idade. Qual será o valor do resgate? Obs.: Nesse caso, é mais fácil passar o prazo de anos para meses: 18 x 12 = 216 meses. 45 Você quer comprar um celular Apple mais recente para dar de presente de natal a alguém especial e observou que ele está sendo anunciado por R$ 4.500,00. É mês de abril ainda, faltando exatamente 8 meses para o natal. Considerando que a taxa de juros que é possível obter é de 0,4% ao mês, quanto seria necessário economizar mensalmente para acumular esse valor? (Considerando que o celular não vai aumentar de preço.) Exemplos de cálculos: séries uniformes de pagamentos postecipados Observação importante: os cálculos na HP devem ser feitos com a função begin acionada. Para tal, você deve teclar G e depois o número 7. Um eletrodoméstico está sendo oferecido nas seguintes condições: pagamento à vista da primeira parcela de R$ 350,00 mais 24 pagamentos mensais a uma taxa de juros de 0,5% ao mês. Qual seria o valor à vista desse aparelho? 46 No Excel®: uso da função VP Aqui você está financiando a aquisição de um carro sendo que o saldo devedor é de R$ 10.000,00 e a taxa de juros é de 2,5% ao mês. O prazo dos pagamentos é de 24 meses sendo que a primeira parcela é paga no ato. Qual seria o valor das parcelas? 47 Excel®: uso da função PGTO Você decidiu viajar! Para tal, foi até o banco e fez uma aplicação programada sendo que a primeira será feita no ato da contratação. A proposta é aplicar R$ 250,00 mensais para que depois de 12 meses se tenha um valor para as férias. A taxa contratada foi de 0,8% ao mês. No final desse período, quanto se espera juntar? No Excel®: função VF 48 Você é gerente de um banco e recebe um cliente que precisa acumular a quantia de R$ 50.000,00 em 2 anos para realizar a festa de casamento e ter a lua de mel dos sonhos. A taxa de juros praticada pelo banco é de 0,7% ao mês para aplicações mensais. Quanto esse cliente vai ter de economizar mês a mês considerando que ele trouxe recursos para fazer o primeiro depósito para aplicar no ato? No Excel®: função VF 3.5 Sistemas de amortização Os sistemas de amortização são desenvolvidos com a finalidade de mostrar em detalhe o processo de amortização de operações de empréstimos e financiamentos de longo prazo. Para compreender os sistemas de amortização, é necessário entender alguns conceitos: 49 • Amortização: valor deduzido do principal, que seria o capital emprestado, sendo feito em prazos pré-acordados. • Saldo devedor: representa o valor do principal da dívida após a amortização. • Prestação: ou também conhecido como parcelas, correspondem a soma do valor amortizado mais os encargos financeiros da operação. Os sistemas de amortização são classificados como: Para explicar os três casos, será usado o seguinte exemplo: Umempréstimo de R$ 30.000,00 está sendo amortizado em 10 pagamentos mensais a uma taxa de juros de 1,5% ao mês. Pede-se calcular as parcelas, as amortizações e o saldo devedor para cada pagamento conforme sistemas SAC, SAF e SAA. 3.5.1 Sistema de amortização constante Nesse sistema, as amortizações são constantes. Primeiro, divide-se o valor do empréstimo pelo número de parcelas para calcular a amortização. O saldo devedor é calculado subtraindo a amortização do período do saldo devedor do período anterior e os juros são calculados linearmente sempre sobre o saldo devedor. Para isso, multiplica-se o saldo devedor do período anterior pela taxa de juros em decimal. As parcelas são calculadas somando as amortizações com os juros. Dada sua metodologia de cálculo, os juros e as parcelas são decrescentes! É usado no financiamento habitacional. 50 3.5.2 Sistema de amortização francês Nesse sistema as parcelas são constantes. Primeiro, o cálculo das parcelas é feito utilizando como metodologia a série uniforme de pagamentos por juros compostos postecipados. Depois, os juros são calculados tendo como base o saldo devedor do período anterior. As amortizações são calculadas deduzindo-se as parcelas dos juros. O novo saldo devedor é calculado subtraindo-se o saldo devedor do período anterior da amortização do período. Esse sistema é usado na maioria dos empréstimos para se adquirir bens de maior valor agregado. Pela sua metodologia, as amortizações são crescentes e os juros, decrescentes. 51 3.5.3 Sistema de amortização americano Nesse sistema, na realidade, há apenas uma única amortização: no final do período do empréstimo. Durante toda a vigência do empréstimo são pagos apenas os juros calculados, considerando o valor principal. No último período, há o pagamento dos juros do período mais o principal. Período Saldo devedor Amortizações Juros Parcelas 0 30.000,00 1 30.000,00 0,00 450,00 450,00 2 30.000,00 0,00 450,00 450,00 3 30.000,00 0,00 450,00 450,00 4 30.000,00 0,00 450,00 450,00 5 30.000,00 0,00 450,00 450,00 6 30.000,00 0,00 450,00 450,00 7 30.000,00 0,00 450,00 450,00 8 30.000,00 0,00 450,00 450,00 9 30.000,00 0,00 450,00 450,00 10 0,00 30.000,00 450,00 30.450,00 Totais 30.000,00 4.500,00 34.500,00 52 Os juros são calculados sobre o principal: R$ 30.000,00 x 0,015 = R$ 450,00 REFERÊNCIAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Conheça o CPC. Disponível em: <https://goo.gl/aGweyC>. Acesso em: 8 jun. 2018. FERREIRA, José Antônio Stark. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. FOGO de chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso em: 8 jun. 2018. GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. MEGLIORINI, Evandir; SILVA, Marco Aurélio Valim Reis da. Administração brasileira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. 53 4 FLUXO DE CAIXA 4.1 Projeção financeira O orçamento é a principal ferramenta de trabalho do administrador financeiro. É com base nas informações fornecidas por esse relatório que as decisões de gestão financeiras são tomadas, sempre no sentido de buscar todos os meios para reduzir os custos de capital. As projeções financeiras derivadas dessa ferramenta servem como meio de acompanhamento e controle e são realizadas considerando as condições econômicas, políticas e sociais que impactam os diferentes setores de atuação assim como a economia como um todo. Existem dois tipos de projeção financeira: 4.2 Fluxos de Caixa Conforme Gitman (2017, p. 120): “O caixa é o rei”, diz um velho ditado da área de finanças. O fluxo de caixa, o sangue da empresa, é o principal elemento de qualquer modelo de avaliação (valuation) financeira. Não importa se um analista quer estimar o valor de um investimento que uma empresa está pensando em fazer ou se o objetivo é valorar a própria empresa, estimar o fluxo de caixa é fundamental no processo de avaliação. (GITMAN, 2017, p. 120) 54 Os fluxos de caixa de uma empresa mostram os fluxos de entradas e saídas de recursos financeiros, indicando a capacidade da empresa gerar capital de giro. Conforme Megliorini e Valim (2009, p. 57), “o fluxo de caixa é dividido em fluxo das operações, fluxo dos investimentos e fluxo dos financiamentos”. Do conceito de fluxo de caixa deriva-se o FLUXO DE CAIXA LÍQUIDO que é o resultado de caixa da empresa que é calculado somando-se ao fluxo de caixa líquido as despesas não desembolsáveis (contábeis), como a depreciação, a amortização e a exaustão. Considere o seguinte exemplo: • Vendas: R$ 200.000,00 • Despesas Operacionais Desembolsáveis: R$ 90.000,00 • Despesas com Depreciação: R$ 40.000,000 • Despesas Financeiras: R$ 35.000,00 • Imposto de renda: 35% 55 4.2.1 Demonstrativo do Fluxo de Caixa (DFC) Conforme Gitman (2017) os fluxos de caixa se dividem em três categorias: fluxo de caixa das atividades operacionais, fluxos de caixa das atividades de investimento e fluxo de caixa das atividades de financiamento. Segundo o autor: • Os fluxos de caixa operacionais se referiam as entradas e saídas de caixa da empresa relacionadas com a venda e a produção de bens e serviços da empresa; • Os fluxos de caixa das atividades de investimento estariam associados a compra e venda tanto de ativos imobilizados quanto das participações societárias em outras empresas, sendo que as transações de compra resultariam em saídas de caixa e as de venda em entradas. • Os fluxos de caixa das atividades de financiamento derivam-se de operações de financiamento com capital de terceiros e capital próprio. Assumir endividamentos de curto e longo prazo resultariam em entradas de caixa enquanto o seu respectivo pagamento em saída. 4.2.2 Métodos do fluxo de caixa Segundo Stark (2005) o fluxo de caixa objetiva demonstrar o acréscimo financeiro em um determinado período sendo que pode ser apurado de forma direta ou indireta. Ainda segundo o autor, pelo método direto são apuradas as variações nas contas patrimoniais que representariam entradas ou saídas de caixa; pelo método indireto, sendo este o mais utilizado, tem como base o lucro líquido do período, ajustando a este os valores econômicos – que não são representativos de ingresso ou saída de recursos – assim como as variações nas contas patrimoniais modificativas de caixa. A figura a seguir mostra o esquema de caixa de uma empresa industrial. 56 Fonte: Stark (2005, p. 51). 4.3 Tipos de orçamento Os orçamentos podem ser categorizados considerando o tipo de informação que fornecem: o orçamento de caixa é realizado para o curto prazo sendo utilizado para gestão do dia a dia da empresa; o orçamento de capital, por outro lado, merece especial atenção porque é usado para analisar a viabilidade econômica e financeira de investimentos. 57 4.3.1 Orçamento de caixa Segundo Gitman (2017, p. 132-133) O orçamento de caixa (ou previsão de caixa) é uma demonstração de entradas e saídas de caixa planejadas da empresa. É usado pela empresa para estimar suas necessidades de caixa de curto prazo, com especial atenção para o planejamento de superávits e déficits de caixa. Em geral, o orçamento de caixa cobre o período de um ano, dividido em intervalos menores. O número e o tipo dos intervalos dependem da natureza do negócio. Quanto mais sazonais e incertos forem os fluxos de caixa de uma empresa, maior será o número de intervalos. Como muitas empresas se deparam com um padrão sazonal de fluxo de caixa, o orçamento de caixa é, muitas vezes, apresentado em base mensal. Empresascom padrões estáveis de fluxos de caixa costumam usar intervalos trimestrais ou anuais. Importante ferramenta de gestão, indica momentos em que eventualmente o caixa possa ficar em uma situação deficitária, indicando necessidades de financiamento; por outro lado, pode apontar situações superavitárias o que pode ser útil para programação de investimentos. É uma ferramenta simples de se utilizar, conforme pode ser observado no exemplo a seguir: • Saldo de caixa existente no início do semestre: $ 2.000; • Vendas previstas: $ 20.000 sendo que 60% desses valores sejam recebidos no semestre; • As compras de estoque previstas para o período atingirão $ 10.000 e serão totalmente pagas no período de planejamento; • O total das despesas operacionais desembolsáveis atingirá $ 2.000 no semestre; • Ao final de maio, a empresa deverá pagar $ 1.000 a título de despesas financeiras; • No início de março, está previsto um aumento de capital mediante subscrição e integralização de novas ações no valor de $ 2.000; • No período (início de abril), ainda, a empresa espera receber $ 1.000 provenientes do realizável a curto prazo. 58 Resolução: 4.3.2 Orçamento de capital Conforme Gitman (2017, p. 366), “o orçamento de capital é o processo de avaliar e selecionar investimentos de longo prazo.” Notadamente tais investimentos são realizados em ativos permanentes que podem ser assim considerados: • Participações em empresas controladas ou coligadas; • Terrenos e edificações; • Gastos com pesquisas e desenvolvimento de novos produtos e processo; • Marcas e patentes; • Máquinas e equipamentos. 59 O orçamento de capital é feito com base no chamado “fluxo de caixa incremental” e envolve a análise do valor do investimento e os incrementos nas receitas e despesas derivados daquele investimento. A sua proposta é a de se analisar a viabilidade econômica e financeira em projetos de investimento. Também é usado para analisar a viabilidade em empresas start up. Convencionemos para fins didáticos que o investimento será de R$ 500 mil e será realizado da seguinte forma: R$ 200 mil serão recursos próprios e R$ 300 mil serão recursos de terceiros (BNDES). Considerando 100% de sua capacidade operacional, você poderá produzir e vender 38 unidades por dia útil (22 dias no mês) ao preço de R$ 100,00. Dessa forma, o lucro bruto anual será de R$ 957.600,00 (R$ 3.800,00 x 252). Portanto: • Custo de produção: 60% das receitas brutas; • Matéria-prima, salários, água, luz, aluguel etc.; • Impostos estaduais: 4% das receitas brutas; • Impostos federais: 30%; • Taxa de juros do BNDES: 8% ao ano; • Horizonte de planejamento: 5 anos. Para começar a resolver o problema, é necessário calcular o valor das parcelas do financiamento de R$ 300.000,00. Vamos considerar pagamentos anuais a uma taxa de 8% ao ano em 5 anos. A projeção deve ser feita levando-se em conta um horizonte de planejamento de cinco anos, considerando que a empresa operou com 100% de sua capacidade instalada no primeiro ano, 90% no segundo, 70% no terceiro, 80% no quarto e 90% no quinto ano. 60 De onde se chega ao fluxo de caixa livre, que é efetivamente o utilizado para aplicarmos as técnicas de orçamento de capital e avaliarmos se é viável ou não o investimento. 4.4 Gestão de caixa Função típica do administrador financeiro, a gestão otimizada do caixa vai ao encontro da principal finalidade dos administradores financeiros: reduzir os custos de capital. Denominado de Tesouraria ou Departamento Financeiro, é o setor responsável pelas tomadas de decisão financeira. Segundo Stark (2005, p. 66) “para uma administração eficiente do fluxo de caixa, o administrador financeiro deverá conhecer o ciclo operacional e o ciclo de caixa para gerenciar de maneira eficaz os recursos financeiros da empresa”. 4.4.1 Ciclo operacional e financeiro Segundo Stark (2005, p. 66), “o ciclo operacional corresponde ao período de tempo entre a compra de matérias primas e o momento em que a empresa recebe o pagamento pela venda de produtos acabados.” É dado por: CO = IME + PMC Onde CO = ciclo operacional; IME = idade média dos estoques e PMC = período médio de cobrança de vendas 61 O ciclo de caixa ou ciclo financeiro, ainda segundo o autor, “corresponderia ao período de tempo em que os recursos da empresa se encontram comprometidos entre o pagamento dos insumos e o recebimento pela venda do produto acabado” (idem). É dado por: CF = CO – PMP ou CF = IME + PMC – PMP Sendo CF = ciclo financeiro e PMP o prazo médio de pagamentos. Exemplo: considere o exemplo onde IME = 54 dias, PMC = 57 dias e PMP = 99 dias. Temos que: CO = 54+57 = 111 dias CF = 111-99 = 12 dias O fluxo de caixa pode ser ilustrado no gráfico a seguir: Fonte: Stark (2005, p. 67) 4.4.2 Estratégias de controle de caixa Quanto maior for o ciclo financeiro de uma empresa, maior vai ser a sua dependência de capital de terceiros. Dessa forma, estratégias no sentido de reduzir o ciclo financeiro consistem em: • Diminuir o prazo médio dos recebimentos; • Aumentar o prazo médio dos pagamentos; • Reduzir o prazo médio dos estoques (aumentar o giro dos estoques). 62 Diminuir os prazos médios dos recebimentos pode significar em conflitos com os clientes. Entretanto, a redução de atrasos ou mesmo da inadimplência pode ser amenizada com critérios mais rigorosos de seleção de crédito. Os meios usados para análise de crédito são: • Análise dos demonstrativos financeiros; • Consulta a fontes de referência cadastral (outros fornecedores de seus clientes, instituições financeiras, sistemas de proteção ao crédito como o Serasa); • Eventuais visitas às instalações dos clientes e entrevistas com seus executivos para avaliar suas expertises administrativas. Para aumentar o prazo médio de pagamentos, é necessário esforço adicional do setor de compras para buscar melhorar os prazos com fornecedores. Entretanto, isso vai depender de dois fatores: • Do poder de barganha existente entre cliente e fornecedor; • Dependência de matéria-prima. Para esse fim, devem ser usadas técnicas de negociação com a proposta de buscar os menores prazos entre os fornecedores, tomando o cuidado para não fazer o conhecido “leilão”, pois essa forma de conduzir negociações pode colocar em cheque a credibilidade da empresa no mercado. O modelo de lote econômico É possível melhorar o giro dos estoques adotando um modelo que otimize a quantidade de determinado item de estoque a ser solicitado em um pedido. Para tal fim, utiliza-se o modelo de lote econômico (LEC). Esse modelo consideraria, além do custo efetivo da mercadoria, o custo da realização de pedidos e o custo de manutenção dos estoques. A fórmula do LEC é dada por: 63 Onde 𝐶𝑝 é o custo do pedido; D é a demanda; e 𝐶𝑚 seriam os custos de manutenção. Exemplo: Considere um item que possui uma demanda de 50.000 unidades anuais, o custo é de R$ 900,00 o pedido e os custos de manutenção são de R$ 100,00 por unidade. Quantos itens devem constar em cada pedido para o gerenciamento ótimo do estoque? Resolução: REFERÊNCIAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Conheça o CPC. Disponível em: <https://goo.gl/aGweyC>. Acesso em: 8 jun. 2018. FERREIRA, José Antônio Stark. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. FOGO de chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso em: 8 jun. 2018. GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. MEGLIORINI, Evandir; SILVA, Marco Aurélio Valim Reis da. Administração brasileira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.64 5 ORÇAMENTO DE CAPITAL Conforme Gitman (2017), as atividades do administrador financeiro podem ser divididas em: • Atividades de planejamento financeiro; • Atividades de investimento; • Atividades de financiamento. No curto prazo, essas atividades objetivam a gestão do dia a dia das empresas; no longo prazo, compreendem a análise estratégica do negócio, objetivando realizar investimentos de capital, devendo ser então objeto de análise e estudo. A análise de investimentos em longo prazo consiste no estudo/análise de se aplicar recursos financeiros em múltiplas alternativas/possiblidades com a expectativa do retorno do capital investido com lucro. Segundo Stark (2005, p. 117) Os investimentos de longo prazo representam grandes desembolsos de recursos, os quais, via de regra, são obtidos com terceiros (financiamentos, por exemplo). Por essa razão, as empresas elaboram seus orçamentos de capital. Orçamento de capital é o processo que consiste em avaliar e selecionar investimentos de longo prazo que estejam consistentes com o planejamento estratégico da empresa, visando maximizar a riqueza dos acionistas. Ainda segundo o autor, as decisões de orçamento (investimento) e de financiamento devem ser tratadas de maneira separada. Os chamados “dispêndios de capital são desembolsos de recursos efetuados pela empresa na expectativa de gerar benefícios após um ano [...] relacionados a: expansão industrial (nível das operações), substituição (ativos operacionais obsoletos); modernização (alternativa a substituição)” (idem) 65 Conforme Stark os tipos mais comuns de investimento seriam os independentes (são aqueles onde os fluxos de caixa independem de outro investimento) e os mutuamente excludentes (são aqueles que possuem a mesma função e, consequentemente, competem entre si). São exemplos de investimentos independentes a expansão da empresa, uma aquisição de uma concorrente; por outro lado, são exemplos de investimentos mutuamente excludentes troca de veículos, substituição de máquinas etc. 5.1 Análise de investimentos Para se analisar a viabilidade econômico-financeira de um investimento, são utilizados fluxos de caixa incrementais projetados. São analisadas as receitas e despesas de um investimento até que se chegue a um fluxo de caixa líquido, sendo esse utilizado como instrumento no processo de tomada de decisão. Segundo Stark (2005) os fluxos de caixa incrementais representariam os fluxos de caixa adicionais esperados como resultado de um dispêndio de capital. Os fluxos de caixa incluiriam um investimento inicial, as entradas de caixa operacionais e o fluxo de caixa residual. Vejam o exemplo a seguir: Fonte: Stark (2005, p. 119) Após determinado o fluxo de caixa é realizada através das técnicas de orçamento de capital, tema a ser estudado a seguir. 66 5.2 Técnicas de orçamento de capital: o payback, o VPL e a TIR Conforme Stark (2005), os tipos mais comuns de projetos são os independentes ou os mutuamente excludentes. A proposta será o de se determinar aquele que maximize o retorno do investidor. Primeiro, deve-se estimar o fluxo de caixa líquido do projeto, considerando o valor do investimento e as receitas líquidas estimadas (após todos os custos/despesas e impostos pagos). Sobre esse fluxo de caixa se aplicam as ferramentas de orçamento de capital. 5.2.1 O período de payback O payback é uma técnica de orçamento de capital que leva em consideração o tempo de retorno de um investimento. É apenas um indicador que mostra o tempo que um investimento leva para gerar retorno. Idealmente, o investimento deve “se pagar” antes do término do horizonte de planejamento ou da vida útil estimadas. Considere o seguinte fluxo de caixa líquido: Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 ano 5 Fluxo de caixa livre -500,0 188,7 164,6 116,4 140,5 164,6 Para se calcular o payback simples, deve-se somar os resultados dos fluxos de caixa ao valor do investimento (negativo) até que se chegue a um resultado positivo: • Ano 1: (500) + 188,7 = (311,3) • Ano 2: (311,3) + 164,6 = (146,7) • Ano 3: (146,7) + 116,4 = (30,3) • Ano 4: (30,3) + 140,5 = 110,2 67 Para calcular o tempo exato: 30,3/140,5 = 0,215 x 12 (meses) = 2,58 ou 3 anos, dois meses e 15 dias aproximadamente. No caso do payback descontado, é necessário antes trazer os fluxos projetados a valor presente a uma dada taxa mínima de atratividade para depois calcular o payback. A TMA deve refletir o custo de oportunidade do investidor, o custo de capital ou uma média ponderada de ambos. Esse tema será abordado detalhadamente no próximo item. No momento será considerada a taxa de 10,4% da TMA. Nesse caso, o payback descontado é dado por: O payback simples foi de 3 anos e dois meses, enquanto o descontado foi de 4 anos e 1 mês denotando perfil mais conservador. No entanto, o payback possui algumas limitações: • Não considera os períodos após o payback; • Ignora a questão da rentabilidade; • Possui caráter subjetivo de se interpretar. Por isso, são utilizadas as metodologias do valor presente líquido e da taxa interna de retorno para se analisar a viabilidade econômica e financeira de um investimento. 68 5.2.2 O valor presente líquido O valor presente líquido é uma técnica de orçamento de capital que traz como resultado um montante (R$). Esse montante é calculado trazendo-se a valor presente todo o fluxo de caixa projetado do investimento a uma dada TMA e depois somando- se ao valor do investimento (com sinal negativo). Análise: • Se o VPL > 0, o projeto deve ser aceito; • Se o VPL < 0, o projeto deve ser recusado. Fórmula: Considerando o mesmo fluxo de caixa fornecido anteriormente como exemplo, o VPL calculado manualmente é dado por: Por outro lado, a calculadora HP 12C pode fazer o mesmo cálculo: 69 O software Excel® também pode ser usado para calcular o VPL através da função que leva o mesmo nome: 5.2.3 Taxa Interna de Retorno A Taxa Interna de Retorno (TIR), diferentemente do VPL que expressa um resultado em valores, expressa uma TAXA. Por definição, a TIR indica a rentabilidade de um projeto. Dessa forma: • Se a TIR > TMA, deve-se aceitar o projeto; • Se a TIR < TMA, deve-se recusar o projeto. A TIR é também a taxa que, aplicada a um fluxo de caixa, chega-se a um VPL igual a zero. Fórmula: Assim temos: A metodologia de cálculo da TIR é a mesma da VPL, sendo que “na mão” deve-se, por tentativa e erro, calcular o VPL em um fluxo de caixa diversas vezes até se chegar a um VPL igual ou bem próximo de zero. No entanto, a calculadora financeira possui a função TIR: 70 O software Excel® pode fornecer a mesma informação através da função TIR: 5.2.4 A TIR modificada A TIR pode não dar a resposta correta quando se trata de fluxos de caixa não convencionais. Suponha o fluxo de caixa dado abaixo: Para calcular a rentabilidade do fluxo de caixa convencional, é utilizada a Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM). O objetivo principal da TIRM é transformar um fluxo de caixa não convencional em um fluxo convencional com apenas dois valores: um fluxo negativo no período “0” e outro fluxo positivo no último período da duração do projeto. 71 Assim, para cumprir seu objetivo, a TIRM traz todos os fluxos negativos do projeto a valor presente – VAC, ou Valor Atual dos Custos –, e leva todos os fluxos positivos para valor futuro – VT, ou Valor Terminal. Feito isso, a fórmula da TIRM fica: Para resolução do problema exemplo, os fluxos de caixa positivos do projeto são levados para o final do quarto ano, usando o custo de capital da empresa (TMA), para determinar o que se costuma chamar de valor terminal (VT). Na sequência, é calculado o Valor Atual dos Custos (VAC) para trazer todosos fluxos de caixa negativos do projeto, ao custo de capital da empresa (TMA), para o valor atual ou data zero: Por fim, é feito o cálculo da TIR Modificada: 72 5.3 Estrutura e custo de capital Conforme nos ensina Stark (2005, p. 174), o “custo de capital é a taxa de retorno que uma empresa necessita obter sobre os investimentos para manter inalterado o seu valor patrimonial”. Gitman (2017, p. 364) complementa afirmando que “o custo de capital representa o custo de financiamento da empresa e é a taxa de retorno mínima que um projeto deve gerar para aumentar o valor da empresa”. Ainda segundo o autor as fontes de recursos de uma empresa são representados pelo seu passivo, sendo capital próprio e de terceiros. Na realidade, as empresas não utilizam 100% de um ou de outro para financiar as suas atividades, mas sim uma combinação de ambas que minimize os custos de capital determinando uma estrutura alvo. Conforme nos ensina Gitman (2017, p. 365), O custo de capital reflete o custo futuro médio esperado dos fundos de longo prazo e todas as atividades de financiamento de uma empresa. Por exemplo, uma empresa pode levantar o dinheiro de que necessita para construir uma nova instalação de produção, emprestando dinheiro (capital de terceiros), vendendo ações ordinárias (capital próprio) ou ambos. Os administradores devem considerar os respectivos custos das duas formas de capital ao estimar os custos de capital de uma empresa. O custo de capital dessa forma é determinado por uma média ponderada de ambos denominada Custo Médio Ponderado de Capital (conhecido pela sua sigla em inglês WACC ou Weighted Average Cost of Capital): Sendo que: K i = custo específico de cada fonte de financiamento W i = participação relativa de cada fonte de financiamento 73 5.3.1 A formação do custo de capital Para a maioria das empresas brasileiras, a única fonte de terceiros é o endividamento bancário. Dessa forma, o custo médio ponderado de capital poderia ser uma média ponderada dos usos de capital próprio remunerado a uma taxa de juros livre de risco, como a taxa Selic, por exemplo, com as taxas de juros cobradas no financiamento. Considere, por exemplo, que uma empresa está estruturando o financiamento de um projeto, sendo 30% com capital próprio e o restante com capital de terceiros. As taxas de juros bancários seriam de 18% ao ano enquanto a taxa SELIC está em torno de 7% ao ano. Qual seria o custo médio ponderado de capital para esse projeto? Resolução: WACC = 7% x 0,3 + 18% x 0,7 = 14,75 ao ano As empresas de capital aberto podem, no entanto, contar com outros instrumentos para captação de recursos. No que tange aos recursos próprios, a empresa pode optar por reter lucros que poderiam ser distribuídos aos acionistas ou emitir novas ações; quanto aos recursos de terceiros, a empresa pode emitir títulos de dívida (debêntures). O modelo matemático usado para calcular o custo de capital nessa situação é denominado Modelo de Gordon. Conforme Stark (2005, p. 178), “o Modelo de Gordon baseia-se na premissa de que o valor da ação é igual ao valor presente do fluxo de caixa dos dividendos futuros esperados durante um horizonte infinito de tempo”. Segundo o autor, o custo da ação ordinária (KS e KN) é dado por: 74 Sendo que: 𝐷𝐸 = dividendo esperado da ação 𝑃𝑜 = preço corrente da ação 𝑔 = taxa anual de crescimento dos dividendos 𝑓 = percentual de redução no preço corrente Já o custo do endividamento de longo prazo é dado por: Sendo que: 𝐽 = juros anuais (em R$) 𝑉𝑁 = valor nominal da debênture (sempre em R$ 1.000,00) 𝑅𝐿 = recebimentos líquidos (deságio) 𝑁 = número de anos do vencimento do papel O custo efetivo a ser considerado para o cálculo do WACC é dado após a dedutibilidade fiscal (K i ). 75 Dessa forma, o WACC pelo Modelo de Gordon é dado por: Sendo os “Ws” os respectivos pesos e os “Ks” as taxas representativas de cada custo de capital. Exemplo prático Considere que uma empresa está avaliando a sua estrutura de capital. O preço corrente da ação é de R$ 30,00 com uma distribuição anual de dividendos de R$ 6,00 e apresentam uma taxa de crescimento constante de 5%. O deságio proveniente da emissão de novas ações é de 20%. Quanto ao capital de terceiros, a empresa paga juros de 10% sendo que novos papéis têm deságio de 20% e custos de lançamento de R$ 10,00 o papel para um prazo de vencimento de 10 anos. A alíquota do imposto de renda é de 30%. Qual seria o seu custo médio ponderado de capital considerando uma proporção de 30% para lucros retidos, 30% para emissão de novas ações e 40% para recursos de terceiros? Para qualquer projeto a ser estudado por essa empresa, a taxa interna de retorno deve ser superior então a 20,28%. Caso contrário, o financiamento do projeto por meio da retenção de lucros, emissão de ações ou debêntures é inviável! 76 5.4 O valor da empresa Conforme Megliorini e Valim (2009, p. 221) O preço pelo qual a posse de uma empresa passa a pertencer a outrem resulta de um amplo processo de avaliação da referida empresa, tanto por parte do vendedor quanto do comprador, que, em geral, têm percepções diferentes em relação ao negócio. Em seus modelos de avaliação, vendedores e compradores incorporam uma série de julgamentos subjetivos relacionados à empresa e ao mercado em que esta atua, possuem diferentes níveis de conhecimento a respeito de um mesmo método de avaliação, aplicam diferentes métodos de avaliação, etc.[...] em conformidade com o objetivo maior da empresa – a maximização da riqueza dos proprietários – é possível considerar que o valor que um comprador pagaria por uma empresa está associado ao potencial que ela possui em gerar riqueza no futuro. Dessa forma, para avaliação de uma empresa, será abordado a metodologia do fluxo de caixa descontado que é dado por: Com isso, tem-se: Admitindo-se a perpetuidade no modelo de avaliação, o valor da empresa é dado por: Somando-se o Modelo de Gordon à perpetuidade, o valor da empresa é dado por: 77 Exemplo: Considere que os fluxos de caixa anuais projetados de uma empresa para os próximos três anos sejam de $ 180.000, $ 210.000 e $ 250.000, respectivamente. A partir do quarto ano, os fluxos de caixa crescerão indeterminadamente a uma taxa de 2% ao ano. Considerando que o WACC da empresa é estimado em 15% ao ano, pede-se para calcular o valor da empresa. REFERÊNCIAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Conheça o CPC. Disponível em: <https://goo.gl/aGweyC>. Acesso em: 8 jun. 2018. FERREIRA, José Antônio Stark. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. FOGO de chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso em: 8 jun. 2018. GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. MEGLIORINI, Evandir; SILVA, Marco Aurélio Valim Reis da. Administração brasileira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. 78 6 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E MERCADO DE CAPITAIS O Sistema Financeiro Nacional atual foi desenvolvido no biênio 1964/65, logo que os militares assumiram o poder após a intervenção militar de 1964. As Leis n. 4.595/1964 e n. 4.728/1965 formaram a estrutura que existe até hoje, na qual se destaca a criação do Banco Central do Brasil, cujas funções atuais eram realizadas pelo Banco do Brasil e outras autarquias. Neste bloco serão expostos os principais participantes do SFN, mostrando suas funções e relevância para o sistema. Também serão discutidas as características do mercado de capitais,
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