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O art. 50 do Código Civil (lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002), que versa sobre 
a possibilidade de "desconsideração da personalidade jurídica", estabelece que 
"em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da 
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os 
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos 
bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica" (grifos 
nossos). 
Portanto, de acordo com o art. 50 do Código Civil (CC), para haver a 
desconsideração da personalidade jurídica, é preciso que seja preenchido o 
seguinte requisito: "abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio 
de finalidade ou pela confusão patrimonial". 
Em outras palavras, para se ignorar a autonomia patrimonial da pessoa jurídica 
e se estender os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações suas 
para o patrimônio dos seus sócios ou administradores é preciso que esteja 
configurada a confusão patrimonial (entre o patrimônio da pessoa jurídica e o 
de seu integrante) ou o desvio de finalidade (a pessoa jurídica deve estar sendo 
utilizada pelo seu integrante para uma finalidade distinta daquela para a qual 
ela foi criada). 
Isso significa dizer que, em se tratando de uma relação jurídica disciplinada 
pelo Direito Civil, o art. 50 do CC determina que, para um sócio ou 
administrador responder por uma obrigação que era originariamente da pessoa 
jurídica da qual ele faz parte, deve haver confusão patrimonial ou desvio de 
finalidade. E só. Nada mais do que isso. Não há qualquer outro pressuposto ou 
requisito a ser preenchido. 
Concebido pelos tribunais norte-americano e alemão, a Teoria da 
Desconsideração da Personalidade Jurídica é utilizada para impedir o abuso 
da personalidade por parte dos sócios da empresa em desfavor de terceiros e 
credores, isto é, quando sócios fazem da personalidade jurídica da empresa, 
escudo em negócios ilícitos ou abusivos. 
Na ocorrência de tal fato, os tribunais afastam a personalidade jurídica da 
empresa, a fim de se chegar até os sócios que agiram dolosamente e se 
ocultaram na pessoa do ente personificado, para que seus bens não 
pudessem ser atingidos. Dessa forma, afastando a personalidade jurídica da 
empresa, os tribunais puderam chegar até os culpados e obriga-los a sanar 
com suas dividas perante os credores. 
Vale lembrar que ambos os artigos do Código de Processo Civil de 2015 
(CPC/2015) estabelecem que devem ser observados os pressupostos 
previstos em lei para se realizar a desconsideração da personalidade jurídica. 
Por exemplo, o § 1º do art. 133 do CPC/2015 dispõe que "O pedido de 
desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos 
previstos em lei". Já o § 4º do art. 134 do mesmo diploma legal prescreve o 
seguinte: "§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos 
pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade 
jurídica". 
 
No julgado em tela, há o reforço quanto à necessidade de demonstração, no 
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, regido pelo CPC/15, 
da presença dos requisitos previstos no artigo 50 do Código Civil, para fins de 
efetivar-se a desconsideração pretendida. 
E a recente edição da lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, além de 
introduzir o artigo 49-A no Código Civil - de modo a reforçar a vigência da 
premissa anteriormente codificada no artigo 20 do Código Civil de 1916 -, 
enfatiza, no artigo 50 do Código Civil, a teoria clássica do alemão Rolf 
Serick; exigindo-se a demonstração do abuso da personalidade jurídica para 
a aplicação do instituto, aplicação esta que não pode se dar de ofício: 
"Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, 
instituidores ou administradores. 
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um 
instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei 
com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos, 
tributo, renda e inovação em benefício de todos." 
"Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio 
de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da 
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, 
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de 
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de 
sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. 
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da 
pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos 
ilícitos de qualquer natureza. 
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato 
entre os patrimônios, caracterizada por: 
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do 
administrador ou vice-versa; 
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, 
exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e 
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. 
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à 
extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. 
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de 
que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade 
da pessoa jurídica. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art49a
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art49a
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art50.0
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da 
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica." (NR) 
O artigo 50 do Código Civil reflete a chamada teoria maior da desconsideração 
da personalidade jurídica, exigindo-se, para sua incidência, a demonstração 
efetiva do desvio de finalidade e/ou da confusão patrimonial; ou seja, do abuso 
da personalidade jurídica. 
O artigo 50 do Código Civil não autoriza que o magistrado decrete, de ofício, a 
desconsideração da personalidade jurídica. O pedido sempre deve partir da 
parte ou do Ministério Público (nos feitos em que este tenha que intervir). 
O recente julgado do Superior Tribunal de Justiça, portanto, ao exigir a efetiva 
comprovação dos requisitos previstos no artigo 50 do Código Civil para fins de 
deferimento da desconsideração da personalidade jurídica, está em linha com 
as diretrizes da também recente lei 13.874, de 20 de setembro de 2019.