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2019, DESAFIOS PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DO ACESSO AOS SERVIÇOS DE

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XXIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos (ISSN 2318-0358) 1 
XXIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HIDRÍCOS 
 
DESAFIOS PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DO ACESSO AOS SERVIÇOS DE 
ÁGUA E ESGOTO NA REGIÃO NORTE DO BRASIL 
 
Matheus Almeida Ferreira 1; Conceição de Maria Albuquerque Alves 2; Jaildo Santos Pereira 3 
 
RESUMO – O acesso aos serviços de abastecimento de água e de coleta de esgoto é um direito 
assegurado com base no princípio da universalização definido na Lei n° 11.445/2007, que estabelece 
as diretrizes nacionais para o saneamento básico. No Brasil, a região Norte apresenta os piores índices 
de acesso a estes serviços, apenas 57,5% e 10,2% da população tem acesso aos serviços de 
abastecimento de água e de coleta de esgotos, respectivamente. São vários os fatores que contribuem 
para o déficit nos serviços de água e esgoto, dentre eles, destacam-se a ausência de planejamento 
urbano, a insuficiência e má aplicação de recursos públicos e a falta de capacidade técnica dos 
municípios para capação de recursos da União e de instituições de financiamentos. Além disso, a 
fragmentação e descontinuidade das políticas públicas associadas à carência de instrumentos de 
regulação têm retardado o avanço na prestação dos serviços de água e esgoto. Deste modo, o objetivo 
do presente trabalho foi de identificar e discutir os principais problemas que têm dificultado e/ou 
retardado a universalização do acesso aos serviços de água e esgoto, com enfoque na a região Norte 
do Brasil. 
 
ABSTRACT– Access to water and sewage services is a right guaranteed based on the principle of 
universalization instituted by the Law No. 11.445/2007, in which it is establishes the national 
guidelines for basic sanitation. The northern region of Brazil has the worst indices of access to water 
and sewage services, only 57,5% and 10,2% of the population is supplied with water and sewage 
services, respectively. There are several factors that contribute to the deficit of water and sewage 
services, some of them are as follows: absence of urban planning, insufficiency and misapplication 
of public funds and the lack of technical capacity, in a municipality, to raise funds from the Union 
and financial institutions. In addition, the fragmentation and discontinuity of public policies 
associated with the lack of regulation instruments have delayed progress in the provision of water and 
sewage services. Thus, the objective of the present study was to identify and discuss the main 
problems that have hindered and/or delayed the universalization of access to water and sewage 
services, focusing on the Northern region of Brazil. 
 
Palavras-Chave – Universalização, Saneamento Básico, Serviços de água e esgoto. 
 
INTRODUÇÃO 
As más condições de prestação dos serviços de saneamento básico têm causado sérios 
problemas ambientais e de saúde pública, que são agravados pela urbanização desordenada associada 
ao crescimento populacional. Dentre tais problemas destaca-se a contaminação dos corpos hídricos, 
que pode inviabilizar os usos que demandam maior qualidade da água bruta ou ainda elevar os custos 
 
1) Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília 70 910-900, BR. E-mail: almeida-matheus.ma@aluno.unb.br; 
Telefone: (61) 98195-7671. 
2) Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília 70 910-900, BR. E-mail: cmaalves@gmail.com; Telefone: (61) 
3107-0940. 
3) Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 44 380-000, BR. E-mail: jaildo@yahoo.com; Telefone: 
(61) 3107-0940. 
 
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dos processos de tratamento da água, além de contribuir para a disseminação das doenças de origem 
e de veiculação hídrica. 
De acordo com Teixeira et al. (2014), a média da morbidade hospitalar no Sistema Único de 
Saúde (SUS) por doenças relacionadas ao saneamento básico inadequado no período de 2001 a 2009 
foi de 758.750 internações por ano, apresentando maiores proporções de internações anuais na região 
Norte (7,50 internações por 1.000 habitantes) e menores proporções na região Sudeste (1,71 
internações por 1.000 habitantes). Desta forma, é notória a relação entre saúde pública e saneamento 
básico, uma vez que as maiores proporções anuais de internações foram observadas na Região Norte 
e as menores proporções na Região Sudeste, regiões nas quais os índices de abastecimento com água 
e de coleta e tratamento de esgoto são respectivamente os menores e maiores do país. 
A relação entre saneamento e saúde pública passou a ser melhor compreendida a partir da 
epidemia de cólera ocorrida em Londres em 1854, que vitimou 578 pessoas em um período de 10 
dias, na qual o médico inglês Jonh Snow comprovou a associação entre a incidência de cólera e a 
contaminação, por esgotos domésticos, da água destinada ao abastecimento humano (Jonhson, 2008). 
Tal relação entre saneamento e saúde é melhor estabelecida pela Organização Mundial da Saúde 
(OMS) no próprio conceito de saneamento, que consiste no controle de todos os fatores do meio físico 
do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social, 
ou seja, sobre a saúde. 
Já a Lei n° 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o 
saneamento básico, o define como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais 
de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos 
sólidos e drenagem e manejo de águas pluviais. Tanto na Lei n° 11.445 quanto na Medida Provisória 
nº 868/2018, que altera a Lei nº 11.445/2007, a universalização do acesso é estabelecida como 
princípio para a prestação de serviços públicos de saneamento básico no Brasil. 
Apesar de a universalização do acesso aos serviços de saneamento ser garantira em Lei, não é 
observada na prática. A região Norte do Brasil apresenta os piores índices de atendimento com 
abastecimento e coleta de esgotos do país, apenas 57,5% e 10,2% da população tem acesso aos 
serviços de abastecimento de água e de coleta de esgotos, respectivamente (SNIS, 2019). A não 
universalização dos serviços de água e esgoto acarreta em problemas de saúde púbica, meio ambiente 
e cidadania, atingindo principalmente as comunidades periféricas e rurais, contribuindo para 
aumentar as desigualdades sociais e econômicas. 
Diversos são os fatores que retardam a universalização do acesso aos serviços de saneamento 
básico no Brasil. Dada a importância da prestação destes serviços para a manutenção da qualidade de 
vida da população, o objetivo do presente trabalho consistiu em identificar e discutir as principais 
 
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causas que têm dificultado e/ou retardado a universalização do acesso aos serviços de água e esgoto 
na região Norte do Brasil, com vista a garantir o princípio de universalização definido na Lei nº 
11.445/2007, a partir de uma revisão da legislação vigente, de pesquisa em bancos de dados 
bibliográficos e do levantamento de indicadores da prestação destes serviços. 
 
METODOLOGIA 
Com o objetivo de identificar as principais causas que dificultam e/ou retardam a 
universalização do acesso aos serviços de água e esgoto na região Norte do Brasil, a metodologia do 
presente trabalho encontra-se subdividida em três etapas, são elas: 
1) revisão da legislação que regulamenta os serviços de água e esgoto; 
2) pesquisa em bancos de dados bibliográficos; 
3) levantamento de indicares da prestação dos serviços de água e esgoto. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Panorama dos Serviços de Água e Esgoto na Região Norte do Brasil 
A região Norte do Brasil,apresentada na Figura 1, é composta por 7 estados e possui área total 
de 3.853.676,90 km². No Censo Demográfico de 2010, a região Norte apresentou população total de 
15.864.454 habitantes, sendo 73,5% residentes em áreas urbanas e 26,5% residentes em áreas rurais 
(IBGE, 2011). 
 
Figura 1 – Representação da região Norte do Brasil. Fonte: IBGE. 
 
 
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A população residente estimada para o ano de 2017 é de 17.936.201 habitantes (IBGE, 2017), 
que resulta em uma densidade demográfica de 4,7 habitantes/km². Além disso, cerca de 84% dos 
municípios da região Norte são de pequeno porte, ou seja, possuem população inferior a 50.000 
habitantes, conforme é apresentado na Tabela 1. 
 
Tabela 1 – População dos municípios da região Norte. Fonte: IBGE. 
População (hab) Porte % 
< 5.000 Pequeno porte I 17,1 
5.000 a 10.000 Pequeno porte I 17,8 
10.000 a 15.000 Pequeno porte I 11,3 
15.000 a 20.000 Pequeno porte I 12,2 
20.000 a 50.000 Pequeno porte II 25,6 
50.000 a 100.000 Médio porte 9,6 
100.000 a 90.0000 Grande porte 6,0 
> 90.0000 Metrópole 0,4 
 
As piores condições de acesso aos serviços de abastecimento de água e, principalmente, de 
coleta de esgoto se encontram na região Norte do país. A Figura 2 mostra a evolução dos índices de 
atendimento com abastecimento de água, total (IN055) e urbano (IN023), na região Norte entre 2007 e 
2017, disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) nos 
relatórios anuais de Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos. 
 
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Total
Urbana
População
 
Figura 2 – Evolução dos índices de atendimento com abastecimento de água, total e urbano, e da população na região 
Norte entre 2007 e 2017. Fonte: SNIS e IBGE. 
 
A partir da Figura 2, nota-se que em 2017 os índices de acesso ao serviço de atendimento com 
abastecimento de água considerando-se, respectivamente, as populações total e urbana é de 57,5% e 
de 70,0%. Desta forma, entre 2007 e 2017 houve um aumento de apenas 4,6% e 5,8% na prestação 
do serviço de abastecimento de água total e urbano, nesta ordem. 
 
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Quando se trata dos serviços de atendimento com coleta de esgoto, referido aos municípios com 
atendimento de abastecimento de água, a situação é ainda mais desfavorável. A evolução dos índices 
de atendimento de esgoto, total (IN056) e urbano (IN024), bem como o índice de tratamento de esgoto 
gerado (IN046), entre 2007 e 2017 na região Norte, é apresentada na Figura 3. 
 
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Total
Urbana
Total
 
Figura 3 – Evolução dos índices de atendimento total e urbano de esgoto e de tratamento na região Norte, entre 2007 e 
2017. Fonte: SNIS. 
 
Nota-se a partir da Figura 3 que em 2017 o índice de acesso ao serviço de atendimento de esgoto 
considerando-se, respectivamente, as populações total e urbana é de 10,2% e de 13,0%, 
representando, nesta ordem, um aumento de 5,1% e 6,8% com relação à 2007. Além disso, houve 
aumento de 13,0% no tratamento de esgoto gerado, chegando ao índice de 22,6% em 2017. 
Deste modo, a partir da análise das Figuras 2 e 3, ressalta-se que o déficit tanto na prestação 
dos serviços de abastecimento de água quanto de coleta e tratamento de esgoto, atinge de forma mais 
intensa a população rural. Ressalta-se ainda que apesar de pequeno o aumento percentual na prestação 
dos serviços de abastecimento com água e de coleta de esgoto, deve-se considerar também que houve 
o aumento de 3,3 milhões de habitantes durante os anos analisados. 
Fatores que Retardam a Universalização dos serviços de Água e Esgoto na Região Norte 
A flutuação observada ao longo dos anos analisados nos índices de atendimento com serviços 
de abastecimento de água e de coleta de esgoto sugerem o descompasso entre o crescimento urbano 
e populacional e a implantação de infraestruturas de saneamento necessárias para atender os novos 
usuários e elevar os índices de atendimento desses serviços. 
Apesar de a maior taxa média de crescimento populacional anual ser observada na região Norte, 
cerca de 2,09% ao ano (IBGE, 2011), esta região apresenta baixa densidade demográfica, 
aproximadamente 4,7 habitantes/km², com cerca de 84% dos munícipios de pequeno porte. 
A densidade demográfica é um importante instrumento do planejamento urbano e é muitas 
vezes definida em Planos Diretores de Ordenamento Territorial (PDOT), em função do zoneamento 
 
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definido para uma determinada região. Embora o Plano Diretor seja obrigatório pela Lei do Estatuto 
das Cidades, grande parte dos municípios brasileiros ainda não o possuem, especialmente aqueles 
municípios de pequeno porte. 
Em 2017 na região Norte, 42,0% dos municípios afirmaram que possuíam Plano Municipal 
de Habitação e 26,4% afirmaram que possuíam Plano Municipal de Habitação articulado ao Plano 
Diretor Municipal (IBGE, 2018). Além disso, segundo o Ministério das Cidades (2017) apenas 8,7% 
dos municípios da região Norte possuem Plano Municipal de Saneamento Básico, sendo que a Lei nº 
11.445/07 previa que, em 2010, todos os municípios brasileiros deveriam ter elaborados os 
respectivos Planos Municipais de Saneamento. 
Sabe-se que é de grande importância que os municípios possuam os Planos Municipais 
Diretores e de Saneamento Básico e que estes planos estejam articulados para que, de forma 
sinergética, promovam a expansão do acesso aos serviços de saneamento, especialmente os de 
abastecimento de água e de coleta de esgoto. 
A falta de planejamento associada à baixa densidade demográfica observadas na região Norte 
pode indicar um modelo de urbanização dispersa e fragmentada, contrariando a tendência de 
urbanização compacta, que otimiza o uso de recursos energéticos e de infraestruturas, defendida por 
diversos autores, como Falcón (2007) e Owen (2009). 
Deste modo, a falta de planejamento associada à baixa densidade demográfica contribuem 
para o retardamento do avanço da universalização do acesso aos serviços de saneamento básico, uma 
vez que nos modelos de urbanização dispersa e fragmentada são necessários mais recursos financeiros 
para implantação de infraestruturas, quando comparados aos modelos de urbanização compacta. 
Além disso, de forma geral e devido ao fator de escala, os municípios de pequeno porte não 
conseguem que os serviços de água e esgoto sejam pagos somente com a cobrança de tarifas, sendo 
necessárias outras formas de subsídios, como os subsídios cruzados entre companhias estatais. 
Esta demanda maior por recursos financeiros para implementação de infraestruturas dos 
serviços de água e esgoto não é suprida, já que geralmente ocorre a insuficiência ou a má aplicação 
dos recursos públicos, devido a própria baixa capacidade de investimento dos municípios e também 
devido à falta de atualização tecnológica e carência de recursos humanos (Nascimento e Heller, 2005). 
Mesmo quando há recursos disponíveis, a captação é inviabilizada, uma vez que os municípios, 
principalmente os de pequeno porte, não conseguem elaborar o Plano Municipal de Saneamento 
Básico (PMSB), que é um requisito necessário, definido pelo Decreto nº 7.217/2010, para o pleito de 
recursos da União, destinados ao investimento em saneamento básico. 
Quando se trata de financiamentos, ocorreo mesmo problema de incapacidade técnica e 
econômica para instruir pleitos de financiamento nas instituições financeiras e na Secretaria do 
 
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Tesouro Nacional, sendo assim, os municípios seguem dependentes dos recursos principalmente da 
Fundação Nacional da Saúde (Funasa), ao passo que somente os municípios de maior porte 
conseguem acesso à financiamentos (Albuquerque, 2011). 
Todo este contexto relacionado à captação de recursos da União e de financiamentos reflete 
diretamente na evolução dos investimentos nos serviços de água e esgoto efetivamente observados. 
A Figura 4 apresenta a evolução destes investimentos nos serviços de água e esgoto e também a 
evolução da população na região Norte entre 2007 e 2017. 
 
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População
Investimento em ÁguaInvestimento em Esgoto
Investimento Total
 
Figura 4 – Evolução dos investimentos nos serviços de água e esgoto e da população na região Norte, entre 2007 e 
2017. Fonte: SNIS e IBGE. 
 
Percebe-se na Figura 4 que os investimentos nos serviços de água e esgoto não acompanham o 
crescimento populacional e que houve um período de queda em ambos os investimentos entre 2013 
e 2015, provavelmente em função da recessão econômica ocorrida por volta de 2014, retornando a 
crescer lentamente a partir de 2016. A origem dos investimentos (recursos próprios, onerosos e não 
onerosos) é apresentada na Figura 5. 
Conforme apresentado na Figura 5, observa-se a tendência de maiores investimentos provindos 
de recursos não onerosos, recursos onerosos e recursos próprios, nesta ordem. Os recursos não 
onerosos são aqueles não reembolsáveis, ou seja, não precisam ser devolvidos para a instituição de 
financiamento (órgãos governamentais). Já os recursos onerosos são aqueles provenientes de 
financiamentos, retornáveis por meio de juros, encargos e amortizações. Ressalta-se que esta 
tendência de maiores investimentos provindos de recursos não onerosos é um forte indicativo da falta 
de capacidade técnica e financeira para elaboração de pleitos para financiamentos. 
 
 
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Recursos Próprios Recursos Onerosos Recursos Não Onerosos 
Figura 5 – Evolução da origem dos investimentos na região Norte, entre 2007 e 2017. Fonte: SNIS. 
 
Nota-se ainda na Figura 5 que a partir de 2007 houve o aumento de investimentos provenientes 
de fontes de recursos onerosos e não onerosos, indicando que a Lei nº 11.445/2007 teve grande 
importância na definição dos mecanismos de financiamento. É importante ressaltar que os aumentos 
nos investimentos em saneamento também são provenientes do Programa de Aceleração do 
Crescimento (PAC) criado em 2007. 
Apesar de as diretrizes nacionais para o saneamento básico serem definidas na Lei nº 
11.445/2007, a implementação desta legislação não tem sido feita de forma efetiva devido à carência 
de instrumentos de regulação (Nascimento e Heller, 2005), afetando principalmente as comunidades 
periféricas e rurais. 
Segundo Galvão Junior e Paganini (2009), os instrumentos de regulação podem exercer os 
seguintes papeis: fazer cumprir, por meio das políticas regulatórias, as macrodefinições estabelecidas 
nas políticas públicas setoriais e também desenvolver mecanismos que incentivem a eficiência das 
empresas prestadoras de serviço. Além disso, a carência de regulação prejudica também a concessão 
dos serviços de saneamento, reduzindo as possibilidades de execução adequada destes serviços. 
Para a definição de instrumentos de regulação são necessários dados para suporte a tomada de 
decisão. Esta ausência de dados constitui outro problema que dificulta a universalização do acesso 
aos serviços de água e esgoto, que é a escassez de pesquisas e de base de informações, que são 
fundamentais para a solução dos problemas do déficit de atendimento nos serviços de saneamento. 
No Brasil o SNIS é um dos principais sistemas de informações sobre saneamento, entretanto, 
como as informações não são validadas não há grande confiabilidade. Como não se tem acesso às 
informações tanto sobre o desempenho de tecnologias mais adequadas e de otimização do sistema de 
operação quanto do próprio desempenho de políticas e instrumentos já implementos, não se pode 
realizar a correção de possíveis problemas normativos e operacionais existentes. Além disso, o setor 
também tem enfrentado problemas relacionados à forma em que as licitações e contratações são 
 
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realizadas, que consideram apenas o menor preço e não, necessariamente, a tecnologia mais adequada 
ou eficiente. 
Tem-se ainda, de modo mais geral, a questão da fragmentação e da ausência de continuidade 
administrativa das políticas públicas de prestação de serviços de saneamento (Galvão Júnior, 2009). 
Quanto a fragmentação das políticas públicas, sabe-se que as instituições não tendem a atuar de forma 
coordenada e integrada, dificultando a execução destas políticas. Já a descontinuidade de políticas é 
um fator importante, que pode contribuir para a interrupção de experiências bem-sucedidas que 
podem ser usadas como exemplo para outras localidades, impedindo a disseminação de boas práticas 
e de tecnologias e, por conseguinte, o avanço na prestação dos serviços de água e esgoto. 
 
CONCLUSÃO 
A região Norte do Brasil apresenta um grave déficit na prestação dos serviços de água e esgoto, 
em desacordo com o princípio de universalização definido na Lei nº 11.445/2007. Dentre os diversos 
motivos que ocasionaram este déficit, destacam-se: planejamento urbano inadequado, ineficiência 
técnica para captação de recursos da União e de financiamentos, ausência de dados para suporte a 
tomada de decisão e de mecanismos de regulação e também a fragmentação e descontinuidade 
administrativa das políticas públicas de prestação de serviços de água e esgoto. 
Deste modo, a Lei nº 11.445/2007 têm contribuído para o avanço na prestação dos serviços de 
água e esgoto, entretanto este avanço ocorre de forma lenta, afetando principalmente as populações 
periféricas e rurais, intensificando as desigualdades sociais e econômicas entre a região Norte e as 
demais regiões do Brasil. 
 
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