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e profissional”.1 Dessa Lei, podemos extrair alguns tópicos sobre a atuação do médico residente:2 • A Residência Médica é definida como modalidade de ensino de pós-gra- duação. A pós-graduação lato sensu é o complemento da aprendizagem, em que o residente vai ter o contato direto com o paciente, colocando em prática a teoria obtida nos bancos acadêmicos. Configura-se assim a prática médica: são aprimoradas as habilidades técnicas, o raciocínio clínico e a capacidade de tomar decisões. É o treinamento em serviço. • O residente realiza esse treinamento sob a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação ética e profissional, sendo esse o ponto chave para o bom andamento da residência. Ainda assim, subentende-se que o médico residente tenha os conhecimentos necessários para lidar com a vida humana. Por isso, ao prestar atendimento ao paciente, as- sume a responsabilidade direta pelos atos que pratica, não podendo em hipótese alguma atribuir o insucesso a terceiros. • As instituições de saúde, universitárias ou não, também têm suas respon- sabilidades: os problemas podem surgir quando estas não oferecem super- visão adequada para seus residentes, ou quando o residente “se considera apto” para realizar o procedimento sem a orientação de um preceptor. • Aspecto importante e atual é a ocorrência de assédio moral contra residen- tes praticado pelos próprios colegas residentes e também por preceptores. De acordo com os princípios fundamentais estabelecidos no Código de Ética Médica, “as relações do médico com os demais profissionais devem ba- sear-se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, bus- cando sempre o interesse e o bem-estar do paciente” e “o médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem se eximir de de- nunciar atos que contrariem os postulados éticos”. Há uma frequente confusão entre o que é hierarquia e assédio. Hierar- quia profissional consiste em ordenar diferentes níveis ou graus de poder dentro de uma instituição para que se estabeleçam relações entre superiores e subordinados. O médico deve cumprir os ditames propostos por seu supe- rior hierárquico, desde que eles não firam a ética profissional. Ética em Ginecologia e Obstetrícia 41 Nesse sentido, o Código de Ética Médica, em seu artigo 56, prevê que é vedado ao médico “utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus subordinados atuem dentro dos princípios éticos”. Por sua vez, assédio significa perseguir com insistência, molestar, perturbar, aborrecer, incomo- dar, importunar. O assédio moral é a exposição de alguém a situações humilhantes e constrangedoras, repetidas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. Geralmente, é praticado por uma pessoa em posi- ção hierárquica superior em relação a um subordinado, embora possa acon- tecer de colega para colega. O assédio se caracteriza, principalmente, pela regularidade dos ataques, que se prolongam no tempo, e a determinação de desestabilizar emocionalmente a vítima, visando afastá-la do trabalho. Já o assédio sexual é um tipo de coerção de cunho sexual, que se carac- teriza por alguma ameaça, insinuação de ameaça ou hostilidade para o ga- nho de algum objeto ou objetivo. O assédio é mais comum em relações hie- rárquicas autoritárias, nas quais predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, da parte de um ou mais chefes, di- rigida a um (ou mais) subordinado, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e sua organização. Algumas diferenças entre hierarquia e assédio no trabalho médico Em relação à hierarquia, alguns requisitos são: exigir que o residente cumpra horário determinado em contrato, delegar tarefas e orientar o servi- ço, tratar com respeito todos os profissionais, apontar eventuais problemas e sugerir correções, reforçar e exigir que se cumpram as resoluções da Comis- são de Residência Médica (Coreme) e do Código de Ética Médica. Já o assédio seria, por exemplo: forçar o residente a trabalhar 80 horas semanais quando seu contrato prevê apenas 60; não supervisionar as ativi- dades ou não orientar os residentes adequadamente; ignorar ou desrespeitar as resoluções do Conselho e solicitar que sejam seguidas condutas não éticas; atribuir erros imaginários, fazer críticas destrutivas ou brincadeiras de mau gosto, principalmente em público.3 Para estabelecer uma regra referente ao aspecto da supervisão do re- sidente, a Comissão Nacional de Residência Médica emitiu a Resolução nº 4/78, já revogada. Atualmente está em vigor a Resolução nº 02, de 07 de ju- lho de 2005,4 que diz, em seu artigo 23, alínea “d”: “a supervisão permanen- te do treinamento do residente por médicos portadores de Certificado de Ética em Ginecologia e Obstetrícia42 Residência Médica da área ou especialidade em causa ou título superior, ou possuidores de qualificação equivalente, a critério da Comissão Nacional de Residência Médica, observada a proporção mínima de um médico do cor- po clínico, em regime de tempo integral, para 06 (seis) residentes, ou de 02 (dois) médicos do corpo clínico, em regime de tempo parcial, para 03 (três) médicos residentes”. Convém ressaltar que, nos termos do artigo 17 da Lei no 3.268, de 30 de setembro de 1957,5 os médicos só poderão exercer legalmente a Medicina, em qualquer dos seus ramos ou especialidades, após o prévio registro de seus títulos, diplomas, certificados ou cartas no Ministério da Educação e Cul- tura e de sua inscrição no Conselho Regional de Medicina, sob a jurisdição em que se encontrar o local de sua atividade. Desta forma, o médico, ao se inscrever no Conselho Regional de Medicina, torna-se apto a exercer a pro- fissão; ele assume, então, a responsabilidade direta pelos atos decorrentes ao prestar atendimento aos pacientes, não podendo atribuir o insucesso a ter- ceiros, exceto quando devidamente comprovado (artigo 6º do Novo Código de Ética Médica).6 O segredo de uma boa Residência Médica é aquela que oferece uma equipe capacitada de supervisão em tempo integral, orientando os residentes nos ambulatórios, pronto-socorro, cirurgias e plantões noturnos. O progra- ma de residência deve prever a implantação de escala progressiva de atribui- ções, tanto referente a responsabilidades quanto a funções com grau de difi- culdade crescente dentro da hierarquia do serviço. A importância da atribuição em graus distintos da responsabilidade nas diferentes etapas dentro do programa de Residência Médica condiciona uma progressiva adaptação não só a obrigações mais complexas, como também à capacidade de assumir maior responsabilidade frente a procedimentos e de- cisões, incluindo a coordenação de colegas residentes menos graduados. A fórmula ideal de como preparar o residente tem sido testada de di- versas maneiras, não existindo ainda um modelo definitivo consagrado. O melhor modo de controlar a qualidade da formação ética de cada residen- te resulta da avaliação desenvolvida por meio da estreita convivência entre orientador e orientando ao longo desse período de aquisição de qualificação profissional. Os preceptores são ao mesmo tempo mestres e responsáveis pe- lo residente, pois o guiam no processo de aquisição de conhecimento, libe- rando procedimentos médicos em escala crescente de complexidade para que o médico residente execute, à medida que este demonstre estar apto para tal atividade. Ética em Ginecologia e Obstetrícia 43 Mão de obra O trabalho do residente não deverá ser utilizado somente como mão-de -obra. O compromisso da instituição é com sua formação adequada e com o competente atendimento assistencial prestado por todos os integrantes de um programa de Residência Médica. Desta forma, sendo a residência um processo de pós-graduação sob supervisão, não deve o residente efetuar pro- cedimentos de qualquer complexidade sem a supervisão de seu orientador ou do coordenador do serviço.